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álgEBra linEar FÍsICa GeraL I LeIBNIZ (1646 - 1716) Gottfried Wilhelm von Leibniz foi um filósofo, cientista, matemático, diplomata e bibliotecário alemão. a ele é atribuída a criação do termo "função" (1694), que usou para descrever uma quantidade relacionada a uma curva, como, por exemplo, a inclinação ou um ponto qualquer situado nela. É creditado a Leibniz e a Newton o desenvolvimento do cálculo moderno, em particular o desenvolvimento da Integral e da regra do Produto. demonstrou genialidade também nos campos da lei, religião, política, história, literatura, lógica, metafísica e filosofia. Maringá 2009 Editora da UnivErsidadE EstadUal dE Maringá Reitor Prof. Dr. Décio Sperandio Vice-Reitor Prof. Dr. Mário Luiz Neves de Azevedo Diretor da Eduem Prof. Dr. Ivanor Nunes do Prado Editor-Chefe da Eduem Prof. Dr. Alessandro de Lucca e Braccini ConsElho Editorial Presidente Prof. Dr. Ivanor Nunes do Prado Editor Associado Prof. Dr. Ulysses Cecato Vice-Editor Associado Prof. Dr. Luiz Antonio de Souza Editores Científicos Prof. Adson C. Bozzi Ramatis Lima Profa. Dra. Ana Lúcia Rodrigues Profa. Dra. Analete Regina Schelbauer Prof. Dr. Antonio Ozai da Silva Prof. Dr. Clóves Cabreira Jobim Profa. Dra. Eliane Aparecida Sanches Tonolli Prof. Dr. Eduardo Augusto Tomanik Prof. Dr. Eliezer Rodrigues de Souto Prof. Dr. Evaristo Atêncio Paredes Profa. Dra. Ismara Eliane Vidal de Souza Tasso Prof. Dr. João Fábio Bertonha Profa. Dra. Larissa Michelle Lara Profa. Dra. Luzia Marta Bellini Profa. Dra. Maria Cristina Gomes Machado Profa. Dra. Maria Suely Pagliarini Prof. Dr. Manoel Messias Alves da Silva Prof. Dr. Oswaldo Curty da Motta Lima Prof. Dr. Raymundo de Lima Prof. Dr. Reginaldo Benedito Dias Prof. Dr. Ronald José Barth Pinto Profa. Dra. Rosilda das Neves Alves Profa. Dra. Terezinha Oliveira Prof. Dr. Valdeni Soliani Franco Profa. Dra. Valéria Soares de Assis EqUipE téCniCa Projeto Gráfico e Design Marcos Kazuyoshi Sassaka Fluxo Editorial Edneire Franciscon Jacob Mônica Tanamati Hundzinski Vania Cristina Scomparin Edilson Damasio Artes Gráficas Luciano Wilian da Silva Marcos Roberto Andreussi Marketing Marcos Cipriano da Silva Comercialização Norberto Pereira da Silva Paulo Bento da Silva Solange Marly Oshima Maringá 2009 Formação de ProFessores em FÍsICa - ead FÍsICa GeraL I Cesar Canesin Colucci João Mura Marcos Cesar Danhoni Neves Maurício Antonio Custódio de Melo 1 Copyright © 2009 para o autor 1ª reimpressão 2010 revisada Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo mecânico, eletrônico, reprográfico etc., sem a autorização, por escrito, do autor. Todos os direitos reservados desta edição 2009 para Eduem. Endereço para correspondência: Eduem - Editora da Universidade Estadual de Maringá Av. Colombo, 5790 - Bloco 40 - Campus Universitário 87020-900 - Maringá - Paraná Fone: (0xx44) 3011-4103 / Fax: (0xx44) 3011-1392 http://www.eduem.uem.br / eduem@uem.br Coleção Formação de professores em Física - Ead Apoio técnico: Rosane Gomes Carpanese Normalização e catalogação: Simone Lima Lopes Rafael - CRB 9/1356 Revisão Gramatical: Josie Agatha Parrilha da Silva Projeto Gráfico: Carlos Alexandre Venancio Edição e Diagramação: Renato William Tavares Capas: Arlindo Antonio Savi Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Física geral I / Colucci, Cesar Canesin... [et al.].- Maringá : Eduem, 2009. 185p. il.; 21 cm. – (Formação de Professores em Física – EAD; v. 1) ISBN 978-85-7628-180-1 1. Física geral. 2. Mura, João. 3. Neves, Marcos Cesar Danhoni. 4. Melo, Maurício Antonio Custódio de. I. Título. II. Série. RCDD 21. ed. 530 F537 3 Sobre os autores ................................................................................... 5 Apresentação da coleção ..................................................................... 7 Apresentação do livro ........................................................................... 9 1 Compreensão dos fenômenos da natureza pela Mecanização do Universo ...........11 2 grandezas Escalares e vetoriais ..........................................................21 3 Cinematemática ...................................................................................31 4 Cinematemática vetorial .................................................................... 53 5 leis de newton.................................................................................... 67 6 trabalho, Energia e potência .............................................................. 97 7 Energia pontencial e Conservação de Energia .................................. 113 8 sistema de partículas, Momento linear e Colisões ...........................129 9 rotação ..............................................................................................149 apêndice ............................................................................................ 177 referências .........................................................................................185 umárioS 5 Cesar Canesin Colucci Bacharel em Física pela Universidade Estadual de Campinas. Obteve seu Mestrado (1978) sobre supercondutividade e seu doutorado (1993) trabalhando com materiais magnéticos pela mesma Universidade. Em 1993 foi pesquisador visitante no Max Planck Institut (Stuttgart- Alemanha). Desde 1983 é professor do Departamento de Física da Universidade Estadual de Maringá e atualmente ocupa o cargo de Professor Associado. João Mura Possui graduação em Física/Licenciatura/Bacharel pela Universidade Estadual de Campinas (1975) e graduação em Direito pela Universidade Estadual de Maringá (1983). O Prof. Mura obteve sua especialização em Ensino de Física Experimental (1979), mestrado (2000) e doutorado em Física (2005) pela Universidade Estadual de Maringá. Desde 1976 é professor do Departamento de Física da Universidade Estadual de Maringá. Atualmente ocupa o cargo de Professor Associado. Nos últimos anos tem trabalhado na área Física da Matéria Condensada, principalmente em fenômenos fototérmicos e fotoacústicos. Marcos Cesar Danhoni Neves Licenciado em Física pela Universidade Estadual de Maringá (1983), Mestrado em Física pela UNICAMP (1986) e Doutorado em Educação pela UNICAMP (1991). Realizou estudos de especialização em Jerusalém, Israel (1992) e de pós-doutoramento no Dipartimento di Física “Enrico Fermi” da Università La Sapienza di Roma, Itália (1995-96). É Professor do Departamento de Física da Universidade Estadual de Maringá, e, desde 2001, Professor Titular do Departamento. Área de estudos: Educação para a Ciência e História e Epistemologia das Ciências. Maurício Antonio Custódio de Melo Licenciado em Física pela Universidade Estadual de Maringá (1987), mestrado em Físico- Química pela Universidade Federal de Santa Catarina (1990), doutorado em Ciências Naturais - Física pela Technische Universität Braunschweig na Alemanha (1995) e realizou um pós- doutorado no Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (1995-1997). Professor da Universidade Estadual de Maringá desde 1997, sendo atualmente Professor Associado. Possui experiência em medidas magnéticas e técnicas nucleares no estudo da matéria condensada. obre os autoresS 7 Embora relativamente recente no Brasil, a Educação a Distância foi imaginada e im- plantada com relativo sucesso, há muito tempo em diversas partes ao redor do mundo. Já em 1833, na Suécia, uma publicação se referia ao ensino por correspondência,e poucos anos depois, na Alemanha, foi fundada a primeira escola por correspondência destinada ao ensino de línguas. Com o advento da transmissão radiofônica, as facilida- des se tornaram reais e as trocas de informações se agilizaram e, consequentemente, a Educação a Distância experimentou um crescimento signifi cativo. Fato semelhante ocorreu com a evolução dos setores de comunicação televisiva, e defi nitivamente, a Educação a Distância se consolidou incorporando novas formas de comunicação. O Ministério da Educação, através da Secretaria de Educação a Distância (SEED) tem promovido uma ampla difusão de vários cursos a distância, em parceria com di- versas Instituições Públicas de Ensino Superior (IPES). O curso de Física em EAD da Universidade Estadual de Maringá (UEM) foi implantado com total apoio desses ór- gãos ofi ciais. Possui disciplinas idênticas e o mesmo conteúdo programático do curso presencial. Entretanto, existem pontos entre ambos, que não podem convergir devido ao enfoque: enquanto o curso presencial requer uma metodologia característica, com a relação professor-discente acontecendo quase que exclusivamente dentro de um espaço físico próprio, o curso a distância deve abranger e considerar a relação espaço- temporal para efetivar o aprendizado. A coleção que ora apresentamos refl ete essa preocupação. Os volumes foram escritos por professores que possuem experiência sufi ciente para elaborar o conteúdo adequado a cada disciplina e, de forma bastante consistente, eleger os tópicos exigidos para a formação de um licenciado em Física. O leitor perceberá que, mesmo dentro de um único livro escrito por diversos autores, a linguagem não é uniforme e os enfoques são diferenciados; enfi m, preservamos tanto quanto possível as particularidades respeitando-se as experiências individuais e, certamente, isso se refl ete na apresentação do conteúdo e no estilo de exposição do presentação da ColeçãoA FÍsiCa gEral i 8 material didático. Adicionalmente uma parcela do corpo docente do Departamento de Física – UEM tem se dedicado à tarefa de produção de textos direcionados a Educação a Distância, os Departamentos de Matemática, de Química, de Fundamentos da Educação e de Informática têm contribuído com os textos pertinentes às disciplinas que usualmente ministram na modalidade Presencial. Ao fi nal do quarto ano, a coleção contará com mais de trinta volumes. Esses foram gerados com o objetivo de proporcionar ao dis- cente da Educação a Distância um material produzido pelo empenho de um conjunto de professores que acreditam que a Educação a Distância seja uma alternativa para suprir a defi ciência de professores de Física no ensino médio. Percebe-se também que não é a modalidade de ensino que determina o aprendizado, mas ele depende, acima de tudo, do esforço e da dedicação de cada um. Esperamos que essa coleção seja uma forma de tornar essa tarefa mais fácil de Física em EAD. Sonia Maria Soares Stivari Organizadora da Coleção 9 Este livro tem como objetivo principal ser um instrumento de auxílio na compreen- são dos conceitos da disciplina de Física Geral I. O capítulo 1 apresenta uma pequena discussão sobre o método científi co e unidades de medidas. A Cinemática é apresen- tada nos capítulos 2, 3 e 4. A Cinemática busca descrever os movimentos dos corpos sem buscar por suas causas primeiras, tarefa essa que será realizada pela Dinâmica. O movimento em uma dimensão é visto no capítulo 2. Baseado no estudo de vetores do capítulo 3, o movimento em duas ou três dimensões é visto no capítulo 4. As três leis de Newton são discutidas no capítulo 5, com uma série de exemplos para uma melhor compreensão desse nevrálgico ramo da ciência mecânica. Para o estudo da energia mecânica é necessário discutir os conceitos de trabalho na física, da energia cinética e da energia potencial. O capítulo 6 apresenta o trabalho e a energia cinética. A energia potencial é vista no capítulo 7, juntamente com o importantíssimo conceito de conservação de energia mecânica. A conservação do momento linear é uma das bases na compreensão dos fenômenos envolvendo colisões. No capítulo 8 é apresentada a conservação do momento linear e colisões. O estudo de rotação e a conservação do momento angular são, fi nalmente, discutidos no capítulo 9. Ao fi nal do livro é apre- sentado um apêndice com alguns símbolos matemáticos usados no decorrer do texto e uma breve revisão da matemática utilizada no livro. O conteúdo apresentado é a base no estudo posterior da mecânica geral, da termo- dinâmica, da mecânica dos fl uidos, da gravitação, das oscilações, do eletromagnetismo e da física moderna. Esta obra é dedicada à memória da colega e amiga Professora Doutora MARLETE APARECIDA ZAMPRÔNIO, precocemente falecida. A ela, nosso tributo de reconheci- mento pelo esforço e pela dedicação com que trabalhou para a realização desse proje- to. A ela dedicamos, de forma modesta e sincera, esta obra. Os autores presentação do livroA 11 A Compreensão dos Fenômenos da Natureza pela Mecanização do Universo 1 1.1 Unidades 1.2 tempo - Comprimento - Massa 1.3 sistema internacional de Medidas (si) 1.4 Conversão de Unidades FÍsiCa gEral i 12 1 A COMPREENSÃO DOS FENÔMENOS DA NATUREZA PELA MECANIZAÇÃO DO UNIVERSO Há cerca de dois mil anos, sintetizando os fragmentos de discursos de seus antecessores acerca dos fenômenos da Natureza, Aristóteles de Estagira, na Antiga Grécia, empreendeu um notável esforço para colocar, em duas obras, Physis e De Caelo, uma ordem racional para tudo aquilo que ocorria entre a Terra e a Lua e entre a Lua e o limite superior do Céu: o orbe das estrelas fi xas. Compreender o passado e as concepções científi cas de outrora é fundamental para compreendermos a revolução científi ca que ocorreria no século XVII, inaugurada por Nicolau Copérnico, Tycho Brahe, Giordano Bruno, Johannes Kepler e Galileo Galilei. Se hoje achamos bobagem explicar que corpos de diferentes massas caem em tempos desiguais quando soltos da mesma altura, porque a cinemática galileana descreve uma queda conjunta, é porque não realizamos um exemplo corriqueiro de deixar cair uma folha de papel e uma pedra. A fenomenologia do movimento e da queda dos corpos percorreu um longo e tortuoso caminho para passar das concepções aristotélicas baseadas num mundo cheio de dissipação para um mundo idealizado, baseado na conservação e na relativização dos corpos em movimento (fi gura 1.1 – O homem medieval que acorda das ‘aparências’ e constrói um Universo mecânico que jaz mais além). Figura 1.1 – Rompendo as aparências (In: http://farm1.static.fl ickr.com/14/18500175_52090b1492.jpg - Acesso em 25/08/2010) A Física, como a conhecemos hoje, passou por um processo de idealização e experimentação que teve início somente na maturidade do Renascimento. As heranças dos primeiros engenheiros da Alexandria helênica (fi guras 1.2a e 1.2b – máquina de Antikhythera – antigo autômato que fornecia uma leitura das horas pelo sol e pela Lua em diferentes latitudes, além de mostrar a posição de cada um dos planetas visíveis à época) e da tardia ciência multicultural de Da Vinci (fi gura 1.3) conspiraram para uma substituição gradual de um mundo dominado pelo misticismo para um mundo compreensível pela razão por meio da mecanização do Universo. Figura 1.2a – Fragmento de uma antiga máquina astronômica grega (máquina de Antikhythera. In: http://www.newyorker.com/reporting/2007/05/14/070514fa_fact_seabrook - Acesso em 25/08/2010) 13 a Compreensão dos Fenômenos da natureza pela Mecanização do Universo Figura 1.2b – Reconstruções da máquina de Antikhythera (In: http://www.antikythera-mechanism.gr/e http://www.grand-illusions.com/images/articles/articles/antikythera/antik2.jpg - Acesso em 25/08/2010) Figura 1.3 – Esboços de Leonardo da Vinci (In: http://www.manatee.k12.fl .us/sites/elementary/ballard/ Art%20Museum/gallery/rennaissance.html - Acesso em 25/08/2010) Observações apuradas, esquemas conceituais bem delineados, busca de regularidades descritas por variáveis como tempo, espaço, temperatura, forneceram à física uma possibilidade de linguagem e de descrição do mundo que hoje se incorpora ao cotidiano da escola e da vida como um todo. Figura 1.4 – O homem de Vitrúvio – “o homem como medida de todas as coisas” (In: http://www.liceoformia.it/Sito_Vitruvio/pagine/progresso.html - Acesso em 20/08/2008) Na história dessa ciência não devemos nos esquecer de que o primeiro passo começou com as medidas espaciais e temporais. A regularidade dos fenômenos celestes (estações do ano, lunação, dia solar, dia sideral, etc.) permitiu ao homem a contagem do tempo. Seu corpo serviu como mostra as fi guras do “homem de Vitrúvio” (fi gura 4), de primeiro instrumento de medidas espaciais. Suas mãos serviram como os primeiros mensuradores angulares (fi gura 1.5). FÍsiCa gEral i 14 Figura 1.5 – Medindo distâncias angulares usando as mãos (in: http://img354.imageshack.us/img354/5050/grausmedirdistceu7hv.gif - Acesso sem 25/08/2010) Para se ter uma idéia, uma das mais extraordinárias façanhas da ciência foi à obtenção da circunferência da Terra, há dois mil anos, pelo pensador grego e diretor da Grande Biblioteca de Alexandria, Eratóstenes. Este pensador, ao abrir um rolo de papiro na Biblioteca, descobriu que no dia 21 de junho, em Siene (hoje Assuan), distante 800 km de Alexandria (fi gura 6), o sol, ao meio dia local, poderia ser observado dentro de um poço (fi gura 7). Nesse dia, o sol se encontrava a pino, mas não em Alexandria. Era a data de solstício do verão que, no hemisfério norte, ocorre em 21 de junho (aqui, no hemisfério sul, é o início de nosso inverno). Figura 1.6 – Distância entre Alexandria e Siene – Egito. Figura 1.7 – O sol no poço em Siene e a sombra de um obelisco em Alexandria. 15 a Compreensão dos Fenômenos da natureza pela Mecanização do Universo Eratóstenes percebeu então que, se isso não era observado em Alexandria (um obelisco nesse dia, p.ex., apresentava sombra ao meio-dia local) era porque a Terra deveria se encurvar no horizonte, ou seja, a forma do planeta deveria ser esférica (fi gura 1.8). β C S A Comprimento da sombra Raios paralelos do Sol tr s Figura 1.8 – Na fi gura, S representa a cidade de Siene, A a cidade de Alexandria e C o centro da Terra Pelo comprimento da sombra em Alexandria, o ângulo foi medido, encontrando-se aproximadamente 7°12’. Observando que as retas r e s eram paralelas interceptadas pela transversal t, Eratóstenes concluiu que os ângulos β e θ eram congruentes (ângulos alternos internos). O ângulo β tem o vértice no centro da Terra e determina na circunferência da Terra o arco compreendido entre Siene e Alexandria (o arco SA). Logo, esse arco também mede 7°12’. Como 7 12´ 7 60´ 12´ 432´ 1 360 360 60´ 21.600´ 50 o o × + = = = × , o referido arco é igual a 1 50 da circunferência da Terra. Eratóstenes pagou a dois agrimensores para medir a distância, em passos (“o homem é a medida de todas as coisas”) entre as duas cidades: 800 quilômetros! Assim, se essa distância corresponde a 1/50 da circunferência da Terra, a circunferência total deverá ter 50 × 800 Km, ou seja, 40.000 km. Esquecendo que a Terra é um esferóide achatada nos pólos, a medida de Eratóstenes erra em menos de 500 metros = 0,5 km. Um desvio percentual de cerca de um milésimo do valor sabido hoje. Compreender essa história e os grandes esquemas conceituais da física, a mudança de paradigmas e por que certas descrições foram aposentadas é mister para compreender a física também como uma ciência humana, falível, substituível e indexadora de uma ordem necessária ao entendimento do mundo. Nesse sentido, o livro que ora se abre buscará, didaticamente, percorrer os grandes temas dessa ciência na área da mecânica, partindo da cinemática e da dinâmica aristotélica até sua substituição pelos esquemas conceituais baseados numa descrição espaço-temporal de Galileo e Newton. 1.1 Unidades 1.1.1 Tempo O que é tempo? Seria ótimo se pudéssemos encontrar uma boa defi nição. Feynman cita em seu livro: “tempo é aquilo que acontece até quando nada mais acontece” [Richard Feynman, The Feynman Lectures on Physics, Addison-Wesley, (1964)]. Santo Agostinho expressa uma dúvida que nos persegue: “sei o que é tempo, mas se me perguntarem o que é já não sei mais o que é”. Isto não nos leva muito adiante para uma defi nição plausível. Bem, uma pergunta que talvez possamos responder mais razoavelmente seria como medir o tempo. Um caminho para descobrir como medir é encontrar alguma coisa que acontece, FÍsiCa gEral i 16 e acontece de novo de uma maneira regular, quer dizer, tem um período. O dia, por exemplo. Mas temos a pergunta: será que o período do dia é regular? Todos os dias têm a mesma extensão? Algumas medidas mais precisas nos indicam que os dias não tem a mesma extensão. Para diminuir este erro podemos tomar um valor médio do dia durante o período de um ano. Até há alguns anos, a unidade de tempo segundo era defi nida como (1/24)(1/60)(1/60) de um dia solar médio. O símbolo de segundo é s. Recentemente foram desenvolvidos os relógios atômicos para medidas mais precisas da unidade de tempo segundo. Estes relógios utilizam uma freqüência característica associada aos átomos de Césio (isótopo de Césio 133). Os átomos, depois de absorverem energia, emitem luz com comprimentos de onda e a freqüência característica do elemento. A unidade de tempo, o segundo, é defi nida de modo que em 1 segundo ocorram 9.192.631.770 oscilações de uma certa transição no átomo de Césio. Assim, podemos defi nir o segundo, usando um relógio atômico, com uma precisão enorme. Podemos medir o tempo com um erro de simplesmente 0,0000003 de segundo por ano. Quanto o segundo é usado para medir tempos muito grandes e também muito pequenos, usamos notação científi ca (ver apêndice A). A idade do nosso universo se for verdadeira a hipótese de que ele teve uma origem, é de 5x1017 segundos, e a meia-vida de uma partícula chamada múon é de 2x10-6 segundos. 1.1.2 Comprimento Podemos agora pensar sobre o comprimento. Quão grandes são as coisas? Bem, para medirmos as coisas corriqueiras do dia-a-dia usamos a unidade chamada metro, simbolizada por apenas m. Este padrão de medida foi defi nido em 1799 como 0,000000001 da distância do equador até o pólo norte. Podemos nos perguntar o quanto essa medida é precisa. Para a época ela foi boa, e só em 1960 esta forma de defi nir o metro foi abandonada. Hoje, o metro é defi nido como a distância atravessada pela luz no vácuo durante o tempo de 1/299.792.458 de segundo. Esta defi nição surge do estabelecimento da velocidade da luz no vácuo como exatamente 299.792.548 metros por segundo. A unidade de comprimento, o metro, é bem difundida no dia-a-dia e utilizada para medidas científi cas. Por exemplo, o diâmetro de um próton é de 1x10-15 metros e o raio da Terra é de 6,4x106 metros. Para medidas astronômicas é comum usar a unidade ano-luz. Um ano- luz corresponde à distância que a luz atravessa no vácuo durante um ano. Um ano luz é igual a 9,46x1015m. A segunda estrela mais próxima conhecida (a primeira é o Sol), “Proxima Centauri”, está a 4,22 anos-luz de distância. 1.1.3 Massa A unidade de massa, o quilograma (kg), se defi ne como a massa de um corpo padrão depositado no Instituto Internacional de Pesos e Medidas, em Sèvres, na França e corresponde a 1.000 gramas (g). Diversos laboratórios têm duplicatas deste corpo padrão.Assim, massas de outros corpos podem ser determinadas comparando-as com as massas destas duplicatas. Uma duplicata deste padrão está depositada no Instituto de Metrologia em Xerém, no Rio de Janeiro. Diversos pesquisadores e grupos de pesquisa de todo o mundo têm procurado uma forma nova e mais precisa em defi nir o quilograma. 1.1.4 Sistema Internacional de Unidades (SI) Na maioria dos países e também na área científi ca, usamos o Sistema Internacional de Unidades, abreviado simplesmente como SI. No SI, a unidade de massa é o quilograma, de comprimento é o metro e o de tempo é o segundo. Com este pequeno número de unidades podemos não só defi nir massa, comprimento e tempo, mas também podemos expressar as unidades de velocidade (m/s), força (kg.m/s2 = newton), energia (kg.m2/s2 = joule), potência (kg.m2/s3 = watt) e outras grandezas que surgirão mais adiante. 1.1.5 Conversão de Unidades Às vezes é preciso converter unidades de um sistema para outro, ou convertê-las dentro de um sistema, por exemplo, de toneladas para quilogramas. As equivalências entre as unidades SI, outras unidades são apresentadas a seguir: MASSA: 1 quilograma (kg) = 1.000 gramas (g) 1 tonelada (ton) = 1.000 kg 1 unidade de massa atomica (u.a.) = 1,6606x10-27 kg Tabela 1.1 – Equivalência entre algumas unidades de massa. 17 a Compreensão dos Fenômenos da natureza pela Mecanização do Universo COMPRIMENTO: 1 quilometro (km)=1.000 metros (m) 1 milha (mi) = 1.609 m 1 polegada (in) = 0,0254 m 1 pé (ft) = 0,3048 m 1 ano-luz= 9,461x1015 m Tabela 1.2 – Equivalência entre algumas unidades de comprimento. TEMPO: 1 hora (h) = 3.600 segundos (s) 1 minuto (min) = 60 s 1 dia = 86.400 s Tabela 1.3 – Equivalência entre algumas unidades de tempo. Para realizar uma conversão, uma grandeza pode ser multiplicada por um fator de conversão, que é igual a 1, com o numerador e denominador tendo unidades diferentes, de tal forma a fornecer as unidades desejadas no resultado fi nal. Por exemplo, suponhamos que se queira converter 36 km/h em m/s. Os fatores de conversão são 1.000m/1km = 1 e 1h/3600s = 1. Podemos multiplicar estes fatores de conversão e obtemos, 1000 1 1.000 36 36 36 10 1 3.600 3.600 3,6 36 10 km m h m m m h km s s s s km m h s × × = × = = = Os fatores de conversão são escolhidos de tal forma que possamos cancelar as unidades. Se as unidades forem escritas explicitamente e depois simplifi cadas, não é preciso ter a preocupação de saber se é necessário dividir ou multiplicar por 3,6 para passar de km/h para m/s, pois as unidades nos dizem, automaticamente, se o fator escolhido estava certo ou errado. Exemplo Se o carro estiver a 60mi/h (milhas por hora), qual a sua velocidade em metros por segundo? Podemos multiplicar 1.609m/1mi=1 para cancelar mi e multiplicamos por 1h/3.600s=1 para cancelarmos h. Ambos os fatores de conversão são iguais a 1, de modo que seu valor não se altera, 60 mi h 1.609 1 m mi × 1h × 26,7 3.600 60 26,7 m s s mi m h s = = Exercícios 1. Quais tipos de fenômenos naturais podem servir como padrões de tempo alternativos? 2. Suponha que duas grandezas A e B tenham dimensões diferentes. Determine quais das seguintes operações matemáticas poderiam ter signifi cado físico: a) A+B; b)A-B; c)A.B; d) A/B. 3. Estime a sua idade em segundos (utilize notação científi ca). 4. Determine a distância de “Proxima Centauri” em metros. (utilize notação científi ca). 5. Na Idade Média o braço era usado como unidade na medida de comprimento. Por que este padrão de comprimento é ruim? Estime o erro desta medida. FÍsiCa gEral i 18 Anotações 19 a Compreensão dos Fenômenos da natureza pela Mecanização do UniversoAnotações FÍsiCa gEral i 20 Anotações 21 Grandezas Escalares e Vetoriais 2 2.1 direção e sentido 2.2 grandezas vetoriais - vetores 2.3 adição vetorial 2.4 Componentes de Um vetor - decomposição vetorial 2.5 vetores Unitários FÍsiCa gEral i 22 2 GRANDEZAS ESCALARES E VETORIAIS Na vida cotidiana, apesar de quase não percebermos, sempre estamos envolvidos com grandezas físicas. O comprimento de uma mesa, a quantidade de massa de um produto, a duração temporal de um fi lme, a quantidade de músicas em um CD, a distância entre uma cidade e outra, a temperatura de nosso corpo, a pressão sanguínea, o volume de um copo. As grandezas que fi cam completamente defi nidas por um número real, positivo ou negativo, associado a uma unidade de medida específi ca, são denominadas de grandezas escalares, ou simplesmente, escalares. Para trabalhar com grandezas escalares, utilizamos as regras da aritmética comum, ou seja, elas podem ser livremente somadas ou subtraídas, multiplicadas ou divididas, desde que tenham as mesmas unidades de medida. Figura 2.1 É comum ouvirmos: “eu estava a 80 km/h.”. A velocidade dita dessa forma é a velocidade escalar instantânea do veículo, porque contém somente o módulo (80) e a unidade derivada de medida (km/h), mas deve-se lembrar que a velocidade é uma grandeza que requer uma direção e um sentido em sua defi nição. Tal raciocínio é válido também para a aceleração. Figura 2.2 Em navegação aérea, quando se faz o plano de voo, leva-se em conta o tempo total de voo (escalar), a quantidade de combustível necessária (escalar), a distância a ser percorrida até o aeroporto de destino e pelo menos outro alternativo (escalar), a velocidade, a direção e o sentido a serem seguidos, considerando a direção do vento predominante e a declinação magnética da região. Com todos estes dados, o piloto traça a rota a ser seguida e a entrega ao sistema de controle de voo do aeroporto de partida. O plano de voo é traçado sobre uma superfície plana ou num mapa da região por meio de segmentos de retas orientadas, levando-se em consideração os dados acima. Tal procedimento, principalmente o conhecimento da direção e da posição da aeronave, é fundamental em função da possibilidade de não se chegar ao destino ou de se querer saber onde a aeronave deverá estar num certo momento. Os cálculos, posições e direções são possíveis devido ao uso de operações vetoriais, tanto por métodos gráfi cos quanto pelo uso da trigonometria. Então, além de conhecer a velocidade escalar da aeronave, é imprescindível o conhecimento de sua direção e sentido para sua fácil localização, dados últimos que não são signifi cativos numa viagem de automóvel. 2.1 Direção e Sentido Toda direção sempre possui dois sentidos, que pode ser: leste-oeste; norte-sul; de baixo para cima ou vice versa, da esquerda para a direita ou vice-versa; positivo-negativo ou negativo- positivo. A direção pode ser defi nida como sendo “o que há de comum em um conjunto de retas paralelas”. No exemplo que segue (fi gura 2.3), o ângulo θ que as paralelas formam com a reta 23 grandes Escalares e vetoriais horizontal, é o que há de comum entre elas, defi nindo assim, sua direção. A seta na extremidade das paralelas defi ne o sentido do feixe. Figura 2.3 2.2 Grandezas Vetoriais - Vetores Existem outras categorias de grandezas que, além do módulo e da unidade de medida, também necessitam de uma direção e de um sentido para fi carem completamente caracterizadas. Tais grandezas são denominadas de grandezas vetoriais ou, simplesmente, vetores. Como exemplo de vetores, podemos citar: o deslocamento de um corpo no espaço, a força aplicada sobre um objeto, a intensidade de um campo elétrico ou magnético, a aceleração gravitacional. Para trabalharmos com vetores, regras especiais devem ser seguidas e, de acordo com a necessidade, elas serão inseridas nos capítulos subseqüentes. Exemplo No mapa a seguir (fi gura 2.4), temos dois vetores. O primeiro tem comprimento de 80 km (módulo + unidade de medida = escalar),que é a distância entre Maringá e Londrina, sendo representado pelo segmento orientado AB . Sua direção é a da reta que une as duas cidades e seu sentido é de Maringá para Londrina. O segundo vetor tem comprimento de 220 km (módulo + unidade de medida = escalar), que é a distância entre Londrina e Ponta Grossa, sendo representado pelo segmento orientado AB . Sua direção é a da reta que une as duas cidades e seu sentido é de Londrina para Ponta Grossa. Cada vetor descrito no mapa é diferente em módulo, direção e sentido. Figura 2.4 Um vetor é representado simbolicamente por uma letra com uma seta orientada em cima. Exemplo: V . Dois vetores são iguais, se e somente se, possuírem o mesmo módulo, a mesma direção e o mesmo sentido. Se qualquer um desses elementos for diferente, o vetor será diferente do outro. FÍsiCa gEral i 24 2.3 Adição Vetorial Vamos considerar dois vetores, denominados de 1V e 2V , representados pelos segmentos orientados AB e BC , respectivamente, e com o ponto B em comum. O vetor soma ou vetor resultante SV , representado pelo segmento orientado AC , com origem no ponto A e extremidade no ponto C, é a soma vetorial dos vetores, que não é igual à soma algébrica de seus módulos, como poderia ser entendido. Essa regra é conhecida por regra dos vetores consecutivos ou do ponto comum, ou ainda de regra do triângulo. As representações simbólica e gráfi ca são (fi gura 2.5): Figura 2.5 A operação gráfi ca que representa a soma de vetores é aplicada quando os vetores possuem um ponto em comum, no caso, o ponto B. Quando não houver ponto em comum, deve-se transladar um dos vetores (a translação não muda o vetor) até que se encontre o ponto comum aos dois (extremidade do primeiro com o início do segundo). Feito isso, somam-se grafi camente os vetores. Analisando a fi gura 3.5, deve-se notar que o vetor soma SV representa a diagonal de um paralelogramo, cujos lados são os respectivos vetores 1V e 2V . Dessa forma, podemos introduzir outra regra, conhecida por regra do paralelogramo para a adição vetorial, equivalente à regra gráfi ca descrita, mas que, para aplicá-la, deve-se transladar um dos vetores até que seu início encontre o ponto inicial do outro. O ângulo entre os vetores é θ. Sem alterar o módulo, a direção e o sentido de cada vetor e fazendo coincidir suas origens (fi gura 2.6), traça-se da extremidade de 1V um segmento de reta tracejada paralela ao vetor 2V , e da extremidade do vetor 2V , traça-se um segmento de reta tracejada paralela ao vetor 1V . Ligando-se o ponto comum aos dois vetores ao ponto onde se cruzam os segmentos de reta tracejadas, obtemos o vetor resultante. Figura 2.6 Também podemos calcular matematicamente o módulo do vetor resultante pela relação abaixo, conhecida por lei dos cossenos. 2 2 2 1 2 1 22 cossV V V VV θ= + + . Se o ângulo entre os vetores for igual a 90º (cos 90º = 0), eles são perpendiculares entre si. Assim, o módulo do vetor soma é obtido pela aplicação do Teorema de Pitágoras. Se o ângulo entre os dois vetores for igual a 0º (cos 0º = 1), eles possuem a mesma direção e sentido, e o módulo do vetor soma será a soma dos módulos dos dois vetores. Se o ângulo entre eles for igual a 180º (cos 180º = -1), os vetores possuem a mesma direção, mas têm sentidos opostos e, nesse caso, o módulo do vetor resultante será o módulo da diferença entre os módulos dos dois vetores. Pela regra do paralelogramo, a diferença entre os vetores 1V e 2V , escrita como 1 2dV V V= − (vetor diferença) é a outra diagonal do paralelogramo. Sem alterar os vetores que partem de um ponto em comum, unimos suas extremidades com um segmento de reta orientado de 2V para 1V , que é o vetor diferença (fi gura 2.7), cujo módulo é dado por, 2 2 2 1 2 1 2 cosdV V V VV θ= + − . 25 grandes Escalares e vetoriais Figura 2.7 Podemos multiplicar ou dividir um vetor por um escalar (número real positivo ou negativo, mas não nulo). Seja V o vetor e n o escalar. O produto será dado por: RV nV= . O módulo do vetor resultante é igual ao produto dos módulos do vetor e do número. A direção é a mesma do vetor V , mas o sentido depende do número n. Se n for positivo o sentido é o mesmo do vetor V e, se n for negativo, o sentido é contrário ao vetor V . A mesma regra vale para a divisão de um vetor por um escalar. Se n = 0, o produto é nulo, daí temos o vetor nulo 0RV = . 2.4 Componentes de um Vetor – Decomposição Vetorial Antes de defi nirmos as componentes de um vetor, vamos ver um pouquinho de geometria plana diretamente relaciona ao caso. Suponha o triângulo retângulo da fi gura 2.8. Os lados AB e BC são chamados de catetos e o lado AC é denominado de hipotenusa. O ângulo θ está subentendio pelos lados AC e AB. Os comprimentos (medidas) dos lados são a, b, e c. Figura 2.8 Defi ne-se seno do ângulo θ (senθ) como sendo, . bsen b c sen c θ θ= ⇒ = Pode-se dizer que a medida de um cateto é igual à medida da hipotenusa multiplicada pelo seno do ângulo oposto a esse cateto. Defi ne-se cosseno do ângulo θ (cosθ) como sendo, cos .cos a a c c θ θ= ⇒ = Podemos dizer que a medida de um cateto é igual à medida da hipotenusa multiplicada pelo cosseno do ângulo adjacente a esse cateto. Defi nimos a tangente do ângulo θ (tgθ) como sendo, cos sen btg tg a θθ θ θ = ⇒ = Dizemos, então, que a medida da tangente de um ângulo é a razão entre a medida do cateto oposto ao ângulo θ pela medida do cateto adjacente ao ângulo θ. Defi nidas as relações trigonométricas associadas a um triângulo retângulo, veremos agora os componentes de um vetor através de sua decomposição em um sistema de coordenadas ortogonais. Este procedimento será útil quando defi nirmos trabalho realizado por uma força (capítulo 6). Todo vetor V pode ser obtido a partir da soma de dois outros vetores, perpendiculares entre si, denominados de componentes do vetor V . Sendo assim, podemos decompor o vetor V em dois outros vetores, chamados de componentes do vetor V nas direções perpendiculares associadas a um sistema de eixos ortogonais x e y. FÍsiCa gEral i 26 Vamos supor um vetor V , conforme pode ser visualizado na fi gura 2.9. Figura 2.9 O vetor xV é o componente do vetor V na direção do eixo x, cujo módulo é dado por .cosxV V θ= O vetor yV é o componente do vetor V na direção do eixo y, cujo módulo é dado por .yV V senθ= A tangente do ângulo θ é dada pela razão entre os módulos dos componentes, ou seja, y x V tg V θ = O vetor V é a soma vetorial dos vetores xV e yV , isto é, x yV V V= + O módulo do vetor V é dado pelo Teorema de Pitágoras, ou seja, 2 2 2 x yV VV V= = + 2.5 Vetores Unitários Para decompor vetores também é possível introduzir vetores de comprimento unitário, paralelo ao vetor dado. Em três dimensões, eles formam uma base ortonormal de vetores unitários, normalmente designados pelos símbolos i, j, k, e que são paralelos aos semi-eixos positivos Ox, Oy, Oz, respectivamente, conforme visualização pela fi gura 2.10. Figura 2.10 Não é necessário fi xar os vetores unitários na origem do sistema de coordenadas retangulares, pois podem ser transladados espacialmente, desde que mantidas suas direções relativas aos eixos xyz. Desta forma, podemos representar o vetor da fi gura 3.9 como sendo V = Vx i + Vy j, na qual V x i e Vy j são denominados de componentes vetoriais do vetor V (fi gura 2.11). 27 grandes Escalarese vetoriais Figura 2.11 1. Um trabalhador, para chegar ao local de serviço, partindo de sua casa (ponto de referência), efetua os seguintes deslocamentos: anda 500 m para leste; depois, 400 m para o norte e, fi nalmente, 300 m para o oeste. Em linha reta, qual a distância que ele andou até chegar ao trabalho? 2. Considere a fi gura 3.6. Suponha que os módulos dos vetores 1V e 2V e o ângulo θ, sejam iguais a 5m, 8m e 30o, respectivamente. Calcule o módulo do vetor soma e o módulo do vetor diferença. 3. Para θ = 90o, mostre que tanto o módulo do vetor soma quanto o módulo do vetor diferença possuem o mesmo valor. 4. Dados os vetores a = 4 i -2 j + 3 k e b = -2 i + 4 j – k. Ache os vetores soma e diferença. 1. É possível adicionar uma grandeza escalar a uma grandeza vetorial? Explique. 2. A distância através da rodovia entre Maringá e Curitiba é cerca de 430 km. Com a ajuda de um mapa (fi gura 2.4), estime o valor do vetor deslocamento Maringá-Curitiba. 3. Um avião sobe com velocidade escalar de 250 km/h e com um ângulo de inclinação de 30o em relação ao solo. Determine os componentes escalares da velocidade nos eixos x e y. Faça o diagrama do vetor velocidade e de seus componentes nos eixos citados. FÍsiCa gEral i 28 Anotações 29 grandes Escalares e vetoriais Anotações FÍsiCa gEral i 30 Anotações 31 Funções de uma variável realCinemática Escalar3 3.1 Movimento – Corpos – partículas – trajetória 3.2 Espaço - deslocamento Escalar - velocidade e aceleração (Movimento Unidimensional) 3.3 Movimento de lançamento na horizontal e de lançamento oblíquo (Movimento no plano) FÍsiCa gEral i 32 3 CINEMÁTICA ESCALAR 3.1 Movimento – Corpos – Partículas – Trajetória Você já deve ter percebido que tudo em sua volta está em movimento, que todas as coisas mudam ao seu redor, inclusive você. Mesmo quando está dormindo aquele sono profundo, os inúmeros órgãos de seu corpo estão realizando vários movimentos. O coração bate ejetando e recolhendo sangue, você respira e seu pulmão está em movimento, sua língua se movimenta, todas as moléculas e átomos de seu corpo vibram, giram e se deslocam, enfi m, você está sempre em movimento. No Universo, e mesmo nas coisas mais simples, o movimento é a regra. As coisas se transformam, mudam suas posições no espaço e no tempo. A natureza está em constante movimento, e em função disso é que os povos da antiguidade denominavam o estudo da natureza de “estudo do movimento”. A palavra grega física (physis) signifi ca natureza, estudo da natureza. Os movimentos podem ser muito complexos, pois os corpos que os executam podem vibrar, rotacionar, se deslocar pelo espaço, possuir movimentos internos de átomos e moléculas. Tais movimentos podem acontecer ao mesmo tempo e, descrever todos, não é tão simples assim. Para simplifi car nossos estudos, vamos considerar o movimento mais simples possível realizado por um corpo (sistema de partículas ou conjunto de átomos e moléculas), ao qual denominaremos de “partícula” ou “ponto material”, evitando assim várias complicações. Matematicamente, uma partícula é tratada como um ponto geométrico, um objeto sem dimensões físicas, mas que possui massa e, para simplifi car ainda mais, movimentos como rotação, vibração e outros não serão considerados. Só existirá movimento de translação. Nos corpos que apresentam somente movimento de translação, todos os seus pontos apresentam o mesmo deslocamento espacial no tempo, ou seja, apresentam o mesmo movimento de uma partícula. O movimento é solidário com a partícula. É importante ressaltar que um objeto sem dimensões físicas não existe na natureza, mas o conceito é muito útil em física. Também deve fi car claro que, ao usar o termo partícula para representar um corpo, não signifi ca que ele é muito pequeno, no sentido usual do termo. O corpo pode ser grande, como a Terra, por exemplo, mas se considerarmos seu tamanho e distância em relação ao Sol e quisermos estudar seu movimento anual, poderemos tratá-la como partícula e descrever o movimento em torno do Sol sem muitas complicações. Mas, se pretendermos estudar a sucessão de dias e noites em nosso planeta, a Terra não poderá ser tratada como partícula, porque o movimento envolvido é o de rotação e uma partícula não possui partes que podem girar umas em torno das outras. Também, deve fi car claro que, ao utilizarmos o termo partícula, estamos supondo que toda a massa do corpo esteja concentrada num único ponto material de seu interior, denominado de centro de massa, que se desloca da mesma forma que se deslocaria uma única partícula, sujeita ao mesmo sistema de forças externas. A linha gerada pelo deslocamento do centro de massa ou da partícula é chamada de trajetória. Também chamaremos de sistema o corpo rígido ou o conjunto de corpos que estamos estudando a partir de um ponto observacional. Todos os outros corpos que não pertencem ao sistema serão denominados de vizinhança, que em última análise, é a responsável pelas ações sobre a partícula, determinando seu movimento, sua velocidade e aceleração. Na realidade, pode ser demonstrado que, para qualquer sistema (corpo ou conjunto de corpos, rígidos ou não) sempre existe um ponto do espaço que pode pertencer ao corpo, se for um só, ou se for um conjunto de corpos, o ponto pode estar fora de qualquer corpo, inclusive (centro de massa do conjunto), que ao se deslocar gera uma curva (trajetória do centro de massa) que se confunde com a trajetória da partícula. Voltando à nossa velha Terra, se a considerarmos como uma esfera rígida, seu centro de massa será o centro da esfera terrestre1. Se desprezarmos as ações (forças externas) dos inúmeros corpos espaciais que nos cercam, somente considerando a ação do Sol, a trajetória do centro de massa de nosso planeta será igual à trajetória de uma partícula localizada em seu centro e com a massa da Terra. Um outro dado a ser considerado é o problema do ponto de observação, do referencial 1 O aluno deve ter em mente que o termo “esfera terrestre” não é de todo correto, pois nosso planeta, ao girar em torno de seu próprio eixo, submetido a forças ditas “não inerciais”, transforma-se num esferóide de rotação achata- do nos pólos. Um outro dado importante é que a Terra não é uma “esfera rígida”, mas sim uma esfera deformável devido ao seu movimento de rotação e, também, pelas marés provocadas pela ação gravitacional conjunta da Lua e do sol. 33 Cinemática Escalar do observador, pois existem pontos de observação que podem simplifi car a descrição e estudo do movimento da partícula. Além disso, a descrição e o estudo de um movimento são diferentes para diferentes observadores que estejam em diferentes pontos de observação ou em diferentes referenciais. Em função disso, sempre que possível, escolheremos referenciais de observação no intuito de que sejam permitidas descrições mais simples dos movimentos estudados. É fundamental perceber que todo e qualquer movimento é relativo ao observador, ao seu referencial observacional, ou seja, depende de onde se está olhando para descrevê-lo, para estudá-lo. Não há um referencial absoluto onde todos os movimentos são descritos da mesma forma. Salientou-se acima que o movimento de uma partícula é sempre um movimento relativo, pois depende do referencial que estamos utilizando para descrevê-lo. Além do movimento ser relativo, a trajetória descrita pela partícula também depende do referencial adotado. Mas o que é um referencial ou um sistema de referência? Para que ele serve? No estudo de qualquer movimento, é importante que se possa localizar a todo instante em que posição a partícula se encontra. A localização está intimamente relacionada à idéia de referencial, pois só podemos dizer que uma partícula está em movimento se ela muda de posiçãoem relação a um determinado referencial. Normalmente, o referencial é um outro corpo que usamos como referência. Podemos defi nir referencial como qualquer corpo escolhido como ponto de referência, em relação ao qual serão analisadas as posições e movimentos de outros corpos ou partículas. Nas estradas, as placas correspondentes aos marcos quilométricos informam aos motoristas que distância ele está do ponto de origem (marco zero do referencial). Nas cidades, a numeração nas casas indica a posição da residência em relação ao início da rua, inclusive de que lado está a casa (lado direito ou esquerdo). A catedral de uma cidade, geralmente posicionada na área central, é adotada como marco zero para se contar distâncias dos bairros ao centro. Geralmente, estabelecemos um sistema de coordenadas fi xadas no corpo referencial a fi m de localizar as posições dos outros corpos ou partículas observadas. O sistema de coordenadas usado para especifi car posições no espaço deve conter um ponto de referência, chamado de origem, simbolizado pela letra “O”, e um conjunto de eixos ou direções específi cos, simbolizadas pelas letras “xyz”, identifi cadas nos eixos com escala de medidas apropriadas. É comum utilizarmos um sistema de coordenadas denominado de “sistema cartesiano de coordenadas”, também conhecido por sistema de coordenadas retangulares. Dependendo do problema a ser resolvido, o referencial poder conter três eixos (tridimensional ou espacial), dois eixos (bidimensional ou no plano) ou somente um eixo (unidimensional ou na reta). Esse sistema de coordenadas será utilizado em nossos estudos daqui para frente. Se, porventura, necessitarmos de outro sistema referencial, introduziremos em momento oportuno. 3.2 Espaço - Deslocamento Escalar –Velocidade e Aceleração (Movimento Unidimensional) Vamos considerar um movimento de translação unidimensional. Nesse caso, a posição da partícula ao longo da trajetória é indicada por uma única coordenada de medida, que é uma medida algébrica, podendo ser positiva, negativa ou nula e sempre estará relacionada ao ponto de referência adotado como origem do sistema de coordenadas. Tal medida algébrica recebe o nome de espaço ou posição, indicando a posição espacial da partícula em relação à origem, nominado pela letra x. O espaço informa somente a posição da partícula em um determinado instante, mas não serve como indicativo de seu movimento ou de seu estado de repouso e nem da distância percorrida. Deve fi car claro que o movimento de uma partícula fi ca especifi cado se sua posição no espaço for conhecida em todos os tempos. Então, para se determinar a posição de uma partícula numa dada trajetória, é sufi ciente fornecer o valor de sua distância medida sobre a trajetória em relação à origem do referencial. Nessa parte, todos os movimentos serão tratados do ponto de vista escalar. O tratamento vetorial será feito oportunamente. Se a partícula muda de posição com o passar do tempo, signifi ca que a partícula apresentou um deslocamento escalar translacional, simbolizado por Δx, que nem sempre corresponde à distância efetivamente percorrida pela partícula. Suponha que a partícula deslocou-se de uma posição inicial xi para uma posição fi nal xf, após certo tempo. Defi ne-se deslocamento escalar como sendo igual à diferença entre os espaços fi nal e inicial, ou seja, f ix x x∆ = − . FÍsiCa gEral i 34 1. Uma partícula se desloca da posição A para a posição B e, logo depois, retorna à posição C, conforme a desenho abaixo. Determine: a) o deslocamento escalar e a distância percorrida pela partícula ao se deslocar de A para B; b) o deslocamento escalar e a distância percorrida ao se deslocar de A para B e depois retornar a C. 1. Se uma partícula apresenta deslocamento escalar nulo, a distância realmente percorrida também será nula? Quando o deslocamento escalar é igual à distância efetivamente percorrida? 3.2.1 Velocidade Escalar Ao se deslocar de um ponto a outro ao longo da trajetória a partícula demanda certo tempo. No instante inicial ti sua posição era xi e no instante fi nal tf sua posição era xf. O intervalo de tempo é dado por, f it t t∆ = − . Defi ne-se velocidade escalar média vm (que é uma velocidade associada ao movimento de translação) no intervalo de tempo considerado, como a razão entre o deslocamento escalar e o correspondente intervalo de tempo (o tempo sempre será uma grandeza escalar positiva), ou seja, f i m f i x xxv t t t −∆ = = ∆ − . Da forma como está defi nida, a velocidade escalar média não é um vetor, pois não há uma direção associada a ela. A variação temporal é sempre positiva, mas a variação espacial pode ser positiva, negativa e até nula, se a partícula retornar à sua posição inicial; assim, o sinal de Δx indica o sinal da velocidade escalar média. Também é importante frisar que a velocidade escalar média não é a mesma coisa que velocidade média, que tem natureza vetorial e que independe da trajetória, pois está associada ao vetor deslocamento e não ao deslocamento escalar, simplesmente, como é o caso da velocidade escalar média. Quando discutirmos a cinemática vetorial voltaremos ao assunto. No Sistema Internacional de medidas (SI), a velocidade (escalar ou vetorial) é uma unidade derivada que relaciona o espaço (escalar ou vetorial) percorrido pelo tempo gasto para percorrê-lo, ou seja: m/s (metro por segundo). Também se encontram unidades em km/h (quilômetros por hora), cm/s (centímetros por segundo) que, como vimos em 1.1.5, podem ser convertidas umas nas outras. Exemplo 1. Suponha que um carro em movimento, sempre no mesmo sentido em relação ao solo (referencial), percorra 210 km em 3 horas. Qual o valor de sua velocidade escalar média? 210 70 / 3m x kmv km h t h ∆ = = = ∆ Obs. Sua velocidade escalar média será igual à distância efetivamente percorrida pelo tempo gasto, ou seja, 70 km/h. É importante destacar que o velocímetro do carro poderá não marcar sempre 70 km/h, pois a velocidade do carro poderá aumentar ou diminuir, inclusive o veículo pode até parar, eventualmente. 2. A distância entre dois semáforos é de 300 metros. Mantendo a velocidade constante, um motorista demora 30 segundos para percorrê-la. Qual o valor da velocidade escalar média? 35 Cinemática Escalar É necessário perceber que o velocímetro indica o módulo da velocidade no momento de sua leitura, indicando, assim, o valor absoluto da velocidade escalar instantânea. A velocidade escalar em cada instante é denominada de velocidade escalar instantânea, normalmente associada a movimentos variados. Matematicamente, a velocidade escalar instantânea é o valor limite a que tende a velocidade escalar média quando Δt tende a zero, isto é, 0 lim t x dxv t dt∆ → ∆ = = ∆ . Utilizando a linguagem de cálculo diferencial, a velocidade escalar instantânea dada pelo limite acima é denominada de derivada de x com relação ao tempo t, sendo escrita como dx dt , isto é, a velocidade escalar instantânea é obtida pelo cálculo da derivada do espaço em relação ao tempo, ou seja, dxv dx vdt dt = ⇒ = . Exemplo 2. É dada a equação horária do espaço de um carro: x(t) = 5 – 2t + 6t2, para x em metros e t em segundos. Determine: a) a equação horária da velocidade escalar instantânea; b) a velocidade escalar instantânea no instante 5 s; c) o instante no qual a velocidade escalar instantânea é nula. Solução a) A velocidade escalar instantânea é dada pela derivada do espaço com relação ao tempo. 2(5 2 6 ) 0 2 12 ( ) 2 12 dx d t tv t v t t dt dt − + = = = − + ⇒ = − + b) No resultado anterior o tempo t = 5s, assim, v = 58 m/s c) Fazendo v = 0 na equação horária da velocidade, obtém-se o tempo, donde, t = 0,1666... s A velocidade escalar instantânea é importante para nos informar o comportamento da velocidade duranteum movimento. As unidades de medida da velocidade escalar instantânea são as mesmas da velocidade escalar média, e também da velocidade vetorial que será posteriormente defi nida. Se a velocidade de uma partícula é constante, sua velocidade escalar instantânea em qualquer instante, durante um intervalo de tempo, é a mesma que a velocidade escalar média durante o mesmo intervalo de tempo. Neste caso, teremos um movimento retilíneo e uniforme (MRU). Em tal movimento, a partícula percorre distâncias iguais em intervalos de tempo iguais. Matematicamente, temos que, 0f im f i x xxv v constante t t t −∆ = = = = ≠ ∆ − f ix x v t− = ∆ f ix x v t= + ∆ ( )f i f ix x v t t= + − A equação em destaque nos diz que a posição da partícula fi ca determinada pela adição de sua posição inicial no tempo t = ti (xi) ao deslocamento v(tf - ti) que ocorre durante o intervalo de tempo Δt. Normalmente, fazemos o tempo inicial ti = 0 e o tempo fi nal tf = t, além da posição fi nal xf = x e a posição inicial xi = x0. Assim, a equação em destaque acima fi ca, 0x x vt= + . Esta é a equação fundamental do movimento uniforme, denominada de função horária do MRU, querendo dizer que o espaço é função do tempo [x = f(t)]. Tal equação pode ser FÍsiCa gEral i 36 aplicada a qualquer movimento uniforme, independentemente da trajetória da partícula, que pode ser retilínea ou curvilínea. O movimento pode ser progressivo ou retrógrado. O movimento é progressivo quando o sentido do movimento da partícula está no mesmo sentido da trajetória, resultando numa velocidade positiva. Caso contrário, a velocidade é negativa e o movimento é retrógrado. Independentemente da trajetória, genericamente, podemos escrever 0s s vt= + . A equação acima é uma equação do primeiro grau e sua representação gráfi ca no plano é uma reta. Se fi zermos o gráfi co do espaço em função do tempo (diagrama horário do espaço), a inclinação da reta é a tangente Δx/Δt, que é justamente a velocidade da partícula durante o movimento (fi gura 3.1). Figura 3.1 3. A distância média da Terra ao Sol é igual a 150 milhões de quilômetros. A velocidade da luz é de, aproximadamente, 300.000 km/s. Determine o tempo gasto para que um raio de luz percorra a distância entre os dois corpos celestes. 4. Um motorista avista uma placa indicativa informando que há um restaurante a 20 km. Se a velocidade máxima permitida é de 80 km/h, quanto tempo gastará para chegar ao restaurante? 5. Faça a representação gráfi ca no plano (diagrama horário do espaço) da função espaço x tempo, para um movimento progressivo e para um retrógrado. Também podemos fazer uso do cálculo diferencial e integral para obtermos a equação horária do MRU, sempre tendo em mente que a velocidade é uma função do tempo, isto é v = f(t). Para simplifi car, vamos supor que a partícula tenha velocidade inicial nula em t0 = 0. Nesse caso, fi camos com 0 0 0 0 0 0 x t t x t t dx vdt x x vdt = = = ⇒ − =∫ ∫ ∫ . Quando a velocidade é constante no tempo, a integral acima é aplicada somente na variação temporal, cujo resultado fi ca 0x x vt= + . 6. Dois trens transitam em linhas paralelas com velocidades constantes de 90 km/h e 54 km/h, respectivamente. O trem A mede 120 m e o trem B mede 80m. Determine o tempo que o trem A demora para ultrapassar o trem B nas seguintes situações: a) os dois transitam no mesmo sentido; b) os dois transitam em sentidos contrários. 37 Cinemática Escalar Se o valor da velocidade escalar instantânea não se mantém constante em todos os instantes, dizemos que o movimento é variado (MV). Nesse caso, o velocímetro do carro indicará valores diferentes cada vez que você olhar para ele. Os movimentos com velocidade escalar variável são os mais comuns no nosso cotidiano, sendo que a velocidade tanto pode aumentar como pode diminuir. 3.2.2 Aceleração Escalar Uma diferença importante entre o movimento uniforme e o movimento variado é a aceleração. No movimento uniforme, como a velocidade permanece constante o tempo todo, não há aceleração, mas no movimento variado, a velocidade se altera ao longo do tempo, então existe aceleração. O conceito de aceleração está sempre relacionado a alguma mudança na velocidade da partícula e depende do sistema de referência em relação ao qual ela é medida. A aceleração é a medida da rapidez com que a velocidade muda no tempo. Nessa parte vamos estudar um tipo especial de movimento variado, denominado de movimento retilíneo uniformemente variado (MRUV), onde as variações de velocidade por unidade de tempo são constantes, ou seja, temos variações de velocidade iguais para intervalos de tempo iguais. O movimento é acelerado e uniforme, isto é, acelerado porque o módulo da velocidade varia e uniforme porque o módulo da aceleração escalar é constante no tempo. Podemos defi nir a aceleração de uma partícula como sendo a taxa segundo a qual sua velocidade varia com o tempo. Neste caso em particular, a aceleração escalar média em qualquer intervalo de tempo é igual à aceleração escalar instantânea em qualquer instante de tempo, dentro do intervalo temporal, ou seja, a taxa com que a velocidade aumenta ou diminui é sempre a mesma durante todo o movimento. Matematicamente, temos que f i m f i v vva a t t t −∆ = = = ∆ − . A variação da velocidade é data por f iv v v∆ = − , quando o tempo variar de ti para tf, onde vf é a velocidade escalar instantânea fi nal e vi é a velocidade escalar instantânea inicial. Normalmente, associa-se ao tempo inicial o valor zero (ti = 0) e ao tempo fi nal o valor t (tf = t). Assim, a equação acima pode ser escrita como f i m f i v vva a t t t −∆ = = = ∆ − f iv v a t− = ∆ ( )f i i f iv v a t v a t t= + ∆ = + − f iv v at= + . Genericamente, também podemos escrever vf = v e vi = v0 para designar, respectivamente, as velocidades fi nal e inicial. Logo 0v v at= + A expressão matemática em destaque é conhecida como função horária da velocidade escalar para o MRUV, indicando que a velocidade é função do tempo, ou seja, v = f(t). A rapidez (valor do módulo da velocidade) de uma partícula pode permanecer constante no tempo quando o movimento for uniforme (MRU); aumentar quando o movimento for progressivo, ou diminuir quando o movimento for retardado. Se a rapidez aumenta ou diminui de maneira uniforme (aceleração constante), o movimento é um MRUV. Exemplo 3. Calcule a velocidade fi nal de uma motocicleta com aceleração uniforme de 10 m/s2 durante 30 segundos, sabendo-se que no tempo inicial sua velocidade v 0 era de 20 m/s.Transforme a velocidade fi nal para km/h. Solução Utilizando a equação horária da velocidade escalar para o MRUV, temos que vf = v0 + at = 20 + 10.30 = 320 m/s Sabendo-se que 1 1 3,6 km m h s= , então, vf = 320/3,6 = 88,88... km/h FÍsiCa gEral i 38 A aceleração escalar instantânea é o valor limite a que tende a aceleração escalar média quando a variação temporal Δt tende a zero, ou seja, 0 lim t v dva t dt∆ → ∆ = = ∆ . Fazendo uso da linguagem de cálculo diferencial, a aceleração escalar instantânea dada pelo limite acima é chamada de derivada de v em relação ao tempo t, e escrita como dv dt , que pode ser reescrita como 2 2 d x dt , ou seja, a aceleração instantânea é a derivada segunda da posição da partícula em relação ao tempo. Matematicamente, temos que 2 2 dv d dx d xa dt dt dt dt = = = . Utilizando o cálculo integral, podemos obter 0 0 0 0 0 0 v t t v t t dv adt v v adt = = = ⇒ − =∫ ∫ ∫ . Se a aceleração for constante no tempo, obtemos a mesma equação anterior, ou seja, 0v v at= + . A unidade da aceleração, média ou instantânea, no SI (Sistema Internacional de Unidades) é m/s2 (lê-se: metro por segundopor segundo, ou seja, metro por segundo ao quadrado). Também podem ser encontradas unidades como cm/s2 (centímetro por segundo ao quadrado), km/s2 (quilômetro por segundo ao quadrado). 7. Um automóvel acelera de 0 a 100 km/h em 5 segundos. Qual é a aceleração escalar média do automóvel em m/s2? 8. Um carro a 100 km/h tem sua velocidade reduzida para 30 km/h em 3,5 segundos. Qual é o valor da aceleração escalar média em m/s2? O que signifi ca o sinal negativo na aceleração? 9. Faça a representação gráfi ca da velocidade x tempo (diagrama horário da velocidade) para um carro partindo de uma velocidade inicial v 0 e com aceleração constante positiva e, outro gráfi co, quando a aceleração for constante e negativa. Todo MUV possui aceleração escalar constante no tempo e velocidade escalar variável dada pela função horária da velocidade acima descrita. Com isso em mente, podemos defi nir a função horária do espaço para o MRUV fazendo uso de uma propriedade da velocidade escalar enunciada abaixo: No MRUV, a velocidade escalar média vm, em qualquer intervalo de tempo Δt, é igual à média aritmética das velocidades inicial e fi nal no intervalo de tempo considerado (válida somente para aceleração constante). Assim, a velocidade média vm e seu gráfi co representativo são (fi gura 3.2), ( ) 2 i f m v v v + = Figura 3.2 39 Cinemática Escalar De acordo com o conceito de velocidade média, podemos escrever a posição da partícula num certo tempo t, que só é valida se a aceleração for constante, como sendo 2 i f o m o v v x x v t x x t + = + ⇒ = + . Conforme a defi nição de velocidade escalar média anteriormente defi nida, temos que f i m f i x xxv t t t −∆ = = ∆ − . Comparando as duas expressões acima para a velocidade média, fi camos com 2 f i i f f i x x v v t t − + = − . Substituindo no segundo membro da equação acima a função velocidade vf = vi + at, a expressão pode ser reescrita como 2 2 f i i f i x x v at t t − + = − . Escolhendo como origem do movimento o tempo inicial (ti =t0=0) e o espaço inicial xi = x 0, e retirando os subscritos do tempo e espaço fi nais, podemos escrever a expressão acima como 2 0 2o atx x v t= + + . Generalizando, temos que 2 0 2o ats s v t= + + . Esta expressão, que é uma função do segundo grau no tempo, é denominada de função horária do espaço escalar para o MRUV, ou seja: s = f(t). Ela relaciona as posições espaciais da partícula com seus instantes desde que conhecidas as condições iniciais do movimento (posição e velocidade iniciais e aceleração escalar constante), sendo válida para qualquer tipo de trajetória. Também podemos obter a equação horária do movimento retilíneo uniformemente variado, fazendo uso do cálculo diferencial e integral. Já vimos que, para o MRU, 0 0 0 t t x x vdt = = + ∫ , e que, para o MRUV, temos 0v v at= + . Substituindo esta última expressão na primeira, fi camos com ( ) 0 0 0 0 t t x x v at dt = = + +∫ 0 0 0 0 0 0 t t t t x x v dt a tdt = = = + +∫ ∫ 2 0 2o atx x v t= + + . Nas equações anteriores sempre há uma dependência temporal, ou seja, as funções matemáticas defi nidas são dependentes do tempo (o tempo é a variável independente em todas as equações). Agora vamos defi nir uma nova equação onde a variável tempo não estará inserida nela. Deve-se ter em mente que ela não é uma equação independente, visto ser o resultado da combinação da função horária da velocidade escalar e da função horária do espaço escalar, ambas do MUV. Ela é importante porque, em muitas situações, existe o interesse de relacionar a velocidade escalar da partícula com o espaço percorrido, sem a necessidade de se conhecer o tempo decorrido. Na função horária da velocidade escalas escrita genericamente, isolamos o tempo e assim fi camos com 0v vt a − = . FÍsiCa gEral i 40 Substituindo o tempo acima na equação horária do espaço temos que 2 0 0 0 0 2 v v v vas s v a a − − = + + . Fazendo o desenvolvimento matemático e isolando a velocidade fi nal obtemos 2 2 0 02 ( )v v a s s= + − . A equação acima é conhecida como Equação de Torricelli2 para o MRUV. Nesta equação, a velocidade é dependente do espaço, ou seja, v = f(s), lembrando sempre que a aceleração escalar é constante. Também podemos obter a equação de Torricelli utilizando o cálculo integral e diferencial, lembrando que dv = a dt. Multiplicando ambos os membros por v, fi camos com ( )vdv v adt dx adx= = = . Integrando, temos, 0 0 v v v v vdv adx=∫ ∫ . Se a aceleração é constante no tempo, fi camos com 0 0 v v v v vdv adx=∫ ∫ ( ) ( )2 2 2 20 0 0 0 1 1 2 2 2 v v a x x v v a x x− = − = + − . Na tabela 3.1, estão apresentadas as equações cinemáticas para o movimento retilíneo com aceleração constante. Os gráfi cos de x, v e a em função do tempo t, também para aceleração constante, são mostrados na fi gura 3.3. 0v v at= + 2 0 0 1 2 x x v t at= + + 2 2 0 02 ( )v v a x x= + − ( )0 0 1 2 x x v v t= + + Tabela 3.1 2 Evangelista Torricelli nasceu em 15 de outubro de 1608 em Faenza, Itália. Em 1641 escreveu um tratado sobre mecânica, De motu gravium naturaliter descendentium et proiectorum (“Sobre o movimento dos corpos pesados naturalmente descendentes e projetados”), brilhante comentário ao terceiro diálogo dos discursos de Galileu. No mesmo ano, foi convidado a radicar-se em Florença para trabalhar como secretário e assistente de Galileu, função que exerceu por apenas três meses devido à morte do astrônomo. Foi, então, nomeado para substituir o mestre como matemático do grão-duque da Toscana e professor de mate- mática da academia fl orentina. Retomando uma idéia de Galileu, Torricelli realizou experimentos com um tubo parcialmente cheio de mercúrio, no interior do qual conseguiu, pela primeira vez, fazer vácuo. Depois de várias experiências, concluiu que as variações na altura da coluna de mercúrio eram causadas por mudanças na pressão atmosférica. Estava inventado o barômetro de mercúrio, que a princípio chamou-se "tubo de Torricelli". Ocupado com a matemática, especialmente com o estudo da ciclóide, Torricelli nunca publicou suas experiências físicas. Na obra “Opera Geometrica” (1644), no entanto, incluiu as descobertas sobre o movimento dos fl uidos e a trajetória dos projéteis. Entre suas contribuições mais importantes para a física conta-se, ainda o aperfeiçoamento do telescópio e a cons- trução de um tipo rudimentar de microscópio. Em matemática, entre outras descobertas, enunciou o teorema que permite determinar o centro de gravidade de qualquer fi gura geométrica por meio da relação de duas integrais. Morreu em Florença, em 25 de outubro de 1647. 41 Cinemática Escalar Figura 3.3 Exemplo 4. Um automóvel, viajando para o norte, tem sua velocidade escalar instantânea inicial reduzida uniformemente de 30 m/s para 10 m/s em uma distância de 40 m. Determine: a) qual é o módulo e o sentido da aceleração; b) qual o intervalo de tempo decorrido durante a redução da velocidade (desaceleração); c) quanto tempo ele levará para parar a partir da velocidade de 10 m/s, mantendo a desaceleração constante; d) qual a distância percorrida até parar, considerando-se os dados do item c. Solução Considerando o norte o sentido positivo do eixo x. a) Utilizando a equação de Torricelli, obtemos 2 2 2(10 / ) (30 / ) 10 / 2(40 )x m s m sa m s m − = = − . O sentido da aceleração é para o sul (sentido negativo do eixo x), ou seja, o carro está sendo desacelerado devido à redução de sua velocidade (movimento retardado). b) Utilizando a equação horária da velocidade para o MRUV, temos 2 10 / 30 / 2 10/ m s m st s m s − = = − . Obtenha a mesmo resultado utilizando a equação da posição da partícula associada à fi gura 3.2 c) Novamente, usando a equação horária da velocidade, obtemos 2 0 / 10 / 1 10 / m s m st s m s − = = − . d) A distância percorrida até parar, considerando os dados do item c, será dada por 5ox x m− = . 3.2.3 Movimento na Vertical – Aceleração Constante Um caso particular de movimento uniformemente variado é o movimento na vertical de um corpo (partícula), que pode ser o movimento em queda livre e o movimento de lançamento na vertical para cima. Este último, quando a partícula começar a cair, se transforma em movimento em queda livre. Em ambos os casos, a aceleração é constante e é denominada de aceleração da gravidade local. Nestes casos, para facilitar nossos cálculos, vamos tratar o movimento como se fosse um movimento ideal, ou seja, vamos desprezar a força de atrito que está envolvida (resistência do ar) e também não considerar movimentos de rotação ou vibração, pois estamos tratando o corpo em movimento como uma partícula. Desprezando a força de atrito é como se o corpo estivesse no vácuo e se o movimento se processa perto do solo, podemos considerar a aceleração da gravidade como constante. A aceleração da gravidade é simbolizada pela letra “g” e seu valor ao nível do mar e a uma latitude de 45º é de g = 9,80665 m/s2. Como a aceleração é um vetor, sua direção é sempre perpendicular à superfície da Terra no local e seu sentido é sempre dirigido para o centro da Terra. Normalmente, usa-se o valor arredondado para g = 10,0 m/s2. É importante salientar que o valor da aceleração gravitacional é grande quando comparado com os valores das acelerações produzidas por nossos veículos. Note que a velocidade varia de FÍsiCa gEral i 42 9,81 m/s em cada segundo, o que convertido para quilômetros por hora, resulta em uma variação de, aproximadamente, 36 km/h em cada segundo, que é um valor alto para nossos padrões. No movimento de queda livre, o módulo da velocidade escalar aumenta 9,8 m/s em cada segundo e neste caso o movimento é acelerado. No lançamento vertical para cima, o módulo da velocidade escalar diminui 9,8 m/s em cada segundo e o movimento é retardado, mas ambos os movimentos são MUV. A velocidade de um corpo lançado verticalmente para cima vai diminuindo com o passar do tempo (movimento retardado) até anular-se quando atinge a altura máxima. Neste ponto, ocorre uma inversão no sentido da velocidade e ele começa a cair em queda livre (movimento acelerado). Se orientarmos nosso referencial para cima, a aceleração gravitacional escalar fi cará negativa em módulo, mas seu sentido continua para baixo. Se orientarmos nosso referencial para baixo a aceleração gravitacional escalar fi ca positiva em módulo e seu sentido continua para baixo. Com isso queremos dizer que, num lançamento vertical ou numa queda livre, o sinal da aceleração escalar é determinado pela orientação do referencial e não depende se o corpo está subindo ou descendo. Subir ou descer está relacionado ao sinal da velocidade escalar, que pode ser positiva ou negativa, se o referencial estiver orientado para cima ou para baixo e se o movimento for ascendente ou descendente. Quanto à velocidade escalar, se o referencial estiver orientado para cima, na subida o módulo da velocidade será positivo e na descida negativo. Se o referencial estiver orientado para baixo, na subida o módulo da velocidade será negativo e na descida positivo. As equações para os movimentos em queda livre ou de lançamento na vertical são as mesmas do MRUV, só mudando a notação da aceleração que agora passa a ser a aceleração gravitacional local, adquirindo o valor a = ± g se concordar com a direção do referencial ou discordar. Exemplo 5) Um corpo é solto em queda livre de certa altura. Orientando o referencial para baixo, determine a posição e a velocidade depois de decorridos 3 segundos. Solução A origem do sistema de referência é o ponto de partida do movimento. Utilizando a equação horária do movimento uniformemente variado, temos 0 2 0 1 2y y y v t gt= + + . Substituindo os valores, a posição será 2 210 0 (9,8 / )(3 ) 44,1 2 y m s s m= + + = . A velocidade será dada por 0y yv v gt= + 20 (9,8 / )(3 ) 29,4 /yv m s s m s= + = . 2. Suponha que você solte uma bola do alto de um prédio e, alguns décimos de segundo depois, solte outra bola, de forma que as bolas caiam ao longo da mesma vertical. Ambas caem com a mesma aceleração, que consideraremos constante neste intervalo. a) A distância de separação vertical entre elas permanece constante? b) A diferença entre as velocidades escalares permanece a mesma? 3.3 Movimento de Lançamento na Horizontal e de Lançamento Oblíquo (Movimento no Plano) Para introduzir estes movimentos faremos algumas considerações iniciais. Primeiro, vamos desprezar a força de atrito do ar, ou seja, vamos considerar o movimento como se estivesse ocorrendo no vácuo e com aceleração constante. Segundo, vamos considerar somente o movimento de translação, isto é, tratando o corpo como partícula. Terceiro, os movimentos se realizam em duas dimensões (plano xy), o que nos permite introduzir um sistema de referência 43 Cinemática Escalar com dois eixos perpendiculares entre si, que são os eixos na direção x e na direção y, mostrados na fi gura 3.4. Figura 3.4 Quando estudamos movimentos que se processam em duas ou mais dimensões, o movimento é o resultado da composição de dois ou mais movimentos, também chamado de movimento composto. Neste caso, devemos considerar o princípio da simultaneidade ou princípio da independência dos movimentos simultâneos, proposto por Galileu Galilei e que pode ser enunciado na seguinte forma: Se um corpo apresenta um movimento composto, cada um dos movimentos componentes se processa como se os demais não existissem, mas todos ocorrem simultaneamente (ao mesmo tempo). Tal princípio é verifi cado no movimento de um barco em um rio, da chuva em relação a um veículo em movimento, de uma roda que gira e se movimenta no solo, de um corpo lançado por um avião em vôo, etc. 3.3.1 Movimentos no Plano - Lançamento Horizontal Quando um corpo é lançado horizontalmente no vácuo e nas proximidades da superfície terrestre, podemos considerar a aceleração gravitacional como constante. A trajetória realizada pela partícula em relação à Terra é uma trajetória parabólica (trecho de uma parábola). Esse movimento é considerado, face o princípio da simultaneidade, como resultado de dois movimentos simultâneos e independentes. Um é o movimento em queda livre que se processa no eixo y com aceleração constante e igual a g (MRUV). O outro é um movimento uniforme (MRU) na direção x, que possui deslocamentos iguais em tempos iguais (velocidade constante no tempo). Na horizontal (eixo x), como não existe aceleração, o movimento é uniforme e se mantém pela inércia, mantendo o módulo da velocidade horizontal translacional inicial v 0 com que foi lançado. Na vertical (eixo y), o movimento é de queda livre para baixo, sob a ação exclusiva da gravidade terrestre (módulo da velocidade inicial na vertical igual a zero). É um movimento uniformemente variado, pois a aceleração gravitacional é considerada constante nas proximidades da Terra. O módulo da velocidade resultante em cada posição da trajetória é a composição de duas velocidades (soma vetorial), uma no eixo x e a outra no eixo y. O módulo da velocidade no eixo horizontal é constante e igual a v 0 , mas a velocidade no eixo vertical varia uniformemente devido à aceleração gravitacional constante. Assim, à medida que o movimento se processa, o módulo da velocidade resultante cresce em decorrência do aumento do módulo da velocidade vertical (fi gura 3.5). Figura 3.5 Considerando
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