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FUNDAMENTOS DE CUSTEIO E-book 3 Eduardo Gondim Neste E-Book: INTRODUÇÃO ���������������������������������������������� 3 LUCRATIVIDADE ESPERADA ������������������4 CUSTOS DIRETOS ��������������������������������������� 6 CUSTOS DIRETOS DA BRUNA BOLOS � 8 MÉTRICAS DE RATEIO PARA CUSTOS INDIRETOS ���������������������������������20 Rateio por recebimento de vendas ���������������������� 21 Rateio por área ocupada ��������������������������������������� 22 Rateio por quantidade de pessoas diretas ���������� 23 Rateio por custos diretos �������������������������������������� 25 RATEIO DOS CUSTOS INDIRETOS DA BRUNA BOLOS �����������������������������������28 CONSIDERAÇÕES FINAIS ���������������������� 32 SÍNTESE �������������������������������������������������������34 2 INTRODUÇÃO Neste módulo, compreenderemos a possibilidade de encontrar os custos por produto e aprendere- mos a identificar o custo, isto é, se ele é direto ou indireto� Seguiremos com os rateios dos custos indiretos e, com o auxílio da metodologia do custeio por absorção, conseguiremos identificar quanto custa cada produto� Notaremos que há uma relação entre as vendas e os custos dos produtos, que é a lucratividade, a qual é mais uma ferramenta que ajuda os gestores a to- marem decisões� Para isso, usaremos a Bruna Bolos como nosso caso de estudo, com o objetivo de concluirmos o módulo aptos a aplicar os conceitos estudados. Esse objetivo é mais valioso para a administração das empresas do que apenas decorar as definições contábeis. 3 LUCRATIVIDADE ESPERADA Retomando, a lucratividade esperada é a soma do resultado esperado pelos donos (ou acionistas) da empresa, somado aos investimentos e às despesas� Bruna, na pretensão de incluir esse conceito na em- presa, elaborou a Tabela 1: Indicador Média mensal Resultado esperado pelos donos R$ 3�000,00 (+) Despesas R$ 27�700,00 (+) Investimentos R$ 1�000,00 Lucratividade Esperada R$ 31�700,00 Tabela 1: Lucratividade esperada. Fonte: Elaborada pelo autor (2020). Em outras palavras, as vendas precisariam superar todos os custos em R$ 31�700,00 para que a empresa pague suas despesas, seus investimentos e alcan- ce a lucratividade esperada� Para que essa análise seja feita com maior precisão, precisamos entender duas coisas: as vendas por produto e os custos por produto� Entender as vendas por produto não é problema na Bruna Bolos, pois em seus registros há um desdo- bramento das vendas entre Bolos estudante, Bolos pós e bebidas. Porém, quando pensamos em quanto custa cada produto, a análise não é tão precisa no tocante à origem das vendas� 4 Por exemplo, se todos os bolos utilizam farinha de trigo, o quanto do pacote da farinha de trigo é uti- lizado para produzir um pedaço de Bolo estudante e quanto é para um Bolo pós? O método do custeio por absorção tem a finalidade de alocar em todos os produtos todos os custos de produção da empresa� Assim, custo por absorção é o método de custeio que aloca em todos os produtos os custos de produção da empresa� Por isso, nosso primeiro passo será compreender quais são os custos diretos de cada um dos produtos da Bruna Bolos� 5 CUSTOS DIRETOS Os custos diretos são todos aqueles que podem ser atribuídos diretamente a um produto� Por exemplo, para a produção de um suco de laranja, a laranja é um custo direto, pois uma parte dela contempla o suco� Compreender os custos diretos passa pela re- flexão: e se a empresa X descontinuar um produto A, quais os custos seriam automaticamente reduzidos? Esses custos eliminados quando um produto deixa de existir são os custos diretos� Portanto, os custos diretos são os que podem ser atribuídos diretamente a um produto� Todo custo direto tem uma medida de utilização de- terminada no produto� Por exemplo, vamos imaginar que uma pizzaria compre um saco de 10kg de farinha de trigo para produzir suas pizzas, e o custo desse item foi de R$ 40,00. Todas as pizzas vão utilizar o mesmo recurso, porém, em quantidades defini- das� Então, se a pizza de atum consome 5% do saco (500g), podemos alocar como custo direto da pizza de atum, 5% do custo da farinha de trigo, ou R$ 2,00 (5% X R$ 40,00). Outro exemplo, vamos imaginar que uma editora de livros compre papéis em resmas de 1000 folhas. Mas um livro específico consome 22% de cada res- ma. Assim, 22% desse item é alocado como custo direto do livro� 6 É importante compreender que nem todo custo direto significa que seja um custo exclusivo de um produto. Contudo, se a proporcionalidade de utilização do item por um produto específico é clara, esse é um custo direto� Vamos a mais um exemplo de custo direto� Uma confecção comprou botões que serão utilizados nas calças que ela produz� Nesse caso, as calças utili- zarão 100% dos botões comprados e o botão será então o custo direto para a calça� Mas se a empresa criar uma nova linha de camisas e essas terem os botões, de modo que 20% dos botões comprados serão destinados à produção de camisas, então o correto seria alocar 20% do item como custo direto para as camisas e o restante para as calças� Agora, imaginemos o seguinte caso: uma empresa utiliza energia elétrica em toda a fábrica e, nela, são produzidos cinco tipos de produtos� É impossível dizer o quanto da energia cada produto consome� É certo que os cinco são responsáveis pelo custo, mas a alocação não será precisa, pois cada produto não consegue medir o quanto de energia elétrica consome� Por isso, chamamos esse custo de custo indireto� Os custos indiretos são, portanto, aqueles custos que não podem ser apropriados diretamente por nenhum produto da empresa� 7 CUSTOS DIRETOS DA BRUNA BOLOS Neste tópico, estudaremos os custos diretos da Bruna Bolos� Mas, para isso, precisamos antes elen- car os produtos e entender de quais insumos cada produto necessita. Utilizemos as três classificações de produtos da Bruna Bolos: Bolos estudantes, Bolos pós e bebidas� Então, vamos começar pelo Bolo es- tudante, trabalhando com a mesma quantidade de bolos produzida e vendida no mês anterior (Tabela 2): Tipo de produto Produto Preço de venda Quantidade vendida Vendas totais Bolo estudante Pedaço R$ 6,00 3�500 R$ 21�000,00 Tabela 2: Custos diretos bolo estudante. Fonte: Elaborada pelo autor (2020). Com essa informação, entendemos quais foram os custos diretos do Bolo estudante� Para produzir essa quantidade de bolos, o time de cozinheiros da Bruna Bolos precisou de: ● 120 litros de água� ● 12 litros de leite� ● 1�200 ovos� ● 12 kg de açúcar� ● 12 kg de farinha de trigo. ● 720 laranjas. 8 ● 24kg de fermento. ● 120 litros de leite de coco� ● 240 litros de leite condensado. ● 6 kg de coco ralado� ● 1 kg de manteiga� ● 6 kg de chocolate� ● 1kg de nozes� Cada insumo teve seu custo apurado e multiplicado pela quantidade utilizada para a produção do Bolo estudante. A Tabela 3 detalha os valores, até alcan- çarmos o custo total: Item Unidade padrão Quantidade Valor unitário Custo total Água potável Litros 120 R$ 2,61 R$ 313,63 Leite Litros 12 R$ 2,60 R$ 31,20 Ovos Unidade 1�200 R$ 0,42 R$ 500,00 Açúcar Kg 12 R$ 2,60 R$ 31,20 Farinha de trigo Kg 12 R$ 4,50 R$ 54,00 Laranja Unidade 720 R$ 0,50 R$ 360,00 Fermento Kg 24 R$ 12,00 R$ 288,00 Leite de coco Litros 120 R$ 5,20 R$ 624,00 Leite condensado Litros 240 R$ 3,20 R$ 768,00 Coco ralado (kg) Kg 6 R$ 28,10 R$ 168,60 Manteiga (kg) Kg 0,6 R$ 23,60 R$ 14,16 Chocolate (Kg) Kg 6 R$ 34,20 R$ 205,20 9 Item Unidade padrão Quantidade Valor unitário Custo total Nozes (kg) Kg 0,6 R$ 36,00 R$ 21,60 Embalagens plásticas Unidade 1.440 R$ 0,48 R$ 691,20 Outros itens Unidade 1�920 R$ 0,48 R$ 921,60 Total R$ 4.992,39 Tabela 3: Valores de produção do Bolo estudante. Fonte: Elaborada pelo autor (2020). Obtivemos, portanto, todos os custos diretos com os itens. Vamos chamar esses custos de matéria-prima (MP), pois são os itens de que a boleria precisava para produzir bolosdo tipo estudante� Além do custo com a matéria-prima, há outro custo direto na produção do Bolo estudante: o colaborador dedicado à produção de bolos� Na cozinha da Bruna Bolos, trabalhavam Fernando, Paloma e Fabrício� A divisão entre os três era: Fernando era o responsá- vel pelos Bolos estudante; Paloma, pelo Bolo pós; e Fabrício era assistente e trabalhava na produção dos dois produtos� Ao analisar a divisão da equipe, preci- samos considerar o custo do Fernando como parte dos custos diretos do Bolo estudante” (Tabela 4): 10 Colaborador Função Salário Gasto total (salário + encargos) Fernando Cozinheiro de Bolos estudante R$ 3�000,00 R$ 5�100,00 Tabela 4: Custo com o cozinheiro. Fonte: Elaborada pelo autor (2020). O Custo direto com colaboradores, isto é, o custo de um colaborador que pode ser alocado em um produ- to, é chamado de Mão de obra Direta. Dito de outra forma, o custo com mão de obra direta é o custo com os colaboradores que participam diretamente da fabricação de um produto. Chegamos, assim, ao custo direto do Bolo estudante (Tabela 5): Tipo de custo direto Valor do custo Matéria-prima R$ 4.992,39 Mão de obra direta R$ 5�100,00 Total R$ 10�092,39 Tabela 5: Custo direto do Bolo estudante. Fonte: Elaborada pelo autor (2020). A partir do mesmo raciocínio aplicado ao Bolo estu- dante, vamos entender os custos diretos do Bolo pós� Para tanto, comecemos pela quantidade de Bolos pós produzida e vendida no mês anterior: 11 Tipo de produto Produto Preço de venda Quantidade vendida Vendas totais Bolo pós Pedaço R$ 12,00 1�850 R$ 22�200,00 Para produzir essa quantidade de Bolos pós, o time de cozinheiros da Bruna Bolos precisou de: ● 80 litros de água� ● 8 litros de leite� ● 800 ovos� ● 8 kg de açúcar� ● 8 kg de farinha de trigo. ● 480 laranjas. ● 16 kg de fermento. ● 80 litros de leite de coco� ● 160 litros de leite condensado� ● 4 kg de coco ralado. ● 0,4 kg de manteiga. ● 4 kg de chocolate. ● 0,4kg de nozes. ● 50 litros de chantilly� ● 30kg de pasta americana� ● 50 unidades de kits de confeitaria. ● 960 embalagens plásticas� Da mesma forma que fizemos com o Bolo estudante, apuramos o custo dos itens por meio da multiplica- 12 ção da quantidade utilizada e de cada valor unitário� A Tabela 6 detalha esses valores, até alcançarmos o custo total: Item Unidade padrão Quantidade Valor unitário Custo total Água potável Litros 80 R$ 2,61 R$ 209,09 Leite Litros 8 R$ 2,60 R$ 20,80 Ovos Unidade 800 R$ 0,42 R$ 333,33 Açúcar Kg 8 R$ 2,60 R$ 20,80 Farinha de trigo Kg 8 R$ 4,50 R$ 36,00 Laranja Unidade 480 R$ 0,50 R$ 240,00 Fermento Kg 16 R$ 12,00 R$ 192,00 Leite de coco Litros 80 R$ 5,20 R$ 416,00 Leite condensado Litros 160 R$ 3,20 R$ 512,00 Coco ralado (kg) Kg 4 R$ 28,10 R$ 112,40 Manteiga (kg) Kg 0,4 R$ 23,60 R$ 9,44 Chocolate (Kg) Kg 4 R$ 34,20 R$ 136,80 Nozes (kg) Kg 0,4 R$ 36,00 R$ 14,40 Chantilly Litros 50 R$ 22,00 R$ 1�100,00 Pasta americana Kg 30 R$ 29,47 R$ 884,09 13 Item Unidade padrão Quantidade Valor unitário Custo total Itens de confeitaria Unidade 50 R$ 8,82 R$ 440,78 Embalagens plásticas Unidade 960 R$ 0,48 R$ 460,80 Outros itens Unidade 480 R$ 0,48 R$ 230,40 TOTAL R$ 5.369,13 Tabela 6: Valores unitários e custo total. Fonte: Elaborada pelo autor (2020). Seguindo com o procedimento que adotamos para apurar o custo direto com a produção do Bolo estudan- te, precisamos agora incluir os custos de mão de obra direta que contemplam a produção dos Bolos pós� Conforme já estudamos, na cozinha trabalhavam Fernando, Paloma e Fabrício� A divisão entre os três era: Fernando era o responsável pelos Bolos estudan- te; Paloma, pelo Bolo pós; e Fabrício era assistente e trabalhava na produção dos dois produtos. Paloma é, então, um custo direto na produção desse produto� Colaborador Função Salário Gasto total (salário + encargos) Paloma Cozinheiro – Bolos pós R$ 3�000,00 R$ 5�100,00 Tabela 7: Custo com o cozinheiro. Fonte: Elaborada pelo autor (2020). Chegamos, assim, ao custo direto do Bolo pós: 14 Tipo de Custo Direto Valor do custo Matéria-prima R$ 5�369,13 Mão de obra direta R$ 5�100,00 Total R$ 10.469,13 Tabela 8: Custo direto do Bolo pós. Fonte: Elaborada pelo autor (2020). Vamos também apurar o custo direto de outra linha de produtos da Bruna Bolos: as bebidas� Nesse caso, há uma peculiaridade, que é o fato de ela não ter custo com a matéria-prima. Como as bebidas são compradas prontas e revendidas, todo o custo di- reto desse segmento de produtos consiste no que aprendemos como custo de produtos secundários. O custo de produtos secundários, ou custo direto com as bebidas vendidas, foi de R$ 7.400,00 (Tabela 9): Item Valor total Café R$ 2�000,00 Cappuccino R$ 1�000,00 Chá quente R$ 500,00 Chá gelado R$ 600,00 Refrigerante lata R$ 1�200,00 Água garrafa R$ 1�200,00 Suco garrafa R$ 900,00 Total R$ 7.400,00 Tabela 9: Custo de produtos secundários. Fonte: Elaborada pelo autor (2020). 15 Observe que os custos de produtos secundários são aqueles que não estão associados à produção do principal produto da empresa. Com isso, identifica- mos os custos diretos de cada segmento de produtos da Bruna Bolos� Segmento de produtos Custos diretos Custos indiretos Bolos estudante R$ 10�092,39 ? Bolos pós R$ 10.469,13 ? Bebidas R$ 7.400,00 ? Total R$ 27�961,53 ? Tabela 10: Custos indiretos da Bruna Bolos. Os custos indiretos são diferentes dos custos dire- tos, pois não podem ser associados aos produtos em proporções diretas� Por exemplo, pensemos em uma fábrica que produz cinco produtos diferentes. Nessa fábrica, há um departamento de embalagens cujos colaboradores trabalham para todos os produ- tos, sem uma atribuição predefinida. Esse custo é um custo indireto, visto que não é possível alocá-lo diretamente em um produto� Um outro exemplo é a energia elétrica de uma fá- brica que tem seis tipos de produtos� Se a medição da energia não for separada, o custo é indireto, por ser impossível estabelecer a quantidade de energia consumida por cada produto� 16 Vamos observar a Bruna Bolos agora, a fim de com- preender quais são os seus custos indiretos, ou seja, aqueles custos que não conseguimos atribuir direta- mente a nenhum dos três segmentos de produtos� Observando os custos da Bruna Bolos, podemos no- tar que os três itens podem ser classificados como custos indiretos: impostos, energia elétrica e a mão de obra indireta do cozinheiro assistente, o Fabrício� Os impostos, nesse caso, são custos indiretos, por- que o valor não está associado ao volume produzi- do, mas às vendas de cada produto� Portanto, não sabemos quanto será pago em impostos se a Bruna Bolos produzir 300 Bolos estudantes, por exemplo� Assim, é um custo indireto. A energia elétrica é outro custo indireto. Não há como saber quanto do consumo mensal da boleria foi dedicado a produzir Bolos estudantes e quanto foi dedicado a produzir Bolos pós. O fato é que todo o custo de energia elétrica foi necessário para a pro- dução; assim, é justo que o custo de cada produto contemple tal gasto. Contudo, é impossível atribuir diretamente uma quantidade de energia para um produto e uma quantidade para outro� O mesmo raciocínio se aplica ao cozinheiro assisten- te, o Fabrício� Por ser um colaborador, esse custo se chama de mão de obra indireta� Trata-se de um custo indireto, pois não tem função atribuída diretamente a nenhum dos produtos da boleria, diferentemente dos outros dois cozinheiros� Não seria correto que o 17 custo dele fosse direto de algum produto, visto que ajuda na produção dos Bolos estudante e dos Bolos pós. Logo, é um custo indireto. Temos os seguintes custos indiretos na Bruna Bolos (Tabela 11): Tipo de custo indireto Valor do custo Impostos R$ 9�735,00 Energia elétrica R$ 1�000,00 Mão de obra indireta R$ 3.400,00 Total custos indiretos R$ 14.135,00 Tabela 11: Custo indiretos. Fonte: Elaboradapelo autor (2020). Observe que o total de custos diretos da Bruna Bolos foi de R$ 27.961,53. Nós conseguimos atribuir esse valor em cada produto, mas e quanto aos custos indiretos? É correto afirmar que esses R$ 14.135,00 não fazem parte dos custos dos produtos da Bruna Bolos? A resposta é não. O custo indireto é parte do custo dos produtos da empresa, porém, com a diferença de que não con- seguimos atribuir diretamente esse tipo de custo em cada produto� Por isso, que ele se chama custo indireto� Agora, se não conseguimos atribuir direta- mente esse custo indireto em cada produto, como faremos para que os produtos o absorvam? É preciso ratear esses custos indiretos� 18 Rateio de custos é um tema bem importante nos estudos de custeio e muitas vezes nas empresas são tomadas decisões erradas, porque os rateios são feitos erroneamente. Por isso, vamos trabalhar com métodos de rateio na sequência. 19 MÉTRICAS DE RATEIO PARA CUSTOS INDIRETOS Ratear os custos indiretos é uma prática que visa a atribuir todos os custos indiretos da empresa a seus produtos� No entanto, como a utilização des- ses custos não é precisa em cada produto fabricado pela empresa — como é o caso dos custos diretos, é preciso que sejam estabelecidos critérios para que cada produto absorva uma parte do custo indireto� Vamos pensar em dois amigos que moram na mes- ma casa. O combinado é que cada um arque com seus gastos diretos, mas não conseguem individuali- zar o consumo de energia elétrica. Então, estabelece- ram inicialmente que dividiriam a conta de consumo� Passados alguns meses, um deles argumentou que o quarto do amigo era maior e tinha um banheiro, sugerindo que seu consumo fosse maior e, portan- to, ele deveria pagar a maior parte� Mas o amigo levantou um contraponto: o que tinha o quarto menor levava mais amigos para a casa, sugerindo que ele era quem tinha maior consumo de energia� Eles não adotaram um novo modelo de rateio, permanecendo com o procedimento de divisão da conta� Tempos depois, um dos amigos voltou ao assunto e levantou o seguinte ponto: “eu saio de casa às 6h da manhã e volto às 21h, enquanto você sai às 10h e retorna às 19h� Você passa mais tempo em casa; portanto, a tendência é que o consumo de energia 20 elétrica seja maior da sua parte e, por isso, você deve pagar uma parte maior dessa conta de consumo”� Ao que o amigo respondeu: “você tem um salário bem maior do que o meu e, por isso, é correto que você pague uma parte maior que a minha, mesmo que eu fique mais tempo em casa”. O que esse exemplo nos indica é que existem muitas maneiras de se adotar rateios de custos indiretos dentro das empresas: divisão por unidades de ne- gócio, divisão por espaço ocupado, quantidade de pessoas envolvidas, tempo, potencial de receita etc� As empresas adotam esses modelos, visto que não há um modelo ideal: a adoção do modelo de rateio depende do contexto da empresa e do tipo de custo indireto que está sendo rateado� Rateio por recebimento de vendas O rateio por recebimento de vendas consiste em alocar para cada produto uma parte dos custos in- diretos, conforme a participação das vendas de cada produto� Vamos imaginar a seguinte situação: uma empresa tem dois produtos, o produto A representa 60% das vendas da empresa; o B, 40%. Essa empresa tem custos indiretos de R$ 100 mil por mês e decide adotar o critério por recebimento de vendas para alo- car os custos indiretos nos produtos. Dessa forma, o rateio dos custos indiretos ficaria assim: 21 Tipo de custo indireto % de vendas sobre o total da empresa % de absorção dos custos indiretos Valor dos custos indiretos Produto A 60% 60% R$ 60�000,00 Produto B 40% 40% R$ 40.000,00 Total 100% 100% R$ 100.000,00 Tabela 12: Rateio custos indiretos. Fonte: Elaborada pelo autor (2020). Esse critério de rateio é indicado para custos indi- retos que estão mais ligados à atividade comercial da empresa, como os impostos ou os custos de in- termediários comerciais. Observe que nem todos os critérios são adequados para todos os tipos de custos indiretos� Rateio por área ocupada Tipo de custo indireto m2 % de ocupação Absorção do custo indireto Produto A 200 30,77% R$ 4.615,38 Produto B 150 23,08% R$ 3.461,54 Produto C 300 46,15% R$ 6�923,08 Total 650 R$ 15.000,00 Tabela 13: Absorção dos custos. Fonte: Elaborada pelo autor (2020). Caso a empresa tivesse uma área de 900 m2, sendo que, além dos 650 m2 destinados às plantas onde são fabricados os produtos, houvesse uma área de 22 250 m2 para departamentos administrativos, sem produção de nenhum produto? A resposta é: nesse caso, a fórmula de cálculo seria a mesma, pois esse tipo de cálculo considera apenas as áreas ocupadas pelos produtos, uma vez que eles receberão os custos indiretos� É comum custos como energia, aluguel, IPTU e seguros serem rateados por esse critério. Rateio por quantidade de pessoas diretas O rateio por quantidade de pessoas diretas utiliza, conforme o nome indica, a quantidade de pessoas di- retas envolvidas na produção de cada produto como fator do critério de rateio de determinados custos indiretos� Vamos imaginar que, em uma empresa, se fabriquem os produtos A e B� Nessa empresa, trabalham 100 pessoas, sendo que 40 são colaboradores adminis- trativos, 25 estão diretamente ligados à produção do A; e 35 estão diretamente ligados à produção do B� Com isso, para saber quanto o A deve absorver dos custos indiretos, por esse critério, devemos primeiro saber quantas pessoas trabalham diretamente na produção de A e B, ou seja, 35 + 25 = 60. Depois, vamos apurar quantos colaboradores dire- tos A e B têm em relação aos 60 colaboradores que 23 atuam diretamente na fabricação dos dois produtos. No caso de A, 25 dos 60 (ou seja, 41,66%); no caso de B, 35 dos 60 (ou seja, 58,33%). Consideremos que a empresa utilizou essa métrica para ratear o custo com seguro do imóvel, no valor de R$ 10 mil� Vamos demonstrar os números na Tabela 14: Tipo de custo indireto Quantidade de colaboradores diretos % de colaboradores Absorção do custo indireto Produto A 25 41,67% R$ 4.166,67 Produto B 35 58,33% R$ 5�833,33 Total - de- partamentos de produção 60 R$ 10�000,00 Departamentos administrativos 40 Não considera no rateio Tabela 14: Rateio por quantidade de pessoas. Fonte: Elaborada pelo autor (2020). Podemos perceber que apenas os departamentos associados à produção foram considerados no cál- culo do rateio� Há outras nomenclaturas para essa métrica de rateio: rateio por headcount e rateio por mão de obra direta� Acesse o Podcast 1 em Módulos Acesse o Podcast 2 em Módulos 24 Rateio por custos diretos Outra métrica de rateio é estabelecer o peso que os custos diretos de cada produto têm sobre o to- tal de custos diretos da empresa� Por exemplo, se o produto A tem R$ 200 mil de custos diretos, e a empresa tem R$ 1 milhão, o produto A absorverá 20% (ou seja, R$ 200 mil de R$ 1 milhão) do total de custos indiretos da empresa� Então, se os custos indiretos da empresa totalizarem R$ 2 milhões, o produto A absorverá 20% desse valor, ou seja, R$ 400 mil. Analisa a Tabela 13: Tipo de custo indireto Custos diretos % de custos diretos Absorção do custo indireto Produto A 200�000 40,00% R$ 80�000,00 Produto B 300�000 60,00% R$ 120�000,00 Total - Custos diretos 500.000 R$ 200.000,00 Tabela 15: Rateio por quantidade de pessoas. Fonte: Elaborada pelo autor (2020). O objetivo desse critério de rateio é manter nos cus- tos indiretos a mesma proporção que os produtos têm de despesas diretas em relação ao total de despesas totais da empresa, independentemente de quantos colaboradores diretos o produto A ou B tenham, ou das vendas de A e B� 25 FIQUE ATENTO Imagine que uma empresa tenha vários custos indiretos: energia elétrica, seguros, impostos, co- laboradores do departamento de embalagem etc� Como gestor dessa empresa, qual dessescrité- rios de rateio você escolheria para tais custos? Bem, você pode escolher todos. Não é neces- sário fazer um critério pelo total de custos indi- retos� É possível estabelecer rateios por cada custo� Por exemplo, você pode ratear a energia pelo espaço de cada unidade de produto; ratear o departamento de embalagem pela quantidade de colaboradores etc� A escolha de qual critério adotar para cada custo é subjetiva e passa por uma análise da empresa e da natureza dos custos. Por exemplo, faz sentido ratear a conta de energia elétrica pelas vendas de cada produto? O produto A pode faturar mais do que o B, e isso não necessariamente implica um maior consumo de energia elétrica. Talvez a quantidade de pessoas ou de despesas diretas faça mais sentido nesse caso. De igual modo, não faz sentido atribuir critério de ocupação de áreas para custos como im- postos sobre vendas quando o seu fator gerador seja o volume de vendas� Portanto, mais do que conhecer os custos, é impor- tante conhecer a realidade da empresa a fim de ado- tar critérios de rateio e somar esses custos indiretos nos custos diretos do produto� Precisamos lembrar sempre que erros de custeio muitas vezes geram 26 decisões erradas para a empresa, como desconti- nuidade indevida de produtos, desligamento desne- cessário de colaboradores ou aumento excessivo do preço de vendas� 27 RATEIO DOS CUSTOS INDIRETOS DA BRUNA BOLOS Voltando ao caso da boleria, verificamos que ela apresentou custos indiretos� Agora que sabemos sobre os rateios, vamos analisar cada custo e adotar um critério para cada um deles. Foram três linhas de custos indiretos: impostos, energia elétrica e mão de obra indireta (Tabela 16): Tipo de custo indireto Valor do custo Impostos R$ 9�735,00 Energia elétrica R$ 1�000,00 Mão de obra indireta R$ 3.400,00 Total de Custos indiretos R$ 14.135,00 Tabela 16: Total de custos indiretos. Fonte: Elaborada pelo autor (2020). Ao conhecer a história da Bruna Bolos, presenciamos que o custo de impostos tem como fator gerador o volume de vendas da empresa. Logo, é razoável utilizar a venda de cada produto como critério para a absorção do custo em cada produto (Tabela 17): 28 Tipo de custo indireto Vendas % de vendas sobre o total % de absorção do custo com impostos Valor dos custo com impostos Bolo estudante R$ 21�000,00 32,4% 32,4% R$ 3�150,00 Bolo pós R$ 22�200,00 34,2% 34,2% R$ 3�330,00 Bebidas R$ 21�700,00 33,4% 33,4% R$ 3�255,00 Total R$ 64.900,00 100,0% 100,0% R$ 9�735,00 Tabela 17: Custo em cada produto. Fonte: Elaborada pelo autor (2020). Quanto aos custos com energia elétrica, não seria razoável se aplicássemos o mesmo critério dos im- postos, ou seja, as vendas. Nesse caso, seria mais coerente pensar que a matéria-prima consumida, em sua natureza, exige mais energia elétrica. Se o Bolo pós tem um custo direto maior, é coerente pensar que seu consumo de energia elétrica será maior. Vamos aplicar, portanto, os custos diretos de cada produto como fator de rateio desse custo (Tabela 18): Tipo de custo indireto Custo direto do produto % sobre o custo direto total % de absorção do custo com impostos Valor dos custo com energia elétrica Bolo es- tudante R$ 10�092,39 36,1% 36,1% R$ 360,94 Bolo pós R$ 10.469,13 37,4% 37,4% R$ 374,41 Bebidas R$ 7.400,00 26,5% 26,5% R$ 264,65 29 Tipo de custo indireto Custo direto do produto % sobre o custo direto total % de absorção do custo com impostos Valor dos custo com energia elétrica Total R$ 27.961,53 100,0% 100,0% R$ 1.000,00 Tabela 18: Custos diretos de cada produto como fator de rateio. Fonte: Elaborada pelo autor (2020). Em relação aos custos com mão de obra indireta: pre- cisamos lembrar que a função do assistente Fabrício é ajudar na produção de dois tipos de produtos: o Bolo estudante e o Bolo pós. Dito de outra forma, não podemos incluir esse custo nas bebidas, já que ele não atua na sua produção� Uma vez que entendemos que não podemos incluir as bebidas no rateio do custo indireto de mão de obra, é correto dividir o custo dos dois tipos de bolos, para que cada produto absorva partes iguais? Entendemos que a adoção de um critério de rateio é subjetivo e depende de cada custo e do contexto da empesa. No caso da Bruna Bolos, nós já aprende- mos que a produção de Bolos pós é um pouco mais complexa do que a de Bolos estudante, sugerindo, com isso, que a utilização do assistente pelo Bolo pós é maior do que pelo Bolo estudante. Para mensurar essa complexidade, podemos uti- lizar os custos diretos dos dois tipos de bolos� Precisamos, então, somar o custo direto do Bolo estudante com o Bolo pós e, com esse totalizador, 30 encontrar o peso de cada produto no custo, conforme demonstrado na Tabela 19: Tipo de custo indireto Custo direto do produto % sobre o custo direto total % de absorção do custo com mão de obra indireta Valor dos custo com mão de obra indireta Bolo es- tudante R$ 10�092,39 49,1% 49,1% R$ 1�668,85 Bolo pós R$ 10.469,13 50,9% 50,9% R$ 1�731,15 Bebidas R$ 0,00 0,0% 0,0% R$ - Total R$ 20.561,53 100,0% 100,0% R$ 3.400,00 Tabela 19: Soma do custo direto dos bolos. Fonte: Elaborada pelo autor (2020). Graças ao que aprendemos sobre os custos diretos e métodos de rateio dos custos indiretos, consegui- remos agora apurar quanto custa cada um dos três tipos de produtos da Bruna Bolos� Perceberemos o quanto é importante obter tais cus- tos, pois com eles podemos avaliar o preço de venda e analisar melhor a lucratividade. Nosso desafio é, portanto, saber analisar os tipos de custos que apren- demos, ou seja, os custos fixos, variáveis, diretos e indiretos, para ajudar Bruna a tomar as melhores decisões para sua empresa� 31 CONSIDERAÇÕES FINAIS Aprendemos, neste módulo, que é possível apurar todos os custos de todos os produtos da empresa� Um produto tem custos diretos e custos comparti- lhados com outros produtos, que nós chamamos de indiretos. Mais do que decorar esses conceitos, é importante lembrar que a avaliação crítica dos mé- todos de custeio tem papel fundamental na tomada de decisões� Um clássico exemplo de erro que gera tomada errada de decisão são as classificações equivocadas de custos diretos e indiretos� Muitas vezes, um custo tem utilização total para um produto, mas é clas- sificado como indireto e, pelas métricas de rateio, esse custo é alocado em todos os produtos quando deveria ser apenas de um� Pelo que estudamos, é compreensível concluir que quanto mais custos diretos um produto tem, mais precisa será a apuração de seu custo total� Então, muitas empresas fazem esforços para tornar o má- ximo possível de custos diretos� Quando uma empresa cria um sistema para que to- dos os colaboradores precisem utilizar uma senha para utilizar a impressora ou tirar cópias de documen- tos, por exemplo, é um esforço que a empresa faz para tornar esse custo (com papéis e cópias) direto e, portanto, melhorar a apuração do custo� 32 Nem sempre é possível converter todos os custos em diretos, sendo assim, muitos permanecem como indiretos. Nesses casos, após todos os esforços, utilizamos os critérios de rateio, pois nossa capaci- dade crítica conta muito nessa hora� Não existe um critério a ser adotado. O que precisa é que o critério seja claro para todos os envolvidos e que ele faça sentido para a empresa e para o produto de que o custo faz parte. 33 SÍNTESE • Lucratividade e lucratividade por produto. • Definição de custos: • Lucratividade e lucratividade por produto. • Definição de custos: Neste e-book, demos continuidade ao caso da Bruna Bolos. Com isso, abordamos os seguintes tópicos: Custos diretos, indiretos e Custeio por absorção FUNDAMENTOS DE CUSTEIO • Custos diretos. • Custos indiretos. • Custeio por absorção. • Definição de custo de mão de obra. • Definição de custo de matéria-prima. • Definição de custo de produtos secundários. • Métricasde rateio: • Definição de custo de mão de obra. • Definição de custo de matéria-prima. • Definição de custo de produtos secundários. • Métricas de rateio: • Aplicação da teoria no caso prático Bruna Bolos.• Aplicação da teoria no caso prático Bruna Bolos. • Métrica de rateio por vendas. • Métrica de rateio por área ocupada. • Métrica de rateio por quantidade mão de obra direta. • Métrica de rateio por custos diretos. Referências Bibliográficas & Consultadas CASTIGLIONI, J. A. M.; NASCIMENTO, F. C. Custos de processos logísticos� (Col� Gestão e Negócios)� São Paulo: Érica/Saraiva, 2014 [Minha Biblioteca]. CORRÊA, H. L. Administração de produção e ope- rações: manufatura e serviços: uma abordagem estratégica. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2019 [Minha Biblioteca]. DUTRA, R� G� Custos: uma abordagem prática� 8� ed. São Paulo: Atlas, 2017 [Minha Biblioteca]. LONGENECKER, J. G.; PETTY, J. W.; PALICH, L. E.; HOY, F. Administração de pequenas empresas: lançando e desenvolvendo iniciativas empre- endedoras. São Paulo: Cengage, 2018 [Minha Biblioteca]. MASIERO, G. Administração de empresas: teoria e funções com exercícios e casos� 3� ed� São Paulo: Saraiva, 2012 [Minha Biblioteca]. OLIVEIRA, D. P. R. Administração de processos: conceitos, metodologia, práticas� 5� ed� São Paulo: Atlas, 2013 [Minha Biblioteca]. PADOVEZE, C. L. Custo e preços de serviços: logística, hospitais, transporte, hotelaria, mão de obra, serviços em geral� São Paulo: Atlas, 2013 [Biblioteca Virtual]. ROCHA, E. M. W. Métodos de custeio compara- dos: custos e margens analisados sob diferentes perspectivas. São Paulo: Atlas, 2015 [Biblioteca Virtual]. SILVA, M� L� Custos: Contabilidade gerencial: cus- tos, controle, finanças, administração, marketing, preços. São Paulo: Érica, 2010 [Minha Biblioteca]. INTRODUÇÃO LUCRATIVIDADE ESPERADA CUSTOS DIRETOS CUSTOS DIRETOS DA BRUNA BOLOS MÉTRICAS DE RATEIO PARA CUSTOS INDIRETOS Rateio por recebimento de vendas Rateio por área ocupada Rateio por quantidade de pessoas diretas Rateio por custos diretos RATEIO DOS CUSTOS INDIRETOS DA BRUNA BOLOS CONSIDERAÇÕES FINAIS Síntese
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