Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Genética e Imunologia Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Profa. Dra. Aline Dal’Olio Gomes Revisão Textual: Profa. Dra. Selma Aparecida Cesarin Mecanismos da Herança • Mendelismo • Heredogramas • Codominância • Alelos Múltiplos • Interação Gênica · Identificar os mecanismos genéticos que causam ou predispõem alterações e atuam na herança de caracteres. OBJETIVO DE APRENDIZADO Mecanismos da Herança Orientações de estudo Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem aproveitado e haja uma maior aplicabilidade na sua formação acadêmica e atuação profissional, siga algumas recomendações básicas: Assim: Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e horário fixos como o seu “momento do estudo”. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo. No material de cada Unidade, há leituras indicadas. Entre elas: artigos científicos, livros, vídeos e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados. Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discussão, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e aprendizagem. Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Determine um horário fixo para estudar. Aproveite as indicações de Material Complementar. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma Não se esqueça de se alimentar e se manter hidratado. Aproveite as Conserve seu material e local de estudos sempre organizados. Procure manter contato com seus colegas e tutores para trocar ideias! Isso amplia a aprendizagem. Seja original! Nunca plagie trabalhos. UNIDADE Mecanismos da Herança Contextualização Alguém já lhe disse que você tem os olhos da sua mãe ou o nariz do seu avô? Ou, ainda, como seu irmão possui olhos azuis se você e seus pais têm olhos castanhos? Essas e outras perguntas relacionadas ao “que torna um indivíduo do jeito que ele é” foram estudadas e respondidas pela Genética. Como vimos até aqui, a Genética trata da transferência de informação biológica de célula a célula, dos pais para os filhos e, desse modo, de geração a geração. Os pesquisadores se preocuparam com as razões e os mecanismos envolvidos com essas transferências, que são a base para as diferenças e as semelhanças vistas entre os grupos de organismos. Os experimentos de Gregor Mendel com ervilhas de jardim (Pisum sativum) foram fundamentais para o entendimento de como as características são herdadas, e é o que veremos nesse capítulo. 8 9 Mendelismo A redescoberta dos estudos de Mendel somada à teoria cromossômica da herança e ao conhecimento atual do século XXI permitiram concluir que os padrões hereditários são determinados por genes presentes aos pares nos organismos, mas que se segregam durante a produção de gametas, de modo que qualquer gameta recebe apenas um ou outro gene pareado. E esse par de genes é, então, reestabelecido na prole. Vamos entender com mais detalhes como os estudos de Mendel possibilitaram essas conclusões posteriores. Gregor Mendel nasceu em 1822; aos 21 anos ingressou em um Monastério católico na antiga cidade Brunn, Áustria, e aos 25 anos foi ordenado padre. Além de suas atividades religiosas, Mendel era um grande pesquisador. Estudou na Universidade de Viena, entre 1851 e 1853, e após retornar ao Monastério iniciou seus experimentos genéticos, que o tornaram famoso. Ele sempre viveu em meio aos agricultores e conhecia bem os estudos que tentavam desvendar os segredos que envolviam a herança de certas características expressas por diferentes espécies de plantas. Daí surgiu o seu interesse em realizar diversos cruzamentos entre plantas e observar a expressão dos caracteres. Durante oito anos, Mendel realizou vários experimentos com várias espécies diferentes de plantas; entretanto, seu maior sucesso foi com as ervilhas. O sucesso com as ervilhas não foi por acaso, mas sim por apresentarem características que facilitavam o seu manuseio nas pesquisas. A ervilha de jardim, Pisum sativum, cresce facilmente em canteiros ou em vasos em estufas, possui ciclo reprodutivo relativamente curto, é uma planta diploide (possuindo apenas dois conjuntos de cromossomos) e os órgãos reprodutivos apresentam flores que realizam autofertilização; portanto, é uma planta fácil de ser cultivada e cruzada. Para iniciar seus experimentos, Mendel escolheu linhagens puras de ervilha por meio da autofertilização e teve o cuidado de escolher indivíduos que apresentavam apenas uma característica observável diferente entre si no momento de realizar os cruzamentos. Como nem sempre isso era possível, Mendel procurava observar apenas uma característica de cada vez. A seguir são apresentadas as sete principais características estudadas por Mendel nas ervilhas. 9 UNIDADE Mecanismos da Herança Figura 1 – As sete características observadas por Mendel nas ervilhas Pisum sativum Alelo: membro de um par de um gene que ocorre em um determinado local (locus) no cromossomo. Os alelos são representados pelo mesmo símbolo básico (exemplo, “B” para planta alta e “b” para planta anã). Cromossomos Homólogos B b Alelos Lócus gênico Figura 2 – Cromossomos homólogos Caráter: Característica de um indivíduo relacionada à sua estrutura, forma, substância ou função. Dominância: Condição na qual um membro de um par de alelos predomina em manifestação ao outro (exemplo, B sobre b). Hereditariedade: Transmissão de características dos genitores à prole. Heterozigoto: Organismo com membros diferentes de um determinado par de alelos (exemplo Bb). Híbrido: Uma prole de genitores homozigotos que difere em um ou mais genes. Homozigoto: Um indivíduo no qual as duas cópias de um gene são do mesmo alelo (exemplo BB ou bb). Ex pl or 10 11 Figura 3 – Exemplos de alelos homozigotos e heterozigotos Linhagens puras: São plantas que apresentam sempre as mesmas características após a autofertilização, isto é, as características não mudam ao longo das gerações. Recessividade: Quando um membro de um par de alelos não tem a habilidade de se manifestar quando o membro dominante está presente. Segregação: Separação dos cromossomos paternos e maternos um dos outros na meiose. Segregação independente: Distribuição aleatória de alelos para os gametas. 1ª Lei de Mendel: Monoibridismo Em um dos seus experimentos, Mendel cruzou plantas altas com plantas anãs, ambas puras, e observou que todos os descendentes dessa primeira geração eram altos, desaparecendo a característica baixa. As plantas cruzadas inicialmente são denominadas de parental (P) e a primeira geração, de geração F1. Mendel, então, permitiu a autofertilização dos descendentes da F1 e quando analisou a prole, agora chamada de F2, observou a presença tanto de plantas altas quanto anãs em uma proporção de 3:1 (3 plantas altas para 1 planta baixa). Mendel observou que os híbridos (F1) produzidos do primeiro cruzamento tinham a capacidade de produzir uma geração anã, embora todos fossem altos, o que permitiu deduzir que estes híbridos apresentavam um fator genético para a característica alta que dominava a expressão do fator para anã. Assim, ele denominou o fator anão como recessivo e o fator alto foi expresso como dominante, e sugeriu, também, que os fatores recessivo e dominante se separavam um do outro quando as plantas híbridas se reproduziam. Mendelobteve o mesmo resultado estudando as outras seis características das ervilhas apresentadas na Figura 1, de modo que apenas uma das duas características analisadas era expressa nos híbridos em F1 e quando os híbridos eram autofecundados produziam dois tipos de prole, cada uma semelhante a uma das plantas parentais, sempre na proporção 3:1. 11 UNIDADE Mecanismos da Herança Um segundo exemplo dos cruzamentos de Mendel pode ser observado na Figura 4. P: (parental) F1: (1ª geração) F2: (2ª geração) X Cruzamento entre ervilha verde e ervilha amarela 100% de ervilhas amarelas (auto-cruzamento) 1 ervilha verde para cada 3 amarelas Figura 4 – Exemplo representativo dos cruzamentos realizados por Mendel entre ervilhas que produziam sementes verdes e ervilhas com sementes amarelas Em conclusão, cada característica analisada por Mendel nos cruzamentos monoíbridos (experimentos em que apenas uma característica é observada) parecia ser controlada por um fator hereditário em par, hoje chamado de gene, que se apresentava sob duas formas, dominante e recessivo, chamadas de alelos. Mendel ainda sugeriu que cada uma das plantas parentais utilizadas possuía duas cópias idênticas de um gene; portanto, denominadas homozigotas. Durante a produção de gametas, essas cópias seriam separadas e na fecundação o número diploide da espécie seria restaurado no zigoto. Nesse caso, sendo os parentais homozigotos para duas características diferentes (alta e baixa ou verde e amarela), o zigoto híbrido herdaria dois alelos diferentes, um da mãe e outro do pai. Portanto, essa prole é denominada de heterozigota. Mesmo um alelo sendo dominante, o recessivo não desaparece, de modo que quando os heterozigotos são cruzados entre si há a probabilidade de dois gametas com o alelo recessivo se unirem, resultando no reaparecimento da característica recessiva. Mendel e outros pesquisadores criaram uma linguagem de termos e símbolos para facilitar a análise matemática dos cruzamentos e também permitir previsões dos resultados. Os fatores hereditários, ou seja, os genes são representados por letras, sendo a letra maiúscula representativa de um gene dominante e a letra minúscula representativa de um gene recessivo, que serve também como base para a escolha da letra denotativa do genótipo. Considerando o cruzamento entre ervilhas que produzem sementes lisas com ervilhas que produzem sementes rugosas, as ervilhas parentais utilizadas no primeiro cruzamento são homozigotas para alelos diferentes que controlam a textura da semente. A característica rugosa é recessiva; portanto, seu alelo é simbolizado pela letra r minúscula e o alelo para lisa, dominante, é simbolizado pela letra R maiúscula (Figura 5). A letra utilizada como símbolo é representativa da característica recessiva, neste caso r de rugosa. Portanto, as ervilhas com sementes rugosas e 12 13 lisas puras são representadas por rr e RR, respectivamente. A composição alélica é denominada genótipo, enquanto a característica (alta, baixa, verde, amarela, lisa, rugosa) constitui o fenótipo. No exemplo mostrado na Figura 5, as linhagens parentais puras lisa e rugosa, RR e rr, contribuem igualmente para a sua prole F1 que apresenta um genótipo Rr, ou seja, elas são heterozigotas para o alelo que controla textura da semente (possuem um gene dominante e outro recessivo). Contudo, a prole F1 possui o mesmo fenótipo que a geração parental RR, todas lisas, pois o alelo R é dominante em relação a r. Durante a meiose, os cromossomos homólogos se separam, segregando também os alelos, de modo que essas plantas de F1 produzem dois tipos de gametas em iguais proporções, R e r. A autofecundação de F1 permite que diferentes combinações ocorram entre os gametas R e r, gerando 3 tipos de genótipos: RR, rr e Rr (Figura 5 e Tabela 1). Contudo, devido à dominância, os 3 genótipos resultam em dois fenótipos apenas: lisa (RR e Rr) e rugosa (rr) (Tabela 1). Portanto, a geração F2 possui plantas com sementes lisas e rugosas em uma proporção de 3:1. rr RR r R RrRr Rr R R r r RR rrRr Rr Geração P X Gametas Geraçãpo F1 Geraçãpo F2 Quadrado de Punnet Figura 5 – Representação simbólica do cruzamento monoíbrido entre ervilhas que produzem sementes lisas e ervilhas que produzem sementes rugosas Tabela 1. Resumo dos resultados fenotípicos e genotípicos obtidos por Mendel com o cruzamento entre ervilhas que produzem sementes lisas e ervilhas que produzem sementes rugosas. Os resultados são baseados no cruzamento apresentado no quadrado de Punnet da Figura 5 Fenótipo Genótipo Proporção genotípica Proporção fenotípica Lisa RR 1 3 Rr 2 Rugosa rr 1 1 13 UNIDADE Mecanismos da Herança Importante! Para representar os cruzamentos, utiliza-se o diagrama do quadrado de Punnet, como mostrado a seguir: Importante! Em cada quadradinho na horizontal, estão os gametas masculinos. Nestes quadradinhos estão os possíveis resultados dos cruzamentos entre os diferentes gametas dos genitores. Em cada quadrinho na vertical, estão os gametas femininos. Figura 6 Mendel realizou ainda uma autofecundação da geração F2, produzindo a geração F3. Todas as plantas com sementes rugosas produziram uma prole apenas com sementes rugosas, demonstrando que esses alelos eram homozigotos (rr). Com relação às plantas com sementes lisas, 1/3 delas produziu uma prole com apenas plantas de sementes lisas, sendo também homozigotos (RR) e os outros 2/3 produziu uma prole com plantas de sementes lisas e rugosas, sendo, portanto, heterozigotos (Rr). Como podemos perceber, dois princípios básicos regem os cruzamentos monoíbridos: • O princípio da segregação: no qual, em um gene heterozigoto, os dois alelos diferentes segregam-se um do outro durante a produção de gametas, na meiose, assim como ocorre para um gene homozigoto; • O princípio da dominância: no qual, em um heterozigoto, um alelo pode suprimir a expressão do outro. 14 15 Desse modo, a primeira Lei de Mendel, também chamada de Lei da Segregação dos fatores, pode ser enunciada da seguinte forma: “Cada caráter é determinado por um par de fatores que se segregam durante a formação de gametas, assim pai e mãe transmitem apenas um gene para seus descendentes.” 2ª Lei de Mendel: Diibridismo Além do monoibridismo, Mendel analisou, também, a transmissão combinada de duas características, realizando experimentos de diibridismo. Para isso, mais uma vez Mendel iniciou os cruzamentos com linhagens puras, ou seja, homozigotas dominantes e recessivas. Ele cruzou plantas que produziam sementes amarelas e lisas com plantas que produziam sementes verdes e rugosas. O objetivo de Mendel era saber se as duas características seriam herdadas, independentemente uma da outra. Vimos nos experimentos de monoibridismo que as características amarela e lisa são dominantes em relação às características verde e rugosa, que são recessivas; portanto, o genótipo dos parentais era VVRR e vvrr, respectivamente. Após o cruzamento, a geração F1 apresentou todas as sementes amarelas e lisas, de modo que os alelos para essas características eram então dominantes, mas possuíam um genótipo heterozigoto (VvRr). Mendel realizou a autofecundação com a geração F1 e obteve uma geração F2 com todas as possíveis classes fenotípicas: sementes amarelas e lisas, amarelas e rugosas e sementes verdes e rugosas e verdes e lisas, em uma proporção de 9:3:3:1, respectivamente. Esses resultados permitiram concluir que cada característica era controlada por um gene diferente segregando dois alelos e os genes eram herdados independentemente. A Figura 7 mostra a representação simbólica do cruzamento feito por Mendel e as respectivas proporções fenotípicas e genotípicas. Sabemos que uma planta diploide produz gametas haploides, ou seja, com apenas uma cópia de cada gene. Sendo assim, as plantas VVRR produzem gametas com apenas uma cópia do gene para cor da semente (alelo V) e uma cópia do gene para textura da semente(alelo R). O mesmo ocorre para as plantas vvrr, que possuem uma cópia do gene v e r em seus gametas. Desse modo, a fecundação desses gametas entre as plantas (VR x vr) produzirá indivíduos 100% heterozigotos em F1 (VvRr) com um fenótipo amarelo e liso, pois os genes V e R são dominantes sobre v e r. As plantas heretozigotas, por sua vez, produzem gametas com diferentes combinações entre os alelos de cada característica (VR, vr, vR e Vr), sendo sempre V e R os genes dominantes. Portanto, a autofecundação da geração F1 produz todos os fenótipos possíveis. 15 UNIDADE Mecanismos da Herança Figura 7 – Representação simbólica do cruzamento diíbrido entre ervilhas que produzem sementes lisas e amarelas e ervilhas que produzem sementes rugosas e verdes Outras combinações entre plantas com características diferentes foram realizadas por Mendel e, em todos os casos, ele observou que os genes segregavam- se independentemente, o que o levou a postular o terceiro princípio básico da Genética Mendeliana: • O princípio da segregação independente: os alelos de diferentes genes (a cópia de cada gene) segregam-se durante a formação dos gametas, independentemente uns dos outros. 16 17 Tente fazer exercícios de cruzamentos monoíbridos (por exemplo: plantas altas x plantas anãs; cobaias de pelo preto x cobaias de pelo branco – sabendo-se que a característica anã das plantas e a pelagem branca dos cobaias é recessiva) e diíbridos (por exemplo: cobaias com pelos grossos e pretos x cobaias com pelos lisos e brancos) para treinar. Lembre-se de aplicar o uso dos símbolos adequadamente. Se quiser, realize esses testes com características da sua própria família (por exemplo, cor dos olhos, textura do cabelo, cor da pele etc.) Ex pl or Heredogramas Experiências com cruzamentos genéticos dirigidos não podem ser realizadas com a espécie humana; sendo assim, a determinação do padrão de herança das características depende de um levantamento histórico das famílias em que certas características aparecem. Isso permite que um geneticista entenda se uma determinada característica é ou não hereditária. Esses estudos são feitos utilizando heredogramas. Os heredogramas são diagramas utilizados para evidenciar o grau de parentesco entre membros de uma mesma família, por meio do uso de símbolos. Nesses esquemas, os homens são representados por um quadrado e as mulheres por um círculo. A reprodução entre homens e mulheres é representada por uma linha horizontal, a prole é evidenciada a seguir, na sequência da esquerda para a direita, por ordem de nascimento (Figura 8) e as gerações são representadas ao lado, por números romanos. Indivíduo do Sexo Masculino Indivíduo do Sexo Feminino Sexo Inde�nido nº de �lhos do sexo indicado Afetado Heterozigotos para um caráter autossômico Casamento Acasalamento Extramarital Divórcio Acasalamento Consanguíneo Gêmeos Monozigóticos Gêmeos Dizigóticos Figura 8 – Símbolos utilizados para representação em um heredograma 17 UNIDADE Mecanismos da Herança Analisando um heredograma, é possível identificar se o padrão de herança de certa característica (cor dos olhos, calvície, nanismo, albinismo, distrofia muscular, daltonismo etc.) é autossômico dominante ou recessivo. A primeira análise que fazemos ao observar um heredograma é se a característica é condicionada por um gene dominante ou recessivo. O fenótipo resultante de um distúrbio autossômico recessivo é herdado como um alelo recessivo e é apenas expresso na prole, tanto masculina quanto feminina, de modo que os progenitores não são afetados e, nesse caso, ambos os progenitores devem ser heterozigotos, ou seja, possuem um alelo dominante e outro recessivo (Figura 9). Aa Aa aa aa aa aa aa aa Aa Aa A_ A_ Aa Aa A) B) C) Homem Mulher Pessoas com a característica estudada Figura 9 – Exemplo de heredograma com o padrão de herança de uma característica recessiva (por exemplo: cor dos olhos, albinismo, distrofia muscular) 1. O primeiro passo é observar todos os casais e logo percebemos que a filha do primeiro casal é portadora da característica que iremos estudar (por exemplo: cor dos olhos azul), mas os genitores não; logo, descobrimos que essa é uma característica recessiva; 2. Se apenas indivíduos heterozigotos podem ter filhos com características diferentes das apresentadas por eles, assim ambos os genitores são Aa; 3. No segundo caso à direita do heredograma, sabemos que o genótipo do pai e do filho é aa, ou seja, eles possuem olhos azuis, mas a mãe não. Desse modo, o filho recebeu um a do pai e o outro da mãe, que é heterozigoto, sendo Aa. 18 19 Codominância Como vimos até agora, genes heterozigotos (Vv, Rr, Bb etc.) exibem o mesmo fenótipo (amarelo, liso, alto) de genes homozigotos (VV, RR, Bb), pois a presença de um gene dominante se sobressai sobre a expressão do gene recessivo. Contudo, em alguns casos, o gene heterozigoto expressa um fenótipo diferente do homozi- goto associado. Um exemplo disso ocorre para a cor da flor da planta boca-de-leão (Antirrhinum majus) que possui três fenótipos diferentes: flores brancas, verme- lhas e rosas. As cores branca e vermelha são homozigotas (bb e BB, respectiva- mente) e quando cruzadas possuem plantas heterozigotas, mas que possuem flores rosas, ao invés de vermelhas, que é a cor dominante. Desse modo, o alelo para cor vermelha (B) possui uma dominância incompleta em relação ao alelo para cor branca (b) (Figura 10). A pigmentação nessas flores depende da quantidade de produção de um produto determinado pelo gene da cor. Plantas homozigotos (BB) produzem o dobro da quantidade do pigmento do que plantas heterozigotos (Bb), que terão, por sua vez, cor menos intensa. Sendo assim, o alelo parcialmente dominante é chamado de gene codominante ou semidominante. Vermelha Branca Rosa 1/4 2/4 Rosa 1/4 Branca BB bb Bb BB Bb bb F1 F2 Figura 10 – Representação simbólica do cruzamento diíbrido entre plantas boca-de-leão com fl ores vermelhas e com fl ores brancas, mostrando o efeito de codominância do alelo B 19 UNIDADE Mecanismos da Herança Alelos Múltiplos Para a maioria das características expressas, os genes normalmente existem em dois estados alélicos (alto ou baixo, verde ou amarelo, liso ou rugoso etc.). Mas, há casos em que um mesmo gene pode possuir três, quatro ou mais alelos e esse é o caso da cor da pelagem de coelhos. A letra minúscula c representa o gene determinante da cor, que possui quatro alelos: c (albino), ch (himalaio), cch (chinchila) e c+ (selvagem). A condição homogizota desses alelos produz diferentes cores de pelagem dos coelhos: cc – presença de pelos brancos por todo o corpo (albinos); chch – presença de pelos pretos apenas na extremidades dos corpo; cchcch – presença de pelos brancos com as pontas pretas por todo o corpo; c+c+ - pelos coloridos por todo o corpo. Os tipos sanguíneos humanos é um outro exemplo de alelos múltiplos. Quando uma pessoa possui apenas o antígeno A em suas células, o tipo sanguíneo é A, quando possui apenas o B, o sangue é tipo B, quando ambos os antígenos estão presentes, o sangue é do tipo AB e quando não há nenhum antígeno, o sangue é do tipo O. O gene I é o determinante genotípico do tipo sanguíneo e tem três alelos: IA e IB, que são responsáveis pela produção do antígeno A e B, e o alelo i que não especifica nenhum antígeno. Com base nesses diferentes alelos, é possível obter 6 genótipos diferentes (IAIA, IAi, IBIB, IBi, IAIB, ii) que expressam 4 fenótipos, os tipos sanguíneos A, B, AB e O, respectivamente (Tabela 2). Nesse sistema, os alelos IA e IB são codominantes. Tabela 2. Possíveis genótipos para o sistema sanguíneo ABO humano Genótipo Fenótipo Antígeno presente IAIA, IAi Tipo sanguíneo A A IBIB, IBi Tipo sanguíneo B IAIB Tipo sanguíneo AB A e B Ii Tipo sanguíneo O nenhum Interação Gênica Durante o processo de segregação independente dos genes na meiose, algumas interações entre os genes de cromossomos nãohomólogos podem ocorrer, de modo que dois genes podem controlar a mesma característica. Diferentes combinações de alelos de dois genes resultam em fenótipos diferentes, provavelmente, devido ao resultado da interação dos seus produtos em nível bioquímico e/ou celular. A interação gênica foi descoberta por meio de experimentos realizados com galinhas. Galinhas domésticas apresentam diferentes formas de crista: noz, rosa, ervilha e simples (Figura 11). O cruzamento entre galinhas de crista rosa com galinhas de crista ervilha produz galinhas com outro tipo de crista, a chamada noz. Os pesquisadores descobriram que o tipo de crista era controlado por dois genes que se segregam independentemente, R e E, cada um com dois alelos. As galinhas com crista rosa 20 21 possuem o genótipo RRee e as galinhas com crista de ervilha possuem o genótipo rrEE. As galinhas originadas desse cruzamento são, portanto, RrEe, mas possuem crista do tipo noz, diferente dos parentais. Ao cruzar a F1 (RrEe) todos os tipos de crista aparecem na prole, inclusive as galinhas com crista simples, que devem ser, portanto, homozigoto para ambos os alelos (rree) (Figura 12). Figura 11 – Formas das cristas em galinhas domésticas diferentes Figura 12 – Experimento realizado sobre a forma da crista de galinhas. O intercruzamento de F1 produz quatro tipos de crista diferente em uma proporção 9:3:3:1 (noz, rosa, ervilha e simples) 21 UNIDADE Mecanismos da Herança Os principais tipos de interação entre os genes são: epistasia e pleiotropia. • Epitasia: quando dois ou mais genes influenciam uma característica, um alelo de um deles pode ter um efeito inibidor no fenótipo. Quando um alelo exibe esse efeito, ele é denominado epistático em relação aos outros genes envolvidos. • Pleiotropia: um único gene pode influenciar muitos fenótipos. Quando um gene afeta muitos aspectos do fenótipo, ele é chamado de pleiotrópico. 22 23 Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Sites Segunda Lei de Mendel (Jogo) https://goo.gl/kmY2WW Vídeos Mendel e a Ervilha https://youtu.be/tfjDJE4kWhM https://youtu.be/VVIr37xPkk0 https://youtu.be/hEdc96wxyZ8 Hereditariedade https://youtu.be/CBezq1fFUEA Leitura O papel de Mendel na história da Genética https://goo.gl/UQAB3Q Mendel e depois de Mendel https://goo.gl/etK6gS O Mendel que não era mendelista https://goo.gl/EAYpsM 23 UNIDADE Mecanismos da Herança Referências GRIFFITHS, A. J. F. et al. Introdução à genética. 9.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2009. SNUSTAD, D. P.; MICHAEL, J., SIMMONS, M. J. Fundamentos de genética. 6.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2013. WATSON, J. D. et al. Molecular biology of the gene. 7.ed. Porto Alegre: ArtMed, 2015. 24
Compartilhar