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Artigo - (Hélio) - A noção de cidadania em sociedades de alto capitalismo

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A construção da idéia de cidadania em sociedades de alto capitalismo
The construction of the idea of ​​citizenship in societies of high capitalism
Hélio de Lena Júnior�
Resumo: O presente ensaio tem como objetivo analisar a ideia de cidadania em sociedades de alto capitalismo. Para tanto nos utilizamos do conceito clássico de cidadania, em chave analítica apresentada por T. H. Marshall; entretanto, ampliamos este escopo com as análises propostas por Barrington Moore Jr. Se compreendemos que a questão da cidadania está entrelaçada com a ideia de consolidação do capitalismo, somente podemos pensar esta relação se observarmos, mais atentamente, as imbricações entre estas duas categorias. Ademais, devemos notar, também, que qualquer que seja a proposição feita deverá receber a crítica. Neste sentindo, acreditamos que o materialismo histórico nos apresenta a chave analítica que supera a naturalização dos processos sociopolíticos. Assim posto, utilizamos das interpretações de Karl Marx e Friedrich Engels, encontradas no Manifesto do Partido Comunista; e nas análises mais contemporâneas de Ellen Wood. Deste modo, ao estabelecermos a crítica, pretendemos observar que, qualquer que seja a forma de cidadania proposta, ela acontece, na contemporaneidade, nos quadros do capitalismo e da luta de classes; ou seja, sem rompimento da ordem. Nossa proposição básica é compreender como, nos limites do capitalismo e, especificamente, no alto capitalismo, a ideia de cidadania é construída.
Palavras-chave: cidadania, capitalismo, liberalismo, burguesia.
Abstract:
Keywords:
Sumário: Introdução; 1. Primeira aproximação: a cidadania em chave clássica; 2. A interpelação de Barrington Moore Jr; Conclusão; Referências bibliográficas.
Introdução
A contemporânea construção da cidadania somente pode ser pensada pelo prisma das revoluções liberais que sacudiram a Europa desde o século XVII. Deste modo, somente podemos pensar a cidadania por dois ângulos, de um lado pelas nascentes características burguesas, e, por outro, pela adoção do capitalismo. Em uma chave clássica, as revoluções burguesas foram aquelas capazes de aliar a idéia de democracia ao capitalismo.
Neste ensaio pretendemos compreender como, nos primeiros momentos das revoluções burguesas, a idéia de cidadania foi construída por uma classe social, a saber, a burguesia, em detrimento dos demais segmentos sociais.
A perspectiva é retomar algumas discussões clássicas acerca das revoluções liberais, tais como aquelas apresentadas por Barrington Moore Jr. e cotejá-las com as idéias propostas por Ellen Wood.
Mesmo que o pano de fundo deste debate seja a idéia de modernização de sociedades agrárias, podemos ampliar o leque interpretativo para incorporarmos, dentre outras noções, a clássica noção de cidadania. E isto se explica, não por um arrojo interpretativo, muito pelo contrário; mas, pelas movimentações das classes sociais em situações limítrofes de mudança de paradigmas político ou econômico.
Como o objetivo de ampliar o leque interpretativo devemos incluir a noção de cidadania regulada ou tutelada, dependendo da chave interpretativa para compreendermos como, na sociedade produtora de mercadorias, as classe sociais se comportam em relação ao tema.
Assim posto, é neste cenário que este ensaio se insere. Discutir, mesmo que preliminarmente, a noção de cidadania em sociedade de capitalismo originário e compreender como as classes sociais em sociedade produtoras de mercadorias se comportam.
1. Primeira aproximação: a cidadania em chave clássica
Em seu texto, “O demos versus ‘nós, o povo’: Das antigas às modernas concepções de cidadania”, Ellen Wood se propõe a investigar, assim como certa vez anunciou John Locke, a transformação do súdito em cidadão. Em sua narrativa sobre as concepções de cidadania, das antigas às modernas, Wood remontou ao gregos a origem do vocábulo. Todavia, em sua dissertação “o antigo conceito de democracia surgiu de uma experiência histórica que conferiu status civil único às classes subordinadas”.�
A experiência grega balizou as primeiras noções de cidadania e as vinculou com a temática da pólis, foi apenas nas sociedades modernas que o tema da cidadania ganhou destaque na elevação daquele status civil as camadas subalternas. Este realce somente pode ser compreendido na chave apresentada pelo capitalismo e da ascensão da burguesia. Marx e Engels – na narrativa histórica de constituição do capitalismo, principalmente aquela encontrada no “Manifesto do Partido Comunista”� – submeteram a crítica à história das sociedades humanas, analisando basicamente as contradições existentes nas relações econômicas.
Mesmo que estas fossem demasiadamente abstratas, sua preocupação correspondia a uma contradição estabelecida por Karl Marx – no prefácio da “Contribuição à crítica da economia política” – entre as forças produtivas e as relações de produção nos modos de produção.
Em relação às forças produtivas, Marx abrangeu os meios de produção e a força de trabalho. O desenvolvimento das forças produtivas compreendia, portanto, fenômenos históricos como o desenvolvimento da maquinaria e outras modificações do processo de trabalho, a descoberta e exploração de novas fontes de energia e a educação do proletariado.
No que concerne às relações de produção, estas são constituídas pela propriedade econômica das forças produtivas. No capitalismo, a mais fundamental dessas relações é, ainda, a propriedade que a burguesia tem dos meios de produção, ao passo que o proletariado possui apenas a sua força de trabalho.
De uma maneira mais geral, foi esta contradição que explica a existência da história como uma sucessão de modos de produção, já que levou ao colapso necessário de um modo de produção e à sua substituição por outro. Em suma, Marx explicou assim,
na produção social da sua existência, os homens estabelecem relações determinadas, necessárias, independentes da sua vontade, relações de produção, que correspondem a um determinado grau de desenvolvimento das suas forças produtivas materiais. O conjunto destas relações de produção constitui a estrutura econômica da sociedade, a base concreta sobre a qual se eleva uma superestrutura jurídica e política e a qual correspondem determinadas formas de consciência social.�
Deste modo, segundo Marx e Engels, “a história de toda a sociedade até hoje tem sido a história de lutas de classes”.�
Em uma constante disputa hegemônica as classes sociais distintas estariam “em constante oposição, têm vivido numa guerra ininterrupta, ora franca, ora disfarçada; uma guerra que terminou sempre, ou por uma transformação revolucionária, da sociedade inteira, ou pela destruição das duas classes em luta”.� 
O interesse maior de Marx e Engels estava na análise da história moderna européia a partir do advento do capitalismo e do surgimento da burguesia como classe organizada.
Para ambos, “a moderna sociedade burguesa, surgida das ruínas da sociedade feudal, não eliminou os antagonismos entre as classes. Apenas estabeleceu novas classes, novas condições de opressão, novas formas de luta em lugar das antigas.”� Todavia,
a nossa época, a época da burguesia, caracteriza-se, entretanto, por ter simplificado os antagonismos de classe. A sociedade inteira vai-se cada vez mais em dois grandes campos inimigos, em duas grandes classes diretamente opostas entre si: a burguesia e o proletariado.�
O advento do capitalismo e o surgimento da burguesia estavam ligados diretamente a um conjunto de fatores, como, por exemplo, a expansão e consolidação de um novo modo de produção que substituiria o feudal em decomposição; onde
a descoberta da América, a circunavegação da África, abriram à burguesia um novo campo de ação à burguesia nascente. Os mercados das Índias Orientais e da China, a colonização da América, o intercâmbio com as colônias, o aumento dos meios de troca e das mercadorias em geral deram ao comércio, à navegação, à indústria, um impulso jamais conhecido antes, em conseqüência, favoreceramo rápido desenvolvimento do elemento revolucionário na sociedade feudal em decomposição.�
Este processo de substituição continuada levaria a contradição – forças produtivas e relações de produção – existente entre a velha ordem feudal e a nova ordem capitalista à primeira ao desaparecimento completo.
Onde quer que tenha chegado ao poder, a burguesia destruiu todas as relações feudais, patriarcais e idílicas. Dilacerou impiedosamente os variegados laços feudais que ligavam o ser humano a seus superiores naturais, e não deixou subsistir entre homem e outro vínculo que não o interesse nu e cru, o insensível ‘pagamento em dinheiro’.�
E esta contradição se aprofundaria a cada época histórica, fosse na substituição da velha e carcomida ordem social, fosse para as técnicas produtivas. Mas, um dos maiores adventos desta transformação, seria à ampliação do mercado para níveis mundiais. Segundo Marx e Engels, “a grande indústria criou o mercado mundial preparado pela descoberta da América. O mercado mundial acelerou prodigiosamente o desenvolvimento do comércio, da navegação e dos meios de comunicação por terra”.�
Em síntese, “a própria burguesia moderna é o produto de um longo processo de desenvolvimento, de uma série de revoluções no modo de produção e de troca”.�
Mas sabiam, também, que “toda luta de classes é uma luta política”.� E que os objetivos da burguesia somente se resolveriam com a mudança completa da ordem política, onde “cada etapa da evolução percorrida, pela burguesia era acompanhada de um progresso político correspondente”.� De forma que, “a burguesia desempenhou na História um papel eminentemente revolucionário”.�
Este papel revolucionário desempenhado pela burguesia européia residia em sua enorme capacidade de ser adaptar as novas condições, para Marx e Engels, “a burguesia só pode existir com a condição de revolucionar incessantemente os instrumentos de produção, por conseguinte, as relações de produção e, como isso, todas as relações sociais”.�
Para esta capacidade revolucionária, que Marx e Engels imputariam a burguesia, seria basicamente um processo histórico que poderíamos denominar de “revolução por baixo”. Estas seriam representadas por um conjunto de manifestações históricas ocorridas entre os séculos XVII e XVIII, na Inglaterra (1640), Estados Unidos da América (1776) e França (1789)�, na qual as burguesias destruíram suas aristocracias.
Nesta chave, compreende-se a convocatória de Ellen Wood para os dois grandes marcos do capitalismo liberal, a saber, a Carta Magna e 1688. No que se refere a primeira,
não foi um documento de um demos livre, mas dos próprios senhores que a afirmaram privilégios feudais e a liberdade da aristocracia tanto contra a Coroa quanto a multidão popular, assim como a liberdade de 16888 representou o privilegio dos senhores proprietários de dispor como quisessem de sua propriedade e de seus servos.�
Em relação a segunda, a Revolução Gloriosa de 1688 marcou,de forma indelével, o papel político que a burguesia desempenharia nos anos subseqüentes. Consubstanciada pelo rompimento da ordem feudal na Inglaterra, as proposições burguesas aliaram aquilo que Barrington Moore Jr. chamou de “via democrática” ou a denominada de “revolução democrática burguesa”, que segundo o autor, “aliou o capitalismo à democracia parlamentar”.�
2. A interpelação de Barrington Moore Jr.
Para a interpretação desta via democrática Barrington Moore Jr. levantou três pontos que olhamos com mais atenção. Em um primeiro momento, o supracitado autor ressaltou que: “(1) controlar governantes arbitrários; (2) substituir leis arbitrárias por leis justas e racionais e (3) conseguir que a população participe na elaboração das leis”,� pareceria ser uma constante nas construções democráticas ocidentais. Observamos estas assertivas e identificamos que o autor falava das sociedades européias ocidentais – onde os paradigmas inglês e francês – são referenciais clássicos para a construção desta via.
Neste momento, Barrington Moore identificou um ponto comum as duas sociedades; o desejo de controlar governantes arbitrários – parece ser uma característica comum destes dois paradigmas. Seja pela via parlamentar, seja pela via da insurreição burguesa-popular; as burguesias nacionais estavam interessadas no controle efetivo do poder.
Especificamente, para o caso inglês, a solução política negociada foi à constituição de uma monarquia parlamentarista; pela qual a composição se deu através da adoção do bicameralismo (câmara dos lordes e dos comuns) que limitou não só poderes reais, mas deu poderes a um primeiro-ministro que salvaguardaria os anseios burgueses. Já o caso francês – posterior aos acontecimentos inglês e estadunidense – a solução caminhou da monarquia parlamentar, em um primeiro momento, para posteriormente atingir a construção de uma via republicana.
Em um segundo momento, adota-se uma prática de “substituir leis arbitrárias por leis justas e racionais”. Este foi o cerne do constitucionalismo apregoado pelos filósofos iluministas. Substituiu-se o velho direito consuetudinário – herdado do feudalismo – para uma forma mais avançada de direito e de Estado: o direito e o Estado Civil, baseado agora em um contratualismo; onde o ser humano se socializaria plenamente através de um pacto que instauraria as regras e instituições da ordem política.
No último caso, e não menos importante, é conseguir que a população participe na elaboração das leis; este seria o ponto mais delicado e mais difícil de identificação. Nas sociedades modernas que baseariam sua atuação política pela idéia-força de um contratualismo, a noção de participação política dos cidadãos de uma determinada nação ocorreria pela via eleitoral – direta ou representativa. Entretanto, a organização e efetivação dos poderes políticos cidadãos, se daria a partir de grupos representativos, que chamamos de facções políticas ou em um estágio mais avançado de organização, partidos políticos.
Falamos, deste modo, basicamente das sociedades européias ocidentais.
A idéia apresentada por Barrington Moore, nos parece ser uma leitura direta do papel histórico da burguesia descrito no Manifesto do Partido Comunista. Seria responsabilidade da burguesia – em especial da burguesia russa – desempenhar seu papel e cumprir sua missão histórica, revolucionando a política e assumindo o poder. Que segundo Marx e Engels: “onde quer que tenha chegado ao poder, a burguesia destruiu todas as relações feudais, patriarcais e idílicas”.�
A partir deste ponto, identificados as ditas formas clássicas de organização e constituição da via democrática nos países europeus; situamos nossas análises naquilo que Barrington Moore denominou de cinco pontos para o desenvolvimento democrático.
O primeiro ponto apresentado por Barrington Moore Jr. foi: “o desenvolvimento de um equilíbrio para evitar uma coroa demasiado forte ou uma aristocracia proprietária demasiado independente”.� Assim posto, no quadro das revoluções liberais o controle destes dois segmentos, para Ellen Wood representou,
a doutrina de uma supremacia parlamentar viria a operar contra o poder popular quando a nação política já não se restringia a uma comunidade relativamente pequena de proprietários e quando se ampliou a idéia de “povo” para incluir a “multidão popular”�
Obviamente, para Wood, foi acrescido, ainda, o controle aos setores subalternos. Pela interpretação da supracitada autora, apenas com a ampliação da comunidade política os setores hegemonizados foram incorporados. Todavia, não pode-se haver inclusões acerca desta incorporação, muito pelo contrário, se o parlamento passou a ser o mediador entre povo e poder, a idéia de soberania estava ainda distante das camadas populares. Ademais, acrescenta-se, ao longo do tempo, uma verticalização do poder parlamentar , na figura máxima do primeiro-ministro.
Em relação ao segundo item – ”o movimento no sentido de uma forma adequada de agricultura comercial” – a estrutura fundiária, na Inglaterra, estava assumindoa forma mercadoria. Para Wood, “o poder econômico já não estava preso ao status jurídico, político ou militar, e a riqueza cada vez mais do ‘aperfeiçoamento’ da propriedade, ou de seu uso produtivo sujeito aos imperativos de um mercado competitivo”.�
Neste sentido, superado o fisiocratismo inerente as idéias de um período de transição, chega-se ao terceiro item:“o enfraquecimento da aristocracia proprietária“.Para a análise do segundo e do terceiro ponto, acreditamos que eles se confundem e podem ser analisados em uma única esfera. E neste sentido, coube a burguesia cumprir seu papel histórico, rompendo definitivamente os laços feudais – que ainda persistiam no meio rural – e desenvolver as relações capitalistas no campo. Então, superou-se fase pré-capitalista e adentrou-se na fase capitalista de produção.
Em relação ao quarto item, “o impedimento da coligação aristocrática-burguesa contra os camponeses e operários”. 
O quinto, e último item, “uma ruptura revolucionária com o passado”, Moore Jr. e Wood são categóricos em relação a esta abordagem. Não há construção de uma cidadania contemporânea sem o rompimento com o passado. No caso inglês isto fica mais patente pela adoção de novas formas jurídicas e políticas, superada a fase feudal de desenvolvimento e adotada a forma capitalista de organização, uma nova estrutura social se fazia necessária para contemplar os novos tempos. No caso estadunidense e francês, respectivamente, a forma iluminista-republicana concedeu aos burgueses as vantagens liberais que o caso inglês não havia considerado.
Assim posto, podemos compreender que na formação do Estado moderno, em chave ampliada, principalmente na questão dos direitos civis, as classes sociais se comportariam de forma diferente. Enquanto a burguesia foi aparelhando o Estado, as classes subalternas foram sendo excluídas lentamente do processo político, ficando restritas a uma margem muito estreita de atuação. 
È perfeitamente compreensível o jogo burguês para o aparelhamento do Estado. Mais compreensível ainda foram as restrições impostas as camadas subalternas. Explicamos: No primeiro caso, o caso burguês, a necessidade de ocupar os postos de mando, orientar as políticas estatais e garantir seus “direitos” mais fundamentais realçava, de forma indelével, as contradições da sociedade produtora de mercadorias, bem como da luta de classes. A burguesia, ao contrário das classes subalternas, compreendeu primeiro a natureza das disputas. Para tanto, dominar os modos de produção era dominar a produção das idéias. Ou seja, organizar a ideologia a favor de seus propósitos.
Em relação às camadas subalternas, empurradas pelo jogo econômico, e distantes da plena consciência de sua classe, que aparecia difusamente na forma de melhores condições de vida ou de melhores salários, foram sendo empurradas lentamente à uma perigosa zona de silêncio. Não um silêncio voluntário ou espontâneo, muito pelo contrário; um silêncio imposto, dominador, impositivo que limitava, de sobremaneira, as ações destas camadas.
Para tanto, somente é possível compreender estas disputas se convocarmos aqui a clássica, e não superada, idéia da luta de classes. Na qual, na sociedade produtora de mercadorias assumiu a configuração da disputa hegemônica entre burgueses e proletários. Os primeiros, detentores dos meios de produção, impuseram aos segundos, vendedores da sua força de trabalho, suas veleidades.
Conclusão
Nesta chave, podemos compreender que a natureza da cidadania que surgirá, nos tempos modernos, pode ser compreendida pela idéia de tutela ou da assistência. Explicamos: no que diz respeito à cidadania tutelada ele se manifestou o tipo de cidadania que a burguesia (a camada econômica e política) cultivou ou suportou, a saber, aquela que se tem por dádiva ou concessão de cima. Em relação a cidadania assistida, expressa na forma mais amena de pobreza política, porque já permite a elaboração de um embrião da noção de direito, que é o direito à assistência, integrante de toda democracia.
Na cidadania tutelada, por conta da reprodução da pobreza política das maiorias, não ocorre suficiente consciência crítica e competência política para sacudir a tutela. A camada domintante apela pelo clientelismo e o paternalismo principalmente, com o objetivo de manter a população atrelada a seus projetos políticos e econômicos O resultado mais típico da cidadania tutelada, que, na prática, é sua negação/repressão, é a reprodução indefinida da mesma elite histórica.
Em relação à cidadania assistida ao preferir assistência à emancipação, labora também na reprodução da pobreza política, à medida que, mantendo intocado o sistema produtivo e passando ao largo das relações de mercado, não se compromete com a necessária equalização de oportunidades O atrelamento da população a um sistema sempre fajuto de benefícios estatais é seu engodo principal, maquiando a marginalização social e não se confrontando com ela.
Seja como for, as duas estão interligadas, com o objetivo de manter os privilégios burgueses de classe, adquiridos durante a disputa hegemônica, tutelar ou assistir são faces da mesma moeda que nega a emancipação humana e política dos indivíduos. Deste modo, somente podemos pensar numa cidadania que rompa os limites da assistência e da tutela se suscitar a plena emancipação dos sujeitos.
Para concluirmos, segundo as palavras de Pedro Demo,“Cidadania é a competência humana de fazer-se sujeito para fazer história própria e coletivamente organizada”.�
Referências Bibliográficas:
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� Hélio de Lena Júnior é Doutor em Ciências Sócias com ênfase em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade pelo CPDA – UFRuralRJ, professor dos cursos de Serviço Social e Direito do Centro Universitário de Volta Redonda (UniFOA) e pesquisador do Laboratório de Estudos Marxistas (LEMA - UFRJ).
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