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UMA EQUAÇÃO POSSÍVEL? Desafios e Perspectivas do Serviço Social no Sistema Judiciário Brasileiro

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
INSTITUTO DE PSICOLOGIA
DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL
DISCIPLINA PERSPECTIVAS E DESAFIOS NO SERVIÇO SOCIAL NA
ATUALIDADE
PROFESSORA DRA. JUSSARA MENDES
Ana Luíza Vicentini Leão
Paolla Stefenon
Valquíria Fortunato
UMA EQUAÇÃO POSSÍVEL? Desafios e Perspectivas do Serviço Social no Sistema
Judiciário Brasileiro
PORTO ALEGRE
2018
1 INTRODUÇÃO
Este trabalho é o requesito parcial de avaliação da disciplina de “Perspectivas
e Desafios no Serviço Social na Atualidade, ofertada no último semestre do curso
com a finalidade de um fechamento da formação acadêmica dos assistentes sociais
em construção. A aproximação com o tema se deu a percepção do grupo da não
abordagem sobre a atuação do assistente social no espaço sócio ocupacional do
sócio jurídico e a crescente demanda que este campo vem requerendo para o
profissional do Curso de Serviço Social. Também as autoras apresentaram interesse
em pesquisar e aprofundar os conhecimentos a respeito da temática que escolhida
pela turma a ser abordada: os desafios e perspectivas do serviço social no judiciário.
O trabalho está dividido em cinco principais tópicos. O primeiro vai trazer
sobre a trajetória do sócio jurídico no Brasil e a mudança do campo ao longo das
alterações de cada contexto histórico. No segundo tópico será abordado sobre a
construção histórica do Serviço Social no campo brasileiro, trazendo uma linha
cronológica desde a inserção do que seria o esboço da profissão, na década de
1920, até às atribuições do profissionais atualmente. No quarto eixo está os desafios
e perspectivas da categoria frente às expressões da questão social evidenciadas no
campo sócio jurídico. Por último, são evidenciadas as considerações finais do
trabalho, bem como, as considerações sobre a atuação do assistente social no
campo sócio jurídico que o grupo pode se debruçar sobre o tema ao longo do
semestre.
2 O SÓCIO JURÍDICO NO BRASIL
O ordenamento jurídico foi concebido como um sistema completo, coerente e
independente da realidade socioeconômica, desta forma o Judiciário seria um poder
politicamente nulo. Ele teve sua importância na Europa, durante o período da
burguesia européia dos séculos XVII e XVIII, prevalecendo até os anos 60 e 70 do
século XIX, sendo abandonado por não atender às novas e complexas realidades
dos tempos modernos na Europa, onde se experimentava um deslocamento dos
poderes estatais.
O Judiciário deve se preparar para resolver conflitos de natureza
multidisciplinar, em que o bom senso e a boa vontade de fazer justiça preponderarão
sobre a intenção de qualquer legislador. Para Donato (2016) surgem opiniões
conflitantes e polêmicas acerca da postura do Judiciário, ou seja, como instituição
formal e tradicional, que aplica leis, e como poder político e democrático, que aplica
a justiça de acordo com os princípios da Constituição Federal de 1988.
A Constituição Federal de 1988 inovou na maneira de conceber
estruturalmente e funcionalmente o Estado e o direito, o que implica a necessidade
de mudanças no Poder Judiciário. Instituiu, assim, o Estado Democrático de Direito,
sintetizando os princípios do Estado Democrático e do Estado de Direito. Conforme
aponta Donato (2006)
O objetivo do Estado Democrático de Direito é estabelecer uma sociedade
livre, justa e solidária, participativa, pluralista, em que se tenha o respeito à
pluralidade de idéias, culturas e etnias, possibilitando a realização social
pela prática dos direitos sociais e garantindo-se a cidadania e a dignidade
da pessoa humana.
Montesquieu, em sua obra “Do espírito das leis”, menciona que, em cada
Estado, há três espécies de poderes, que são: o poder legislativo, o poder executivo
das coisas que dependem do direito das gentes, e o executivo das coisas que
dependem do direito civil.
Se tornando um das primeiras perspectivas sobre a divisão das funções do
Estado, com vistas a efetivação dos seus objetivos e evitando a centralização do
poder nas mãos de um único soberano. Surgindo, assim, a idéia da coexistência
harmoniosa entre as três funções da União, legislar, administrar, e julgar, nos
poderes Legislativo, Executivo e Judiciário .
A história política brasileira demonstra uma vasta experiência de formas de
governo, haja vista as experiências com o parlamentarismo, com o presidencialismo,
com o regime militar, com a ditadura e com a democracia, destaca Donato (2006)
que,
os governos autoritários contribuíram para que o Judiciário brasileiro
adotasse, por algum tempo, o perfil de poder neutro, silencioso, discreto e
pouco participativo, surgindo a impressão, revestida do falso respeito, de
que o Judiciário é um poder inatingível.
A estrutura do Poder Judiciário no Brasil é um tanto complexa, pela
quantidade de órgãos que a integram. Ela baseia-se em dois eixos: primeiro, o
Poder Judiciário divide-se em ramos. Cada ramo, por sua vez, tem seus órgãos
estruturados em níveis, conhecidos como graus de jurisdição.
No Brasil, há cinco ramos do Poder Judiciário: Justiça Estadual: Justiça
Federal; Justiça do Trabalho; Justiça Eleitoral; Justiça Militar da União. Cada um
desses ramos, por sua vez, tem seus órgãos estruturados em diferentes níveis, que
são as instâncias. Em 2016, o relatório Justiça em Números, divulgado pelo
Conselho Nacional de Justiça (CNJ) mostrou que o poder Judiciário custou aos
cofres públicos R$ 84,8 bilhões de reais. No ano de 2015, o gasto foi de R$ 79,2
bilhões (BRASIL, 2016).
Um estudo realizado em 2015, pelo pesquisador Luciano Da Ros, da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), apontou que o Brasil é um
dos países que mais gasta com a Justiça em relação ao seu PIB. O orçamento
destinado ao Poder Judiciário brasileiro é muito provavelmente o mais alto por
habitante dentre todos países federais do hemisfério ocidental afirma o estudo, que
também aponta que os únicos países, à época, que chegavam perto do percentual –
que era de 1,3% em 2015 – tinham populações bem menores que a brasileira, como
El Salvador (1,35%) (DA ROS, 2015).
A Visão do Poder Judiciário do Estado do Rio Grande do Sul é tornar-se um
Poder cuja grandeza seja representada por altos índices de satisfação da sociedade;
cuja força seja legitimada pela competência e celeridade com que distribui justiça;
cuja riqueza seja expressa pela simplicidade dos processos produtivos, pelo
desapego a burocracias e por desperdícios nulos. Ou seja, uma Instituição moderna
e eficiente no cumprimento do seu dever.
3 SERVIÇO SOCIAL NO SÓCIO JURÍDICO BRASILEIRO
O assistente social no Poder Judiciário e no Sistema Penitenciário se deu
entre o final da década de 1920 e início da de década 1930, enquanto ações de
“comissariado de menores” majoritariamente para “fiscalização” do trabalho infantil,
expandindo-se a partir da criação do Código de Menores de 1927. A inserção
profissional no Judiciário e no sistema penitenciário data, no Brasil, da própria
origem da profissão. Iamamoto e Carvalho (1982) revelam, por exemplo, que um dos
primeiros campos de trabalho de assistentes sociais na esfera pública foi o Juízo de
Menores do Rio de Janeiro, então capital da República. O serviço social é
incorporado a essa instituição como uma das estratégias de tentar manter o controle
almejado pelo Estado sobre esse grave problema, que se aprofundava no espaço
urbano.
Motivações similares provocaram a inserção de assistentes sociais em
ações de comissariado de menores, de fiscalização do trabalho infantil,
entre outras frentes que se relacionavam intrinsecamente com o universo
‘jurídico’, tanto no Rio de Janeiro como em São Paulo, ainda nas
protoformas da profissão, alavancado pela aprovação do Código de
Menores em 1927 (CFESS, 2014, p.13).
A primeira assistente social a obter um emprego, no campo da intervenção
direta, foi no Judiciário paulista, no início dos anos 1940 como “peritos sociais”.
Iamamoto e Carvalho (1982) revelam, por exemplo, que um dos primeiros campos
de trabalho deassistentes sociais na esfera pública foi o Juízo de Menores do Rio
de Janeiro, então capital da República. A inserção técnica dos Assistentes Sociais
no âmbito da Justiça o Serviço Social somente em 1948, começou a fazer parte do
quadro funcional do Judiciário.
Em 1949, foi criado o Serviço de Colocação Familiar, com o objetivo de evitar
a internação de menores, através da cessão de profissionais lotados em instituições
Federal, Estadual e Municipal, a fim de oferecer uma atenção especial ao
atendimento das demandas sociais que envolviam crianças e adolescentes, sob a
forma do “Código de Menores”. Entre 1948 e 1958 vários serviços de atendimento à
criança e ao adolescente passaram a ser centralizado no Juizado de Menores. Em
1957 os assistentes sociais começam a atuar nas Varas de Família, atendendo ao
dispositivo do Código Civil no que tange a possibilidade do juiz nomear um perito
para que lhe forneça subsídios à decisão.
Com a elaboração do novo Código de Menores, em 1979, e do Estatuto da
Criança e do Adolescente, em 1990, provocaram uma real expansão das frentes de
atuação do/a assistente social. No decorrer do processo histórico, o serviço social
consolidou-se e ampliou sua atuação por meio da inserção profissional nos tribunais,
nos ministérios públicos, nas instituições de cumprimento de medidas
socioeducativas, nas defensorias públicas, nas instituições de acolhimento
institucional, entre outras.
A aprovação da Lei de Execuções Penais (LEP) em 1984, também provocou
o serviço social a desenvolver produções sobre a inserção profissional no âmbito do
sistema penitenciário. Mais recentemente, a partir da Constituição Federal de 1988,
especialmente a partir dos anos 2000, surgiram outros espaços para o serviço
social, em instituições que assumem novas funções na defesa de direitos, como o
Ministério Público e a Defensoria Pública.
Assim, o debate sobre o lócus do jurídico ganha, no cenário
contemporâneo, gradativamente, relevo na concretização da dimensão
técnico-operativa do serviço social, na medida em que desenvolve
significativa intervenção no cotidiano das diversas instituições onde atuam
assistentes sociais. Esse movimento tem demandado sua problematização
no cerne da representação da categoria, sobretudo pela interferência no
cotidiano profissional dos espaços sócio-ocupacionais, mas também pela
nítida impositividade do ‘jurídico’, que cerca as demandas inerentes ao
sociojurídico (CFESS, 2014, p. 14).
Em 1987 saiu o primeiro edital para realização de concurso público. Em 1988,
a partir da Constituição Federal de 1988, especialmente a partir dos anos 2000,
descortinam-se outros espaços para o serviço social, em instituições que assumem
novas funções na defesa de direitos difusos e coletivos e/ou individuais, como o
Ministério Público e a Defensoria Pública. Em 1990 com a promulgação do Estatuto
da Criança e do Adolescente - ECA, o Serviço Social passa a atender às duas Varas
da Infância e Juventude com suas competências específicas. Apesar desse
histórico, só muito recentemente é que particularidades do fazer profissional nesse
campo/área passaram a vir a público. Em 2001, a Edição da revista Serviço Social e
Sociedade, nº 67, com artigos que versam sobre a inserção profissional no poder
judiciário e o sistema penitenciário. No mesmo ano contou-se com um painel para
tratar do tema no 10º CBAS no Rio de Janeiro.
O termo “sociojurídico” é relativamente recente na história do Serviço Social
brasileiro. Ele surge, segundo Borgianni (2004), a partir da iniciativa da Editora
Cortez de publicar uma edição da Revista Serviço Social & Sociedade nº 67, de
2001, com artigos que versassem sobre a inserção profissional no Poder Judiciário e
o Sistema Penitenciário.
Segundo a autora, no entanto, não foi possível fazer referência direta a
esses espaços, porque [...] é toda nossa intervenção [de assistentes sociais]
com o universo do jurídico, dos direitos, dos direitos humanos, direitos
reclamáveis, acesso a direitos via Judiciário e Penitenciário. (BORGIANNI,
2004, p. 44 e 45).
O “campo” sócio-jurídico diz respeito ao conjunto de áreas em que a ação do
Serviço Social articula-se a ações de natureza jurídica, como o sistema judiciário, o
sistema penitenciário, o sistema de segurança, os sistemas de proteção e
acolhimento como abrigos, internatos, conselhos de direitos, dentre outros
(FÁVERO, 2003). O Serviço Social aplicado ao contexto jurídico configura-se como
uma área de trabalho especializado, que atua com as manifestações da questão
social, em sua interseção com o Direito e a Justiça na sociedade (CHUAIRI, 2001).
Ainda em, 2004, houve o marco do Primeiro Seminário Nacional do Serviço
Social no Campo Sócio-jurídico, em Curitiba (PR), resultado da deliberação do 32º
Encontro Nacional CFES-CRESS, em Salvador (CFESS, 2014). O debate sobre o
lócus do jurídico, ganha, no cenário contemporâneo, gradativamente, relevo na
concretização da dimensão técnico-operativa do Serviço Social na medida em que
desenvolve significativa intervenção no cotidiano das diversas instituições onde
atuam assistentes sociais. Sendo fundamental situar qual o significado
sócio-histórico e político da dimensão “jurídica” para a sociedade, ou, como diz
Borgianni (2012, p. 65):
Por entender o “social” – ou essa partícula “sócio” – como expressão
condensada da questão social, e dela emanarem continuamente as
necessidades que ensejaram a intervenção de juristas, especialistas do
Direito, de agentes políticos e seus partidos.
No campo prático, considerando a intrínseca relação entre a teorização e a
objetivação das categorias inerentes à proposta emancipatória, o “jurídico” tem se
apresentado, fundamentalmente, como estrutura complexa de manutenção do status
quo.Embora o debate sobre o sociojurídico se instale com maior preponderância
somente nos últimos anos no seio da categoria, a relação entre a sociabilidade
capitalista e a fragilidade do Estado é historicamente constatada. Chega a
apresentar uma participação determinante nos processos de judicialização das
diversas dimensões da sociabilidade e, nos espaços onde se efetiva o exercício
profissional.
Os processos de criminalização de diversas práticas sociais, consideradas
‘impróprias’ para determinada ordem visando, segundo Zaccone (2008), a exercer
um controle ‘selecionado’ sobre determinadas classes e segmentos populacionais,
requerem necessariamente a mobilização dos mecanismos coercitivos do Estado:
A ‘onda punitiva’ da ‘Política de Tolerância Zero’ é uma expressão
fundamental da afirmação do neoliberalismo, quer seja, do processo de
retração de direitos. A criminalização dos pobres se converte em uma das
principais formas de controle da ‘questão social’ diante do cenário
socioeconômico contemporâneo. Criminalizar e ampliar diversas formas de
práticas punitivas, em vários aspectos e em diferentes dimensões (de
inquérito, de verificação, de controle), supõe mobilizar essas instituições,
que são a expressão máxima do poder impositivo estatal (CFESS, 2014,
p.16)..
A dimensão coercitiva do Estado, marca dessas instituições, constrói
estruturas e culturas organizacionais fortemente hierarquizadas, e que encerram
práticas com significativo cunho autoritário. Contudo, a “área” ou “campo”
sociojurídico apresenta no tempo presente uma perspectiva singular para a atuação
profissional, que percebe o Direito como um complexo carregado de contradições.
Possibilita, então, a ação em busca de novos sentidos para as relações sociais, na
direção na realidade emancipatória e diferente da pura reprodução da ordem
estabelecida.
Conforme demonstra a Figura I, os espaços de atuação profissional que
compõem o sociojurídico são atualmente: as forças armadas, na execução de
medidas socioeducativas, no poder judiciário, no sistema prisional, no ministério
público, na defensoria pública no acolhimento institucional e família e na segurança
pública. Os principais instrumentos técnico operativos, que articuladoscom as
dimensões ético político e teórico metodológico, são o estudo, laudo, perícia e
parecer social; as visitas domiciliares e institucionais, entrevistas, articulação com a
rede, acolhimento, análise documental, palestras e reuniões.
Figura I: Espaços de atuação profissional que compõem o sociojurídico
Fonte: Atribuições do Assistente Social no Sociojurídico: subsídios para reflexão. Conselho
Federal de Serviço Social. 2014
A partir da Figura I, interpreta-se que, embora esteja crescendo o número de
assistente sociais no sociojurídico ainda é um número incipiente para as demandas
que cada vez mais a área requisita. Entende-se ainda, a partir da figura, que o Poder
Judiciário continua sendo o maior empregador entre as instituições pesquisadas,
empregando em torno de 74,19% dos profissionais na área; seguido pelo Sistema
Penal, com 11,87%. Infere-se que a atuação do assistente social está nos campos
sócio ocupacionais que tem sua perspectiva de criminalização dos usuários
atendidos, em detrimento da concepção que compreende os usuários enquanto
enquanto sujeitos de direitos.
O espaço sócio-ocupacional com menor empregabilidade para os/as
assistentes sociais, no momento da coleta, é a Defensoria Pública, que perfez
0,44%. A região Sul apresenta percentual inferior, com 5,83%; nesse caso, todavia,
chama-se a atenção para o fato de a coleta não ter computado os/as profissionais
das medidas socioeducativas. Ao mesmo tempo, não há dados atualizados, já que a
pesquisa referenciada data de 2009, sobre o assistente social no sociojurídico.
4 DESAFIOS E PERSPECTIVAS DO SERVIÇO SOCIAL NO SOCIOJURÍDICO
FACE ÀS EXPRESSÕES DA QUESTÃO SOCIAL
As contradições no sociojurídico, está nas proteções sociais e os serviços das
políticas sociais deveriam ser ofertados e acessados enquanto direito de todos os
cidadãos na medida de suas necessidades. Não raras vezes, são alcançadas
somente pela impositividade legal ou pela determinação do sistema de justiça sobre
o Executivo (FUZIWARA 2013, p.86). como também, distorções são praticadas pelo
próprio judiciário em relação ao papel das políticas públicas. Assim, várias são as
contradições identificadas, como mediante as vulnerabilidades sociais e a pobreza
(carências econômicas, sociais e afetivas), as famílias (constituídas por indivíduos,
cidadãos de direitos), por não contarem com a proteção do Estado, deixam de
realizar a sua função protetiva, respondendo socialmente e legalmente por
“omissão” – resultando na chamada criminalização da pobreza.
Da mesma forma, o acesso aos serviços das políticas públicas (a exemplo:
saúde, educação) passa a ser garantido via ação da justiça – obrigação de fazer
imposta pelo Judiciário ao Executivo. A questão social, expressa nas várias e
diversas situações sociais (como o abandono, violência e/ou violação de direitos
praticados contra criança, adolescente, jovem, mulher, idoso, deficiente; ato
infracional; situação de rua; trabalho infantil; violação da lei, e outras), passa a ser
objeto do sistema de justiça, que determina a ação sobre os indivíduos.
Frente ao reduzido número de assistentes sociais no quadro de recursos
humanos do Poder Judiciário, os estudos de situações complexas são realizados
precariamente ou são requeridos serviços técnico-profissionais das gestões
públicas, com destaque para o CREAS na Assistência Social e a atuação do
profissional na execução das Medidas Socioeducativas (MSE). Salientando ainda
que essas requisições judiciais têm caráter coercitivo sobre os profissionais,
podendo resultar em represálias ou punições em caso de descumprimento. No
campo, sobretudo no poder judiciário e no sistema penal, prepondera a inquirição
de vítimas, em particular crianças e adolescentes, nos espaços dos CREAS em
nome da busca da verdade e da redução de danos.
Ainda há o desafio da determinação judicial para o cumprimento por parte dos
gestores públicos, de leis, estatutos, resoluções e documentos normativos, que
tratam dos direitos sociais e humanos, como exemplo, o ECA, o Estatuto do Idoso, o
SUAS, o SUS, os direitos da pessoa com deficiência, a Lei Maria da Penha, o
SINASE). É necessário cada vez mais o monitoramento sobre do cumprimento dos
direitos sociais, das políticas públicas e das penas aplicadas, já que no contexto
atual o poder público está violando o maior número de direitos possível.
No sociojurídico são encontradas inúmeras expressões da questão social,
evidenciadas no perfil social e racial da população carcerária; na fragilidade em
saúde, principalmente mental, de policiais; nos cada dia mais numerosos processos
envolvendo guarda ou destituição do poder familiar. Ainda, a intervenção do
assistente social também está na compreensão das razões que levam ao
acolhimento institucional de crianças e adolescentes; nas disputas patrimoniais e de
renda nas ações de interdição civil ou de tutela.
Um desafio está na banalização da interdição, que é demandada para o
acesso a benefícios sociais, como o BPC. Hoje há uma tendência de interditar
pessoas que poderiam se beneficiar do BPC para facilitar o acesso a ele, sem
contudo, necessitar realmente da interdição. Ou seja, para acessar o BPC, opta-se
por interditar/nomear um curador para o possível beneficiário na maioria das
situações, salientando ainda que é difícil a pessoa interditada conseguir novamente
o controle de suas ações.
As expressões da questão social no campo também estão nas situações de
violência contra a mulher; nas situações de desproteção de crianças, adolescentes,
idosos e pessoas com deficiência ou com transtornos mentais; nas internações
prolongadas de pessoas com transtorno mental ou deficiência intelectual pela via da
interdição civil. Nesse sentido, falar do judiciário, por exemplo, não é só falar de
quem está nas instituições, mas falar também daqueles espaçosos que tem interface
dos direitos do jurídico enquanto resoluções dos conflitos pela impositividade do
Estado. Sendo assim, o debate sobre sociojurídico é algo que compete a todos nós,
a sociedade em geral.
Por fim, o trabalho do assistente social também está na intervenção sob o
crescente “encarceramento” de adolescentes; e na defesa de direitos a população
institucionalizada/ privada de liberdade que é submetida a cruéis torturas (CFESS,
2014). É importante ressaltar que as expressões da questão social, expressa de
várias e diversas situações sociais passa as ser objeto de justiça, que determina a
ação sobre os indivíduos. É preciso lutar contra a demanda pronta, que vem no
sentido de aferir se o sujeito está apto ou não a algo, a ganhar liberdade, dizer se
uma mãe foi negligente ou não com uma criança, por exemplo, então dependendo
da forma como o assistente social escreve isso, pode haver uma destituição do
poder familiar, uma mulher perder seus filhos.
Cabe então pensar sobre a instrumentalidade no sociojurídico, os
instrumentais mais utilizados nessa área e a intencionalidade do fazer profissional.
Dos instrumentos técnico-operativos mais utilizados no sociojurídico tem-se:
Reuniões, Palestras, Análise Documental, Acolhimento, Articulação com a Rede,
Entrevistas, Visitas Domiciliares e Institucionais, Estudo, Laudo, Perícia e Parecer
Social. É importante ressaltar que o uso de instrumentos e técnicas está associada
com a instrumentalidade, não sendo estes os mesmos, a instrumentalidade está
ligada a capacidade de projetar às ações, finalidades que contêm uma intenção ideal
e um conjunto de valores direcionados ao que se julga melhor em relação ao
presente, dessa forma, atenta-se para a utilização dos instrumentais no sociojurídico
estarem de acordo com os princípios e valores do Projeto Ético Político profissional.
A instrumentalidade é
"uma propriedade e/ou capacidade que a profissão vai adquirindo na medida
em que concretiza objetivos. Ela possibilita que os profissionais objetivem
sua intencionalidade em respostas profissionais. É por meio desta
capacidade, adquirindo no exercícioprofissional, que os assistentes sociais
modificam, transformam, alteram as condições objetivas e subjetivas e as
relações interpessoais e sociais existentes num determinado nível da
realidade social: no nível do cotidiano". (GUERRA, 2007, p. 2)
Nesse sentido, Guerra (2007) afirma, que a instrumentalidade permite que os
sujeitos, face a sua intencionalidade, invistam na criação e articulação de meios e
instrumentos necessário para a consecução dos objetivos profissionais. Objetivos
estes que são tanto os profissionais como sociais, instrumentalidade que se constitui
como uma possibilidade de atendimento das demandas, além condição de
reconhecimento social da profissão. Cabe ao assistente social definir quando vai
utilizar determinado instrumento ou técnica que permita a operacionalização da sua
ação profissional, estes compõem a dimensão técnico-operativa da profissão e a
instrumentalidade neste caso deve estar relacionada a modificação da realidade e
ações com intencionalidade na perspectiva de defesa dos direitos dos usuários e
não utilizados enquanto componentes de investigação da vida dos sujeitos.
Por exemplo, no estudo social, o assistente social, no âmbito do judiciário, é
chamado a responder perguntas que ajudarão a esclarecer o que for solicitado.
Fávero (2009) explicita que "o assistente social responde àquelas que dizem
respeito a prerrogativas, princípios e especificidades da profissão - em itens
específicos ou no corpo de registro -, seja relatório ou laudo, apontando também, se
for o caso, que não é de sua competência oferecer respostas a eventuais quesitos
que fogem à sua área de formação" (FÀVERO, 2009, p.22). Cabe ter clareza do que
é ou não competência para que a atuação esteja de acordo com a utilização do
conhecimento de fato para a construção de uma sociedade mais justa e humana, de
acordo com a defesa dos direitos dos usuários e princípios e valores da profissão.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Enquanto perspectivas e desafios para o Serviço Social, o trabalho do
assistente social no campo demanda ações articuladas, planejadas e
“cooresponsabilizadas” com os gestores públicos e outros profissionais (em especial
assistentes sociais) que se encontram na ação terminal das políticas no território, na
perspectiva de romper com a “ordem das coisas” e com a reprodução das
desigualdades. Nesse contexto, impõem-se desafios como a problematização da
lógica da judicialização das expressões da questão social e da criminalização da
pobreza; a superação da aparência dos fenômenos como meros problemas
jurídicos, incorporando à sua resolutividade o caráter político e social na dimensão
da atuação profissional; a distinção entre os instrumentos do fazer profissional,
daqueles voltados para a “aferição de verdades jurídicas”, assumindo o estudo
social como próprio da intervenção do 90 serviço social, capaz de iluminar as
determinações que constituem a totalidade da realidade, suas contradições e
diferentes dimensões.
É necessário a habilidade de ser criativo e propositivo, no sentido de analisar
criticamente a realidade social sendo capaz de produzir propostas de trabalho que
venham a viabilizar direitos a partir de demandas emergentes do cotidiano. Um dos
principais desafios éticos dos profissionais na área é o dever de isolamento de
preconceitos e da não banalização da vida humana. A atuação do assistente social
no campo sociojurídico é de extrema relevância, já que o projeto ético político traz
como principal referência a luta por uma sociedade mais justa e igualitária na busca
pela efetivação de direitos e pela justiça social.
Para agenda do Serviço Social no campo sócio jurídico é necessária maior
problematização do tema, debatendo se realmente o campo sócio-jurídico vem
contribuindo para a garantia de direitos ou para o aumento do controle social e
disciplinamento de comportamentos. Ao mesmo tempo, deverá haver um debate
dentro da categoria que, colocando se o Assistente Social deve ser um perito ou a
sua atuação deve ser mais ampla, articulada à rede social. Apenas após o debate
dentro da própria profissão sobre a inserção do assistente social dentro espaço
sócio ocupacional do sócio jurídico que poderá se tornar mais claro a política social
do campo e elaborar propostas para que esta seja mais eficaz, a partir de uma
perspectiva diferente de “criminalizar” os usuários e sim voltada à defesa dos direitos
dos mesmos.
Porém, conforme apontam as referências utilizadas para a construção do
trabalho, o sociojurídico é uma área tomada por violação de direitos, muitas vezes
pelos próprios profissionais que deveriam defendê-los. Isto se dá também porque o
que as instituições esperam desses profissionais através dos seus laudos, relatos,
estudos e suas intervenções é que esses produzam provas para incriminar e
elementos de verificação da verdade do que está sendo dito ou não, o que na
verdade é uma grave violação das atribuições profissionais que foram duramente
construídas. Ressalta-se que o sociojurídico é ainda uma área pouco debatida entre
os assistentes sociais, embora existente há muitos anos, desde a década de 40,
cabe maior reflexão sobre a temática pela categoria profissional.
A construção do trabalho e apresentação para a turma propiciou um espaço
de reflexão relevante na formação acadêmica sobre a temática, uma vez que foi
possível captar que o sociojurídico é justamente uma interface com o direito, a qual
surge para garantir uma ordem que reproduz desigualdades, que produz a questão
social. Assim, aponta-se como imprescindível para quem atua nesta área, a clareza
de que o direito deve estar a favor da emancipação, a fim de atender direitos dos
trabalhadores/das classes subalternas, para que estas se mantenham minimamente.
Cabe ressaltar que enquanto área repleta de contradições, faz-se necessária a
atuação de profissionais críticos, que captem as contradições contraditórias e
complexas na resolução de conflitos e seu exercício profissional esteja voltado para
a defesa de garantia do direitos dos usuários em seus atendimentos.
Diante deste contexto, as autoras puderam se questionar sobre quem são os
assistentes sociais do sociojuridico, onde atuam, em que contradições, e que fazem
nessas instituições. Buscou-se também com a exposição para turma do que foi
construído e do convite a uma colega que atua enquanto assistente social já
formada na área em que o trabalho foi desenvolvido, aproximações com essa
realidade já trazida no trabalho sobre as contradições da área. Com o relato sobre a
história da instituição em que a colega Taís está empregada, trazido sobre seu
exercício profissional voltado para a defesa da garantia dos direitos dos usuários e
resistência sobre a defesa de o que é ou não competência profissional para sua
gestão e colegas de trabalho, pode-se evidenciar que o que está na teoria não é
dissociado da prática profissional. Por fim, é importante ressaltar que esse trabalho
não teve pretensões conclusivas, mas sim buscar aproximações com o fazer
profissional, identificando tendências, dilemas, contradições e desafios na área em
questão, as quais o conhecimento destes agregou de forma significativa para a
formação, qualificando-a e propiciando o desenvolvimento de competências
necessárias ao exercício profissional.
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