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1 Maria Luiza T5 – UFMS/CPTL DISCRASIAS SANGUÍNEAS NO DEPARTAMENTO DE EMERGÊNCIA Lesão endotelial → exposição de colágeno e fator de Von Willebrand → agregação plaquetária → ativação de fatores de coagulação (hemostasia secundária) para formar e dar estabilidade. Mediante da lesão endotelial e ruptura do tecido, há exposição ais fatores subendoteliais, isso leva a adesão plaquetária (mediante integração da glicoproteína IB com FvW) e ativação plaquetária (liberando substancias sinalizadoras), gerando agregação plaquetária – hemostasia 1ª – formação do tampão plaquetário. Esse tampão será estabilizado mediante formação da fibrina – hemostasia 2ª. Após a formação do coágulo, o organismo tende a restabelecer o fluxo normal mediante fibrinólise com dissolução do coágulo. AVALIAÇÃO INICIAL Anamnese direcionada: sitio de sangramento, histórico pessoal de sangramento – desafios hemostáticos (cirurgias, extrações dentárias). Gravidade do sangramento – anemia, necessidade transfusional. História familiar de sangramento, comorbidades, uso de medicamentos. APRESENTAÇÃO CLÍNICA Hemostasia primária: sangramento superficial (pele, mucosas), pequenas equimoses, petéquias, sangramento imediato. Hemostasia secundária: sangramento profundo (músculos, articulações), grandes hematomas, sangramento tardio. EXAMES DE TRIAGEM Hemostasia primária: contagem de plaquetas, tempo de sangramento. Hemostasia secundária: Hemostasia secundária: tempo de protrombina (TP), tempo de tromboplastina parcial ativado (TTPa), tempo de trombina (TT). PLAQUETOPENIAS Principais causas: redução da produção, destruição aumentada, outros. Redução de produção – doença primária da medula óssea (leucemia), infiltração medular, quimio/radio, medicamentos, anemia megaloblástica (deficiência de B12, ácido fólico), plaquetopenias hereditárias. Destruição aumentada – medicamentos, PTI, infecções virais, doenças autoimunes, síndrome paraneoplásica. Outros – sepse, coagulação intravascular disseminada (CIVD), PTT, esplenomegalia. Avaliação de paciente com plaquetopenia: - Avaliação básica: hemograma completo, reticulócitos, contagem manual de plaquetas, revisão de lâmina de sangue periférico, sorologias (HIV e HCV), teste de antiglobulina direto (“Coombs direto”). - Em situações específicas: FAN, função tireoideana, anticorpos anti-fosfolípides, beta-hCG, dosagem de imunoglobulinas, avaliação medular. TROMBOCITOPENIA IMUNE – PTI Destruição imune mediada de plaquetas. Adultos: leve predomínio em mulheres. Classificação: PTI primária – plaquetas <100.000 na ausência de outras causas. Secundaria – 20%. Severa – sangramentos significativos. FISIOPATOLOGIA Anticorpos anti-plaquetas: 60-70% dos pacientes, contra GPib e GPibiiia, clareamento no sistema reticulo endotelial (baço). Redução de megacariocitopoese. Destruição mediada por linfócitos T. Plaquetas restantes: poder de ação maior - hiperfuncionantes - paciente nem sempre com sangramento, risco de trombose. TRATAMENTO: Avaliar contagem plaquetária e sangramentos. Se plaqueta > 30.000 sem sangramento – observar. Se plaqueta < 30.000 sem sangramento – corticoide VO por 2 a 4 semanas. Se plaquetas < 30.000 com sangramento – imunoglobulina por 2 dias ou pulsoterapia com corticoide EV. PÚRPURA TROMBOCITOPÊNICA TROMBÓTICA – PTT Alta mortalidade, primária x secundária. Pêntade da PTT: Plaquetopenia (10-30mil), Anemia hemolítica microangiopática (esquizócitos), Alterações neurológicas (65%) – confusão mental/déficits, Disfunção renal e Febre. FISIOPATOLOGIA: Deficiência de ADAMSTS 13 (enzima clareadora de fator VW) – acúmulo de fator vW, agregação espontânea de plaquetas, tromboses em microvasculatura. Microangiopatia trombótica. Anemia + Provas de hemólise alteradas + Esquizócitos + Plaquetopenia → Pensar em PTT. 2 Maria Luiza T5 – UFMS/CPTL TRATAMENTO: Suspeita? 1 - Descartar outras causas de microangiopatia – CIVD, complicações gestacionais, HAS maligna, SHU, vasculites, HIV, meningococcemia, medicamentos, neoplasias. 2 - Encaminhar para serviço de atenção terciária para troca plasmática (antiga plasmaférese – pacientes apresentam anticorpos contra ADAMSTS 13 e esses anticorpos serão removidos mediante troca do plasma). 3 - Enquanto aguarda transferência: transfusão de plasma fresco gelado (10-15mL/kg), transfusão de concentrado de hemácias (se necessário), ácido fólico, evitar transfusão de plaquetas (apenas se sangramento ameaçador à vida – sangramento em SNC), manejo em UTI. PLAQUETOPENIAS INDUZIDAS POR MEDICAMENTOS Anticorpos droga-dependente: epítopos de glicoproteínas de plaquetas – plaquetopenia isolada – observada 1 a 3 semanas após exposição à droga, 2 a 3 dias de exposição prévia. Principais medicações: beta-lactamicos, carbamazepina, fenitoína, linezolida, quinino, sulfas, tirofiban, valproato, vancomicina. Melhora: 5-10 dias após suspensão da droga. Heparina: HIT (associação com trombose) – consultar especialista. TRANSFUSÃO DE PLAQUETAS Produtos: Plaquetas randômicas (1 unidade/10kg). Aférese (doador único, maior rendimento). Pool de plaquetas randômicas. Complicações: reações transfusionais, formação de aloanticorpos (refratariedade). Menor rendimento: consumo (sepse), esplenomegalia. Níveis plaquetários seguros: > 100mil – neurocirurgias. > 80 mil – cirurgias maiores. > 50 mil – cirurgias menores, endoscópicos, punção lombar. > 30 mil – procedimentos dentários. PLAQUETOPATIAS: Distúrbios da função plaquetário, sangramento com clínica de distúrbios de hemostasia primária, porém com contagem plaquetária normal. Causas: congênitas, adquiridas (AAS, AINEs, clopidogrel, insuficiência renal). DISTÚRBIOS DA HEMOSTASIA SECUNDÁRIA COAGULOGRAMA – INTERPRETAÇÃO RÁPIDA: Causas de alteração de coagulograma: TP prolongado: deficiência de fator VII, hepatopatia crônica. TTPa prolongado: deficiência de fator VIII, IX, XI, XII, dvW, uso de heparina. TP e TTPa prolongado: deficiência de fator II, V, X e fibrinogênio, deficiência combinada, heparina e antag Vit K, CIVD. TT prolongado: CIVD, deficiência fibrinogênio, heparina. DEFICIÊNCIAS CONGÊNITAS DE FATORES DE COAGULAÇÃO HEMOFILIAS Herança genética ligada ao X: predomínio em homens. Hemofilia A: deficiência de fator VIII (80-85%). Hemofilia B: deficiência de fator IX (15-20%). Principal sítio de sangramento: articular. HEMOFILIAS – MANEJO Triar como prioridade. Suspeita de sangramento grave? Tratar, depois confirmar diagnóstico. Medidas adjuvantes. Reposição de fator. Medidas adjuvantes: antifibrinolíticos – sangramentos mucosos (não utilizar se hematúria). Ácido tranexâmico (transamin) 15-20mg/kg VO ou 10 mg/kg IV (8/8h). ddAVP para sangramentos menores 0,3mcg/kg SC ou IV, máximo 3 doses. Gelo, repouso, elevação do membro (muscular). Hidratação vigorosa (hematúria). Não utilizar AINES, evitar via IM. Reposição do fator: - Concentrados de fator – recombinantes ou derivados de plasma, administrar IV, em bolus. - Cálculo da dose inicial: sítio de sangramento, tipo de gravidade de hemofilia, peso do paciente, simplificado: 50UI/kg (A-VIII) ou 100-120UI/kg (B-IV). Converter resultado para número de frascos. Duração da reposição: consultar especialista. Histórico de inibidor: avaliação com especialista. DOENÇA DE VON WILLEBRAND Coagulopatia hereditária mais prevalente (1:100). Herança autossômica recessiva. Fator vW – papel em hemostasia primária e secundária. Diagnóstico difícil: sangramentos mucosos, TTPa prolongado. Tipos: defeito quantitativo parcial (mais comum), defeito qualitativo, defeito quantitativo total (mais grave). Manejo: medidas adjuvantes (similares à hemofilia) e reposição de fator. Não tem sangramento maior (SNC, TGI, trauma) – tipo 1 e 2: ddAVP, antifibrinolítico e medidas locais.3 Maria Luiza T5 – UFMS/CPTL Não tem sangramento maior – tipo 3 ou desconhecido: ddAVP, antifibrinolitico + reposição de fator 30-60UI/kg. Tem sangramento maior – reposição de fator 40-60UI/kg – transfusão de plaquetas se necessário. DISTÚRBIOS ADQUIRIDOS COMPLICAÇÕES DE USO DE ANTICOAGULANTES Avaliação inicial, anamnese/exame físico: nome/dose/ horário da última administração. Comorbidades (disfunção renal/hepática). Sangramento ativo. Exames: hemograma, TP/TT/TTPa, fibrinogênio, creatinina, exame específico para avaliar função do anticoagulante. Gravidade do sangramento: - Maior: áreas criticas (intracraniano, intraespinhal, intraocular, retroperitoneal, pericárdico, síndrome compartimental). Queda de Hb de 2g/dl ou mais. Necessidade de transfusão de 2 CH ou mais. - Clinicamente relevante (não maior): sem critérios para sangramento maior com 1 dos – necessidade de intervenção médica, necessidade de internação, avaliação presencial. - Menor. CLASSES DE ANTICOAGULANTES Antagonistas de Vit K (AVKs): Varfarina – atua por bloqueio da vitamina K oxiredutase (VKOR), inibição dos fatores II, VII, IX, X. Exame: TP. Via Oral. Maior risco para complicações: infecção, IC descompensada, diarreia, má adesão, intoxicação intencional – tentativa de suicídio. Interações medicamentosas. Antídoto: Vitamina K. Uso de AVK e INR > 1,5 – sem sangramento ativo: retirar AVK e reavaliar, considerar vitamina K. Uso de AVK e INR > 1,5 – com sangramento ativo: suspender AVK, vitamina K 1-2,5mg VO, se INR>5: IV. Heparina de Baixo Peso Molecular (HBPM): Enoxaparina – aumento de antitrombina levando a inativação de fator X ativado. Exame: atividade anti-Xa. Sub cutânea. Risco para complicações: extremos de peso, idosos, CICr < 30. Heparina Não Fracionada (HNF): aumento de antitrombina, inativa Xa e IIa. Exame: TTPa. SC/IV. Antídoto para heparinas: protamina. Reversão total (HNF) ou parcial (HBPM). Anticoagulantes Orais de Ação Direta (DOACs): Inibidores de Xa – Rivaroxaban. Inibidor de IIa – Dabigatran. VO. Exame: anti-Xa, TT diluído (dabigatran). Pacientes com maior risco de complicações: idosos, disfunção renal. Manejo: Medidas de controle local, suporte transfusional. Reversão apenas se sangramento maior (risco de trombose). Para inibidores de Xa: CCP-4. Para dabigatran: idarucizumab, é removível por diálise. INIBIDOR ADQUIRIDO CONTRA FATOR DE COAGULAÇÃO Inibidor de VIII. 50% com doença subjacente. Sangramento sugestivo de distúrbio de hemostasia secundária. Alteração de coagulograma – persistente após mistura. Transferir para serviço especializado. Evitar procedimentos invasivos. COAGULAÇÃO INTRAVASUCLAR DISSEMINADA Ativação sistêmica extrema da coagulação. Sempre associada com alguma causa de base: infecções graves, neoplasia, trauma, complicações obstétricas. Trombose: obstrução por trombos em vasos de pequeno/médio calibre, disfunção orgânica. Sangramento: consumo de plaquetas e fatores de coagulação. Exames: contagem plaquetária, d-dímero, TP/TT/TTPa, fibrinogênio. Diagnóstico diferencial: falência hepática grave, outras causas de plaquetopenia, microangiopatias trombóticas. Tratamento: tratar causa de base. Sangramento ativo – suporte transfusional (plaquetas, PFC, crioprecipitado). Sem sangramento maior – HBPM profilática. Se TEV e/ou disfunção orgânica devida formação de trombos – anticoagulação plena.
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