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O estado da arte das pesquisas em Relações Internacionais na América Latina

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8⁰ Encontro da Associação Brasileira de Ciência Política 
01 a 04 de agosto de 2012 
Gramado – RS 
 
 
 
 
Área Temática: Ensino e Pesquisa em Ciência Política e Relações Internacionais 
 
 
 
 
O estado da arte das pesquisas em Relações 
Internacionais na América Latina 
 
Liliana Ramalho Fróio (UFPB) 
lifroio@ccsa.ufpb.br 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
mailto:lifroio@ccsa.ufpb.br
1 
 
O estado da arte das pesquisas em Relações Internacionais na América 
Latina 
Liliana Ramalho Fróio1 
Universidade Federal da Paraíba 
 
Resumo 
O presente trabalho busca mapear a produção latinoamericana no campo 
das relações internacionais nos últimos dez anos. O principal intuito é verificar a 
evolução dos interesses temáticos e das metodologias empregadas pelos 
pesquisadores das principais instituições acadêmicas da região ao longo desse 
período. A partir deste levantamento busca-se, portanto, dimensionar a evolução 
e o desenvolvimento das relações internacionais na América Latina, além de 
poder identificar se ocorrem convergências temáticas e, como resultado, 
aproximações institucionais intra-região. 
Palavras-chave: Produção acadêmica; Relações Internacionais; América Latina. 
 
Introdução 
 O campo de estudos das relações internacionais iniciou-se na América 
Latina já nos anos 1950 e 1960, de forma incipiente e localizada, na Colômbia, 
Chile e México (Herz, 2008; Muñoz, 1980). No entanto, é a partir da década de 
1970 que a disciplina se dissemina pela região em razão do aprofundamento dos 
estudos sobre dependência e desenvolvimento, os quais estão inseridos em um 
contexto de discussão sobre a busca de autonomia dos países periféricos perante 
um núcleo hegemônico economicamente desenvolvido e liderado pelos Estados 
Unidos. Esta busca de autonomia está, portanto, presente nas discussões 
acadêmicas do período e caracteriza, em grande medida, parte da disciplina de 
relações internacionais na América Latina. Como Mônica Herz destaca, “a teoria 
da Dependência é considerada a maior contribuição teórica da América Latina 
nos estudos das relações internacionais e da economia política” (2008: 2). 
 Apesar das contribuições dos teóricos da dependência para a análise das 
relações internacionais, o embasamento teórico mais utilizado pela disciplina na 
 
1
 Professora Assistente do curso de Relações Internacionais da Universidade Federal da Paraíba. 
Doutoranda em Ciência Política pela Universidade Federal de Pernambuco. 
2 
 
região ainda é de origem europeia e norte-americana2 (Herz, 2008). Além disso, 
há certa heterogeneidade metodológica entre os cursos de relações 
internacionais dentro da região ou do mesmo país, o que dificulta a caracterização 
de uma Escola Latinoamericana de Relações Internacionais: há cursos com um 
enfoque mais unidisciplinário e outros interdisciplinar; cursos voltados para áreas 
específicas, como direito internacional ou negócios internacionais, e que não se 
dedicam ao ensino de teorias, conceitos e temáticas próprias da disciplina; cursos 
que se limitam ao ensino das teorias e temáticas clássicas e não avançam nas 
novas discussões da área (Muñoz, 1980; Merke, 2008; Jaramillo, 2008). 
Esta problemática é explicada, de certa forma, por uma dificultade mais 
ampla da área que consiste na sua separação de outras disciplinas. Esta 
separação foi observada na Europa e Estados Unidos, mas não ocorreu na 
América Latina. Tanto que em diversas instituições de ensino superior existem 
cursos de graduação em ciência política ou sociologia com opção de 
especialização em relações internacionais. De acordo com Mônica Herz, isso 
ocorre porque parte do corpo docente também é composto, em sua maioria, por 
estudiosos que se graduaram em ciências sociais, ciência política, história, direito. 
Além do mais, a separação entre questões internacionais e domésticas nunca foi 
atingido na América Latina (2008: 5). 
Assim, apesar do aumento significativo no número de cursos de graduação 
e pós-graduação nas instituições de ensino latinoamericanas ao longo do tempo, 
tal processo não resultou em uma configuração uniforme da disciplina. Há uma 
diversidade de enfoques teóricos, metodológicos e temáticos que requerem maior 
investigação e, neste sentido, é que o presente trabalho se insere. 
O artigo proposto consistiu em um levantamento da produção bibliográfica 
latinoamericana3 na área de relações internacionais nos últimos dez anos (2001-
2011) e, por conseguinte, na identificação das áreas temáticas e metodologias de 
estudo mais empregadas. Um dos principais objetivos deste levantamento é 
poder auxiliar na compreensão da evolução e configuração da disciplina de 
 
2
 Há algumas ressalvas, como o caso do Equador, em que a Teoria da Dependência ocupa lugar 
central nos cursos de Relações Internacionais do país (Jaramillo, 2008). 
3
 Exceto o Brasil. 
3 
 
relações internacionais na região. O trabalho pode ser caracterizado como um 
primeiro esforço de análise, pautado neste momento em buscas efetuadas em 
sítios diversos (universidades, institutos, centros de investigação, redes de 
informação, associações de pesquisa, periódicos) e também em literatura 
específica que versa sobre a questão. 
 Neste levantamento foi possível identificar (1) as instituições de ensino 
superior que possuem cursos de graduação e pós-graduação em relações 
internacionais e os institutos e centros de investigação que desenvolvem 
pesquisas na área; e o (2) corpo docente de algumas destas instituições, sua 
produção e áreas de interesse. Na próxima seção serão discriminados os 
procedimentos empregados no desenvolvimento da pesquisa e, em seguida, 
serão analisados os resultados encontrados. Por último serão apresentadas as 
conclusões gerais do trabalho. 
 
Procedimentos metodológicos 
 No levantamento da produção bibliográfica estão incluídos 41 países4 da 
América Latina, com exceção do Brasil, e pautou-se em duas etapas: 
primeiramente o levantamento das universidades e institutos de ensino que 
possuem cursos de graduação e pós-graduação, assim como dos núcleos e 
centro de pesquisa dedicados ao estudo das relações internacionais. No segundo 
momento, a partir desta lista de instituições, buscou-se identificar o corpo docente 
de cada entidade e, em seguida, a área de investigação destes pesquisadores a 
partir da sua produção em periódicos diversos (internacionais, regionais e 
nacionais) e também de livros. 
 A identificação das instituições de ensino e centros de pesquisa existentes 
nos países ocorreu por meio da base de dados do Latin American Network 
Information Center5, que reúne informações sobre a América Latina e está 
associado ao Instituto Lozano Long de Estudos Latinoamericanos da 
 
4
 Antigua e Barbados, Argentina, Aruba, Bahamas, Barbados, Belize, Bolívia, Chile, Colômbia, 
Costa Rica, Cuba, Dominica, El Salvador, Equador, Grenada, Guadalupe, Guatemala, Guiana, 
Guiana Francesa, Haiti, Honduras, Ilhas Caimãn, Ilhas Turcas e Caicos, Ilhas Virgens, Jamaica, 
Martinica, México, Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru, Porto Rico, República Dominicana, San 
Bartolomé, San Cristobal e Nieves, San Vicente e as Granadinas, Santa Lucia, Suriname, Trinidad 
e Tobago, Uruguai, Venezuela. 
5
 http://lanic.utexas.edu/info/about 
4 
 
Universidade do Texas, e do General Education Online6, que consiste em um e-
project website sobre educação superior no mundo. 
 Foram consultados os sítios de todas as universidades, institutos e centros 
de estudo latinoamericanos, encontrados nestas bases de dados, com o intuito de 
localizar aquelas instituições com cursos ou área de pesquisa em relações 
internacionais. Neste momento foram definidos alguns parâmetros de 
identificação, especialmente em relação aos cursosdas universidades, para então 
considerar a instituição inserida na área. O objetivo desses parâmetros foi tentar 
estabelecer uma diferenciação entre as relações internacionais e as demais 
disciplinas. 
 Parâmetros de identificação: 
a) Foram considerados os cursos de graduação e pós-graduação 
não específicos (como ciência política, sociologia, direito, história, 
etc) mas que possuíam especialização ou habilitação na área de 
relações internacionais; 
b) Foram considerados os cursos de pós-graduação em temáticas 
da área (como especialização, mestrado ou doutorado em áreas 
como integração regional, comércio internacional) e que 
possuíam em seus programas disciplinas específicas das 
relações internacionais (como introdução às relações 
internacionais, teoria das relações internacionais, política 
externa, política internacional, processo de integração regional, 
história das relações internacionais, economia política 
internacional)7; 
c) Foram considerados os intitutos e centros de pesquisa em 
temáticas da área (como o Instituto de Ensino do 
Desenvolvimento Sustentável da Guatemala) e que desenvolvem 
pesquisas que utilizam teorias, conceitos e discussões 
específicas das relações internacionais; 
 
6
 http://www.findaschool.org 
7
 Foram consideradas como disciplinas específicas da área aquelas que caracterizam o curso de 
relações internacionais, referenciadas na literatura e na comunidade acadêmica, em associações 
do campo (International Studies Association; Associação Brasileira de Relações Internacionais) e 
em organizações destinadas à avaliação dos cursos das instituições de ensino superior (No caso 
brasileiro, foram uttilizados os critérios de avaliação da CAPES). 
5 
 
d) Foram excluídos os cursos de graduação e pós-graduação e os 
centros de pesquisa que, embora estejam relacionados com 
temáticas da área, não possuíam em seus programas ou 
desenvolviam pesquisas específicas das relações internacionais 
(como negócios internacionais, direito internacional, comércio 
exterior). 
 Foram cerca de 739 instituições pesquisadas em todos os 41 países, das 
quais 147 foram identificadas dentro dos parâmetros estabelecidos. Ressalta-se 
que em 19 países8, especialmente da região do Caribe, não foram encontradas 
instituições na área de relações internacionais. 
Buscou-se então, na segunda etapa, determinar o corpo docente destas 
instituições. Neste momento foram consultados os sítios das 147 universidades e 
centros de estudo, os congressos da International Studies Association (ISA) e da 
Latin American Studies Association (LASA) e a literatura que trata do assunto. A 
principal fonte da pesquisa foram os sítios das instituições. Nesta etapa, a maior 
dificuldade foi a falta de informação disponível nos sítios destas entidades sobre 
os professores e investigadores dos cursos. De qualquer forma, foram 
encontradas informações sobre o corpo docente em 86 instituições, ou seja, em 
cerca de 58% das entidades. 
Na lista de professores e pesquisadores foram incluídos apenas aqueles 
com produção acadêmica, já que o intuito da pesquisa consiste em mapear as 
áreas temáticas e metodologias mais empregadas. Ressalta-se que a produção 
acadêmica foi verificada por meio das publicações, tanto de livros como em 
periódicos de relevância nacional e internacional. Não foram incluídos, portanto, 
aqueles docentes cuja produção não foi localizada, ou seja, em que não foi 
encontrado ao menos 1 artigo em períodico ou livro/capítulo de livro. Seguindo 
este procedimento foram encontrados 499 profissionais. Na Tabela 1 abaixo 
constam o número de instituições pesquisadas, as instituições encontradas dentro 
dos parâmetros elencados, aquelas com informação disponível sobre o corpo 
docente e o total de pesquisadores encontrados com produção na área. 
 
 
8
 Antigua e Barbados, Aruba, Bahamas, Belize, Dominica, Grenada, Guadalupe, Ilhas Caimãn, 
Ilhas Turcas e Caicos, Ilhas Virgens, Martinica, Porto Rico, San Bartolomé, San Cristóbal e 
Nieves, San Vicente e Granadinas, Suriname, Santa Lucia, Guiana Francesa, Jamaica. 
6 
 
Tabela 1 – Número de instituições por país 
País 
Instituições 
pesquisadas 
Instituições 
encontradas na 
área de RI 
Instituições com 
informação disponível 
de docentes 
Total de 
pesquisadores 
com produção 
Argentina 92 32 23 149 
Barbados 1 1 1 5 
Bolívia 26 7 5 18 
Chile 63 11 9 50 
Colômbia 84 17 13 53 
Costa Rica 34 6 3 12 
Cuba 13 1 1 26 
El Salvador 19 2 1 5 
Equador 35 7 3 19 
Guatemala 10 4 1 2 
México 131 33 16 120 
Nicarágua 13 8 2 4 
Paraguai 9 6 1 1 
Peru 60 5 1 9 
Uruguai 6 3 3 17 
Venezuela 38 4 3 9 
 
Total 634 147 86 499 
*Foram incluídos na tabela apenas os países em que foi possível encontrar instituições com 
informações sobre o corpo docente. 
 
Após o levantamento dos docentes, buscou-se a averiguação da produção 
acadêmica dos mesmos e, como já ressaltado, foram considerados apenas 
aqueles em que foi possível verificar produção acadêmica. Foram consultados os 
sistemas de informação Scielo, Latindex e Periódicos Capes, que possuem 
acesso às principais revistas nacionais e internacionais de referência na área. 
Também foram considerados os periódicos acadêmicos das instituições. 
A produção bibliográfica foi classificada de acordo com as seguintes áreas 
temáticas: 
1) Estudos de Segurança e Defesa: questões de segurança e 
defesa das relações internacionais; inclui temas como 
narcotráfico, terrorismo, fronteira, políticas de segurança e 
defesa; 
2) Economia Política Internacional: questões das relações 
comerciais e financeiras internacionais; inclui temas como 
desenvolvimento econômico, comércio internacional, sistema 
financeiro internacional; 
3) Política Externa: questões da política externa dos países; 
4) Integração Regional: questões do processo de integração 
regional dos países; inclui temas como Mercosul, ALCA, Nafta, 
IBSA, União Européia, Unasul, ASEAN; 
7 
 
5) História das Relações Internacionais: questões das relações 
internacionais com enfoque histórico; 
6) Teoria das Relações Internacionais: questões teóricas e 
conceituais das relações internacionais; 
7) Organizações Internacionais: questões dos organismos 
internacionais; inclui temas como ONU, OEA, OMC, OTAN, FMI; 
8) Política Internacional: questões gerais da política internacional 
que não são identificadas em uma área temática específica; 
9) Direito Internacional: questões do direito internacional público; 
inclui temas como tratados internacionais, princípios de direito 
internacional; 
10) Globalização e Atores: questões da globalização e os atores 
das relações internacionais; inclui temas como impactos da 
globalização, ONGs, sociedade civil, paradiplomacia; 
11) Estudos Regionais: estudos de regiões e países específicos; 
inclui temas como Ásia, África, América Latina, China, Estados 
Unidos, Oriente Médio, Rússia; 
12) Estudos de Cooperação: questões de cooperação 
internacional; inclui temas de cooperação entre os atores 
internacionais; 
13) Meio Ambiente: questões do meio ambiente nas relações 
internacionais; inclui temas como regimes ambientais, 
cooperação ambiental, tratados ambientais; conferências 
ambientais; 
14) Direitos Humanos e Migrações Internacionais: questões dos 
direitos humanos e das migrações nas relações internacionais; 
inclui temas como direito humanitário, tratados de direitos 
humanos, direitos humanos e os atores internacionais, direitos 
humanos e os conflitos, migrações internacionais; 
15) Outros: questões de poucos estudos e que não aparecem nas 
demais áreas temáticas; inclui temas como energia e 
nacionalismo. 
 
Ressalta-se que, por se tratar de um período longo de análise (de 2001 até 
2011), houve casos em que o pesquisador produziu em mais de uma área 
temáticaespecífica ao longo do tempo. Há também casos em que o pesquisador 
produz em mais de uma área específica ao mesmo tempo. Para solucionar este 
problema, utilizou-se o critério “quantidade de produção” e os estudos foram 
divididos em duas áreas prioritárias: a Área Prioritária 1 corresponde à área 
temática específica que o pesquisador mais se dedicou e produziu ao longo do 
8 
 
tempo. A Área Prioritária 2 corresponde à segunda área específica de maior 
produção do pesquisador. 
 
Análise dos resultados 
 Os dados encontrados refletem, em grande medida, os apontamentos da 
literatura referenciada neste artigo. Como indicado, foram 41 países analisados, 
com exceção do Brasil. Em 22 países havia instituições na área de relações 
internacionais e em 19 países, especialmente da região do Caribe, não foram 
encontradas instituições dentro dos parâmetros estabelecidos. As universidades 
da região caribenha estão voltadas, em sua maioria, para cursos na área de 
saúde e de direito e há países, como Dominica, em que são utilizados os campus 
universitários de outros países. Em Grenada há o curso de International Business 
da Universidade de St. George, o qual não se insere nos critérios de seleção das 
universidades. 
Dos 22 países encontrados, não foi possível obter informações sobre o 
corpo docente dos cursos de 6 países: Trinidad e Tobago, República Dominicana, 
Panamá, Honduras, Haiti e Guiana. Em Trinidad e Tobago foram 3 universidades 
analisadas das quais apenas a University of West Indies possuía um Instituto de 
Relações Internacionais com graduação, mestrado e doutorado em relações 
internacionais. Na República Dominicana foram 18 universidades e institutos 
pesquisados e duas universidades encontradas: a Universidad Catolica Santo 
Domingo, com licenciatura em diplomacia e serviços internacionais e mestrado 
em estudos diplomáticos, e a Universidad del Caribe, com licenciatura em 
relações internacionais. No Panamá, há o Instituto de Estudos Políticos e 
Internacionais. Em Honduras há 8 universidades e apenas a UNITEC possui 
licenciatura em relações internacionais. No Haiti existe a Université Quisqueya 
também com licenciatura na área. A University of Guiana possui um 
Departamento de Governo e Assuntos Internacionais com graduação em 
international relations. 
Desta forma, os países analisados foram aqueles discriminados na Tabela 
1, a saber: Argentina, Barbados, Bolívia, Chile, Colômbia, Costa Rica, Cuba, El 
Salvador, Equador, Guatemala, México, Nicarágua, Paraguai, Peru, Uruguai, 
Venezuela. Os países que concentram o maior número de instituições e 
9 
 
pesquisadores são: Argentina, México, Colômbia e Chile. Algo já observado nos 
estudos acadêmicos sobre o estado da disciplina na região (Muñoz, 1980; Herz, 
2008). 
No caso argentino, como destaca Merke, a produção se encontra 
concentrada em assuntos de segurança e defesa e de comércio e integração, 
algo que se contradiz com o ensino da disciplina já que a área de segurança e 
economia política internacional são quase inexistentes nos cursos de relações 
internacionais do país (2008). De fato, analisando a Área Prioritária 1 dos 149 
pesquisadores encontrados no país, observa-se que as áreas mais estudadas 
são: segurança e defesa (27), política externa (20), estudos regionais (20), 
economia política internacional (18), integração regional (17) e história das 
relações internacionais (10). Entre as instituições de destaque estão: FLACSO-
Argentina (Diane Tussie e Cintia Quiliconi), Pontificia Universidade Católica da 
Argentina (Ignacio Labaqui, Paulo Zappia e Andrés Fink), Universidade Aberta 
Interamericana (Susana Durán Sáenz), Universidade Argentina de La Empresa 
(Sebastian Vigliero), Universidade Católica de Santa Fé (Anabella Busso, 
Guillermo Figari, Gladys Lechini, Alejandro Simonoff, Graciela Zubelzú), 
Universidade del Cema (Carlos Escudé, Sybil Rhodes), Universidade de Buenos 
Aires (Mario Rapoport), Universidade del Salvador (José Paradiso, Federico 
Merke), Universidade Nacional de Córdoba (Diego Buffa, Gladys Lechini, Itziar 
Ruiz Arrieta Juan Vagni, Enrique Shaw, Diane Tussie, Zlata Clement, Carlos 
Escudé, Edmundo Heredia), Universidade Nacional de La Plata (Norberto 
Consani, Alejandro Simonoff, Luis Dallanegra Pedraza, Noemi Mellado, Raul 
Bernal Meza), Universidade Nacional de Rosario (Juan Gabriel Tolkatlián, Miryam 
Colacrai, Maria Elena Lorenzini, Emilse Calderón), Universidade Nacional del 
Centro de Buenos Aires (Raul Bernal Meza), Universidade Torcuato di Tella 
(Roberto Russel). 
No México são os estudos regionais que se destacam e há alguns vazios 
temáticos, como nas questões de gênero, cultura e teoria das relações 
internacionais (Solórzano, 2001; Robinson, 2008). Em relação à Área Prioritária 1, 
dos 120 pesquisadores foram identificados 24 da área de estudos regionais, 17 
de política internacional, 11 de segurança e defesa, 11 de economia política 
internacional, 9 de integração regional e 8 de globalização e atores. As principais 
10 
 
instituições são: Centro de Investigação e Docencia Econômicas (Jorge Schiavon, 
Jorge Chabat, Rafael Velazquez Flores), Instituto Tecnológico Autônomo do 
México (Duncan Wood, Rafael Fernandez de Castro), El Colégio de México 
(Blanca Torres, Rodolfo Stavenhagen, Marta Tawil, Lorenzo Meyer), Universidade 
Iberoamericana (Luis Gonzalez Villanueva, Imtiaz Hussain, Thomas Legler, Javier 
Reyes), Instituo Tecnológico de Monterrey (Pablo Telmán Sanchez, David 
Sarquis, Victos Lopez Villafane), Universidade Nacional Autônoma do México 
(Alfredo Romero Castilla, Maria Cristina Rosas Gonzales, Roberto Pena 
Guerrero), Universidade de Guadalajara (Arturo Santa Cruz, Dagoberto Amparo 
Tello, Elizabeth Vargas Garcia). 
Na Colômbia preponderam os estudos de segurança e defesa e no Chile 
de economia política internacional. No caso colombiano, o estudos de segurança 
e defesa prevalecem tanto na Área Prioritária 1 quanto na Área Prioritária 2. Dos 
53 pesquisadores colombianos, 17 estudam segurança e defesa e 12 política 
externa como Área Prioritária 1. Dos 25 pesquisadores encontrados com Área 
Prioritária 2, sete estudam segurança e defesa e quatro estudam política externa. 
No Chile, analisando a Área Prioritária 1, dos 50 pesquisadores observa-se a 
seguinte classificação: economia política internacional (10), política externa (8), 
política internacional (7), segurança e defesa (6), estudos regionais (5), direito 
internacional (4). 
Dentre as principais universidades colombianas estão: Universidade de 
Bogotá Jorge Tadeo Lozano (Juan Manuel Osorio, José David Moreno), 
Universidade dos Andes (Sandra Borda, Arlene Tickner), Universidade del Norte 
(Horacio Godoy, Diego Cardona), Universidade del Rosario (Stephanie Lavoux, 
Vicente Torrijos Rivera), Pontifícia Universidade Javeriana (Martha Ardila, 
Consuelo Ahumada Beltrán), Universidade Externato da Colômbia (Elisa 
Tarnaala), Universidade Nacional da Colômbia (Saúl Maurício Rodríguez 
Hernandéz). 
No Chile destaca-se a FLACSO (Ricardo French Davis, Andres Solimano, 
Francisco Rojas Aravena), Pontifícia Universidade Católica do Chile (Andreas 
Feldmann, Lorena Oyarzún Serrano, Marisa von Bülow), Universidade do Chile 
(Gilberto Aranda Bustamante, María José Henríquez Uzal), Universidade Miguel 
de Cervantes (Boris Yopo). 
11 
 
Em Cuba há apenas o Instituto Superior de Relações Internacionais Raul 
Roa Garcia, da Universidad de La Habana, voltado para a formação de 
profissionais para as carreiras do Ministérío das Relações Exteriores ou outros 
órgãos estatais, no entanto, há um grande número de docentes com produção na 
área (Salazar, 2008). Os dados observados para Cuba apontam a preponderância 
dos estudos em economia política internacional (10) e em seguida vêm os 
estudos sobre migração internacional (5) e Estados Unidos (5). O ISRI possui 
diversos centros de estudo em temáticas específicas(Centro de Estudos de 
Economia Internacional, Centro de Estudos de Migrações Internacionais, Centro 
de Estudos sobre EUA). 
Dentre os países que aparecem com uma produção intermediária estão 
Equador, Bolívia, Costa Rica, Uruguai, Peru e Venezuela. As relações 
internacionais no Equador estiveram influenciadas por problemáticas nacionais 
específicas, como a questão do conflito fronteiriço com o Peru e as questões de 
pobreza, desenvolvimento e integração. Há ainda uma demanda do setor privado 
que levou diversas instituições de ensino superior a direcionarem o curso para 
áreas empresariais e de negócios (Jaramillo, 2008). Entre as instituições de 
destaque acadêmico estão a FLACSO-Equador e a Universidade Andina Simón 
Bolivar. Os cursos das universidades de Azuay e Internacional do Equador estão 
voltados para a área de comércio exterior e negócios internacionais. Neste 
sentido, dos 19 docentes avaliados, 7 desenvolvem estudos na área de economia 
política internacional, 3 em segurança e defesa, 2 em integração regional e 2 em 
história das relações internacionais. 
Na Bolívia, foram encontrados 18 pesquisadores, 7 da área de economia 
política e 4 de direito internacional, com destaque para as Universidades Simón 
Bolivar e Católica Boliviana. Na Costa Rica os estudos de relações internacionais 
dentro da ciência política têm aumentado (Redondo, 2005). A Universidade 
Nacional da Costa Rica possui programas de pesquisa em integração regional e 
estudos regionais e o Observatório de Política Externa da Costa Rica. Os temas 
de destaque encontrados foram: segurança e defesa (3), integração regional (3) e 
política internacional (2). 
No Uruguai existem os programas de relações internacionais da 
Universidade de La República, Universidade de Montevidéo (com mestrado em 
12 
 
comércio internacional e integração) e Universidade ORT (licenciatura em estudos 
internacionais com ênfase em integração). As áreas mais relevantes encontradas 
foram de direito internacional (7) e integração regional (6). 
No Peru foram encontradas cinco instituições: a Universidade Católica do 
Peru (Instituto de Relações Internacionais), Universidade Inca Garcilaso de la 
Veja (comércio exterior e relações internacionais), Universidade Ricardo Palma 
(doutorado em ciência política e relações internacionais), Universidade San 
Ignacio de Loyola (licenciatura em relações internacionais) e a Universidade 
Tecnológica do Peru (escola de relações internacionais, mestrado em relações 
internacionais e direito internacional). Os principais temas são segurança (4) e 
integração (2). Na Venezuela, similiar ao que vem acontecendo na Costa Rica, 
tem ocorrido um aumento da área de relações internacionais dentro da ciência 
política e os principais enfoques têm sido em integração regional (5). Na 
Universidade de los Andes há um grupo de estudos em integração regional e a 
maioria dos docentes da Universidade Central da Venezuela também se dedicam 
à esta temática. 
Em relação aos países com menor participação na produção, pode-se 
observar: a University of the West Indies de Barbados cujos estudiosos estão 
voltados para estudos do Caribe; a Universidade de El Salvador que possui 
mestrado em relações internacionais e parceria com a Universidade de Brasília; 
as Universidades Rafael Landivar, Francisco Marroquin e San Carlos de 
Guatemala, as quais refletem o grande incremento da disciplina no país; as 
universidades da Nicarágua voltadas para estudos latinoamericanos e de 
integração regional; e o Paraguai, de forma mais heterogênea, possui cursos 
voltados para comércio e négocios internacionais, integração e direito 
internacional. 
Os dados de todos os países pesquisados, discriminados por área 
temática, resultou nos Gráficos 1 e 2 indicados abaixo. 
 
 
 
 
 
13 
 
Gráfico 1 – Áreas de estudo na América Latina (Área prioritária 1 dos docentes) 
 
 
Gráfico 2 – Áreas de estudo na América Latina (Área prioritária 2 dos docentes) 
 
 
14 
 
 No Gráfico 1 constam as áreas temáticas de estudo mais pesquisadas ao 
longo do período 2001-2011. O Gráfico 2 indica a segunda opção de área 
temática mais pesquisada (necessário para solucionar o problema dos casos de 
pesquisadores que publicam sobre assuntos de áreas diferentes). Ou seja, se um 
docente publicou no período abordado 10 estudos sobre segurança e defesa e 6 
estudos sobre integração regional, então a área de segurança e defesa será sua 
Área Prioritária 1 e a área de integração regional será sua Área Prioritária 2. 
 A partir do Gráfico 1, percebe-se que as cinco áreas temáticas mais 
pesquisadas na região foram: segurança e defesa, economia política 
internacional, estudos regionais, política externa e integração regional. Os 
estudos nestas áreas apresentaram-se bem equilibrados, de maneira que 
nenhuma preponderou sobre a outra. Já no Gráfico 2, a segunda área mais 
pesquisada aparece na seguinte ordem: integração regional, estudos regionais, 
política externa, globalização e atores e estudos de segurança e defesa. No 
entanto, a área de integração regional se destaca de forma mais veemente das 
demais áreas. 
 Se as duas áreas prioritárias fossem consolidadas, o resultado seria o 
Gráfico 3 abaixo. 
Gráfico 3 – Áreas de estudo na América Latina (áreas consolidadas) 
 
15 
 
No Gráfico 3, a área de integração regional aparece com uma leve 
preponderância sobre as demais e os estudos de segurança e defesa caem da 1ª 
para a 5ª posição quando comparada com o Gráfico 1. De certa forma, o que 
podemos compreender destes dados é que os pesquisadores estão dando uma 
leve ênfase aos estudos de segurança e defesa como área prioritária, no entanto, 
o maior volume de produção é na área de integração regional e depois de estudos 
regionais. 
De fato, a área de estudos regionais é a que aparece com maior 
consistência em todos os gráficos e consiste na área de relações internacionais 
de maior crescimento na América Latina (Muñoz, 1980; Solórzano, 2011; 
Robinson, 2008; Salazar, 2008; Merke, 2008). A região que concentra o maior 
número de estudos é a Ásia, seguida da América do Norte, América Latina e 
África. No Gráfico 4 é possível observar os dados consolidados das produções 
sobre estudos regionais discriminado por região. 
 
Gráfico 4 – Estudos Regionais (dados consolidados) 
 
 
 Em relação às metodologias empregadas nas publicações, observa-se de 
fato um baixo uso de métodos quantitativos de análise (Muñoz, 1980; Herz, 2008). 
Os pesquisadores que mais utilizam destas ferramentas são aqueles cujos 
estudos se direcionam para a análise de questões sobre o sistema financeiro 
16 
 
internacional ou das negociações e comércio de forma geral. São aqueles 
pesquisadores inseridos, em grande medida, em cursos com abordagens de 
âmbito econômico, como por exemplo a Fundación Universitária San Martin da 
Colômbia, em que no programa do curso constam as disciplinas de estatística, 
álgebra, econometria, matemática financeira. 
 
Conclusão 
 A pesquisa realizada objetivou contribuir nas investigações para a 
compreensão das características do campo das relações internacionais na 
América Latina. De fato, como afirmam os estudiosos, há uma heterogeneidade 
entre os cursos encontrados nas instituições de ensino superior, seja de âmbito 
programático seja em termos de enfoque temático. De forma geral, as 
informações sobre os cursos de relações internacionais (como corpo docente) 
que estão disponíveis nos sítios das instituições são precárias. As instituições 
com sítios bem estruturados e que disponibilizam informações mais detalhadas 
são aquelas que também concentram o maior número de publicações e 
instituições na área. Na maioria delas, o curso não está voltado para a área 
acadêmica e para a pesquisa mas para o mercado de trabalho, portanto, a 
intensidade de publicações é baixa e em muitos programas abdica-se de 
disciplinasreferentes à área específica das relações internacionais para inserir 
disciplinas da área de administração, política, negócios e direito. 
 Em relação às áreas temáticas, observa-se um crescimento dos estudos 
sobre segurança e defesa. Como destaca Mônica Herz, os estudos sobre 
segurança internacional têm sido marginais na América Latina em razão da sua 
condição periférica no sistema internacional, no entanto, em razão da ampliação 
do conceito de segurança, os estudos nesta área têm se intesificado nos últimos 
10 anos (2008, p. 4). As áreas tradicionalmente mais pesquisadas, como estudos 
regionais e integração, continuam engrossando o maior número das publicações. 
Já os estudos de teoria das relações internacionais e organizações internacionais 
persistem como áreas marginais na região. 
 
 
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