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1 de 6 ESTUDO DE IMPLEMENTAÇÃO DE UM SISTEMA HÍBRIDO DE GERAÇÃO ELÉTRICA EM PEQUENAS PROPRIEDADES RURAIS Adriano Corte Real, Lucas Luiz, Orlei Petry Junior e Rafael Carvalho Curso de Graduação – Faculdade de Engenharia Elétrica Uniftec (Centro universitário e faculdades) Av. Assis Brasil, 1165, Unidade de Engenharias, Porto Alegre/RS, Brasil Resumo – Este trabalho apresenta o dimensionamento de duas formas de geração de energia elétrica, solar e biomassa, assim como o aproveitamento e a eficiência dos sistemas. I. INTRODUÇÃO O sistema de distribuição de energia elétrica vive constantemente em ampliação, e o planejamento desta expansão pode ser compreendido como o conjunto de ações aliadas com os investimentos assegurando o fornecimento de energia elétrica, levando em consideração o crescimento do setor nos próximos 10 anos. [1] e [2] As fontes de energias elétrica renovável vem ganhando seu espaço no mercado mundial, sendo os principais motivos para esse aumento as preocupações ambientais, o desenvolvimento socioeconômico, a volatilidade no preço do combustível fóssil, o aumento na demanda energética, entre outros. [3] Os incentivos disponibilizados para o crescimento da geração distribuída, como a compensação de crédito, é um dos fatores responsáveis pelo aumento da capacidade instalada em território nacional. Analisando o setor, a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) estabeleceu a resolução normativa n° 482 de 2012, permitindo dessa forma os consumidores gerarem sua própria energia elétrica e conectá-la na rede de distribuição de energia elétrica. [4] II. DIMENSIONAMENTO DO SISTEMA SOLAR Para iniciar-se um projeto fotovoltaico existe algumas informações relevantes que precisam ser observadas, como explica [5] “o projeto de um sistema fotovoltaico envolve orientação dos módulos, disponibilidade de área, estética, disponibilidade do recurso solar, demanda a ser atendida e diversos outros fatores”. Para conseguir mensurar uma estimativa de produção de energia elétrica, é comum não utilizar a irradiação instantânea (energia por unidade de área) uma vez que o cálculo é muito complexo pela grande variação ao longo do dia, conforme ilustrado na Figura 1. Para facilitar esse dimensionamento utiliza-se o conceito de Horas de Sol Pleno (HSP), que reflete quantas horas ao longo do dia a irradiação solar é igual a 1kW/m², tornando o dimensionamento mais simples. [5] Figura 1 Exemplo de radiação solar diária instantânea e sua equivalente em HSP Fonte: [5] Assim como saber a irradiação do local a ser instalado o sistema, a localização dele possui sua importância, conhecer a área para prever os possíveis sombreamentos oriundos de outras construções ou elementos naturais, ou ainda a existência de superfícies reflexivas afeta diretamente a eficiência dos módulos fotovoltaicos, e consequentemente de todo o sistema. [5] 2 de 6 Ao analisarmos todos os componentes que compõem o sistema de geração fotovoltaico percebe-se diversos motivos que acabam diminuindo a eficiência do sistema, sendo as principais: “a queda de tensão no lado DC, queda no lado AC, eficiência do inversor, diodos e conexões, degradação por incidência inicial da luz, transformadores de isolamento, sombreamento e dados incorretos de placa.” [6] Para o dimensionamento dos painéis fotovoltaicos os autores trazem várias fórmulas diferentes, mas que resultam em um valor muito próximo. Para esse trabalho será adaptado a fórmula de [5] e de [6] resultando na Equação 1. 𝑁𝑝𝑎𝑖𝑛é𝑖𝑠 = ( ( 𝐶𝑜𝑛𝑠𝑢𝑚𝑜 − 𝐶𝑜𝑛𝑠𝑀í𝑛 30 ) 𝐻𝑆𝑃 ) ∗ (1 + 𝑝) 𝑃𝑝𝑙𝑎 (1) Onde: 𝑁𝑝𝑎𝑖𝑛é𝑖𝑠 é o número de painéis necessário para suprir a demanda; 𝐶𝑜𝑛𝑠𝑢𝑚𝑜 é a média do consumo de energia elétrica em kWh; 𝐶𝑜𝑛𝑠𝑀í𝑛 é o custo de disponibilidade conforme a quantidade de fases em kWh; 𝐻𝑆𝑃 é a média anual de sol pleno incidente no plano do painel fotovoltaico; 𝑝 é todas as perdas envolvidas no sistema fotovoltaico 𝑃𝑝𝑙𝑎 é a potência da placa a ser utilizada em kW. Em posse da Equação 1 é possível calcular a potência instalada do sistema ao multiplicar o número de painéis pela sua potência. Além disso é possível com essas informações dimensionar o inversor de frequência que será instalado junto com as placas fotovoltaicas para garantir o correto funcionamento do sistema. [7] Para a escolha do inversor algumas questões iniciais precisam ser observadas, como o ambiente onde o equipamento será instalado (interno ou externo), a potência total em módulos, as características ambientais do local de instalação. Um dos fatores chaves no dimensionamento de um inversor fotovoltaico é a tensão de entrada, sendo ela a soma de tensão de todos os módulos ligados em série. Ao calcular-se a tensão máxima de entrada, ela nunca deve ultrapassar o limite permitido pelo fabricante do inversor, sendo este um dos motivos que mais danifica o equipamento. [5] Para fazer a associação em séries das placas fotovoltaicas, deve-se utilizar o pior cenário no qual o sistema irá operar, nesse caso, considerar o inverno, pois a temperatura baixa influencia na alta tensão em corrente contínua (cc), o inversor não se conectou a rede, pela baixa irradiância no local, ou por falhas na rede e para esse cenário deve ser considerado a tensão em circuito aberto (𝑉𝑜𝑐). Dessa forma, a associação fica condicionada a tensão em circuito aberto não ultrapassar a tensão máxima de entrada ou a tensão máxima suportada pelo módulo. [5] Além de analisar a tensão em circuito aberto, a corrente de curto-circuito 𝐼𝑠𝑐 da associação em paralelo dos módulos fotovoltaicos deve ser observado. Cada inversor possui uma corrente máxima de entrada suportada, podendo ela ser independente ou ainda possuir mais de uma entrada conectadas. Nestes casos, o fabricante indica qual os limites a serem observados em cada uma das entradas. [5] III. TIPOS DE SISTEMAS DE BIODIGESTOR Para o correto dimensionamento de sistemas de geração por meio de biogás devemos considerar primeiramente qual o melhor modelo de biodigestor que de acordo com características oriundas de cada tipo de gerador, tais características deverão ser consideradas na implementação do projeto pois serão particulares de cada propriedade. Biodigestor modelo Indiano: Caracteriza-se por possuir um gasômetro metálico formando uma campânula no biodigestor, além de manter uma pressão constante em seu interior oriundo do mecanismo de deslocamento vertical do gasômetro este modelo garante um funcionamento adequado com uma concentração de sólidos totais abaixo dos 8%. Por fim uma característica importante deve ser levada em consideração para a escolha deste biodigestor gira em torno de seu custo mais elevado em relação a outros biodigestores em razão de seu gasômetro metálico. [8] 3 de 6 Tabela 1 Produção de esterco por suínos. Fonte: [9] Biodigestor modelo Chinês: Este modelo de biodigestor é construído basicamente em alvenaria com uma tampa vedada e ele deve ser inteiramente impermeabilizado para evitar vazamentos de gás de deu interior. Diferente do modelo anteriormente citado este não necessita de um gasômetro para estabelecer o controle de pressão, onde esta versão basicamente atua no modelo de prensa hidráulica onde o aumento da pressão executa a movimentação do efluente da caixa de fermentação para a caixa de saída e fazendo o processo inverso em caso de descompressão. Em contraponto a biodigestor indiano este possui um custo de implementação menor, porém mais cuidados na implementação devem ser tomados em relação a vedação deste tipo de biodigestor. [8] Biodigestor tipo Batelada: Este modelo dispõe de uma baixa exigência operacional, sendo que seu abastecimento é necessário somente uma vez por ciclode produção de biogás ao contrário dos modelos anteriormente apresentados que possuem uma produção contínua e por consequência a alimentação também deve ser continua. Sendo necessária apenas uma alimentação de dejetos por ciclo é indicada para pequenas produções onde a coleta de dejetos tem longos espaçamentos entre as alimentações dos biodigestores. Pode ser construído em tanques anaeróbios. [8] IV. DIMENSIONAMENTO DO SISTEMA BIODIGESTOR E GERADOR Após determinar o melhor modelo de biodigestor conforme a aplicação é necessário estimar o correto número de suínos do rebanho para a implementação do biodigestor, sendo que para tal utilizaremos além da Equação 2 a Tabela 2 também é necessária para o correto dimensionamento de produção. [9] 𝑃𝑏 = 365𝑛𝑠 ∗ 𝑑𝑠 ∗ 𝑉𝑏𝑠 (2) Onde: Pb = Produção anual de biogás (m³ ano-1); 𝑛𝑠 = número total de suínos da granja (adimensional); 𝑑𝑠 = Produção diária de dejetos por suíno (kg); e 𝑉𝑏𝑠 = Volume de biogás por quilo de dejeto de suíno (m3 kg-1). Com a obtenção do biogás é necessário dimensionar a produção em kw/h que conseguirá produzir a partir deste gás considerando um dado tipo de conversão, em termos práticos essa conversão se dará por meio de um motor ciclo Otto e microturbina onde o resultado em Mw/h pode ser obtido por meio da Equação 3 – Energia elétrica gerada por motor de ciclo Otto. [9] 𝐸𝑚𝑐𝑜 = 𝑃𝐶𝐼 ∗ 𝐵𝑟𝑒𝑠𝑡𝑎𝑛𝑡𝑒 ∗ 𝜂𝑚𝑜𝑡𝑜𝑟 ∗ ∆𝑡𝑜𝑝 ∗ 0,001 (3) Onde: 𝐸𝑚𝑐𝑜 = energia elétrica gerada por motor ciclo Otto (MWh); PCI = poder calorífico inferior do biogás (kJ m-3); 𝐵𝑟𝑒𝑠𝑡𝑎𝑛𝑡𝑒 = biogás restante (m-3 s-1); 𝜂𝑚𝑜𝑡𝑜𝑟 = rendimento do motor ciclo Otto (adimensional); e ∆𝑡𝑜𝑝 = tempo de operação do sistema (h ano-1). V. DISCUSSÃO Este trabalho baseia-se na premissa de caracterizar todo o empreendimento por meio de um consórcio ou de uma cooperativa, com o objetivo de enquadrar a geração de energia elétrica na REN 482/2012, para que os integrantes do empreendimento possam fazer uso da geração compartilhada, sendo “caracterizada pela reunião de consumidores, dentro da mesma área de concessão ou permissão”. [4] 4 de 6 Com base nisto, todos os dimensionamentos de geração de energia elétrica podem ser replicados, aumentando dessa forma a geração de energia elétrica local. Escolheu-se a cidade de Palmitinho, interior do estado do Rio Grande do Sul, por estar entre os 200 municípios que mais produzem suínos, conforme explica [10]. Para dimensionar o galpão que irá abrigar no mínimo 60 porcos, utilizou-se do site da Embrapa [11], para encontrar as dimensões mínimas para suportar os animais, e em posse dessas informações, calculou-se a área útil do telhado, com uma inclinação de 30°. Com base nas informações, dimensionou-se o telhado para suportar 130 módulos fotovoltaicos de 540 𝑊𝑝, mantendo uma distância entre as fileiras para possíveis manutenções e limpezas. Analisando o HSP da cidade, no site da CRESESB [12], constatou-se que irradiação solar igual a 1kW/m é equivalente a 4,66. Nesse sistema proposto, somente a geração solar é responsável por uma potência energética instalada de 70,20 kW, produzindo aproximadamente 272kWh ao dia. Na Tabela 2 é possível visualizar os custos totais da implementação de um sistema fotovoltaico. Tabela 2 Custo para se construir o sistema solar. Para o dimensionamento do biodigestor, utilizou-se como base o trabalho [8], onde foi utilizado 60 animais, produzindo um montante de 123kg de esterco suíno, com uma concentração de 20% de sólidos totais. Para reduzir a concentração, os autores utilizaram 184 litros de água, com Tempo de Retenção Hidráulica (TRH) de 50 dias, com uma capacidade de produzir 0,35m³ de biogás por kg de esterco. No estudo, os autores [8], utilizaram o biodigestor modelo indiano, além de trazer a Tabela 3, que foi adaptada para os valores de mercado atual. Com base nestas informações a produção de biogás diária é equivalente a aproximadamente 43m³. Se convertermos o biogás em gás metano, conforme explica [13], tem-se um total de metano produzido (m³) igual a 18,64. [13] explica ainda que a conversão de metano para eletricidade se dá pela multiplicação por 1,428, totalizando aproximadamente 26,62 kWh. Tabela 3 Custo para se construir o biodigestor modelo indiano. Fonte: adaptado de [8]. VI. CONCLUSÃO Neste trabalho, buscou-se compreender o dimensionamento dos sistemas híbridos compostos por solar e biomassa. Uma das vantagens encontradas nesse modelo de geração, é a fácil replicação em maiores escalas. Da mesma forma, a adaptação da quantidade de painéis solares, quantidade de suínos, estão interligadas, uma vez que estão conectadas, 5 de 6 aumentando a quantidade de suínos, terá mais espaço para placas solares, aumentando dessa forma a geração. Nesse trabalho, o foco não foi achar uma solução que irá enriquecer os agricultores, mas focar na redução de custos aliado em um aproveitamento consciente dos recursos, diminuindo desta forma, os impactos ambientais. Sendo uma das propostas no início do trabalho a criação de uma cooperativa ou de um consórcio, não nos limitamos a encontrar uma geração mínima, uma vez que, quanto mais conveniados ou sócios, maior será a demanda de geração. Analisando a viabilidade econômica desse modelo, percebe- se o bom proveito dos recursos, a um custo justificável, levando em torno de 3 anos e 9 meses para conseguir o retorno investido. REFERÊNCIAS [1] A. S. Sampaio, Planejamento da expansão de sistemas de distribuição de energia elétrica considerando a aplicação do Índice de aproveitamento de subestações, Campinas: PUC-Campinas, 2021. [2] ANEEL - Agência Nacional de Energia Elétrica, “PRORET - SUBMÓDULOS,” em Submódulo 2.3 Base de Remuneração Regulatória, 2015, p. 81. [3] C. LODI, PERSPECTIVAS PARA A GERAÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA NO BRASIL UTILIZANDO A TECNOLOGIA SOLAR TÉRMICA CONCENTRADA, Rio de Janeiro, RJ, 2011. [4] ANEEL - Agência Nacional de Energia Elétrica, RESOLUÇÃO NORMATIVA N° 482, 2012. [5] J. T. PINHO e M. A. GALDINO, “Manual de Engenharia para Sistemas Fotovoltaicos,” Março 2014. [Online]. Available: http://www.cresesb.cepel.br/publicacoes/downlo ad/Manual_de_Engenharia_FV_2014.pdf. [Acesso em 28 Setembro 2021]. [6] A. B. C. M. MIRANDA, ANÁLISE DE VIABILIDADE ECONÔMICA DE UM SISTEMA FOTOVOLTAICO, Rio de Janeiro, RJ, 2014. [7] C. P. d. SOUSA e T. A. S. FRANCO, “PROJETO E INSTALAÇÃO DE UM SISTEMA FOTOVOLTAICO,” Curitiba, 2018. [8] G. d. L. BONTURI e M. V. DIJK, “INSTALAÇÃO DE BIODIGESTORES EM PEQUENAS PROPRIEDADES RURAIS: ANÁLISE DE VANTAGENS SOCIOAMBIENTAIS.,” Revista Ciências do Ambiente On-Line, vol. 8, pp. 88-95, 2012. [9] D. A. GONZAGA e R. C. BARBOSA, “ESTIMATIVA DO TAMANHO MÍNIMO DE REBANHO SUÍNO PARA A IMPLEMENTAÇÃO DE SISTEMA DE GERAÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA DE 35 KWH, 150 KWH, 275 KWH E 590 KWH, USANDO BIOGÁS COMO COMBUSTÍVEL PARA GRUPOS GERADORES,” Revista Brasileira de Agropecuária Sustentável (RBAS), vol. 6, nº 2, pp. 26-32, 2016. [10] S. I. /. F. Oliva, “Suinocultura,” 02 Fevereiro 2017. [Online]. Available: https://www.suinoculturaindustrial.com.br/impr ensa/municipio-com-apenas-7-mil-habitantes- abate-mais-de-210-mil-suinos/20170201- 142310-x774. [Acesso em 15 Novembro 2021]. [11] J. A. FÁVERO, A. KUNZ, A. F. GIROTTO, C. J. MONTICELLI, J. D. KIRCH, J. V. LUDKE, N. MORÉS, P. G. d. Abreu e P. R. S. d. SILVEIRA, “Produção Suínos,” Embrapa, Julho 2003. [Online]. Available: http://www.cnpsa.embrapa.br/SP/suinos/constru cao.html. [Acesso em 15 11 2021]. [12] CRESESB - Centro de Referência para as Energias Solar e Eólica Sérgio de S. Brito, “CRESESB,” 25 Janeiro 2018. [Online]. 6 de 6 Available: http://www.cresesb.cepel.br.[Acesso em 15 Novembro 2021]. [13] D. REFOSCO, “UTILIZAÇÃO DE RESÍDUOS DA SUINOCULTURA PARA PRODUÇÃO DE ENERGIA ATRAVÉS DO BIOGÁS E FERTILIZANTES ORGÂNICOS ESTUDO DE CASO: GRANJA MARMENTINI - DOIS VIZINHOS - PR,” 30 Março 2011. [Online]. Available: https://lactec.org.br/dissertacoes/55- utilizacao-de-residuos-da-suinocultura-para- producao-de-energia-atraves-do-biogas-e- fertilizantes-organicos-estudo-de-caso-granja- marmentini-dois-vizinhos-pr/. [Acesso em 15 Novembro 2021].
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