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Introdução e panorama mundial da inclusão (1)

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INTRODUÇÃO E PANORAMA 
MUNDIAL DA INCLUSÃO
UNIASSELVI-PÓS
Autoria: Giovani Mendonça Lunardi
Indaial - 2022
1ª Edição
CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI
Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito
Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC
Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090
Copyright © UNIASSELVI 2022
Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri
 UNIASSELVI – Indaial.
L961i
 Lunardi, Giovani Mendonça
 Introdução e panorama mundial da inclusão. / Giovani Men-
donça Lunardi. – Indaial: UNIASSELVI, 2022.
 116 p.; il.
 ISBN 978-65-5646-365-0
 ISBN Digital 978-65-5646-366-7
1. Inclusão social. - Brasil. II. Centro Universitário Leonardo da 
Vinci.
CDD 360
Impresso por:
Reitor: Prof. Hermínio Kloch
Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol
Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD: 
Carlos Fabiano Fistarol
Ilana Gunilda Gerber Cavichioli
Jóice Gadotti Consatti
Norberto Siegel
Julia dos Santos
Ariana Monique Dalri
Marcelo Bucci
Jairo Martins
Marcio Kisner
Revisão Gramatical: Equipe Produção de Materiais
Diagramação e Capa: 
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
Sumário
APRESENTAÇÃO ............................................................................5
CAPÍTULO 1
Da Era Dos Deveres Para A Era Dos Direitos ...........................7
CAPÍTULO 2
Diversidade E Inclusão Social ..................................................45
CAPÍTULO 3
As Organizações E A Responsabilidade Social .......................85
APRESENTAÇÃO
Acadêmico, bem-vindo à disciplina de Introdução e Panorama Mundial da 
Inclusão. Nesta disciplina, vamos estudar juntos o percurso histórico, origens e 
conceitos da inclusão social. Também examinaremos a construção dos direitos 
sociais e coletivos e a inclusão de minorias em nossa sociedade, no Brasil e no 
mundo. Neste trajeto, abordaremos por que a inclusão tem se constituído em 
um imperativo do nosso tempo, tornando-se, assim, um princípio regulador que 
incide em nossas vidas, pautando nossas maneiras de nos conduzirmos e de 
conduzirmos os outros. Este estudo pretende levar adiante essas discussões, 
compreendendo a forma contemporânea que o imperativo da inclusão assume 
em nossos dias.
No Capítulo 1, abordaremos os caminhos teóricos que descrevem a trajetória 
histórica e conceitual da inclusão social, bem como as teorias dos direitos coletivos 
e sociais que disciplinam os códigos normativos atuais, esclarecendo o percurso 
da era dos deveres para a era dos direitos. 
No capítulo 2, dando seguimento a nossa disciplina, trilharemos os caminhos 
teóricos que explicitam as várias faces da exclusão social relacionadas à 
discriminação de gênero, sexo, raça, pessoa com deficiência, idade, etnias e 
situação socioeconômica. Esses grupos historicamente discriminados fazem parte 
da grande maioria da população que se encontra em situação de vulnerabilidade 
social, necessitando assim de políticas públicas para a sua inclusão. Em nosso 
estudo, a partir do tema da diversidade e inclusão, investigaremos a relação 
entre minorias sociais e o mundo do trabalho, elucidando suas contradições 
e desigualdades, já que se nota que tal temática é prioritária na relação entre 
empresas e sociedade, visando à mitigação destas diferenças. Por fim, traçaremos 
um panorama do cenário atual sobre a inclusão de minorias na sociedade, no 
Brasil e no mundo.
No capítulo 3, apresentaremos os principais conceitos de responsabilidade 
social. Será possível verificar os caminhos históricos e teóricos do 
desenvolvimento da conscientização da reponsabilidade social no âmbito das 
organizações empresariais. Analisaremos, também, o desenvolvimento dos 
mecanismos e processos que estimulam a prática da responsabilidade social 
dentro das instituições, investigando os impactos da diversidade e inclusão dentro 
das organizações. Por fim, verificaremos as práticas e fomento de implementação 
de políticas de diversidade e inclusão nas organizações.
CAPÍTULO 1
DA ERA DOS DEVERES PARA A ERA DOS 
DIREITOS
A partir da perspectiva do saber-fazer, são apresentados os seguintes 
objetivos de aprendizagem:
• Compreender os principais conceitos de inclusão social.
• Entender as teorias dos direitos coletivos e sociais que disciplinam os códigos 
normativos atuais.
• Analisar as implicações da diversidade e da inclusão na sociedade. 
• Compreender os aspectos históricos da inclusão social.
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 Introdução e Panorama Mundial da Inclusão
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DA ERA DOS DEVERES PARA A ERA DOS DIREITOS Capítulo 1 
1 CONTEXTUALIZAÇÃO
Um tema que vem gradativamente ganhando espaço em nossa sociedade 
é o da inclusão social. Isso decorre principalmente devido à busca que todas as 
pessoas fazem para garantir sua efetiva participação na vida pública, tentando 
garantir seus direitos individuais, sociais e coletivos. 
Segmentos que antigamente, estavam à margem da sociedade, sendo 
excluídos e discriminados, agora tentam a ampliação de seus direitos e, 
consequentemente, a sua inclusão social. Essas ações são resultados das 
práticas de fortalecimento da cidadania e do reconhecimento de direitos, que 
acompanham a tendência histórica de ampliação dos espaços de representação 
política abertos pela pressão das lutas sociais, conforme apontam as pesquisas 
nas linhas analíticas de Habermas (1997) e Honneth (2003). 
Dessa forma, convidamos você, neste capítulo, a trilhar os caminhos 
teóricos que descrevem a trajetória histórica e conceitual sobre a inclusão social, 
bem como as teorias dos direitos coletivos e sociais que disciplinam os códigos 
normativos atuais, desvelando o percurso da era dos deveres para a era dos 
direitos (BOBBIO, 1992).
 
2 HISTÓRICO E ORIGENS DA 
INCLUSÃO SOCIAL
A história humana sempre foi marcada pela busca da sobrevivência e, 
consequentemente, pelas lutas de acesso à comida, água, terras para plantio 
e poder econômico e político sobre grupos diversos. Segundo Norberto Bobbio 
(1992), o homem, desde os seus primórdios, encontra-se em um mundo hostil, 
tanto em face da natureza quanto a seus semelhantes. Para enfrentar essa dupla 
hostilidade, o homem buscou reagir inventando técnicas de sobrevivência e de 
defesa. Dessa forma, ao longo da história do Ocidente, inclusão e exclusão foram 
estratégias encontradas para agir sobre os sujeitos, conduzindo suas condutas 
e gerenciando os riscos que tais sujeitos poderiam produzir para a vida social e 
coletiva (HONNETH, 2003). 
Nos estudos de Michel Foucault (2008), pode-se perceber que em diferentes 
momentos históricos, também se procurou identifi car e marcar aqueles indivíduos 
que não se enquadravam nos padrões de normalidade. Podemos dizer, então, 
que a anormalidade sempre foi uma preocupação social e política, o que se diferiu 
em cada época são as práticas desenvolvidas para governá-la.
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 Introdução e Panorama Mundial da Inclusão
FIGURA 1 – MICHEL FOUCAULT
FONTE: <https://www.amazon.com.br/Seguranca-Territorio-Populacao-
Michel-Foucault/dp/8533623771>. Acesso em: 15 set. 2021.
Segundo Foucault (2008), na Antiguidade e na Idade Média, visualizamos 
práticas de exclusão que ora aconteciam por extermínio, eliminação e morte, 
ora por segregação, afastamento e expulsão. Na Antiguidade Clássica, em 
Esparta, Atenas e Roma, as crianças que nasciam disformes eram levadas 
a um lugar secreto fora da cidade, onde seriam afogadas ou deixadas para 
morrer (BENVENUTO, 2006). No entanto, além dessas práticas de exclusão 
por eliminação, podemos encontrar, ainda na Idade Média, práticas de exclusão 
por afastamento ou desaparecimento social daqueles que eram considerados 
anormais (LOCKMANN, 2016).
Nesse contexto, com relação à divisão em classes sociais, vamos perceber, 
conforme quadro a seguir, a constante luta de um grupo sobre outro nos diferentes 
períodos históricos da economia na sociedade ocidental:
QUADRO 1 – PERÍODOS HISTÓRICOSDA SOCIEDADE OCIDENTAL
Período 
Histórico
Idade Antiga
4.000 a.C.-476 d.C.
Idade Média
476 d.C-1453 d.C.
Idade Moderna
1453 d.C.-1789 d.C.
Idade Contemporânea
1789 d.C.-2021 d.C.
Sistema 
econômico Escravidão
Feudalismo
Mercantilismo e
capitalismo
(Revolução Indus-
trial)
Capitalismo global.
Sociedade do conheci-
mento.
Sociedade em Rede.
Tipo de co-
nhecimento Mitologia/Filosofi a Teologia Ciência
Tecnologias.
Tecnologias da Informa-
ção e Comunicação.
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DA ERA DOS DEVERES PARA A ERA DOS DIREITOS Capítulo 1 
Tipos de 
classe social/
trabalho
Aristocracia/Escra-
vidão
Nobres/Clero/
Servos
Burguesia/Proleta-
riado
Classe rica/média/pobre.
Trabalho fl exível.
Capital cognitivo/intelec-
tual.
Terceiro setor/movimen-
tos sociais: trabalho 
social/voluntarismo, 
empreendedorismo.
Cooperativismo.
FONTE: O autor.
Para abordar ainda mais essa temática, recomendamos as 
obras de Michel Foucault:
FOUCAULT, M. Do governo dos vivos. Rio de Janeiro: Achiamé, 
2010.
FOUCAULT, M. História da loucura. São Paulo: Perspectiva, 2010.
FOUCAULT, M. Ditos e escritos V: ética, sexualidade, política. Rio 
de Janeiro: Forense Universitária, 2014.
FOUCAULT, M. Nascimento da biopolítica. São Paulo: Martins 
Fontes, 2008.
FOUCAULT, M. História da sexualidade: a vontade de saber. Rio de 
Janeiro: Edições Graal, 2007.
FOUCAULT, M. A arqueologia do saber. Rio de Janeiro: Forense 
Universitária, 2002.
FOUCAULT, M. Os anormais. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
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 Introdução e Panorama Mundial da Inclusão
Sugere-se ainda a entrevista com Michel Foucault, disponível no 
link: https://www.youtube.com/watch?v=yO_F4IH-VqM.
A partir do conceito de “trabalho”, podemos identifi car as várias faces da 
exclusão social. Segundo a etimologia, a palavra “trabalho” vem do latim 
vulgar tripaliari, que quer dizer martirizar, sacrifi car, torturar com o tripalium, um 
instrumento de tortura. Ou seja, para os romanos e também para os gregos, a 
atividade manual diária era vista como desagradável, remetendo à ideia de 
castigo, pena destinada aos escravos (CHAUÍ, 2005).
FIGURA 2 - TRIPALIUM
FONTE: <http://artecult.com/afi nal-e-trabalho-ou-tripalium/>. Acesso em: 15 set. 2021.
O cidadão da polis grega e da civitas romana participava das atividades 
sociais, políticas, esportivas e culturais, cabendo aos escravos e às mulheres 
cuidar da terra, dos animais e da casa. O trabalho era visto como uma atividade 
desgastante, na qual o homem livre – cidadão – não deveria se ocupar (ARENDT, 
2016). 
Os grandes fi lósofos da antiguidade, tais como Platão e Aristóteles, possuíam 
escravos e consideravam a atividade manual inferior à atividade intelectual. 
A theoria era superior à práxis. O pensamento especulativo tinha preferência 
sobre o pensamento prático. Estas considerações se transferiam também para a 
educação. A educação era voltada para a formação cultural do cidadão da polis
sem se ocupar da educação técnica (CHAUÍ, 2005).
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DA ERA DOS DEVERES PARA A ERA DOS DIREITOS Capítulo 1 
Durante a Idade Média, a atividade manual era considerada uma atividade 
destinada aos servos. O trabalhador, no sistema feudal, é predominantemente um 
trabalhador agrícola ou rural. A classe proprietária, elite dominante, é composta 
pelos nobres e cleros. O trabalhador é um servo preso na terra, na qual produz 
o necessário para sua sobrevivência, sendo que a maior parte fi ca com o seu 
senhor, o proprietário. O trabalhador rural não tinha direitos e estava condenado a 
permanecer na terra produzindo para o seu senhor. Devido ao poder da Igreja, a 
educação, por sua vez, destinava-se exclusivamente ao clero, tendo por fi nalidade 
a educação pela fé. Pode-se verifi car que durante a Idade Antiga e Idade Média, 
a maioria das pessoas somente tinham deveres a serem cumpridos, seja como 
escravos ou como servos. É por isto que Bobbio (1992) denomina esse período de 
Era dos Deveres. Segundo o autor, os sistemas de regras criados na Antiguidade 
e na Idade Média são essencialmente imperativos e visam obter comportamentos 
desejados ou coibir os indesejados, recorrendo a sanções celestes ou terrenas. 
Isto pode ser comprovado nos códigos de deveres de Hamurabi, nas leis das 
doze tábuas e nos dez mandamentos de Moisés. 
Costuma-se atribuir aos babilônios antigos as primeiras formulações e 
codifi cações de normas sociais. Tais normas se apresentam no celebrado código 
de Hamurabi, formulado por volta de 1772 a.C., contendo uma compilação de 
282 leis da antiga Babilônia (atual Iraque). Hamurabi é o sexto rei da Babilônia, 
responsável por decretar o código conhecido com seu nome. Esse código 
sobreviveu até os dias de hoje em cópias parciais, sendo uma na forma de uma 
grande estela e outras no formato de tabletes de barro (INFOESCOLA, 2021a). 
FIGURA 3 - ESTELA CONTENDO AS INSCRIÇÕES DO CÓDIGO DE HAMURABI
FONTE: <https://www.infoescola.com/historia/codigo-
de-hamurabi/>. Acesso em: 15 set. 2021.
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 Introdução e Panorama Mundial da Inclusão
O código de Hamurabi é visto como a mais fi el origem do direito, pois se 
trata da legislação mais antiga de que se tem conhecimento. O seu trecho mais 
conhecido é a chamada Lei de Talião. O termo vem do latim talionis, que signifi ca 
“como tal”, “idêntico”. Essa pena se baseia na justa reciprocidade do crime e 
da pena, frequentemente simbolizada pela expressão “olho por olho, dente por 
dente” (INFOESCOLA, 2021a). 
Sugerimos a leitura do artigo O Código de Hamurabi através 
de uma visão humanitária de Vinicius Mendez Kersten, o qual se 
encontra disponível no link https://ambitojuridico.com.br/cadernos/
direito-penal/o-codigo-de-hamurabi-atraves-de-uma-visao-
humanitaria/.
Para aprofundar ainda mais seus conhecimentos, leia o Código 
de Hamurabi na íntegra a seguir: http://www.dhnet.org.br/direitos/
anthist/hamurabi.htm.
Assim, várias culturas, religiões e civilizações antigas atestam a importância 
de sedimentar, normatizar e codifi car as práticas de coexistência social de forma 
a garantir a vida, as posses e as relações entre membros de uma comunidade, 
tribo, clã ou cidade. A própria Torá, a Lei Judaica Antiga – também denominada 
“Pentateuco” em alusão aos cinco primeiros livros da Bíblia: Gênesis, Êxodo, 
Levítico, Números e Deuteronômio, os quais são conhecidos pelos cristãos como 
Antigo Testamento –, também contribuiu de maneira decisiva para a sedimentação 
de tais direitos em nossos processos civilizatórios (PAIM, 2003).
FIGURA 4 - A TORÁ
FONTE: <https://escola.britannica.com.br/artigo/
Tor%C3%A1/482696>. Acesso em: 15 set. 2021.
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DA ERA DOS DEVERES PARA A ERA DOS DIREITOS Capítulo 1 
Segundo Paim (2003), nos Dez Mandamentos – Leis de Moisés 
–, encontramos um embasamento normativo para a vida comunitária 
de um povo. Dessa forma, para adentrar e compreender mais sobre 
essa temática, recomendamos o fi lme Os Dez Mandamentos, dirigido 
por Cecil B. DeMille em 1957.
FIGURA 5 - OS DEZ MANDAMENTOS
FONTE: <http://www.adorocinema.com/fi lmes/fi lme-81064/>. Acesso em: 15 set. 2021.
No entanto, esses códigos normativos estavam baseados em deveres e não 
em direitos. Sendo assim, muitas vezes, esses códigos legitimavam a exclusão 
social, tais como a escravidão, a servidão, a discriminação contra as mulheres e 
as crianças etc.
 
Com o desenvolvimento do mercantilismo, com a Revolução Industrial e com 
o surgimento da burguesia, consolida-se o sistema capitalista, o qual dissolve 
os laços que prendiam os trabalhadores aos limites previamente defi nidos 
pela ordem feudal. Com a Revolução Industrial e o desenvolvimento científi co, 
o homem deixa de depender dos caprichos da natureza. Se antes a produção 
rural dependia das estações do ano, tempestades, estiagens, tempo cíclico, com 
a indústria, ao contrário, o homem introduz uma jornada linear de produção em 
processo executado pelos trabalhadores e completado com o produto vendido 
aos consumidores (CHAUÍ,2005).
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 Introdução e Panorama Mundial da Inclusão
Nesse período, que marca a transição da Idade Média para a Idade Moderna, 
há uma migração da área rural para a área urbana, impondo um crescimento das 
cidades. Na Modernidade, o trabalhador rural se transforma em trabalhador urbano 
com um novo processo de socialização do trabalho dado pelo desenvolvimento 
industrial. O trabalhador recebe não mais na forma de produtos de sobrevivência, 
mas na forma de salário. Ampliam-se as opções de trabalho e a liberdade de ação 
do indivíduo (HABERMAS, 1997). 
Assim, na sociedade capitalista, uma característica fundamental é a 
necessidade de uma atividade remunerada, ou seja, que gere capital (renda, 
salário). Somente através do trabalho remunerado, o trabalhador pode comprar as 
mercadorias necessárias para a satisfação das necessidades básicas. No sistema 
capitalista, o trabalho está diretamente relacionado à geração de capital (renda, 
salário) necessário para nossa sobrevivência.
No início do sistema capitalista, nos primórdios da Revolução Industrial, os 
trabalhadores não possuíam direitos assegurados. Predominava ainda uma visão 
depreciativa do trabalho, marcada pela exploração do trabalhador, mantendo certa 
forma de “escravidão” e “servilismo”. Continuava a separação de classes – agora 
na terminologia moderna – entre a burguesia (os donos dos meios de produção) e 
o proletariado (os operários). 
O trabalho, no regime escravo, feudal ou capitalista, tem uma mesma 
característica predominante: é uma atividade necessária para a sobrevivência 
humana. Dessa forma, independentemente do sistema econômico ou social, o 
trabalho tem acompanhado o homem desde os primórdios de sua existência, como 
atividade necessariamente útil, associada à produção dos seus meios de vida e à 
satisfação imediata de suas necessidades, como garantia de sua sobrevivência. 
O trabalho surge com a própria vida propriamente humana (ARENDT, 2016).
Para aprofundar ainda mais nesse assunto, indicamos a leitura 
dos livros a seguir:
ARENDT, Hannah. A Condição Humana. São Paulo: Forense 
Universitária, 2016.
HONNETH, Axel. Lutas por reconhecimento: a gramática 
moral dos confl itos sociais. São Paulo: Editora 34, 2003. 
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DA ERA DOS DEVERES PARA A ERA DOS DIREITOS Capítulo 1 
A seguir, indicaremos alguns fi lmes com temas relacionados aos 
assuntos abordados:
Tema: Escravidão, Servidão e Proletariado: 
Spartacus
FIGURA 6 – CAPA DO FILME SPARTACUS
FONTE: <https://fi lmow.com/spartacus-t1058/>. Acesso em: 22 nov. 2021.
Spartacus é um dos grandes épicos do cinema mundial, 
trazendo Kirk Douglas numa de suas melhores atuações como um 
gladiador que lidera um grupo de escravos em busca de liberdade 
contra as forças do Império Romano.
Coração Valente
FIGURA 7 – CENA DO FILME CORAÇÃO VALENTE
FONTE: <https://www.cpt.com.br/melhores-fi lmes-do-cinema/
coracao-valente>. Acesso em: 22 nov. 2021.
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 Introdução e Panorama Mundial da Inclusão
William Wallace (Mel Gibson) é um plebeu escocês que 
foi criado pelo tio Argyle Wallace (Brian Cox), pois seu pai foi 
brutalmente assassinado por soldados ingleses. Já adulto, 
William retorna à Escócia, reencontra sua grande paixão Murron 
MacClannough (Catherine McCormack) e decide casar-se com 
ela. Sempre que ocorria um casamento na região, o nobre inglês 
tinha o direito de passar a noite de núpcias com a noiva. Para 
poupar sua amada, William propõe a Murron um casamento em 
segredo. No entanto, logo na primeira noite juntos, sua esposa é 
morta por soldados ingleses. Extremamente magoado e revoltado, 
William declara guerra aos ingleses em nome da independência da 
Escócia. Movido pelo rancor e pelo desejo de fazer justiça, o jovem 
plebeu assume a liderança do exército escocês e impressiona os 
adversários. 
Tempos Modernos
FIGURA 8 – CENA DO FILME TEMPOS MODERNOS
FONTE: <https://www.todamateria.com.br/tempos-modernos-
fi lme-chaplin/>. Acesso em: 22 nov. 2021.
Um clássico do cinema mudo, dirigido por Charles Chaplin, 
retrata com lirismo a alienação do trabalhador moderno. Um operário 
de uma linha de montagem, que testou uma "máquina revolucionária" 
para reduzir a hora do almoço, é levado à loucura pela "monotonia 
frenética" do seu trabalho. Após um longo período em um sanatório, 
ele fi ca curado de sua crise nervosa, mas desempregado. Ele 
deixa o hospital para começar sua nova vida, mas encontra uma 
crise generalizada e equivocadamente é preso como um agitador 
comunista, que liderava uma marcha de operários em protesto. 
Simultaneamente, uma jovem rouba comida para salvar suas irmãs 
famintas, que ainda são bem garotas. Elas não têm mãe, e o pai 
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DA ERA DOS DEVERES PARA A ERA DOS DIREITOS Capítulo 1 
está desempregado, que logo vem a morrer em um confl ito. A lei vai 
cuidar das órfãs, mas enquanto as menores são levadas a jovem 
consegue escapar. 
1 A atividade econômica na sociedade sempre foi uma preocupação 
para os diferentes povos do mundo. Em todas as épocas da 
História da humanidade, o ser humano tem se preocupado em 
resolver, de maneira efi ciente, os problemas relativos à questão 
econômica. 
Assinale a alternativa CORRETA que apresenta a sequência dos 
períodos históricos da Economia:
a) Escravidão/Feudalismo/Mercantilismo/Revolução Industrial/
Capitalismo Global.
b) Escravidão/Feudalismo/Mercantilismo/Capitalismo Global/ 
Revolução Industrial.
c) Escravidão/Feudalismo/Revolução Industrial/Capitalismo Global/ 
Mercantilismo.
d) Escravidão/Mercantilismo/Revolução Industrial/Capitalismo Global/ 
Feudalismo.
3 CONCEITOS DE INCLUSÃO SOCIAL
De acordo com Camargo (2017, s.p.), “inclusão é um paradigma que se 
aplica aos mais variados espaços físicos e simbólicos. Os grupos de pessoas, 
nos contextos inclusivos, têm suas características idiossincráticas reconhecidas 
e valorizadas”. O autor também pontua que, “segundo o referido paradigma, 
identidade, diferença e diversidade representam vantagens sociais que favorecem 
o surgimento e o estabelecimento de relações de solidariedade e de colaboração”. 
Essas lutas travadas por minorias sociais, ao mesmo tempo em que 
conquistaram direitos muitas vezes negados às diferentes identidades, também 
passaram a ameaçar as posições e as formas hegemônicas ocupadas pela cultura 
branca e masculina. Pouco a pouco, essas lutas também estão possibilitando o 
empoderamento que leva esses sujeitos a reconhecerem para si outras posições 
que não a da periferia.
20
 Introdução e Panorama Mundial da Inclusão
Segundo Nascimento (2010), a inclusão social diz respeito a sujeitos 
individuais, vulnerabilizados em decorrência do processo histórico e da 
característica cultural das sociedades nas quais estão inseridos perpassando o 
todo social. Dessa forma, o seu estudo conceitual se torna relevante.
Inclusão social é um conceito usado de forma bastante genérica, tanto nos 
livros quanto nos discursos políticos. Para entender o que signifi ca esse termo, 
é preciso compreender antes seu oposto, a exclusão social, principalmente 
de algumas categorias fora do mercado de trabalho, e como estamos em uma 
sociedade capitalista, fora da participação comunitária. Nessas categorias estão, 
por exemplo, mulheres, idosos, defi cientes físicos, imigrantes etc. É nesse 
contexto que se usa o termo “exclusão social” para designar setores que foram 
momentaneamente excluídos de uma sociedade. A expressão “inclusão social” 
emerge para designar as políticas de assistência voltadas especifi camente para 
esse público (INFOESCOLA, 2021b).
Um dos primeiros pensadores a afi rmar que os homens colocam em primeiro 
lugar seus interesses pessoais egocêntricos foi Maquiavel (1469-1527). Ele 
apontava que os homens, desde os seus primórdios, estão em luta constante pela 
sua autopreservação e sobrevivência. Nesta visão pessimista do ser humano, 
Maquiavel coloca que os sujeitos individuais se contrapõem numa concorrência 
permanente de interesses,poder e sobre os cálculos estratégicos da política. 
 
Na sua obra O Príncipe, Maquiavel cria o marco na origem das refl exões 
políticas modernas, após o Feudalismo. A época da qual Maquiavel fez parte era 
uma época em que a Itália estava esfacelada politicamente, dividida em várias 
regiões que não se entendiam e que viviam guerreando entre si. Diante dessa 
situação política, Maquiavel escreveu sua obra pensando em dar conselhos a um 
futuro príncipe que pudesse unifi car a Itália em torno de um ideal republicano. É 
importante ressaltar que não importava para tal com que meios devesse contar, 
desde que a Itália fi casse livre das lutas sociais e regionais. Para atingir o elevado 
fi m da unifi cação de seu Estado, o Príncipe poderia, portanto, valer-se de qualquer 
meio. Maquiavel é o primeiro pensador a usar a palavra Estado no sentido que 
conhecemos hoje em termos de unidade política e absoluta (MAQUIAVEL, 2010).
21
DA ERA DOS DEVERES PARA A ERA DOS DIREITOS Capítulo 1 
FIGURA 9 - O PRÍNCIPE DE MAQUIAVEL
FONTE: <https://www.amazon.com.br/Pr%C3%ADncipe-Nicolau-
Maquiavel-ebook/dp/B00A384W6C>. Acesso em: 15 set. 2021.
Outro ponto fundamental a ressaltar no pensamento de Maquiavel, para que 
não seja mal interpretado, é o que diz respeito ao aspecto ético. Podemos dizer, 
então, que Maquiavel, pelo fato de defender que a Itália fosse unifi cada a qualquer 
custo, não possuía princípios éticos? Ao contrário, Maquiavel ousou afrontar a 
moral apregoada pela Igreja Católica, incentivadora, inclusive, de muitos confl itos 
regionais na Itália de então. Ousou, também, deixar de lado uma moral que falava 
em nome do amor e que, nos bastidores da política, matava pessoas. Não é 
verdadeiro afi rmar que Maquiavel não tinha princípios éticos (GRUPPI, 1980).
Compreendemos sua ética na medida em que compreendemos seu objetivo 
com relação à política e, por consequência, seu amor pela Itália que desejava ver 
unifi cada. Maquiavel visa separar o mundo da política do mundo moral cristão, 
buscando entender as leis específi cas da política tal como aconteciam. Conforme 
afi rma Gruppi (1980), Maquiavel funda uma nova moral, que é a moral do cidadão, 
do homem que constrói o Estado, uma moral imanente, mundana, que vive no 
relacionamento entre os homens. Não é mais a moral da alma individual, que 
deveria se apresentar ao julgamento divino formosa e limpa.
As discussões surgidas a partir do Renascimento colocam o homem como 
centro das decisões do seu próprio destino, não mais vinculado ao poder da 
Igreja, nem à nobreza feudal e nem a uma concepção política, livre da moral. 
Naquele período, vários foram os fi lósofos preocupados em refl etir sobre novas 
formas de governo. Dentre eles, podemos destacar Hobbes (1588-1679), Locke 
(1632-1704) e Rousseau (1712-1778), que teorizaram sobre os fundamentos do 
Estado Moderno.
A história da fi losofi a política, quando se refere aos pensadores Hobbes, 
Locke e Rousseau, costuma defi ni-los como contratualistas e jusnaturalistas. 
22
 Introdução e Panorama Mundial da Inclusão
Assim são defi nidos porque esses pensadores políticos são os maiores expoentes 
e defensores do Contrato Social, ou seja, são fi lósofos que, entre o século XVI e o 
XVIII, defenderam que a origem do Estado e/ou da sociedade está num contrato. 
Além disso, este contrato visa garantir e proteger, através do Estado, os direitos 
fundamentais da natureza humana (jusnaturalismo) – direito à vida, liberdade, 
propriedade etc. 
“O homem é o lobo do homem”, com essa citação, podemos sintetizar o 
que pensa Hobbes (1987) acerca do homem, vivendo no estado de natureza 
como animal. Para Hobbes, o homem que vive no estado de natureza é um ser 
mergulhado na ânsia do desejo de poder, de riquezas, de propriedades, por isso 
ele vive em constante confl ito, em contínua guerra com seus semelhantes. Nesse 
estado, prevalece a guerra de todos contra todos, e cada homem é um lobo para 
seu próximo. O sentimento de sociabilidade no estado de natureza inexiste, é 
nulo. Nesse sentido, abre-se o questionamento de como a espécie humana se 
perpetuará na face da terra se todos são inimigos e se a guerra é o pão de cada 
dia.
Hobbes defende que os homens têm a necessidade de estabelecer um 
acordo, um contrato de convivência que possa frear a força destruidora e ilimitada 
da violência de todos contra todos. A única maneira de colocar freios e limites aos 
abusos do poder individual é através de um contrato social, em que cada qual abre 
mão de seu poder e o entrega a um soberano, que encarna as funções do Estado. 
Esse soberano tem poder de vida e de morte sobre seus súditos; de morte se o 
súdito não se dobrar às leis criadas pelo soberano, para regular o convívio social. 
Para Hobbes, o Estado assemelha-se ao monstro Leviatã, fi gura mitológica com 
extremo poder, da qual faz uso para descrever o corpo político (HOBBES, 1987).
FIGURA 10 - O LEVIATÃ DE THOMAS HOBBES
FONTE: < https://www.amazon.com.br/Leviat%C3%A3-Mat%C3%A9ria-Forma-
Rep%C3%BAblica-Eclesi%C3%A1stica/dp/8580633729>. Acesso em: 25 nov. 2021.
23
DA ERA DOS DEVERES PARA A ERA DOS DIREITOS Capítulo 1 
2 Com o Renascimento, o Mercantilismo, a Reforma Protestante e a 
expansão do Islamismo, consolida-se um processo de separação 
do que a Idade Média unira: a razão separa-se da fé; a natureza 
e o homem, de Deus; o Estado, da Igreja. Temos o advento do 
Antropocentrismo como fi losofi a dominante, ou seja, o homem 
como centro das discussões fi losófi cas, científi cas e políticas 
em oposição ao Teocentrismo. Confi gura-se, assim, um novo 
período, a Idade Moderna, ou Modernidade (CHAUÍ, 2005).
Qual obra e autor são o marco sobre as refl exões políticas modernas? 
a) A obra O Príncipe, de Maquiavel.
b) A obra O Leviatã, de Hobbes.
c) A obra A República, de Platão.
d) A obra Política, de Aristóteles.
4 DIREITOS SOCIAIS E COLETIVOS: 
INCLUSÃO DE MINORIAS
A fundamentação social que caracteriza a vida moderna, a universalidade 
dos direitos humanos, não se deve à identidade biológica (naturalismo clássico), 
nem à fraternidade divina entre os homens, mas se deve a um acordo político 
entre os homens – o contrato social. No entanto, não se trata mais de uma 
defi nição simplesmente teórica, mas política, ou seja, positivada através de leis e 
guardada por um Estado. Tais leis positivas surgiram nos séculos XVII e XVIII, no 
período de ascensão da burguesia que estava reivindicando uma maior liberdade 
de ação e de representação política frente à nobreza e ao clero. Elas forneciam 
uma justifi cativa ideológica consistente aos movimentos revolucionários, com 
reivindicação de direitos, que levariam progressivamente à dissolução do mundo 
antigo e feudal e à constituição do mundo moderno, saindo de uma Era dos 
Deveres e iniciando a Era dos Direitos (BOBBIO, 1992).
Vamos estudar a seguir as principais declarações de direitos fundamentais 
positivadas através de leis que vão garantir a cidadania no Estado moderno. 
Iniciamos com a Declaração de Direitos de 1668 na Inglaterra.
24
 Introdução e Panorama Mundial da Inclusão
A Declaração de Direitos (Bill of Rights) de 1668
A chamada Revolução Gloriosa concluiu o período da 
Revolução Inglesa, iniciado em 1640, levando à formação de uma 
monarquia parlamentar. Essa declaração elaborada pelo Parlamento 
Inglês é considerada um dos mais importantes documentos 
constitucionais ingleses. Um dos principais objetivos da declaração 
é limitar o poder do monarca na Inglaterra e dar mais poder ao 
Parlamento, representando sua soberania sobre o rei. A Monarquia 
Parlamentar foi instituída, e o absolutismo inglês chegava ao fi m. 
Além disso, a declaração garantiu a liberdade individual, incluindo 
a liberdade de imprensa e o direito à propriedade privada, e defi niu 
os deveres dos cidadãos ingleses, que deixavam de ser súditos. É 
importante destacar que, embora o documento tenha limitado os 
poderes do rei de acordo coma vontade popular, o povo, nesse caso, 
foi representado pelo Parlamento. A Revolução Inglesa, encerrada 
com o fi m da Revolução Gloriosa, e a Declaração de Direitos de 1689 
fortaleceram a burguesia e o liberalismo na Inglaterra, contribuindo 
para o desenvolvimento do capitalismo e formando um cenário 
propício ao pioneirismo inglês na Revolução Industrial do século 
XVIII.
FONTE: <https://www.todamateria.com.br/revolucao-gloriosa/>. 
Acesso em: 15 fev. 2021.
FIGURA 11 - REVOLUÇÃO GLORIOSA (1688)
FONTE: <https://www.todamateria.com.br/revolucao-gloriosa/>. Acesso em: 15 set. 2021.
25
DA ERA DOS DEVERES PARA A ERA DOS DIREITOS Capítulo 1 
Na Idade Média, só quem tinha acesso à propriedade da Terra eram os nobres 
e a Igreja. Com o direito à propriedade, enquanto direito fundamental, universaliza-
se o acesso e a proliferação de propriedades rurais, ampliando o desenvolvimento 
da agricultura e da pecuária. Assim, criam-se condições de acumulação de capital 
no campo e o consumo de mercadorias, inicialmente no sistema mercantilista, e 
depois no sistema capitalista desenvolvido com a Revolução Industrial (CHAUÍ, 
2005).
O cidadão da modernidade é o sujeito individual, portador de direitos e 
deveres, proprietário e consumidor, que com sua autonomia participa da vida 
pública. Como vimos, na antiguidade clássica, o trabalhador era escravo ou servo, 
que do ponto de vista dos fi lósofos não possuía as disposições necessárias ao 
exercício da cidadania (pela educação insufi ciente e pela “grosseria” de suas 
ocupações). Modernamente, o cidadão é, em primeiro lugar, um trabalhador, pois 
é pelo trabalho que ele ocupa um lugar na comunidade e conquista seus direitos 
(BOBBIO, 1992).
Essa noção de que todo ser humano é detentor, pelo simples fato de existir, 
de certos direitos naturais básicos, torna-se desde então um tema que desafi a os 
pensadores e os homens de Estado de todos os tempos e lugares. 
Vamos verifi car, a seguir, como essa noção está expressa na Declaração 
de Independência dos Estados Unidos da América, de 4 de julho de 1776, que 
reconhece explicitamente que todo homem possui direitos naturais, anteriores e 
superiores ao próprio Estado, e que este tem a obrigação de garanti-los. 
FIGURA 12 - DECLARAÇÃO DE INDEPENDÊNCIA DOS ESTADOS 
UNIDOS DA AMÉRICA, DE 4 DE JULHO DE 1776
FONTE: <http://www.dhnet.org.br/direitos/anthist/dec1776.htm>. Acesso em: 15 set. 2021.
26
 Introdução e Panorama Mundial da Inclusão
Declaração de Direitos do Bom Povo de Virgínia - Williamsburgh, 
4 de julho de 1776
 Declaração de direitos formulada pelos representantes do bom 
povo de Virgínia, reunidos em assembleia geral e livre; direitos que 
pertencem a eles e a sua posteridade, como base e fundamento do 
governo.
I
Que todos os homens são, por natureza, igualmente livres 
e independentes, e têm certos direitos inatos, dos quais, quando 
entram em estado de sociedade, não podem por qualquer acordo 
privar ou despojar seus pósteros e que são: o gozo da vida e da 
liberdade com os meios de adquirir e de possuir a propriedade e de 
buscar e obter felicidade e segurança.
II
Que todo poder é inerente ao povo e, consequentemente, dele 
procede; que os magistrados são seus mandatários e seus servidores 
e, em qualquer momento, perante ele responsáveis.
III
Que o governo é instituído, ou deveria sê-lo, para proveito 
comum, proteção e segurança do povo, nação ou comunidade; que 
de todas as formas e modos de governo esta é a melhor, a mais 
capaz de produzir maior felicidade e segurança, e a que está mais 
efi cazmente assegurada contra o perigo de um mau governo; e que 
se um governo se mostra inadequado ou é contrário a tais princípios, 
a maioria da comunidade tem o direito indiscutível, inalienável e 
irrevogável de reformá-lo, alterá-lo ou aboli-lo da maneira considerada 
mais condizente com o bem público.
IV
Que nenhum homem ou grupo de homens tem direito a receber 
emolumentos ou privilégios exclusivos ou especiais da comunidade, 
senão apenas relativamente a serviços públicos prestados; os quais, 
não podendo ser transmitidos, fazem com que tampouco sejam 
hereditários os cargos de magistrado, de legislador ou de juiz.
V
Que os poderes legislativo, executivo e judiciário do Estado 
devem estar separados e que os membros dos dois primeiros 
poderes devem estar conscientes dos encargos impostos ao povo, 
deles participar e abster-se de impor-lhes medidas opressoras; que, 
em períodos determinados devem voltar a sua condição particular, 
ao corpo social de onde procedem, e suas vagas se preencham 
27
DA ERA DOS DEVERES PARA A ERA DOS DIREITOS Capítulo 1 
mediante eleições periódicas, certas e regulares, nas quais possam 
voltar a se eleger todos ou parte dos antigos membros (dos 
mencionados poderes) segundo disponham as leis.
VI
Que as eleições de representantes do povo em assembleia 
devem ser livres, e que todos os homens que deem provas sufi cientes 
de interesse permanente pela comunidade, e de vinculação com 
esta, tenham o direito de sufrágio e não possam ser submetidos à 
tributação nem privados de sua propriedade por razões de utilidade 
pública sem seu consentimento, ou o de seus representantes assim 
eleitos, nem estejam obrigados por lei alguma a que, da mesma 
forma, não hajam consentido para o bem público.
VII
Que toda faculdade de suspender as leis ou a execução destas 
por qualquer autoridade, sem consentimento dos representantes do 
povo, é prejudicial aos direitos deste e não deve exercer-se.
VIII
Que em todo processo criminal incluído naqueles em que se pede 
a pena capital, o acusado tem direito de saber a causa e a natureza 
da acusação, ser acareado com seus acusadores e testemunhas, 
pedir provas em seu favor e a ser julgado, rapidamente, por um júri 
imparcial de doze homens de sua comunidade, sem o consentimento 
unânime, dos quais não se poderá considerá-lo culpado; tampouco 
pode-se obrigá-lo a testemunhar contra si próprio; e que ninguém 
seja privado de sua liberdade, salvo por mandado legal do país ou 
por julgamento de seus pares.
IX
Não serão exigidas fi anças ou multas excessivas, nem infl igir-
se-ão castigos cruéis ou inusitados.
X
Que os autos judiciais gerais em que se mande a um funcionário 
ou ofi cial de justiça o registro de lugares suspeitos, sem provas 
da prática de um fato, ou a detenção de uma pessoa ou pessoas 
sem identifi cá-las pelo nome, ou cujo delito não seja claramente 
especifi cado e não se demonstre com provas, são cruéis e opressores 
e não devem ser concedidos.
XI
Que em litígios referentes à propriedade e em pleitos entre 
particulares, o artigo julgamento por júri de doze membros é preferível 
a qualquer outro, devendo ser tido por sagrado.
XII
Que a liberdade de imprensa é um dos grandes baluartes da 
liberdade, não podendo ser restringida jamais, a não ser por governos 
despóticos.
28
 Introdução e Panorama Mundial da Inclusão
XIII
Que uma milícia bem regulamentada e integrada por pessoas 
adestradas nas armas, constitui defesa natural e segura de um 
Estado livre; que deveriam ser evitados, em tempos de paz, como 
perigosos para a liberdade, os exércitos permanentes; e que, em 
todo caso, as forças armadas estarão estritamente subordinadas ao 
poder civil e sob o comando deste.
XIV
Que o povo tem direito a um governo único; e que, 
consequentemente, não deve erigir-se ou estabelecer-se dentro do 
Território de Virgínia nenhum outro governo apartado daquele.
XV
Que nenhum povo pode ter uma forma de governo livre nem os 
benefícios da liberdade, sem a fi rma adesão à justiça, à moderação, 
à temperança, à frugalidade e virtude, sem retorno constante aos 
princípios fundamentais.
XVI
Que a religião ou os deveres que temos para com o nosso 
Criador, e a maneira de cumpri-los, somente podem reger-se 
pela razão e pela convicção, não pela força ou pela violência; 
consequentemente, todos os homens têm igual direito ao livre 
exercícioda religião, de acordo com o que dita sua consciência, 
e que é dever recíproco de todos praticar a paciência, o amor e a 
caridade cristã para com o próximo.
FONTE: Textos Básicos sobre Derechos Humanos. Madrid: 
Universidad Complutense, 1973. In: FERREIRA FILHO, Manoel G. et 
al. Liberdades Públicas. São Paulo: Ed. Saraiva, 1978.
A declaração americana pontua claramente no seu artigo primeiro a ideia de 
liberdade e igualdade para todos os homens (universalidade). Temos, aqui, um 
marco defi nidor para a garantia dos direitos fundamentais da pessoa humana. Tal 
postulação será ratifi cada e aprofundada pela Declaração dos Direitos do Homem 
e do Cidadão, promulgada pela Assembleia Nacional Francesa em 26 de agosto 
de 1789.
29
DA ERA DOS DEVERES PARA A ERA DOS DIREITOS Capítulo 1 
FIGURA 13 - DECLARAÇÃO DOS DIREITOS DO HOMEM E DO CIDADÃO
FONTE: < https://www.unidospelosdireitoshumanos.org.br/what-are-human-rights/
brief-history/declaration-of-human-rights.html>. Acesso em: 15 set. 2021.
Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão - França, 26 de 
agosto de 1789
Os representantes do povo francês, reunidos em Assembleia 
Nacional, tendo em vista que a ignorância, o esquecimento ou 
30
 Introdução e Panorama Mundial da Inclusão
o desprezo dos direitos do homem são as únicas causas dos 
males públicos e da corrupção dos Governos, resolveram declarar 
solenemente os direitos naturais, inalienáveis e sagrados do 
homem, a fi m de que esta declaração, sempre presente em todos os 
membros do corpo social, lhes lembrem permanentemente de seus 
direitos e seus deveres; a fi m de que os atos do Poder Legislativo e 
do Poder Executivo, podendo ser a qualquer momento comparados 
com a fi nalidade de toda a instituição política, sejam por isso mais 
respeitados; a fi m de que as reivindicações dos cidadãos, doravante 
fundadas em princípios simples e incontestáveis, se dirijam sempre à 
conservação da Constituição e à felicidade geral.
Em razão disto, a Assembleia Nacional reconhece e declara, na 
presença e sob a égide do Ser Supremo, os seguintes direitos do 
homem e do cidadão:
Art. 1º. Os homens nascem e são livres e iguais em direitos. As 
distinções sociais só podem fundamentar-se na utilidade comum.
Art. 2º. A fi nalidade de toda associação política é a conservação 
dos direitos naturais e imprescritíveis do homem. Esses direitos são 
a liberdade, a prosperidade, a segurança e a resistência à opressão.
Art. 3º. O princípio de toda a soberania reside, essencialmente, 
na nação. Nenhuma operação, nenhum indivíduo pode exercer 
autoridade que dela não emane expressamente.
Art. 4º. A liberdade consiste em poder fazer tudo que não 
prejudique o próximo. Assim, o exercício dos direitos naturais de 
cada homem não tem por limites senão aqueles que asseguram aos 
outros membros da sociedade o gozo dos mesmos direitos. Estes 
limites apenas podem ser determinados pela lei.
Art. 5º. A lei não proíbe senão as ações nocivas à sociedade. 
Tudo que não é vedado pela lei não pode ser obstado e ninguém 
pode ser constrangido a fazer o que ela não ordene.
Art. 6º. A lei é a expressão da vontade geral. Todos os cidadãos 
têm o direito de concorrer, pessoalmente ou através de mandatários, 
para a sua formação. Ela deve ser a mesma para todos, seja para 
proteger, seja para punir. Todos os cidadãos são iguais a seus olhos 
e igualmente admissíveis a todas as dignidades, lugares e empregos 
públicos, segundo a sua capacidade e sem outra distinção que não 
seja a das suas virtudes e dos seus talentos.
Art. 7º. Ninguém pode ser acusado, preso ou detido senão 
nos casos determinados pela lei e de acordo com as formas por 
esta prescrita. Os que solicitam, expedem, executam ou mandam 
executar ordens arbitrárias devem ser punidos; mas qualquer cidadão 
convocado ou detido em virtude da lei deve obedecer imediatamente, 
caso contrário torna-se culpado de resistência.
31
DA ERA DOS DEVERES PARA A ERA DOS DIREITOS Capítulo 1 
Art. 8º. A lei apenas deve estabelecer penas estrita e 
evidentemente necessárias e ninguém pode ser punido senão 
por força de uma lei estabelecida e promulgada antes do delito e 
legalmente aplicada.
Art. 9º. Todo acusado é considerado inocente até ser 
declarado culpado e, se julgar indispensável prendê-lo, todo o rigor 
desnecessário à guarda da sua pessoa deverá ser severamente 
reprimido pela lei.
Art. 10º. Ninguém pode ser molestado por suas opiniões, 
incluindo opiniões religiosas, desde que sua manifestação não 
perturbe a ordem pública estabelecida pela lei.
Art. 11º. A livre comunicação das ideias e das opiniões é um 
dos mais preciosos direitos do homem. Todo cidadão pode, portanto, 
falar, escrever, imprimir livremente, respondendo, todavia, pelos 
abusos desta liberdade nos termos previstos na lei.
Art. 12º. A garantia dos direitos do homem e do cidadão 
necessita de uma força pública. Esta força é, pois, instituída para 
fruição por todos, e não para utilidade particular daqueles a quem é 
confi ada.
Art. 13º. Para a manutenção da força pública e para as despesas 
de administração é indispensável uma contribuição comum que deve 
ser dividida entre os cidadãos de acordo com suas possibilidades.
Art. 14º. Todos os cidadãos têm direito de verifi car, por si ou 
pelos seus representantes, da necessidade da contribuição pública, 
de consenti-la livremente, de observar o seu emprego e de lhe fi xar a 
repartição, a coleta, a cobrança e a duração.
Art. 15º. A sociedade tem o direito de pedir contas a todo agente 
público pela sua administração.
Art. 16º. A sociedade em que não esteja assegurada a garantia 
dos direitos nem estabelecida a separação dos poderes não tem 
Constituição.
Art. 17.º Como a propriedade é um direito inviolável e sagrado, 
ninguém dela pode ser privado, a não ser quando a necessidade 
pública legalmente comprovada o exigir sob condição justa e prévia 
indenização.
FONTE: Textos Básicos sobre Derechos Humanos. Madrid: 
Universidad Complutense, 1973. In: FERREIRA FILHO, Manoel G. et 
al. Liberdades Públicas. São Paulo: Ed. Saraiva, 1978.
32
 Introdução e Panorama Mundial da Inclusão
A Revolução Francesa consolida os ideais de Liberdade, Igualdade e 
Fraternidade, que são a base da noção contemporânea de Direitos Humanos. 
Esta infl uência será decisiva para as futuras constituições dos Estados nacionais. 
Por sua vez, já no século XX, após as duas grandes Guerras Mundiais 
(1914 e 1939), os países reunidos na Organização das Nações Unidas (ONU), 
infl uenciados pela Declaração de Independência Americana e pela Declaração da 
Revolução Francesa promulgaram a Declaração Universal dos Direitos Humanos, 
aprovada em 10 de dezembro de 1948.
FIGURA 14 - DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS 
HUMANOS, 10 DE DEZEMBRO DE 1948
FONTE: <https://www.timetoast.com/timelines/los-derechos-
humanos-y-la-democracia/>. Acesso em: 25 nov. 2021.
Para aprofundar seus estudos, leia no link a seguir a Declaração 
Universal dos Direitos Humanos da ONU, de 10 de dezembro de 
1948: https://www.unicef.org/brazil/declaracao-universal-dos-direitos-
humanos.
33
DA ERA DOS DEVERES PARA A ERA DOS DIREITOS Capítulo 1 
Segundo Norberto Bobbio (1992), a partir dessas declarações, podemos 
perceber gerações de direitos humanos consolidando na história da sociedade 
ocidental a passagem de uma era dos direitos, que substituiria a era dos deveres.
I - Uma primeira geração - surgida em função das lutas pela liberdade 
individual, proteção à vida e à propriedade que correspondem aos chamados 
Direitos Civis; e dos Direitos Políticos (votar e ser votado) presentes principalmente 
na Declaração da Independência Americana (1776) e na Declaração dos Direitos 
do Homem e do Cidadão da Revolução Francesa (1789).
II - Uma segunda geração - surgida em função das lutas por direitos sociais 
relacionados aos direitos trabalhistas, saúde, educação e segurança expressa 
principalmente na Declaração Universaldos Direitos Humanos da ONU (1948). As 
conquistas dos direitos trabalhistas, tais como limite de jornada diária, descanso 
semanal remunerado, férias remuneradas, limite de idade, aposentadoria, 
assistência médica e segurança no trabalho foram frutos de várias lutas sociais, 
caracterizando a Idade Contemporânea. A conquista dos direitos trabalhistas 
ocorreu a partir, principalmente, de um processo de entendimento do que é 
realmente o trabalho para os seres humanos. Este entendimento ocorreu em 
conjunto com o desenvolvimento do exercício da cidadania e da educação do 
trabalhador e sua participação nas questões sociais, políticas e econômicas. 
III - Uma terceira geração - surgida em função de questões relacionadas 
aos problemas difusos (Direitos Difusos: a titularidade desses direitos não é 
plenamente identifi cável), que dizem respeitos a todos (paz, vida saudável, 
meio ambiente) e, também, das minorias (direitos coletivos: existe um vínculo 
que compõe o grupo): negros, indígenas, mulheres, pessoas portadoras de 
necessidades especiais, homossexuais etc. 
A Lei 8.078/90 dispõe sobre a proteção do consumidor e dá outras 
providências. O Art. 81 dessa lei conceitua o direito difuso como transindividual, 
de natureza indivisível, sendo os titulares desses direitos sujeitos indeterminados. 
Já os direitos coletivos são também transindividuais de natureza indivisível, 
sendo titulares desse direito grupo, categoria ou classe. Por fi m, defi ne os direitos 
individuais homogêneos como os decorrentes de origem comum.
Esta terceira geração abarca, então, os movimentos ecológicos, relacionados à 
proteção ambiental e a uma vida saudável. A ética ambiental surgiu como resposta 
à representação da natureza enquanto reservatório inesgotável de recursos com 
um ilimitado poder gerador e regenerativo, perspectiva que, a partir de meados do 
século XX, foi maioritariamente identifi cada como a responsável pela crise ambiental 
contemporânea. Já as questões ecológicas se intensifi caram principalmente depois 
dos grandes desastres ecológicos, tais como a poluição de cidades e a contaminação 
por vazamentos radioativos e nucleares (CARVALHO, 2013). 
34
 Introdução e Panorama Mundial da Inclusão
Os Direitos Humanos de terceira geração surgiram principalmente após os 
movimentos civis nos Estados Unidos contra a discriminação racial (Martin Luther 
King) e a guerra do Vietnã (1962-1972). Em 1986, na Declaração sobre o Direito 
ao Desenvolvimento, foi garantida a alteridade universal em função do direito dos 
indivíduos e dos povos desenvolverem-se, pois “toda pessoa humana e todos 
os povos estão habilitados a participar do desenvolvimento econômico, social, 
cultural e político”. 
Em 1992, na Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e 
Desenvolvimento, procurou-se garantir o direito de viver em harmonia com 
a natureza, pois “os seres humanos estão no centro das preocupações com o 
desenvolvimento sustentável. Têm direito a uma vida saudável e produtiva, em 
harmonia com a natureza”. Também se expressa a necessidade de garantir 
o direito a um meio ambiente preservado – para gerações presentes e futuras 
–, pois “o direito ao desenvolvimento deve ser exercido de modo a permitir que 
sejam atendidas equitativamente as necessidades de desenvolvimento e de meio 
ambiente das gerações presentes e futuras”. Uma normatização recente é o 
chamado Protocolo de Kyoto, ratifi cado por vários países visando principalmente 
a diminuição da poluição da atmosfera terrestre (ONU, 1992).
IV - Uma quarta geração – questões bioéticas ainda em fase de discussão 
em vários países e diz respeito às pesquisas biológicas e manipulações dos 
patrimônios genéticos (clonagem, manipulação genética, alimentos transgênicos 
etc.). Ou seja, se referem às questões da vida humana, das gerações futuras 
e daqueles que ainda não nasceram. A bioética apresenta-se hoje como uma 
importante área a ser estudada, no campo da Ética Aplicada. Cada vez mais os 
avanços da ciência, especialmente na área médica, têm afetado de forma intensa a 
vida dos seres humanos. Temas como aborto, eutanásia, clonagem e a discussão 
sobre o direito à integridade do código genético, por exemplo, constituem-se no 
centro das discussões dessa parte aplicada da Ética que estuda a vida, tanto na 
sua origem como no seu desenvolvimento e no seu fi m. A bioética é uma área 
de estudo interdisciplinar que envolve a Ética e a Biologia, fundamentando os 
princípios éticos que regem a vida quando ela é colocada em risco pela medicina 
ou pelas ciências.
V - Direitos de quinta geração – ainda em gestação, relacionados ao direito dos 
animais, fundamentados principalmente na capacidade de sentir dor e sofrimento. 
O movimento em defesa dos animais é recente e foi fortemente impulsionado com 
a publicação do livro Animal Liberation (1975) do fi lósofo australiano Peter Singer. 
Desde o início do movimento de libertação dos animais na década de 1970, 
muitos pensadores questionam se criar animais para alimentação em grandes 
fazendas, em condições de opressão (trancafi ados em pequenos espaços, sem 
as condições naturais de luz solar e ar limpo etc.), é moralmente correto. 
35
DA ERA DOS DEVERES PARA A ERA DOS DIREITOS Capítulo 1 
Pode-se dizer, também, que Direitos Humanos é um conjunto de normas e 
regras fundamentais para a convivência em sociedade dos seres humanos e o 
ambiente natural. Os Direitos Humanos têm por fi nalidade garantir a sobrevivência 
e o desenvolvimento do homem, a preservação de seu habitat e a garantia da 
evolução da humanidade. Atualmente, temos a preocupação e a discussão 
recente com a preservação e o sofrimento de todos os animais e seres vivos.
A Era dos Direitos
Norberto Bobbio
Do ponto de vista teórico, sempre defendi – e continuo a 
defender, fortalecido por novos argumentos – que os direitos do 
homem, por mais fundamentais que sejam, são direitos históricos, 
ou seja, nascidos em certas circunstâncias, caracterizadas por lutas 
em defesa de novas liberdades contra velhos poderes, e nascidos de 
modo gradual, não todos de uma vez e nem de uma vez por todas. O 
problema – sobre o qual, ao que parece, os fi lósofos são convocados 
a dar seu parecer – do fundamento, até mesmo do fundamento 
absoluto, irresistível, inquestionável, dos direitos do homem é um 
problema mal formulado: a liberdade religiosa é um efeito das guerras 
de religião; as liberdades civis, da luta por parlamentos contra os 
soberanos absolutos; a liberdade política e as liberdades sociais, 
do nascimentos, crescimento e amadurecimento do movimento 
dos trabalhadores assalariados, dos camponeses com pouca ou 
nenhuma terra, dos pobres que exigiam dos poderes públicos não só 
o reconhecimento da liberdade pessoal e das liberdades negativas, 
mas também a proteção do trabalho contra o desemprego, os 
primeiros rudimentos de instrução contra o analfabetismo, depois a 
assistência para a invalidez e a velhice, todas elas carecimentos que 
os ricos proprietários podiam satisfazer por si mesmos 
FONTE: BOBBIO, N. Era dos Direitos. Rio de Janeiro: Ed. 
Campus, 1992. p. 5.
36
 Introdução e Panorama Mundial da Inclusão
Por sua vez, no Brasil, apesar de ter sido descoberto (ou redescoberto) 
em 1500, somente após a sua independência em 1822 é que promulgou a sua 
primeira constituição. No entanto, mesmo sendo independente, era ainda uma 
monarquia com restrições aos direitos civis e políticos. Devido a fortes pressões 
internacionais, principalmente da Inglaterra, contra o tráfi co negreiro, também 
pressões internas do movimento abolicionista e devido à infl uência da Revolução 
Francesa e do Iluminismo, culminou-se a Lei Áurea de 1888 contra a escravidão.
LEI ÁUREA
Lei nº 3.353, de 13 de maio de 1888. 
Declara extinta a escravidão no Brasil.
A Princesa Imperial Regente, em nome de sua majestade, o 
Imperador Senhor D. Pedro II, faz saber a todos os súditos do império 
que a Assembleia Geral decretou e elasancionou a Lei seguinte:
Art. 1º - É declarada extinta desde a data desta Lei a escravidão 
no Brasil.
Art. 2º - Revogam-se as disposições em contrário. 
 Manda, portanto, a todas as autoridades a quem o conhecimento 
e execução da referida Lei pertencer, que a cumpram e façam 
cumprir e guardar tão inteiramente, como nela se contém.
O Secretário de Estado dos Negócios da Agricultura, Comércio 
e Obras Públicas e Interino dos Negócios Estrangeiros Bacharel 
Rodrigo Augusto da Silva do Conselho de Sua Majestade o 
Imperador, o faça imprimir, publicar e correr.
Dada no Palácio do Rio de Janeiro, em 13 de Maio de 1888 - 
67º da Independência e do Império.
Carta de Lei, pela qual Vossa Alteza Imperial manda executar 
o Decreto da Assembleia Geral, que houve por bem sancionar 
declarando extinta a escravidão no Brasil, como nela se declara.
FONTE: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lim/lim3353.
htm>. Acesso em: 15 out. 2021.
37
DA ERA DOS DEVERES PARA A ERA DOS DIREITOS Capítulo 1 
Este documento é um marco no Brasil para a determinação dos direitos 
fundamentais da pessoa humana: direito à vida, liberdade e igualdade, ou seja, 
dos Direitos Civis. No ano seguinte, com a Proclamação da República (1889), dá-
se um avanço nos direitos políticos. Estes direitos expressos na Lei Áurea e na 
Constituição Republicana referem, na análise de Norberto Bobbio (1992), como 
direitos de primeira geração.
A Constituição Brasileira de 1988 adota uma posição bastante avançada no 
que diz respeito aos direitos humanos, reconhecendo não apenas os tradicionais 
direitos políticos e civis (direito à liberdade de pensamento, de expressão, de 
reunião e associação, de proteção contra a prisão arbitrária, de votar e ser votado, 
entre outros), como também os chamados "direitos de segunda geração" e de 
“terceira geração”, que abarcam aspectos mais amplos da vida do homem em 
sociedade e que incluem o direito à educação, à saúde, ao lazer, à habitação e a 
um meio ambiente saudável. A Constituição prevê, igualmente, garantias para o 
exercício desses direitos. Ao declarar que todos são detentores do direito de ir e 
vir, por exemplo, garante o exercício desse direito por meio do instituto do Habeas 
Corpus.
Vejam, a seguir, os principais artigos da Constituição de 1988, relativos aos 
Direitos Humanos, abrangendo os Direitos Sociais.
Constituição de 1988
República Federativa do Brasil 
CONSTITUIÇÃO 
Título II
Dos Direitos e Garantias Fundamentais 
Capítulo II
Dos Direitos Sociais
Art. 6. São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, o 
lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade 
e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta 
Constituição. 
Art. 7. São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de 
outros que visem à melhoria de sua condição social: 
[...]
XXXIIII - proibição de trabalho noturno, perigoso ou insalubre 
aos menores de dezoito e de qualquer trabalho a menores de 
quatorze anos, salvo na condição de aprendiz. 
38
 Introdução e Panorama Mundial da Inclusão
[...] 
Título VIII
Da Ordem Social 
Da Família, da Criança, do Adolescente e do Idoso 
Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar 
à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, 
à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profi ssionalização, à 
cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e 
comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, 
discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. 
§ lº O Estado promoverá programas de assistência integral 
à saúde da criança e do adolescente, admitida a participação 
de entidades não governamentais e obedecendo aos seguintes 
preceitos:
I - aplicação de percentual dos recursos públicos destinados à 
saúde na assistência materno-infantil;
II - criação de programas de prevenção e atendimento 
especializado para os portadores de defi ciência física, sensorial ou 
mental, bem como de integração social do adolescente portador de 
defi ciência, mediante o treinamento para o trabalho e a convivência, 
e a facilitação do acesso aos bens e serviços coletivos, com a 
eliminação de preconceitos e obstáculos arquitetônicos. 
§ 2.º A lei disporá sobre normas de construção dos logradouros e 
dos edifícios de uso público e de fabricação de veículos de transporte 
coletivo, a fi m de garantir acesso adequado às pessoas portadoras 
de defi ciência. 
§3.º O direito a proteção especial abrangerá os seguintes 
aspectos:
I - idade mínima de quatorze anos para admissão ao trabalho [...];
 II - garantia de direitos previdenciários e trabalhistas;
III - garantia de acesso do trabalhador adolescente à escola;
IV - garantia de pleno e formal conhecimento da atribuição de 
ato infracional, igualdade na relação processual e defesa técnica 
por profi ssional habilitado, segundo dispuser a legislação tutelar 
específi ca;
V - obediência aos princípios de brevidade, excepcionalidade e 
respeito à condição peculiar de pessoa em desenvolvimento, quando 
da aplicação de qualquer medida privativa da liberdade;
VI - estímulo do poder público, através de assistência jurídica, 
incentivos fi scais e subsídios, nos termos da lei, ao acolhimento, sob 
a forma de guarda, de criança ou adolescente órfão ou abandonado;
39
DA ERA DOS DEVERES PARA A ERA DOS DIREITOS Capítulo 1 
VII - programas de prevenção e atendimento especializado à 
criança e ao adolescente dependente de entorpecentes e drogas 
afi ns. 
§ 4.º A lei punirá severamente o abuso, a violência e a exploração 
sexual da criança e do adolescente.
§ 5.º A adoção será assistida pelo poder público, na forma da lei, 
que estabelecerá casos e condições de sua efetivação por parte de 
estrangeiros. 
§ 6.º Os fi lhos, havidos ou não da relação do casamento, ou 
por adoção, terão os mesmos direitos e qualifi cações, proibidas 
quaisquer designações discriminatórias relativas à fi liação. 
§ 7.º No atendimento dos direitos da criança e do adolescente, 
levar-se-á em consideração o disposto no art. 204.
FONTE: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/
constituicao.htm>. Acesso em: 15 out. 2021.
Assim, os Direitos Humanos se efetivam na observância de aspectos sociais, 
políticos e econômicos que dizem respeito à preservação e garantia dos direitos 
fundamentais, quais sejam o direito a uma vida digna, à liberdade, à educação, 
à saúde, à liberdade de expressão etc. Dentre os aspectos que conferem 
sustentação à doutrina dos Direitos Humanos, estão a democracia, a cidadania, a 
alteridade, a tolerância, a paz etc.
A seguir disponibilizamos um link de um vídeo de 
Norberto Bobbio, A Era dos Direitos: https://www.youtube.com/
watch?v=3XZks_Um4Z8
Algumas biografi as são grandes histórias de luta e defesa 
dos Direitos Humanos. É o caso de Gandhi (1982), que retrata o 
indiano e sua luta não violenta, Mandela: o caminho para a liberdade
(2013), que reconta a vida do sul-africano que dedicou sua vida ao 
fi m da segregação racial de seu país, e A Teoria de Tudo (2014), 
40
 Introdução e Panorama Mundial da Inclusão
cinebiografi a do astrofísico Stephen Hawking, que fez descobertas 
importantes enquanto sofria de uma doença motora degenerativa 
aos 21 anos.
FONTE: <https://fundacaotelefonicavivo.org.br/noticias/10-
fi lmes-para-refl etir-sobre-direitos-humanos/>. Acesso em: 25 nov. 
2021.
Recomendamos algumas obras de Norberto Bobbio sobre 
Direitos Fundamentais:
BOBBIO, N. Teoria Geral da Política. Rio de Janeiro: Campus, 2000.
BOBBIO, N. Sociedade e Estado na Filosofi a Política Moderna. 
São Paulo: Brasiliense, 1996.
BOBBIO, N. Liberalismo e Democracia. São Paulo: Brasiliense, 
1998.
BOBBIO, N. Locke e o Direito Natural. 2. ed. Brasília: UNB, 1998.
BOBBIO, N. O conceito de Sociedade Civil. Rio de Janeiro: Graal, 
1994.
BOBBIO, N. A Era dos Direitos. Rio de Janeiro: Campus, 1992.
3 Segundo Norberto Bobbio(1992), a partir das declarações de 
direitos, podemos perceber gerações de direitos humanos, 
consolidando na história da sociedade ocidental a passagem 
de uma era dos direitos, que substituiria a era dos deveres. 
Considerando o exposto, associe os itens, utilizando o código a 
seguir:
41
DA ERA DOS DEVERES PARA A ERA DOS DIREITOS Capítulo 1 
I- Primeira Geração. 
II- Segunda Geração. 
III- Terceira Geração.
IV- Quarta Geração.
V- Quinta Geração.
( ) Surgida em função das lutas por direitos sociais relacionados 
aos direitos trabalhistas, saúde, educação e segurança expressa 
principalmente na Declaração Universal dos Direitos Humanos da 
ONU (1948).
( ) Surgida em função questões relacionadas aos problemas difusos 
(Direitos Difusos: a titularidade desses direitos não é plenamente 
identifi cável), que dizem respeitos a todos (paz, vida saudável, 
meio ambiente) e, também, das minorias (direitos coletivos: existe 
um vínculo que compõe o grupo): negros, indígenas, mulheres, 
pessoas portadoras de necessidades especiais, homossexuais 
etc. 
( ) Questões bioéticas ainda em fase de discussão em vários países 
e diz respeito às pesquisas biológicas e das manipulações 
dos patrimônios genéticos (clonagem, manipulação genética, 
alimentos transgênicos etc.).
( ) Ainda em gestação, relacionada ao direito dos animais, 
fundamentados principalmente na capacidade de sentir dor e 
sofrimento.
( ) Surgida em função das lutas pela liberdade individual, proteção à 
vida e à propriedade que correspondem aos chamados Direitos 
Civis; e dos Direitos Políticos (votar e ser votado) presentes 
principalmente na Declaração da Independência Americana 
(1776) e na Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão da 
Revolução Francesa (1789).
Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:
a) II - III - IV - V - I.
b) I - II - III - IV - V.
c) III - II - IV - V - I.
d) V - III - IV - II - I.
42
 Introdução e Panorama Mundial da Inclusão
5 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
Neste capítulo, estudamos que a inclusão social decorre principalmente 
da busca que todas as pessoas fazem para garantir sua efetiva participação 
na vida pública, tentando garantir seus direitos individuais, sociais e coletivos. 
Segmentos que, antigamente, estavam à margem da sociedade, sendo excluídos 
e discriminados, agora tentam a ampliação de seus direitos e, consequentemente, 
a sua inclusão social. 
Estas ações são resultados das práticas de fortalecimento da cidadania 
- e reconhecimento de direitos – que acompanham a tendência histórica de 
ampliação dos espaços de representação política abertos pela pressão das lutas 
sociais. Trilhamos os caminhos teóricos que descrevem a trajetória histórica e 
conceitual sobre a inclusão social, bem como as teorias dos direitos coletivos e 
sociais que disciplinam os códigos normativos atuais, desvelando o percurso da 
Era dos Deveres para a Era dos Direitos. Percebemos o porquê de a inclusão 
ter se constituído em um imperativo do nosso tempo, tornando-se, assim, um 
princípio regulador que incide em nossas vidas, pautando nossas maneiras de 
nos conduzirmos e de conduzirmos aos outros. 
Vimos, então, na primeira geração, os Direitos Civis e Políticos; na segunda 
geração, os Direitos Sociais; na terceira geração, os Direitos Difusos e coletivos 
(minorias), de proteção ao meio ambiente, da paz e da autodeterminação dos 
povos; na quarta geração, os Direitos de proteção ao patrimônio genético e 
respeito à dignidade da vida humana. Segundo alguns pensadores, já está em 
gestação uma quinta geração de direitos, relacionados aos direitos dos animais. 
REFERÊNCIAS
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ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. Lisboa: Quetzal, 2009.
BENVENUTO, A. O surdo e o inaudito: à escuta de Michel Foucault. In: 
GONDRA, J.; KOHAN, W. (Orgs.). Foucault 80 anos. Belo Horizonte: Autêntica, 
2006.
BOBBIO, N. Era dos Direitos. Rio de Janeiro: Campus, 1992.
43
DA ERA DOS DEVERES PARA A ERA DOS DIREITOS Capítulo 1 
BRASIL. Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990. Dispõe sobre a proteção 
do consumidor e dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.
gov.br/ccivil_03/leis/l8078compilado.htm. Acesso em: 25 nov. 2021.
CAMARGO, E. P. de. Inclusão social, educação inclusiva e educação especial: 
enlaces e desenlaces. Ciênc. educ., v. 23, n. 1, jan./mar. 2017.
CARVALHO, J. M. de. Cidadania no Brasil: o longo caminho. Rio de Janeiro: 
Civilização brasileira, 2013.
CHAUÍ, M. Convite a Filosofi a. São Paulo: Ática, 2005.
FOUCAULT, M. Segurança, território e população. São Paulo: Martins Fontes, 
2008.
GRUPPI, L. Tudo começou com Maquiavel: as concepções de Estado em 
Marx, Engels, Lênin e Gramsci. Porto Alegre: L&PM, 1980.
HABERMAS, J. Direito e Democracia: entre facticidade e validade. Rio de 
Janeiro: Tempo Brasileiro, 1997.
HOBBES, T. O Leviatã. São Paulo: Nova Cultura, 1987.
HONNETH, Axel. Lutas por reconhecimento: a gramática moral dos confl itos 
sociais. São Paulo: Editora 34, 2003.
INFOESCOLA. Código de Hamurabi. 2021a. Disponível em: https://www.
infoescola.com/historia/codigo-de-hamurabi/. Acesso em: 15 set. 2021.
INFOESCOLA. Inclusão Social. 2021b. Disponível em: https://www.infoescola.
com/sociologia/inclusao-social/. Acesso em: 15 set. 2021. 
KANT, I. Fundamentação da Metafísica dos Costumes. São Paulo: Abril, 2019.
KELSEN, H. Teoria geral do direito e do estado. São Paulo: Martins Fontes, 
2000. 
KELSEN, H. Teoria pura do direito. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1991.
LOCKMANN, K. As práticas de inclusão por circulação: formas de governar a 
população no espaço aberto. Pelotas: UFEPEL, 2016. 
44
 Introdução e Panorama Mundial da Inclusão
MAQUIAVEL, N. O príncipe. São Paulo: Penguin Classics Companhia das 
Letras, 2010.
MATTAR, J. Introdução à Filosofi a. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2010.
MILL, J. S. O Utilitarismo. São Paulo: Iluminuras, 2020.
MOORE, G. E. Princípios éticos. São Paulo: Abril Cultural, 1975.
NASCIMENTO, W. F. do. Por uma vida descolonizada: diálogos entre a bioética 
de intervenção e os estudos sobre a colonialidade. 2010. Tese (Doutorado em 
Bioética) – Universidade de Brasília, Brasília.
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desenvolvimento. 1992. Disponível em: https://ambientes.ambientebrasil.com.
br/gestao/artigos/conferencia_das_nacoes_unidas_sobre_meio_ambiente_e_
desenvolvimento_-_eco-92.html. Acesso em: 25 nov. 2021.
PAIM, A. Tratado de Ética. Londrina: Humanidades, 2003.
PETRY, F. B. Princípios de Ética Biomédica. 4. ed. São Paulo: Edições Loyola, 
2002.
SINGER, P. Libertação animal. São Paulo: Martins Fontes, 2010.
SROUR, R. H. Ética empresarial. Rio de Janeiro: Campus, 2000.
VERGEZ, A.; HUISMAN, D. História dos fi lósofos ilustrada pelos textos. Rio 
de Janeiro: Freitas Bastos, 1984.
WEBER, M. Ciência e política. São Paulo: Cultrix, 1968.
WEFFORT, F. C. Os clássicos da política. São Paulo: Ática, 2001.
CAPÍTULO 2
DIVERSIDADE E INCLUSÃO SOCIAL
A partir da perspectiva do saber-fazer, são apresentados os seguintes 
objetivos de aprendizagem:
• Investigar as várias faces da exclusão social: gênero, sexo, raça, pessoa com 
defi ciência, idade, etnias e situação socioeconômica.
• Compreender os principais aspectos sociais da diversidade e inclusão 
relacionados às minorias.
• Estudar as principais teorias sobre diversidade e seus impactos no mundo do 
trabalho.
• Analisar o cenário atual sobre a inclusão de minorias na sociedade, no Brasil e 
no mundo.
• Identifi car as várias faces da exclusão social. 
• Relacionar os principais aspectos sociais da diversidade e inclusão relacionados 
às minorias.
• Perceber o cenário atual sobre a inclusão de minorias na sociedade, no Brasil e 
no mundo.
• Avaliar as políticas públicas sobre diversidade e inclusão na sociedade atual.
46
 Introdução e Panorama Mundial da Inclusão
47
DIVERSIDADE E INCLUSÃO SOCIALCapítulo 2 
1 CONTEXTUALIZAÇÃO
Como estudamos no capítulo anterior, segmentos que, antigamente, 
estavam à margem da sociedade, sendo excluídos e discriminados, agora 
tentam a ampliação de seus direitos e, consequentemente, a sua inclusão 
social. Essas ações são resultados das práticas de fortalecimento da cidadania 
– e reconhecimento de direitos – que acompanham a tendência histórica de 
ampliação dos espaços de representação política. Neste capítulo, daremos ênfase 
à denominada terceira geração – surgida em função das questões relacionadas 
aos problemas difusos (direitos difusos: a titularidade desses direitos não é 
plenamente identifi cável), que dizem respeito a todos (paz, vida saudável, meio 
ambiente) e, também, das minorias sociais (direitos coletivos: existe um vínculo 
que compõe o grupo): negros, indígenas, mulheres, pessoas com defi ciência, 
homossexuais e demais grupos discriminados historicamente.
Esses direitos da terceira geração surgiram principalmente após os 
movimentos civis nos Estados Unidos contra a discriminação racial (Martin Luther 
King) e a guerra do Vietnã (1962-1972). Em 1986, na Declaração sobre o Direito 
ao Desenvolvimento, garante-se a alteridade universal em função do direito dos 
indivíduos e dos povos se desenvolverem, pois toda pessoa humana e todos 
os povos estão habilitados a participar do desenvolvimento econômico, social, 
cultural e político. Os direitos de terceira geração são atribuídos de forma genérica 
às formações sociais e atuam na proteção dos direitos transindividuais, coletivo 
ou difuso de determinado grupo, numa clara preocupação com a manutenção 
da vida. No entanto, não se destina especifi camente à proteção do homem 
isoladamente, mas da coletividade em geral (BOBBIO, 1992).
2 AS VÁRIAS FACES DA EXCLUSÃO 
SOCIAL: GÊNERO, SEXO, RAÇA, 
PESSOA COM DEFICIÊNCIA, 
IDADE, ETNIAS E SITUAÇÃO 
SOCIOECONÔMICA
A Constituição Federal de 1988 reconhece direitos coletivos e demandas 
sociais que extrapolam o âmbito individual. A fi m de assegurar a manutenção 
destes direitos, movimentos sociais se organizaram em torno de pautas políticas 
social e culturalmente igualitárias. Nesse sentido, as questões identitárias de 
48
 Introdução e Panorama Mundial da Inclusão
sujeitos sociais subalternizados, invisibilizados e discriminados socialmente 
ganharam força nas esferas públicas a partir dos anos 1990, como os movimentos 
sociais feministas, negros e das comunidades periféricas, gays, lésbicas, 
bissexuais, travestis e transexuais (MACHADO, 2006; MIGUEL, 2016).
Conforme afi rmam Faundes (1996, p. 668 apud DIAS; CABRAL, 2021): 
Sem dúvida alguma, os sistemas de diferenciação social, como 
classe, raça, etnia, geração, além de gênero, implicam sempre 
em relações desiguais e de submissão com consequências 
importantes para a autonomia individual e coletiva, e para o 
exercício pleno da cidadania, quando se considera o ser humano 
como agente protagonista de sua própria transformação social.
Essa discussão nos remete individualmente à questão dos direitos humanos 
e à luta permanente pela igualdade de direitos que estudaremos a seguir, 
destacando nesta seção alguns grupos que historicamente são discriminados 
socialmente. Podemos defi nir minoria social como:
[...] uma parcela da população que se encontra, de algum 
modo, marginalizada, ou seja, excluída do processo de 
socialização. São grupos que, em geral, são compostos por 
um número grande de pessoas (na maioria das vezes, são 
a maioria absoluta em números), mas que são excluídos por 
questões relativas à classe social, ao gênero, à orientação 
sexual, à origem étnica, ao porte de necessidades especiais, 
entre outras razões (BRASIL ESCOLA, 2021, s.p.).
A temática das minorias sociais se tornará um tema acadêmico, com 
diferentes abordagens conforme o grupo discriminado que estudaremos a seguir.
2.1 DIVERSIDADE: GÊNERO E 
SEXUALIDADE 
Segundo Basilio (2021 apud CLAM, 2009, p. 39):
[...] ainda muito pequenos já começamos a lidar com as 
expectativas que a sociedade deposita sobre cada um. Já na 
infância, entraremos em contato com uma lista de predileções, 
afazeres e tarefas específi ca construídos socialmente como 
“coisa de meninos” ou “de meninas”. Eles gostam de azul, de 
futebol e não choram. 
Essas diferenciações, entretanto, não são naturais, mas socialmente e 
historicamente construídas, a partir de padrões normativos do que é ser homem e 
o que é ser mulher (BASILIO, 2021 apud CLAM, 2009, p. 39). 
49
DIVERSIDADE E INCLUSÃO SOCIAL Capítulo 2 
Conforme aponta Santiago (2021, s.p.), “investigar o conceito de gênero é 
muito importante para a construção do que se entende como justiça social, porque 
ele trata do caráter social fundamental das diferenças que são atribuídas às 
mulheres e aos homens”. De uma maneira geral, as pessoas têm uma tendência 
a imaginar que as diferenças entre mulheres e homens, ou sobre o que é ser 
mulher e o que é ser homem, são naturais. Baseados no sexo biologicamente 
defi nido, através de falas machistas e/ou sexistas, a sociedade atual considera 
a possibilidade de afi rmar ações, vistas como “socialmente adequadas”, a esses 
comportamentos ou atitudes, atribuídas de tal forma que acabam gerando o 
preconceito e a desigualdade entre esses gêneros. O conceito de gênero vem 
para nos ajudar a entender que essa desigualdade, ou seja, os homens estarem 
em posições superiores na sociedade, terem melhores salários, posições de 
liderança, tudo aquilo considerado natural aos homens, é socialmente construído. 
Para que a gente equilibre essa balança, isso precisa ser 
desconstruído, porque se foi aprendido dessa forma pode ser 
aprendido de outra que possibilite às mulheres desenvolverem 
seu pleno potencial e acessarem as oportunidades da mesma 
maneira que os homens (SANTIAGO, 2021 apud CLAM, 2009, 
p. 109).
Segundo Faundes (1996, p. 670):
[...] as relações de gênero são produto de um processo 
pedagógico que se inicia no nascimento e continua ao longo 
de toda a vida, reforçando a desigualdade existente entre 
homens e mulheres, principalmente em torno a quatro eixos: 
a sexualidade, a reprodução, a divisão sexual do trabalho e o 
âmbito público/cidadania.
Para esclarecer ainda mais tais temáticas, analise o quadro a seguir:
QUADRO 1 – RELAÇÕES DE GÊNERO
Eixo 1 - A sexualidade na mulher tem sido relacionada com a reprodução, ou seja, para a mulher 
o centro da sexualidade é a reprodução e não o prazer. A sexualidade reduzida à genitalidade se 
apresenta para as mulheres como algo sujo, vergonhoso, proibido. Os homens, ao contrário das 
mulheres, recebem mensagens e são preparados para viver o prazer da sexualidade através do seu 
corpo, já que socialmente o exercício da sexualidade no homem é sinal de masculinidade. De um 
modo geral, podemos dizer que as mulheres desde que nascem são educadas para serem mães, 
para cuidar dos outros e para “dar prazer ao outro”. A sua sexualidade é negada, reprimida e temida.
Eixo 2 - Outro dos eixos em que se constrói e se concretiza a desigualdade entre homens e mu-
lheres é a reprodução. A mulher pode gerar um fi lho, e isto que em si é uma fonte de poder que tem 
sido controlada, bem como determinante em outros papéis da mulher, diminuindo as possibilidades e 
limitando suas vidas das em outros âmbitos, como no campo do trabalho.
50
 Introdução e Panorama Mundial da Inclusão
Eixo 3 - O terceiro eixo é a divisão sexual do trabalho. Pelo fato biológico de que a mulher é quem 
engravida e dá de mamar, tem sido atribuída a ela a totalidade do trabalho reprodutivo. Às mulheres, 
portanto, se atribui o fi car em casa, cuidar dos fi lhos e realizar o trabalho doméstico, desvalorizado 
pela sociedade e que deixava as mulheres “donas de casas” limitadas ao mundo do lar; com menos 
possibilidade de educação, menos acesso à informação, menos acesso à formação profi ssional etc. A 
situação nos últimos tempos tem mudado e cada vez mais um número maior

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