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COMUNICAÇÃO INTERNA Nanci Maziero Trevisan Estratégias de comunicação interna Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Conceituar estratégia no âmbito organizacional. Definir as estratégias que o profissional de relações públicas deve utilizar nas organizações. Aplicar o uso das estratégias em projetos. Introdução Neste capítulo, você vai compreender que a gestão adequada da comuni- cação interna é fundamental para o alcance dos objetivos organizacionais. Também verá quais as estratégias de relações públicas que podem ser usadas nas organizações com a finalidade de obter melhores resultados, comunicação fluida e transparente e melhor desempenho organizacional. Estratégia e comunicação estratégica Estratégia é uma palavra de origem grega que signifi ca plano, método ou estratagemas utilizados para alcançar um objetivo ou resultado específi co. No caso da comunicação, trata-se dos planos ou métodos aplicados em busca dos bons resultados em comunicação, que podem se relacionar a aspectos institucionais (como imagem de marca e reputação), mercadológicos (como audiência, percepção de marca, lembrança do produto) ou podem ainda estar ligados à comunicação interna. O planejamento estratégico de comunicação sempre estará conectado ao planejamento estratégico organizacional, o que equivale a dizer que as atividades de comunicação devem, necessariamente, contribuir para o alcance dos objetivos organizacionais ou institucionais. Nesse sentido, o planejamento estratégico diz respeito aos planos e métodos empregados para que a organização alcance os seus objetivos. Dessa forma, os ob- jetivos de comunicação estão alinhados aos objetivos corporativos, tendo-os como base, ao mesmo tempo em que contribuem para os resultados. O mesmo ocorre com os planejamentos estratégicos de cada área, como comunicação institucional, mercadológica ou interna. A Figura 1 mostra as relações entre os planejamentos estratégicos da organização como um todo e os específicos da comunicação. Figura 1. O planejamento estratégico de uma organização. A Figura 1 descreve a relação dos planejamentos estratégicos, objetivos e metas como um grande dominó corporativo, em que as áreas estão inter- -relacionadas. Assim, o resultado de uma contribui para o resultado da outra. Não é possível pensar no planejamento estratégico de comunicação interna sem compreender o contexto maior, da organização como um todo, e não é possível planejar a comunicação interna sem compreender o seu papel no resultado. Comunicação organizacional estratégica O conceito de comunicação como estratégia organizacional é recente. As primeiras ideias nesse sentido datam do início do século XX. Bueno (2009) destaca que a comunicação não se realiza às margens da organização, mas está profundamente conectada com o próprio sistema de gestão organizacional. Estratégias de comunicação interna2 Consequentemente, é um refl exo desse sistema de gestão e da importância que as lideranças atribuem à comunicação organizacional, seja ela externa ou interna. Bueno (2009, p. 54) observa: Para que a comunicação empresarial seja assumida como estratégica, será, pois, necessário que essa condição lhe seja favorecida pela gestão, pela cul- tura e mesmo pela alocação adequada de recursos (humanos, tecnológicos e financeiros), sem os quais ela não se realiza. O autor ressalta que apenas a intenção não concretiza planos de comunicação eficazes, capazes de contribuir para a reputação organizacional, o relacionamento e engajamento dos públicos de interesse e o melhor desempenho organizacional possível, tornando a empresa competitiva mundialmente. Além disso, o caráter estratégico da comunicação, embora também esteja associado aos profissionais de comunicação, vai além destes, envolvendo outras variáveis que estão fora do controle dos setores e desses profissionais: conceito de estratégia, ethos organiza- cional brasileiro e condições básicas para que a comunicação estratégica prevaleça. O conceito de estratégia está relacionado ao conceito de planejamento que a organização adota (ethos organizacional). Assim, entendemos esse conceito como forma de definir e aplicar recursos com o intuito de atingir objetivos previamente estabelecidos. Essa perspectiva é defendida por Bueno (2009), que lista quatro teorias sobre estratégia, como você pode ver no Quadro 1. Teoria clássica Teoria evolucionista Teoria mais difundida e presente na literatura, assume uma perspectiva essencialmente racional, voltada para a maximização do lucro, e tem respaldo na tese de que um planeja- mento bem realizado permite a pre- visão de resultados em longo prazo. Admite, portanto, a estabilidade do mercado e do ambiente externo, de maneira geral, o que justifica a sua pretensão de exercer controle sobre os resultados. Teoria inspirada na evolução darwiniana (no que se refere às ideias de seleção natural e adaptação ao meio como garantia de sobrevivência). Difere da teoria clássica porque aposta na impre- visibilidade do mercado e no sucesso das empresas mais fortes. Concentra-se particularmente na redução de custos, buscando torná-los menos vulneráveis ao ambiente em constante mudança. Prima pelo controle interno, já que o am- biente externo não pode ser controlado. Quadro 1. Teorias contemporâneas sobre estratégias (Continua) 3Estratégias de comunicação interna A partir das quatro teorias explicitadas, você pode perceber que a comuni- cação somente será estratégica se for alinhada com a visão que a organização tem sobre as suas próprias estratégias de atuação no mercado, assim como com a sua visão acerca das lideranças e do seu papel. A comunicação empresarial, então, está prioritariamente incluída nas estratégias empresariais como parte intrínseca do planejamento em longo prazo da atuação da empresa. Além disso, está intrinsecamente associada ao desempenho organizacional e à sua maior ou menor capacidade de executar esse planejamento, em prol do alcance dos resultados previamente definidos. A comunicação empresarial estratégica, sob esse ponto de vista, tem papel fundamental tanto na busca por eficácia na interação com os públicos de interesse (chamados de stakeholders) como no desenvolvimento de planos e ações que contribuam para que a organização construa vantagem competitiva frente aos seus concorrentes, posicionando-se melhor junto aos seus públicos. A comunicação empresarial é, portanto, “[...] um instrumento de inteligência que contribui para moldar empresas líderes” (BUENO, 2009, p. 57). Nesse contexto, pode-se falar de administração estratégica da comu- nicação como um conjunto amplo e diversificado de processos, cenários, produtos comunicacionais, ações, ferramentas e atividades que permitem à organização agir de maneira proativa em direção ao alcance dos resultados Fonte: Adaptado de Bueno (2009). Teoria processualista Teoria sistêmica Não aceita a racionalidade do plane- jamento de longo prazo, mas não vê a empresa como refém do mercado (ambiente externo). Estabelece como alternativa a interação competente dos executivos com o mundo dos ne- gócios e julga que os resultados são obtidos de forma lenta e gradual, por meio de experimentação e apren- dizado contínuos. Aposta, portanto, que a estratégia consiste na conso- lidação em longo prazo das compe- tências internas das organizações. É a teoria mais relativista e menos dogmática das quatro. Assume que a estratégia depende do mercado, mas também das condições sociais e da cultura das organizações. Admite que o planejamento é possível e necessário, mas que precisa levar em consideração fatores internos e externos às organi- zações e, de alguma forma, prevê os conflitos (que podem ser superados) entre as esferas global e local. Quadro 1. Teorias contemporâneas sobre estratégias (Continuação) Estratégias de comunicação interna4 esperados, não apenas em comunicação (que podee deve ser medida de forma adequada), mas também corporativamente. Bueno (2009) acredita que esse conceito de comunicação estratégica está mais alinhado com a teoria sistêmica de estratégia, na medida em que leva em conta as condições socioambientais, a cultura e os múltiplos fatores que podem afetar a organização. Defende também que, nesse contexto, a comunicação empresarial é planejada, executada e avaliada nas suas esferas operacional e estratégica. São avaliados os seguintes aspectos: macroambiente social, ambiental, tecnológico, legal, econômico e político; diagnóstico comunicacional a partir de uma auditoria sistemática de comunicação interna e externa, em que se avaliam os aspectos fortes e fracos, o que se faz bem ou não; os melhores procedimentos a serem adotados para a avaliação sistemá- tica e acurada da comunicação. A comunicação empresarial estratégica não se concretiza se o ambiente (ethos) também não for propício. Nesse contexto, as estratégias de comunicação interna estão alinhadas com as demais estratégias, incluindo as de recursos humanos e gestão de pessoas, sustentabilidade, responsabilidade social e ambiental, e aos processos e procedimentos internos. Quando pensamos a comunicação interna sob essa perspectiva, ela ganha corpo e importância nas atividades de relações públicas. Ethos organizacional: a empresa pensa que os colaboradores são essenciais para o seu resultado? A comunicação empresarial (ou organizacional) estratégica somente se concretiza em um ambiente propício, em determinadas culturas organizacionais e em sistemas de gestão que já tenham introjetado o conceito de administração estratégica. Isso é o oposto do que ocorre normalmente nas empresas brasileiras, uma vez que muitas delas ainda têm um sistema de gestão altamente familiar e centralizador. Quando a empresa não vê os funcionários como recurso essencial e es- tratégico, e sim como itens de fácil reposição, quando a empresa não entende que a comunicação com os funcionários deve ser um espaço de diálogo, e não o “manda quem pode”, as consequências dessas visões são as seguintes: ausência ou incipiência da cultura de planejamento estratégico de longo prazo — as empresas estão ocupadíssimas com o apagar de incêndios 5Estratégias de comunicação interna cotidianos e não têm tempo para a necessária análise de cenário, diag- nóstico e planejamento; ausência, inadequação ou incipiência de recursos humanos e financeiros — por não considerarem a comunicação como estratégica, e por não terem uma visão de planejamento estratégico, muitas empresas veem a comunicação como gasto que, consequentemente, afeta os resultados operacionais e a lucratividade, e não como investimento necessário à melhoria do desempenho organizacional. O cenário das áreas de comunicação, em geral, e de comunicação interna, em particular, é composto por alguns itens, como você pode observar a seguir. Equipes enxutas: especialmente hoje, com as mídias sociais, é preciso compreender que o relacionamento se dá entre pessoas, mesmo que mediado por tecnologia. O crescimento da inteligência artificial e os robots são importantes para algumas interações, mas insuficientes para a construção de relacionamento com os públicos de interesse. Foco na execução: a demanda de trabalho é tanta e tão diversa que a equipe fica focada na execução das tarefas cotidianas, já sobrecarregada de trabalho por ser enxuta, e não consegue o afastamento necessário ao diagnóstico e ao planejamento. Falta tempo para o planejamento estratégico: exatamente por es- tarem focadas em problemas e situações corriqueiros, as equipes de comunicação não conseguem tempo para o planejamento, o que acaba exigindo a contratação de uma consultoria. Não se avaliam as ações: a medição de resultados em comunicação tem como premissas a definição adequada de objetivos mensuráveis e a mensuração sistemática dos resultados ao longo e ao final do processo. Quer por estarem focadas nos problemas cotidianos, quer por falta de investimento em recursos tecnológicos e humanos, as organizações mensuram pouco as ações que vão sendo realizadas, o que dificulta o diagnóstico. Especialmente na comunicação interna ainda estão em jogo os egos de lideranças que se sentem melindradas, caso as suas habilidades de comunicação sejam questionadas. Concentração da comunicação: grandes corporações construídas a partir de aquisições e fusões representam o cenário de praticamente todos os segmentos de mercado, do varejo aos conglomerados de meios de comunicação, passando pelas próprias agências de propaganda e de relações públicas. Esse cenário tem como resultado a incorporação Estratégias de comunicação interna6 da produção de conteúdo e a sua distribuição, seja on-line ou off-line, entre poucos grupos comunicacionais. Transformação da área de comunicação: a base da comunicação, da construção de relacionamento e do engajamento é a personalização dos contatos. Sob esse aspecto, as tecnologias digitais, a inteligência artifi- cial, cookies, bots, algoritmos permitem uma personalização em larga escala como nunca foi possível, mas a inteligência e o toque humano por trás de tudo isso ainda são fundamentais, já que, como afirma Bueno (2009), as formas de relacionamento dependem de contextos sociais e culturais específicos, de modo que a sociedade em rede apresenta novas necessidades e formas de compartilhar cultura e conteúdo. A comunicação empresarial verdadeiramente estratégica, conclui o autor, deve se alinhar com a importância crescente dos ativos intangíveis (marca, reputação, imagem, rede de relacionamentos) e ser proativa na era do acesso à informação e da gestão do conhecimento. A comunicação interna precisa ter a sua importância consolidada em prol da valorização da diversidade humana, abrindo espaço para a pluralidade de ideias, vivências e opiniões (BUENO, 2009). Comunicação interna: estratégias possíveis Para que a comunicação seja vista como estratégica, é necessário que as lideranças organizacionais assim a enxerguem. Pimenta (2010) ressalta que, primeiramente, as lideranças devem reconhecer o papel estratégico da comunicação no próprio exercício da liderança organizacional. Para ser líder, complementa a autora, é preciso ter a capacidade de agregar as pessoas em torno de objetivos e propósitos, conduzindo-as nessa direção, lidando com emoções e confl itos e destacando valores e desempenhos excelentes, tanto coletivos quanto individuais. Para isso, as lideranças devem ter o domínio da comunicação pessoal e mediada por tecnologia. Sabendo disso, por que algumas lideranças ainda ignoram as técnicas de comunicação interna no seu cotidiano? Pimenta (2010) relaciona alguns motivos para isso: não acreditam na relação entre comunicação e sucesso; consideram que o investimento em comunicação não produz retorno quantificável; 7Estratégias de comunicação interna subestimam a abrangência da comunicação, considerando-a como habilidade técnica (circunscrita, parcial, individual e particular), e não como atividade estratégica, em que ela teria um alcance geral, coletivo, agregador, organizador e direcionador; as lideranças evitam conflitos e preferem, muitas vezes, uma situação mais cômoda. O paradoxo é que a comunicação planejada, implementada e conduzida de forma estratégica contribui para tudo aquilo que é desejo e responsabili- dade de uma liderança de qualidade: apoia a construção e a disseminação da missão e visão organizacional, bem como dos valores essenciais; e apoia o gerenciamento de mudanças, divisão de poder e manutenção da credibilidade, integridade e motivação internos. As estratégias de comunicação interna podem ser desenvolvidas com quatro finalidades. Cultura organizacional: construir, manter ou transformar a cultura organizacional. Recursos humanos: capacitar, treinar e manter as lideranças e os funcionários com acesso à informação. Compliance: melhorar o fluxo de informações, tendo em vista a exe- cução de processos e procedimentos com qualidade e excelência. Gestão de crise: preparar as lideranças e os funcionários para situações críticas que possam ocorrer. Cultura organizacional é o conjunto de crenças, valores e pressupostos que definem como uma organização conduz os seus negócios e as suas relações com todos os mem- bros que pertencem ao seu microambiente, assim como as relações que estabelece com o macroambiente e os seus públicos de interesse. A cultura organizacional está imbricada no sistema que fundamenta a organização e a diferencia de outras, incluindo o clima organizacional, e representa a dinâmica interna e em relação à sociedade. Representa ainda a forma de perceber, pensar, sentir e agir dos funcionários, que é passada adiante e validada por todos. Estratégias de comunicação interna8 Estratégias relacionadas à cultura organizacional Missão, visão e valores organizacionais são a síntese da cultura de uma organização. As estratégias de comunicação interna associadas à cultura organizacional têm a função de disseminar esses aspectos básicos da cultura para todos os funcionários, alinhando as atividades e o discurso de cada um a partir das mensagens preferenciais que devem ser conhecidas por todos. Os principais benefícios dessas estratégias são: a construção, manutenção ou transformação da cultura; o fortalecimento da marca internamente, junto aos funcionários; o aumento da produtividade; a melhora no desempenho e no engajamento. Além disso, uma cultura organizacional forte e partilhada por todos é essencial no processo de retenção de talentos, pois motiva o alinhamento entre os propósitos individuais e coletivos. Em geral, as melhores empresas para se trabalhar possuem uma cultura organizacional forte. Algumas das ações que podem ser realizadas no âmbito dessa estratégia podem ser observadas a seguir. Diagnóstico: inventário dos valores internos. Integração: processo de integração de novos colaboradores, que envolve materiais, textos, audiovisual e vivência da cultura organizacional desde o início. Lideranças: capacitação e treinamento em habilidades comunicacionais, mas, sobretudo, alinhamento de conduta sob os valores organizacionais essenciais. Comunicação: presença constante e frequente dos valores essenciais em todos os canais de comunicação. Ainda, pode-se promover a integração dos colaboradores entre si e com as áreas da empresa por meio de eventos sociais, culturais e esportivos, por exem- plo, ou ainda eventos de confraternização e cerimônias de reconhecimento. Outras ações são o desenvolvimento de lideranças não ligadas à hierarquia ou de pessoas chave que sejam embaixadores da cultura, a partir do seu dis- curso e comportamento. Vale apostar também na valorização dessas pessoas e das situações que estão de acordo com a cultura da empresa, bem como na disseminação desses casos via newsletters, palestras, canais de comunicação interna, white papers, casos. 9Estratégias de comunicação interna A atividade de gestão de pessoas tem na comunicação interna um aliado fundamental para fomentar a coesão das equipes de trabalho. Nada é pior para o clima e desem- penho organizacional do que problemas de comunicação dentro e entre as equipes. Da integração de novos colaboradores aos processos de demissão, fusão e aquisições, a comunicação interna exerce papel preponderante. A cultura organizacional é constituída da visão, missão e valores organi- zacionais, mas também de histórias, mitos internos, rituais, heróis, regras de conduta. Esses são aspectos que podem ser aproveitados pela comunicação interna como forma de fortalecimento da cultura. Conheça um pouco mais sobre cultura organizacional no infográfico Tudo o que você precisa saber sobre cultura organizacional, de Aryel Sampaio. Acesse no link a seguir. https://qrgo.page.link/4Koyv Estratégias relacionadas a recursos humanos Uma comunicação interna estratégica e excelente é aquela que garante que a mensagem correta chegará ao destinatário correto, no tempo adequado, de forma clara e objetiva, contribuindo para que as atividades sejam realizadas da melhor forma possível, e que os resultados almejados sejam alcançados. Colocando de forma mais simples, não importa a tecnologia, a comunicação efi caz é aquela que: leva a mensagem do emissor ao receptor com facilidade (fluxo); transmite com clareza o que precisa ser dito, sem interferências (conteúdo); produz os resultados esperados (impacto). Estratégias de comunicação interna10 As estratégias de comunicação interna associadas às áreas de recursos humanos e gestão de pessoas são aquelas que favorecem o fluxo de informação, dão apoio às lideranças na comunicação com os funcionários e destes para os seus líderes, que favorecem uma comunicação transparente e que permitem o diálogo e a expressão da diversidade organizacional, tanto em ideias quanto em pessoas. Uma gestão de pessoas eficaz tem como base uma comunicação interna fluida, transparente e baseada no diálogo, em que o funcionário é tratado com respeito, estimulando o senso de pertencimento e abrindo espaço para o diálogo, a interação entre as diferentes hierarquias e os setores, e o envolvimento das pessoas. Os canais de feedback também são fundamentais na comunicação interna ligada à gestão de pessoas. Transparência e continuidade são fundamentais para que o funcionário se sinta integrado aos objetivos e às metas organizacionais. A gestão de pessoas é responsável pela atração de talentos por meio de recrutamento e seleção; integração dos funcionários à cultura organizacional com ações de integração e capacitação contínua; implementação de processos internos que promovam a diversidade humana, o desenvolvimento e aprimoramento do indivíduo, cres- cimento pessoal e profissional; gestão e comunicação dos diversos benefícios de que a empresa dispõe, bem como solução de eventuais conflitos, avaliação de desempenho individual e em equipe, e organização de cargos e salários. Quando a empresa tem por princípio de gestão estratégica entender os funcionários como principal ativo de que dispõe, o investimento em comuni- cação interna tem como benefícios a redução de riscos de projetos por falta de adesão, a colaboração constante dos membros de uma equipe, a clareza e transparência na comunicação, envolvendo todos os staffs, com ideias e sugestões que favorecem a melhoria constante e a inovação. As estratégias de comunicação interna e as ações que podem ser desen- volvidas são as seguintes: diagnóstico da comunicação — identificar a qualidade, confiabilidade e adesão dos canais de comunicação que a empresa tem, avaliando-os e propondo mudanças, caso seja necessário; alinhamento da comunicação — certificar-se de que o conteúdo que está sendo comunicado (mensagem) está alinhado com as diretrizes organizacionais (missão, visão, valores e políticas de comunicação) transparência e agilidade — pelos canais como mural, quadro de avisos, intranet, veículos corporativos (jornal, revista, rádio e TV); promoção da diversidade e reconhecimento — por meio de eventos, palestras, seminários, encontros, café com o presidente, etc.; 11Estratégias de comunicação interna promoção do feedback — com reuniões individuais e coletivas, intranet, e-mail; instituição de áreas de lazer e relaxamento — favorecem a troca de informações e o bom entrosamento entre os funcionários em um clima mais descontraído; job rotation — divulgação, estímulo, registro e disseminação, pelos canais internos, da experiência vivida pelos funcionários; gestão da diversidade — por ações e com o uso da diversidade organi- zacional em imagens, ações, discussões, bandeiras defendidas dentro e fora da empresa. Acesse o link a seguir e conheça um pouco mais sobre a importância da comunicação interna no ambiente de trabalho no vídeo do TRT Goiás.Esse vídeo explica como a comunicação pode atuar como fator motivacional no ambiente de trabalho. https://qrgo.page.link/6gBey Fica claro que a comunicação interna atua em parceria com recursos hu- manos e gestão de pessoas, e não de maneira autônoma, e que qualquer ação de comunicação interna será mais eficaz e efetiva se for acompanhada de ações concretas de gestão de pessoas, na perspectiva de alinhamento entre o discurso e a prática organizacional. Compliance, ou conformidade, é uma área da gestão empresarial que consiste em um conjunto de atividades, conhecimentos e ações com o objetivo de cumprir e fazer cumprir normas legais e regulamentos específicos, bem como políticas e diretrizes estabelecidas para a área de atuação da empresa, nas instâncias legais municipais, estaduais e federais, de modo a evitar, detectar e corrigir eventuais inconformidades que possam ocorrer nos processos e procedimentos internos e externos que uma organização realiza. Estratégias de comunicação interna12 Estratégias relacionadas a compliance Muitos segmentos de mercado, organizações e setores específi cos dispõem de regulamentos, políticas, diretrizes, normas ou leis que devem seguir à risca para que a organização esteja apta a realizar as suas atividades de negócios e competir nos mercados nacional e internacional. A área de compliance tem a função de evitar, detectar e corrigir as inconformidades que possam ocorrer em processos e procedimentos, que venham a acarretar defeitos de fabrica- ção, descumprimento de normas, infração de legislação pertinente, ou que inviabilizem a atividade operacional da empresa. Para isso, a comunicação interna é essencial. Acesse o link a seguir e veja um exemplo de material audiovisual desenvolvido tendo como base as regras e os procedimentos para as atividades em um laboratório farma- cêutico. Esse é um exemplo no qual a comunicação interna apoia a área de compliance. O vídeo foi realizado pela 359Multi para a Labcor, com normas de segurança e regras de comportamento. https://qrgo.page.link/gh7RP As bases de compliance são treinamento, comunicação, auditoria e mo- nitoramento. O treinamento do funcionário envolve as diretrizes, normas e procedimentos corretos; a comunicação deve ser clara, transparente e dialó- gica com todos os níveis hierárquicos, tanto interna quanto externamente; a auditoria é o acompanhamento e a checagem de processos e procedimentos; e o monitoramento detecta situações fora de conformidade com a rapidez necessária. Eventos, comunicados, palestras e workshops técnicos, canais internos de comunicação, desenvolvimento de cartilhas, manuais e políticas de ação, programas e audiovisuais de treinamento e capacitação podem ser boas estratégias e ações de comunicação interna relacionados a compliance. A comunicação em compliance pode se tornar mais efetiva observando as seguintes questões: 13Estratégias de comunicação interna os funcionários devem perceber a importância de prestar atenção a informações de compliance; falar, divulgar, mostrar e discutir sobre ética no exercício profissional, utilizar exemplos práticos, audiovisuais, estudos de caso de forma que os funcionários se identifiquem com as situações, seja o treinamento presencial ou à distância; estímulo ao compartilhamento de experiências pode ser uma boa ferramenta; evitar textos e conteúdos excessivamente técnicos, a menos que isso seja imprescindível, procurando tornar as mensagens mais leves e divertidas; newsletters, videocase, estudos de caso, slides são conteúdos que podem ser usados pela comunicação interna para apoiar a comunicação de compliance; a gameficação de conteúdo pode ser uma opção, ou seja, transformar conteúdos mais difíceis em quizzes e jogos ou aplicativos; a produção de conteúdo normativo deve ser lúdica, objetiva, de fácil compreensão, utilizando-se de ferramentas visuais como imagens, quadros ou outras ilustrações que possam facilitar a leitura e, novamente, gerar memória. Uma crise é qualquer situação inesperada que interrompa ou impacte as atividades orga- nizacionais. Pode haver crises de causas naturais, como um furacão, ou crises decorrentes de erro humano ou falha na gestão, como queda de barreira de dejetos (como ocorreu em Brumadinho/MG), ou quando alguém tem problemas no recebimento do produto adquirido. O gerenciamento de crises é uma atividade organizacional cujo objetivo é monitorar, detectar, evitar ou lidar com situações de crise, que podem acarretar maiores ou menores prejuízos humanos, financeiros e de imagem para uma organização. Estratégias relacionadas à gestão de crise Nem todo funcionário está preparado para situações de crise, mas essa pre- paração é função da comunicação interna, em conjunto com outros setores da organização. A comunicação interna atua em três momentos distintos: Estratégias de comunicação interna14 1. antes de qualquer situação de crise, comunicando, treinando e prepa- rando os funcionários para qualquer situação crítica; 2. durante, mostrando transparência e colaboração integral na solução do problema que gerou a situação de crise; 3. posteriormente, minimizando as consequências, se for possível, e pre- parando os funcionários para que o problema não volte a ocorrer. A comunicação interna deve atuar de forma a minimizar impactos ne- gativos, melhorar a troca de informações, colaborar com a solução da crise e prevenir outros problemas. Vilvert (2019) propõe algumas dicas, que você pode ver a seguir. Não tenha medo de comunicar: informe bem os colaboradores para evitar o compartilhamento de boatos e histórias falsas. Deixe todos por dentro da situação com informações qualificadas, claras e passadas oficialmente a partir da comunicação interna. Priorize a comunicação interna: antes de divulgar qualquer nota externamente, deixe todos os colaboradores alinhados sobre os fatos. O sentimento de traição gerado no colaborador ao ver uma nota da empresa em um jornal, por exemplo, antes de o assunto ser esclarecido internamente, pode aumentar o turnover. Deixe os colaboradores cientes do seu papel no momento: durante uma crise, é preciso agir, e para tomar as atitudes certas, torna-se fun- damental o apoio da equipe mais próxima ao problema. Nesse ponto, a comunicação interna deve ser uma aliada para sensibilizar equipes, enviando mensagens para grupos específicos sobre a sua importância em determinada situação. Oriente a equipe a respeito da divulgação externa: caso a situação seja delicada e exija comunicação externa, utilize a comunicação interna para orientar os colaboradores quanto a isso, informando que, em caso de dúvidas, os colaboradores devem consultar o setor de comunicação. Abra espaço para diálogo e esclarecimento: com os comunicados oficiais, dúvidas poderão ocorrer. Esteja disponível para ajudar, orientar e responder. 15Estratégias de comunicação interna O vídeo indicado no link a seguir trata das ações que a Petrobras vem implemen- tando após a crise deflagrada pela Operação Lava Jato. Nele a empresa divulga ações anticorrupção com atividades, processos e procedimento, envolvendo a comunicação interna. https://qrgo.page.link/vov6R Desenvolvimento e aplicação de estratégias de comunicação interna O planejamento estratégico de comunicação interna é essencial para que a organização realize as atividades e ações de comunicação necessárias, de acordo com as suas necessidades, dentro de um orçamento que apoie o alcance dos objetivos propostos. Para isso, além do que foi abordado inicial- mente sobre a visão estratégica necessária à organização, é preciso que haja uma área responsável pela comunicação interna e que ela se debruce sobre o planejamento com dedicação, tempo e disponibilidade, de forma a encontrar a melhor combinação de ferramentas e ações. O primeiro passo para o planejamento de comunicação interna é a elaboração de um diagnóstico, identificando o contexto atual, as fra-gilidades e forças, as barreiras que possam existir, e a percepção geral sobre a comunicação da empresa. Em seguida, alinhados com os objetivos corporativos, definem-se a função e os objetivos de comunicação interna, para então escolher as melhores ferramentas e ações, de acordo com as necessidades e os objetivos. O plano de comunicação interna envolve a identificação de público interno (quem), a mensagem a ser enviada e a sua função (o que), a me- lhor apresentação ou formato da mensagem (como), a definição de um cronograma de ação (quando) e a identificação do emissor ou da fonte da mensagem a ser transmitida (fonte). O Quadro 2 explicita melhor esses aspectos. Estratégias de comunicação interna16 Fonte: Adaptado de Vilvert (2009). Audiência (quem?) Identifique a audiência para o projeto, incluindo: colaboradores; fornecedores; líderes; diretorias; áreas; mídia. Tipo (o quê?) Determine o tipo de mensagem de acordo com a audiência: face a face; operacional; pontual; estratégica; motivacional. Entrega (como?) Determine o canal apropriado para a mensagem chegar à pessoa certa: informal; apresentação; e-mail; newsletter; rede social. Tempo (quando?) Determine a frequência e o horário de veiculação de cada mensagem: diário; semanal; mensal; pontual. Fonte (dono?) Determine a fonte da mensagem: CEO; RH; gerentes; consultores; comunicadores. Quadro 2. Planejamento estratégico de comunicação interna No Quadro 3, você encontra um exemplo de planejamento de comunicação interna com foco na sustentabilidade. 17Estratégias de comunicação interna Fo nt e: A da pt ad o de F er re ira (2 01 5) . A ss un to A çã o de co m un ic aç ão Fe rr am en ta d e co m un ic aç ão O bj et iv os D in âm ic a D at a e du ra çã o 1. A dv en to d o m ês da su st en ta bi lid ad e M en sa ge m da d ire to ria M en sa ge m e le tr ôn ic a as sin ad a pe lo s d ire to re s An un ci ar a p ro xi m id ad e do la nç am en to d o m ês da su st en ta bi lid ad e Aç ão in te rn a D at a: 25 /0 9/ 20 13 2. A be rt ur a do m ês da su st en ta bi lid ad e D iv ul ga çã o in te rn a M en sa ge m e le tr ôn ic a Pu bl ic aç ão / im pr es sã o da c irc ul ar “A lim en ta nd o” n º 1 W al lp ap er te m át ic o Ab rir o fic ia lm en te o m ês da su st en ta bi lid ad e Aç ão in te rn a D at a: 01 /1 0/ 20 13 3. R el an ça m en to da tr ilh a da su st en ta bi lid ad e D iv ul ga çã o in te rn a M en sa ge m e le tr ôn ic a Ba nn er s D iv ul ga r a tr ilh a da su st en ta bi lid ad e e pr om ov er a ad es ão a e la p el os s er vi do re s Aç ão in te rn a D at a: 01 /1 0/ 20 13 4. D es af io d a su st en ta bi lid ad e nº 1 D iv ul ga çã o in te rn a M en sa ge m e le tr ôn ic a Ca rt az , f ol de r, ba nn er W al lp ap er te m át ic o Pr om ov er a a de sã o à pr im ei ra et ap a da tr ilh a da su st en ta bi lid ad e co m u m a gi nc an a qu e pr em ia rá o s 10 0 pr im ei ro s c ol ab or ad or es q ue fin al iz ar em e ss a et ap a do c ur so co m m ud as d e pl an ta s s uc ul en ta s Aç ão in te rn a D at a: 04 /1 0/ 20 13 D ur aç ão : 7 di as Q ua dr o 3. P la no d e co m un ic aç ão in te rn a Estratégias de comunicação interna18 A comunicação interna é essencial para o bom desempenho organizacional. Alcançar uma empresa em que a sustentabilidade seja o motor das atividades de negócios, realizados com plena responsabilidade social e ambiental, em que os funcionários comunguem do mesmo propósito da empresa e sejam proativos na realização das atividades, com foco constante em inovação, só será possível com uma comunicação interna estratégica, apoiada com os recursos humanos e financeiros necessários à sua plena realização. BUENO, W. C. Comunicação empresarial: políticas e estratégias. São Paulo: Saraiva, 2009. FERREIRA, D. Introdução: plano de comunicação (modelo). Apresentação. Slideshare.net, 2015. Disponível em: https://www.slideshare.net/DaianaFerreira5/plano-de-comunicao- -modelo. Acesso em: 11 jul. 2019. PIMENTA, M. A. Comunicação empresarial. Campinas: Alínea, 2010. VILVERT, C. Plano de comunicação interna: tudo o que você precisa saber. Blog Social Base, 2019. Disponível em: https://blog.socialbase.com.br/plano-de-comunicacao- -interna/. Acesso em: 11 jul. 2019. 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