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Disciplina: História do Cristianismo Aula 9: Os desafios do Cristianismo no mundo contemporâneo Apresentação Um dos elementos que propicia ao Cristianismo fazer sentido para os indivíduos, ao longo do tempo histórico é sem dúvida a capacidade de adaptar o seu discurso às demandas sociais. Logo, conforme a sociedade vai forjando para si novos desafios e elaborando conjuntos de ideias e tecnologias para vencê-los, o Cristianismo também precisa fazer o mesmo. O século XIX, em termos ideológicos e tecnológicos, representou para a humanidade um período de grandes transformações que reverberaram também sobre as Igrejas católica e protestante, lançando-as ao desafio de aprimorar as suas práticas e os seus dogmas religiosos para melhor atender às demandas dos seus fiéis, tanto na Europa quanto na América Latina. Objetivos Identificar as transformações políticas, econômicas, sociais e culturais ocorridas na Europa, durante os séculos XVIII e XIX, que influenciaram na constituição dogmática e nas práticas religiosas católicas e protestantes durante esse período; Reconhecer os desafios enfrentados pelo Catolicismo e pelo Protestantismo diante do processo de independência dos países latino-americanos para a concretização e a sobrevivência do seu espaço e das suas práticas religiosas. Pintura do século XIX: Filósofos iluministas, aristocratas e grandes pensadores, reunidos no salão de madame Geoffrin. | Fonte: Wikipedia <https://pt.wikipedia.org/wiki/Marie-Th%C3%A9r%C3%A8se_Rodet_Geoffrin#/media/File:Salon_de_Madame_Geoffrin.jpg> Iluminismo & Revolução Francesa Os novos ventos intelectuais trazidos pela mobilização iluminista representaram um marco na história do Cristianismo, à medida que estabeleceram, como um dos seus principais fundamentos políticos e ideológicos, a efetiva separação entre a Igreja e o Estado, promovendo de fato a ruptura com uma concepção política cunhada na Idade Média, de que haveria uma íntima e hierárquica relação entre os poderes temporal e espiritual. Pautando-se em um documento, já declaradamente considerado forjado pelos estudiosos do século XIX, a Doação de Constantino , a Igreja, ao longo da Idade Média, considerou que o imperador Constantino teria dado ao papado o poder sobre o território ocidental do Império Romano. Desta forma, as autoridades políticas temporais constituídas no Ocidente estariam diretamente submetidas ao papado. A Igreja, portanto, tornou-se a fonte ideológica do poder laico na Idade Média e continuou a sê-la no período moderno. Foi contra a supremacia política, social, econômica e cultural da Igreja e da nobreza, que caracterizava o Antigo Regime, que o Iluminismo se levantou, fortemente direcionado para a instalação de uma estrutura política que favorecesse diretamente a proeminência da burguesia na política moderna. Daí a defesa ardorosa, pelos filósofos iluministas, não de um pensamento necessariamente ateísta, mas sim da construção da noção de um Estado laico , no qual a burguesia pudesse alcançar o exercício do poder político, rompendo com a influência da Igreja nos assuntos estatais. A Revolução Francesa, que se estendeu entre os anos de 1789 a 1799, propiciou a derrubada da monarquia absolutista de Luis XVI e a constituição de um regime republicano na França, representando o ápice da tentativa de concretização das ideias defendidas pelos filósofos iluministas e marcando o início de um novo período histórico: a Idade Contemporânea. A consolidação de um Estado laico foi logo estabelecida pelos revoltosos que criticavam a riqueza da Igreja Católica francesa expressa na quantidade de terras e de recursos que ela administrava. Logo, uma das primeiras ações dos revoltosos, em novembro de 1789, foi a declaração de que as terras da Igreja seriam públicas e o passo seguinte, dado em 1790, foi o fechamento dos monastérios, quando foi assinada a Constituição Civil do Clero , que representou o controle efetivo do Estado sobre a Igreja francesa. O chamado período do Terror, na França, que representou o auge do poder dos jacobinos , foi muito duro para o Catolicismo francês, já que um novo calendário, onde o domingo e os dias santos foram abolidos, e muitos clérigos guilhotinados por serem considerados traidores da Revolução. 1 2 3 4 5 https://pt.wikipedia.org/wiki/Marie-Th%C3%A9r%C3%A8se_Rodet_Geoffrin#/media/File:Salon_de_Madame_Geoffrin.jpg file:///W:/2018.2/historia_do_cristianismo__GON948/aula9.html file:///W:/2018.2/historia_do_cristianismo__GON948/aula9.html file:///W:/2018.2/historia_do_cristianismo__GON948/aula9.html file:///W:/2018.2/historia_do_cristianismo__GON948/aula9.html file:///W:/2018.2/historia_do_cristianismo__GON948/aula9.html O Terceiro-Estado (comerciantes da classe-média, artesões e camponeses) carregando o Primeiro (clero católico) e o Segundo (nobres) Estados nas costas. Fonte: Wikipedia <https://pt.wikipedia.org/wiki/Revolu%C3%A7%C3%A3o_Francesa#/media/File:Troisordres.jpg> Queda da Bastilha em 14 de julho de 1789. | Fonte: Wikipedia <https://pt.wikipedia.org/wiki/Revolu%C3%A7%C3%A3o_Francesa#/media/File:Anonymous_- _Prise_de_la_Bastille.jpg> https://pt.wikipedia.org/wiki/Revolu%C3%A7%C3%A3o_Francesa#/media/File:Troisordres.jpg https://pt.wikipedia.org/wiki/Revolu%C3%A7%C3%A3o_Francesa#/media/File:Anonymous_-_Prise_de_la_Bastille.jpg Assembleia Nacional Constituinte Francesa de 1789. | Fonte: Wikipedia <https://pt.wikipedia.org/wiki/Revolu%C3%A7%C3%A3o_Francesa#/media/File:133_album_dauphin%C3%A Joseph_Mounier_pr%C3%A9sident_%C3%A0_l%27assembl%C3%A9e_nationale,_5_et_6_oct_1789,_by_AD_cr Caricatura sobre a Constituição Civil do Clero - determinava a secularização dos bens da Igreja e a extinção dos votos religiosos. | Fonte: Wikipedia <https://pt.wikipedia.org/wiki/Constitui%C3%A7%C3%A3o_Civil_do_Clero#/media/File:D%C3%A9cret_de_l% A Execução de Luiz XVI da França, após tentativa de fuga do país. | Fonte: Wikipedia <https://pt.wikipedia.org/wiki/Execu%C3%A7%C3%A3o_de_Lu%C3%ADs_XVI#/media/File:Hinrichtung_Ludw Para entender melhor o Iluminismo e a Revolução Francesa, assista ao vídeo a seguir, que foi produzido pela TED ed. Ele sintetiza esse período em uma animação bem didática: O que causou a revolução francesa? - Tom Mullaney | Fonte: TED-Ed - Acione as legendas em português no ícone da barra do player do vídeo. https://www.youtube.com/embed/gAPGW1s_TWo A ascensão de Napoleão Bonaparte ao poder francês propiciou um momento de resgate de uma aliança entre a Igreja Católica e o Estado francês, firmada por meio da Concordata de 1801, com a qual Napoleão reconhecia o Catolicismo como a religião da maioria do povo francês, mas não lhe garantia o status de religião oficial. https://pt.wikipedia.org/wiki/Revolu%C3%A7%C3%A3o_Francesa#/media/File:133_album_dauphin%C3%A9,_Jean-Joseph_Mounier_pr%C3%A9sident_%C3%A0_l%27assembl%C3%A9e_nationale,_5_et_6_oct_1789,_by_AD_cropped.jpg https://pt.wikipedia.org/wiki/Constitui%C3%A7%C3%A3o_Civil_do_Clero#/media/File:D%C3%A9cret_de_l%27Assembl%C3%A9e_nationale_supprimant_les_ordres_religieux.jpg https://pt.wikipedia.org/wiki/Execu%C3%A7%C3%A3o_de_Lu%C3%ADs_XVI#/media/File:Hinrichtung_Ludwig_des_XVI.png As propriedades tomadas da Igreja não seriam devolvidas, mas o papa teria a garantia de consagrar os bispos escolhidos. Em 1802, foram estabelecidas novas decisões na Concordata, onde acordou-se que as bulas papais só teriam valor na França com a aprovação do Estado e os sínodos papais também só poderiam se reunir mediante autorização estatal. Desta forma, como você pode perceber, a autoridade religiosa papal na França fora parcialmente resgatada. A Concordata regeu as relações entre a Igreja e o Estado francês até 1905. A derrota de Napoleão, em 1814, levou as lideranças políticas europeias a organizarem o Congresso de Viena , tendo como objetivo reorganizar as fronteiras dos países europeus, alteradas pelas conquistas napoleônicas, e deter a expansão de novos movimentos revolucionários. Diante disso, Metternich, chanceler da Áustria, considerouestratégica a união entre o papado e os monarcas e príncipes ocidentais, o que não reviveu o antigo papel político da Igreja Católica no Ocidente, mas sem dúvida consolidou a sua aliança com os novos Estados formados após a Revolução Francesa. Alegoria da Concordata de 1801. Pierre Joseph Célestin François, 1802. | Fonte: Wikipedia <https://en.wikipedia.org/wiki/Pierre_Joseph_C%C3%A9lestin_Fran%C3%A7ois#/media/File:All%C3%A9gori Detalhe do quadro Coroação do imperador Napoleão e da imperatriz Josefina na Catedral de Notre-Dame de Paris, a 2 de dezembro de 1804. Jacques-Louis David, 1805-1807. | Fonte: Wikipedia <https://pt.wikipedia.org/wiki/A_Coroa%C3%A7%C3%A3o_de_Napole%C3%A3o#/media/File:Jacques- Louis_David,_The_Coronation_of_Napoleon.jpg> 6 7 8 file:///W:/2018.2/historia_do_cristianismo__GON948/aula9.html file:///W:/2018.2/historia_do_cristianismo__GON948/aula9.html file:///W:/2018.2/historia_do_cristianismo__GON948/aula9.html https://en.wikipedia.org/wiki/Pierre_Joseph_C%C3%A9lestin_Fran%C3%A7ois#/media/File:All%C3%A9gorie_du_Concordat_de_1801.jpg https://pt.wikipedia.org/wiki/A_Coroa%C3%A7%C3%A3o_de_Napole%C3%A3o#/media/File:Jacques-Louis_David,_The_Coronation_of_Napoleon.jpg Mapa da expansão territorial Napoleônica. Retirada de Napoleão de Moscou. | Fonte: Wikipedia <https://it.wikipedia.org/wiki/Campagna_di_Russia#/media/File:Napoleons_retreat_from_moscow.jpg> Mapa da reorganização das fronteiras no Congresso de Viena. Saiba mais Antes de continuar, assista o vídeo History vs. Napoleon Bonaparte <https://www.youtube.com/watch? v=8aq_gRfmjgY> por Alex Gendler, produzido pela TED Ed, e saiba mais sobre Napoleão Bonaparte. https://it.wikipedia.org/wiki/Campagna_di_Russia#/media/File:Napoleons_retreat_from_moscow.jpg https://www.youtube.com/watch?v=8aq_gRfmjgY Romantismo & Idealismo Além das alterações políticas, a sociedade europeia também viu nascer duas tendências no âmbito das ideias e da arte: o Romantismo e a filosofia idealista. Romantismo O Romantismo, em uma tendência contrária ao Racionalismo e ao Iluminismo, expressou-se principalmente na arte a fim de resgatar o nacionalismo anteriormente derrubado pelo governo napoleônico. Duas características do Romantismo são relevantes para que você entenda a sua importância para o Cristianismo, tanto o católico quanto o protestante: 1 A valorização dos sentimentos humanos; 2 A valorização da trajetória de cada indivíduo. O Romantismo tratou de forma idealizada o passado dos povos, valorizando os símbolos e os ritos tradicionais da sociedade ocidental, dentre eles os religiosos. Idealismo O Idealismo reforçou o individualismo, defendendo basicamente a noção de que o mundo, ou seja, a realidade, só existe a partir da observação do sujeito que dá a ela um sentido. Logo, o Idealismo defendeu a existência de um alto grau de subjetividade na compreensão da realidade e consolidou a ideia de individualidade no exercício da fé cristã. Atenção Por consequência, as igrejas católica e protestante tiveram que adaptar seus ideais religiosos às novas demandas da sociedade ocidental, que se relacionavam com o avanço do cientificismo, do misticismo e do conservadorismo. Em termos de ocupação do espaço religioso, uma das estratégias da Igreja Católica para construir um novo papel nesta sociedade ocidental em constante mutação foi: A restauração da Companhia de Jesus, que havia sido dissolvida, em 1773, pelo papa Clemente XIV (1704-1774), mas não mais para interferir nas questões políticas e sim para dedicar-se exclusivamente à educação e à obra missionária. A aceitação, pelo papado, da casa luterana de Hanover como governante legal da Inglaterra, da Escócia e da Irlanda. Com isso, inaugurou-se no território inglês uma política de mais abertura para o papado que viu as antigas leis penais contra eles serem abandonadas. Por meio do Ato de Emancipação Católica (1829), os católicos passaram a ter novamente um espaço político na Inglaterra restaurando o seu direito ao voto e o de ocupar cargos públicos. Papa Pio IX | Fonte: Wikipedia <https://pt.wikipedia.org/wiki/Papa_Pio_IX#/media/File:Popepiusix.jpg> Papa Pio IX (1846-1878) Apesar do crescente empenho da Igreja Católica em aliar-se às novas forças políticas europeias, em termos de resposta às novas demandas sociais, a Igreja optou, no primado de Pio IX, por reforçar os seus dogmas. 1854 Reforçou a Doutrina da Imaculada Concepção de Maria, segundo a qual Maria teria sido concebida sem a mácula do pecado original; 1864 Por meio do Sumário de Erros, condenou: o Idealismo, por considerá-lo panteísta ; o princípio da tolerância religiosa; a separação entre a Igreja e o Estado; as escolas seculares ; o casamento civil; a crítica bíblica e o socialismo. 1870 A Igreja reforça a autoridade papal como sendo a única legítima em termos dogmáticos de fé e de moral, definido no Concílio Vaticano I Papa Pio IX | Fonte: Wikipedia <https://pt.wikipedia.org/wiki/Papa_Pio_IX#/media/File:Popepiusix.jpg> 9 10 11 https://pt.wikipedia.org/wiki/Papa_Pio_IX#/media/File:Popepiusix.jpg file:///W:/2018.2/historia_do_cristianismo__GON948/aula9.html file:///W:/2018.2/historia_do_cristianismo__GON948/aula9.html file:///W:/2018.2/historia_do_cristianismo__GON948/aula9.html https://pt.wikipedia.org/wiki/Papa_Pio_IX#/media/File:Popepiusix.jpg Papa Leão XIII (1878-1903) A morte do papa Pio IX, levou o jesuíta Leão XIII ao pontificado, acirrando ainda mais o conflito entre a Igreja e os Estados europeus. 1885 Publicou a encíclica Immortale Dei , lançando-se frontalmente contra o processo de unificação alemã liderado por Bismarck (1815-1898). Crítica ao socialismo e ao comunismo que se tornava cada vez mais popular entre os trabalhadores europeus no contexto do século XIX, graças à implantação de formas exploratórias de trabalho geradas pela Revolução Industrial iniciada no século XVIII. 1891 Promulgou a encíclica Rerum Novarum , como uma nova tentativa de condenar o socialismo (declaradamente ateu), e ao mesmo tempo, de aproximar-se das camadas mais baixas da população. 1881 Para aproximar-se da população e demonstrar a importância de uma espiritualidade com dimensões individuais, mas com práticas coletivas, a Igreja: reforçou a organização dos congressos eucarísticos; enfatizou o culto mariano e a devoção ao sagrado coração de Jesus; promoveu a tradução dos textos litúrgicos para as línguas nacionais por intermédio dos beneditinos. O Catolicismo na América Como vimos anteriormente, o Catolicismo latino-americano foi baseado na noção de união entre a Igreja e o Estado, sendo o trabalho missionário a base da evangelização, principalmente entre os indígenas e os negros escravos. A catequização traduzia-se em um trabalho em muito marcado pela formalidade, como o que ocorreu com os negros africanos no Brasil. Eles não receberam, por parte da Igreja, nenhuma tentativa para amenizar o seu estado de escravidão e do seu sofrimento, usaram o sincretismo religioso como uma forma de manter as suas expressões religiosas originais e não serem perseguidos ou punidos pelas autoridades eclesiásticas. Constituiu-se na América Latina uma espécie de “catolicismo popular” que se contrapunha em suas práticas e em seus ritos ao “catolicismo patriarcal”, exercido pelos clérigos. Desta forma, a Igreja auxiliou as monarquias ibéricas a constituir uma configuração política, econômica, social e cultural altamente díspar. A ruptura política com a metrópole causou transtornos para a Igreja latino-americana, pois foi cortado o envio de sacerdotes para a região, desabastecendo de mestres as escolas coloniais que, ao contrário das existentes no território brasileiro, eram muitas. As colônias latino-americanas, influenciadas pelas ideias liberais, teceram amplas lutas pela sua independência política da Espanha que se concentraram em sua maior parte na década de 1820. Comentário Um dos mecanismos colonizadores utilizados pela coroa espanhola fora justamente a formação de escolas e universidadesnas colônias para a formação da elite local, geralmente empregada nos serviços burocráticos e administrativos governamentais, exemplo não seguido pela coroa portuguesa. 12 13 14 file:///W:/2018.2/historia_do_cristianismo__GON948/aula9.html file:///W:/2018.2/historia_do_cristianismo__GON948/aula9.html file:///W:/2018.2/historia_do_cristianismo__GON948/aula9.html O período que se estende de 1850 a 1929 foi marcado pela tentativa das nações latino-americanas de formularem as bases do seu poder político, a partir dos ideais liberais. O Catolicismo não fora considerado como a religião oficial destes recém-fundados Estados, no entanto, havia entre eles e Roma um acordo firmado quanto à importância que a Igreja Católica neles alcançaria. Na maioria dos países foi permitida à Igreja manter as suas propriedades e autonomia sobre os assuntos religiosos. A relação entre a Igreja e os Estados foi marcada por altos e baixos, variando conforme as relações políticas internas de cada país. Essa aliança não impediu a expansão das forças protestantes na região, já que elas pareciam muito atrativas à oligarquia liberal e nem impediu que surgisse certo espírito anticlerical, pois muitos clérigos lutaram ao lado das forças da coroa nas lutas pela independência. O fato de o papado, na figura de Pio VII e Leão XIII, ter lançado uma condenação ao movimento revolucionário latino-americano, com medo de perder o apoio dos seus aliados europeus, trouxe grandes perdas para o Catolicismo na região, cujos governos lutaram pelo padroado. Papa Gregório XVI | Fonte: Wikipedia <https://pt.wikipedia.org/wiki/Papa_Greg%C3%B3rio_XVI#/media/File:Gregory_XVI.jpg> Papa Gregório XVI (1831-1846) Foi somente com o papa Gregório XVI (1831-1846) que a hierarquia católica foi resgatada na América Latina, sendo os bispos eleitos por Roma que não delegou aos governos locais o padroado. https://pt.wikipedia.org/wiki/Papa_Greg%C3%B3rio_XVI#/media/File:Gregory_XVI.jpg Fonte: Shutterstock Brasil O temor da propagação das ideias iluministas em Portugal levou os monarcas a estabelecerem um governo ilustrado que, para deter os perigos de uma revolução baseada no Iluminismo, procuravam adotar alguns dos seus princípios que não colocassem em risco a monarquia. Como parte dessa política, o Marquês de Pombal (1699-1782) foi escolhido como primeiro ministro e um dos seus atos mais marcantes foi promover a expulsão dos jesuítas do Brasil, retirando o domínio que possuíam sobre a educação brasileira, com o projeto de construir escolas laicas na região, o que não ocorreu. Logo, a expulsão dos jesuítas na prática representou um atraso na educação brasileira, já altamente precária. Marques de Pompal | Fonte: Wikipedia <https://pt.wikipedia.org/wiki/Sebasti%C3%A3o_Jos%C3%A9_de_Carvalho_e_Melo#/media/File:Retrato_do_ A chegada da corte portuguesa ao Brasil (1808) fugida da ameaça napoleônica fez com que a América Latina mergulhasse em um novo panorama político. https://pt.wikipedia.org/wiki/Sebasti%C3%A3o_Jos%C3%A9_de_Carvalho_e_Melo#/media/File:Retrato_do_Marques_de_Pombal.jpg Obra "A Chegada de Dom João VI à Bahia", de Candido Portinari, 1952 | Fonte: Projeto Portinari <http://www.portinari.org.br/#/acervo/obra/2404/detalhes> A chegada da Corte portuguesa ao Brasil preservou a relação entre o Catolicismo e o Estado, que se manteve mesmo após a independência feita por D. Pedro I, em 1822. Ao tornar-se um Império, o Brasil manteve o padroado, e o Catolicismo foi considerado como a religião oficial, conforme previsto na primeira constituição brasileira outorgada em 1824. A relação entre o Império e a Igreja transcorreu sem grandes percalços, até que irrompesse a questão religiosa, na década de 1870. A seguir veremos quais foram esses desafios. Maçonaria A questão religiosa teve início a partir de um conflito entre a Igreja e a Maçonaria tornando-se um grave assunto de Estado. A Maçonaria espalhou-se pelo Brasil ao longo do século XVIII e teve um papel decisivo no processo de independência, atraindo tanto os laicos interessados nas ideias liberais quanto um bom número de clérigos regulares e seculares. Independência ou Morte, do pintor paraibano Pedro Américo (óleo sobre tela, 1888). | Fonte: Wikipedia <https://pt.wikipedia.org/wiki/Independ%C3%AAncia_do_Brasil#/media/File:Independence_of_Brazil_1888.jp O papa Pio IX em uma tentativa de combater as ideias liberais e as práticas consideradas místicas, lançou uma proibição sobre a Maçonaria estabelecendo que nenhum católico poderia associar-se às lojas maçônicas. No entanto, a tradição maçônica era muito forte na elite brasileira e inclusive imperador era maçon, desta forma, ele mesmo seria excomungado. Então, utilizando o direito do padroado, D. Pedro II não permitiu que a bula papal fosse cumprida no Brasil, o que lhe valeu a oposição dos bispos de Olinda e de Belém que resolveram excomungar os párocos maçons http://www.portinari.org.br/#/acervo/obra/2404/detalhes https://pt.wikipedia.org/wiki/Independ%C3%AAncia_do_Brasil#/media/File:Independence_of_Brazil_1888.jpg Considerando esta decisão como um desrespeito ao poder imperial, D. Pedro II condenou os bispos desobedientes à reclusão e à prestação de trabalhos forçados o que, como você pode imaginar, gerou uma forte oposição dos clérigos ao imperador que, nesse momento, já tinha a sua base de poder um tanto avariada. Atenção Tradicionalmente a historiografia entende que as questões religiosa, abolicionista e militar foram acontecimentos fundamentais para o enfraquecimento da monarquia e a ascensão da república brasileira. Positivismo Além da Maçonaria, a Igreja Católica via-se diante do desafio de conter a influência do Positivismo no Brasil. A filosofia positivista, que teve em Auguste Comte (1798-1857) uma das suas principais expressões, entendia que as sociedades, ao longo do tempo histórico, passariam por etapas evolutivas que se estenderiam desde o pensamento mítico até racional, alcançada por meio do conhecimento científico. Conforme as sociedades evoluíssem elas atingiriam a ordem e a racionalidade plena. O Positivismo foi muito difundido no Brasil principalmente entre os militares que se consideravam responsáveis pela manutenção da ordem política e social brasileira Comentário Foi a influência do Positivismo que legou à bandeira brasileira republicana o lema que ela guarda até hoje: “Ordem e Progresso”. Como você já percebeu, o Positivismo, com o seu ideal de racionalidade, foi visto como uma ameaça à dogmática católica, e junto com a Maçonaria tornou-se amplamente popular entre a camada média urbana, segmento sobre o qual a Igreja vinha perdendo grande parte da sua influência. A tradição religiosa católica estava muito consolidada nos campos, mas fazia cada vez menos sentido nas cidades que, com ares de modernidade e uma população eclética sentia-se cada vez mais atraída pelas ideias racionais professadas pela Maçonaria e pelo Positivismo. Abolição da escravatura A abolição da escravatura, em 1888, também representou para a Igreja um novo desafio. Em primeiro lugar, a Igreja viu-se diante do impasse de prover a exploração das suas terras que, em sua maioria, era feita por meio do uso da mão de obra escrava. Em segundo lugar, fazia-se integrar os negros no rebanho cristão, já que anteriormente eles eram entendidos como “escravos despossuídos de alma”, passando a ser encarados como fieis em potencial pelo clero e estimulando: as práticas sincréticas com as religiões africanas, promovendo a interação entre os santos católicos e as divindades africanas; a formação das confrarias, a fim de contribuir para a criação de uma rede de solidariedade, permitindo aos seus membros conseguir o apoio necessário para sobreviver em um contexto pós-abolicionista. Além de ter que responder aos desafios trazidos pela expansão da Maçonaria e do Positivismo, o Catolicismo teve que lidar também com a presença protestante na América Latina. Fora as tentativas primárias de implantação do Protestantismo no períodocolonial, as tendências protestantes se espalharam pelo Brasil, principalmente nos centros urbanos, a partir do século XIX, em grande parte por pressão inglesa e norte-americana e por um sentimento anticlerical. Comentário As relações entre a Inglaterra e Portugal foram muito sólidas durante o Império. Foi com a escolta dos navios ingleses que D. João VI e sua corte vieram para o Brasil, em 1808, após romperem o bloqueio continental estabelecido por Napoleão. Os protestantes A chegada da corte ao Brasil trouxe para as terras tropicais uma significativa comunidade inglesa que assessorava de perto o governo joanino e professava o anglicanismo. 1822-1831 Primeiro Reinado Liberdade religiosa no Brasil Os protestantes poderiam manter o seu culto livremente, mas não suas reuniões, essas deveriam se dar em casas, não podendo as suas igrejas terem a aparência de templos religiosos. 1908 Conferência de missões em Edinburgo Foram definidos os primeiros esforços missionários protestantes com o objetivo de expandir a evangelização pelo mundo, entretanto, não se considerou inicialmente enviar expedições para a América Latina, já entendida como cristianizada graças a forte presença do Catolicismo. 1916 Primeiro Congresso Protestante Panamericano Tinha um caráter ecumênico e como resultado constituiu o Comitê de Colaboração na América Latina (CCLA) para direcionar as ações missionárias na região. A ênfase deste Protestantismo inicial encontrava-se na doutrina correta e em uma religiosidade individual. As denominações protestantes que iniciaram a evangelização no Brasil, no século XIX, foram: anglicanos luteranos congregacionais presbiterianos 15 file:///W:/2018.2/historia_do_cristianismo__GON948/aula9.html metodistas batistas menonitas adventistas Comentário Os anglicanos, os luteranos e os menonitas concentraram seus esforços missionários na população imigrante. Exemplo: Uma grande comunidade alemã formou-se no Sul do Brasil e na cidade de Nova Friburgo, no Rio de Janeiro, onde instalaram igrejas luteranas, mais para garantir a vida religiosa dos imigrantes do que para evangelizar a população local. Já os demais grupos protestantes se empenharam na evangelização da população autóctone, buscando aproximar- se das suas referências culturais e da sua língua. Os embates com o Catolicismo foram muito frequentes. A Igreja Católica temia que o Protestantismo se alastrasse pelo Brasil graças à imigração, amplamente estimulada pelo governo brasileiro que buscava promover a substituição da mão de obra escrava. Apesar do apoio que alguns políticos liberais deram ao Protestantismo, este, graças aos conflitos constantes, ganhou um caráter fortemente anticatólico. Assim, as comunidades protestantes em geral formavam grupos fechados que se autoprotegiam, mas não perdiam o seu potencial evangelizador à medida que investiam na alfabetização dos seus membros por meio da leitura da Bíblia. Devidamente alfabetizados, os protestantes demonstravam-se preparados para defender a sua fé diante dos seus opositores e fizeram da venda de Bíblias uma das suas principais atividades evangelizadoras. Guerra Civil Americana. Litografia manuscrita, 1861. | Fonte: Shutterstock A guerra civil norte-americana (1861-1865) promoveu um grande deslocamento de protestantes para o Brasil, o que despertou o incômodo das autoridades eclesiásticas. Apesar de não terem sido perseguidas pelo governo, as comunidades protestantes não conseguiam de fato crescer muito em função da proibição legal que tinham, no século XIX, de praticar o proselitismo . Para expandir os seus princípios religiosos, então, os missionários empenharam-se em evangelizar os índios, em praticar o serviço de capelania para os marinheiros e a distribuição de Bíblias por intermédio da Sociedade Bíblica Americana. Uma série de missionários empenhou-se na evangelização das terras brasileiras, mas muito da história das suas atuações ainda não foi escrito, sabendo-se somente aquilo que circula na tradição dos grupos protestantes. Saiba mais Para saber mais sobre esse quadro missionário, leia o texto Missões brasileiras <galeria/aula9/docs/Missões_Brasileiras.pdf> . Nele selecionamos três figuras consideradas emblemáticas para as missões brasileiras. Atividade 1. Depois do estabelecimento do Império no Brasil (1827), o padroado foi transferido para Dom Pedro I. Em 1889, no final da monarquia, havia apenas 700 sacerdotes e 12 dioceses para uma população de 14 milhões. Só depois da Igreja e do estado terem sido efetivamente separados, Roma começou a nomear bispos para o Brasil sem prévia consulta ao governo. Em ambos os períodos a Igreja teve suas bases nas classes dominantes e apresentou uma ideologia conservadora. (CAIRNS, 1995. p. 344) A partir da citação acima e com base na aula, identifique o elemento central da relação, por vezes problemática, entre o Estado imperial brasileiro e a Igreja Católica. 2. Três histórias prepararam o cenário para a forma e o desenvolvimento do protestantismo brasileiro: Kalley e os congregacionais; Simonton e os presbiterianos; Bagby e os batistas. (Cairns, 1995. p. 368) A partir da citação acima, identifique os mecanismos por meio dos quais os batistas expandiram suas igrejas pelo território brasileiro. 3. É possível afirmar que uma das consequências do florescimento da filosofia idealista no século XIX foi: a) Valorização da fé b) Negação da razão c) Valorização da subjetividade d) Negação da subjetividade e) Valorização do catolicismo 16 file:///W:/2018.2/historia_do_cristianismo__GON948/aula9.html file:///W:/2018.2/historia_do_cristianismo__GON948/galeria/aula9/docs/Miss%C3%B5es_Brasileiras.pdf 4. O movimento romântico, com grande penetração nas artes durante o século XIX, tanto na Europa quando nas Américas, teve, como um de seus principais procedimentos, a seguinte atitude em relação ao passado histórico: a) negação b) idealização c) desinteresse d) aprovação e) desaprovação 5 .Uma das principais estratégias utilizadas pelas correntes protestantes para a sua implantação no Brasil, durante o século XIX, foram: a) As encenações de caráter bíblico. b) Os debates públicos. c) As exposições de objetos sacros. d) As viagens missionárias. e) Os batismos infantis. Notas Doação de Constantino Apesar de as conjunturas políticas medievais terem sido variadas de acordo com os jogos de poder estabelecidos localmente, o que na maioria das vezes não garantia que houvesse de fato um respeito ao princípio da autoridade religiosa sobre o corpo político, o princípio político ideológico da supremacia do poder espiritual sobre o temporal fazia parte da forma como os medievais pensavam a sua estrutura de poder. Inclusive, o projeto de teocracia papal inaugurado com a Reforma Gregoriana inspirou os monarcas medievais em sua busca pela centralidade de poder, iniciada a partir do século XII. Estado laico Significa que a nação não apoia nem descrimina nenhuma religião. É imparcial em temas religiosos. Terras e de recursos Adquiridos não só pelas doações dos fieis, mas também pelas pensões recebidas do poder monárquico. Constituição Civil do Clero Transformou os clérigos em funcionários públicos, assim como você já viu acontecer no contexto inglês anglicano. A Igreja francesa possuía 83 províncias e para cada uma delas só foi permitida a existência de um bispo. O diferencial francês é que os bispos seriam eleitos pelo povo, como também o eram os políticos, sendo depois apresentados ao papado. Os bispos receberiam do Estado um pagamento pelo seu trabalho religioso. Desta forma, retirava-se completamente do papado o controle sobre a escolha da sua própria hierarquia, restando a ele somente a interferência nos assuntos dogmáticos. O corpo clerical, então, tornou-se completamente submetido ao Estado, sendo leais a ele. Jacobinos 1 2 3 4 5 Um dos grupos políticos composto por elementos da camada popular que liderou a Revolução Francesa, caracterizado por uma postura política maisradical e marcadamente republicana. Assumiram o governo francês em uma das fases revolucionárias, conhecida como o período do Terror (1793-1794), que se caracterizou pela perseguição aos inimigos da Revolução, condenando- os à morte em tribunais populares. Também foram responsáveis pela garantia de algumas das principais conquistas revolucionárias, como a abolição dos direitos feudais, a instituição do voto universal e do direito de greve e a fundação de escolas públicas. Bulas papais É um documento decretado pelo Papa, referente as temáticas de fé, privilégios, doutrinas e governamentais. Sínodos papais Reunião convocada pela autoridade eclesiástica. Congresso de Viena Após a vitória sobre as tropas napoleônicas, os líderes das principais nações da Europa, como a Áustria, a Prússia e a Rússia se reuniram em uma conferência, na cidade de Viena, entre setembro de 1814 e junho de 1815. Panteísta Crença de que Deus não é uma pessoa e sim que Deus é tudo e todos, ou seja, Universo e Deus são idênticos e único. Escolas seculares Sem inspiração religiosa. Reforça a autoridade papal A política de reforço da autoridade papal adotada pela Igreja Romana trouxe mais problemas do que soluções, principalmente no momento em que lutas políticas atravessavam a Itália e a Alemanha na constituição dos seus Estados Nacionais. A Igreja terminou indispondo-se com o governo da monarquia constitucional nacional da Itália que havia proposto ao papado que recebesse uma quantia substancial do governo em troca das terras que havia perdido, além da garantia de autogoverno no Vaticano, sem nenhuma intervenção do Estado. Essa proposta, contudo, foi rejeitada pela Igreja que proibiu os católicos de participarem das eleições, acirrando o conflito com as autoridades italianas e promovendo o autoexílio do papa no Vaticano. A situação entre a Igreja Romana e as forças de governo italianas só terminou em 1929, no governo de Mussolini. Immortale Dei Defendia a noção de que o Estado e a Igreja foram criados por Deus e cada um tem uma função específica, logo, quando o Estado não reconhecia a autoridade da Igreja, e consequentemente de Deus, e buscava controlar a Igreja, falhava gravemente. Rerum Novarum Propunha a formação de sociedades de assistência que pudessem dirigir as práticas caritativas, mas reconhecendo não só a existência da propriedade privada como um direito natural e legítimo, como também a legitimidade da divisão da sociedade em classes sociais. Tal reconhecimento não implicava necessariamente em aceitar a exploração da massa trabalhadora, já que a Igreja reconhecia o direito dos trabalhadores de filiar-se aos sindicatos. Sincretismo religioso Fusão de diferentes doutrinas religiosas, com a conservação de características da religião original. 6 7 8 9 10 11 12 13 14 Como exemplo podemos citar a Umbanda, resultado de uma associação dos Orixás com os Santos Católicos. Bloqueio continental Os países que comercializassem com a Inglaterra, uma das únicas nações europeias a resistir ao controle napoleônico, seriam invadidos pelas tropas napoleônicas. Proselitismo Tentar converter uma pessoa para uma nova religião, doutrina, ideologia. Referências CAIRNS, Earl. O cristianismo através dos séculos. Uma história da Igreja Cristã. São Paulo: Vida Nova, 1995. COSTA, E. V. Da monarquia à república. São Paulo: UNESP, 1998. HOLANDA, Sérgio Buarque de; FAUSTO, Boris (orgs.), História geral da civilização brasileira. 11 v. 17. ed. Rio de Janeiro: Bertrand do Brasil, [s./d.]. JOHNSON, P. História do cristianismo. Rio de Janeiro: Imago, 2001. JONATHAN, Hill. História do cristianismo. São Paulo: Rosari, 2016. Próximos Passos Pentecostalismo e Neopetencostalismo; Teologia da Libertação; O Cristianismo e os desafios contemporâneos. Explore mais Assista aos vídeos indicados para conhecer um pouco mais sobre a Revolução Francesa, um dos acontecimentos mais importantes da história e que marca o início da Idade Contemporânea, e que influenciou ideologicamente a constituição dos Estados europeus e latino-americanos, assim como do Cristianismo que neles se desenvolveu. HISTORY Channel. História da Revolução Francesa (Parte 1) <https://www.youtube.com/watch? v=IVfsFeYKM-s> História da Revolução Francesa (Parte 2) <https://www.youtube.com/watch?v=ba_puXAqhC8> 15 16 https://www.youtube.com/watch?v=IVfsFeYKM-s https://www.youtube.com/watch?v=ba_puXAqhC8
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