Buscar

livro literatura portuguesa

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 203 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 203 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 203 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Indaial – 2020
Literatura Portuguesa
Prof.a Carla Cristiane Mello
2a Edição
Copyright © UNIASSELVI 2020
Elaboração:
Prof.a Carla Cristiane Mello
Revisão, Diagramação e Produção:
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri 
UNIASSELVI – Indaial.
Impresso por:
M527l
Mello, Carla Cristiane
Literatura portuguesa. / Carla Cristiane Mello. – Indaial: 
UNIASSELVI, 2020.
193 p.; il.
ISBN 978-65-5663-004-5
ISBN Digital 978-65-5663-005-2
1. Literatura portuguesa - História e crítica. - Brasil. Centro 
Universitário Leonardo Da Vinci.
CDD 869.09
III
aPresentação
Olá, acadêmico do Curso de Letras! Apresentamos a você o livro 
didático da disciplina de Literatura Portuguesa e com isso queremos estudar 
o vasto conhecimento e acervo disponível a respeito desses campos literários, 
formados ao longo de séculos de histórias e memórias do povo português e 
suas colonizações. 
É importante frisar que neste material temos apenas algumas nuances 
de determinadas épocas, pois, dado o pouco espaço, precisamos elaborar uma 
espécie de fio condutor a partir do qual selecionamos alguns dos principais 
representantes. Mas isso deve servir para que você, acadêmico, siga na busca 
e nas leituras, faça seus próprios roteiros de aprendizagem e seja o maior 
interessado nesta troca de saberes que ora compartilhamos. 
Na primeira unidade, vamos focar nos primórdios da formação 
literária de Portugal, associando o contexto histórico em que o país vivia que, 
por sua vez, foi influenciado pela Idade Média em toda a Europa num período 
em que a escrita era restrita. Desse modo, a oralidade exercia um papel 
extremamente relevante no que diz respeito à propagação das memórias do 
povo, assim, as cantigas de amor e de amigo, além das cantigas de escárnio 
e de maldizer compõem o chamado Trovadorismo galaico-português como 
representação da lírica desse período. 
Além disso, (re)conhecemos o gênero em prosa denominado novelas 
de cavalaria; podemos compreender como o teatro de Gil Vicente se valia do 
cotidiano social para reproduzir diversos estereótipos e encontramos o grande 
épico e lírico Camões com uma pequena parte de sua imensa produção literária, 
que deve ser lida por toda e qualquer pessoa que ame literatura!
Na segunda unidade, iremos conhecer, em parte, como se deu o 
processo de formação identitária portuguesa a partir do período chamado 
Romantismo. Para compreender isso, faz-se mister analisarmos os contextos 
históricos pelos quais tanto Portugal quanto a Europa passavam também. 
Trazemos dois principais representantes do romantismo português, a saber, 
Almeida Garret e Alexandre Herculano. Em seguida, a escola realista e a 
conhecida Geração de 70, além da figura ilustre de Eça de Queirós. Ainda, 
daremos uma breve observada no Simbolismo e no Decadentismo trazendo 
alguns poetas, como Césario Verde, Antônio Nobre e Camilo Pessanha. 
Na terceira unidade, tratamos sobre a Literatura Portuguesa a partir 
do século XX e suas transformações, que despontam a partir do Modernismo 
e trazem representantes como Fernando Pessoa, Florbela Espanca, além do 
período pré e pós-1974, momento histórico de extrema importância para o 
IV
Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para 
você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há 
novidades em nosso material.
Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é 
o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um 
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. 
O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova 
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também 
contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.
Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, 
apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade 
de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. 
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para 
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto 
em questão. 
Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas 
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa 
continuar seus estudos com um material de qualidade.
Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de 
Desempenho de Estudantes – ENADE. 
 
Bons estudos!
NOTA
país. É nessa unidade, também, que você poderá apreciar um pouco das 
literaturas africanas de língua portuguesa, embora já na primeira unidade 
tenhamos inserido uma Leitura Complementar para que você possa se 
familiarizar com esse rico campo literário.
Em meio a tudo isso, sempre procuramos trazer reflexões e sugestões 
de exercícios para se pensar a docência em sala de aula, pois o objetivo de sua 
formação é tornar-se ou aprimorar-se como professor de Língua e Literatura 
Portuguesa. Desse modo, também trazemos sugestões de documentários, filmes 
e instigamos você a ler os textos na íntegra, pois a maioria deles, pelo menos 
os mais antigos, já se encontram disponíveis para serem acessados através do 
domínio público. Dê asas à sua imaginação e crie um caminho de aprendizado 
que possa trazer satisfação. Quanto a nós, esperamos sinceramente que possamos 
ser um pequeno farol a iluminar esse caminho! Deleite-se!
Prof.a Carla Mello
V
Olá acadêmico! Para melhorar a qualidade dos 
materiais ofertados a você e dinamizar ainda mais 
os seus estudos, a Uniasselvi disponibiliza materiais 
que possuem o código QR Code, que é um código 
que permite que você acesse um conteúdo interativo 
relacionado ao tema que você está estudando. Para 
utilizar essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos 
e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só aproveitar 
mais essa facilidade para aprimorar seus estudos!
UNI
VI
VII
Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela 
um novo conhecimento. 
Com o objetivo de enriquecer seu conhecimento, construímos, além do livro 
que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você terá 
contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementares, 
entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento.
Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.
Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada!
LEMBRETE
VIII
IX
UNIDADE 1 – A LITERATURA PORTUGUESA DO PERÍODO MEDIEVAL AO CLÁSSICO ..... 1
TÓPICO 1 – O TROVADORISMO E SUAS CANTIGAS .................................................................3
1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................................................3
2 NO PRINCÍPIO ERA MÚSICA E POESIA ........................................................................................3
3 CANTIGAS DE AMOR E CANTIGAS DE AMIGO .......................................................................7
4 CANTIGAS DE ESCÁRNIO E CANTIGAS DE MALDIZER .....................................................11
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................16
AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................17
TÓPICO 2 – DA POESIA À PROSA MEDIEVAL RUMANDO PARA NOVOS ARES .............19
1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................19
2 ENTRE REINOS E CASTELOS, O AMOR .....................................................................................193 AS NOVELAS DE CAVALARIA ........................................................................................................21
4 O TEATRO DE GIL VICENTE ...........................................................................................................28
5 CAMÕES – O CLÁSSICO ÉPICO E LÍRICO ..................................................................................33
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................41
AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................43
TÓPICO 3 – NUANCES DO BARROCO E DO ARCADISMO PORTUGUÊS ...........................45
1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................45
2 ENTRE SERMÕES E POEMAS LITERÁRIOS................................................................................45
3 OS SERMÕES DO PADRE ANTÔNIO VIEIRA ............................................................................46
4 BOCAGE, O POETA ÁRCADE ..........................................................................................................51
LEITURA COMPLEMENTAR ...............................................................................................................56
RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................61
AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................62
UNIDADE 2 – A CONSTRUÇÃO IDENTITÁRIA NO ROMANCE PORTUGUÊS ..................63
TÓPICO 1 – O ROMANTISMO EM PORTUGAL ............................................................................65
1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................65
2 UM POUCO DE HISTÓRIA E ROMANCES HISTÓRICOS.......................................................66
3 ALMEIDA GARRET ............................................................................................................................72
4 ALEXANDRE HERCULANO .............................................................................................................75
5 O ULTRARROMANTISMO PORTUGUÊS ....................................................................................77
LEITURA COMPLEMENTAR ...............................................................................................................83
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................88
AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................89
TÓPICO 2 – O REALISMO EM PORTUGAL ....................................................................................91
1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................91
2 O REAL OU REALISTA NOS ROMANCES ...................................................................................91
sumário
X
3 A GERAÇÃO DE 1870 ..........................................................................................................................93
4 EÇA DE QUEIRÓS ...............................................................................................................................97
RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................106
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................107
TÓPICO 3 – O SIMBOLISMO EM PORTUGAL .............................................................................109
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................109
2 A SIMBÓLICA DECADÊNCIA DOS SENTIMENTOS..............................................................109
3 O FIM DO SÉCULO – DECADENTISMO ....................................................................................111
4 ANTÓNIO NOBRE, CESÁRIO VERDE E CAMILO PESSANHA ...........................................112
RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................122
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................123
UNIDADE 3 – A LITERATURA PORTUGUESA A PARTIR DO SÉCULO XX E SUAS 
TRANSFORMAÇÕES ................................................................................................125
TÓPICO 1 – MODERNISMO EM PORTUGAL ..............................................................................127
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................127
2 FERNANDO PESSOA E A MULTIPLICIDADE DE EUS ...........................................................136
3 FLORBELA ESPANCA .......................................................................................................................143
RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................146
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................147
TÓPICO 2 – LITERATURA CONTEMPORÂNEA ..........................................................................149
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................149
2 LITERATURA PRÉ-1974 ....................................................................................................................150
3 LITERATURA PÓS-1974....................................................................................................................153
4 JOSÉ SARAMAGO ............................................................................................................................156
RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................161
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................162
TÓPICO 3 – LITERATURAS AFRICANAS DE EXPRESSÃO PORTUGUESA ........................165
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................165
2 O CONTEXTO HISTÓRICO ............................................................................................................167
3 LITERATURAS DE ANGOLA E MOÇAMBIQUE.......................................................................169
4 LITERATURAS DE CABO VERDE, GUINÉ BISSAU E SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE ..............175
LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................181
RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................186
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................187
REFERÊNCIAS .......................................................................................................................................191
1
UNIDADE 1
A LITERATURA PORTUGUESA DO 
PERÍODO MEDIEVAL AO CLÁSSICO
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
A partir do estudodesta unidade, você deverá ser capaz de:
• compreender o processo de formação da literatura portuguesa e suas 
influências nos países colonizados;
• relacionar os períodos sociohistóricos com os momentos mais marcantes 
das artes literárias em Portugal;
• estudar e conhecer a prosa e a poesia dos Períodos Medieval e Clássico 
em Portugal;
• identificar semelhanças com a atualidade nos tópicos estudados para 
trabalhar em sala de aula.
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade você 
encontrará algumas autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo 
apresentado.
TÓPICO 1 – O TROVADORISMO E SUAS CANTIGAS
TÓPICO 2 – DA POESIA À PROSA MEDIEVAL RUMANDO PARA 
NOVOS ARES
TÓPICO 3 – NUANCES DO BARROCO E DO ARCADISMO 
PORTUGUÊS
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos 
em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá 
melhor as informações.
CHAMADA
2
3
TÓPICO 1
UNIDADE 1
O TROVADORISMO E SUAS CANTIGAS
1 INTRODUÇÃO
Iremos agora fazer uma regressão até meados do século XII e conhecer 
o Período Medieval na Europa, mais especificamente em Portugal, onde iremos 
conhecer algumas cantigas do momento que oficializa o início da história da 
literatura portuguesa, ou seja, o Trovadorismo. Assim, caro acadêmico, permita-
se adentrar num universo com cavaleiros e damas em castelos medievais para dar 
um cenário estético condizente ao período em questão. Aproveite esta viagem ao 
tempo passado!
2 NO PRINCÍPIO ERA MÚSICA E POESIA
As literaturas de língua portuguesa são compostas atualmente por uma 
gama de autores e obras distribuídos em diferentes países que foram colonizados 
por Portugal. Além do Brasil, os países africanos: Angola, Moçambique, Guiné 
Bissau, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe, que têm oficialmente a língua 
portuguesa como marca expressiva desse processo colonial, são influenciados 
pelas transformações e trazem heranças socioculturais daquele. Portanto, 
para compreendermos tais literaturas, devemos ter em vista esses detalhes e 
conhecermos seus processos históricos.
No que concerne à constituição de um campo literário português, 
remetemos ao período do século XII, época em que a sociedade europeia vivia 
a conhecida Idade Média ou Período Medieval, que dura até meados do século 
XV. Neste tempo, difundiu-se popularmente o chamado Trovadorismo e suas 
cantigas, conforme veremos neste tópico. Importante lembrar que estamos 
falando da Europa porque basicamente (embora atualmente novas perspectivas 
provem o contrário) todo o pensamento ocidental foi calcado a partir desses 
países, e Portugal faz parte desse continente, logo, o que acontecia num lugar 
reverberava em todo o resto, assim como ainda ocorre hoje. É importante não 
perder esse detalhe de vista, pois para compreendermos os processos histórico-
culturais de um país, devemos ter foco em todo o contexto do qual ele faz parte.
UNIDADE 1 | A LITERATURA PORTUGUESA DO PERÍODO MEDIEVAL AO CLÁSSICO
4
Usamos a noção de “campo” baseado em Pierre Bordieu (2001), a partir do qual 
se pensa nas objetividades e subjetividades postas em relação dentro de uma sociedade, 
ou seja, há um jogo de forças que estipula e movimenta esse campo definindo o que 
pertence ou não a ele e quais agentes o compõem.
NOTA
Num determinado período da Idade Média, a estrutura social e política 
vigente era o chamado Feudalismo, que tinha uma base piramidal em que no 
topo se encontrava a aristocracia sob o comando do Rei; em seguida, vinha o 
clero, ou seja, a Igreja, que exercia forte influência sobre toda a sociedade; e, na 
base, encontravam-se os servos ou vassalos, ou seja, o povo camponês em geral. 
A mobilidade social era inexistente e o povo deveria servir à nobreza pagando, 
inclusive, altos impostos sobre as propriedades que ocupavam e que eram, em 
última instância, de seus senhores, e em troca recebiam proteção deles.
Vale salientar que, num primeiro momento, a escrita era restrita aos 
cléricos e à Igreja, haja vista que a reprodução de manuscritos antes da invenção 
da imprensa era trabalhosa e tornava-se demasiado expansiva, além do que não 
havia muito interesse em sua difusão para além dos religiosos e da burguesia, 
como fica evidente posteriormente. Assim, a oralidade cumpre um papel de 
propagadora das memórias e histórias dessa época, principalmente através do 
suporte musical, conforme nos apontam Lopes e Saraiva (1969, p. 36):
Mas a escrita constituía então um meio acessório da transmissão da 
cultura; temos de contar com a transmissão oral, através dos jograis-
recitadores, cantores e músicos ambulantes que divulgam nas feiras, 
castelos e cidades um repertório musical e literário estimulado 
diretamente pelos ouvintes. […] As duas literaturas – a oral e a 
escrita – apresentam características muito diferentes. Ao passo que 
os livros produzidos ou reproduzidos nos conventos, destinando-se 
sobretudo à preparação dos clérigos e ao serviço religioso, consistiam 
principalmente em tratados e obras de devoção escritos em latim, o 
repertório dos jograis, pelo contrário, dirigido a um público iletrado 
de vilões, burgueses ou nobres, servia-se das línguas locais, inspirava-
se na vida e interesses desse público e consistia sobretudo em poemas 
e narrativas versificadas. 
Sabemos que a matéria bruta que constitui a arte literária é a linguagem, 
portanto, vale a pena observarmos alguns pontos, também cruciais na hora de 
compreender como se dão as transformações estéticas dessas formas artísticas. 
Por exemplo, na citação supracitada percebe-se que há divisão entre a língua 
oficial da época, o latim, e as línguas locais ou ditas vulgares, a depender do 
público ouvinte/leitor. Nesse sentido, percebe-se que ainda hoje alguns estudos 
TÓPICO 1 | O TROVADORISMO E SUAS CANTIGAS
5
linguísticos apontam o campo literário dito formal como de referência para 
exemplificar uma língua com norma padrão de escrita, isso tudo é fruto de imensas 
discussões, principalmente no que concerne ao ensino da língua portuguesa em 
sala de aula.
Todavia, cabe a você, futuro docente dessa área, explorar tais diferenciações 
para que seu público-alvo possa ter maiores probabilidades de compreensão 
acerca das oralidades e escritas de nossa(s) língua(s), buscando direcionar para 
novas concepções que ultrapassem as noções de “certo” e “errado” sem deixar 
de considerar, também, as diferenças entre oralidade e escrita e os contextos das 
interações sociolinguísticas. 
Por exemplo, se tomarmos os conteúdos das cantigas daquele período, 
veremos que sua escrita está em galego-português, uma linguagem corrente da 
época, a exemplo da “Cantiga da Ribeirinha”, uma das mais antigas que se tem 
registro em nossa língua. Perceba que para reconhecermos tal “língua” é preciso 
fazer uma livre tradução, conforme vemos a seguir. 
CANTIGA DA RIBEIRINHA
Paio Soares de Taveirós
No mundo non me sei parelha,
mentre me for' como me vai,
ca ja moiro por vós - e ai!
mia senhor branca e vermelha,
Queredes que vos retraia
quando vos eu vi em saia!
Mao dia me levantei,
que vos enton non vi fea!
E, mia senhor, des aquel di', ai!
me foi a mi muin mal,
e vós, filha de don Paai
Moniz, e ben vos semelha
d'haver eu por vós guarvaia,
pois eu, mia senhor, d'alfaia
Nunca de vós ouve nem ei
valía d'ũa correa.
Tradução
No mundo ninguém se assemelha a mim
enquanto a vida continuar como vai,
porque morro por vós, e ai!
minha senhora alva de pele rosadas,
UNIDADE 1 | A LITERATURA PORTUGUESA DO PERÍODO MEDIEVAL AO CLÁSSICO
6
quereis que vos retrate
quando eu vos vi sem manto.
Maldito dia que me levantei
E não vos vi feia
E minha senhora, desde aquele dia, ai!
tudo me foi muito mal
e vós, filha de Don Paio
Moniz, e bem vos parece
de ter eu por vós guarvaia
pois eu, minha senhora, como presente
Nunca de vós recebera algo
Mesmo que de ínfimo valor.
Obs.: a guarvaia era um manto luxuoso, provavelmente de cor vermelha, 
usado pela nobreza.
FONTE: <http://belalinguaportuguesa.blogspot.com/2011/11/cantiga-da-ribeirinha.html>.Acesso em: 14 ago. 2019.
Para compreendermos um campo literário, então, precisamos ver que a 
história influencia direta e indiretamente nas escolhas daquilo que pode ou não 
fazer parte da literatura, uma das formas de arte que parece, ainda, ser reservada 
a poucos. Entretanto, se expandirmos nossa noção de literatura para além da 
escrita, podemos aprender e depreender muitos conhecimentos através dos 
tempos. Além disso, as noções de estética podem variar de perspectiva a depender 
do contexto e dos artistas, também podendo ser fruto de inúmeras discussões nas 
mais diferentes áreas. É, todavia, por proximidades de características estéticas 
que acabamos por dividir os períodos literários, por exemplo.
No que concerne aos estudos literários de língua portuguesa, foco de 
nosso olhar aqui, devemos também ter em vista a própria história constitutiva de 
Portugal como um país que, através das guerras recorrentes na Antiguidade, teve 
contato com outros povos e, consequentemente, assimilou outras línguas além do 
fato de derivar do latim. Devemos considerar, de igual modo, seu posicionamento 
geográfico e suas funções históricas dentro de determinados contextos, pois tudo 
isso refletirá inclusive nas literaturas brasileiras e africanas de língua portuguesa. 
Estas últimas que ainda são um universo a se descobrir, já que somente a partir 
da obrigatoriedade dos estudos das culturas africanas e afro-brasileiras em sala 
de aula (Leis n° 10.639/2003 e n° 11.645/2008) é que veio à tona a riqueza cultural 
desses países. 
TÓPICO 1 | O TROVADORISMO E SUAS CANTIGAS
7
Embora as literaturas africanas de língua portuguesa sejam abordadas na 
Unidade 3, trazemos ao final desta unidade uma Leitura Complementar para que você possa 
se familiarizar com esse campo, que é um universo para além do eurocentrismo tradicional.
ESTUDOS FU
TUROS
Voltando aos primórdios da formação literária portuguesa, então, 
conforme pontuam Lopes e Saraiva (1969), os mais antigos textos literários 
ficaram conhecidos como os versos dos Cancioneiros, a partir do século XII, no 
entanto, é pressuposto que tais obras escritas sejam apenas registros tardios das 
memórias orais que foram propagadas durante aquele período. São conhecidas 
três principais coletâneas de Cancioneiros: o mais antigo, Cancioneiro da Ajuda; 
de fins do século XIII; os outros dois, Cancioneiro da Biblioteca e Cancioneiro da 
Vaticana, são provavelmente do século XIV (LOPES; SARAIVA, 1969, p. 42).
A seguir, veremos os gêneros encontrados neste material, ou seja, as 
Cantigas de Amor e as Cantigas de Amigo, além das Cantigas de Escárnio e as Cantigas 
de Maldizer.
3 CANTIGAS DE AMOR E CANTIGAS DE AMIGO
As Cantigas de Amor se diferenciam das Cantigas de Amigo pela identificação 
do “eu lírico” do poeta, que pode aparecer explicitada ou subentendida. Nas 
Cantigas de Amor, percebe-se o masculino manifestando seus sentimentos, 
enquanto que nas Cantigas de Amigo é o feminino – embora fosse escrito por 
homens – que expressa suas emoções e sentimentos através da lírica trovadoresca. 
A palavra lírica provém de lira, ou seja, um instrumento musical, portanto, uma 
poesia lírica geralmente era cantada, mas podemos pensar que também pode se 
relacionar com a musicalidade das palavras, além de expressar, obviamente, as 
emoções e sentimentos do autor em questão.
Leia a seguir uma Cantiga de Amigo escrita pelo rei D. Dinis, que ficou 
conhecido como Rei-Trovador, já que tem um vasto número de cantigas por ele 
elaboradas, além de que durante seu reinado esse gênero se propagou fortemente:
UNIDADE 1 | A LITERATURA PORTUGUESA DO PERÍODO MEDIEVAL AO CLÁSSICO
8
Ai flores, ai flores do verde pino
Dom Dinis
Cancioneiro da Biblioteca Nacional 568, Cancioneiro da Vaticana 171
Ai flores, ai flores do verde pino,
se sabedes novas do meu amigo!
Ai Deus, e u é?
Ai, flores, ai flores do verde ramo,
se sabedes novas do meu amado!
Ai Deus, e u é?
Se sabedes novas do meu amigo,
aquel que mentiu do que pos comigo!
Ai Deus, e u é?
Se sabedes novas do meu amado
aquel que mentiu do que mi ha jurado!
Ai Deus, e u é?
-Vós me preguntades polo voss'amigo,
e eu ben vos digo que é san'e vivo.
Ai Deus, e u é?
Vós me preguntades polo voss'amado,
e eu ben vos digo que é viv'e sano.
Ai Deus, e u é?
E eu ben vos digo que é san'e vivo
e seerá vosc'ant'o prazo saído.
Ai Deus, e u é?
E eu ben vos digo que é viv'e sano
e seerá vosc'ant'o prazo passado.
Ai Deus, e u é?
FONTE: <http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraDownload.do?select_
action=&co_obra=86555&co_midia=2>. Acesso em: 14 ago. 2019.
Além do eu lírico feminino, observa-se que as Cantigas de Amigo possuem 
uma estrutura “paralelística” simples, o que designa que “A unidade rítmica não 
é a estrofe, mas o par de estrofes, ou mais, precisamente, o par de dísticos, dentro 
do qual ambos os dísticos querem dizer o mesmo, diferindo só, ou quase só, nas 
palavras da rima” (LOPES; SARAIVA, 1969, p. 45), como vimos anteriormente 
em “verde pino/verde ramo” e “meu amigo/meu amado”. Também há um verso 
que se repete, “Ai Deus, e u é”, conhecido como refrão, que você provavelmente 
conhece das suas músicas favoritas, pois este é constituído por versos de fácil 
memorização e repetição. 
TÓPICO 1 | O TROVADORISMO E SUAS CANTIGAS
9
O “amigo” na cantiga é o namorado ou amante que geralmente se 
encontra longe, desse modo, a voz feminina reclama às suas ouvintes a ausência 
do ser amado, essas últimas podem ser as mães ou as amigas da protagonista. 
Os ambientes deste gênero poético-musical, ainda segundo os autores, estão na 
população rural, onde se veem paisagens da natureza; no lar doméstico, em que a 
protagonista aparece cumprindo afazeres “femininos” da casa; ou o ambiente da 
corte, onde vemos o “amor cortês” do ponto de vista da mulher. 
Já as Cantigas de Amor expressavam, segundo presumiam seus produtores, 
um modelo a ser seguido, pois eram de origem provençal ambientadas nos 
palácios, festas e cortes citadinas. Nesse tipo de canção, o homem expressa o “amor 
cortês” através da vassalagem amorosa à uma mulher idealizada, sem defeitos e 
santificada. Há semelhanças dessa vassalagem ao papel do cavaleiro referente ao 
seu senhor feudal, desse modo “O trovador imaginava a dama como um susserano 
a quem ‘servia’ numa atitude submissa de vassalo, confiando o seu destino ao ‘bon 
sen’ [bom senso] da ‘senhor’ [senhora] ” (LOPES; SARAIVA, 1969, p. 57).
O termo “provençal” surgiu para se referir à região de Provença, localizada no 
sul da França.
NOTA
Acompanhe, a seguir, uma famosa Cantiga de Amor escrita por D. Afonso 
Sanches, em que podemos observar o português arcaico, mas já mais fácil de 
“tradução” para a contemporaneidade.
Afonso Sanches
Tam grave dia que vos conhoci,
por quanto mal me vem per vós, senhor!
Ca me vem coita, nunca vi maior,
sem outro bem, por vós, senhor, des i;
por este mal que mi a mim por vós vem,
come se fosse bem, quer-me por en
gram mal, a quem[-no] nunca mereci.
 
Ca tem, senhor, porque vos eu serv'i
[e] sempre digo que sôde'la milhor
do mund'e trobo polo voss'amor,
que me fazedes gram bem; e assi
UNIDADE 1 | A LITERATURA PORTUGUESA DO PERÍODO MEDIEVAL AO CLÁSSICO
10
veed'ora, mia senhor do bom sem,
este bem [a]tal, se compr'[a] mim rem,
senom se valedes vós mais per i.
 
Mais eu, senhor, em mal dia naci:
del, que nom tem, nem é conhecedor
do vosso bem, a que nom fez valor,
Deus de lho dar, que lhi fezo bem i;
pero, senhor, assi me venha bem,
deste gram bem, que el por bem nom tem,
mui pouco del seria grand'a mi.
 
Pois, mia senhor, razom é, quand'alguém
serv'e nom pede, [que] já-quê lhi dem
- eu servi sempr'e nunca vos pedi.
FONTE: <https://cantigas.fcsh.unl.pt/cantiga.asp?cdcant=386&pv=sim>. Acesso em: 14 ago. 2019.
No tocante à estrutura, as cantigas de amigo e de amor são relativamente 
semelhantes, embora estas últimas fossem consideradas mais “bem produzidas” 
por pontuar maiores complexidades nas rimas, isso se expressa, certamente, pelas 
diferenças sociolinguísticasde seus produtores/consumidores, ou seja, enquanto 
as cantigas de amigo traziam uma linguagem mais simples, as cantigas de amor, 
desenvolvidas nos espaços da realeza, procuravam trazer uma linguagem mais 
“elaborada”. O eu lírico destas era masculino, obviamente porque os homens 
eram os que tinham esse poder de escrever e partilhar das artes; os espaços que 
circulavam eram os palácios e as cortes; e seu principal incentivo ao “amor cortês”, 
que era o ideal de amor influenciado pela religião, mas também contraditório, 
segundo bem pontua Ferraz (2008, p. 25):
O amor cortesão apresenta um paradoxo: mantém certa aproximação 
com a moral cristã, no sentido de que transforma a mulher amada 
em um ser angelical, inacessível, e o amor é transformado em uma 
religião. No entanto, trata-se de um amor adúltero, o que de certa 
forma anula a moral cristã nesse aspecto. A chamada erótica cortesã é 
vista como uma técnica sutil de não amar, uma maneira de não realizar 
o amor, uma vez que o homem tem medo da mulher diante do qual 
ele teme sua própria sexualidade. O amor cortês revela uma mulher 
completamente superior e inacessível e mostra as relações entre o 
feminino e o masculino, mas o homem é na verdade o dono desse 
jogo. O ideal é uma coisa, o real é outra. O público a quem se dirigiam 
poetas e romancistas era constituído de machos celibatários dos quais 
a cavalaria estava cheia. Alimentando-lhes o ardor, a literatura cortesã 
torna-se instrumento pedagógico.
TÓPICO 1 | O TROVADORISMO E SUAS CANTIGAS
11
Esse tipo de amor era conhecido como o “fino amor” ou “um extremo 
refinamento da cortesia”, diz ainda a autora. Baseado no platonismo, ou seja, um 
ideal de amor que ama mais o sentimento do que a sua concretização, ou seja, 
através do sofrimento o cavalheiro cultua a mulher amada, que tem poder de 
decidir se esse vive ou morre. 
Esse tipo de amor pode ser visto também em alguns romances 
ultrarromânticos, como nas primeiras fases do Romantismo português em 
autores como Camilo Castelo Branco, conforme você verá quando estudar esse 
período, e também não é exagero afirmar que ainda hoje permeia um vasto 
imaginário sociocultural que reproduz sua lógica de amor romântico e sofredor, 
principalmente através de algumas músicas. Vale lembrar, ainda, que as mulheres 
cumpriam papel de coadjuvantes nesse período, pois sequer podiam escolher 
seus maridos, quiçá opinar em quaisquer circunstâncias, mesmo que no âmbito 
familiar restrito, por isso pode-se perceber porque esse tipo de amor poderia ser 
fatalmente adúltero. 
No próximo tópico, apresentamos as cantigas de escárnio e de maldizer, 
que complementam as poéticas musicadas durante o período Medieval, cujas 
“trovas” podem mesmo trazer semelhanças de alguns gêneros poético-musicais 
contemporâneos. 
4 CANTIGAS DE ESCÁRNIO E CANTIGAS DE MALDIZER
Diferentemente das Cantigas de Amor e de Amigo, as Cantigas de Escárnio 
e as Cantigas de Maldizer são sátiras indiretas, no caso da primeira, e diretas, 
no caso da segunda, e expressam críticas a alguém, usando-se da ironia, de 
xingamentos etc. com intenção difamatória, entretanto, tanto num quanto noutro 
tipo de canção podemos encontrar tais características. Porém, é nas cantigas de 
maldizer que as pessoas são nomeadas, passando a receber uma maledicência ou 
praga em seu nome. 
Tais canções se tornam importantes na medida em que expressam críticas 
de cunho político-social relacionadas à vida na corte, e mesmo diretamente a 
pessoas, inclusive membros políticos desses espaços, o que pode configurar-se 
como importante material para se perceber aquele período a partir de um viés mais 
etnográfico, por assim dizer, já que os poetas circulavam em diferentes espaços 
sociais e tinham o aval da arte para expressar seus pontos de vista, conforme 
pontuam Lopes e Saraiva (1969, p. 65): “Como repertório pícaro ou pitoresco de 
costumes, testemunho voluntário ou involuntário de uma mentalidade, a sátira 
trovadoresca completa os livros das linhagens”, estes que eram os livros da nobreza 
da época, mas sem deixar de expressar as críticas referente aos costumes.
UNIDADE 1 | A LITERATURA PORTUGUESA DO PERÍODO MEDIEVAL AO CLÁSSICO
12
Etnográfico se relaciona à etnografia, ou seja, a ciência que descreve os 
costumes dos povos relativos à língua, raça, religião etc. 
FONTE: <https://dicionario.priberam.org/etnografia>. Acesso em: 10 ago. 2019.
NOTA
Vejamos uma cantiga de escárnio a seguir, de autoria de João Garcia 
de Guilhade, em que a protagonista não é nomeada, entretanto, satirizada 
indiretamente por ser “feia”.
João Garcia de Guilhade
Ai dona fea, fostes-vos queixar
que vos nunca louv'en[o] meu cantar;
mais ora quero fazer um cantar
em que vos loarei todavia;
e vedes como vos quero loar:
dona fea, velha e sandia!
 
Dona fea, se Deus mi perdom,
pois havedes [a]tam gram coraçom
que vos eu loe, em esta razom
vos quero já loar todavia;
e vedes qual será a loaçom:
dona fea, velha e sandia!
 
Dona fea, nunca vos eu loei
em meu trobar, pero muito trobei;
mais ora já um bom cantar farei
em que vos loarei todavia;
e direi-vos como vos loarei:
dona fea, velha e sandia!
FONTE: <https://cantigas.fcsh.unl.pt/cantiga.asp?cdcant=386&pv=sim>. Acesso em: 14 ago. 2019.
Já as Cantigas de Maldizer, como dito, expressam diretamente nomes de 
pessoas envolvidas. Geralmente, a temática é o adultério ou o amor por interesse. 
Há emprego direto de palavrões e as críticas não são poupadas ao se referir a 
tal pessoa. Vejamos um exemplo típico desse tipo de canção a seguir, escrito por 
Afonso Eanes de Coton, onde apresenta os desejos sexuais da protagonista.
TÓPICO 1 | O TROVADORISMO E SUAS CANTIGAS
13
CANTIGA DE MALDIZER
Maria Mateu, daqui vou desertar.
De cona não achar o mal me vem.
Aquela que a tem não ma quer dar
e alguém que ma daria não a tem.
Maria Mateu, Maria Mateu,
tão desejosa sois de cona como eu!
Quantas conas foi Deus desperdiçar
quando aqui abundou quem as não quer!
E a outros, fê-las muito desejar:
a mim e a ti, ainda que mulher.
Maria Mateu, Maria Mateu
tão desejosa sois de cona como eu!
FONTE: <https://www.escritas.org/pt/t/3999/cantiga-de-maldizer>. Acesso em: 14 ago. 2019.
As cantigas de escárnio e maldizer trazem frutíferas reflexões a respeito da 
sociedade portuguesa da época, em que se buscava manter as convenções sociais 
e cristãs a todo custo, mesmo que à base de uma vida dupla, ou seja, aquela 
encenada socialmente, e a outra, vivida secretamente onde se podia expressar os 
reais desejos dos sujeitos sem serem julgados. 
Devemos perceber que a história de uma sociedade é sempre uma 
multiplicidade de histórias individuais que se mesclam com a coletividade para, 
então, comporem um mosaico de memórias. Entretanto, uma das desvantagens 
de se buscar a homogeneização é trazer apenas um ponto de vista para a luz 
excetuando-se todos os outros que diferem daquela história que se quer contar, 
ou seja, sempre há histórias por detrás dessa história. 
Não nos esqueçamos disso para lembrarmos que, embora as cantigas 
registradas pela via escrita sejam material histórico importantíssimo, haja o 
fato de estarmos estudando-as, muitas outras histórias e contextos passaram 
despercebidos a fim de manter uma coerência que é, ao fim e ao cabo, ditada 
pelos detentores do poder. Por isso mesmo, diversos reis, entre eles D. Dinis, 
foram os maiores trovadores dessa época portuguesa.
O Trovadorismo entra em declínio, tanto em Portugal quanto na Europa, 
principalmente com a ascensão da burguesia e as transformações histórico-sociais 
decorrentes da época que influenciaram nas artes, pois como já se dissemos 
anteriormente, a arte faz parte da história e vice-versa. Na verdade, a estrutura social 
sofrendo modificações reflete-se nas formas de se fazer arte, isso é fato até os dias de 
hoje, basta pararmos para analisar como se dão tais fazeres em nosso cotidiano.
UNIDADE 1 | A LITERATURA PORTUGUESA DO PERÍODO MEDIEVAL AO CLÁSSICO
14
 O documentário Palavra Encantada, de 
HelenaSolberg (2014) traz um rico material de 
reflexão de artistas e especialistas das áreas da 
literatura e da música para pensarmos a relação 
entre as duas artes, que ocorre desde os primórdios. 
É interessante, principalmente, para trabalharmos 
em sala de aula. Vale a pena adquirir o material ou 
assistir online, disponibilizado em: https://www.
youtube.com/watch?v=gqoW5iDNAZw.
DICAS
FONTE: <http://twixar.me/GvRT>. 
Acesso em: 24 jan. 2020.
A fim de exemplificarmos um gênero poético-musical contemporâneo que 
dialoga com as cantigas, trazemos um exemplo de nosso aclamado cantor Chico 
Buarque. “Olho nos olhos” traz um eu lírico feminino lamentando a separação 
do amado. 
Olhos nos olhos
Quando você me deixou, meu bem
Me disse pra ser feliz e passar bem
Quis morrer de ciúme, quase enlouqueci
Mas depois, como era de costume, obedeci
Quando você me quiser rever
Já vai me encontrar refeita, pode crer
Olhos nos olhos quero ver o que você faz
Ao sentir que sem você eu passo bem
demais
E que venho até remoçando
Me pego cantando
Sem mais nem por que
E tantas águas rolaram
Quantos homens me amaram
Bem mais e melhor que você
Quando talvez precisar de mim
Cê sabe que a casa é sempre sua, venha sim
Olhos nos olhos quero ver o que você diz
Quero ver como suporta me ver tão feliz.
FONTE: <https://www.letras.mus.br/chico-buarque/65962/>. Acesso em: 10 ago. 2019.
TÓPICO 1 | O TROVADORISMO E SUAS CANTIGAS
15
A seguir, vemos uma cantiga contemporânea da extinta banda “Legião 
Urbana”, que pode ser comparada às cantigas de escárnio, por tratar de críticas 
ao cenário político da época.
QUE PAÍS É ESSE (LEGIÃO URBANA)
Nas favelas, no Senado
Sujeira pra todo lado
Ninguém respeita a Constituição
Mas todos acreditam no futuro da nação
[REFRÃO]
Que país é esse?
Que país é esse?
Que país é esse?
No Amazonas, no Araguaia-ia-ia
Na baixada fluminense
Mato Grosso, Minas Gerais
E no nordeste tudo em paz
Na morte eu descanso
Mas o sangue anda solto
Manchando os papéis, documentos fiéis
Ao descanso do patrão
Terceiro mundo se for piada no exterior
Mas o Brasil vai ficar rico
Vamos faturar um milhão
Quando vendermos todas as almas
Dos nossos índios num leilão
FONTE: <https://www.letras.mus.br/legiao-urbana/46973/>. Acesso em: 10 ago. 2019.
Trouxemos essas músicas para que possam lhe instigar a procurar mais! 
Certamente entre os gêneros poéticos-musicais contemporâneos que você ouve é 
possível encontrar outras semelhanças com as cantigas de amor e de amigo, ou 
ainda as cantigas de escárnio e maldizer. Esse tipo de exercício é muito profícuo 
em sala de aula com estudantes de todas as idades, pois a música é uma grande 
catalisadora de gerações, podendo facilitar a compreensão dos interlocutores 
para as tipologias “de antigamente”, como as aqui apresentadas. 
16
Neste tópico, você aprendeu que:
• A noção de campo literário está relacionada diretamente às linguagens 
e estéticas, portanto, o campo literário português pode ser amplamente 
compreendido até a atualidade.
• Durante o Período Medieval, as artes trovadorescas eram propagadas oralmente 
principalmente através da música.
• As cantigas de amigo e de amor expressavam os sentimentos e as emoções do 
eu lírico feminino e masculino, respectivamente.
• As cantigas de escárnio e maldizer traziam sátiras diretas ou indiretas acerca 
de personalidades e dos costumes da época medieval.
• Portugal colonizou diferentes países cujas influências podem ser observadas 
para além da língua, mas também nos modos de fazer literários de tais lugares, 
inclusive no Brasil.
• A literatura traz riquíssimo material para compreendermos os processos sócio-
históricos de uma sociedade em determinados contextos.
• As características das cantigas desse período podem ser comparadas às músicas 
contemporâneas.
RESUMO DO TÓPICO 1
17
1 A respeito do Trovadorismo em Portugal, podemos dizer que:
I- Foi a primeira escola literária do país, e a relação com a oralidade e a música 
são explicitadas em suas cantigas.
II- Tem quatro gêneros poéticos-musicais: as Cantigas de Amigo e as Cantigas 
de Amor, para expressar os sentimentos do eu lírico feminino e masculino, 
respectivamente; e as Cantigas de Escárnio e Cantigas de Maldizer, para 
expressar críticas satíricas indiretas ou diretamente.
III- A linguagem poética é semelhante ao português moderno.
IV- Apresentam a noção de amor baseada nos princípios cristãos da Igreja 
Católica.
Estão CORRETAS as seguintes afirmativas:
a) ( ) I, apenas.
b) ( ) II, apenas.
c) ( ) I e II.
d) ( ) II e III.
e) ( ) II, III e IV.
2 Leia atentamente a cantiga a seguir:
Ondas do mar de Vigo,
se vistes meu amigo!
e ai Deus, se verrá cedo!
Ondas do mar levado,
se vistes meu amado!
e ai Deus, se verrá cedo!
Se vistes meu amigo,
o por que eu sospiro!
e ai Deus, se verrá cedo!
Se vistes meu amado,
por que ei gram cuidado!
e ai Deus, se verrá cedo! 
(Martim Codax)
(In: NUNES, José Joaquim. Cantigas […]. Lisboa: Centro do Livro Brasileiro, 1973. v. 2, p. 441).
Aponte em que tipo de cantiga ela se classifica e justifique sua resposta.
AUTOATIVIDADE
18
3 (Ufam - adaptada) Leia o poema a seguir, de autoria de D. Dinis, rei de 
Portugal, antes de responder à questão:
“En gran coita, senhor,
que pior que mort’é,
vivo, per boa fé,
e polo voss’amor
esta coita sofr’eu
por vós, senhor, que eu
Vi polo meu gran mal,
e melhor me será
de morrer por vós já
e, pois me Deus non val,
esta coita sofr’eu
por vós, senhor, que eu
Polo meu gran mal vi,
e mais me val morrer
ca tal coita sofrer,
pois por meu mal assi
esta coita sofr’eu
por vós, senhor, que eu
Vi por gran mal de mi,
pois tam coitad’and’eu.”
A respeito do poema acima fazem-se as seguintes afirmativas:
I- É uma cantiga de escárnio, pois o poeta ridiculariza a mulher amada.
II- É uma cantiga de amigo, pois o eu lírico é feminino.
III- Possui versos paralelísticos, como em “Vi polo meu gran mal” e “Polo meu 
gran mal vi”.
IV- É uma cantiga de amor, pois o eu lírico, além de ser masculino, sofre 
intensamente um amor impossível.
V- É uma cantiga de maldizer, pois o poeta não se conforma com o fato de não 
conquistar a mulher que ama.
Estão CORRETAS:
FONTE: <http://idaam.com.br/downloads/nave/provas_ufam/prova_psc2004_etapa1.pdf>. 
Acesso em: 27 jan. 2020.
a) ( ) Apenas III e IV. 
b) ( ) Apenas II e III. 
c) ( ) Apenas II e V.
d) ( ) Apenas I e V.
e) ( ) Todas as alternativas estão corretas.
19
TÓPICO 2
DA POESIA À PROSA MEDIEVAL 
RUMANDO PARA NOVOS ARES
UNIDADE 1
1 INTRODUÇÃO
Neste tópico, vamos conhecer um pouco da prosa medieval, que também 
circulava oralmente originada das “canções de gesta” (poemas cantados 
que apresentavam as aventuras de guerreiros) até que, assim como a poesia 
trovadoresca, tardiamente foram coletadas e escritas. Importa observarmos que 
tanto a poesia quanto a prosa, e nesse sentido não somente de períodos remotos 
mas as de nossos dias, trazem importantes registros de suas épocas que podem 
nos auxiliar na compreensão daquelas.
Em seguida, conheceremos um pouco do período pós-medieval e a 
importância do teatro de costumes português. Aqui o movimento Humanista 
assumirá um viés significativo para o período de transição sociohistórica tanto 
desse país quanto da Europa de um modo geral. 
Por último, e de suma importância, daremos nesse tópico especial 
destaque ao poeta clássico Luiz de Camões e sua obra lírica e prosa poética, 
essenciais a todo e qualquer estudante que seja amante das Letras e obras 
mundialmente reconhecidas como de especial relevância para a compreensão 
de determinados períodos. 
2 ENTRE REINOS E CASTELOS, O AMOR 
Conhecer o momento histórico e suas implicâncias na sociedade são 
cruciais para que possamos apreender certos detalhes que reverberam até os dias 
atuais. Por exemplo, nesta unidade estamos falando inicialmente sobre o Período 
Medieval, certo? Logo, isso nos remete às épocas em que os cenários eram mais 
rurais que urbanos, ou ao menos não tão urbanoscomo no sentido que conhecemos 
as cidades de agora. Estamos entre os períodos feudais, transitando para o período 
renascentista e isso já nos faz lembrar que, embora as cronologias históricas sejam 
divididas em datas, elas não são estanques, ou seja, há resquícios de características 
de uma e outra em diferentes estágios, como assinala Moisés (2008):
UNIDADE 1 | A LITERATURA PORTUGUESA DO PERÍODO MEDIEVAL AO CLÁSSICO
20
Assim sendo, compreende-se que este panorama histórico da 
atividade literária de Portugal esteja dividido nos seus fundamentais 
momentos evolutivos. No tocante às datas empregadas para os 
delimitar, constituem somente pontos de referência, pois nunca se 
sabe com precisão quando começa ou termina um processo histórico: 
funcionam, na verdade, como indício de que alguma coisa de novo 
está acontecendo, sem caracterizar a morte definitiva do padrão velho 
até aí em voga (MOISÉS, 2008, p. 21). 
Com tudo isso, queremos já adentrar ao universo das novelas de cavalaria 
que, certamente, você estudante já conhece: quem nunca assistiu a algum filme 
que mostrasse tais cenários épicos com os lendários cavaleiros e suas armaduras, 
além das belas donzelas sempre aguardando serem salvas, ou dos reis e rainhas e 
do povo como coadjuvante da história? 
Mas antes de olharmos para isso, foquemos no gênero literário que 
trataremos aqui: a novela. Você certamente já assistiu a uma ou ouviu falar 
de alguma telenovela brasileira.? Pois antes da televisão, nas artes literárias 
encontramos o gênero literário “novela” que, embora não seja muito comentado, 
situa-se entre o conto – que é um gênero narrativo menor – e o romance – que 
é um gênero narrativo maior. Ora, a novela consegue trazer um pouco mais de 
desenvolvimento ao enredo da história que um conto, mas certamente não deve 
se estender tanto na narrativa quanto um romance. 
Como classificar os gêneros literários, então? Vai depender do bom senso 
e da observação da estrutura narrativa, embora possamos encontrar estudiosos 
que classifiquem uma mesma obra de formas diferentes. O importante a perceber 
aqui é que a novela é o principal exemplo em prosa desse período justamente 
porque o romance, como você irá estudar adiante, é um gênero literário que 
nasce com a ascensão da burguesia na Europa e se difunde com a consolidação 
da imprensa.
Veremos a seguir, então, como as novelas de cavalaria se difundiram 
em Portugal, que é nosso ponto central nestes estudos, mas lembrando que 
tais histórias não se limitam somente a esse país, haja vista que podem ser 
divididas em três grandes ciclos que abarcam toda a Europa Ocidental: o ciclo 
carolíngio; o ciclo clássico; e o ciclo bretão, que é onde se encontram as novelas 
aqui tratadas. Ressalte-se ainda que as novelas de cavalaria trazem as biografias 
dos guerreiros lendários que lutavam por um ideal, seja por Deus; por uma 
causa, geralmente religiosa ou de honra (ética e moral); ou por sua amada, uma 
mulher também divinizada.
TÓPICO 2 | DA POESIA À PROSA MEDIEVAL RUMANDO PARA NOVOS ARES
21
3 AS NOVELAS DE CAVALARIA
As novelas de cavalaria são os registros em prosa do Período Medieval, 
isso quer dizer que, diferentemente da poesia lírica estudada no Tópico 1, o 
enredo é maior e há mais personagens envolvidos na história. As mais conhecidas 
histórias de cavalaria, e que você já deve ter ouvido falar, são as lendas do Rei 
Arthur e os cavaleiros da Távola Redonda. 
Essas narrativas traziam um ideal de cavaleiro que a Igreja pretendia 
reproduzir, ou seja, o herói fiel, dedicado, cortês e, obviamente, cristão. Por isso, 
também, muitas novelas de cavalaria giravam em torno da Demanda do Graal, 
relacionado-se diretamente aos mistérios a respeito da vida de Jesus Cristo. Além 
disso, essas narrativas são classificadas dentro do que ficou conhecido como o 
ciclo Bretão supracitado, onde percebe-se que:
O ciclo Bretão, já denominado anteriormente matéria da Bretanha, 
é repleto de imaginação mística, devoção amorosa, ardente lirismo, 
sonhos, imaginação, sentimentalismo e exaltação religiosa. A temática 
central é o amor, a prostração e a fascinação passional, a divinização 
da mulher, tudo isso misturado ao espírito bélico. Tem origem nas 
populações célticas da Grã Bretanha que se fixaram no norte da França 
(FERRAZ, 2008, p. 37-38).
Há algumas semelhanças entre o protagonista rei Arthur e Jesus 
Cristo, pois ambos possuíam 12 seguidores, os discípulos deste e os cavaleiros 
daquele. O rei Arthur reunia-se com os seus numa távola redonda, onde não 
havia hierarquia de lugares, ou seja, representava a igualdade entre todos. Essa 
mesma távola poderia aludir à mesa na qual Jesus reuniu os discípulos e fez a 
Santa Ceia. O rei Arthur foi traído pelo seu primeiro cavaleiro, Lancelot, que 
teve um caso de amor com Guinevere, a esposa daquele. Jesus foi traído por seu 
discípulo Judas. Ambos os personagens trazem os ideais de bondade e santidade, 
denotando assim a relação religiosa desse ideal de cavaleiro propagado nesse 
período (FERRAZ, 2008, p. 38).
Ora, as novelas de cavalaria trazem o ideal do “amor cortesão” de forma 
mais elaborada do que apontado na lírica trovadoresca, pois através da prosa 
se consegue criar cenários e façanhas dignos das buscas heroicas as quais tais 
guerreiros pretendiam. Todavia, devemos ver que durante essa época as grandes 
conquistas eram travadas, e por consequência, idealizadas e romantizadas, 
refletindo-se nas literaturas visto que essas, a partir do momento em que a escrita 
passa a ser o registro “da verdade”, irão figurar entre as memórias desses povos. 
Além disso, as conhecidas Cruzadas, ocorridas entre os século XI e XIII, 
foram pontos marcantes nesse processo de expansão da religião católica. Por 
isso é tão importante criar um imaginário em que o cavaleiro herói é aquele de 
determinadas formas, detentor de grandes qualidades que, no caso à época, 
transitava pelo ideal cristão, embora também já se insinuando para o Humanismo, 
que vem a seguir e que veremos no próximo tópico. 
UNIDADE 1 | A LITERATURA PORTUGUESA DO PERÍODO MEDIEVAL AO CLÁSSICO
22
Em Portugal, por volta do século XIV, surge a mais antiga e conhecida 
novela de cavalaria chamada “Amadis de Gaula”, cercada de mistérios acerca de 
sua autoria, se seria portuguesa ou espanhola, por isso alguns estudiosos afirmam 
se tratar de um material da Península Ibérica a fim de resolver a questão. O breve 
resumo dessa história quem nos dá é Lopes e Saraiva:
Amadis é o fruto dos amores clandestinos de Elisena e do rei Perion, 
que o abandonam às águas do mar. Salvo por uma família que lhe não 
sabe a origem, vem a ser escolhido para pajem da infanta Oriana, a 
quem a rainha apresenta com estas palavras: ‘– Amiga, este é o donzel 
que vos servirá’. O donzel guarda tais palavras no seu coração, e 
desde então a sua vida desdobra-se num longo serviço inteiramente 
cansagrado à amada. Durante muito tempo, a timidez inibiu-o de se 
declarar. Depois, o amor entre os dois foi um segredo cuidadosamente 
guardado. Ninguém sabia que era por Oriana que Amadis se arriscava 
a combates nunca vistos com gigantes ou monstros. O cavaleiro 
invencível quase deixa cair a espada das mãos ao ver, da arena de 
combate, a senhora na assistência, e quando, por um mal-entendido, 
ela o acusa injustamente de infidelidade, resolve deixar o mundo e 
fazer-se ermitão. O longo serviço de Amadis teve no entanto um 
merecido prêmio porque, quando uma aventura propícia deixa os 
dois namorados a sós na floresta, escreve o autor, ‘naquela erva e em 
cima daquele manto, mais por graça e comedimento de Oriana que 
por desenvoltura e ousadia de Amadis, foi feita dona a mais formosa 
donzela do mundo’ (LOPES; SARAIVA, 1969, p. 95).
DICASA - Essa região geográfica, embora seja fruto de disputas sociopolíticas, 
encontra-se abarcada, principalmente, pelos países da Espanha e Portugal.
NOTA
Todavia, diferentemente do que ocorre em outras novelas de cavalaria, 
a exemplo das sagas do rei Arthur e seus cavaleiros,em que ocorrem amores 
adúlteros, Amadis e Oriana, personagens da novela portuguesa, consumam um 
amor entre duas pessoas solteiras que eram. Outra diferença é que também ocorre 
a consumação carnal ou sexual dos personagens, diferente do que se exigia das 
outras novelas de cavalaria, em que o personagem principal deveria ser casto 
e sofreria todo tipo de provação para manter sua virgindade, pois conforme se 
dizia daquelas:
A obra tem uma intenção religiosa e representa, relativamente à moral 
cortês que inspira os cantares de amor, uma completa inversão de 
valores. Ao passo que na lírica cortês, como em todo o romance cortês 
anterior a esta fase, se exalta o amor como caminho para a felicidade e a 
perfeição moral, na Demanda todo o amor é considerado pecaminoso, 
e a virgindade recomendada como o estado mais perfeito (LOPES; 
SARAIVA, 1969, p. 93). 
TÓPICO 2 | DA POESIA À PROSA MEDIEVAL RUMANDO PARA NOVOS ARES
23
Para se familiarizer com as características da história de Amadis e Oriana, 
acompanhe, a seguir, um capítulo dessa novela e, se possível, leia a história 
completa disponível no endereço da fonte citada, já que se trata de uma obra 
pública, assim como todas as obras tratadas nesta unidade. Essa foi considerada a 
novela de cavalaria mais importante de toda a Península Ibérica e seu protagonista, 
Amadis, é frequentemente citado por Dom Quixote, protagonista do romance 
espanhol de Miguel Cervantes, Dom Quixote de la Mancha, que se trata de uma 
novela de cavalaria que faz uma sátira do próprio gênero. Contudo, leia agora o 
“Amadis” português:
CAPÍTULO XX
[Capítulo traduzido por Augusto Cézar Filho]
Como Arcalaus levou novas à corte do rei Lisuarte como Amadis era morto e os grandes 
prantos que em toda a corte por ele se fizeram, em especial Oriana.
Tanto andou Arcalaus, depois que se partiu de Amadis, onde o deixou 
encantado, em seu cavalo e armado com suas armas, que aos dez dias chegou a 
casa do rei Lisuarte, uma manhã quando o sol saía; e nesta sazão o rei Lisuarte 
cavalgava com mui grande companhia; e andava entre o seu palácio e a 
floresta, e viu como vinha Arcalaus contra ele; e quando conheceram o cavalo 
e as armas, todos cuidaram que Amadis era. E o rei foi-se a ele mui alegre, mas 
sendo mais perto, viram que não era o que pensavam, que ele trazia o rosto e 
as mãos desarmadas, e foram maravilhados. Arcalaus foi ante el rei e disse-lhe:
– Senhor, eu venho a vós porque fiz tal preito de aparecer aqui a contar como 
matei numa batalha um cavaleiro; e por certo, eu venho com vergonha, porque 
antes dos outros que de mim queria ser louvado; mas não posso al fazer, que 
tal foi o acordo entre ele e mim: que o vencedor cortasse a cabeça ao outro e se 
apresentasse ante vós hoje neste dia; e muito me pesou, que me disse que era 
cavaleiro da Rainha. E eu lhe disse que, se me matasse, que matava Arcalaus, 
que assim é o meu nome. E ele disse que se chamava Amadis de Gaula; assim 
ele desta guisa recebeu a morte, e eu fiquei com a honra e prez da batalha.
– Ai Santa Maria val! – disse o Rei – morto é o melhor cavaleiro e mais esforçado 
do mundo. Ai Deus, senhor! E por que vos prougue de fazer tão bom começo 
e em tal cavaleiro?
E começou a chorar mui esquivo [horrível] pranto, e todos os outros que ali 
estavam. Arcalaus voltou por donde viera, e maldiziam-no os que o viam, 
rogando e fazendo petição a Deus que lhe desse cedo má morte; e eles 
mesmos lha dariam, se não fosse porque, segundo a sua razão [segundo as 
suas palavras], não havia causa nenhuma para isso. O Rei foi-se para o seu 
palácio mui pensativo e triste à maravilha. E as novas soaram por todas as 
partes, até chegarem a casa da Rainha; e as donas que ouviram ser Amadis 
morto, começaram a chorar, que de todas era mui amado e querido. Oriana, 
que na sua câmara estava, pediu à Donzela de Dinamarca que fosse saber que 
cousa era aquele pranto que se fazia. A donzela saiu e, quando o soube, voltou, 
ferindo com as suas mãos o rosto e, chorando mui feramente, olhava para 
UNIDADE 1 | A LITERATURA PORTUGUESA DO PERÍODO MEDIEVAL AO CLÁSSICO
24
Oriana; e disse-lhe: 
– Ai, senhora, que coita e que grande dor!
Oriana estremeceu toda e disse:
– Ai, Santa Maria, é morto Amadis?
A donzela disse:
– Ai, cativa, que morto é!
E fraquejando a Oriana o coração, caiu em terra como morta. A donzela, que 
assim a viu, deixou de chorar e foi-se a Mabília, que fazia grande dó, arrancando 
os seus cabelos, e disse-lhe:
– Senhora Mabília, acorrei a minha senhora, que morre.
Ela voltou a cabeça e viu Oriana jazer no estrado como se morta fosse; e ainda 
que a sua coita fosse mui grande, que mais não podia ser, quis remediar o que 
convinha e mandou a donzela fechar a porta da câmara, para que ninguém 
assim a visse, e foi tomar Oriana nos braços e fez-lhe deitar água fria pelo 
rosto, com que logo acordou um pouco; e como falar não pôde, disse chorando:
– Ai, amigas! Por Deus, não estorveis a minha morte, se o meu Descanso 
desejais, e não me façais tão desleal que só uma hora viva sem aquele que, 
não com a minha morte, mas com a minha má vontade, não poderia viver 
sequer uma hora.
Outrossim disse:
– Ai, flor e espelho de toda a cavalaria, que tão grave e estranha é para mim 
a vossa morte! Que por ela não somente eu padecerei, mas todo o mundo, 
ao perder aquele grande chefe e capitão, assim nas armas como em todas as 
outras virtudes, e em quem os que vivem exemplo podiam tomar! Mas se 
algum consolo ao meu triste coração consolo dá, não é senão que, não podendo 
ele sofrer tão cruel ferida, despedindo-se de mim vá para o vosso; que, ainda 
que na terra fria seja a sua morada, onde desfeitos e consumidos serão aquele 
grande acendimento de amor que, sendo nesta vida separados, com tanto 
alento sustinham, muito maior na outra, sendo juntos, se possível fosse ser-
lhes outorgado, sustentarão.
Então esmoreceu de tal guisa que de todo em todo cuidaram que morta 
fosse; e aqueles seus mui formosos cabelos tinha revoltos e estendidos por 
terra, e as mãos tinha sobre o coração, onde a raivosa morte lhe sobrevinha, 
padecendo em maior grau aquela cruel tristeza do que os prazeres e deleites 
até ali em seus amores havido haviam, assim como em semelhantes cousas 
desta qualidade continuamente acontece. Mabília, que verdadeiramente 
cuidou que morta era, disse:
– Ai, Deus Senhor! Não te praza de eu mais viver, pois as duas cousas que 
neste mundo mais amava estão mortas.
A donzela disse-lhe:
– Por Deus, senhora, não falte em tal hora vossa discrição, e acorrei ao que 
remédio tem.
TÓPICO 2 | DA POESIA À PROSA MEDIEVAL RUMANDO PARA NOVOS ARES
25
Mabilia, ganhando esforço, levantou-se e, tomando Oriana, puseram-na no 
seu leito. Oriana suspirou então, e mexia os braços por uma e outra parte, 
como se a alma se lhe arrancasse. Quando isto viu Mabília, tomou um pouco 
de água e tornou a deitar-lha pelo rosto e pelos peitos; e fez-lhe abrir os olhos 
e acordar um pouco mais, e disse-lhe:
– Ai, senhora! Que que pouco siso esse, que assim vos deixais morrer com 
novas tão levianas como aquele cavaleiro trouxe, não sabendo ser verdade; o 
qual, ou por ter pedido aquelas armas e cavalo a vosso amigo, ou quiçá por 
lhos haver roubado, os poderia alcançar, que não por aquela via que ele disse; 
que não o fez Deus tão sem ventura a vosso amigo para assim tão cedo do 
mundo o tirar; o que vós fareis, se de vossa coita tão grande algo se sabe, será 
perder-vos para sempre.
Oriana se esforçou um pouco mais, e tinha os olhos postos na janela onde 
falara com Amadis, no tempo que ali primeiro chegou, e disse com voz mui 
fraca, como aquela que as forças havia perdidas:
– Ai, janela, que coita é para mim aquela formosa fala que em ti foi feita; eu 
sei bem que não durarás tanto que em ti outros dois falem tão verdadeira e 
desenganada fala!
Outrossim disse:
– Ai, meu amigo, flor de todos os cavaleiros, quantos perderam socorro e 
defesa com a vossa morte, e que coita e dor a todos eles será, mas a mim muito 
maior e mais amarga, comoaquela que, muito mais que sua, vossa era! Que 
assim como em vós era todo meu gozo e minha alegria, assim vós faltando, 
é tornado no contrário de graves e incomportáveis tormentos; o meu ânimo 
assaz será fatigado, até que a morte, que eu tanto desejo, me venha, a qual, 
sendo causa que a minha alma com a vossa se junte, de mui maior descanso 
que a atribulada vida me será ocasião.
Mabília, com semblante sanhudo, disse:
– Como, senhora! Pensais vós que, se eu estas novas acreditasse, que teria 
esforço para consolar alguém? Não é assim pequeno nem leviano o amor que 
a meu primo tenho; antes, assim Deus me salve, se com razão o pudesse crer, 
nem a vós nem a quantos neste mundo bem o querem daria vantagem naquilo 
que por sua morte se devia mostrar e fazer; assim que o fazeis não vos tem 
prol, e poderia muito dano trazer, pois que com isso mui asinha se poderia 
descobrir o que tão encoberto temos.
Oriana, ouvindo isto, disse-lhe:
– Disso já pouco cuidado tenho, que agora, tarde ou cedo, não pode tardar de 
ser a todos manifesto, ainda que eu pugne por o encobrir; que quem viver não 
deseja, nenhum perigo pode temer, mesmo se viesse.
Nisto que ouvis estiveram todo aquele dia, dizendo a Donzela de Dinamarca a 
todos como Oriana não se ousava afastar de Mabília, para que se não matasse, 
tão grande coita era a sua; mas vinda a noite, com mais fadiga a passaram, que 
Oriana esmorecia muitas vezes, tanto que nunca à alva pensaram que chegasse, 
tanto era o pensamento e a coita que no coração tinha. Pois no outro dia, na hora 
em que iam pôr os mantéis ao Rei [Pôr a mesa para o almoço da manhã], entrou 
UNIDADE 1 | A LITERATURA PORTUGUESA DO PERÍODO MEDIEVAL AO CLÁSSICO
26
Brandoívas pela porta do palácio, levando Grindalaia pela mão, como aquela a 
quem afeição tinha, que muito prazer aos que o conheciam deu, porque grande 
espaço de tempo havia passado que dele nenhumas novas soubessem; e ambos 
ajoelharam ante el Rei. El Rei, que o muito prezava, disse assim:
– Brandoívas, sede mui bem vindo; como tardastes tanto, que muito vos temos 
desejado?
A esta razão que el Rei lhe dizia, respondeu e disse:
– Senhor, fui metido em tão grande prisão que dela não poderia sair de 
nenhuma guisa, senão pelo mui bom cavaleiro Amadis de Gaula, que, pela 
sua cortesia, me tirou a mim e a esta dona e a outros muitos, fazendo tanto em 
armas qual nenhum outro fazer pudera; e tê-lo-ia morto pelo maior engano 
que se nunca viu o traidor Arcalaus; mas foi socorrido por duas donzelas que 
não o deveriam amar pouco.
El Rei, quando isto ouviu, levantou-se logo da mesa e disse:
– Amigo, pela fé que a Deus deveis e a mim, dizei-me se é vivo Amadis.
– Por essa fé, senhor, que dizeis, digo que é verdade, que o deixei vivo e são 
ainda não há dez dias; mas porque o perguntais?
– Porque nos veio dizer ontem à noite Arcalaus que o matara – disse el Rei.
E contou-lho em qual guisa ele lho havia contado.
– Ai, Santa Maria! – disse Brandoívas –, que traidor malvado! Pois pior se lhe 
fez o preito do que ele cuidava.
Então contou a el Rei quanto lhes acontecera com Arcalaus, que nada faltou, 
como já o ouvistes antes disto. El Rei e todos os de sua casa quando o ouviram, 
ficaram tão alegres que mais não podiam ficar. E mandou que levassem 
Grindalaia à Rainha e que lhe contasse as novas do seu cavaleiro, a qual, 
tanto por ela como por todas as outras, foi com muito amor e grande alegria 
recebida, pelas boas novas que lhes disse.
A Donzela de Dinamarca, que as ouviu, foi o mais asinha que pôde dizê-las 
à sua senhora, que de morta a viva a tornaram; e mandou-lhe que fosse à 
Rainha e que lhes enviasse a dona, porque Mabília lhe queria falar; e logo o 
fez, que Grindalaia foi à câmara de Oriana e disse-lhes todas as boas novas 
que trazia. Elas lhe fizeram muita honra, e não quiseram que em outra parte 
comesse senão à sua mesa, para poder saber mais por extenso aquilo que tão 
grande alegria aos seus corações, que tão tristes haviam estado, lhes dava; mas 
quando Grindalaia lhes contava por onde Amadis havia entrado na prisão, e 
como matara os carcereiros e a tirara a ela donde tão coitada estava, e a batalha 
que com Arcalaus tivera, e tudo o resto que se tinha passado, grande piedade 
fazia ter as suas amigos. Assim como ouvis estavam no seu comer, tornada a 
sua grande tristeza em muita alegria. Grindalaia despediu-se delas e voltou 
para onde a Rainha estava, e encontrou ali o rei Arbão de Norgales, que a 
muito amava, e que a andava buscando, sabendo que ali era vinda. O prazer 
que ambos tiveram não se vos poderia contar. Ali foi acordado entre eles que 
ela ficasse com a Rainha, pois que não encontraria em nenhuma parte outra 
casa que tão honrada fosse. E Arbão de Norgales disse à Rainha como aquela 
TÓPICO 2 | DA POESIA À PROSA MEDIEVAL RUMANDO PARA NOVOS ARES
27
dona era filha do rei Adroid de Serelois, e que, como todo o mal que recebera 
havia sido ele a causa dele, que lhe pedia por mercê que a tomasse consigo, 
pois ela queria ser sua. 
Quando a Rainha isto ouviu, muito lhe prougue de em sua companhia a 
receber, assim pelas boas novas que de Amadis de Gaula trouxera, como por 
ser pessoa de tão alto lugar. E tomando-a pela mão, como a filha de quem era, 
fê-la sentar ante si, pedindo-lhe perdão se a não tinha honrado devidamente, 
que a causa disso fora não a conhecer. Também soube a Rainha como esta 
Grindalaia tinha uma irmã mui formosa donzela, que Aldeva se chamava, que 
em casa do duque de Bristoia se havia criado, e mandou a Rainha que logo lha 
trouxessem, para que em sua casa vivesse, porque a desejava muito ver. Esta 
Aldeva foi a amiga de D. Galaor, aquela por quem ele recebeu muitos nojos do 
anão de quem já ouvistes falar.
Assim como ouvis estava el Rei Lisuarte e toda a sua corte muito alegres e com 
desejo de ver Amadis, que tão grande sobressalto lhes tinham dado aquelas 
más novas que lhes dele haviam dito; dos quais deixará a história de falar, e 
contará de D. Galaor, que há muito que dele não se contou nem se fez memória.
(continua)
FONTE: <https://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:yBbjw-z63F4J:https://
rl.art.br/arquivos/6615680.pdf+&cd=6&hl=pt-BR&ct=clnk&gl=br>. Acesso em: 10 ago. 2019.
Vale destacar que a linguagem encontrada nessa obra se assemelha 
muito ao português moderno. Entre os principais temas dessa novela vemos a 
fidelidade de Amadis à Oriana, o conflito entre o platonismo (o amor idealizado) 
e o desejo físico, pois ambos mantém relações sexuais, explicitando esse desejo 
carnal tão condenado pela Igreja, inclusive o enredo aponta tal desejo por parte 
da mulher, como se vê em Oriana, haja vista que é ela quem toma a iniciativa de 
ir até Amadis, ou seja, aqui o papel da mulher se torna ativo, diferentemente do 
que era retratado nas cantigas estudadas no tópico anterior. 
Mas o sentimentalismo e lirismo continuam marcantes, assim como nas 
cantigas. Os protagonistas sofrem e adoecem de amor, e querem morrer quando 
estão longe um do outro, como se vê no capítulo citado anteriormente em que 
Oriana, ao saber da possível morte do amado, perde as forças de viver e quer se 
deixar morrer. 
Para finalizar esse tópico, salienta-se o fato de que as novelas de cavalaria 
influenciaram e ainda influenciam diferentes artistas, inclusive encontramos 
seus traços nos romances românticos português e brasileiro (FERRAZ, 2008, p. 
52). Além disso, as literaturas infantis são recheadas de histórias com castelos, 
reis, rainhas, príncipes e princesas que trazem os motes dessas novelas para 
expressar a honra do protagonista cavaleiro, salvador da donzela, e aventureiro 
que desbrava mundos.
UNIDADE 1 | A LITERATURA PORTUGUESA DO PERÍODO MEDIEVAL AO CLÁSSICO
28
 Embora certamente você já tenha assistido 
a algum filme sobre esse período medieval, em que 
os cavaleiros honrados realizam suas sagas, deixamos 
aqui algumas sugestões para ver ou rever, como As 
brumas de Avalon; Lancelot, o primeiro cavaleiro; 
Excalibur; Tristão e Isolda, e ainda o filme sobre 
as Cruzadasde nome homônimo em português, 
dirigido por Ridley Scott (2005). Além dos filmes, a 
maioria dessas obras estão escritas em livros, e vale a 
pena conferir a leitura.
DICAS
FONTE: <http://twixar.me/m4RT>. 
Acesso em: 1 fev. 2020.
4 O TEATRO DE GIL VICENTE
A partir de agora, estamos entre o final do século XIII e início do XIV, 
período em que surge o Humanismo, um movimento intelectual, filosófico 
e artístico que representava a transição do pensamento e da cultura medieval 
europeia que vai culminar no Renascimento. O Humanismo tinha como fonte a 
volta às origens do cristianismo, haja vista a corrupção que se alastrava na Igreja, 
e uma revalorização do clássico, remetendo-se às fontes greco-romanas de artes 
e concepções em geral. 
Como resultado dessas releituras, surgem conceitos racionalistas, e os 
humanistas trazem para o centro de tudo a figura humana, diferente da concepção 
adotada por toda Idade Média que era Deus como o centro de tudo. Desse modo, 
passa-se de uma visão teocêntrica para uma visão antropocêntrica da história. Os 
italianos Francesco Petrarca e Dante Aliguieri foram os principais expoentes da 
escola humanista. 
Em Portugal, o grande representante desse movimento foi Gil Vicente, 
fundador do teatro diferente dos teatros litúrgicos-religiosos que existiam até então. 
Foi nesse período também que Portugal experimentou sua expansão marítima 
tornando-se um grande e rico império, a universidade de Coimbra ganhou prestígio 
e a cidade de Lisboa passou a figurar como de grande importância.
Façamos um parêntesis antes de falarmos do teatro português, pois 
temos nessa mesma época as crônicas historiográficas como importante material 
histórico e literário que ajudaram a organizar e preservar a história do país. Dentre 
os principais cronistas, destaca-se Fernão Lopes, que é considerado o primeiro 
historiador oficial de Portugal (LOPES; SARAIVA, 1969). Além de observar os 
TÓPICO 2 | DA POESIA À PROSA MEDIEVAL RUMANDO PARA NOVOS ARES
29
costumes da corte, o cronista também tinha contato com o povo fazendo questão 
de registrar a história deste, pois “O seu interesse vai antes para a gente que se 
move e faz mover as coisas” (LOPES; SARAIVA, 1969, p. 126).
Voltando à figura selecionada para tratar desse período humanista, 
vemos nas obras de Gil Vicente personagens da mitologia greco-romana e, 
embora fosse cristão, tinha fortes críticas ao teocentrismo dogmático, além de 
combater a intolerância religiosa, defendendo os judeus. Quanto à estrutura 
de suas peças, encontram-se as peças de enredo, que apresentam início, meio e 
fim, com clímax e desfecho; e as peças de ação fragmentada, onde não se vê o 
enredo, mas sim quadros fragmentados de ações, ou seja, as cenas não possuem 
necessariamente uma ordem. 
É interessante notar que o teatro vicentino abarca “personagens típicas”, 
donde caracteriza tanto a nobreza e o clero quanto personagens populares; 
além de trazer também, “personagens alegóricas”, que representam ideias ou 
instituições. Ressalta-se a importância de conhecer as obras desse autor pelo fato 
de que a crítica a respeito das artes cênicas em Portugal a coloquem como de 
pouca fecundidade, no entanto, segundo Lopes e Saraiva:
Graças a certos elementos ideológicos e estéticos, o teatro vicentino 
também ajuda a criar, entre nós, uma inovadora atmosfera 
humanista e renascentista, que as condições históricas já referidas 
mal deixaram sobreviver à carreira do dramaturgo. Por outro lado, a 
despreconceituosa diversidade das suas fontes, estruturas e tonalidades 
comunica esse tão saboroso teatro uma vivacidade que, por vezes, o 
torna extraordinariamente moderno (LOPES; SARAIVA, 1969, p. 183).
Os principais estilos de suas obras são os Autos, nos quais ocorrem 
diálogos simples e a vida de igual modo; e as Farsas, aquelas encenações satíricas 
de gosto popular. Suas principais obras são “O auto da barca do inferno” e a 
“Farsa de Inês Pereira”, embora sua vasta produção concentre mais de 44 peças 
de teatro. Recomendamos que você leia essas duas obras na íntegra para melhor 
compreender as características trabalhadas pelo autor, mas trazemos aqui um 
breve resumo dessas.
O Auto da Barca do Inferno é uma obra alegórica, ou seja, representa uma 
ideia moralizante. As personagens entram na barca com os objetos de suas 
culpas, materializando seus apegos às coisas terrenas. Essas personagens refletem 
estereótipos da sociedade portuguesa medieval e já estão com seus destinos 
traçados, ou seja, os bons irão para o céu e os maus irão para o inferno. Há aqui 
forte influência da religiosidade do autor, embora ele também fosse um ácido 
crítico da corrupção na Igreja e a favor da reforma desta.
Já em A farsa de Inês Pereira, encontramos a história de uma moça 
provinciana rica que se casa por capricho com um escudeiro. Porém, essa união é 
de insucesso, logo, após sua viuvez ela escolhe novo marido, um rico e tolo que a 
deixa fazer o que bem quiser.
UNIDADE 1 | A LITERATURA PORTUGUESA DO PERÍODO MEDIEVAL AO CLÁSSICO
30
Como as peças citadas são demasiado longas, trazemos aqui a leitura 
na íntegra da peça, também alegórica, chamada Todo Mundo e Ninguém, cuja 
finalidade é refletir sobre a moral das pessoas não somente da época, mas quem 
sabe de momentos atuais, por que não? 
Todo o Mundo e Ninguém
Um rico mercador, chamado "Todo o Mundo" e um homem pobre cujo nome 
é "Ninguém", encontram-se e põem-se a conversar sobre o que desejam neste 
mundo. Em torno desta conversa, dois demônios (Belzebu e Dinato) tecem 
comentários espirituosos, fazem trocadilhos, procurando evidenciar temas 
ligados à verdade, à cobiça, à vaidade, à virtude e à honra dos homens. 
Representada pela primeira vez em 1532, como parte de uma peça maior, 
chamada Auto da Lusitânia (no século XVI, chama-se auto ao drama ou comédia 
teatral), a obra é de autoria do criador do teatro português, Gil Vicente. 
Entra Todo o Mundo, rico mercador, e faz que anda buscando alguma cousa 
que perdeu; e logo após, um homem, vestido como pobre. Este se chama 
Ninguém e diz:
Ninguém: Que andas tu aí buscando? 
Todo o Mundo: Mil cousas ando a buscar: delas não posso achar, porém ando 
porfiando por quão bom é porfiar. 
[Porfiando: insistindo, teimando.]
Ninguém: Como hás nome, cavaleiro? 
[O verbo haver nestes versos tem o sentido de ter].
Todo o Mundo: Eu hei nome Todo o Mundo e meu tempo todo inteiro sempre 
é buscar dinheiro e sempre nisto me fundo.
[E sempre nisto me fundo: e sempre me baseio neste princípio, nesta idéia].
Ninguém: Eu hei nome Ninguém, e busco a consciência.
Belzebu: Esta é boa experiência: Dinato, escreve isto bem. 
Dinato: Que escreverei, companheiro? 
Belzebu: Que ninguém busca consciência e todo o mundo dinheiro. 
Ninguém: E agora que buscas lá? 
Todo o Mundo: Busco honra muito grande. 
Ninguém: E eu virtude, que Deus mande que tope com ela já.
Belzebu: Outra adição nos acude: escreve logo aí, a fundo, que busca honra 
todo o mundo
e ninguém busca virtude.
[Adição: acrescentamento].
Acude: ocorre.
Ninguém: Buscas outro mor bem qu'esse? 
[A palavra mor, muito pouco empregada atualmente, é uma forma abreviada 
de maior. Poderíamos dizer, pois: buscas outro maior bem...]
Todo o Mundo: Busco mais quem me louvasse tudo quanto eu fizesse.
Ninguém: E eu quem me repreendesse em cada cousa que errasse. 
Belzebu: Escreve mais.
TÓPICO 2 | DA POESIA À PROSA MEDIEVAL RUMANDO PARA NOVOS ARES
31
Dinato: Que tens sabido? 
Belzebu: Que quer em extremo grado todo o mundo ser louvado, e ninguém 
ser repreendido.
Ninguém: Buscas mais, amigo meu? 
Todo o Mundo: Busco a vida a quem ma dê. 
[Ma: me+a. Contração dos pronomes pessoais oblíquos, objeto indireto e 
direto, respectivamente].
Ninguém: A vida não sei que é, a morte conheço eu.
Belzebu: Escreve lá outra sorte. 
Dinato: Que sorte? 
Belzebu: Muito garrida: Todo o mundo busca a vida e ninguém conhece a 
morte. 
[Garrida: engraçada].
Todo o Mundo: E mais queria o paraíso, sem mo ninguém estorvar.
[Mo: me+o. Contração do pronome

Outros materiais