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IBAM-Bioma-Amazonia-Desmatamento-caderno-estudo

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CADERNO DE ESTUDO
BIOMA AMAZÔNIA E DESMATAMENTO
2 | Página
FICHA CATALOGRÁFICA
I59 Instituto Brasileiro de Administração Municipal 
 Caderno de estudo: bioma Amazônia e o desmatamento. / IBAM. – Rio de Janeiro: 
IBAM, 2015.
 57 p. : il. color.
	 	 (Série	Programa	de	qualificação	gestão	ambiental)
 Inclui Referências
 1. Degradação ambiental - Amazônia. 2. Aspectos ambientais - Amazônia . I. Instituto 
Brasileiro de Administração Municipal. II. Título. III. Série.
 CDU 504
3 | Página2 | Página
INSTITUTO BRASILEIRO DE ADMINISTRAÇÃO MUNICIPAL – IBAM
Superintendência Geral Paulo Timm
Coordenação Geral do PQGA Tereza Cristina Barwick Baratta
Coordenação da Capacitação Hélio Beiroz Imbrosio da Silva
Magnes Grael Silveira Maynard do Lago
Suzana dos Santos Barbosa
Tito Ricardo de Almeida Tortori
Supervisão Pedagógica Anna Maria Fontes Ribeiro
Dora Apelbaum
Consultoria Técnica Octávio da Costa Gomes Neto
Conteudistas Andrea Pitanguy de Romani
Hélio Beiroz Imbrosio da Silva
Iara Ferrugem Velasques
Iara Verocai
Jean Marc Weinberg Sasson
João Vicente Lagüéns
Júlio César Gonçalves da Silva
Karin Schipper Segala
Leene Marques de Oliveira
Luis Mauro Sampaio Magalhães
Marcos Flávio R. Gonçalves
Nathália da Silva Braga
Paula Bernasconi
Rosan Valter Fernandes 
Desenho Instrucional Afrent Soluções 
Normalização Bibliográfica Cinthia Pestana
4 | Página
Sumário
1. CARACTERÍSTICAS GERAIS E A IMPORTÂNCIA DO 
BIOMA AMAZÔNIA ..................................................................... 9
1.1 Definição de bioma .................................................................................................... 9
1.2 Características gerais e importância climática ................................................. 10
1.3 A vegetação e a importância para a biodiversidade ......................................... 13
2. HISTÓRICO DE EXPLORAÇÃO E COLONIZAÇÃO NO 
BIOMA AMAZÔNIA .................................................................. 19
2.1 Colonização e ocupação ........................................................................................ 19
2.2 Construção de ferrovias e rodovias ..................................................................... 20
2.2.1 A ferrovia Madeira-Mamoré ............................................................................... 20
2.2.2 A construção de Brasília ..................................................................................... 21
2.2.3 A construção da Brasília-Belém ........................................................................ 21
2.2.4 A Transamazônica ................................................................................................ 21
2.3 Políticas de colonização do governo ................................................................... 22
3. DESMATAMENTO E ATIVIDADES ECONÔMICAS NO 
ESPAÇO RURAL DA AMAZÔNIA ............................................. 24
3.1 O Desmatamento no Bioma Amazônia ................................................................. 24
3.2 Atividades econômicas no ambiente rural associadas ao desmatamento ... 27
3.2.1 Lavoura ................................................................................................................... 27
2.2.2 Pecuária ................................................................................................................. 29
5 | Página4 | Página
3.2.3 Silvicultura e extração vegetal ........................................................................... 31
3.2.4 Mineração ............................................................................................................. 32
4. GESTÃO TERRITORIAL E DESMATAMENTO .................... 35
4.1 Questões fundiárias................................................................................................. 35
4.1.1 Grilagem de terras ................................................................................................ 36
4.1.2 Assentamentos de reforma agrária ................................................................... 37
4.2 Áreas protegidas...................................................................................................... 39
4.3 Grandes obras de infraestrutura ........................................................................... 43
5. ENTRAVES PARA O CONTROLE DO DESMATAMENTO . 45
5.1. O eixo Ordenamento Fundiário e Territorial do PPCDAm ................................. 46
5.2 O eixo Fomento às Atividades Produtivas do PPCDAm .................................... 48
5.3 O eixo Monitoramento e Controle do PPCDAm .................................................. 51
5.4 Considerações acerca dos resultados da avaliação dos dados do PPCDAm 54
Bibliografia .................................................................................. 55
Bioma Amazônia e Desmatamento
7 | Página
CONTEXTUALIZAÇÃO
O Bioma Amazônia, que corresponde a 5% da 
superfície terrestre e 40% da América do Sul, 
está	majoritariamente	(60%)	localizado	em	ter-
ritório brasileiro, exerce importante papel na 
regulação do clima através da inter-relação en-
tre vegetação, solos, rios e outros elementos, 
além de possuir uma grande biodiversidade.
É, portanto, fundamental conhecer as particu-
laridades e características deste Bioma para 
traçar ações de conservação e preservação no 
âmbito da gestão ambiental municipal, desen-
volvendo políticas públicas efetivas, projetos 
e planos articulados com o setor produtivo da 
Região Amazônica e visando o fomento de ati-
vidades sustentáveis.
Neste contexto, cientes de que cada Município 
possui suas particularidades tanto ambientais 
quanto socioeconômicas e visando a redução 
do desmatamento, é importante reconhecer 
que a gestão territorial desta região deve com-
preender as questões fundiárias, as áreas pro-
tegidas e as grandes obras de infraestrutura.
8 | Página
Características 
gerais e a 
importância do 
Bioma Amazônia
1.
9 | Página8 | Página
1. CARACTERÍSTICAS 
GERAIS E A IMPORTÂNCIA 
DO BIOMA AMAZÔNIA
Na primeira unidade de nosso curso, são aborda-
das as características gerais do Bioma Amazônia 
e da sua importância para o clima e a biodiver-
sidade.	 Iniciaremos	discorrendo	sobre	o	signifi-
cado do termo bioma e, em seguida, apresen-
taremos as características gerais da Amazônia, 
debatendo a sua importância climática. 
Prosseguiremos tratando dos tipos de vege-
tação do Bioma e da sua importância para a 
biodiversidade.	Por	fim,	apresentaremos	breve	
histórico do processo de ocupação recente da 
Amazônia, focando marcos mais relevantes 
para a compreensão do cenário econômico e 
da gestão territorial. 
1.1 Definição de bioma
Os biomas podem ser entendidos como unida-
des	geograficamente	extensas	que	abrangem	
comunidades de organismos em avançados 
estágios de sucessão ecológica. 
Os biomas têm seus nomes associados às ca-
racterísticas predominantes da paisagem da 
área ocupada por eles, geralmente às cobertu-
ras vegetais. Devido a esse aspecto, temos os 
nomes Mata Atlântica, do Cerrado e Amazônico, 
por exemplo. Mas os nomes também podem 
ser associados a características de relevo e cli-
ma, como no caso do Pantanal e Caatinga.
Os biomas podem ser compreendidos, então, 
como “reuniões de ecossistemas agrupados de 
acordo com aspectos de vegetação, relevo e 
clima”	(IPAM,	2015).
O termo “bioma” foi criado pelo ecólogo ameri-
cano	Frederic	Clements	(1916),	que	atribuiu	às	
comunidades vegetais a denominação de for-
mação clímax, uma vez que funcionam como 
entidades orgânicas complexas, ou seja, como 
uma entidade viva. Assim, biomas podem ser 
concebidos como uma comunidade biótica, 
ao representarem a unidade ecológica natu-
ral que, semelhantemente aos organismos, 
é composta por partes (“bio”= vida e “oma” = 
grupo,	conjunto).	
10 | Página
Chamamos de sucessão ecológica ao 
processo gradual de instalação e desen-
volvimento de uma comunidade em de-
terminada área. Com o passar do tempo, 
o aumento da variedade de espéciese da 
complexidade das relações termina por 
estabelecer uma comunidade biológica 
estável, denominada formação clímax.
Comunidade biótica é um termo comu-
mente utilizado como referência ao con-
junto de seres vivos de uma área que 
possuem relações entre si, geralmente 
dentro de uma cadeia alimentar.
Saiba Mais!
Essa unidade ecológica possui uma dinâmica 
de avanço ou recuo sobre novas áreas e de-
senvolve processos internos próprios.
Contribuindo para a expansão do conceito, 
Weaver e Clemens reconheceram o papel pre-
ponderante das relações alimentares sobre os 
fatores físicos no controle da fauna, concluin-
do que a comunidade biótica mantém sua uni-
dade, reforçando, assim, o importante papel 
das plantas como fonte direta ou indireta de 
alimentos de todos os animais (WEAVER e 
CLEMENS,	1929).	
Para	Whittaker	(1975),	um	bioma	é	um	agrupa-
mento de ecossistemas terrestres em um dado 
continente que são similares em: 
a)	 estrutura	 da	 vegetação	 ou	
fisionomia;	
b)	 maiores	 feições	 do	 ambiente	 ao	
qual	esta	estrutura	é	uma	resposta;	e	
c)	 algumas	 características	 das	
suas comunidades animais.
O portal do Ministério do Meio Ambiente lista 
seis	(6)	biomas	brasileiros:
•	 Amazônia;
•	 Caatinga;
•	 Cerrado;
•	 Mata	Atlântica;
•	 Pampa;
•	 Pantanal.
A Figura 1 ilustra a distribuição dos biomas no 
território brasileiro.
Figura 1 - Biomas do Brasil. Fonte: IBGE (disponí-
vel em http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/no-
ticias/images/biomas_grf01.gif, acessado em 13 de 
Fevereiro	de	2015)
1.2 Características gerais e 
importância climática
A Amazônia é quase mítica: um 
verde e vasto mundo de águas e 
florestas,	onde	as	copas	de	árvores	
imensas escondem o úmido nasci-
mento, reprodução e morte de mais 
de um terço das espécies que vi-
vem sobre a Terra.
11 | Página10 | Página
Os números são igualmente monu-
mentais. A Amazônia é o maior bioma 
do Brasil: num território de mais de 4 
milhões	de	 km²	 (IBGE,	2004),	 cres-
cem 2.500 espécies de árvores (ou 
um terço de toda a madeira tropical 
do	mundo)	e	30	mil	espécies	de	plan-
tas	(das	100	mil	da	América	do	Sul).	
A Bacia Amazônica é a maior ba-
cia	 hidrográfica	 do	 mundo:	 cobre	
cerca de 6 milhões de km2 e tem 
1.100	 afluentes.	 Seu	 principal	 rio,	
o Amazonas, corta a região para 
desaguar no Oceano Atlântico, lan-
çando ao mar cerca de 175 milhões 
de litros d’água a cada segundo. 
(MMA,	2015).
O Bioma Amazônia caracteriza-se principal-
mente pela ocorrência da Floresta Pluvial 
Tropical na ampla área abrangida pela bacia 
hidrográfica	 do	 rio	 Amazonas,	 de	 4.196.943	
km2	 (IBGE,	 2004).	A	 área,	 correspondente	 a	
5% da superfície terrestre e 40% da América 
do	Sul,	está	majoritariamente	(60%)	localizada	
em território brasileiro. 
Seus rios, mesmo possuindo características dis-
tintas entre si, escoam 20% do volume da água 
doce	do	mundo	e	são	 influenciados	pelo	 regi-
me de chuvas da região. Esse regime, por sua 
vez, depende da circulação atmosférica e dos 
deslocamentos das massas de ar que estão inti-
mamente	relacionadas	à	integridade	da	floresta.	
Podemos perceber que há uma inter-relação 
entre elementos naturais que são caracterís-
ticos do Bioma Amazônia, como seus rios, o 
clima	e	a	floresta.	
A inter-relação das variáveis biológicas, 
químicas e físicas que envolvem o Bioma 
Amazônia	 (floresta;	 regime	 de	 chuvas;	
circulação	 atmosférica;	 disponibilidade
Atenção!
hídrica)	é	 fundamental	na	compreensão	
e proposição de qualquer ação de inter-
venção. Contudo, corremos ainda, por in-
compreensão dessa inter-relação, o risco 
de eliminar elos importantes do encadea-
mento dos processos naturais. Os avan-
ços recentes no conhecimento dessas 
inter-relações têm que ser os direciona-
dores das ações de intervenção. Nesse 
sentido, é importante que o pessoal en-
volvido no planejamento e na gestão da 
execução das ações esteja muito bem 
qualificado	e	atualizado	sobre	os	temas.
É importante destacar – para ilustrar o aspecto 
das inter-relações intrínsecas e extrínsecas e 
das abrangências locais e regionais – as con-
clusões	 do	 Relatório	 de	 Avaliação	 Científica	
produzido	 por	 Nobre	 (2014),	 denominado	
“Futuro climático da Amazônia”.
Esse estudo revela a importância das trocas 
de gases, água e energia entre a atmosfera, o 
oceano	e	a	floresta	e	comprovam	o	importante	
papel exercido pela Floresta Amazônica.
Podemos compreender esse importante papel 
da	floresta	por	meio	de	cinco	 fenômenos	que	
dependem da Floresta Amazônica:
1 “Chafariz” de umidade
A	 floresta,	 mantendo	 úmido	 por	 evapo-
transpiração o ar em movimento, direcio-
na as chuvas para o interior do continen-
te. Esta capacidade está relacionada à 
capacidade das árvores, pela extensão e 
densidade	da	floresta,	em	transferir	gran-
des volumes de água para a atmosfera.
2 Indução de chuvas
Compostos orgânicos voláteis emitidos 
pelas plantas na atmosfera limpa intensi-
ficam	a	condensação	do	vapor	d’água	e	a	
formação de nuvens capazes de causar 
chuvas fartas e abundantes.
12 | Página
3 Sucção de umidade
A transpiração abundante das árvores da 
floresta,	associada	a	uma	forte	condensa-
ção na formação das nuvens, faz com que 
a umidade seja mais forte que aquela so-
bre os oceanos. Isso provoca a redução 
da	pressão	atmosférica	sobre	a	floresta,	
que acaba por sugar o ar úmido que eva-
porou	do	oceano	para	dentro	da	floresta.	
Esse processo, conhecido como “teoria 
da bomba biótica”, é capaz de aumentar 
e manter a disponibilidade das chuvas.
4 “Rios aéreos”
A	floresta	amazônica	exporta	“rios	aéreos”	
de vapor e, assim, transporta chuvas far-
tas para distantes regiões do continente 
durante o verão. Isso garante o controle 
da expansão de áreas desérticas no oes-
te dos Andes.
5 Estabilidade atmosférica
A	 floresta	 amazônica	 tem	 efeito	 dosa-
dor e dissipador de eventos climáticos 
extremos, como os furacões. A textura 
absorvente	do	dossel	 florestal	 funciona	
como uma “barreira” que atenua a ener-
gia dos ventos e inibe a organização de 
furacões pela ocorrência dos ventos la-
terais gerados pela “bomba biótica”. A 
fricção turbulenta local dos ventos com 
o	 dossel	 da	 floresta	 impede	 a	 concen-
tração de energia dos ventos destrutivos 
de furações e tornados.
É importante chamar a atenção para a inter-
dependência dos cinco fenômenos citados. 
Apesar de singulares na sua função, eles se 
complementam e estão associados à presença 
da	floresta,	à	sua	densidade,	extensão	e	diver-
sidade ecológica. 
Nobre	 (2014)	 destaca	 o	 aspecto	 espetacular	
do	 funcionamento	 da	 floresta	 e	 oferece	 uma	
narrativa sobre o ciclo hidrológico:
Depois que as nuvens precipitam 
seu	precioso	líquido	sobre	a	flores-
ta, grande parte da água se esguei-
ra	 por	 entre	 o	 dossel	 e	 infiltra-se	
pelo	permeável	solo	florestal,	onde	
é armazenada no pacote poroso do 
solo, ou mais abaixo, em aquíferos 
gigantescos, verdadeiros oceanos 
subterrâneos de água doce.
A água do solo começa seu retor-
no para a atmosfera absorvida por 
profundos	 e	 sofisticados	 sugado-
res,	as	 raízes;	depois	 sobe	desa-
fiando	a	força	da	gravidade	por	40	
a 60 m, ou mais, em elaboradas 
tubulações no xilema dos troncos. 
Sua última etapa passa pelas es-
truturas laminares evaporadoras 
das folhas, versáteis painéis so-
lares químicos capazes de absor-
ver a energia do sol e aproveitar a 
carícia dos ventos para transpirar 
e transferir copiosos volumes de 
água vaporosa para a atmosfera, 
completando assim o retorno do 
ciclo vertical iniciado com a chuva 
(NOBRE,	2014,	p.	13).	
Assim, em concordância com o que conclui 
Nobre	(2014),	a	Floresta	Amazônica	tem	uma	
importância central para as atividades huma-
nas que necessitam de chuvas e de um clima 
ameno, além de servir como proteção contra 
eventos extremos que possam causar prejuí-
zos materiais e perdas de vidas.
Acesse o relatório de avaliação cien-
tífica	 denominado	 Futuro	 climático	 da	
Amazônia, de Antônio Donato Nobre. 
Disponível em: http://www.ccst.inpe.br/wp-content/uploads/2014/10/Futuro-
Climatico-da-Amazonia.pdf
Saiba Mais!
http://www.ccst.inpe.br/wp-content/uploads/2014/10/Futuro-Climatico-da-Amazonia.pdf
http://www.ccst.inpe.br/wp-content/uploads/2014/10/Futuro-Climatico-da-Amazonia.pdf
http://www.ccst.inpe.br/wp-content/uploads/2014/10/Futuro-Climatico-da-Amazonia.pdf
13 | Página12 | Página
1.3 A vegetação e a importância para 
a biodiversidade
Abocanhando 49,29% do território brasileiro, a 
Amazônia é hoje o maior bioma do mundo, que 
abrange nove países (Brasil, Paraguai, Bolívia, 
Peru, Equador, Colômbia, Venezuela, Guiana 
Francesa	 e	 Suriname).	 São	 cerca	 de	 40	 mil	
espécies de plantas, 300 espécies de mamí-
feros, 1,3 mil espécies de aves, habitando em 
4,196.943	km²	de	florestas	densas	e	abertas.	
(ICMBIO,	2015)
O Bioma Amazônia se caracteriza pela pre-
valência	 de	 cobertura	 florestal	 caracterizada	
como Florestas Úmidas, Florestas Pluviais 
Tropicais, atualmente denominadas de 
Florestas	 Ombrófilas	 Densas	 (ombrófilo,	 do	
grego:	amiga	da	chuva),	terminologia	adotada	
pelo	IBGE	(2012).	
Tais	florestas	dominam	tanto	as	planícies alu-
viais dos rios quanto as terras mais secas ou 
altas,	predominantes	e	 identificadas	como	re-
gião	de	Terra	Firme	(VIEIRA,	1992).	
Planícies aluviais
São áreas de pouquíssima inclinação, 
formadas pelo acúmulo, ao longo do 
tempo, dos sedimentos transportados 
pelos rios.
Saiba Mais!
Essas	 florestas	 correspondem	 a	 41,67%	 do	
Bioma	Amazônia	(MMA,	2006),	sendo	compos-
tas, em geral, por árvores altas com dossel. 
Podem ou não apresentar árvores emergentes 
e se distribuem sobre ambientes diferenciados, 
recebendo	então	denominações	mais	específi-
cas, a seguir listadas:
•	 Floresta Ombrófila Densa 
Aluvial, que se distribui ao longo 
das planícies aluviais formadas 
pela deposição dos sedimentos 
carregados pelos rios. 
•	 Floresta Ombrófila Densa de 
Terras Baixas, geralmente distri-
buída nas planícies costeiras.
•	 Floresta Ombrófila Densa 
Submontana, distribuída em solos 
mais secos alcançado o gradiente 
de 600 m a oeste e nas encostas 
dos planaltos e sobre estas quando 
da ocorrência de solos mediana-
mente profundos.
•	 Floresta Ombrófila Densa 
Montana, distribuindo-se entre 600 
m e 2000 m de altitude, nos platôs e 
serras mais elevadas da Amazônia.
Dossel
É	a	parte	 superior	 das	 florestas,	 princi-
palmente tropicais, que atinge entre 30 
m e 50 m de altura. É um “oceano verde 
e vivo” ocupado pela copa das árvores, 
que atuam como uma barreira física às 
gotas	de	chuva	e	um	filtro	para	a	radia-
ção solar. Estudos recentes demonstram 
que guardam uma enorme biodiversida-
de (de 70% a 90% das formas de vida 
das	florestas	tropicais).
Saiba Mais!
A variação mais marcante da Floresta 
Ombrófila	Densa	ocorre	na	Floresta	Ombrófila	
Densa Aluvial, nas planícies ao longo do rio 
Amazonas	e	de	seus	grandes	afluentes,	onde	
se situam duas grandes formações vegetais:
•	 Matas de várzeas – periodica-
mente	 inundadas	 pelas	 flutuações	
cíclicas dos rios. 
•	 Matas de igapó – permanente-
mente inundadas ao longo de ex-
tensas áreas marginais.
14 | Página
Entre	 outras	 formações	 florestais	 no	 Bioma	
Amazônia, que não se enquadram na catego-
ria de Floresta Ombrófila Densa, destaca-se 
a ocorrência de:
•	 Floresta Ombrófila Aberta – li-
gada à transição climática de úmi-
do a seco.
•	 Florestas Estacionais 
Semideciduais / Deciduais – até 
pouco tempo, eram considera-
das como transições do Bioma. 
Apresentam	 quatro	 faciações	 flo-
rísticas	que	alteram	sua	fisionomia:	
com palmeiras, com cipós, com 
bambus e com sororocas.
Deciduais
Decidual vem do latim “decidua”, que sig-
nifica	 "cair";	 uma	 floresta	 semidecidual	
tem uma dupla estacionalidade climáti-
ca, com a queda das folhas em períodos 
secos. O nível de decidualidade pode 
variar em relação à duração do período 
de seca, às temperaturas mínimas e má-
ximas	e	à	deficiência	do	balanço	hídrico.
Faciações florísticas
São parâmetros particulares ou subdivi-
sões dentro de uma paisagem vegetacio-
nal	que	se	diferenciam	fisionomicamente	
do	 restante	 dos	 perfis	 (por	 exemplo,	 o	
dossel	que	domina	na	floresta).
Saiba Mais!
Essas	 alterações	 refletem	 adaptações	 ecos-
sistêmicas às condições geomorfológicas de 
formação	dos	solos:	as	comunidades	florestais	
com palmeiras ou com bambus em geral reves-
tem	terrenos	areníticos;	as	comunidades	com	
sororocas e com cipós revestem preferencial-
mente as depressões do embasamento pré-
cambriano	(mais	antigo)	e	encostas	do	relevo	
dissecado dos planaltos.
Além	 das	 formações	 florestais,	 o	 Bioma	
Amazônia apresenta também outras tipologias 
vegetacionais:
•	 savana;
•	 campinarana;
•	 formações pioneiras;
•	 refúgio vegetacional e suas va-
riações transicionais. 
As áreas de transição em geral coincidem com 
faixas de transição climática e de contato entre 
formações geológicas distintas.
O quadro que segue apresenta, em síntese, as 
principais tipologias vegetacionais do Bioma e 
suas respectivas áreas de ocorrência. 
TIPOLOGIAS 
VEGETACIONAIS 
DO BIOMA
OCORRÊNCIA
Floresta 
Ombrófila 
Densa
Em toda a área central 
do Bioma ao longo 
da calha dos rios 
Solimões, Amazonas 
e	afluentes.
Floresta 
Ombrófila 
Aberta
No Acre, em 
Rondônia, no leste e 
no sul do estado do 
Amazonas, no norte 
do Mato Grosso e no 
norte do Maranhão.
Floresta 
Estacional 
Semidecidual
No sul de Rondônia e 
no sudoeste do Mato 
Grosso.
Floresta 
Estacional 
Decidual
Na Serra do 
Cachimbo, sudoeste 
do Pará.
15 | Página14 | Página
TIPOLOGIAS 
VEGETACIONAIS 
DO BIOMA
OCORRÊNCIA
Campinarana
Em Rondônia e no 
norte do estado do 
Amazonas acompa-
nhando o curso dos 
rios Negro e Branco.
Savana
Em Roraima, no norte 
do Pará, no Amapá, 
na Ilha de Marajó, 
no sul do estado 
do Amazonas e em 
Rondônia.
Savana 
estépica Norte de Roraima.
Formações 
pioneiras
Nas tipologias de 
mangue presentes 
no litoral do Amapá, 
Pará, inclusive Ilha de 
Marajó e Maranhão e 
as formações com in-
fluência	fluvial/lacustre	
referentes às planí-
cies aluviais ao longo 
do médio e baixo rio 
Amazonas,	afluentes	
e Ilha de Marajó.
Refúgio 
vegetacional
Norte do estado do 
Amazonas e sudoeste 
do Pará.
O quadro anterior permite constatar a grande 
diversidade vegetacional, tanto das formações 
florestais	quanto	das	tipologias	não	florestais	do	
bioma e, a partir dessa percepção, considerar 
a Amazônia sem a lente da “homogeneidade”. 
Formações geológicas distintas, e suas trans-
formações ao longo dos tempos, criaram dis-
tintas geomorfologias e consequentemente 
ambientes	biogeográficos	diferenciados.		A	in-
teração das diversas formas de vida animal e 
vegetal e, principalmente, na atualidade, com a 
ocupação humana, tem criado paisagens dis-
tintas de diferentes matizes naturais e culturais.
A cada um desses domínios paisagísticos as-
sociam-se ecossistemas, que são, ao mes-
mo tempo, diferenciados e interdependentes. 
Devemos observar que essa diversidade pai-
sagística é cada vez mais resultado de altera-
ções antrópicas que evoluíram em tempos e 
modos tecnológicos diferenciados por meio da 
história da evolução socioambiental da região.
Antrópicas
Termo derivado da raiz grega anthropos 
– humano. É muito usado em Ecologia 
para se referir às causas associadas à 
ação humana sobre o habitat e as trans-
formações resultantes dela.
Saiba Mais!
O Bioma Amazônia, devido a sua extensa 
abrangência, gênese, geomorfologia, condi-
ções	de	solo,	influência	hídrica	e	particularida-
des	 climáticas,	 apresenta	 flora	 extremamente	
variada e rica que, associada à fauna, aos fun-
gos e micro-organismos, contribui para o ba-
lanço ecológico do bioma.
A conservação dessa biodiversidade 
está sustentada pelo equilíbrio das con-
dições ambientais dos elementos de sua 
própria	formação.	Isto	significa	dizer	que	
alterações no regime hidrológico, no cli-
ma e nos processos de disponibilização 
de nutrientes do solo via interação fauna/
flora	e	micro-organismos	podem	causardanos irreversíveis ao Bioma, depen-
dendo de sua escala e magnitude.
Atenção!
A conservação da biodiversidade do Bioma 
Amazônia é um tema emergente em diversas 
16 | Página
escalas. No plano local, o tema é cada vez 
mais relevante na medida em que grupos so-
ciais se ressentem dos efeitos negativos de 
algumas atividades produtivas e da expansão 
urbana descuidada. Essas atividades, que 
causam prejuízos à biodiversidade, afetam a 
produtividade pesqueira, a disponibilidade de 
espécies vegetais de subsistência e, também, 
a qualidade das águas. 
A importância da conservação da biodiversida-
de do Bioma Amazônia também se consolidou 
no plano internacional e na esfera política/insti-
tucional, via pressões de ONGs e representan-
tes governamentais.
A atenção internacional, além de alavancar ini-
ciativas de suporte para ações locais de preser-
vação ambiental e de comunidades indígenas, 
tem	promovido	numerosos	estudos	científicos	
que contribuem para dar suporte à implemen-
tação de políticas, planos, projetos e ações de 
defesa e de desenvolvimento sustentável. 
A biodiversidade representa, além do valor 
cultural atribuído à preservação do ambiente 
natural, um verdadeiro estoque de material ge-
nético no campo biotecnológico. Além do va-
lor comercial, tal estoque está associado, por 
exemplo, à segurança alimentar e à produção 
de medicamentos. E, por ser indispensável à 
manutenção	da	cobertura	florestal,	a	biodiver-
sidade está diretamente associada às funções 
climáticas da Floresta Amazônica.
Além disso, em função da preocupação com 
eventos associados à perda de biodiversidade 
e às mudanças climáticas, os quais têm impac-
tos diretos sobre a sociedade humana, institui-
ções	científicas	têm	investido	na	estocagem	de	
sementes em estado de dormência abrigadas 
em	estruturas	artificialmente	mantidas	sob	es-
trita	regulagem	climática.	As	florestas,	em	adi-
ção às suas outras funções, também desempe-
nham esse papel, contribuindo para assegurar, 
dentro	do	seu	raio	de	influência,	a	manutenção	
da vida no planeta.
Existem ainda outros elementos alvo de es-
forços de conservação no Bioma Amazônia 
devido a sua importância cultural, econômica e 
ambiental. Sobre essa diversidade, o Ministério 
do	Meio	Ambiente	afirma	que:
As estimativas situam a região ama-
zônica como a maior reserva de ma-
deira tropical do mundo. Seus recur-
sos naturais – que, além da madeira, 
incluem enormes estoques de borra-
cha, castanha, peixe e minérios, por 
exemplo – representam uma abun-
dante fonte de riqueza natural. A re-
gião abriga também grande riqueza 
cultural, incluindo o conhecimento 
tradicional sobre os usos e a forma 
de explorar esses recursos naturais 
sem esgotá-los nem destruir o habi-
tat	natural.	(MMA,	2015).
É fundamental perceber que todo o po-
tencial natural ou econômico do Bioma 
Amazônia não esconde sua fragilidade. 
A	floresta	vive	a	partir	de	seu	próprio	ma-
terial orgânico, via reciclagem natural de 
nutrientes. Seu delicado equilíbrio é ex-
tremamente sensível a quaisquer inter-
ferências de eliminação da vegetação. 
Uma	vez	eliminada	a	floresta,	o	solo	se	
torna árido, improdutivo e incapaz de es-
tocar	quantidade	significativa	de	nutrien-
tes.	(RICHARDS,	1981).	
Atenção!
A questão crítica para a manutenção da rique-
za natural da Amazônia é a contradição entre a 
importância da sua biodiversidade e as demais 
funções ambientais e o quadro de ocupação 
humana da região que se caracteriza por:
•	 baixos	 índices	 socioeconômicos	
da	região;
•	 carência	 de	 tratamento	 ade-
quado às populações nativas e 
tradicionais;
17 | Página16 | Página
•	 confusos	padrões	de	propriedade	
das	terras;
•	 baixa	densidade	demográfica;
•	 expansão	 urbana	 indiscrimina-
da com seus impactos negativos 
associados;
•	 avanço	do	agronegócio	em	áreas	
de	florestas	nativas;
•	 diferentes	 fases	 do	 processo	 de	
desmatamento para abertura de 
novas áreas de produção agrope-
cuária e extração de madeira. 
A Amazônia tem uma importância que 
vai além da escala nacional. A geopolíti-
ca da Amazônia é título e tema de um ar-
tigo que trata justamente das demandas 
pelo planejamento do desenvolvimento 
da região abordando os diversos interes-
ses envolvidos nesse processo.
Disponível em: 
http:/ /www.scielo.br/scielo.php?pi-
d=s0103=40142005000100005-sscript-
sci_arttext
Saiba Mais!
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=s0103-40142005000100005&script=sci_arttext
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=s0103-40142005000100005&script=sci_arttext
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=s0103-40142005000100005&script=sci_arttext
18 | Página
Histórico de 
Exploração e 
Colonização no 
Bioma Amazônia 
2.
19 | Página18 | Página
2. HISTÓRICO DE 
EXPLORAÇÃO E 
COLONIZAÇÃO NO BIOMA 
AMAZÔNIA 
2.1 Colonização e ocupação
A navegabilidade do rio Amazonas viabilizou, 
já no século XVI, a incursão europeia, iniciando 
o ciclo de iniciativas de “conquistas” do terri-
tório amazônico na região das várzeas do rio. 
Assim, a Amazônia começou a ser explorada a 
partir de seus rios e a população nativa às mar-
gens desses rios foram os primeiros grupos 
sociais a serem afetados (FRAXE, PEREIRA e 
WITKOSKI,	2007).
Relatos de viajantes da época indicam a exis-
tência de verdadeiras “cidades” às margens 
do Amazonas, que rapidamente foram destru-
ídas pelos invasores, o que resultou na fuga 
dos	sobreviventes	para	áreas	de	terra	firme	e	
altas cabeceiras dos rios. Algumas tribos indí-
genas	encravadas	na	floresta	e	parte	dos	ha-
bitantes atuais das várzeas são os herdeiros 
dessa cultura. 
O conceito romântico e misterioso que paira-
va sobre a Amazônia inspirou, no século XIX e 
nos anteriores, muitas viagens de aventureiros 
e conquistadores. Mas, em paralelo, inspirou 
também	importantes	incursões	científicas.	
Dentre tais incursões, se destaca a de Von 
Humboldt pela sua importância. Suas obser-
vações constituem, ainda hoje, fonte de inspi-
ração	 científica.	A	atualidade	do	 seu	enfoque	
analítico se deve ao pioneirismo no uso asso-
ciado	 de	 conceitos	 ecológicos,	 geográficos	 e	
meteorológicos, sugerindo suas interdepen-
dências	(Humboldt,1807).	
A visão naturalista, positiva e investigati-
va	sobre	a	floresta,	 típica	de	um	período	de	
descobertas e interesses pelo exótico, con-
siderado como romântico, foi substituída, no 
início do século XX, pela visão antagônica 
do homem contra uma natureza considerada 
agressiva. 
20 | Página
Uma nova visão surgiu, amparada no desejo 
de conquista e construída na experiência da 
árdua sobrevivência dentro de um ambiente 
desconhecido visando à sua exploração eco-
nômica e à ampliação de fronteiras. Muitas vi-
das humanas foram perdidas nessas aventu-
ras visionárias. 
A imagem exótica de Paraíso Verde foi sendo 
apagada pela imagem de Inferno Verde. Esse 
conceito se consolidou a partir de iniciativas 
desastradas	 de	 domínio	 da	 floresta	 e	 do	 de-
sencanto com o encerramento do ciclo econô-
mico da borracha e o declínio econômico daí 
decorrente. 
Com a construção de Brasília, a partir da me-
tade do século passado, governos civis e mili-
tares se empenharam na conquista do “Inferno 
Verde”, objetivando a estruturação de uma 
territorialidade nacional mais interiorizada. 
Programas de colonização foram implemen-
tados e a ocupação militar das fronteiras foi 
priorizada, juntamente com a necessidade de 
expansão de novos mercados em áreas consi-
deradas pouco “exploradas”. 
A Amazônia e suas áreas de transição se trans-
formaram então no novo “eldorado”. 
É a fase do predomínio da visão nacionalista e 
desenvolvimentista, calcada na total ignorância 
sobre	o	funcionamento	da	floresta	e	seus	pro-
cessos naturais de interdependência. 
O	acesso	à	floresta	e	a	ligação	entre	importan-
tes cidades-polo regionais usualmente propi-
ciados pela navegação na imensa rede hidro-
gráfica	foram	então	ampliados	pela	construção	
de ferrovias e posteriormente de extensas ro-
dovias	cortadas	no	seio	da	floresta	virgem.	
2.2 Construção de ferroviase 
rodovias
Um marco importante da ocupação da 
Amazônia foi o início da construção das estra-
das de ferro. 
2.2.1 A ferrovia Madeira-Mamoré
A construção da primeira estrada de ferro teve 
início	no	estado	do	Pará,	no	final	do	século	XIX,	
com o objetivo de escoamento de produção. 
Conhecida como Madeira-Mamoré, de grande 
dificuldade	construtiva	e	com	percurso	de	366	
km, só foi viabilizada em 1913, após quatro 
tentativas iniciadas 40 anos antes. Sua cons-
trução causou a morte de mais de 6.200 pesso-
as em virtude da precariedade das condições 
de trabalho e das adversidades ambientais.
 
Ferrovia Madeira-Mamoré
A seguir, ocorreu a implantação de nova ferro-
via no estado do Amazonas, visando ao esco-
amento para o Atlântico de riquezas minerais 
da Bolívia, contornando as 21 cachoeiras do rio 
Madeira. 
As ferrovias começaram a perder sua impor-
tância entre as décadas de 60 e 70 do século 
passado, com o surto de construção das rodo-
vias.	(BATISTA,	1976).
As rodovias também tiveram um papel funda-
mental na ocupação da Amazônia.
Tentativas locais de construção de rodovias de 
curto percurso ocorreram no estado do Pará, 
ligando núcleos urbanos ou contornando tre-
chos encachoeirados dos rios Tocantins, Xingu 
e Tapajós. No Amazonas várias tentativas in-
frutíferas ou de curta sustentabilidade foram 
feitas no sentido de integrar o Acre ao territó-
rio	nacional,	após	o	fim	dos	litígios	de	fronteira	
com a Bolívia.
21 | Página20 | Página
2.2.2 A construção de Brasília
A construção de estradas locais ligando Manaus 
a cidades próximas com o objetivo de fomentar 
a instalação de núcleos agrícolas só avançou na 
década de 50. Mas, na verdade, o que permane-
cia evidente era que a região Amazônica continu-
ava isolada do resto do território nacional. Esse 
fato inspirou o presidente Juscelino Kubitschek 
a transformar Brasília em “um trampolim para 
a	conquista	da	Amazônia”	(BATISTA,	1976),	ou	
seja, um ponto de ligação com o norte do país.
2.2.3 A construção da Brasília-Belém
A década de 60 foi marcada pelo investimen-
to em rodovias de longo percurso, tornando-se 
uma prioridade nacional para a integração da 
Amazônia com o resto do país, principalmente 
com o centro do poder federal.
A	construção	da	Brasília-Belém	(norte-sul)	ini-
ciada	 em	1960	−	 concluída	 apenas	 em	1976	
−	 junto	com	a	construção	da	 ligação	 rodoviá-
ria de Brasília com Porto Velho visando atingir 
o Acre em 1961 possibilitou a localização de 
cerca de 2 milhões de pessoas no seu entorno 
(BATISTA,	1976).
Fazendas de gado e cidades vicejaram, com 
destaque para o Município de Paragominas 
(terras do Pará, gado de Goiás e gente de 
Minas),	 em	 virtude	 das	 condições	 geográfi-
cas propícias para a plantação de gramíneas 
forrageiras. 
Apesar do destaque dado à rodovia Brasília-
Belém, foi a rodovia Brasília-Acre aquela 
considerada como estratégica para o país, 
motivando a declaração de Kubitschek em 
1960: “A Brasília-Acre é mais importante do 
que a Brasília-Belém, pois Belém tem saída 
para o Atlântico, ao passo que esta região se 
via	 terrivelmente	 confinada,	 sem	 um	 pulmão	
por	onde	pudesse	respirar.”	(BATISTA,	1976).	
É importante destacar a incrível diferença de 
paradigmas na comparação com os dias atu-
ais. Na década de 60, na região norte, as es-
tradas eram comparadas aos pulmões, pois 
traziam	vida	às	cidades	asfixiadas	pela	mata.	
Contudo,	atualmente,	a	floresta	é	vista	como	o	
“sustento” da vida!
2.2.4 A Transamazônica
Na década de 70, com os governos militares, 
surgiu	a	concepção	da	Transamazônica	−	 ro-
dovia transversal que cortava a Amazônia de 
leste	ao	oeste	−	com	a	finalidade	de	integrar	a	
região ao Nordeste e estabelecer conexões ro-
doviárias	com	os	portos	fluviais	já	consolidados	
na região.
Transamazônica
Isso estabeleceu, então, a “conquista” da 
Amazônia por populações e práticas “impor-
tadas”, completamente alheias à realidade da 
22 | Página
região e à de seus povos tradicionais. Essa prá-
tica	gerou	conflitos	e	calamidades,	algumas	irre-
versíveis, com destaque para a perda galopante 
daquilo que é considerado no jargão econômi-
co,	como	“ativos”	florestais	ou	“capital”	florestal.	
2.3 Políticas de colonização do 
governo
Migrações	 internas	 significativas,	 oriundas	do	
Nordeste, do Sul e do Sudeste, foram atraí-
das pelas políticas de colonização do governo. 
Novos povoados surgiram e se expandiram, 
originando Municípios, alguns de origem asso-
ciada às companhias colonizadoras. 
A agropecuária se tornou um grande negócio, 
atraindo grandes investidores e, como supor-
te, expandindo sistema bancário e o industrial, 
bem como atraindo empresas médias de di-
versos	setores,	graças	aos	benefícios	fiscais	e	
subsídios públicos ofertados.
Os estados do Mato Grosso, Tocantins e parte 
dos estados do Pará, Maranhão, Rondônia e 
Roraima são detentores de um modelo de ocu-
pação	extensivo	em	área	(BECKER,	2005).
Em contraste, o modelo de ocupação do estado 
do Amazonas é pontual, baseado na concen-
tração industrial na Zona Franca de Manaus, 
mediante investimentos em alta tecnologia. Os 
estados	do	Acre	e	do	Amapá	são	identificados	
com a implementação de modelos de ocupação 
territorial	baseados	na	utilização	da	floresta.
É importante registrar que a inserção de ati-
vidades agropecuárias na região privilegiou a 
área de transição ao cerrado que ocorre ao sul 
da	 região	 (Mato	Grosso),	 em	 virtude	 de	 con-
dições mais propícias de menor pluviosidade 
e melhor acessibilidade, ao contrário da região 
das	várzeas,	que	margeiam	os	canais	fluviais.	
As áreas de várzeas, formadas por planícies 
inundáveis de depósitos formados a partir da 
última	glaciação	(cerca	de	11	mil	anos	atrás),	
embora sejam ambientes produtivos e ricos em 
recursos, quando comparadas aos ambientes 
de	 terra	 firme,	 apresentam	 um	 ambiente	 ins-
tável para a agricultura (FRAXE, PEREIRA e 
WITKOSKI,	2007).	
Sua	dinâmica,	caracterizada	por	flutuações	drás-
ticas e anuais das águas, impõe limitações para 
as formas de uso produtivo dos recursos dispo-
níveis. Mas, sendo previsíveis, essas alterações 
sazonais e cíclicas permitem que agricultores 
desenvolvam, em pequena escala, estratégias 
adaptativas que vêm garantindo, gerações após 
gerações, a ocupação humana das várzeas seja 
como espaço de moradia ou de uso. 
Assim,	ao	contrário	das	áreas	de	cobertura	flo-
restal ou de suas áreas transicionais, as vár-
zeas podem hoje ser consideradas como uma 
“fronteira	 agrícola”	 consolidada.	 Configuram	
ambientes que provavelmente continuarão a 
ser ocupados produtivamente pela agricultura 
familiar, ou de pequena escala, distintos da-
quelas	 áreas	 de	 terra	 firme	 alcançadas	 pela	
abertura de rodovias e em constante alteração 
antrópica, foco do agronegócio. 
Conheça o documentário “Amazônia 
Revelada: os descaminhos ao longo da 
BR-163”. 
Disponível em: <https://www.youtube.
com/watch?v=6P2eqk_ha2I>.
Saiba Mais!
https://www.youtube.com/watch?v=6P2eqk_ha2I
https://www.youtube.com/watch?v=6P2eqk_ha2I
23 | Página22 | Página
Desmatamento 
e Atividades 
Econômicas no 
Espaço Rural da 
Amazônia
3.
24 | Página
3. DESMATAMENTO E 
ATIVIDADES ECONÔMICAS 
NO ESPAÇO RURAL DA 
AMAZÔNIA
A presente unidade oferecerá um panora-
ma geral do desmatamento na Amazônia, 
com ênfase nos processos da década atual. 
Complementarmente, trataremos das princi-
pais atividades econômicas do espaço rural 
amazônico que estão associadas diretamente 
ao desmatamento, buscando caracterizá-las 
no contexto da dinâmica econômica regional.
3.1 O Desmatamento no Bioma 
Amazônia
A distribuição espacial das áreas desma-
tadas até o ano de 2012 (INPE/PRODES, 
2012)	 segue	 um	 padrão	 espacial	 de	 maior	
concentração nas áreas de fronteira entre o 
Bioma Amazônia e o Bioma do Cerrado. Tais 
áreas correspondem também às áreas de ex-
pansão da fronteira agrícola e de maior con-
centração de rodovias federais e estaduais. 
Esse cenário amplamente conhecido de re-
lação entre desmatamento, aberturade es-
tradas e avanço da fronteira agropecuária 
na	Amazônia	 representa	um	grande	desafio	
à gestão ambiental no Bioma, uma vez que 
as rodovias são importantes vetores de inte-
gração dos Municípios da região entre si e 
com as regiões vizinhas, e que as atividades 
agropecuárias são elementos importantes 
para geração de renda para a população e 
para o PIB de diversos Municípios.
Dentre as produções agropecuárias, a pecu-
ária extensiva e a lavoura “convencional” – 
em especial a de soja – impõem pressão pela 
derrubada	de	grandes	extensões	de	floresta	
para a sua expansão, e não são, em geral, 
produções relacionadas a produtores familia-
res de pequeno e médio porte. 
As rodovias, apesar do papel de conectivida-
de espacial, tornam acessíveis e/ou viáveis 
novas áreas à ocupação regular e irregular, 
25 | Página24 | Página
à exploração legal e ilegal de madeira e ao 
surgimento de novas vilas e pequenos núcle-
os urbanos. 
Conheça o Projeto PRODES de 
Monitoramento da Floresta Amazônica 
Brasileira por Satélite, do Instituto 
Nacional	de	Pesquisas	Espaciais	(INPE),	
que monitora o avanço do desmatamen-
to	por	derrubada	de	áreas	significativas	
da	vegetação	florestal	na	Amazônia	des-
de 1988 e fornece as taxas anuais de 
desmatamento utilizadas pelo governo 
brasileiro para o estabelecimento de po-
líticas públicas.
Disponível no endereço: http://www.obt.
inpe.br/prodes/index.php
Saiba Mais!
Além	 disso,	 conforme	 aponta	 Castro	 (2005),	
com	base	em	Araújo	(2003),	a	 ilegalidade	so-
cial e ambiental segue como um traço marcan-
te das áreas de fronteira agropecuária no início 
do século XXI. Segundo a autora, “A apropria-
ção indevida de terras públicas, de créditos 
públicos destinados ao desenvolvimento de re-
cursos naturais e do patrimônio milenar de po-
pulações locais tem financiado os setores pro-
dutivos e o mercado.”	(CASTRO,	2005,	p.	34).
Os estados com maior desmatamento acumu-
lado em áreas de Bioma Amazônia até 2012 
foram Tocantins, Maranhão, Rondônia e Mato 
Grosso. Dentre esses, apenas Rondônia en-
contra-se integralmente no Bioma. 
Os quatro estados encontram-se acima da 
média da área desmatada por estado, para a 
área abrangida pelo programa, com destaque 
para os estados do Maranhão e Tocantins, 
que ultrapassam o dobro da porcentagem de 
desmatamento médio dos estados, como po-
demos	observar	no	gráfico	da	Figura	2.	
Figura	 2	 -	 Gráfico	 do	 desmatamento	 acumulado	
em relação à área dos estados até 2012(INPE/
PRODES	,	2012).
Tal cenário reforça a gravidade da intensida-
de do desmatamento nas áreas de fronteira 
agropecuária, coincidente com a interface do 
Bioma Amazônia com o Cerrado. O acúmulo 
do	desmatamento	na	escala	municipal	reflete	
o cenário da escala estadual. 
Contudo,	 há	 significativa	 heterogeneida-
de, em especial nos estados do Pará, Mato 
Grosso e Acre, que remete à interpretação 
da relevância da presença de eixos rodovi-
ários para o avanço do desmatamento, uma 
vez que o desmatamento é mais intenso, na 
maioria dos casos, em Municípios atravessa-
dos pelos principais eixos rodoviários.
Conforme apontam estudos das organiza-
ções não governamentais Instituto do Homem 
e	 Meio	 Ambiente	 da	 Amazônia	 (IMAZON),	
Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia 
(IPAM)	e	Instituto	Socioambiental	(ISA),	hou-
ve	um	aumento	significativo	do	desmatamen-
to entre os anos de 2012 e 2013, discrepan-
do da tendência de diminuição que ocorria 
desde 2004. 
http://www.obt.inpe.br/prodes/index.php
http://www.obt.inpe.br/prodes/index.php
26 | Página
Diversos fatores são apontados por essas 
instituições como causas do recente aumen-
to, algumas das quais já amplamente conhe-
cidas. O aumento dos preços dos produtos 
agrícolas	 tem,	 historicamente,	 influência	 no	
aumento do desmatamento, inclusive para 
fins	especulativos.	
Grandes obras de infraestrutura – como as-
faltamento de estradas e construções de hi-
drelétricas e de portos – são intervenções 
que, ao alterarem as dinâmicas econômicas 
e sociais das regiões, interferem diretamen-
te sobre a abertura de novas áreas por meio 
de desmatamento. Esse é um quadro que se 
agrava frente às fracas contrapartidas am-
bientais e medidas mitigadoras de impactos 
sociais e ambientais. 
Além disso, algumas mudanças da legislação 
ambiental colaboraram para o aumento do 
desmatamento na região. Pode-se citar, como 
exemplo central, o novo Código Florestal — 
Lei Nº 12.651/ 2012, que, anistiando diversas 
formas de desmatamento ocorridos antes do 
ano de 2008, criou, segundo as ONGs men-
cionadas, expectativas de que novos desma-
tamentos também fossem anistiados. 
Outras ações tomadas pelo poder público 
também impactaram no enfraquecimento 
da proteção ambiental do Bioma Amazônia, 
como a proposta de redução de áreas de 
Unidades de Conservação e ameaças de 
enfraquecimento dos direitos indígenas, da 
PEC nº 215/2000. Não obstante, boa parte 
do desmatamento ocorrido no ano de 2013 
se deu em terras públicas ainda não desti-
nadas e em áreas sem informações fundiá-
rias	(IMAZON,	IPAM	e	ISA,	2014),	o	que,	em	
conjunto com a questão produtiva/econômica 
das atividades agropecuárias, reforça a ne-
cessidade do adequado planejamento e ges-
tão das estruturas fundiárias na região. 
De fato, a semelhança entre a localização 
espacial dos Municípios de maior desmata-
mento acumulado e os de maior valor de pro-
dução agropecuária por quilômetro quadrado 
(IBGE,	 2012)	 é	 nítida	 nos	 estados	 do	Mato	
Grosso, Rondônia e Pará. Assim como a pre-
sença de estruturas rodoviárias com acesso 
e escoamento da produção, como anterior-
mente mencionado.
É relevante considerar que, apesar da ampla 
utilização dos dados oriundos de monitora-
mento do desmatamento por meio de sen-
soriamento remoto, como os utilizados pelo 
INPE, há uma carência de estudos acerca 
do corte seletivo. Os sensores remotos ge-
ralmente utilizados para estudos de desma-
tamento	 na	 Amazônia	 são	 eficientes	 para	
detectar o “corte raso”, ou seja, áreas de re-
moção	de	vegetação	florestal.	
O uso de geotecnologias, como o sen-
soriamento remoto, é cada vez mais 
frequente	e	eficiente	na	gestão	e	no	mo-
nitoramento ambiental, além de outras 
atividades associadas à gestão territorial 
municipal.
Conheça mais sobre sensoriamen-
to remoto no curso complementar de 
Introdução às Geotecnologias ofereci-
do	 pelo	 Programa	 de	 Qualificação	 da	
Gestão Ambiental – Municípios Bioma 
Amazônia.
Disponível em: http://www.amazonia-i-
bam.org.br/site_content/15-cursos-de-
capacitacao-em-gestao-ambiental/23-in-
troducao-a-geotecnologia 
Saiba Mais!
Contudo, o “corte seletivo” remove apenas 
alguns indivíduos vegetais e, apesar de 
http://www.amazonia-ibam.org.br/site_content/15-cursos-de-capacitacao-em-gestao-ambiental/23-introducao-a-geotecnologia
http://www.amazonia-ibam.org.br/site_content/15-cursos-de-capacitacao-em-gestao-ambiental/23-introducao-a-geotecnologia
http://www.amazonia-ibam.org.br/site_content/15-cursos-de-capacitacao-em-gestao-ambiental/23-introducao-a-geotecnologia
http://www.amazonia-ibam.org.br/site_content/15-cursos-de-capacitacao-em-gestao-ambiental/23-introducao-a-geotecnologia
27 | Página26 | Página
causar impactos significativos na biodiver-
sidade, pouco altera o padrão de resposta 
à radiação eletromagnética do conjunto das 
copas das árvores, seja por conta da reso-
lução espacial, radiométrica, ou espectral 
inadequada dos sensores, seja por conta 
do fato de parte dos indivíduos vegetais re-
movidos estarem com suas copas localiza-
das abaixo dos indivíduos de maior porte. 
Contudo, há estudos avançados na elabora-
ção e proposição de metodologias para de-
tecção e monitoramento dessa modalidade 
de desmatamento.
Existem duas formas principais pelas 
quais ocorre a extração de madeira, co-
mumente chamadas de corte seletivo 
e de corte raso.
O corte seletivo é caracterizado pela 
derrubada e extração de pequenas quan-
tidades de indivíduos vegetais, muitas ve-
zes selecionados, em meio aos demais,em função de seu maior valor de merca-
do. Esse tipo de corte é mais difícil de ser 
detectado por instrumentos de monitora-
mento por sensoriamento remoto.
O corte raso ocorre com a abertura de 
grandes	 áreas	 em	 meio	 à	 floresta,	 na	
maioria dos casos com o uso de maqui-
nário e com o intuito de que a área sirva 
a outras atividades, como a lavoura e a 
pecuária,	após	o	corte	da	floresta.
Atenção!
3.2 Atividades econômicas no 
ambiente rural associadas ao 
desmatamento
Trataremos agora de caracterizar as prin-
cipais atividades econômicas no meio rural 
Amazônico que, direta ou indiretamente, es-
tão associadas ao desmatamento e à gestão 
ambiental. 
3.2.1 Lavoura
Com relação à produção de lavoura permanen-
te, o estado de Rondônia, com a produção de 
café, e o estado do Pará, com pimenta-do-rei-
no, destacam-se, atingindo valores de apro-
ximadamente 291 milhões e 346 milhões de 
reais, respectivamente, no ano de 2012. Tais 
valores são equivalentes a 277 reais por km² 
no Pará e 1.225 mil reais por km² em Rondônia, 
considerando a razão do valor da produção pe-
las	áreas	dos	estados	(IBGE,	2013).	
Já em relação à lavoura temporária, a de 
soja, no Mato Grosso, esta destaca-se muito 
em relação às demais produções, atingindo 
valor absoluto de 14,9 bilhões de reais e 16,5 
mil reais por km². Destacam-se, ainda, as 
produções de soja do Maranhão, com valor 
absoluto de 1,22 bilhões de reais e 3,6 mil re-
ais por km², e mandioca, no Pará, com valor 
absoluto de 1,19 bilhões de reais e 951 reais 
por	km²	(IBGE,	2013).
Cabe ainda mencionar que, além do alto 
valor de produção da soja no Mato Grosso, 
observa-se também nos demais estados do 
Bioma Amazônia uma tendência geral de 
aumento do valor de produção de soja entre 
os anos de 2008 e 2012. Isto ocorre exceto 
no estado do Acre, para o qual o IBGE não 
contava com dados disponíveis referentes ao 
ano de 2012, apesar do aumento do valor de 
produção	entre	2008	e	2010	(IBGE,	2013).
O	 Instituto	 Brasileiro	 de	 Geografia	 e	
Estatística	 (IBGE)	disponibiliza	um	vas-
to acervo de dados oriundos de suas di-
versas frentes de coleta de informações 
sobre as regiões, estados e Municípios 
do	 país.	 Parte	 significativa	 desses	 da-
dos pode ser facilmente coletada por 
meio do Sistema IBGE de Recuperação 
Automática	(SIDRA).
Disponível em: http://www.sidra.ibge.
gov.br/
Saiba Mais!
28 | Página
O	gráfico	da	Figura	3	nos	permite	comparar	
o valor de produção de soja nos estados do 
Bioma Amazônia nos anos de 2008, 2010 e 
2012. É possível notar que, apesar de o esta-
do do Mato Grosso se destacar dos demais, 
há tendência de aumento no valor da produ-
ção em todos os estados do Bioma.
Contudo, o valor da produção de soja nos es-
tados do Acre, do Amazonas e de Roraima 
ainda é muito inferior ao dos demais esta-
dos, evidenciando que a fronteira da soja, até 
2012, ainda não avançava de forma expres-
siva sobre esses estados.
Figura 3 - Valor da produção de soja. Fonte: IBGE/SIDRA - 2013
O cultivo da soja é uma das principais ativi-
dades econômicas associadas ao desmata-
mento e a outros impactos ambientais sobre 
o Bioma Amazônia. É, em muitos casos, im-
plantado,	 com	 grau	 significativo	 de	mecani-
zação e uso de insumos químicos, após o es-
gotamento do solo pela atividade de pecuária 
bovina extensiva.
O cultivo da soja vem sendo incentivado 
há décadas no Bioma do Cerrado e, na úl-
tima década, avança rapidamente sobre a 
Amazônia, estando já consolidado nas áreas 
de transição entre os dois biomas. 
Segundo	Fernández	(2007),	temos	três	fases	
da produção de soja no Brasil: 
•	 Até	o	 início	da	década	de	1970:	
marcada pela introdução no Brasil, 
na região Sul. 
•	 Entre	1970	e	1985:	marcada	pela	
modernização da atividade, incen-
tivada por programas de crédito, 
expansão de infraestrutura, inves-
timentos em pesquisa, programas 
de colonização – que induziram 
fluxos	 migratórios	 da	 região	 Sul	
para o Centro-Oeste e Norte, tam-
bém em função de outras ativida-
des – e formação dos “complexos 
agroindustriais”. 
•	 De	1985	até	a	metade	da	primei-
ra década do século XXI: marcada 
pela expansão e consolidação da 
agricultura mecanizada no Cerrado 
e pelo avanço da lavoura de soja 
em direção ao Bioma Amazônia.
Com obra referente à terceira fase, Kohlhepp 
(2002)	chamava	a	atenção	para	o	fato	de	que,	
29 | Página28 | Página
se por um lado havia programas inovadores 
voltados	 à	 proteção	 da	 floresta	 amazônica	
oriundos de parcerias internacionais, por ou-
tro, diversos países europeus e o Japão es-
timulavam a expansão da produção de soja, 
com apoio de investimentos públicos e priva-
dos em infraestrutura e pesquisa. 
Tais processos se enquadravam perfeitamen-
te	 no	 cenário	 estudado	 por	 Becker	 (2004),	
que consistia em uma forte contradição entre 
o modelo de desenvolvimento adotado para 
a região e os ideais de sustentabilidade. 
A pesquisadora cita como exemplos, na segun-
da metade da década de 1990, as diversas ini-
ciativas de criação de corredores ecológicos, 
proteção de recursos naturais e incentivo ao 
desenvolvimento de atividades sustentáveis 
locais e regionais, enquanto, em oposição, im-
plantavam-se amplos corredores de desenvol-
vimento, com foco no crescimento econômico. 
Para	Becker	 (2004),	a	Amazônia	do	final	do	
século XX foi marcada por esses dois cená-
rios que se contrapõem, embora com sinais 
de	mudanças.	Tais	cenários	refletiam	o	inte-
resse nacional em seus valores (econômicos 
e	 históricos)	 e,	 também,	 a	 incorporação	 de	
demandas por cidadania. 
A incorporação desses interesses e demandas 
no planejamento do desenvolvimento da re-
gião gerou dois modelos de políticas públicas 
desarticuladas	 e	 conflitantes,	 visando	 ao	 de-
senvolvimento por meio de estratégias territo-
riais seletivas, porém embasadas por concei-
tos de desenvolvimento praticamente opostos. 
Enquanto o primeiro modelo baseava-se em 
investimentos em infraestrutura, com foco no 
crescimento econômico e na integração ao 
mercado nacional e internacional, o segundo 
privilegiava as questões regionais e locais, 
dando primazia à busca por soluções para os 
problemas das populações tradicionais e à 
proteção ambiental.
Assim, os atuais investimentos na produção 
de soja em larga escala, o enfraquecimento 
da legislação ambiental e dos direitos das 
populações indígenas e investimentos em 
grandes obras de infraestrutura representam 
indícios da continuidade – ou da retomada – 
desse cenário dicotômico na Amazônia. 
Se tais investimentos encontram-se de um 
“lado”, do outro “lado” ocorrem inciativas 
de descentralização da gestão ambiental 
para a escala municipal, de implantação do 
Cadastro Ambiental Rural (CAR)	 visando	
fomentar a regularização ambiental, além de 
políticas de incentivo à produção de pequeno 
porte e à autogestão das atividades das po-
pulações tradicionais. 
O	 Cadastro	 Ambiental	 Rural	 (CAR)	 e	
outras políticas, instrumentos e inicia-
tivas voltadas à conservação ambien-
tal e regularização ambiental municipal 
são assuntos tratados em alguns dos 
outros cursos oferecidos pelo Programa 
de	Qualificação	 da	Gestão	Ambiental	 –	
Municípios Bioma Amazônia. Consulte 
nosso portal na internet para conhecer os 
demais cursos atualmente disponíveis.
Disponível em: http://amazonia-ibam.org.br/
Saiba Mais!
2.2.2 Pecuária
Em relação aos produtos de pecuária, ex-
cluindo-se a carne e o valor da venda do re-
banho, destacam-se as produções de leite 
dos estados do Pará, com valor absoluto de 
420 milhões de reais e 337 reais por km², e 
do estado do Mato Grosso, com valor abso-
luto de 549 milhões de reais e 607 reais por 
km²	(IBGE,	2012).
O único estado onde outro produto se so-
brepõe ao valor da produção leiteira é o 
Amazonas, no qual a produção de ovos de 
galinha atinge 165 milhões de reais, equiva-
lente a 105 reais por km². 
Castro	 (2005)	aponta	que	há	outros	setores	
http://amazonia-ibam.org.br/
30 | Página
tradicionais da pecuária que, na virada do 
séculoXX para o XXI, já mantinham consi-
derável produtividade, como a produção de 
pescado para consumo interno e para expor-
tação ao Nordeste e Sul do país. 
Contudo, segundo o mesmo autor, tal movi-
mento comercial, ainda estaria, na década de 
2000	 à	margem	da	 fiscalização	 legal	 e	 am-
biental. E, em contrapartida – mais uma vez 
relacionada ao padrão dicotômico das polí-
ticas e investimentos na Amazônia (Becker, 
2004)	–	houve	significativo	aumento	da	pes-
ca industrial ao longo das duas últimas déca-
das do século XX e início do XXI, com práti-
cas	mais	predatórias	e	reflexos	adversos	nos	
estoques de pescado no Nordeste Paraense, 
Médio Amazonas e costa Norte do Amapá.
Devido à sua importância econômica e para 
o desmatamento na Amazônia, cabe discutir 
de maneira mais aprofundada a pecuária bo-
vina. O avanço da pecuária bovina extensiva 
é hoje a principal causa de desmatamento, 
principalmente nas porções Sul e Sudeste do 
Bioma Amazônia.
Para avaliar o cenário da pecuária bovina 
voltada ao mercado de carne, podemos ob-
servar os abates realizados ao longo dos me-
ses	dos	anos	de	2011	a	2013,	no	gráfico	da	
Figura 4.
Figura	4	-	Abates	Bovinos	no	Bioma	Amazônia	(IBGE/SIDRA,	2013).
Na Figura 4, é possível perceber que, assim 
como na produção de soja, o estado do Mato 
Grosso se destaca dos demais, com os esta-
dos de Rondônia, Pará e Tocantins com va-
lores	também	significativos.	Em	geral,	houve	
tendência de aumento ou manutenção dos 
valores de abate ao longo dos três anos ava-
liados para todos os estados.
Segundo	Margulis	(2003),	até	o	início	do	sé-
culo	XXI,	a	pecuária	(bovina)	era	a	principal	
atividade causadora de desmatamentos na 
Amazônia Brasileira, com expansão na forma 
de “um processo contínuo de caráter inercial” 
(MARGULIS,	 2003,	 p.79).	 Segundo	 ele,	 ao	
final	do	processo	de	ocupação,	independen-
temente dos atores iniciais, têm-se a pecu-
ária	como	atividade	predominante	ao	fim	do	
processo de ocupação. 
O	autor	afirma	ainda	que,	nas	áreas	onde	há	
a presença marcante de atividades especu-
lativas sobre o valor da terra – muitas vezes 
fruto da especulação acerca da realização de 
obras de infraestrutura –, o poder público é 
dominado pelos interesses das elites locais 
que atuam quase que exclusivamente em prol 
da expansão do modelo de produção da pecu-
ária bovina extensiva. Em função da instabili-
dade fundiária, atores locais de menor porte 
31 | Página30 | Página
deslocam sua atenção e esforços para asse-
gurar a posse da terra, proteger-se da violên-
cia do campo e enfrentar as condições precá-
rias a que estão submetidas suas produções. 
Nesse	cenário,	ficam	prejudicadas	a	proteção	
e o adequado manejo dos recursos naturais.
Segundo	Rivero	et	al.	(2009),	mesmo	o	avan-
ço da agricultura em larga escala – destacan-
do-se	 a	 soja	 –	 no	 final	 da	 primeira	 década	
do	século	XXI,	não	teve	impacto	significativo	
na	 redução	 da	 influência	 da	 pecuária	 sobre	
o desmatamento por meio da abertura de 
novas áreas para pastagens. O processo de 
avanço	da	pecuária	 sobre	a	floresta	mante-
ve-se acima do ritmo médio do país, na dé-
cada de 2000. 
Rivero aponta que a pecuária bovina neces-
sita de pouco capital para implantação em 
grandes áreas em comparação a outras ati-
vidades menos impactantes, pouco preparo 
do solo e é pouco restringida pelo relevo e 
clima da região. 
Para o autor, um combate eficiente ao des-
matamento causado pela pecuária bovina 
deve estar focado sobre a mitigação dos fa-
tores que favorecem sua expansão/avanço 
sobre novas áreas, o favorecimento da inten-
sificação da atividade em detrimento do mo-
delo extensivo, o incentivo e favorecimento 
de boas práticas e, também, deve considerar 
estratégias diferentes para os grandes e os 
pequenos produtores. 
Além disso, o autor chama atenção para 
a necessidade do ordenamento territorial 
das áreas com situações irregulares de 
uso e ocupação da terra, com o intuito de 
se mitigar o avanço do desmatamento na 
Amazônia. De fato, há uma relação muito 
próxima entre o desmatamento e a grilagem 
de terras na Amazônia.
Trataremos da grilagem de terra ainda no 
presente curso, mas, por enquanto, vamos 
abordar outras atividades econômicas rele-
vantes no ambiente rural da Amazônia: a sil-
vicultura e a extração vegetal.
3.2.3 Silvicultura e extração vegetal
Em relação à silvicultura, em valor absoluto, 
destaca-se a produção de madeira em tora, no 
Pará, atingindo 231 milhões de reais. Contudo, 
a razão do valor da produção pela área estadu-
al da produção no Pará chega a “apenas” 185 
reais por km², enquanto a produção de madeira 
em tora do Amapá alcança 547 reais por km² e 
a de carvão vegetal do Maranhão, 292 reais por 
km², com valores absolutos de 78 milhões e 96 
milhões	de	reais,	respectivamente	(IBGE,	2013).
 A produção de madeira em tora também se des-
taca na atividade de extração vegetal. Os esta-
dos do Pará e Mato Grosso, com valores abso-
lutos de 862 e 637 milhões, respectivamente, e 
valores por km² de 691 e 706 reais, respectiva-
mente,	destacam-se	dos	demais	(IBGE,	2013).	
Considerando o conjunto dos nove esta-
dos abrangidos pelo programa, apenas no 
Amazonas, o principal produto de extração ve-
getal não é madeira ou derivado, consistindo 
em gêneros alimentícios variados, atingindo 
valores absolutos de 105 milhões de reais e 67 
reais	por	km²	(IBGE,	2013).
De fato, observando a distribuição espacial dos 
polos madeireiros na Amazônia na Figura 5, 
percebe-se a concentração das atividades nos 
mesmos estados onde os valores mais altos de 
silvicultura e extração vegetal correspondem à 
madeira	e	derivados	(IBGE,	2013).	
Figura 5 – Distribuição dos polos madeireiros na 
Amazônia. Fonte: Imazon – 2009.
32 | Página
Mediante a análise da Figura 5, percebemos 
que também há relação entre a localização dos 
polos madeireiros, as áreas de maior acúmulo 
de	desmatamento	(INPE/PRODES,	2012)	e	os	
principais eixos rodoviários, que também cor-
respondem às áreas de maior valor de produ-
ção	agropecuária	(total)	por	km²	(IBGE,	2013).	
O Serviço Florestal Brasileiro e o Imazon 
(2010)	desenvolveram	estudos	para	identificar	
quais fatores seriam os principais indutores 
da expansão do setor madeireiro com vistas a 
combater atividades associadas à extração ile-
gal. As conclusões a que chegaram indicam os 
seguintes principais fatores indutores: 
1. A construção de estradas, pos-
sibilitando	acesso	às	florestas	den-
sas	 de	 terra	 firme,	 com	 madeiras	
de valor comercial.
2. Baixo custo de aquisição da ma-
deira,	consequência	de	fiscalização	
ambiental e fundiária incipiente.
3. Esgotamento de estoques ma-
deireiros no Sul do Brasil e o con-
sequente aumento da demanda.
Segundo	Castro	(2005),	a	exploração	de	ma-
deira, no meio da década de 2000, além de ser 
uma das mais relevantes atividades econômi-
cas na Amazônia, organiza-se em um sistema 
complexo, incluindo os modos mais agressi-
vos, como o uso da motosserra, correntes e 
tratores	e,	também,	métodos	de	beneficiamen-
to	industrial	sofisticados.
Segundo a autora, a exploração da madeira 
alimenta uma teia também complexa de seg-
mentos sociais, desde trabalhadores de baixa 
renda empregados na extração por métodos 
“tradicionais”, até grandes empresários da in-
dústria madeireira. 
Castro	(2005)	destaca	ainda	que	a	atividade	ma-
deireira foi responsável pelo desaparecimento 
de espécies nobres de madeira, como o mogno, 
o acapu e a virola, antes abundantes no estuário 
próximo da embocadura do rio Amazonas.
Assim,	não	seria	equivocado	afirmar	que	a	ges-
tão ambiental na região do Bioma Amazônia 
tem	 como	 grande	 desafio	 o	 planejamento,	 a	
gestão	e	a	fiscalização,	de	maneira	 integrada	
das atividades agropecuárias e extrativistas na 
região e seus eixos de integração rodoviária.
3.2.4 Mineração 
Outro aspecto de relevância para o entendi-
mento das pressões econômicas que incidem 
na região é a ocorrência da atividade de mine-
ração,	tanto	a	intensiva,	em	locais	específicos	
de ocorrênciamineral, como a extensiva ao 
longo	de	determinados	rios	e	seus	afluentes.	
A atividade de mineração tem a potencialidade 
de produzir um impacto direto maior do que as 
atividades agropecuárias em termos de polui-
ção	ambiental,	com	reflexos	também	diretos	na	
saúde humana.
O desmatamento, em especial o de corte 
seletivo, tem impactos perceptíveis sobre a 
biodiversidade na escala de alguns anos. O 
desmatamento por corte raso tem impactos 
imediatos,	 como	 a	 perda	 de	 área	 florestada	
e impactos que são perceptíveis de maneira 
gradual, como aqueles sobre o clima e sobre a 
biodiversidade. 
Já os impactos da mineração, além de serem, 
em sua maioria, imediatos, quando nos referi-
mos, por exemplo, à contaminação dos corpos 
hídricos por metais pesados, podem se acu-
mular na cadeia alimentar e estar presentes no 
ambiente durante décadas. 
Com relação à localização das atividades de 
mineração que causam ou causaram graves 
impactos e deixaram um forte passivo ambien-
tal, destacam-se a mineração de ferro em área 
de	 floresta	 primária	 em	 Carajás,	 de	 bauxita,	
também no Pará, de ouro em Serra Pelada e 
em diversos rios da Amazônia e de manganês 
na Serra do Navio no Amapá.
33 | Página32 | Página
No caso da mineração nos rios, geralmente na 
forma de garimpos, ocorre a consequente polui-
ção dos rios por produtos químicos como o mer-
cúrio, nocivo à saúde humana e outras formas 
de	vida,	além	da	intensificação	dos	processos	
de assoreamento que prejudicam a dinâmica 
hidrológica e o trânsito de espécies aquáticas, 
com consequências sobre a cadeia alimentar. 
O termo garimpo se refere a uma mo-
dalidade de mineração realizada com 
o uso de técnicas manuais ou de baixa 
mecanização. Na maioria dos casos, a 
atividade se dá de forma ilegal e acarreta 
prejuízos	sociais	e	ambientais	significati-
vos nas regiões onde ocorre. 
Trata-se de uma questão muito polêmica, 
como podemos perceber com a leitura do 
Artigo “Falta uma lei moderna e susten-
tável para o garimpo no Brasil”, publica-
do pelo site Observatório Eco, em 2013.
Disponível em:
http://www.observatorioeco.com.br/in-
dex.php/2013/01/falta-uma-lei-moderna
-e-sustentavel-para-o-garimpo-no-brasil/
Saiba Mais!
A lógica que impulsionou a mi-
nero-metalurgia na região é a de 
assegurar sua viabilidade econô-
mica tendo por base a garantia 
da utilização de vantagens com-
parativas, decorrentes da possi-
bilidade de acessar recursos e 
serviços ambientais a baixo custo 
associada ao baixo nível de su-
pervisão governamental, principal-
mente quanto a responsabilidades 
socioambientais para empresas 
transnacionais. Ocorre aí uma dis-
sociação com arranjos produtivos 
locais, impossibilitando o estabe-
lecimento de processos de desen-
volvimento socialmente enraiza-
dos.	(MONTEIRO,	2005,	p.198).
Em	publicação	relacionada	a	conflitos	no	cam-
po brasileiro, a Comissão Pastoral da Terra 
(CPT)	(CANUTO,	et	al.	2013)	trata	de	diversos	
temas	associados	a	conflitos	socioambientais.	
A questão da mineração aparece associada di-
versas vezes à ocorrência de regimes de tra-
balho escravo e à denúncia de impactos sobre 
terras indígenas e unidades de conservação.
O problema da mineração, assim, se coloca 
como	 um	 desafio	 a	 ser	 enfrentado,	 associa-
do a uma atividade que, se por um lado gera 
“riquezas” e matérias-primas importantes 
principalmente à indústria e construção civil, 
por outro lado carrega consigo um histórico 
de graves impactos ambientais e sociais, que 
devem ser alvo de ações e políticas públicas 
(CANUTO,	et	al.	2013).
A	Comissão	Pastoral	da	Terra	(CPT)	mo-
nitora e atua diretamente sobre diversas 
questões relacionadas direta e indireta-
mente	a	conflitos	socioambientais.
Disponível em: http://cptnacional.org.br/
O texto do documento mencionado ante-
riormente,	de	título	“Conflitos	no	Campo	–	
Brasil”, de 2013, também está disponível 
no endereço acima. Trata-se de um am-
plo documento que a CPT também dis-
ponibiliza para anos anteriores, no qual 
os dados estão, na maioria dos casos, 
categorizados por estados, Municípios e, 
quando relevante, por empresas relacio-
nadas	aos	conflitos.
Disponível	em	(link	direto):
http://cptnacional.org.br/index.php/com-
ponent/jdownloads/finish/43-conflitos-
no-campo-brasil-publicacao/344-confli-
tos-no-campo-brasil-2013?Itemid=23
Saiba Mais!
http://www.observatorioeco.com.br/index.php/2013/01/falta-uma-lei-moderna-e-sustentavel-para-o-garimpo-no-brasil/
http://www.observatorioeco.com.br/index.php/2013/01/falta-uma-lei-moderna-e-sustentavel-para-o-garimpo-no-brasil/
http://www.observatorioeco.com.br/index.php/2013/01/falta-uma-lei-moderna-e-sustentavel-para-o-garimpo-no-brasil/
http://cptnacional.org.br/
http://cptnacional.org.br/index.php/component/jdownloads/finish/43-conflitos-no-campo-brasil-publicacao/344-conflitos-no-campo-brasil-2013?Itemid=23
http://cptnacional.org.br/index.php/component/jdownloads/finish/43-conflitos-no-campo-brasil-publicacao/344-conflitos-no-campo-brasil-2013?Itemid=23
http://cptnacional.org.br/index.php/component/jdownloads/finish/43-conflitos-no-campo-brasil-publicacao/344-conflitos-no-campo-brasil-2013?Itemid=23
http://cptnacional.org.br/index.php/component/jdownloads/finish/43-conflitos-no-campo-brasil-publicacao/344-conflitos-no-campo-brasil-2013?Itemid=23
34 | Página
Gestão Territorial e 
Desmatamento
4.
35 | Página34 | Página
4. GESTÃO TERRITORIAL E 
DESMATAMENTO
Na presente unidade, abordaremos aspectos 
associados à gestão territorial na Amazônia 
relacionados direta ou indiretamente ao des-
matamento e à gestão ambiental. Não se tem 
por objetivo, no presente curso, tratar de to-
das as questões relacionadas à gestão territo-
rial e ao desmatamento. Busca-se focar sobre 
aquelas de maior pertinência nos principais 
debates do meio acadêmico e da gestão pú-
blica atualmente. São três temas principais: 
as questões fundiárias, as áreas protegidas e 
as grandes obras de infraestrutura. 
No entanto, é sempre adequado estarmos aten-
tos a questões peculiares de cada Município 
que podem extrapolar a lista de questões aqui 
apresentadas e debatidas.
4.1 Questões fundiárias
As questões fundiárias estão diretamente as-
sociadas ao desmatamento. As políticas de in-
centivo, controle e regularização da ocupação 
das	terras	tem	um	reflexo	direto	sobre	a	aber-
tura	de	novas	áreas	pela	derrubada	da	floresta	
e sobre o cenário socioambiental.
Na Tabela 1 podemos notar que, no ano de 
2013, 66% do desmatamento ocorrido na 
Amazônia se deu em assentamentos, terras 
públicas não destinadas e terras sem informa-
ção fundiária. Tal quadro ilustra o resultado de 
processos de apropriação fundiária inadequa-
da aos ideais de conservação e sustentabilida-
de, que ocorrem há décadas na Amazônia.
Para que se possa compreender tal cenário, 
é importante tratar de processos fundiários 
bastante distintos, mas que estão ambos as-
sociados ao desmatamento na Amazônia, a 
grilagem de terras e a implantação de assen-
tamentos de reforma agrária.
36 | Página
4.1.1 Grilagem de terras
A apropriação privada irregular ou ilegal de ter-
ras públicas, também denominada grilagem, 
tem sido bastante frequente na formação da 
propriedade privada rural no Brasil. O fenôme-
no da grilagem é tão antigo que se torna difícil 
determinar em que momento ele se tornou um 
procedimento recorrente. 
Em diferentes momentos históricos foram utili-
zados diversos mecanismos jurídicos e sociais 
para assegurar o acesso ilícito à terra e aos 
recursos	florestais.	A	violência	contra	comuni-
dades indígenas e camponesas é apenas um 
elemento deste complexo problema brasileiro. 
A privatização ilegal de terras públicas é uma 
constante	 na	Amazônia,	 e	 os	 conflitos	 decor-
rentes desta são motivo de manifestações de 
amplitude internacional.
A “propriedade” advinda da grilagem não 
possui título fundado em uma base legal. 
A área do imóvel rural não é demarcada 
e as atividades desenvolvidas dentro de 
seus limites são ilegais, pois a explora-
ção da terra parao desenvolvimento das 
atividades	agropastoris	ou	florestais	vio-
lam normas ambientais, agrárias, civis, 
criminais e tributárias. Essa lógica leva à 
apropriação e concentração dos recursos 
naturais	e	financeiros	de	forma	ilícita.
Atenção!
Essa prática ilegal, associada a graves 
impactos sociais, econômicos e ambien-
tais, é parte das dinâmicas econômicas 
da Amazônia, estando associada à espe-
culação fundiária para revenda de “pro-
priedades” e movimentando, assim, de 
forma ilegal, grandes quantias de capital 
e de recursos naturais.
Essas	 irregularidades,	 pela	 sua	 flagrante	
ilegalidade, têm motivado barganhas políti-
co-administrativas e eleitoreiras, permitindo 
aos grileiros, geralmente detentores de im-
portância política regional, a manutenção de 
seu poder. 
Por outro lado, a acumulação privada e ilegal 
de capital viabilizado pela venda direta das 
terras ilegalmente desmatadas, adquire moti-
vação, em grande parte, nos lucros auferidos 
com a venda de lotes para pequenos e médios 
agricultores, não sendo rara a venda de uma 
mesma área para diferentes donos.
Nessas condições, o combate à grilagem de 
terras e à sua inerente associação com a vio-
lência no campo não pode ser visto como uma 
política de curto prazo, nem se basear apenas 
em ações pontuais e desconexas. 
O primeiro passo nesta direção é a realização 
do ordenamento fundiário, buscando superar 
a limitada capacidade de gestão dos órgãos 
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competentes, seja no tocante ao corpo técnico, 
seja nas suas condições materiais.
Este breve histórico da ocupação humana recen-
te da Amazônia, e de suas particularidades fun-
diárias, busca esclarecer como o ciclo foi cons-
truído e alicerçado em interesses então vigentes, 
sobretudo associados à carência de informações 
acerca	da	importância	estratégica	da	floresta.	
Atualmente se busca estancar este ciclo de-
letério, econômica, social e ambientalmente 
insustentável, priorizando as ações que se 
fundamentam no conhecimento dos proces-
sos	 naturais	 da	 floresta,	 sem	 ignorar	 a	 cul-
tura dos seus povos tradicionais. Lança-se 
novamente luz sobre os conceitos de Von 
Humboldt	 (1807),	 inspirando	 a	 crença	 na	
existência real de oportunidades de convívio 
do homem com a natureza de forma inteli-
gente e ecologicamente harmônica.
A questão fundiária da Amazônia é título 
e tema de um artigo que faz uma revisão 
histórica das questões associadas ao 
avanço do uso agropecuário das terras 
na Amazônia, envolvendo práticas asso-
ciadas ao desmatamento e grilagem.
Disponível em: 
http:/ /www.scielo.br/scielo.php?pi-
d=S0103=40142005000200005-sscript-
sci_arttext
Saiba Mais!
4.1.2 Assentamentos de reforma 
agrária
Como importante agente de transformações de 
uso e cobertura do solo e consequente abertu-
ra de novas áreas na região, temos os projetos 
de assentamentos de reforma agrária, que não 
apenas ocasionam a derrubada da vegetação 
nativa – dentro de limites estabelecidos legal-
mente, atualmente 20% da área dos lotes – 
para implantação de atividades agropecuárias, 
mas também a abertura de estradas. 
Entretanto, quando adequadamente planeja-
dos e implementados, são elementos impor-
tantes de ordenamento territorial e de justiça 
socioeconômica e ambiental, uma vez que fo-
mentam o acesso à terra e podem ser adequa-
dos às políticas públicas de emprego de prá-
ticas sustentáveis, segurança alimentar e de 
fortalecimento de cooperativas de pequenos 
produtores em âmbito local e regional. 
Para	 Mendes	 (2007),	 a	 criação	 de	 assenta-
mentos tem, em alguns casos na Amazônia, 
o intuito de favorecer o licenciamento rápido 
do manejo da madeira oriunda das áreas de 
desmatamento permitido em cada lote dos 
assentamentos. 
Tomando como referência processos da última 
década, a problemática da criação inadequa-
da de assentamentos na Amazônia é grave 
e	 complexa,	 envolvendo	 situações	 de	 confli-
tos fundiários e territoriais com Unidades de 
Conservação, suspeitas de fraudes no proces-
so de seleção de famílias assentadas e suspei-
tas de envolvimentos irregulares com a indús-
tria	madeireira	(BEIROZ,	2010).	
Pode-se citar como exemplo a ação civil públi-
ca por ato de improbidade administrativa mo-
vida contra o INCRA, pelo Ministério Público 
Federal, em 2007, em função das irregularida-
des na criação de Projetos de Assentamento e 
Projetos de Desenvolvimento Sustentável entre 
os	anos	de	2005	e	2006,	no	Pará	(MPF,	2007).	
Como outro exemplo de problemas atrelados 
aos programas de assentamento, em 2005, 
Oliveira abordava a grilagem e a violência, de-
nunciando, entre outros, a apropriação ilegítima 
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-40142005000200005&script=sci_arttext
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-40142005000200005&script=sci_arttext
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-40142005000200005&script=sci_arttext
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de terras que deveriam ser destinadas à refor-
ma agrária no Oeste do Pará e a criação de um 
grande número de projetos de assentamentos 
e de projetos de desenvolvimento sustentável 
sem a devida avaliação da viabilidade econô-
mica e ambiental. 
Ilustrando a permanência da questão como 
um elemento central frente ao desmatamento, 
29% do total das áreas desmatadas no ano de 
2013 estavam localizadas em assentamentos, 
ao passo que, as áreas protegidas, incluindo 
terras indígenas, Unidades de Conservação 
de proteção integral e Áreas de Proteção 
Ambiental, juntas, “contribuem” com apenas 
14% das áreas desmatadas em 2013.
Cabe, porém, destacar que, considerando o so-
matório das áreas desmatadas em proprieda-
des privadas, terras públicas não destinadas e 
terras sem informação fundiária, têm-se 57% do 
total da área desmatada em 2013, na Amazônia, 
conforme podemos notar na Tabela 1.
Não obstante, em publicação conjunta, IMAZON, 
ISA	e	 IPAM	 (2013),	afirmam,	com	base	de	di-
versas fontes, que 75% dos desmatamentos 
em assentamentos, no ano de 2013, foram su-
periores a 10 hectares, enquanto a maioria dos 
assentados desmata em torno de 2 hectares por 
ano,	em	geral	para	fins	de	subsistência.	
Além disso, apontam que 50% do desmata-
mento em assentamentos foram oriundos de 
apenas 55, de um total de mais 2.700. Segundo 
as fontes citadas, trata-se de um indício de 
concentração de terras por não assentados, 
corroborando para o questionamento de que 
o problema mais grave, que associa assenta-
mentos ao desmatamento na Amazônia, não 
está na criação dos assentamentos em si, mas 
no inadequado planejamento, gestão, ou desti-
nação	final	das	terras.	
No mesmo sentido desse questionamento, 
Calandino,	Wehrmann	 e	 Koblitz	 (2012),	 após	
análises de assentamentos e desmatamentos 
no estado do Pará, apontam que, muitas ve-
zes,	os	de	fato	beneficiários	dos	assentamen-
tos	 não	 fazem	 parte	 do	 público	 alvo	 definido	
pelo Governo Federal, descaracterizando so-
cialmente os assentamentos. 
Ainda nesse sentido, a incerteza fundiária (vide 
situações de assentamentos irregulares, ou em 
conflito	territorial	e	fundiário,	comentadas	ante-
riormente),	os	atrasos	na	concessão	de	crédito	
e a implantação de infraestruturas representam 
ameaças à sustentabilidade dos assentamen-
tos e colaboram para o aumento do desmata-
mento nessas áreas.
Segundo	Castro	(2005),	a	situação	do	desma-
tamento, atrelado aos assentamentos, é agra-
vada pela relação desse instrumento com um 
sistema de apropriação de recursos naturais, 
em que o assentamento é o primeiro passo 
para a exploração de diversos recursos. 
Tourneau	e	Bursztyn	 (2010)	 tratam	das	
contradições entre a política agrária e a 
política ambiental na Amazônia, em tor-
no dos assentamentos. Trata-se de um 
artigo cuja leitura pode favorecer uma 
abordagem crítica das questões asso-
ciadas ao desmatamento em assenta-
mento e às políticas públicas.
Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/
asoc/v13n1/v13n1a08.pdf
Saiba Mais!
O assentamento se converte, nessa lógica, 
em ferramenta de legitimação da apropriação 
privada de

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