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101 O n.° total de mortes por câncer situa-se atrás, somente das por doenças cardiovasculares. (Chemin) Compreendendo o que é o Câncer O câncer pode ser considerado como uma doença das células corpóreas, pois seu desenvolvimento envolve lesão ao DNA celular. Todas as células do organismo renovam-se, umas de maneira mais acelerada (tecidos de renovação celular acentuada – medula óssea, células da mucosa do TGI) outras de maneira mais lenta. Para que ocorra esta renovação, as células devem dividir-se e este processo é chamado de ciclo celular. Durante a fase S, uma cópia do material genético é produzida; na fase M, ocorre a divisão celular propriamente dita, em os componentes celulares são divididos em 02 células filhas; e as fases G1 e G2 são chamadas de gaps e constituem períodos intermediários onde a célula se prepara para concluir as outras duas fases S e M. Fases do ciclo Celular O ciclo celular da célula normal possui vários pontos de checagem e mecanismos de conferência para impedir que os carcinógenos danifiquem o DNA e resulte em doenças como o câncer. No câncer, normalmente estes mecanismos estão danificados o que gera formação de células alteradas ou oncológicas. A carcinogênese é descrita em 03 fases progressivas: 1. Início quando ocorre a mutação do DNA; 2. Promoção as células iniciadoras (mutadas) multiplicam-se formando um tumor isolado. As células podem permanecer dormentes por um período variável até que sejam ativadas por um agente promotor. 3. Progressão formação de uma neoplasia maligna com capacidade de invadir tecidos e criar metástases. Fases da Carcinogênese Nutrição na Etiologia do Câncer Grande parte dos cânceres relacionam-se a fatores ambientais, incluindo aí a exposição ambiental, estilo de vida e a dieta. A complexidade da dieta apresenta difícil desafio em estabelecer esta relação, pois a mesma pode possuir tanto inibidores quanto intensificadores da carcinogênese. Os agentes cancerígenos podem ser: (Chemin) - químicos (níquel, benzopireno), - biológicos (vírus), - físicos (radiações ionizantes e raios ultravioleta) e - genéticos - são mais relacionados à ocorrência de câncer na infância. Os fatores ambientais como tabagismo, alcoolismo, exposição ao sol, aumento da ingestão de gordura, infecção por papilomavírus, uso crônico de estrógenos e obesidade são mais relacionados aos cânceres do adulto. (Chemin) No quadro abaixo, são colocadas as recomendações da Organização Mundial da Saúde para a redução do risco de Câncer (Chemin) Evitar ganho de peso (Chemin- evitar ganho > 5kg na idade adulta) e aumento da circunferência da cintura) Manter-se fisicamente ativo como parte da rotina diária Chemin – manter atividade física regular em mais dias da semana, mais de 60min/dia com moderada intensidade. Atividades mais vigorosas como caminhada rápida, podem trazer benefícios adicionais na prevenção do câncer Consumir bebidas alcoólicas não é recomendado. Chemin - Porém, se consumir, não deve exceder o equivalente 10g de álcool (01 copo de cerveja ou vinho) Os alimentos conservados em sal e o sal devem ser consumidos moderadamente Diminuir a exposição a aflatoxina dos alimentos Ter uma dieta que inclua pelo menos 400g/dia de frutas, legumes e verduras Moderar o consumo de carnes vermelhas e embutidos (salsicha, salame, bacon, presunto) Não consumir bebidas em temperatura muito altas As necessidades nutricionais devem ser alcançadas pela alimentação. Suplementos alimentares não são recomendadas para prevenção do câncer Amamentar exclusivamente as crianças com leite materno até os 6m de vida CÂNCER Prof. Cristina Fajardo Diestel cristinadiestel@nutmed.com.br Carcinógenos Radiação Luz ultravioleta Radicais livres 319 Efeitos Nutricionais do Câncer A nutrição é adversamente afetada, tanto pelo câncer quanto pela modalidade de tratamento prescrita (cirurgia, quimioterapia e radioterapia). Caquexia Caquexia pode ser definida como uma síndrome multifatorial caracterizada pela perda de massa muscular (com ou sem perda de tecido adiposo), que não pode ser revertida com suporte nutricional convencional e acarreta progressiva disfunção orgânica. A fisiopatologia é caracterizada por balanço nitrogenado e proteico negativo, associado a redução da ingestão alimentar. Outra definição para caquexia colocada no Dan (Evans et al, 2008) aborda a perda de peso ≤5% nos últimos 12 meses associado com três dos seguintes itens: redução da força muscular, fadiga, anorexia, baixo índice de massa livre de gordura, aumento de marcadores inflamatórios (PCR>5mg/L) ou interleucina 6 (>4pg/ml), anemia (Hb<12g/dl) ou baixa albumina (<3,2g/dL). Segundo Dan, o grupo de estudo da caquexia do câncer (Cancer Cachexia Study Group – CSGC) sugeriu aplicar três critérios diagnósticos para caquexia, perda da peso ≥10%, consumo ≤ 1500kcal/dia e proteína C reativa ≥ 10mg, incorporando os sinais de inflamação relacionadas o processo de depleção. A caquexia no câncer está presente em 30-50% dos pacientes e manifesta-se com as seguintes alterações clínicas: - perda progressiva de peso, - perda tecido gorduroso, - atrofia de musculatura esquelética, - anorexia, - astenia, - anemia, - anergia e - anormalidades do metabolismo de proteínas, gordura e de carboidratos. A caquexia pode ser dividida em 3 diferentes fases conforme quadro abaixo. Pode-se observar também as diferenças entre fome e caquexia. O consenso Europeu adicionou conceitos importantes como a definição de sarcopenia, elemento que faz parte da caquexia, como uma síndrome caracterizada pela perda progressiva e generalizada de massa muscular esquelética e força, que traz como consequência a piora da funcionalidade física, da qualidade de vida e a morte. Ela pode ser definida como um índice de músculo esquelético (SMI) medida por tomografia a nível de 3 ª vértebra lombar ≤ 39cm²/m² para mulheres e ≤ 55cm²/m² para homens, juntamente com uma perda da força muscular e tem sido associada a perda do status funcional, maior risco de toxicidade da quimioterapia e menor sobrevida em pacientes com câncer. Existem quatro grandes mecanismos que podem justificar a desnutrição em câncer: baixa oferta de energia e nutrientes, alteração na digestão/absorção de nutrientes, aumento das necessidades nutricionais e alteração no metabolismo dos nutrientes. O desenvolvimento e progressão da caquexia do câncer envolvem fatores relacionados envolvidos em fatores relacionados ao hospedeiro e à célula cancerígena. Os fatores relacionados ao hospedeiro incluem a reação orgânica ao trauma, reação inflamatória com liberação de citocinas pró inflamatórias (IL-1, IL-6, interferon- e TNF- ou caquetina), que induzem à alterações metabólicas e 319 consumpção no hospedeiro do tumor, aumento do gasto energético e redução da ingestão alimentar. Os fatores relacionados à célula cancerígena incluem a liberação de substância catabólicas e priorização dos substratos energéticos e proteicos para o crescimento celular. Fatores que contribuem para a caquexia do câncer Redução da ingestão alimentar - Anorexia - Náuseas e vômitos - Alteração do paladar e olfato Efeito local do tumor - Odinofagia, disfagia - Saciedade precoce - Obstrução gástrica, intestinal - Má absorção Alteração do metabolismo dos macronutrientes Citoquinas Efeitos do tratamento do câncer - Cirurgia Mastigação alterada Síndromes pós-gastrectomias Insuficiência pancreática Estenose de anastomose - Quimioterapia Náuseas e vômitos Alteração do gosto e do olfato Estomatite e mucosite Diarréia - Radioterapia Anorexia e náuseas Alterações do gosto e do olfato Xerostomia e mucosite Lesão da mucosa gastrointestinal Estenoses tardia Psicossocial Depressão Ansiedade Aversão alimentar Em câncer, o estado de inflamação é influenciado por vários mecanismos. O papel principal é desempenhado pelo tumor e por células do sistema imunológico responsáveis pela liberação de citocinas, quimiocinas e outros mediadores inflamatórios. Embora o tumor seja principalmente responsável pela ativação de células do sistemaimunológico, o intestino parece ter um papel nesse processo, posto que a disfunção da barreira intestinal e a translocação bacteriana estão associadas com o câncer. Metabolismo de Energia Os pacientes com câncer podem ter um gasto energético, reduzido, normal ou aumentado dependendo do tipo de neoplasia. Sugere-se que o hipermetabolismo possa acontecer em pacientes com maior duração de doença. Metabolismo de Substratos – o metabolismo de todos os substratos está alterado pelo crescimento tumoral. Carboidratos: Alta utilização de glicose pelo tumor (10-50X mais que nas células normais). Símbolo de malignização, sinal de Warburg. Alta taxa de glicólise anaeróbica na célula tumoral produção de lactato. Alterações genéticas das células transformadas permitem a expressão da enzima lactato desidrogenase, o qual desvia o metabolismo para a produção de lactato e regeneração do NAD (nicotinamida adenina dinucleotídeo) em condições de hipóxia (mas ocorre, mesmo na presença de oxigênio nas células tumorais). (Fig. 01) Atividade do Ciclo de Cori para fazer gliconeogênese a partir da captação das altas taxas de lactato sérico – Ciclo de cori é considerado ciclo fútil por ser energicamente ineficiente e contribuir parcialmente para o aumento do gasto energético. Aumento da produção de glicose gliconeogênese; Aumento intenso do tournover da glicose; Pode ocorrer um estado relativo de resistência à insulina, caracterizado pelo excesso de oxidação gordurosa e da captação e uso da glicose, especialmente nos músculos (intolerância a glicose) Dan – Alterações no metabolismo dos carboidratos - informações adicionais - O aumento da taxa de captação de glicose pelas células tumorais está diretamente relacionado ao grau de malignidade e poder de invasão celular do câncer. A alta taxa de glicólise anaeróbica está associada a ativação de oncogenes e perda da expressão de genes supressores de tumor. - Priorização do uso da glicose para processos anabólicos (síntese de nucleotídeos, RNA e DNA) em detrimento de reações oxidativas para obtenção de energia e síntese de lipídios e proteínas; - Superexpressão do fator induzido por hipóxia (HIF-1) devido à hipóxia intratumoral, relacionada com o aumento da gliconeogênese e proliferação das células neoplásicas. Utilização de glicose pela célula normal e pela célula turmoral Proteínas: Proteólise, com utilização de aminoácidos para gliconeogênese - principal degradação de proteína miofibrilares fornecendo alanina e glutamina; Perda muscular esquelética serve, principalmente, para fornecer aminoácidos para gliconeogênese e para a síntese de proteínas de fase aguda. Perda muscular visceral com atrofia de órgãos e hipoalbuminemia também podem ocorrer; Inadequado na dinâmica de proteínas; Síntese de proteínas hepáticas (de fase aguda); Produção tumoral do Fator Indutor de Proteólise (PIF) que induz diretamente a degradação protéica no músculo por ativação da via proteolítica dependente de ubiqüitina (com gasto de ATP) e inibe a síntese de proteínas. 320 PIF - está presente na urina de pacientes caquéticos mas não em pacientes com perda de peso devido à trauma, cirurgia e sepse ou mesmo em pacientes oncológicos com manutenção do peso corporal. A ubiqüitina age como sinalizadora das proteínas intracelulares que serão degradadas pelo complexo enzimático Proteasoma 26S. A inibição da síntese de proteínas pode contribuir para o aumento do catabolismo muscular A glutamina é um aminoácido muito utilizado pela célula tumoral. O nitrogênio proveniente da glutamina é usado nos passos inicias da biossíntese de novo de bases púricas e pirimídicas. Atualmente, também o metabolismo da arginina tem atraído atenção. As enzimas que metabolizam a arginina como arginase e óxido nítrico sintase também estão mais expressas no tumor, de acordo com o tipo e o estágio do câncer, especialmente no caso da arginase. O aumento da atividade da arginase na célula cancerígena está associado ao aumento da síntese de poliaminas, que são essenciais para a proliferação celular. Na célula cancerígenas, o óxido nítrico pode suprimir ou estimular o crescimento tumoral e isso depende da dose, tempo de exposição e da sensibilidade da célula ao óxido nítrico. Embora se acredite que o sistema ubiquitina proteasoma seja o principal processo catabólica na caquexia do câncer, a autofagia e o sistema de calpaínas também são reconhecidos. Autofagia é um mecanismo homeostático para degradação dos constituintes celulares ativados no estresse ou em condições catabólicas, incluindo câncer. Lipídios: Diminuição da lipogênese e aumento da lipólise para fornecer substratos para a gliconeogênese – estes são estimulados pela ação das citocinas catabólicas na presença do tumor e produção de fator mobilizador de lipídios pela célula tumoral Produção tumoral de Fator Mobilizador de Lipídios (FML) - uma substância produzida por alguns tipos de tumores e encontra-se ausente em pessoas normais. A presença desta substância está associada a intensa atividade lipolítica encontrada em pacientes portadores de tumor, com perda de tecido adiposo desencadeando a lipólise através do estimulo da adenilato ciclase em processo dependente de trifosfato de guanosina (GTP), de maneira homóloga aos hormônios lipolíticos. Aumento da oxidação de ácidos graxos e também dos níveis de AG plasmáticos; Decréscimo da lipogênese e do clareamento plasmático pela reduzida ação da lípase lipoproteíca (LPL), que normalmente colabora com o quadro de caquexia e hiperlipidemia; Menor utilização de ácidos graxos para síntese de energia em relação á glicose na célula neoplásica Menor incorporação de ácidos graxos poliinsaturados, modificando a fluidez e a peroxidação lipídica na membrana de células transformadas de alguns tumores de crescimento rápido Utilização de eicosanóides do metabolismo dos ácidos graxos poliinsaturados da família ômega 6 para angiogênese. A expressão de ciclooxigenase tipo 2 está aumentada em células pré-malignas e malignas e a produção de prostraglandinas e tromboxanos também pode influenciar o crescimento tumoral. A PGE2 tem um papel importante nessa promoção do crescimento tumoral. Dan - Alterações no metabolismo dos lipídios - informações adicionais - Aumento plasmático de colesterol VLDL e HDL e também aumento do tournover de ácidos graxos livres e glicerol. - Fator de necrose tumoral e interleucina 6 são mediadores citocínicos das perdas teciduais na caquexia e podem inibir a atividade da LPL. - FML pode ser responsável pela diminuição de gordura corpórea e pelo aumento do gasto energético, porém não pela anorexia. - AG provenientes da lipólise podem ser utilizados por diferentes vias: síntese de energia incluindo ciclos metabólicos fúteis e reação de betaoxidação na mitocôndria, síntese de fosfolipídios utilizados na composição da membrana celular e síntese de eicosanóides que são mediadores inflamatórios e na produção de calor no tecido adiposo marrom e no músculo esquelético. Segundo Dan, as principais alterações metabólicas no paciente com câncer são: estimulo à gliconeogênese a partir do lactato, aumento da captação de glicose pelas células tumorais e mobilização das reservas orgânicas. Alterações Sensoriais: São comuns as alterações de paladar e olfato, contribuindo para a anorexia, comumente observada nestes pacientes. As alterações observadas no paladar são devidas a própria doença, a determinados agentes de rádio e quimioterapia e as cirurgia de cabeça e pescoço. As alterações observadas no paladar são: Limiar para doce, azedo e sal; Limiar para amargo. Os pacientes podem também experimentar intensificação no sentido do olfato, resultando em sensibilidade a odores na preparação dos alimentos, assim como aversão a itens não alimentares como sabonetes e perfumes. Intervenções que diminuam o aroma dos alimentos tais como servi-los frios ao invés de quentes podem ser úteis. Citocinas São pequenas glicoproteínas solúveis produzidas predominantemente porcélulas inflamatórias que funcionam como mediadores ou como intercomunicadores intercelulares; ou seja; alterando as propriedades e o comportamento de outras células. Diversas citocinas são consideradas como mediadoras do processo caquético como: fator de necrose tumoral (TNF-), interferon gama (INF-), interleucina 6 (IL-6), interleucina 1 (IL-1) e fator transformante de crescimento beta (TGF-β). Essas moléculas podem influenciar diretamente o metabolismo através de alterações nas concentrações plasmáticas de hormônios contra-regulatórios. As citocinas possuem atividades metabólicas que se sobrepõem, o que torna possível que nenhuma substância isolada seja a única causa de caquexia do câncer. No quadro abaixo podem ser observadas as alterações estimuladas pelas citocinas. 318 O TNF-α exerce efeitos catabólicos em parte mediados pelo efeito de transcrição NF-kB, aumentando a gliconeogênese, proteólise e lipólise, diminuindo a síntese de proteínas, lipídios e glicogênio e estimulando a expressão das proteínas de desacoplamento UCP2 e UCP3 no músculo esquelético caquético. Além disso, o TNF- α em combinação com o IFN-γ mediado por NF-kB baixo regulam o fator de transcrição músculo-específico MyoDm promovendo assim a perda e influenciando o metabolismo muscular. A IL-1 mostra efeito semelhante ao TNF- α pelo qual é estimulada. A IL-1 aumenta os níveis de triptofano e serotonina, assim influenciando o apetite e determinando a saciedade precoce e a anorexia, é a citocina anorexígena mais potente. Níveis de IL-6 circulante se correlacionam com a perda de peso em pacientes com câncer e influenciam a sobrevida em uma variedade de tipos de câncer. Disfunção da mitocôndria é um evento precoce em câncer induzido por gasto muscular, determinando maior estresse oxidativo, debilitação dos sistemas de controle de qualidade da proteína. Aumento na suscetibilidade a mitofagia e a apoptose, todas as funções que estão relacionadas a disfunção contrátil. A regulação das UCPs está associada a um aumento do GEB e pode contribuir para a perda muscular durante a caquexia do câncer. A melhor maneira de impedir ou reverter a progressiva desnutrição da moléstia maligna é o adequado tratamento do câncer. O tratamento da massa tumoral e, portanto, da causa básica de desnutrição, cria condições para o bom aproveitamento dos nutrientes ofertados, uma vez que as alterações metabólicas são pouco responsivas à abordagem nutricional. Desregulação Hormonal do Controle da Alimentação Eixo Hipotálamo-pituitário-cortical Em pacientes com câncer, o estresse e a dor são estímulos freqüentes e persistentes ao eixo neuroendócrino, que se mantém em estado permanente de excitação. Esta ativação neuro-hormonal prolongada contribui para a manutenção de condição similar a fase aguda do estresse, do catabolismo e da caquexia. - Triptofano e serotonina um dos mecanismos associados ao processo de caquexia é o setoninérgico. A serotonina tem papel importante no processo normal de controle da alimentação. O triptofano, precursor da setononina está envolvido no mecanismo da saciedade. Em pacientes com anorexia relacionada ao câncer a relação serotonina:dopamina encontra-se aumentada na região do hipotálamo. Porém o uso de antidepressivos e inibidores de serotonina ainda tem ação não definida, sendo necessários maiores estudos. - Leptina a leptina é um peptídeo secretado pelo tecido adiposo com estrutura semelhante às citocinas IL-6 e IL-1. A leptina inibe a ingestão e aumenta o gasto energético através de uma atuação envolvendo o hipotálamo, ativando circuitos catabólicos e inibindo circuitos anabólicos. Assim, baixos níveis de leptina cerebral estimulam o apetite e reduzem o GE, enquanto altos níveis de leptina reduzem o apetite e aumentam o GE. A leptina faz ainda parte do desencadeamento da resposta adaptativa do jejum. Em pacientes com câncer, elevados níveis de citocinas podem produzir uma inibição da ingestão de alimentos, através do aumento do nível de leptina ou e/ou através da simulação do efeito hipotalâmico do feedback negativo, sinalizador de leptina, conduzindo a uma prevenção do mecanismo compensatório normal perante a diminuição da ingestão de alimentos e peso corporal. A persistência da anorexia em pacientes oncológicos sugere uma redução da resposta adaptativa ao apetite. - Neuropeptídeo Y é um peptídeo com 36 aminoácidos, secretado pelo hipotálamo e abundante no cérebro – é o mais potente estimulador do apetite conhecido, além de diminuir o GE e aumentar a lipogênese, promovendo um estado de balanço energético positivo e aumento da reserva de gordura. Estimula o apetite por conta própria e também por estimular a liberação de outros peptídeos orexídenos como a insulina, a galanina, peptídios opióides, hormônio concentrador de melanina, orexina e peptídieo agoutiassociado. É possível que no câncer, citocinas envolvidas na modulação de peptídios promotores do apetite influenciem negativamente na regulação da ação orexígena do NPY. - Melanocortina compreende uma família de peptídeos reguladores incluindo o hormônio adrenocorticotrópico (ACTH) e o hormônio melanócito (MSH). Este grupo de peptídeos e seus receptores auxiliam na regulação do apetite e da temperatura corporal, sendo também importante para a memória, bem-estar e sistema imune. Possuem efeito oposto ao do neuropeptídeo Y, ou seja, promovem balanço energético negativo. Com a progressiva perda de peso, deveria ocorrer uma queda no sistema anorexígeno sinalizador de melanocortina, como uma alternativa para preservar o estoque de energia, porém, no câncer este sistema permanece ativo contribuindo para o desenvolvimento da caquexia. - Grelina é um ligante endógeno do receptor do hormônio do crescimento (GH) e um potente estimulador da secreção de GH. É um hormônio peptídeos secretado pelas células epiteliais do fundo do estômago. As 319 concentrações de grelina aumentam no jejum e diminuem após a ingestão alimentar, o que parece uma regulação negativa com a leptina e a insulina, outros importantes reguladores da massa corporal gordurosa. No entanto, em pacientes com a síndrome anorexia-caquexia, a grelina pode estar diminuída. Efeitos Nutricionais da Terapia do Câncer A terapia anti-tumoral envolve químio e radioterapia, cirurgia, imunoterapia ou uma combinação destas. A resposta ao tratamento é documentada como completa, parcial, estável ou progressiva. A resposta ao tratamento do câncer é definida como resposta completa ou parcial (melhoria), doença estável ou progressão da doença (piora). Os tratamentos podem ser considerados curativos, neoadjuvante (antes da ciururgia), adjuvante (após a cirurgia) ou paliativo. Quimioterapia É o uso de medicações para tratar o câncer. A maioria das drogas é citotóxica, mata as células impedindo a formação de um novo DNA, bloqueando funções essenciais da célula ou induzindo à apoptose. Enquanto a radioterapia e a cirurgia são utilizadas para tratar tumores localizados, a quimioterapia é uma terapia sistêmica que afeta o corpo todo (não só nas células tumorais, mas também nas células normais). Efeitos colaterais comuns da quimioterapia: mielossupressão anormalidades do paladar mucosite, queilose, glossite, estomatite e esofagite diarréia e má-absorção decorrente da toxicidade GI constipação (Dan) náuseas/vômitos e anorexia geralmente, auto- limitados anemia função imunológica deprimida Como existe mielossupressão, a gravidade desta e da neutropenia podem ser fatores limitantes para a administração de quimioterápicos. Devido a isto também, a contagem total linfocitária não reflete adequadamente o estado nutricional. Segundo Dan, quando ocorre neutropenia febril com temperatura corpórea 39ºC ocorre elevação da TMB em 25%. Radioterapia Os efeitos colaterais da radioterapia dependem do local de tratamento. Células saudáveis que estão próximas ao câncer podem ser afetadas pelo tratamento radioterápico ocasionando efeitos adversos. Tais efeitos dependem da dose de radiação e da porçãodo corpo que está sendo tratada. Quando usada sozinha (sem combinação com quimioterapia), os efeitos colaterais da radioterapia geralmente começam ao redor da 2ª ou 3ª semana (segundo Chemin, na 3ª semana) de tratamento e, normalmente, se resolvem em 02 a 04 semanas (segundo Chemin, algumas semanas) após a radioterapia ter sido completada. Seus efeitos colaterais podem se resolver ou podem ocorrer várias semanas, meses ou até anos após o tratamento. Independente da área que está sendo irradiada, os sintomas de impacto nutricional comumente experimentados são fadiga, perda de peso e apetite, alterações cutâneas e alopecia na área que está sendo tratada. A irradiação corporal total usada nos protocolos de transplante de medula óssea pode levar a todos os sintomas descritos abaixo: Efeitos colaterais comuns: Sistema nervoso central: - Efeitos agudos: náuseas, vômitos, hiperglicemia (causada pela administração de corticóide), fadiga e perda de apetite; - Efeitos tardios (> 90 dias após o tratamento): cefaléia e letargia. Cabeça e pescoço: - Efeitos agudos: inflamação e sensibilidade na boca e garganta, mucosite, xerostomia (boca seca), destruição da gengiva e dentes, cárie dental, alterações no paladar e olfato, disfagia, odinofagia, anorexia, fadiga e perda de peso. Além destes efeitos Chemin cita ainda anorexia e espasmos na mandíbula e maxilar; - Efeitos tardios (> 90 dias após o término do tratamento): osteorradionecrose (necrose dos tecidos moles após radioterapia em altas doses), trismo (constrição dos maxilares), mucosas (atrofia e secura, além de ulceração), xerostomia e fibrose das glândulas salivares, alteração do paladar e olfato. Tórax: - Efeitos agudos: azia e esofagite aguda caracterizada por disfagia e odinofagia, fadiga e perda de peso. Chemin /Dan colocam ainda outros efeitos colaterais como infecção no esôfago, refluxo gastro-esofágico, náuseas e vômitos. - Efeitos tardios (> 90 dias após o término do tratamento): pode ocorrer fibrose e estenose do esôfago, levando a obstrução. Com relação ao coração pode ocorrer angina de esforço, pericardite e cardiomegalia e com relação ao pulmão, tosse seca e fibrose e pneumonia. Abdome: - Efeitos agudos: gastrite ou colite/enterite com náuseas e vômitos, diarréia, anorexia, lesões graves podem levar à má-absorção (diarréia, cólicas, timpanismo e gases), alteração da função urinária (freqüência aumentada, sensação de queimação à micção), intolerância à lactose, fadiga e perda de apetite. - Efeitos tardios (> 90 dias após o término do tratamento): diarréia, má-absorção, má digestão, colite ou enterite crônica, estreitamento, ulceração, obstrução, perfuração ou fístula intestinal, hematúria e cistite. Cirurgia É a terapia primária nos cânceres do TGI e pode se combinar com radioterapia ou quimioterapia pré e/ou pós- operatória. Após a cirurgia, são necessárias energia e proteína adicionais para cicatrização. São sintomas comuns de impacto nutricional a fadiga, dor, perda de apetite e alterações na alimentação normal. 320 Cirurgia de cabeça e pescoço – no pré-operatório há dificuldade de ingestão por conta da massa tumoral. No pós-operatório o paciente depende temporária ou permanentemente de uma sonda de alimentação. Ao reassumir a via oral, se isso for possível, pode haver problemas com a disfagia. Um dos problemas da dissecção do pescoço é a fístula quilosa causada por lesão do ducto torácico quando este entra na veia subclávia, para isto é necessária uma dieta hipolipídica com uso de TCM. Outros efeitos colaterais que podem ocorrer são: aspiração crônica, dificuldade de mastigação e deglutição, disgeusia, odinofagia e alterações vocais. Cirurgia esofágica – nas esofagectomias parciais ou totais, geralmente o estômago é utilizado para reconstrução. É necessário no pós-operatório, o uso de uma sonda nasojejunal ou jejunostomia para NE precoce. Há benefício do uso de dieta enriquecida com glutamina para melhorar a cicatrização. Os efeitos colaterais que podem surgir são: diarréia, estase gástrica (gastroparesia), esteatorréia, hipocloridria, regurgitação, síndrome de Dumping, saciedade precoce e desequilíbrios de líquidos e eletrólitos. No pós-operatório, os pacientes se beneficiam de uma dieta fracionada, em pequenos volumes, de alta densidade calórica e com pouca gordura. Cirurgia Pancreática – quando 70% do órgão é removido é necessária a terapia insulínica e dieta controlada em carboidratos. Quando mais de 90% daglândula é removida é necessária reposição de enzimas digestivas associada a uma dieta hipolipídica. Gastrectomias – nas gastrectomias totais também é necessário no pós-operatório, o uso de uma sonda nasojejunal ou jejunostomia para NE precoce no pós- operatório. No pós-operatório tardio, pode haver intolerância a gordura devido à ruptura dos nervos vagos. As principais deficiências nutricionais das gastrectomias são a de ferro (acloridria) e folato que podem levar a anemia. Também pode ocorrer deficiência de vitamina B12. O paciente também pode beneficiar-se do consumo de 6 a 8 refeições pequenas e freqüentes. - Síndrome de dumping pode ocorrer após gastrectomias subtotais ou totais e é causada pelo trânsito rápido de alimentos e líquidos (ricos em carboidratos, principalmente) e da resposta dilucional do pequeno remanescente à alimentação em um bolo alimentar osmótico. Cirurgia colônicas – as colectomias parciais e totais podem levar a perdas de líquidos e de eletrólitos, porém a gravidade depende da extensão da ressecção. Cirurgias intestino delgado – as ressecções ileais de apenas 15 cm do íleo terminal podem ocasionar a perda de sais biliares que excede a capacidade de ressíntese e pode gerar má absorção de vitamina B12. Pode ocorrer também esteatorréia. O carbonato de cálcio pode ser administrado para minimizar a absorção de oxalato. A dieta a ser prescrita deve ser pobre em gordura, osmolaridade, lactose e oxalato. Imunoterapia É o uso de substâncias produzidas por clonagem ou engenharia genética (interferon, interleucina) no tratamento do câncer. Agem diretamente, como agentes citotóxicos ou indiretamente como estimulantes das defesas do paciente. Os pacientes que usam podem experimentar fadiga, calafrios, febre e sintomas semelhantes ao da gripe que levam a uma diminuição da ingestão alimentar e aumentam as necessidades energéticos e protéicas. Outros efeitos colaterais incluem: anorexia, diarréia, edema, estomatite, náuseas, vômitos, perversão do gosto (alteração do paladar), emagrecimento. Hormonioterapia É o uso de hormônios ou análogos dos mesmos (andrógenos, estrógenos, progestinas) no tratamento do câncer. Efeitos colaterais: anorexia, anemia, aumento do apetite, edema, glossite, náusea, vômitos, retenção de fluídos, ganho de peso e, por último, diarréia. Cuidado Nutricional no Paciente com Câncer É extremamente importante a detecção precoce da desnutrição e/ou risco nutricional para adequada intervenção. Mesmo para oncologistas não familiarizados com avaliação nutricional, a determinação de fatores como local do tumor, performance status e a presença de alguns sintomas (anorexia/fadiga) deve alertá-los sobre a condição de prejuízo do estado nutricional e a necessidade de um suporte precoce. Avaliação Nutricional no Paciente Oncológico A avaliação de pacientes hospitalizados, especialmente com câncer é complexa devido a vários fatores relacionados ao tumor e ao tratamento que podem interferir tanto em parâmetros antropométricos quanto em bioquímicos. A perda de peso em pacientes oncológicos (a base de massa corporal magra) é um sinal preocupante, sendo um fator de risco primário nutricional em pacientes com câncer, provocando aumento das complicações e diminuição do tempo de sobrevida. Frequentemente, a perda de peso não intencional é o primeiro sintoma e precede o diagnóstico. A síntese de albumina pode encontra-se diminuída. Em 2006, a ESPEN no guideline de terapia nutricional para o paciente oncológico cirúrgico, classificou como o paciente com desnutrição graveaquele que apresentasse perda de peso corporal > 10%, IMC < 18,5kg/m², ASG igual a grau C e albumina menor que 3g/dl sem evidência de doença renal ou hepática. O Consenso na Sociedade Norte Americana de Cirurgiões publicado em 2013 recomenda que a triagem nutricional seja realizada rotineiramente como parte da avaliação pré-operatória para qualquer paciente candidato a cirurgia de grande porte. Para isso, recomenda-se a avaliação dos seguintes parâmetros: albumina sérica (risco elevado quando <3g/dl), IMC (risco elevado se <18,5kg/m²), percentual de peso corporal aual em relação ao ideal (risco elevado <90%), perda de peso atual em relação ao habitual (risco elevado para perda >5% em um mês, 7,5% em 3 meses e 10% em 6 meses). Triagem Nutricional A triagem de risco nutricional e a avaliação da condição nutricional devem ser realizadas dentro das primeiras 48h da admissão. No ambulatório, o paciente sem risco nutricional deve ser retriado e avaliado a cada 30 dias e o indivíduo que apresenta risco nutricional em até 15 dias. 321 A terapia nutricional deve ser iniciada dentro de 24h após o diagnóstico de desnutrição ou risco nutricional. Avaliação Antropométrica Realizada por métodos convencionais. A perda de peso tem importante valor clínico na avaliação do estado nutricional do paciente oncológico. Perda de peso maior que 10% pode estar presente em até 45% dos pacientes adultos hospitalizados com câncer. O uso da antropometria, sobretudo nos pacientes em cuidados paliativos, apresenta algumas desvantagens em razão das frequentes variações no estado de hidratação. Essas alterações podem ser decorrentes de desiquilíbrios hidroeletrolíticos, hipoalbuminemia, presença de edema, linfedema, ascite, uso de medicamentos como corticosteroides, ou ainda alterações corporais provocadas pela presença de metástases e do crescimento tumoral extenso. Composição Corpórea A utilização de bioimpedância para avaliação nutricional de pacientes com câncer demonstra sensibilidade na identificação de desnutrição com alteração no conteúdo de massa extracelular e intracelular mesmo quando os índices antropométricos ainda se encontram dentro dos parâmetros de normalidade. O ângulo de fase é um marcador importante de prognóstico. Nos últimos anos, a avaliação qualitativa e funcional da massa muscular obtém maior atenção do que a avaliação quantitativa. Embora a massa muscular possa ser preservada, os músculos podem demonstrar disfunção significativa. Imparidade de qualidade muscular inclui envelhecimento muscular, transtornos metabólicos, degeneração miofibrilares e infiltração adiposa. A partir dessa consideração surge o conceito de sarcopenia, definida como o declínio do músculo esquelético mais força muscular baixa e/ou desemprenho físico prejudicado. Por outro lado, a qualidade muscular pode ser avaliada tendo em conta as funções musculares principais: força, potência e desempenho. No quadro abaixo pode-se observar os pontos de corte para massa muscular baixa: A força muscular é definida como a força física (p.ex isométrica, concêntrica, excêntrica) que um músculo pode exercer em partes específicas do corpo; pode ser avaliada rotineiramente por dinamometria (ou seja, força da pressão muscular da mão). Força muscular é o produto do funcionamento entre a força e a distância percorrida na unidade de tempo; isso pode ser avaliado pelo aumento de cadeira ou pelo teste do Poder de Subir Escadas (do inglês Star Climb Power – SCP). Além disso, o parâmetro mais relevante para o desempenho do músculoé clinicamente representado pelo desempenho físico, definido como o grau em que o organismo é capaz de realizar tarefas físicas específicas e independentes, e pode ser avaliado pela Bateria de Desempenho Físico Curto (SPPB), pelo Teste Timed-Get-Up-and-Go (TGUG) e por testes de velocidade na marcha (p.ex. teste de caminhada de 6 minutos – 6MWT). Entretanto, os testes mais recomendados na prática clínica são a força muscular do parteo de mão e a marcha- teste de velocidade, uma vez que são confiáveis, reprodutíveis, exatos e fáceis de executar. A velocidade da marcha <0,8m/s identifica pacientes com desempenho funcional prejudicado, enquanto a dinamometria não te ainda valores de referência-padrão disponíveis. Considerando-se essa questão, a dinamometria pode levar a interpretações enganosas, sendo mais útil no monitoramento do tratamento do que no diagnóstico. Exames Laboratoriais Além das tradicionais dosagens das proteínas plasmáticas já estudadas em avaliação nutricional, podemos ainda citar a utilização da hemoglobina e do hematócrito. Hemoglobina proteína de transformação metabólica muito lenta e sua depleção ocorre mais tardiamente na deficiência de proteína. É um índice sensível, mas pouco específico de desnutrição, podendo alterar-se nas seguintes condições: perda sangüínea, estados de diluição sérica e transfusões sangüíneas. Hematócrito baixos níveis se correlacionam com a ocorrência de anemia. A elevação acima dos valores normais pode ser decorrente do aumento do número de hemácias ou da diminuição do volume plasmático como ocorre nas desidratações, no choque e nas queimaduras. A tabela abaixo mostra os valores de hemoglobina e hematócrito para avaliação do estado nutricional no paciente oncológico. Pacientes com câncer estão em estado crônico de inflamação. O escore prognóstico de Glasgow (GPS) tem sido usado para classificar o grau de inflamação baseados nos níveis de proteína C reativa e albumina, assim, pode 319 ser um método útil para diagnóstico nutricional, pois a inflamação é um dos fatores que contribui para a caquexia do câncer. A combinação de hipoalbuminemia (≤3,5g/dl) e proteína C reativa elevada (≥10mg/L), denominada escore prognóstico de Glasgow é calculado da seguinte forma: escore 0 é atribuído para níveis normais de PCR e albumina, 1 para níveis alterados de PCR (≥10mg/dl) ou de albumina (≤3,5g/dl) e 2 para níveis elevados de PCR e hipoalbuminemia. Um marcador de inflamação subclínica Neutrophil to Lymphocyte ratio (NLR) tem sido validado em diversos tumores. Quando o NLR está elevado, observam-se menores valores de massa muscular e pior prognóstico. Avaliação Subjetiva global do Estado nutricional produzida pelo paciente – ASG-PPP (Chemin e Dan) Compreende um questionário dividido em 2 etapas. A primeira é respondida pelo paciente, com perguntas sobre a mudança de peso, ingestão alimentar, sintomas e capacidade funcional. A segunda parte da avaliação é realizada pelo profissional de saúde como médico, nutricionista e enfermeiro e consiste no exame físico, e na avaliação de possíveis fatores que aumentar a demanda metabólica como febre, estresse, depressão, fadiga, estadiamento do tumor e tratamento clínico. A pontuação é obtida pela soma das duas partes de avaliação. Veja o questionário nas próximas páginas. A AGS-PPP é o método padrão de avaliação nutricional do paciente com câncer, ainda que a avaliação global subjetiva ambém seja bastante utilizada. Screening Oncológico (Chemin) Além disso, Chemin cita como método de avaliação nutricional, e Screening Oncológico do Memorial Sloam- Kettering Cancer Center, que é um instrumento de triagem nutricional inicialmente realizado por uma enfermeira. Baseado em fatores de risco nutricional, diagnóstico, complicações, tratamento, alterações do peso, a triagem oncológica classifica o paciente em risco baixo ou moderado para alto risco nutricional. Estes últimos são submetidos a uma avaliação nutricional completa realizada por um nutricionista em 24 horas. Um exemplo do questionário encontra-se abaixo. 320 321 322 Recomendações nutricionais Os objetivos da terapia nutricional para pacientes em tratamento anti-neoplásico e em processo de restabelecimento são: (Chemin) Impedir ou corrigir a desnutrição; Prevenir a perda de músculo, ossos, sangue e demais componentes da massa magra corporal; Auxiliar o paciente a tolerar o tratamento; Reduzir os efeitos adversos relacionados à nutrição e suas complicações; Manter o vigor e a energia; Prover a habilidade para combater infecções; Auxiliar no restabelecimento e na cura; Manter ou melhorar a qualidade de vida. A intervenção precoce é essencial. O SN melhora o estado de desempenho total em pacientes oncológicos com desnutrição secundária a obstrução GI ou com toxicidade do tratamento. Porém, nos pacientes com caquexia ou câncer terminal observa-se pouca ou nenhuma melhora. Na tabelas abaixo, podemos observar as recomendações de kcal e proteínas. Recomendações nutricionais no Câncer Chemin: Kcal 20 a 45 kcal/kg/dia Obs.: 35-45 kcal/kg/dia para repleção Proteína 1 – 1,2 g/kg – sem complicações 1,1 – 1,5 g/kg/dia – estresse moderado 1,5 – 2 g/kg/dia – estresse grave Dan: Kcal SIRS, hiperglicemia, falência respiratória, sepse - 20 a 25 kcal/kg/dia Fase de recuperação até 35kcal/kg/dia Pacientes PP>10% ou IMC<18,5 – risco de síndrome realimentação iniciar dieta com 5 a 10 kcal/kg ao dia nos 3 primeiros dias, evoluindo lentamente alcançando 15- 20 kcal/kg entre o 4º e 10º dias e de 25-30 kcal/kg após a segunda semana, sempre com controle rigoroso de P, K e Mg Proteína 1,2 – 1,5 g/kg/dia – estresse moderado 2 g/kg/dia – estresse grave Água 1 ml/kcal ou 30-35ml/kg/dia Ajustes necessários na presença de desidratação ou reteção hídrica A necessidade energética varia de acordo o diagnóstico clínico, idade, sexo, peso, febre, fator térmico, de atividade e de estresse. Pode-se usar a equação de Harris Benedict para cálculo das necessidades, considerando-se as variáveis abaixo: Fator atividade: - acamado = 1,2 - deambula pouco = 1,25 - deambula = 1,3 Fator térmico (febre) 38ºC = 1,1 39ºC = 1,2 40ºC = 1,3 41ºC = 1,4 Fator estresse Quimioterapia / radioterapia = 1,1 a 1,45 Transplante de medula óssea = 1,2 a 1,3 Pode-se usar também recomendações em kcal/kg; - Acamados – 20 a 25 kcal/kg - Deambulam – 25 a 35 kcal/kg Obs. Dan- o gasto energético em repouso de paciente com câncer pode estar aumentado, diminuído ou mesmo inalterado – assim, devemos considerar como normais os valores de gasto energético em repouso até que seja 323 possível verificar a situação com precisão. Observa-se GE normal em pacientes com câncer gástrico e colorretal e GE aumentado em pacientes com câncer pancreático e pulmonar. As recomendações de micronutrientes para câncer estão descritas ao lado: Dan 2017 coloca abaixo as recomendações das Diretrizes Brasileiras de Terapia Nutricional no câncer. 324 Cuidados com a dieta oral As estratégias para modificação da ingestão de nutrientes dependem do problema específico de alimentação e da extensão da depleção. Normalmente devem ser avaliadas as necessidades individuais e deve- se prescrever 5 a 6 refeições/dia. A dieta oral deve ser associada ao uso de suplemento alimentar quando o doente apresentar um ou mais dos seguintes critérios (Chemin) IMC < 18,5 kg/m²; perda de peso 5% nos últimos 06 meses; aceitação alimentar da dieta via oral não atingir ¾ das recomendações nutricionais; disfagia; anorexia; recusa da sonda nasoenteral. O momento de oferecer o alimento também merece atenção. Algumas vezes, os pacientes com câncer reclamam de menor capacidade de comer conforme avança o dia, o que significa que a manhã é o melhor momento para se alimentar. Isto pode ser atribuído à digestão e esvaziamento gástrico lentos, como resultado da menor produção de secreções digestivas, atrofia das mucosas gastrointestinal e da muscular gástrica. É também sentido devido à fadiga relacionada ao tratamento. A dor também pode afetar o apetite e a capacidade de comer. A hora de fazer as refeições em relação aos efeitos colaterais gastrointestinais do tratamento do câncer pode acarretar a tendência a aversões aprendidas, isto porque alimentos específicos podem ser associados a sintomas desagradáveis, como náuseas, vômitos e estímulos psicológicos, como ansiedade. Observem abaixo, as condutas nutricionais frente aos efeitos colaterais que podem surgir pelo câncer ou pelas terapias anti-neoplásicas. Terapia Nutricional nos Efeitos Colaterais do Tratamento do Câncer: Náuseas e Vômitos A quimioterapia é o tratamento que com freqüência acarreta estes sintomas. Estes sintomas são controlados pelo SNC ocorrem porque existem estímulos odores, sabores, movimentos (tonturas), irritação do estômago ou do intestino e ansiedade em relação aos medicamentos da quimioterapia que induzem neurotransmissores que são excitantes do centro do vômito, situado na base do cérebro, o que desencadeia o reflexo das náuseas e vômitos; Náuseas e Vômitos Precoces ou Antecipatórias são os que ocorrem antes ou no momento do início da sessão de quimioterapia, podendo afetar também paciente em radioterapia. Podem aparecer após o paciente ser submetido a diversos ciclos de tratamento e sua causa é a resposta do organismo a estímulos relacionados ao ambiente. Náuseas e Vômitos Agudos são aqueles que ocorrem nas primeiras 24 horas após a administração do tratamento e tem duração de algumas horas. A freqüência e gravidade dependem da medicação (tipo, dose, intervalos e via de administração), bem como de fatores individuais. Podem ocorrer também na radioterapia entre meia hora a vária hora após a sessão e melhoram nos dias que não tem realizam tratamento; Náuseas e Vômitos Retardados aparecem depois de mais de 24 horas após a administração do tratamento, podendo ter a duração de vários dias. Ocorrem em pacientes que náuseas e vômitos agudos ou naqueles nos quais o tratamento é prolongado. Estes pacientes podem se beneficiar com o uso de antieméticos. (Ondasetron- Zofran; Ganisetron-Zytril; Metoclopramida; Corticóides) Recomendações Alimentares para o Tratamento de Náuseas e Vômitos: Chemin: o Fazer alimentação leve (alimentos de fácil digestão como caldos, sopas, purês, bolachas cream cracker, d’água, torradas, etc.) o Evitar alimentos lácteos, ácidos e sucos de frutas ácidas; o Não oferecer ao paciente, alimentos que lhe causem repulsa; o Evitar ficar na cozinha enquanto são preparados os alimentos; o Comer devagar e mastigar bem os alimentos; o Evitar deitar após as refeições; 325 o Fracionar as refeições em 5 vezes ao dia, consumindo pequenas porções; o Evitar alimentos gordurosos e frituras em geral; o Dar preferência aos alimentos gelados e/ou à temperatura ambiente (sorvetes, picolés, sucos, vitaminas); o Às vezes os alimentos salgados são mais bem tolerados do que os doces; o Preparar os alimentos grelhados, cozidos ou ensopados; o Tomar chás após as refeições para ajudar na digestão; o Evitar tomar líquidos durante a refeição; o Evitar odores fortes e desagradáveis, tais como: perfumes, cigarro e odor da cozinha; o Fazer enxágües da boca, para eliminar sabores desagradáveis; o Evitar alimentos fermentativos como: leite puro, bebidas gaseificadas, bebidas alcoólicas, café, chá preto, chá mate, doces concentrados, chocolates, açúcar, couve- flor, repolho, etc. Anorexia / Perda de Apetite Considerando sua relevância clínica, a presença de anorexia deve ser investigada e diagnosticada em pacientes com câncer, mesmo se a perda de peso não for aparente. Muitas ferramentas têm sido propostas, questionários e escalas visuais analógicas (VAS). Os mais frequentemente usados são os Questionários de Avaliação Funcional da Terapia Anorexia/Caquexia (FAACT) e o questionário de North Central do Grupo de Tratamento de Anorexia /Caquexia do Câncer (NCCTG). Ambas as ferramentas oferecem uma avaliação qualitativa e quantitativa da anorexia em pacientes com câncer. O questionário FAACT foi validade para auxiliar os médicos a testar a eficácia das terapias antianorexia/caquexia. O questionário está dividido em 5 seções e compreende 39 itens, 12 dos quais diretamente relacionados com as questões nutricionais, incluindo apetite. Recentemente, o ESPEN propôs usar a seção AC/S-12 do questionário FAACT para avaliar sintomas relacionados com a anorexia e diferenciar a sua gravidade, atribuindo uma pontuação que varia de 0 a 4. (Ver quadroabaixo). Com base nos ensaios clínicos, foi proposto que uma pontuação ≤37 que pode ser suficiente para fazer o diagnóstico de anorexia. Adicionalmente, tem-se o questionário de anorexia abaixo: Fatores emocionais e sociais podem afetar o apetite; O paciente pode ter que ficar fora do seu local habitual por conta do tratamento e não ter alimentação disponível; Ocorre muitas vezes pelo próprio tratamento (efeitos colaterais) Habitualmente, o apetite volta ao normal algumas semanas após o término do tratamento, pois neste período as células da boca e do tubo digestivo sofreram reparação. Recomendações alimentares para o Tratamento da Perda de Apetite: Chemin: o Variar a dieta; o Consumir pequena quantidade de alimentos, várias vezes ao dia (fracionar as refeições); o Preparar pratos variados, coloridos e com várias texturas; o Começar com uma dieta normal, balanceada e de fácil digestão, depois, passar a dieta hipercalórica; o Ingerir líquidos com freqüência, apenas não nas refeições; o Criar um ambiente agradável para se alimentar; o Comer quando sentir fome e vontade, não é preciso esperar pelo horário da refeição; o Caminhar antes das refeições pode abrir o apetite; o Usar pratos grandes para parecer que há menos comida; o Antes das refeições, o pacientes pode tomar suco de frutas cítricas, pois ajuda a abrir o apetite. o Aumentar o valor calórico das refeições. 326 Sugestões acrescentar mel, leite em pó, leite de soja em pó nos alimentos que se está preparando / acrescentar manteiga, margarina, creme de leite ao macarrão, batata, mandioca, arroz / usar leite para preparar sopas, purês / acrescentar uma xícara de chá de leite em pó em 01 litro de leite / acrescentar mel, chocolate em calda, caramelo líquido, aos sorvetes e sobremesas / preferir sorvetes de chocolate, castanhas, avelãs aos picolés de fruta / temperar as saladas com maionese, iogurte natural ou molhos / acrescentar isolado protéico de soja no preparo dos alimentos. O principal mecanismo subjacente ao aparecimento da anorexia em câncer é a inflamação. Portanto, o uso de agentes anti-inflamatórios pode ser eficaz para melhorar os sintomas clínicos. Os AGPw3 têm demonstrado consistentemente reduzir a síntese de mediadores pró- inflamatórios, sendo que a oferta de suplementos com EPA-DHA nas doses >1,5g/dia podem resultar em maior apetite. Inflamações e Feridas na Cavidade Oral Mucosite (inflamação da mucosa bucal que se manifesta na forma de feridas ou úlceras dolorosas que podem até sangrar) e estomatite (inflamação de quaisquer tecidos orais – dentes, gengivas, etc.) são comuns após rádio e quimioterapia. Mucosite surge em 50% dos pacientes entre 7 a 10 dias do início do tratamento. Pode ser exacerbada por alguma infecção na boca, cujo sistema imune não está adequado. Estas infecções bacterianas por vezes pelo problema na mucosa por causar infecções sistêmicas; Recomendações para o Tratamento de Mucosite, Estomatite e Odinofagia: Chemin: o Fracionar a dieta de 2 em 2 horas, consumir pequenas porções; o Evitar alimentos picantes, muito salgados, crocantes que possam machucar a mucosa e alimentos ácidos como: abacaxi, laranja-pêra, vinagre, limão, pimenta, mostarda; o Comer devagar e mastigar bem os alimentos; o Consumir os alimentos a temperatura ambiente ou fria, para diminuir a dor (evitar alimentos muito quentes ou gelados) o Incluir no cardápio alimentos de fácil digestão e alto teor de calorias; o Usar molhos, manteiga e azeite para facilitar a deglutição; o Preparar alimentos macios, desfiados e batidos no liquidificador (alterados em textura); o Evitar bebidas alcoólicas, fumo e refrigerantes, pois agrava o quadro; o Antes da alimentação, fazer bochecho com água bem gelada para ajudar na melhora da dor; o Os alimentos como sálvia, mel, mamão papaia e batatas possuem propriedades anti-sépticas e devem ser incluídos nas receitas; o Fazer bochecho com infusão de água , mel, tomilho, sálvia e bicarbonato (uma colher de chá da infusão deve ser diluída em meio copo de água); o Conversar com o médico se sentir dificuldade para tomar os remédios, se apresentar dor ao ingerir alimentos ou febre acima de 38°C. Dan o Indicar terapia nutricional em casos graves Mudanças no Paladar e no Olfato Recomendações para Tratamento das Mudanças no Paladar e Olfato: Chemin: o Observar os alimentos que apresentam alterações de sabores e odores para não oferecê-los de novo; o Preparar os alimentos com boa apresentação, uma boa aparência conta muito; o Se o odor da comida estiver deixando o paciente enjoado, este deve comprar comida pronta ou pedir que alguém a prepare; o Não ficar na cozinha enquanto estão preparando a refeição; o Consumir os alimentos que mais gosta; o As carnes e peixes, quando preparados no forno e grelhados soltam menor odores do que fritos; o Cozinhar com temperos suaves como o orégano, o tomilho, a salsinha e a cebolinha, suco de laranja ou limão; o Evitar alimentos de aroma forte como alho, café, carnes vermelhas, etc. o Ingerir 2 a 3 litros de água por dia. Recomendações Alimentares para Melhora do Sabor Metálico: o Escolher alimentos de sabor forte como: queijo meia- cura, queijos amarelos, presunto, frios, etc; o Se o paciente não estiver tolerando a carne vermelha, substituir a mesma por outras fontes de proteína como: peixes, frango, feijões, carne de soja, ovos, queijos e frutos do mar; o Melhorar o sabor dos alimentos com molhos tipo bechamel (branco), de tomate, maionese, de queijo, etc; o Utilizar colheres de madeira/polietileno para cozinhar; o Tirar os sabores estranhos da boca fazendo bochechos com soluções próprias ou utilizar chicletes e balas de hortelã; o Evitar o contato com alimentos ácidos (limão, laranja, vinagre, tomate, etc) com recipiente de metal; o Utilizar balas e sucos azedos/ácidos o Dar preferência aos talheres plásticos o Ingerir carnes com alimentos doces como geleias e compotas Xerostomia Ocorre quando as glândulas salivares produzem pouca saliva. Pode ser aguda ou tornar-se crônica, principalmente quando as glândulas salivares são diretamente irradiadas; A saliva é necessária para sentir-se o sabor e deglutir com facilidade; A produção de saliva pode diminuir já na 1ª semana após o início do tratamento e continua diminuindo conforme o a evolução do mesmo; A gravidade da xerostomia depende da gravidade da irradiação e do n.° de glândulas irradiadas; Conseqüências da xerostomia saliva espessa e viscosa, ausência de neutralização do ácido bucal (a saliva é alcalina), maior probabilidade de que as bactérias da boca provoquem infecções, o ácido produzido após ingestão de alimentos doces provoca maio perda de minerais, produzindo cáries dentais; Recomendações Alimentares para Melhora da Xerostomia: 327 Chemin: o Aumentar o consumo de líquidos ao dia recomenda- se 30ml/kg ao dia. o Evitar alimentos secos e fibrosos; o Consumir alimentos pastosos ou líquidos como sopas, sorvetes, flans, sucos, milk shakes, etc; o Cozinhar com molhos, caldos, manteigas e/ou iogurtes, para que os alimentos fiquem úmidos; o Evitar alimentos gordurosos; o O leite pode dar sensação de boca pastosa; o Antes das refeições, enxaguar a boca com uma colher de sopa de suco de limão diluído em um copo de água; o Tomar pequenos goles de água durante a refeição para ajudar a engolir; o Evitar mastigar muita comida de uma vez; o Consumir pequenas quantidades várias vezes ao dia; o Dar preferência a sucos ácidos; o Levar uma garrafa de água quando sair e beber bastante líquido; o Enxaguar a boca sempre antes das refeições e durante o dia; o Chupar balas e chicletes de hortelã, limão e menta (sem açúcar); o Cuidar da higiene da boca; o Perguntar para o médico se é necessário utilizar a saliva artificial que é disponível nas farmácias. Diarreia A radioterapia por afetar as células replicação rápida pode causar enterite e colite e ocasionar a diarréia, intolerância à lactose e má absorção, o que desaparece 2 a 3 semanas após o tratamento; A quimioterapia também pode causar diarréia e problemas de absorção; No caso de algumas cirurgias, este também pode ser um efeito colateral; Recomendações para o Tratamento da Diarréia: Chemin: o Fazer dieta absoluta por algumas horas para o intestino descansar, dependendo da gravidade dos sintomas. Iniciar dieta líquida quando o intestino estiver melhor. o A dieta deve ser introduzida gradualmente, de acordo com a tolerância do paciente; o Começar com dieta líquida dividida em pequenas doses ao longo do dia, caldos, água, chás suaves, água de coco e soro caseiro; o Os caldos devem ser ralos sem gordura, tais como caldos de arroz, frango e cenoura; o Fazer sucos coados e com pouco açúcar, diluídos com água; o Começar com alimentos de fácil digestão, se a pessoa tiver aceitado bem a dieta líquida. Por exemplo, purê de batata ou mandioquinha, arroz branco cozido, torrada, bolacha água e sal, bolacha de maisena, maçã cozida sem casca, peixe e frango cozido; o Se o paciente tolerar bem os alimentos anteriores, iniciar a ingestão de produtos lácteos com leite desnatado, iogurte desnatado e queijo magro fresco; o Preparar os alimentos cozidos, assados, ensopados ou grelhados. Evitar frituras. o Moderar o consumo de açúcar e sal. o Cozinhar ou temperar os alimentos com azeite de oliva e limão; o Evitar condimentos industrializados e irritantes da mucosa intestinal, como pimenta, noz moscada e curry; o Evitar alimentos que causem flatulência, tais como, couve-flor, brócolis, repolho, couve-manteiga, rabanete, nabo, cebola crua e feijões; o Evitar tomar café, achocolatados e bebidas alcoólicas; o Dar preferências aos cereais refinados, como pão francês, pão de forma branco, bolacha cream cracker, boclacha de água ou Maria e arroz branco; o Consumir alimentos ricos em potássio como banana, cenoura e melão; o Evitar alimentos gordurosos como azeitonas, abacates, frituras, pães recheados, carnes gordas e embutidos; o Evitar comer verduras e legumes crus, peneirar os purês de legumes; o Evitar comer frutas frescas, exceto banana e maçã sem casca; o Evitar alimentos fontes de lactose. Iogurte e queijos brancos podem ser tolerados, pelo seu menor teor de lactose. o As temperaturas da refeição e da bebida devem ser mornas; o Beber bastante líquido, cerca de 3 litros ao dia. o Utilizar prebióticos, probióticos e simbióticos Obstipação Intestinal As causas mais comuns de constipação no paciente que recebe tratamento anti-câncer são: o esquema alimentar (não comer, náuseas e vômitos estimulando perdas hídricas e falta de ingestão de líquidos e fibras), as alterações dos hábitos de evacuação intestinal, e a falta de exercício; Alguns quimioterápicos como vincristina, vinblastina e vinorelbina produzem constipação; Outras medicações também podem causar constipação: calmantes, anti-depressivos, tranqüilizantes, diuréticos, vitaminas e minerais (ferroe cálcio) e até alguns fármacos usados para tratar náuseas em quimioterapia. A radioterapia da pelve também pode causar estreitamento do cólon; A constipação pode causar náuseas, cansaço, perda de apetite e vômitos; Recomendação Alimentar para Constipação: Chemin: o Ingerir bastante líquidos, no mínimo 02 litros ao dia; o Beber um copo de água em jejum todas as manhãs; o Consumir alimentos ricos em fibras: pães e cereais integrais, aveia, frutas secas, verduras, frutas e feijões; o Preparar os alimentos cozidos, assados, grelhados ou ensopados; o Utilizar o azeite de oliva para cozinhar e temperar legumes e verduras; o Utilizar ervas aromáticas para temperar os pratos tais como: salsinha, cebolinha, coentro, sálvia, alecrim, orégano e tomilho, etc; o Evitar a pimenta do reino e pimentas em geral; o Preparar os sucos de frutas e verduras sem coar; o Preparar verduras e legumes sempre al dente, para conservar as fibras; o Consumir carnes magras, frango sem pele, peixes, carnes tipo coxão mole, patinho, coxão duro, lagarto, músculo; o Se o paciente consumir embutidos preferir aqueles de chester ou peru; o Caminhadas ajudam o funcionamento intestinal; o Tentar ir ao banheiro antes da quimioterapia para melhora dos efeitos colaterais, náuseas, problemas gástricos, alteração do paladar, etc. o Consultar um médico, caso o paciente fique mais de 03 dias sem evacuar. o Usar prebióticos, probióticos e simbióticos. 328 Disfagia Sintomas presente em muitos pacientes com câncer terminal. Indicar a alteração de consistência e avaliação pela fonoaudiologia. Para minimizar o sintoma, em alguns casos, é possível modificar a postura durante a deglutição, ou seja, orientar fletir o pescoço e deglutir 3 vezes o alimento antes da p´roxima colherada. Exercícios Físicos: O exercício físico mostrou ser efeicaz e seguro não só para prevenção do câncer, como sugerido pela maior parte das sociedades científicas, mas também para manter eaumentar o tecido magro antes, durante e depois dos tratamentos médicos anti-câncer. Exercícios físico deveria ser adaptado em termos de tipo de exercício, carga de trabalho e tempo de duração. Os melhores efeitos anabólicos são obtidos pelos exercícios de resistência treinados em um modelo de carga de trabalho e tempo de duração. A fim de aumentar a massa muscular e a função, especialistas sugerem treinamento de resistência de uma a três vezes por semana, caracterizados por 6-12 movimentos repetitivos em 50-80% de intensidade envolvendo uma a quatro sequencias por grupos musculares. É importante notar que os efeitos positivos do exercícios podem variar amplamente em função do tipo de câncer, do estágio da doença, tratamento médico, natureza, intensidade e duração do programa de exercícios e estilo de vida do paciente. No entanto, os pacientes podem experimentar grandes melhoras quando exercício físico é simplesmente integrado em uma intervenção multimodal de caquexia do câncer. Dietas Imunomoduladoras O último consenso da sociedade norte-americana de cirurgiões, publicado em 2013, orienta que qualquer paciente candidato a cirurgia eletiva, independente do estado nutricional deve receber fórmula imunomoduladora contendo arginina, ômega3, nucleotídeos e antioxidantes na quantidade de 500-1000ml de 5-7 dias antes da operação. Para pacientes com alto risco nutricional essa fórmula deve ser continuada no pós-operatório por 5 a 7 dias. Sempre que possível a via oral é a primeira escolha e, nessa situação, a dieta imunomoduladora estará associada a dieta oral hospitalar ou domiciliar na quantidade fracionada de 2 a 3 vezes ao dia. Quando a dieta enteral for exclusiva a dieta enteral imunomoduladora deve ser ofertada na quantidade máxima de 1 litro por dia, devendo ser associada outra formulação para atender as necessidades nutricionais e proteicas. Indicações da Terapia Nutricional para Pacientes Oncológicos: Dan - Risco nutricional moderado a alto - Peso corpóreo baixo - Incapacidade para digerir e/ou absorver alimentos - ingestão oral espontânea baixa (< 60% da ingestão oral recomendada) - fístula de alto débito no esôfago ou estômago - incapacidade para ingerir alimentos via oral por um período superior a 5 dias - alterações de paladar em decorrência do tratamento antineoplásico que prejudique a alimentação por via oral. Segundo Sawaya (2013), diretrizes americanas recomendam iniciar a terapia nutricional em pacientes oncológicos quando a ingestão alimentar for inferior a 60% das necessidades nutricionais por mais de 10 dias. Terapia de nutrição enteral (TNE) A TNE pode beneficiar alguns doentes oncológicos com trato gastrointestinal funcionante e um ou mais dos seguintes critérios: (Chemin) IMC < 18,5 kg/m²; perda de peso 10% nos últimos 06 meses; aceitação alimentar da dieta via oral não atingir 2/3 das recomendações nutricionais; obstrução pela tumor da cavidade oral; anorexia; disfagia. Terapia de nutrição parenteral (TNP) Somente deve ser utilizada quando o trato gastrointestinal não estiver funcionando ou se a terapia nutricional enteral adequada não puder ser oferecida (náuseas,vômitos, obstrução ou má-absorção), com impossibilidade de manutenção do estado nutricional. O seu uso está justificado em pacientes com desnutrição moderada a grave, hospitalizados, com doença maligna potencialmente tratável, a serem submetidos a tratamento anti-câncer agressivo com razoável expectativa de vida. Em doença avançada a NPT não é indicada. (Com exceção de algumas situações colocadas pelo Dan, conforme veremos mais adiante) Quando o paciente não tolerar toda a dieta enteral, ou seja, o volume necessário para oferta enteral plena, a TNP pode ser prescrita de maneira complementar. O início da TNP como suplementação deve ser realizada no 3º dia de insucesso da nutrição parenteral. A TNP pode ser indicada para paciente com doença avançada e impossibilidade total ou parcial do uso do TGI, como em obstruções intestinais malignas ou presença de fístulas. Contudo não é uma via de escolha para pacientes com expectativa de vida menor que 90d e com capacidade funcional igual ou menos que 50%. A fórmula parenteral ideal para pacientes com câncer ainda não foi determinada, as recomendações gerais encontram-se na tabela abaixo. Recomendações em NPT para pacientes oncológicos Nutrientes Recomendações Energia 25 a 35 kcal/kg/dia Eletrólitos 50 mEq de Na e 30 mEq de K / litro de NPT (para pacientes sem perdas anormais como em diarréias e fístulas) Os estudos demonstram benefício do uso da suplementação de glutamina na manutenção da barreira 329 mucosa e prevenção das complicações infecciosas, principalmente em pacientes submetidos a TMO. Desmame da TN O desmame da terapia nutricional deve ser progressivo, considerando-se a reabilitação alimentar convencional. Deve-se observar se o paciente apresenta ingestão alimentar satisfatória via oral (>70% das necessidades nutricionais) e por via enteral (>60% das necessidades nutricionais) por pelo menos 3 dias consecutivos, bem como se há possibilidade de uso do TGI para desmame da TNP. 330 Transplante de Medula Óssea (TMO) Terapia usada para o tratamento de falência medular irreversível como linfomas, leucemias aguda ou crônica, anemia aplástica, talassemia maior e tumores sólidos. Antes do transplante é feito um esquema preparatório com quimioterapia mieloablativa com ou sem radioterapia corporal total para suprimir a atividade imunológica (para transplante alogênico) e erradicar células malignas e determinam, no período pós-transplante, leucopenia (<100-200 mm³) e trombocitopenia graves, por duas semanas. Na terapia de pré-condicionamento (QT e/ou Rtx) é comum a ocorrência de náuseas e vômitos. Após este período, segue-se então, infusão intravenosa da medula óssea ou células-tronco periféricas. O transplante de medula pode ser: Autólogo do próprio indivíduo Alogênico de outro indivíduo, aparentado ou não que compartilhem hitocompatibilidade de HLAs (antígenos leucocitários humanos) Singênico entre gêmeos identicos Segundo Dan, após o transplante a terapêutica imunossupressora agressiva determina náuseas, vômitos, anorexia, disgeusia, estomatite, mucosite oral e diarréia nas primeiras duas semanas. A diarreia pode permanecer por ate diversas semanas após o transplante. Alguns efeitos retardados, durante o 1° mês após o transplante, incluem mucosite, estomatite, esofagite, alterações salivares e do paladar, fadiga e lesão intestinal. Nas primeiras semanas após o transplante, os pacientes apresentam uma leucopenia e trombocitopenia severas e, geralmente, têm pouca ou nenhuma ingestão oral e necessitam de suporte nutricional enteral ou parenteral. Na maioria das vezes, as manifestações GI graves excluem o uso da via oral e da NE no período mais crítico, neste caso, a NPT deve ser indicada precocemente. A NP deve ser iniciada precocemente entre 24 e 36 horas e permanecer por 15 a 20 dias segundo alguns autores ou iniciar NP apenas quando a aceitação de dieta oral for menor a 60-70% das necessidades nutricionais por 3 dias. A NP deve ser suspensa quando a ingestão oral superar 50% das necessidades nutricionais. Em pacientes com falência intestinal, a opção preferencial é NP com adição de glutamina, caso a NE não seja tolerada em quantidade suficiente. Tão logo seja possível deve se associar nutrição pelo tubo digestivo. Na tabela abaixo, podemos observar as necessidades nutricionais no TMO Necessidades Nutricionais no TMO: Nutrientes Recomendações Energia Dan – 30 a 35 kcal/kg adultos 331 Dan – 35 a 50 kcal/kg dia em crianças GEB x 1,3-1,5 (130-150% acima do GEB) Dan - 25 a 30 kcal/kg em NPT Proteína Dan – 1,5 – 2,0 g/kg/dia em NPT Lipídios Dan - Não passar de 30% VET em NPT, para prevenir imunossupressão Carboidratos Dan - Não passar de 60% VET em NPT para prevenir esteatose hepática e hiperglicemia Glutamina Quando suplementada em NPT, menores índices de infecção e menor tempo de internação hospitalar. Vantagens quando suplementa-se 0,57g/kg/dia Arginina, nucleotídeos e ômega 3 Resultados promissores com a suplementação Alterações no Metabolismo Protéico, de Carboidratos e de Gorduras - Observa-se aumento do catabolismo protéico em receptores de TMO sob nutrição parenteral total; - Altas doses de quimioterapia associam-se à deficiência de taurina, AA não-essencial mais abundante no espaço intracelular. O significado desta deficiência é incerto, embora estudos experimentais tenham demonstrado melhora da sobrevida e recuperação das células brancas, após radioterapia total, com a suplementação de taurina - Em pacientes submetidos a TMO autólogo, ocorre prejuízo da função das células beta pancreáticas, o que pode levar a intolerância à glicose. Deficiências de Vitaminas e Minerais - Pacientes que recebem quimioterapia em doses maciças, principalmente com ciclofosfamida ou radioterapia, podem ter necessidade aumentada em relação à antioxidantes. Este efeito é exacerbado pelo uso de NP com ácidos graxos poliinsaturados. Deve suplementar a oferta de vitaminas minerais antioxidantes (vitamina E, betacaroteno, alfa-tocoferol, selênio). - Hipomagnesemia é uma manifestação comum e importante, em razão da ingestão inadequada de magnésio, de má-absorção de do uso de drogas (diurético, cisplatina, corticosteróide, anfotericina B, ciclosporina) - Zn e Cu encontram-se reduzidos em função da ingestão, absorção e do aumento da perda intestinal. - Ocorre a diminuição da absorção de vitamina B12 que reduz-se no período pré-transplante e tem seu pico de diminuição 02 semanas no pós-transplante, retornando ao normal em 02 meses. - Na vigência de mucosite pode ocorre também diminuição da absorção de tiamina que pode ser agravada com o uso de NPT com muito carboidrato. Como favorecer a dieta oral no Pós-transplante de medula óssea - comer devagar: a mastigação adequada, aumento do tempo para a refeição ao lado de um ambiente tranqüilo; - fracionar as refeições – diminuir as porções e ofertar 5-6X ao dia - aumentar a variedade dos nutrientes – contribui para a qualidade alimentar e evita a monotonia - oferecer líquidos – 2l/dia de forma fracionada. A água deve ser mineral, filtrada e fervida (por 20 minutos em ebulição) - preferir alimentos pastosos que facilitam a mastigação e deglutição - verduras, frutas e legumes preferir as que estejam no período de safra, quando a qualidade é superior. Os pratos com alimentos crus (frutas/vegetais) devem ser adequadamente higienizados em água corrente e colocados em solução para esterilização, como soluções de hipoclorito ou hidrosteril. - evitar alimentos ou preparações de lanchonetes ou restaurantes – os alimentos devem ser preparados em ambientes rigorosamente controlados para evitar contaminação. As mãos devem ser lavadas antes de manipular os alimentos. Os utensílios e a superfície de preparo dos alimentos também devem estar higienizados. Os alimentos devem ser armazenados corretamente. Complicações do TMO: Doença do enxerto versus hospedeiro (DEVH) É uma complicação importante após transplante alogênico. Ocorre quando as células medulares do doador reagem contraos tecidos do hospedeiro estranho – ocorrendo a desintegração das funções de vários órgãos (pele, fígado, intestino, órgão linfóides) e aumenta a susceptibilidade à infecção. Apesar de rara tem sido documentada em pacientes que recebem transplantes autólogos. DEVH aguda ocorre de 7-10 dias pós-transplante até 03 meses crônica após este período e necessita tratamento prolongado e dieta Manifestações: Pele Fígado Intestino Exantema, eritroderma e descamação Icterícia + Testes anormais função hepática Diarréia secretória até 10 litros/dia Na DEVH intestinal – é necessário repouso intestinal, ocorre altas perdas protéicas intestinais pela própria diarréia e pelo uso de corticóide em altas doses e acompanha edema de parede intestinal e alteração da integridade da mucosa intestinal. Após a melhora do paciente iniciam-se líquidos isotônicos, pobres em gordura e lactose e vai se evoluindo até a consistência normal na mesma natureza, se tolerados. As restrições dietéticas devem ser diminuídas quando introduz-se alimentos e a tolerância é estabelecida. Doença venoclusiva (VOD) É caracterizada por lesão induzida por quimioterapia e/ou radioterapia às vênulas hepáticas. Pode-se desenvolver de 01 a 03 semanas após o transplante. É caracterizada por oclusão das vênulas hepáticas e por dano ao hepatócito e manifesta-se clinicamente com hepatomegalia, ascite e icterícia em 50% dos pacientes, sendo que alguns desenvolvem insuficiência hepática levando a encefalopatia, falência de múltiplos órgãos e sistemas e óbito. O SN exige nutrição parenteral, manejo criterioso de líquidos e eletrólitos, monitorização e ajuste de nutrientes. É necessária a redução do aporte de proteínas, líquidos e glicose. O uso de fórmulas contendo AA de cadeia ramificada é indicado para pacientes com encefalopatia, apesar de que a produção intestinal de amônia tende a estar diminuída devido ao uso de antibióticos e da baixa ingestão oral. Outras complicações do Transplante de Medula incluem doença pulmonar, rejeição do enxerto, anormalidades do crescimento em crianças e infecção. 332 Causas e manejo nutricional das complicações pós TMO (Dan) Pacientes com Câncer Terminal De acordo com a Organização Mundial de Saúde, “Cuidados Paliativos Consistem na assistência promovida por uma equipe multidisciplinar, que objetiva a melhoria da qualidade de vida do paciente e seus familiares, diante de uma doença que ameace a vida, por meio da prevenção e alívio do sofrimento, da identificação precoce, avaliação impecável e tratamento da dor e demais sintomas físicos, sociais, psicológicos e espirituais.” Nessa fase, o objetivo é a paliação dos sintomas e a redução do estresse, tanto para o paciente quanto para a família. O uso de técnicas agressivas de suporte nutricional pode prolongar a vida, entretanto é improvável que a NPT beneficie pacientes com câncer avançado. A prioridade é que alimentos orais sejam oferecidos conforme toleradas, juntamente com o suporte emocional. As metas devem enfocar o controle dos sintomas e impacto nutricional como dor, fraqueza, perda de apetite, saciedade precoce, constipação, fraqueza, dispnéia e xerostomia. Outra meta é manter a força e a energia para melhorar a qualidade de vida. Devem ser enfatizados os aspectos agradáveis da alimentação sem considerar a quantidade ou o conteúdo dos nutrientes. Complicação Possíveis Causas Recomendações Nutricionais Diarréia Quimioterapia Antibióticos DEVH Infecção intestinal Hidratação 1,5-2,5 g/kg/dia proteína Manter oferta calórica Suplementar Zn Hiperglicemia Calorias em excesso Uso de corticóides Sepse Quimioterapia com L-asparaginase Diabetes dependente de insulina Terapia com Bussulfano dano céls pancreáticas HC Manter glicemia < 220 mg/dl Suplementar crômio Alteração da Função Hepática Medicamentos NPT Dieta oral zero DEVH Infecção HC NPT cíclica < 18h Se bilirrubina > 15, suspender Mn e Cu Estimular dieta oral Doença venooclusiva Quimioterapia Radioterapia Restringir líquidos e Na Restrigir proteínas e usar AACR se encefalopatia Usar vitamina E e glutamina Doença do Enxerto versus Hospedeiro (DEVH) Reação das células medulares do doador contra os tecidos do hospedeiro estranho GI: 30 – 35 kcal/kg 2 – 3 g/kg/dia de proteína Hidratação Dieta sem resíduos, progressão conforme tolerância Suplementar Zn e vitaminas e minerais Pele: Suplementar Zn e vit. C 1,5 – 2,5 g/kg/dia de proteína Insuficiência Renal Quimioterapia Radioterapia Antibiótico Ciclosporina e Anfotericina B 1,0 -1,2 g/kg/dia de proteína se a creatinina for o dobro do pré-transplante Repor eletrólitos Retardo do esvaziamento gástrico Quimioterapia Radioterapia DEVH Sepse Infecção intestinal Uso de opiácios NPT Usar drogas pró-cinéticas Anorexia Quimioterapia Radioterapia DEVH NPT Medicação NPT cíclica Estimulantes do apetite Acetato de megestrol Hipercolesterolemia Hipertrigliceridemia Terapia com ciclosporina (imunossupressor) Terapia nutricional apropriada 333 - Perda de peso, diminuição de apetite e dificuldade de se alimentar características comuns do paciente em fase terminal. - Existem dois fatores predisponentes a perda de peso nos últimos dias de vida: a baixa ingestão e a caquexia refratária. Veja no esquema abaixo os contribuintes para a ingestão oral diminuir nos últimos dias de vida e o algorítimo de manejo dos estágios de caquexia. Algoritmo do manejo da caquexia: - TNE e NPT podem ser indicadas em pacientes com prognóstico incerto ou portadores de condições potencialmente reversíveis que limita momentaneamente a ingestão alimentar. - O tratamento psicológico do paciente e dos familiares pode ser importante para demonstrar o objetivo da implementação da terapia nutricional na qualidade de vida do paciente mesmo quando não há perspectiva de benefícios clínicos. - Pacientes com limitado prognóstico ou aqueles com possíveis riscos de complicações que não devem receber intervenção nutricional podem ser mantidos adequadamente por semanas ou meses, somente com fluído endovenoso ou mínima nutrição oral. - A maioria dos pacientes com câncer terminal pode ser tratado adequadamente com hidratação endovenosa com volume diário de 500-1000ml, esta infusão pode ser feita de maneira segura e eficaz a nível domiciliar. Neste paciente o sintoma de boca seca pode ser freqüente, mas não está correlacionado com o estado de hidratação ou a quantidade de líquidos fornecidos ao paciente. Os defensores da hidratação artificial afirmam que se trata de um direito humano básico, que a hidratação pode aliviar a sede e outros sintomas, reduzir complicações sem prolongar significativamente o processo de morte, e que auxiliaria na construção de vínculo entre a família e cuidadores que frequentemente requerem intervenções. Os opositores aoo uso de hidratação artificial acreditam que ela pode aumentar o risco de complicações (como edema, ascite e derrame pleural), podendo trazer mais desconforto pela necessidade de urinar, não melhora a qualidade de vida, não é necessária em pacientes que não se queixam de sede e que pode interferir no processo natural de morte. Alguns profissionais defendem que a desidratação no fim da vida poderia aliviar sintomas. No entanto, a decisão em relação ao fornecimento de hidratação artificial para pacientes nos últimos dias ou semanas de vida é mais complexa do que as considerações físicas ao redor do tema, posto que é 334 influenciada por questões ético-legais e sócio-culturais, além das preferências e emoções dos pacientes e seus familiares. Desta forma, caberá à equipe dialogar sobre riscos e benefícios, reiterando os princípios de não maleficiência e proporcionalidade. O acolhimento de emoções e a validação de sentimentos nesse momento são ferramentas básicas para interação com familiares, visando minimizar culpas e aproximar expectativas e realidade. - Poucos pacientes terminais têm fome e isto pode ser facilmente suavizado quando oferecendo-se pequenas quantidades de alimentos. No quadro abaixo podemos observar o resumo
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