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Traumatologia Forense (Agentes Perfuro-Contundentes) Introdução → • Refere-se aos ferimentos por arma de fogo e projéteis de alta energia, sendo a parte da traumatologia forense que estuda os agentes perfuro-contundentes; • A lesão formada é produzida por um ob- jeto que não tem ponta, mas como tem ve- locidade intensa perfura/penetra o corpo humano; • Outros objetos podem penetrar o corpo, como pedaços de ferro ou espetos, por meio do encravamento. → • Balística: - Definição: armas + projéteis + munição + efeitos; - Divisão: interna (arma), externa (trajetó- ria) e efeitos (lesões); • Projétil de arma de fogo: armas de fogos são instrumentos que através do aciona- mento de gases fazem com que o projétil seja propelido para frente, atravesse o cano da arma e atinja o alvo. Ocorre a ejeção de um pequeno fragmento de chumbo pelo su- peraquecimento de gases, impulsionando o projeto para frente até atingir o alvo ao atra- vessar o cano da arma; • Sistema de carregamento: - Carregamento pela frente (antecarga): espingardas ou espoletas, armas mais anti- gas; - Carregamento por trás (retrocarga): a forma mais utilizada, carregando num tambor ou pente, como as pistolas ou revól- veres; • Sistema de funcionamento: é feito pelo cano, que apresenta alma lisa ou alma raiada. No interior do cano, existem ranhuras/es- trias que fazem com que o projétil ao ser lançado saia rodando de dentro do cano da arma ou para a direita ou para a esquerda (tem um sentido helicoidal dentro do cano da arma). Alma raiada: • As mais utilizadas são revolver e pistola; • Na maioria das armas, dentro do cano não é totalmente liso, apresentando raias que fa- zem com que o projétil saia rotacionando de dentro do cano da arma, adquirindo mais es- tabilidade e mais velocidade ainda para que alcance o alvo; • Cada arma que tem raia tem uma caracte- rística, desta forma, nunca são encontradas armas iguais a outra; • Na fabricação da arma, são deixadas im- pressões características de cada arma, sua marca registrada e que fica marcado no car- tucho e no estojo, sendo analisado na balís- tica, permitindo identificar a autoria do crime. Alma lisa: • As mais utilizadas são escopetas e espin- gardas, principalmente na caça, com um cano sem raia; Marianne Barone (15A) Medicina Legal – Prof. Aluísio Andrade Júnior • Praticamente todo o cano é liso; • Funcionam com espoleta ou pólvora, com várias esferas metálicas que são disparadas de dentro do cartucho; • Quanto maior a proximidade, maior o al- cance. À medida que o alvo é afastado, as esferas são dispersas. → Mobilidade e ao uso: • Fixas: são armas mais pesadas; • Móveis; • Semi-portáteis; • Portáteis: - Curtas: usada com uma ou ambas as mãos; - Longas: apoia-se ombro (cano 50cm). Sistema de funcionamento: • Tiro unitário: - Simples: um tiro de cada vez; - Múltiplo: duas ou mais armas de tiro unitário; • Repetição: - Não automática: um tiro a cada vez que é acionado o gatilho, como rotação do tam- bor, alavanca, ferrolho deslizante ou bomba; - Semi-automática: ocorre a liberação do projétil enquanto o gatilho está sendo acio- nado; - Automática: tiros liberados em rajada, numa velocidade alta. Principais exemplos → • Tipo: manual; • Arma curta; • Capacidade 5 a 7 cartuchos; • Possuem um tambor, cunha, gatilho e cano que repercute no fundo do estojo, liberando o projétil; • Tambor no centro com diversas: são as câmaras onde são colocados os cartuchos. → • Tipo: semi-automática; • Carregamento por pente, que está locali- zado no pente na parte da cunha (onde se segura a pistola). A cada tiro, tem-se a su- bida de uma munição de cada pente; • Janela para ejeção dos estojos a cada tiro. Estas disparam e ejetam para fora os estojos, que são encontrados geralmente nas cenas de crime e são resgatados para análise das ranhuras; → • Tipo: automática; • Tiros em rajadas: libera toda a munição deflagrada para fora dos estojos. A cápsula do projétil que é analisada, porque o projétil em si é o chumbo que atinge o alvo; • Munição típica de pistola; • Carregador com mais de 30 cartuchos. Características • Há vários tipos de arma e cada uma tem uma característica de letalidade, depen- dendo da velocidade pode causar lesões muito mais intensas; • A energia cinética está diretamente relaci- onada a gravidade do trauma, de forma que, quanto mais veloz, mais energia cinética li- bera e, com isso, mais intensa é a lesão (energia cinética = MV²); • Algumas armas têm velocidade menor (até 300m/s, como os revólveres), outras tem ve- locidade média (até 600m/s) e outras que tem velocidade muito rápida (acima de 600m/s, como os fuzis); • Desta forma, considerando a mesma massa, quanto mais veloz, maior a energia cinética e pior as consequências da lesão; → • A alma do cano, na maioria dos casos, apresenta as raias que fazem com que o pro- jétil adquira, além da velocidade pelo sobre- aquecimento dos gases, mais estabilidade e velocidade, analisando as marcas do estojo e do projétil para diferenciar as armas e per- mitir uma investigação; • As armas de fogo têm calibres diferentes, que são denominados por mm no Brasil. Há o calibre real do cano da arma e o calibre nominal que é o calibre entre as raias (mi- núcia da balística); • Nas armas lisas, é caracterizado pelo nú- mero de esferas do chumbo, com diâmetro igual a alma do cano, necessário para for- mar o peso de uma libra (453,6g); • O calibre depende do que está passando no cano da arma, o que vai ser impulsionado. Obviamente, o cartucho, o estojo, tem que ser maior do que o projétil, porque ele vai ficar preso e o que vai ser lançado é o pro- jétil que está dentro. → • Os componentes de uma munição são: - Projétil; - Estojo (é a capa metálica); - Propelente; - Espoleta; • Estojo: é uma liga metálica que é presente na maioria dos projéteis; • Na parte de baixo é onde ocorre todo o fe- nômeno físico para a explosão dos gases, para poder impulsionar esse projétil para frente. Na base tem uma área central onde está a espoleta, em que, no momento do dis- paro, está o percutor que bate nessa espo- leta, causando uma inflamação e a pólvora (propelente: pode ter vários tipos, que é aquilo que é inflamado e causa o lança- mento do projétil, sendo a pólvora o princi- pal), pega fogo, formando gases que elimi- nam o projétil, podendo deixar o estojo den- tro do tambor ou ele ser liberado junto; • Tiro a queima roupa: entrada do projétil e outras substâncias na pele por conta das chamas; • No disparo do projétil: a espoleta/chama disparou, pegou fogo, impulsionou e o pro- jétil é lançado dentro do cano da arma (o es- tojo não é lançado junto, podendo ficar den- tro da arma ou cair para fora). Além de ter toda essa impulsão da chama de gases supe- raquecidos que entram em combustão/pól- vora, ele ainda rotaciona dentro da arma para ter mais velocidade e estabilidade para atingir o alvo; • Boca do cano da arma libera: - Projétil; - Chama/fogo; - Fumaça/fuligem: é liberada pelo cano e pela parte posterior da arma, deixando pre- sença de marca na pessoa que disparou, po- dendo ter pesquisa por exame residuográ- fico no suspeito, buscando por pólvora ou fuligem; - Espoleta; • Algumas partículas de pólvora que não en- traram em combustão também saem pela boca do cano (quando o projétil foi libe- rado); • A espoleta é a fagulha que faz com que deflagre o propelente, podendo este ser de: - Carvão pulverizado, enxofre ou salitre; - Fulminado mercúrio, sulfeto, antimônio ou nitrato de bário; - Piroxiolada: nitrocelulose/nitroglice- rina; • As armas com esferas apresentam um aci-onamento semelhante, espoleta, pólvora, bucha plástica e “chumbinhos”, liberados no fenômeno de combustão. Disparo na pele • Cone de dispersão: situação que libera chama, fuligem/fumaça e resíduo de pól- vora. À medida que o projétil vai se afas- tando, o cone vai se abrindo e os resíduos vão sumindo; • Quanto mais próximo do cone, mais con- centrado são os elementos. • Da boca do cano, saem projétil, gases su- peraquecidos em forma de chamas, partícu- las de pólvora e fuligem. O tiro é defla- grado, o projétil é lançado, com a presença do cone de dispersão (é muito concentrado quanto mais perto da boca do cano, à me- dida que vai se afastando esse cone de dis- persão vai diminuindo); • Quando o projétil pode chegar na pele do alvo: perpendicular, oblíqua, depende da trajetória que ele fez. E por não ter ponta, com a velocidade que ele atinge o corpo, ele faz uma distensão da pele; • A pele é elástica, mas chega um ponto que tem uma rotura, com o projétil vencendo a elasticidade da pele e faz uma abertura; • Dependendo de como ele atingiu, ele pode formar um ferimento bem circular (se ele foi bem perpendicular) ou se ele foi oblíquo a ferida torna-se mais oval ou elíptica, sempre com a mesma característica de forçar a pele para poder penetrar, atravessando a derme e atingindo outros tecidos; • O projétil chega numa forma helicoidal, fazendo uma raia de escoriação na pele. Zonas e orlas do projétil • O projétil que entra está sujo de pólvora, de graxa e óleo; • Orifício de entrada: é caracterizada por duas situações: - Área/orla de enxugo: na passagem do projétil, uma região torna-se impregnada com a sujeira do projétil; - Área/orla de escoriação/contusão: é a região em que tem a entrada do projétil; • Dependendo da situação e da distância do disparo, os elementos do cone de dispersão podem formar algumas zonas. Caso tenha a presença de pelos, eles são queimados e for- mam uma zona de queimadura; • Se estiver muito perto, a fumaça ou a pól- vora ficam impregnada naquela área em torno do orifício de entrada, dando uma ideia de qual a distância do disparo da arma (curta distância, longa distância, queima roupa, encostado); • Está relacionado com a orla; • Geralmente a entrada é circular. → • A entrada do projétil no tecido forma um túnel, que tem uma cavidade permanente (ela não será cicatrizada). Caso ele não te- nha atravessado, pode-se seguir o caminho do túnel para buscar sua localização; • Além dele ter causado essa lesão durante a trajetória, é presente uma energia cinética que, ao atingir o tecido, além de ter uma le- são direta, ocorrem ondas de choque hi- drostáticas no tecido, resultando numa le- são a nível mais distante da área do túnel; • Essa cavidade formada pelo projétil chama-se cavidade permanente, e a cavi- dade que se forma dependendo da onda de choque que vai acontecendo é uma cavi- dade temporária; • O projétil, na sua passagem, pode causar lesões mesmo à distância, por conta da dis- persão da energia cinética; • A lesão é causada pela passagem do pro- jétil e pela própria energia cinética que é desprendida em volta dele nessa cavidade temporária. → • Trajetória: é o caminho fora do corpo, desde o cano da arma até atingir o alvo, ge- ralmente em forma de parábola à medida que aumenta a distância do cano da arma; • Trajeto: é o caminho dentro do corpo, que pode ser reto, desviar e atingir uma estrutura. Ele pode ser: - Aberto: transfixante, atravessando o corpo e apresenta um orifício de entrada e orifício de saída; - Fechado: não atravessa o corpo, apre- sentando apenas um orifício de entrada, se- guindo num fundo cego. → • Efeitos primários: aqueles causados só pela passagem do projétil, sendo encontra- dos orla/halo de enxugo e halo de escori- ação. Ao redor do orifício de entrada, pela própria passagem do projétil, tem-se a ro- tura de alguns vasos e tem o aparecimento de equimose, presente em todos os orifícios de entrada; • Efeitos secundários: não tem relação com o projétil, mas sim com o cone de dispersão: são os gases, resíduos da combustão, da chamam, que formam as zonas (zona de es- fumaçamento, zona de queimadura e zona de tatuagem; - Zona de tatuagem: são queimaduras formadas por grânulos de pólvora incom- busta, ou seja, que não se queimaram, com isso, serão queimadas na pele e geram cica- triz; - Zona de esfumaçamento: são formadas pelos gases que saem da arma, causando uma fuligem de cor enegrecida (aspecto de carvão), que não sai com água e sabão (ape- nas com amônia), podendo ser presente in- clusive no atirador na mão. Orifícios de entrada e saída • O projétil geralmente está deformado, por encontrar um obstáculo; Orifício de entrada Orifício de saída Forma Regular (arredonda) Irregular Borda Invertidas (exceto na Mina de Hoffman) Evertidas Ele- mentos Orlas e Zonas (exceto se houver anteparo) Sem Zonas (pode ter orla equimótica e de escoriação, mas nunca de en- xugo) Diâme- tro Menor ou do mesmo calibre do projétil - porque a pele retrai o que acaba diminuindo Maior do que o cali- bre do projétil Sangra- mento Pouco ou Ausente Abundante • Geralmente, ele entra perpendicular e ci- líndrico, menor que o próprio projétil por ter uma contração da pele, caracterizando o ori- fício de entrada; • O orifício de saída é totalmente irregular, não é circular, sendo evertido e não apre- senta as orlas/zonas. O projétil, na medida que atinge o corpo, pode rodar e com isso modificar totalmente o formato do orifício de saída. Distância de tiro • Tem importância nos efeitos primários e secundários, permitindo mensurar a distân- cia e se teve contato com a pele, tiro queima roupa, curta ou longa distância; Modalidade do disparo Distância Contato Gases + Projé- til + partículas + fuligem + chama Zero Queima- roupa Projétil + partí- culas + fuligem + chama 10cm (tiro queima-roupa ou queima a pele) Curta Projétil + partí- culas + fuligem 10-50cm Média Projétil + partí- culas 60-70cm Longa Projétil >70cm • Tiro encostado: é aquele que o cano está apoiado, não tem distância nenhuma, ou seja, está encostado na pele; • Tiro à queima-roupa ou curta distância: entre 10 e até 50cm, permitindo ver o cone de dispersão com alguns elementos (partí- cula de fuligem e partícula de pólvora), en- tre a distância de 10cm-50cm; • Tiro à longa distância: não tem a visua- lização dos componentes do cone de dispersão, apenas da orla de enxugo e de contusão (que é o que introduziu o projétil). → Tiro encostado: • Borda irregular e evertida; • Sinal da Câmara de Mina de Hoffman: um tiro encostado na barreira óssea, por exemplo, permite a passagem a partir do cano da arma de chama, gases superaqueci- dos, pólvora e fuligem para o interior da pele e com a entrada do projétil. Os gases superaquecidos e a chama batem na tábua óssea e voltam (não tem como passar), ape- nas atravessando o projétil, e ocorre o re- torno de todos os componentes causando uma saída semelhante à uma explosão (maior que a área do projétil), sendo pre- sentes a orla de enxugo e contusão, porém não são visíveis pela destruição de toda a pele, tornando uma lesão estrelada por ter contato com o anteparo ósseo, sendo uma característica de tiro encostado na calota craniana, formando uma cratera pelo re- torno dos gases aquecidos e elementos (fu- ligem, pólvora, pólvora em combustão); • Sinal de Benasi: trata-se do halo fuligi- noso encontrado na tábua externa da calota craniana no tiro encostado, com fuligem im- pregnada na musculatura e tábua óssea como resultado da entrada do projétil e da saída dos gases pelo sinal da câmara da mina de Hoffmann; • Sinal do Funil de Bonnet: aentrada da calota craniana ocorre com uma abertura, que aumenta de tamanho na parte interna, semelhante a um funil, permitindo a visua- lização do orifício de entrada e do orifício de saída e da direção que foi dada o tiro (o lado menor é onde foi disparado e o lado maior o sentido que a bala foi caminhando); • Sinal de Puppe-Werkgartner: é a lesão da área que não tem anteparo ósseo, apenas parte mole (músculo), apresentando a en- trada do projétil (orla de enxugo e contusão) e marcas do cano da arma (esquentou e queimou a região ao redor do orifício), per- mitindo definir se foi um tiro encostado, com exceção do crânio (nele ocorre a “Mina de Hoffmann”). Tiro à queima-roupa: • A distância é entre 10-50cm; • Além do projétil, são encontrados todos os elementos do cone de dispersão: os gases superaquecidos com as chamas, as partícu- las de pólvora incombusta e a fumaça; • À medida que aumenta-se a distância, a fu- maça não atinge a região, porém tem-se a chegada de parte da pólvora. Os fragmentos de pólvora encostam e formam uma tatua- gem; • Zona de esfumaçamento: é cinzenta, po- dendo sair com lavagem e permitindo a vi- sualização das estruturas abaixo; • Zona de tatuagem: são pequenos grãos de pólvora sólidos que penetraram com a força e entraram na derme, não saindo com a lavagem; • Zona de tatuagem, esfumaçamento e quei- madura caracterizam que foi um tiro a curta distância. • São presentes invertidos todos os outros elementos de um tiro: orla de enxugo, de contusão, formato circular; • Os orifícios de entrada são sempre circu- lares. Tiro à longa distância e a média distância: • Nas distâncias acima de 70cm não é pos- sível visualizar o cone de dispersão, po- dendo ser analisado o ferimento causado pelo efeito primário do projétil, ou seja, orla de enxugo e contusão.; • As orlas de enxugo, contusão e equimose, os três caracterizam o anel de Fisch (pre- sença da orla de enxugo contusão e equi- mose - elementos que formam os efeitos pri- mários do projétil da arma de fogo); • Se é presente o anel de Fisch, significa que não são visualizados os outros elementos, ou seja, não tem partícula, fuligem, gases ou chamas, não podendo caracterizar a distân- cia como num tiro à curta distância ou tiro encostado. → • É muito maior que o orifício de entrada; • Geralmente: circular ou não, irregular, evertido; • Sem orla e sem halo. Exame residuográfico • Exame físico e químico de partículas metálicas: abrasão do projétil e combustão da mistura formada pelos explosivos inicia- dor e propelente; • O disparador geralmente apresenta partí- culas impregnadas, sendo uma forma de in- vestigar nos casos de suicídio.
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