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PARASITOLOGIA DOENÇA DE CHAGAS É também conhecida com mal de Chagas. O agente etiológico dessa doença é o Trypanosoma cruzi. Morfologia Semelhante a Leishmania, possui as formas amastigota, epimastigota e tripomastigota. Em todas essas formas evolutivas, há, além do núcleo, uma organela denominada de cinetoplasto – mitocôndria modificada, rica em DNA. Forma amastigota A forma amastigota é a forma arredondada, que possui cinetoplasto em forma de bastão na região anterior ao núcleo (obs: é difícil diferenciar microscopicamente núcleo de cinetoplasto). A forma amastigota é encontrada no hospedeiro vertebrado (homem e algumas outras espécies de mamíferos) e são intracelulares, não apresentando flagelo livre. Forma tripomastigota Possui forma mais alongada, com cinetoplasto mais arredondado e localizado na região posterior ao núcleo. O flagelo emerge da bolsa flagelar, a qual não dá para ser visualizada pelo microscópio ótico, que se adere ao corpo do parasita tornando-se livre na região anterior. São extracelulares e estão presentes no sangue circulante do hospedeiro vertebrado e no reto do hospedeiro invertebrado – tripomastigota metacíclico no barbeiro. Forma epimastigota Possui forma alongada com cinetoplasto em forma de bastão, localizado anteriormente ao núcleo. O flagelo, da mesma forma que na tripomastigota, também emerge da bolsa se adere ao corpo e fica livre na região anterior. Essa forma só é encontrada no intestino de invertebrados – barbeiro. Hospedeiro invertebrado/intermediário É o barbeiro, cujos gêneros mais importantes são Panstrongylus, Triatoma e Rhodnius. O percevejo de importância para nós é o Triatoma infestus, pois é ele que atua como vetor do protozoário Trypanosoma cruzi, causando a doença de Chagas. O hospedeiro intermediário possui hábito noturno, é hematófago, vive nas frestas de casas de pau-a-pique, de palha, madeira, entre outros. Ele suga o sangue do indivíduo na região da barba, por isso o nome. Reservatórios Homem. Mamíferos silvestres e domésticos – gato, cão, porco doméstico, coelho, rato, macaco, sagui, tatú, gambá, morcego. Aves e animais de sangue frio – refratários à infecção. Gambá – dois ciclos do protozoário (sangue/tecidos e glândula de cheiro). São capazes de manter o ciclo de multiplicação do parasita na forma epimastigota, bem como a diferenciação para tripomastigota metacíclico – assim como ocorre no barbeiro – em suas glândulas de cheiro, não apresentando nenhuma evidência de invasão tissular. Portanto, o gambá pode transmitir a forma tripomastigota metacíclica por secreções da glândula de cheiro. Ciclo evolutivo O ciclo evolutivo é heteroxênico, já que necessita de um hospedeiro invertebrado e vertebrado. O ciclo biológico acontece tanto no hospedeiro invertebrado, quanto no vertebrado. Ciclo biológico – invertebrado Indivíduo contaminado com a forma tripomastigota presente no sangue. Dessa forma, quando o barbeiro suga esse sangue, junto, ingere também as formas tripomastigotas. No estômago do barbeiro, essa forma evolui para a forma epimastigota, que se multiplica rapidamente e, no reto do inseto, transforma-se em tripomastigota metacíclico. Essa ultima forma estará presente nas fezes ou na urina do barbeiro. Ciclo biológico – vertebrado O inseto (hematófago) alimenta-se do sangue do humano e urina ou defeca próximo ao local de sucção, com isso, escapa a forma de tripomastigotametacíclico, que penetra por solução de continuidade. No sangue, penetra nas células do sistema mononuclear fagocitário da pele ou de mucosas, com isso, passa a ter a forma amastigota, que se multiplica rapidamente em divisão binária até romper a célula. Ao romper a célula, o parasita volta a ser tripomastigota. Assim, cai na corrente circulatória de tecido ou órgão, a fim de realizar novos ciclos, podendo ocorrer: (1) penetração em novas células e se multiplicar; (2) ser ingerido por outros barbeiros; (3) ser destruídos pelo sistema imunológico. No início da infecção, a carga parasitológica pode ser bem elevada, podendo levar o hospedeiro a morte, principalmente crianças. No entanto, ele também pode desenvolver resposta imunológica, que diminui a parasitemia e a doença tende a se cronificar. Sendo assim, na fase crônica da doença, o número de parasitas é baixo. Transmissão A transmissão mais comum é a natural ou primária – vetorial, ou seja, tripomastigotas metacíclicas na urina do barbeiro. Outros mecanismos de transmissão são: transfusão sanguínea, transmissão congênita (ninhos de amastigotas presentes na placenta podem se romper e a nova forma, tripomastigota, pode alcançar a circulação fetal), acidentes em laboratório, transmissão oral (pode ocorrer pela amamentação e alimentos como açaí e cana-de-açúcar sem cozimento e contaminados pela urina ou fezes do parasita), transplante de órgãos infectados (pode ocasionar uma forma aguda grave). O período de incubação é variável, sendo que a transmissão vetorial ocorre em torno de 4 a 5 dias, já o período de incubação da transmissão oral é de 3 a 22 dias, por transfusão ou transplante é de 30 a 40 dias e a acidental é por volta de 20 dias. Fase aguda O indivíduo na fase aguda da doença pode ser sintomático ou assintomático. A fase aguda na infância pode levar à morte – cerca de 10% dos casos tem esse desfecho. Nessa fase, há uma grande quantidade de parasitas circulantes no sangue, tendo o indivíduo uma intensa parasitemia. Apresenta parasitismo tissular nas fibras musculares – cardíaca, lisa e estriada –, parasitismo em macrófagos, fibroblastos, células da Glia, neurônios. O paciente, nessa fase, apresenta uma intenção reação inflamatória, pode apresentar dilatação vascular do local afetado, bem como pode ficar congesto e com edema, podendo chegar a necrose. A fase aguda inicia-se com sinais do tipo porta de entrada, ou seja, quando o protozoário penetra pela conjuntiva, aparece o Sinal de Romaña, no entanto, quando penetra pela pele, aparece o chagoma de inoculação. Esses sinais aparecem em cerca de 5 a 10 dias após a contaminação da picada do barbeiro por suas fezes e/ou urina e desaparece após 1 ou 2 meses. Sendo assim, o paciente pode apresentar outras manifestações clínicas além dessas citadas, como: febre pouco elevada, mal estar, cefaleia, astenia, taquicardia, enfartamento ganglionar, edema, hepatoesplenomegalia, insuficiência cardíaca, manifestações neurológicas (raramente), meningoencefalite e miocardite (ambas raras, mas leva a morte cerca de 10% dos casos, principalmente crianças). Sinal de Romaña – pode ocorrer em ambos os olhos, sendo que o edema é bipalpebral ou bilateral. Ocorre a formação de uma linfoadenite satélite – inflamação dos gânglios linfáticos irradiando em volta dos olhos. Essa lesão lembra um furúnculo, que não supura, mas descama, fica avermelhada, pode coçar e eliminar secreção – semelhante a uma conjuntivite. Chagoma de inoculação: quando o parasita penetra pela pele, deixando uma lesão semelhante a uma picada. Fase crônica assintomática É também chamada de “forma indeterminada”. Assim, após a fase aguda, o paciente pode passar por uns 10- 30 anos de forma assintomática. No entanto, os exames sorológicos e parasitológicos continuam positivos. Esse paciente apresenta ausência de sintomas e/ou sinais da doença ao exame clínico, ao eletrocardiograma e à exames radiológicos cardíacos e digestivos. Pode acontecer de o paciente apresentar uma miocardite discreta, na qual aparece uma atividade imunológica intensa. Entretanto, pode ocorrer morte súbita também, pois, assintomático, o indivíduo para de acompanhar a evolução do quadro, resultando, então, na sua morte. Fase crônica sintomática Paciente apresenta baixa parasitemia com lesõestípicas no coração e tubo digestivo – esôfago e cólon –, podendo ser observado uma cardiopatia chagásica crônica, megaesôfago e/ou magacólon. Observa-se reativação intensa do processo inflamatório. Os danos nesses órgãos nem sempre são causados pelos parasitas, já que nessa fase a parasitemia é baixa, sendo assim, esses danos ocorrem por dificuldade do órgão trabalhar. A cardiopatia chagásica crônica ocorre por lesão direta do tecido cardíaco pelo parasita. No entanto, a sintomatologia principal é a insuficiência cardíaca congestiva, pois ocorre uma diminuição da massa muscular, devido a sua destruição e substituição por áreas de fibrose. Por esses parasitas atingirem células da Glia e neurônios, podem causar uma destruição no SNA simpático e parassimpático, o que afeta as contrações cardíacas, podendo levar o paciente a diferentes quadros clínicos: formação de trombos cardíacos e morte. A fase crônica sintomática de forma cardíaca é a principal causa de morte, podendo causar síndrome de insuficiência cardíaca progressiva, insuficiência cardíaca fulminante, arritmias graves, morte súbita. Sinais e sintomas: palpitação, dispneia, edemas, dor precordial, tosse, tonturas, desmaios. A cardiomegalia dependerá da quantidade de parasitas que o paciente apresenta, dessa forma, esse quadro pode ser discreto, moderado ou acentuado. As alterações digestivas – morfológicas e funcionais – estão relacionadas com a incoordenação motora, pela degradação do SNA simpático e parassimpático, ocorrendo o aumento do esôfago e do cólon. Esôfago: desaparecimento do peristaltismo e do reflexo de abertura da cárdia durante a deglutição, dificuldade de esvaziamento, dilatação progressiva, hiperplasia e hipertrofia das camadas musculares, atonia. O megaesôfago e caracterizado pela disfagia (dificuldade para deglutir), odinofagia (dor ao deglutir), dor retro esternal, regurgitação, pirose (queimação ou desconforto na região superior do peito) , soluço, tosse, sialose (salivação). Cólon: incoordenação motora entre sigmoide e reto, incapacidade de relaxamento do esfincter do ânus, dificuldade de defecação, dilatação do sigmoide e do reto. O magacólon é caracterizado por constipação intestinal, podendo obstruir e perfurar o intestino, levando a uma peritonite. Diagnóstico clínico É importante verificar o local de origem do paciente, suas condições de habitação. Pesquisar sinais de porta de entrada – Sinal de Romaña e/ou Chagoma de inoculação. Verificar se o paciente apresenta febre irregular ou ausente, adenopatia satélite ou generalizada, hepatoesplenomegalia, taquicardia, edema generalizado (anasarca) ou nos pés – pois o edema está relacionado com a cardiopatia chagásica. Diagnóstico laboratorial Utilizado para confirmar o diagnóstico clínico. Os métodos parasitológicos são importantes na fase aguda da doença (seis primeiras semanas da infecção), na forma congênita e na reativação da infecção crônica. Dentre os métodos parasitológicos temos: Métodos diretos: exame a fresco (100 campos), esfregaço, gota espessa, Giemsa. Métodos indiretos: xenodiagnóstico, hemocultura (caro e demorado), PCR (custo elevado).26:45 Já os métodos sorológicos – para a pesquisa de anticorpos específicos da doença – são utilizados na pesquisa da infecção crônica e da seleção de doadores de sangue. Anticorpos específicos detectáveis 20 a 30 dias após a infecção. Imunofluorescência indireta Imunoensaio enzimático Hemaglutinação indireta Obs: pode dar reação cruzada com leishmanioses, esquistossomose, toxoplasmose. OMS recomenda o uso de dois testes sorológicos diferentes. Tratamento É indicado na fase aguda, nos casos congênitos (fase aguda), em casos de reativação por imunossupressão (ex. órgãos transplantados) e é contra-indicado em gestantes (não impede infecção congênita). Tratamento de sintomáticos: Formas cardíacas – cardiotônicos, diuréticos, antiarrítmicos, vasodilatadores. Formas digestivas – uso de dietas, laxativos, dilatação ou correção cirúrgica do órgão afetado. Fluxograma do diagnóstico na fase crônica Fluxograma do diagnóstico da doença de Chagas congênita Profilaxia Melhoria das habitações; colocar tela em janela; dormir com mosquiteiro. Combate ao “barbeiro”. Controle do doador de sangue. Controle da transmissão congênita. Verificar o controle de qualidade dos alimentos que possam estar infectados.
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