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CADERNO DE ESTUDO BIOMA AMAZÔNIA E DESMATAMENTO 2 | Página FICHA CATALOGRÁFICA I59 Instituto Brasileiro de Administração Municipal Caderno de estudo: bioma Amazônia e o desmatamento. / IBAM. – Rio de Janeiro: IBAM, 2015. 57 p. : il. color. (Série Programa de qualificação gestão ambiental) Inclui Referências 1. Degradação ambiental - Amazônia. 2. Aspectos ambientais - Amazônia . I. Instituto Brasileiro de Administração Municipal. II. Título. III. Série. CDU 504 3 | Página2 | Página INSTITUTO BRASILEIRO DE ADMINISTRAÇÃO MUNICIPAL – IBAM Superintendência Geral Paulo Timm Coordenação Geral do PQGA Tereza Cristina Barwick Baratta Coordenação da Capacitação Hélio Beiroz Imbrosio da Silva Magnes Grael Silveira Maynard do Lago Suzana dos Santos Barbosa Tito Ricardo de Almeida Tortori Supervisão Pedagógica Anna Maria Fontes Ribeiro Dora Apelbaum Consultoria Técnica Octávio da Costa Gomes Neto Conteudistas Andrea Pitanguy de Romani Hélio Beiroz Imbrosio da Silva Iara Ferrugem Velasques Iara Verocai Jean Marc Weinberg Sasson João Vicente Lagüéns Júlio César Gonçalves da Silva Karin Schipper Segala Leene Marques de Oliveira Luis Mauro Sampaio Magalhães Marcos Flávio R. Gonçalves Nathália da Silva Braga Paula Bernasconi Rosan Valter Fernandes Desenho Instrucional Afrent Soluções Normalização Bibliográfica Cinthia Pestana 4 | Página Sumário 1. CARACTERÍSTICAS GERAIS E A IMPORTÂNCIA DO BIOMA AMAZÔNIA ..................................................................... 9 1.1 Definição de bioma .................................................................................................... 9 1.2 Características gerais e importância climática ................................................. 10 1.3 A vegetação e a importância para a biodiversidade ......................................... 13 2. HISTÓRICO DE EXPLORAÇÃO E COLONIZAÇÃO NO BIOMA AMAZÔNIA .................................................................. 19 2.1 Colonização e ocupação ........................................................................................ 19 2.2 Construção de ferrovias e rodovias ..................................................................... 20 2.2.1 A ferrovia Madeira-Mamoré ............................................................................... 20 2.2.2 A construção de Brasília ..................................................................................... 21 2.2.3 A construção da Brasília-Belém ........................................................................ 21 2.2.4 A Transamazônica ................................................................................................ 21 2.3 Políticas de colonização do governo ................................................................... 22 3. DESMATAMENTO E ATIVIDADES ECONÔMICAS NO ESPAÇO RURAL DA AMAZÔNIA ............................................. 24 3.1 O Desmatamento no Bioma Amazônia ................................................................. 24 3.2 Atividades econômicas no ambiente rural associadas ao desmatamento ... 27 3.2.1 Lavoura ................................................................................................................... 27 2.2.2 Pecuária ................................................................................................................. 29 5 | Página4 | Página 3.2.3 Silvicultura e extração vegetal ........................................................................... 31 3.2.4 Mineração ............................................................................................................. 32 4. GESTÃO TERRITORIAL E DESMATAMENTO .................... 35 4.1 Questões fundiárias................................................................................................. 35 4.1.1 Grilagem de terras ................................................................................................ 36 4.1.2 Assentamentos de reforma agrária ................................................................... 37 4.2 Áreas protegidas...................................................................................................... 39 4.3 Grandes obras de infraestrutura ........................................................................... 43 5. ENTRAVES PARA O CONTROLE DO DESMATAMENTO . 45 5.1. O eixo Ordenamento Fundiário e Territorial do PPCDAm ................................. 46 5.2 O eixo Fomento às Atividades Produtivas do PPCDAm .................................... 48 5.3 O eixo Monitoramento e Controle do PPCDAm .................................................. 51 5.4 Considerações acerca dos resultados da avaliação dos dados do PPCDAm 54 Bibliografia .................................................................................. 55 Bioma Amazônia e Desmatamento 7 | Página CONTEXTUALIZAÇÃO O Bioma Amazônia, que corresponde a 5% da superfície terrestre e 40% da América do Sul, está majoritariamente (60%) localizado em ter- ritório brasileiro, exerce importante papel na regulação do clima através da inter-relação en- tre vegetação, solos, rios e outros elementos, além de possuir uma grande biodiversidade. É, portanto, fundamental conhecer as particu- laridades e características deste Bioma para traçar ações de conservação e preservação no âmbito da gestão ambiental municipal, desen- volvendo políticas públicas efetivas, projetos e planos articulados com o setor produtivo da Região Amazônica e visando o fomento de ati- vidades sustentáveis. Neste contexto, cientes de que cada Município possui suas particularidades tanto ambientais quanto socioeconômicas e visando a redução do desmatamento, é importante reconhecer que a gestão territorial desta região deve com- preender as questões fundiárias, as áreas pro- tegidas e as grandes obras de infraestrutura. 8 | Página Características gerais e a importância do Bioma Amazônia 1. 9 | Página8 | Página 1. CARACTERÍSTICAS GERAIS E A IMPORTÂNCIA DO BIOMA AMAZÔNIA Na primeira unidade de nosso curso, são aborda- das as características gerais do Bioma Amazônia e da sua importância para o clima e a biodiver- sidade. Iniciaremos discorrendo sobre o signifi- cado do termo bioma e, em seguida, apresen- taremos as características gerais da Amazônia, debatendo a sua importância climática. Prosseguiremos tratando dos tipos de vege- tação do Bioma e da sua importância para a biodiversidade. Por fim, apresentaremos breve histórico do processo de ocupação recente da Amazônia, focando marcos mais relevantes para a compreensão do cenário econômico e da gestão territorial. 1.1 Definição de bioma Os biomas podem ser entendidos como unida- des geograficamente extensas que abrangem comunidades de organismos em avançados estágios de sucessão ecológica. Os biomas têm seus nomes associados às ca- racterísticas predominantes da paisagem da área ocupada por eles, geralmente às cobertu- ras vegetais. Devido a esse aspecto, temos os nomes Mata Atlântica, do Cerrado e Amazônico, por exemplo. Mas os nomes também podem ser associados a características de relevo e cli- ma, como no caso do Pantanal e Caatinga. Os biomas podem ser compreendidos, então, como “reuniões de ecossistemas agrupados de acordo com aspectos de vegetação, relevo e clima” (IPAM, 2015). O termo “bioma” foi criado pelo ecólogo ameri- cano Frederic Clements (1916), que atribuiu às comunidades vegetais a denominação de for- mação clímax, uma vez que funcionam como entidades orgânicas complexas, ou seja, como uma entidade viva. Assim, biomas podem ser concebidos como uma comunidade biótica, ao representarem a unidade ecológica natu- ral que, semelhantemente aos organismos, é composta por partes (“bio”= vida e “oma” = grupo, conjunto). 10 | Página Chamamos de sucessão ecológica ao processo gradual de instalação e desen- volvimento de uma comunidade em de- terminada área. Com o passar do tempo, o aumento da variedade de espéciese da complexidade das relações termina por estabelecer uma comunidade biológica estável, denominada formação clímax. Comunidade biótica é um termo comu- mente utilizado como referência ao con- junto de seres vivos de uma área que possuem relações entre si, geralmente dentro de uma cadeia alimentar. Saiba Mais! Essa unidade ecológica possui uma dinâmica de avanço ou recuo sobre novas áreas e de- senvolve processos internos próprios. Contribuindo para a expansão do conceito, Weaver e Clemens reconheceram o papel pre- ponderante das relações alimentares sobre os fatores físicos no controle da fauna, concluin- do que a comunidade biótica mantém sua uni- dade, reforçando, assim, o importante papel das plantas como fonte direta ou indireta de alimentos de todos os animais (WEAVER e CLEMENS, 1929). Para Whittaker (1975), um bioma é um agrupa- mento de ecossistemas terrestres em um dado continente que são similares em: a) estrutura da vegetação ou fisionomia; b) maiores feições do ambiente ao qual esta estrutura é uma resposta; e c) algumas características das suas comunidades animais. O portal do Ministério do Meio Ambiente lista seis (6) biomas brasileiros: • Amazônia; • Caatinga; • Cerrado; • Mata Atlântica; • Pampa; • Pantanal. A Figura 1 ilustra a distribuição dos biomas no território brasileiro. Figura 1 - Biomas do Brasil. Fonte: IBGE (disponí- vel em http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/no- ticias/images/biomas_grf01.gif, acessado em 13 de Fevereiro de 2015) 1.2 Características gerais e importância climática A Amazônia é quase mítica: um verde e vasto mundo de águas e florestas, onde as copas de árvores imensas escondem o úmido nasci- mento, reprodução e morte de mais de um terço das espécies que vi- vem sobre a Terra. 11 | Página10 | Página Os números são igualmente monu- mentais. A Amazônia é o maior bioma do Brasil: num território de mais de 4 milhões de km² (IBGE, 2004), cres- cem 2.500 espécies de árvores (ou um terço de toda a madeira tropical do mundo) e 30 mil espécies de plan- tas (das 100 mil da América do Sul). A Bacia Amazônica é a maior ba- cia hidrográfica do mundo: cobre cerca de 6 milhões de km2 e tem 1.100 afluentes. Seu principal rio, o Amazonas, corta a região para desaguar no Oceano Atlântico, lan- çando ao mar cerca de 175 milhões de litros d’água a cada segundo. (MMA, 2015). O Bioma Amazônia caracteriza-se principal- mente pela ocorrência da Floresta Pluvial Tropical na ampla área abrangida pela bacia hidrográfica do rio Amazonas, de 4.196.943 km2 (IBGE, 2004). A área, correspondente a 5% da superfície terrestre e 40% da América do Sul, está majoritariamente (60%) localizada em território brasileiro. Seus rios, mesmo possuindo características dis- tintas entre si, escoam 20% do volume da água doce do mundo e são influenciados pelo regi- me de chuvas da região. Esse regime, por sua vez, depende da circulação atmosférica e dos deslocamentos das massas de ar que estão inti- mamente relacionadas à integridade da floresta. Podemos perceber que há uma inter-relação entre elementos naturais que são caracterís- ticos do Bioma Amazônia, como seus rios, o clima e a floresta. A inter-relação das variáveis biológicas, químicas e físicas que envolvem o Bioma Amazônia (floresta; regime de chuvas; circulação atmosférica; disponibilidade Atenção! hídrica) é fundamental na compreensão e proposição de qualquer ação de inter- venção. Contudo, corremos ainda, por in- compreensão dessa inter-relação, o risco de eliminar elos importantes do encadea- mento dos processos naturais. Os avan- ços recentes no conhecimento dessas inter-relações têm que ser os direciona- dores das ações de intervenção. Nesse sentido, é importante que o pessoal en- volvido no planejamento e na gestão da execução das ações esteja muito bem qualificado e atualizado sobre os temas. É importante destacar – para ilustrar o aspecto das inter-relações intrínsecas e extrínsecas e das abrangências locais e regionais – as con- clusões do Relatório de Avaliação Científica produzido por Nobre (2014), denominado “Futuro climático da Amazônia”. Esse estudo revela a importância das trocas de gases, água e energia entre a atmosfera, o oceano e a floresta e comprovam o importante papel exercido pela Floresta Amazônica. Podemos compreender esse importante papel da floresta por meio de cinco fenômenos que dependem da Floresta Amazônica: 1 “Chafariz” de umidade A floresta, mantendo úmido por evapo- transpiração o ar em movimento, direcio- na as chuvas para o interior do continen- te. Esta capacidade está relacionada à capacidade das árvores, pela extensão e densidade da floresta, em transferir gran- des volumes de água para a atmosfera. 2 Indução de chuvas Compostos orgânicos voláteis emitidos pelas plantas na atmosfera limpa intensi- ficam a condensação do vapor d’água e a formação de nuvens capazes de causar chuvas fartas e abundantes. 12 | Página 3 Sucção de umidade A transpiração abundante das árvores da floresta, associada a uma forte condensa- ção na formação das nuvens, faz com que a umidade seja mais forte que aquela so- bre os oceanos. Isso provoca a redução da pressão atmosférica sobre a floresta, que acaba por sugar o ar úmido que eva- porou do oceano para dentro da floresta. Esse processo, conhecido como “teoria da bomba biótica”, é capaz de aumentar e manter a disponibilidade das chuvas. 4 “Rios aéreos” A floresta amazônica exporta “rios aéreos” de vapor e, assim, transporta chuvas far- tas para distantes regiões do continente durante o verão. Isso garante o controle da expansão de áreas desérticas no oes- te dos Andes. 5 Estabilidade atmosférica A floresta amazônica tem efeito dosa- dor e dissipador de eventos climáticos extremos, como os furacões. A textura absorvente do dossel florestal funciona como uma “barreira” que atenua a ener- gia dos ventos e inibe a organização de furacões pela ocorrência dos ventos la- terais gerados pela “bomba biótica”. A fricção turbulenta local dos ventos com o dossel da floresta impede a concen- tração de energia dos ventos destrutivos de furações e tornados. É importante chamar a atenção para a inter- dependência dos cinco fenômenos citados. Apesar de singulares na sua função, eles se complementam e estão associados à presença da floresta, à sua densidade, extensão e diver- sidade ecológica. Nobre (2014) destaca o aspecto espetacular do funcionamento da floresta e oferece uma narrativa sobre o ciclo hidrológico: Depois que as nuvens precipitam seu precioso líquido sobre a flores- ta, grande parte da água se esguei- ra por entre o dossel e infiltra-se pelo permeável solo florestal, onde é armazenada no pacote poroso do solo, ou mais abaixo, em aquíferos gigantescos, verdadeiros oceanos subterrâneos de água doce. A água do solo começa seu retor- no para a atmosfera absorvida por profundos e sofisticados sugado- res, as raízes; depois sobe desa- fiando a força da gravidade por 40 a 60 m, ou mais, em elaboradas tubulações no xilema dos troncos. Sua última etapa passa pelas es- truturas laminares evaporadoras das folhas, versáteis painéis so- lares químicos capazes de absor- ver a energia do sol e aproveitar a carícia dos ventos para transpirar e transferir copiosos volumes de água vaporosa para a atmosfera, completando assim o retorno do ciclo vertical iniciado com a chuva (NOBRE, 2014, p. 13). Assim, em concordância com o que conclui Nobre (2014), a Floresta Amazônica tem uma importância central para as atividades huma- nas que necessitam de chuvas e de um clima ameno, além de servir como proteção contra eventos extremos que possam causar prejuí- zos materiais e perdas de vidas. Acesse o relatório de avaliação cien- tífica denominado Futuro climático da Amazônia, de Antônio Donato Nobre. Disponível em: http://www.ccst.inpe.br/wp-content/uploads/2014/10/Futuro- Climatico-da-Amazonia.pdf Saiba Mais! http://www.ccst.inpe.br/wp-content/uploads/2014/10/Futuro-Climatico-da-Amazonia.pdf http://www.ccst.inpe.br/wp-content/uploads/2014/10/Futuro-Climatico-da-Amazonia.pdf http://www.ccst.inpe.br/wp-content/uploads/2014/10/Futuro-Climatico-da-Amazonia.pdf 13 | Página12 | Página 1.3 A vegetação e a importância para a biodiversidade Abocanhando 49,29% do território brasileiro, a Amazônia é hoje o maior bioma do mundo, que abrange nove países (Brasil, Paraguai, Bolívia, Peru, Equador, Colômbia, Venezuela, Guiana Francesa e Suriname). São cerca de 40 mil espécies de plantas, 300 espécies de mamí- feros, 1,3 mil espécies de aves, habitando em 4,196.943 km² de florestas densas e abertas. (ICMBIO, 2015) O Bioma Amazônia se caracteriza pela pre- valência de cobertura florestal caracterizada como Florestas Úmidas, Florestas Pluviais Tropicais, atualmente denominadas de Florestas Ombrófilas Densas (ombrófilo, do grego: amiga da chuva), terminologia adotada pelo IBGE (2012). Tais florestas dominam tanto as planícies alu- viais dos rios quanto as terras mais secas ou altas, predominantes e identificadas como re- gião de Terra Firme (VIEIRA, 1992). Planícies aluviais São áreas de pouquíssima inclinação, formadas pelo acúmulo, ao longo do tempo, dos sedimentos transportados pelos rios. Saiba Mais! Essas florestas correspondem a 41,67% do Bioma Amazônia (MMA, 2006), sendo compos- tas, em geral, por árvores altas com dossel. Podem ou não apresentar árvores emergentes e se distribuem sobre ambientes diferenciados, recebendo então denominações mais específi- cas, a seguir listadas: • Floresta Ombrófila Densa Aluvial, que se distribui ao longo das planícies aluviais formadas pela deposição dos sedimentos carregados pelos rios. • Floresta Ombrófila Densa de Terras Baixas, geralmente distri- buída nas planícies costeiras. • Floresta Ombrófila Densa Submontana, distribuída em solos mais secos alcançado o gradiente de 600 m a oeste e nas encostas dos planaltos e sobre estas quando da ocorrência de solos mediana- mente profundos. • Floresta Ombrófila Densa Montana, distribuindo-se entre 600 m e 2000 m de altitude, nos platôs e serras mais elevadas da Amazônia. Dossel É a parte superior das florestas, princi- palmente tropicais, que atinge entre 30 m e 50 m de altura. É um “oceano verde e vivo” ocupado pela copa das árvores, que atuam como uma barreira física às gotas de chuva e um filtro para a radia- ção solar. Estudos recentes demonstram que guardam uma enorme biodiversida- de (de 70% a 90% das formas de vida das florestas tropicais). Saiba Mais! A variação mais marcante da Floresta Ombrófila Densa ocorre na Floresta Ombrófila Densa Aluvial, nas planícies ao longo do rio Amazonas e de seus grandes afluentes, onde se situam duas grandes formações vegetais: • Matas de várzeas – periodica- mente inundadas pelas flutuações cíclicas dos rios. • Matas de igapó – permanente- mente inundadas ao longo de ex- tensas áreas marginais. 14 | Página Entre outras formações florestais no Bioma Amazônia, que não se enquadram na catego- ria de Floresta Ombrófila Densa, destaca-se a ocorrência de: • Floresta Ombrófila Aberta – li- gada à transição climática de úmi- do a seco. • Florestas Estacionais Semideciduais / Deciduais – até pouco tempo, eram considera- das como transições do Bioma. Apresentam quatro faciações flo- rísticas que alteram sua fisionomia: com palmeiras, com cipós, com bambus e com sororocas. Deciduais Decidual vem do latim “decidua”, que sig- nifica "cair"; uma floresta semidecidual tem uma dupla estacionalidade climáti- ca, com a queda das folhas em períodos secos. O nível de decidualidade pode variar em relação à duração do período de seca, às temperaturas mínimas e má- ximas e à deficiência do balanço hídrico. Faciações florísticas São parâmetros particulares ou subdivi- sões dentro de uma paisagem vegetacio- nal que se diferenciam fisionomicamente do restante dos perfis (por exemplo, o dossel que domina na floresta). Saiba Mais! Essas alterações refletem adaptações ecos- sistêmicas às condições geomorfológicas de formação dos solos: as comunidades florestais com palmeiras ou com bambus em geral reves- tem terrenos areníticos; as comunidades com sororocas e com cipós revestem preferencial- mente as depressões do embasamento pré- cambriano (mais antigo) e encostas do relevo dissecado dos planaltos. Além das formações florestais, o Bioma Amazônia apresenta também outras tipologias vegetacionais: • savana; • campinarana; • formações pioneiras; • refúgio vegetacional e suas va- riações transicionais. As áreas de transição em geral coincidem com faixas de transição climática e de contato entre formações geológicas distintas. O quadro que segue apresenta, em síntese, as principais tipologias vegetacionais do Bioma e suas respectivas áreas de ocorrência. TIPOLOGIAS VEGETACIONAIS DO BIOMA OCORRÊNCIA Floresta Ombrófila Densa Em toda a área central do Bioma ao longo da calha dos rios Solimões, Amazonas e afluentes. Floresta Ombrófila Aberta No Acre, em Rondônia, no leste e no sul do estado do Amazonas, no norte do Mato Grosso e no norte do Maranhão. Floresta Estacional Semidecidual No sul de Rondônia e no sudoeste do Mato Grosso. Floresta Estacional Decidual Na Serra do Cachimbo, sudoeste do Pará. 15 | Página14 | Página TIPOLOGIAS VEGETACIONAIS DO BIOMA OCORRÊNCIA Campinarana Em Rondônia e no norte do estado do Amazonas acompa- nhando o curso dos rios Negro e Branco. Savana Em Roraima, no norte do Pará, no Amapá, na Ilha de Marajó, no sul do estado do Amazonas e em Rondônia. Savana estépica Norte de Roraima. Formações pioneiras Nas tipologias de mangue presentes no litoral do Amapá, Pará, inclusive Ilha de Marajó e Maranhão e as formações com in- fluência fluvial/lacustre referentes às planí- cies aluviais ao longo do médio e baixo rio Amazonas, afluentes e Ilha de Marajó. Refúgio vegetacional Norte do estado do Amazonas e sudoeste do Pará. O quadro anterior permite constatar a grande diversidade vegetacional, tanto das formações florestais quanto das tipologias não florestais do bioma e, a partir dessa percepção, considerar a Amazônia sem a lente da “homogeneidade”. Formações geológicas distintas, e suas trans- formações ao longo dos tempos, criaram dis- tintas geomorfologias e consequentemente ambientes biogeográficos diferenciados. A in- teração das diversas formas de vida animal e vegetal e, principalmente, na atualidade, com a ocupação humana, tem criado paisagens dis- tintas de diferentes matizes naturais e culturais. A cada um desses domínios paisagísticos as- sociam-se ecossistemas, que são, ao mes- mo tempo, diferenciados e interdependentes. Devemos observar que essa diversidade pai- sagística é cada vez mais resultado de altera- ções antrópicas que evoluíram em tempos e modos tecnológicos diferenciados por meio da história da evolução socioambiental da região. Antrópicas Termo derivado da raiz grega anthropos – humano. É muito usado em Ecologia para se referir às causas associadas à ação humana sobre o habitat e as trans- formações resultantes dela. Saiba Mais! O Bioma Amazônia, devido a sua extensa abrangência, gênese, geomorfologia, condi- ções de solo, influência hídrica e particularida- des climáticas, apresenta flora extremamente variada e rica que, associada à fauna, aos fun- gos e micro-organismos, contribui para o ba- lanço ecológico do bioma. A conservação dessa biodiversidade está sustentada pelo equilíbrio das con- dições ambientais dos elementos de sua própria formação. Isto significa dizer que alterações no regime hidrológico, no cli- ma e nos processos de disponibilização de nutrientes do solo via interação fauna/ flora e micro-organismos podem causardanos irreversíveis ao Bioma, depen- dendo de sua escala e magnitude. Atenção! A conservação da biodiversidade do Bioma Amazônia é um tema emergente em diversas 16 | Página escalas. No plano local, o tema é cada vez mais relevante na medida em que grupos so- ciais se ressentem dos efeitos negativos de algumas atividades produtivas e da expansão urbana descuidada. Essas atividades, que causam prejuízos à biodiversidade, afetam a produtividade pesqueira, a disponibilidade de espécies vegetais de subsistência e, também, a qualidade das águas. A importância da conservação da biodiversida- de do Bioma Amazônia também se consolidou no plano internacional e na esfera política/insti- tucional, via pressões de ONGs e representan- tes governamentais. A atenção internacional, além de alavancar ini- ciativas de suporte para ações locais de preser- vação ambiental e de comunidades indígenas, tem promovido numerosos estudos científicos que contribuem para dar suporte à implemen- tação de políticas, planos, projetos e ações de defesa e de desenvolvimento sustentável. A biodiversidade representa, além do valor cultural atribuído à preservação do ambiente natural, um verdadeiro estoque de material ge- nético no campo biotecnológico. Além do va- lor comercial, tal estoque está associado, por exemplo, à segurança alimentar e à produção de medicamentos. E, por ser indispensável à manutenção da cobertura florestal, a biodiver- sidade está diretamente associada às funções climáticas da Floresta Amazônica. Além disso, em função da preocupação com eventos associados à perda de biodiversidade e às mudanças climáticas, os quais têm impac- tos diretos sobre a sociedade humana, institui- ções científicas têm investido na estocagem de sementes em estado de dormência abrigadas em estruturas artificialmente mantidas sob es- trita regulagem climática. As florestas, em adi- ção às suas outras funções, também desempe- nham esse papel, contribuindo para assegurar, dentro do seu raio de influência, a manutenção da vida no planeta. Existem ainda outros elementos alvo de es- forços de conservação no Bioma Amazônia devido a sua importância cultural, econômica e ambiental. Sobre essa diversidade, o Ministério do Meio Ambiente afirma que: As estimativas situam a região ama- zônica como a maior reserva de ma- deira tropical do mundo. Seus recur- sos naturais – que, além da madeira, incluem enormes estoques de borra- cha, castanha, peixe e minérios, por exemplo – representam uma abun- dante fonte de riqueza natural. A re- gião abriga também grande riqueza cultural, incluindo o conhecimento tradicional sobre os usos e a forma de explorar esses recursos naturais sem esgotá-los nem destruir o habi- tat natural. (MMA, 2015). É fundamental perceber que todo o po- tencial natural ou econômico do Bioma Amazônia não esconde sua fragilidade. A floresta vive a partir de seu próprio ma- terial orgânico, via reciclagem natural de nutrientes. Seu delicado equilíbrio é ex- tremamente sensível a quaisquer inter- ferências de eliminação da vegetação. Uma vez eliminada a floresta, o solo se torna árido, improdutivo e incapaz de es- tocar quantidade significativa de nutrien- tes. (RICHARDS, 1981). Atenção! A questão crítica para a manutenção da rique- za natural da Amazônia é a contradição entre a importância da sua biodiversidade e as demais funções ambientais e o quadro de ocupação humana da região que se caracteriza por: • baixos índices socioeconômicos da região; • carência de tratamento ade- quado às populações nativas e tradicionais; 17 | Página16 | Página • confusos padrões de propriedade das terras; • baixa densidade demográfica; • expansão urbana indiscrimina- da com seus impactos negativos associados; • avanço do agronegócio em áreas de florestas nativas; • diferentes fases do processo de desmatamento para abertura de novas áreas de produção agrope- cuária e extração de madeira. A Amazônia tem uma importância que vai além da escala nacional. A geopolíti- ca da Amazônia é título e tema de um ar- tigo que trata justamente das demandas pelo planejamento do desenvolvimento da região abordando os diversos interes- ses envolvidos nesse processo. Disponível em: http:/ /www.scielo.br/scielo.php?pi- d=s0103=40142005000100005-sscript- sci_arttext Saiba Mais! http://www.scielo.br/scielo.php?pid=s0103-40142005000100005&script=sci_arttext http://www.scielo.br/scielo.php?pid=s0103-40142005000100005&script=sci_arttext http://www.scielo.br/scielo.php?pid=s0103-40142005000100005&script=sci_arttext 18 | Página Histórico de Exploração e Colonização no Bioma Amazônia 2. 19 | Página18 | Página 2. HISTÓRICO DE EXPLORAÇÃO E COLONIZAÇÃO NO BIOMA AMAZÔNIA 2.1 Colonização e ocupação A navegabilidade do rio Amazonas viabilizou, já no século XVI, a incursão europeia, iniciando o ciclo de iniciativas de “conquistas” do terri- tório amazônico na região das várzeas do rio. Assim, a Amazônia começou a ser explorada a partir de seus rios e a população nativa às mar- gens desses rios foram os primeiros grupos sociais a serem afetados (FRAXE, PEREIRA e WITKOSKI, 2007). Relatos de viajantes da época indicam a exis- tência de verdadeiras “cidades” às margens do Amazonas, que rapidamente foram destru- ídas pelos invasores, o que resultou na fuga dos sobreviventes para áreas de terra firme e altas cabeceiras dos rios. Algumas tribos indí- genas encravadas na floresta e parte dos ha- bitantes atuais das várzeas são os herdeiros dessa cultura. O conceito romântico e misterioso que paira- va sobre a Amazônia inspirou, no século XIX e nos anteriores, muitas viagens de aventureiros e conquistadores. Mas, em paralelo, inspirou também importantes incursões científicas. Dentre tais incursões, se destaca a de Von Humboldt pela sua importância. Suas obser- vações constituem, ainda hoje, fonte de inspi- ração científica. A atualidade do seu enfoque analítico se deve ao pioneirismo no uso asso- ciado de conceitos ecológicos, geográficos e meteorológicos, sugerindo suas interdepen- dências (Humboldt,1807). A visão naturalista, positiva e investigati- va sobre a floresta, típica de um período de descobertas e interesses pelo exótico, con- siderado como romântico, foi substituída, no início do século XX, pela visão antagônica do homem contra uma natureza considerada agressiva. 20 | Página Uma nova visão surgiu, amparada no desejo de conquista e construída na experiência da árdua sobrevivência dentro de um ambiente desconhecido visando à sua exploração eco- nômica e à ampliação de fronteiras. Muitas vi- das humanas foram perdidas nessas aventu- ras visionárias. A imagem exótica de Paraíso Verde foi sendo apagada pela imagem de Inferno Verde. Esse conceito se consolidou a partir de iniciativas desastradas de domínio da floresta e do de- sencanto com o encerramento do ciclo econô- mico da borracha e o declínio econômico daí decorrente. Com a construção de Brasília, a partir da me- tade do século passado, governos civis e mili- tares se empenharam na conquista do “Inferno Verde”, objetivando a estruturação de uma territorialidade nacional mais interiorizada. Programas de colonização foram implemen- tados e a ocupação militar das fronteiras foi priorizada, juntamente com a necessidade de expansão de novos mercados em áreas consi- deradas pouco “exploradas”. A Amazônia e suas áreas de transição se trans- formaram então no novo “eldorado”. É a fase do predomínio da visão nacionalista e desenvolvimentista, calcada na total ignorância sobre o funcionamento da floresta e seus pro- cessos naturais de interdependência. O acesso à floresta e a ligação entre importan- tes cidades-polo regionais usualmente propi- ciados pela navegação na imensa rede hidro- gráfica foram então ampliados pela construção de ferrovias e posteriormente de extensas ro- dovias cortadas no seio da floresta virgem. 2.2 Construção de ferroviase rodovias Um marco importante da ocupação da Amazônia foi o início da construção das estra- das de ferro. 2.2.1 A ferrovia Madeira-Mamoré A construção da primeira estrada de ferro teve início no estado do Pará, no final do século XIX, com o objetivo de escoamento de produção. Conhecida como Madeira-Mamoré, de grande dificuldade construtiva e com percurso de 366 km, só foi viabilizada em 1913, após quatro tentativas iniciadas 40 anos antes. Sua cons- trução causou a morte de mais de 6.200 pesso- as em virtude da precariedade das condições de trabalho e das adversidades ambientais. Ferrovia Madeira-Mamoré A seguir, ocorreu a implantação de nova ferro- via no estado do Amazonas, visando ao esco- amento para o Atlântico de riquezas minerais da Bolívia, contornando as 21 cachoeiras do rio Madeira. As ferrovias começaram a perder sua impor- tância entre as décadas de 60 e 70 do século passado, com o surto de construção das rodo- vias. (BATISTA, 1976). As rodovias também tiveram um papel funda- mental na ocupação da Amazônia. Tentativas locais de construção de rodovias de curto percurso ocorreram no estado do Pará, ligando núcleos urbanos ou contornando tre- chos encachoeirados dos rios Tocantins, Xingu e Tapajós. No Amazonas várias tentativas in- frutíferas ou de curta sustentabilidade foram feitas no sentido de integrar o Acre ao territó- rio nacional, após o fim dos litígios de fronteira com a Bolívia. 21 | Página20 | Página 2.2.2 A construção de Brasília A construção de estradas locais ligando Manaus a cidades próximas com o objetivo de fomentar a instalação de núcleos agrícolas só avançou na década de 50. Mas, na verdade, o que permane- cia evidente era que a região Amazônica continu- ava isolada do resto do território nacional. Esse fato inspirou o presidente Juscelino Kubitschek a transformar Brasília em “um trampolim para a conquista da Amazônia” (BATISTA, 1976), ou seja, um ponto de ligação com o norte do país. 2.2.3 A construção da Brasília-Belém A década de 60 foi marcada pelo investimen- to em rodovias de longo percurso, tornando-se uma prioridade nacional para a integração da Amazônia com o resto do país, principalmente com o centro do poder federal. A construção da Brasília-Belém (norte-sul) ini- ciada em 1960 − concluída apenas em 1976 − junto com a construção da ligação rodoviá- ria de Brasília com Porto Velho visando atingir o Acre em 1961 possibilitou a localização de cerca de 2 milhões de pessoas no seu entorno (BATISTA, 1976). Fazendas de gado e cidades vicejaram, com destaque para o Município de Paragominas (terras do Pará, gado de Goiás e gente de Minas), em virtude das condições geográfi- cas propícias para a plantação de gramíneas forrageiras. Apesar do destaque dado à rodovia Brasília- Belém, foi a rodovia Brasília-Acre aquela considerada como estratégica para o país, motivando a declaração de Kubitschek em 1960: “A Brasília-Acre é mais importante do que a Brasília-Belém, pois Belém tem saída para o Atlântico, ao passo que esta região se via terrivelmente confinada, sem um pulmão por onde pudesse respirar.” (BATISTA, 1976). É importante destacar a incrível diferença de paradigmas na comparação com os dias atu- ais. Na década de 60, na região norte, as es- tradas eram comparadas aos pulmões, pois traziam vida às cidades asfixiadas pela mata. Contudo, atualmente, a floresta é vista como o “sustento” da vida! 2.2.4 A Transamazônica Na década de 70, com os governos militares, surgiu a concepção da Transamazônica − ro- dovia transversal que cortava a Amazônia de leste ao oeste − com a finalidade de integrar a região ao Nordeste e estabelecer conexões ro- doviárias com os portos fluviais já consolidados na região. Transamazônica Isso estabeleceu, então, a “conquista” da Amazônia por populações e práticas “impor- tadas”, completamente alheias à realidade da 22 | Página região e à de seus povos tradicionais. Essa prá- tica gerou conflitos e calamidades, algumas irre- versíveis, com destaque para a perda galopante daquilo que é considerado no jargão econômi- co, como “ativos” florestais ou “capital” florestal. 2.3 Políticas de colonização do governo Migrações internas significativas, oriundas do Nordeste, do Sul e do Sudeste, foram atraí- das pelas políticas de colonização do governo. Novos povoados surgiram e se expandiram, originando Municípios, alguns de origem asso- ciada às companhias colonizadoras. A agropecuária se tornou um grande negócio, atraindo grandes investidores e, como supor- te, expandindo sistema bancário e o industrial, bem como atraindo empresas médias de di- versos setores, graças aos benefícios fiscais e subsídios públicos ofertados. Os estados do Mato Grosso, Tocantins e parte dos estados do Pará, Maranhão, Rondônia e Roraima são detentores de um modelo de ocu- pação extensivo em área (BECKER, 2005). Em contraste, o modelo de ocupação do estado do Amazonas é pontual, baseado na concen- tração industrial na Zona Franca de Manaus, mediante investimentos em alta tecnologia. Os estados do Acre e do Amapá são identificados com a implementação de modelos de ocupação territorial baseados na utilização da floresta. É importante registrar que a inserção de ati- vidades agropecuárias na região privilegiou a área de transição ao cerrado que ocorre ao sul da região (Mato Grosso), em virtude de con- dições mais propícias de menor pluviosidade e melhor acessibilidade, ao contrário da região das várzeas, que margeiam os canais fluviais. As áreas de várzeas, formadas por planícies inundáveis de depósitos formados a partir da última glaciação (cerca de 11 mil anos atrás), embora sejam ambientes produtivos e ricos em recursos, quando comparadas aos ambientes de terra firme, apresentam um ambiente ins- tável para a agricultura (FRAXE, PEREIRA e WITKOSKI, 2007). Sua dinâmica, caracterizada por flutuações drás- ticas e anuais das águas, impõe limitações para as formas de uso produtivo dos recursos dispo- níveis. Mas, sendo previsíveis, essas alterações sazonais e cíclicas permitem que agricultores desenvolvam, em pequena escala, estratégias adaptativas que vêm garantindo, gerações após gerações, a ocupação humana das várzeas seja como espaço de moradia ou de uso. Assim, ao contrário das áreas de cobertura flo- restal ou de suas áreas transicionais, as vár- zeas podem hoje ser consideradas como uma “fronteira agrícola” consolidada. Configuram ambientes que provavelmente continuarão a ser ocupados produtivamente pela agricultura familiar, ou de pequena escala, distintos da- quelas áreas de terra firme alcançadas pela abertura de rodovias e em constante alteração antrópica, foco do agronegócio. Conheça o documentário “Amazônia Revelada: os descaminhos ao longo da BR-163”. Disponível em: <https://www.youtube. com/watch?v=6P2eqk_ha2I>. Saiba Mais! https://www.youtube.com/watch?v=6P2eqk_ha2I https://www.youtube.com/watch?v=6P2eqk_ha2I 23 | Página22 | Página Desmatamento e Atividades Econômicas no Espaço Rural da Amazônia 3. 24 | Página 3. DESMATAMENTO E ATIVIDADES ECONÔMICAS NO ESPAÇO RURAL DA AMAZÔNIA A presente unidade oferecerá um panora- ma geral do desmatamento na Amazônia, com ênfase nos processos da década atual. Complementarmente, trataremos das princi- pais atividades econômicas do espaço rural amazônico que estão associadas diretamente ao desmatamento, buscando caracterizá-las no contexto da dinâmica econômica regional. 3.1 O Desmatamento no Bioma Amazônia A distribuição espacial das áreas desma- tadas até o ano de 2012 (INPE/PRODES, 2012) segue um padrão espacial de maior concentração nas áreas de fronteira entre o Bioma Amazônia e o Bioma do Cerrado. Tais áreas correspondem também às áreas de ex- pansão da fronteira agrícola e de maior con- centração de rodovias federais e estaduais. Esse cenário amplamente conhecido de re- lação entre desmatamento, aberturade es- tradas e avanço da fronteira agropecuária na Amazônia representa um grande desafio à gestão ambiental no Bioma, uma vez que as rodovias são importantes vetores de inte- gração dos Municípios da região entre si e com as regiões vizinhas, e que as atividades agropecuárias são elementos importantes para geração de renda para a população e para o PIB de diversos Municípios. Dentre as produções agropecuárias, a pecu- ária extensiva e a lavoura “convencional” – em especial a de soja – impõem pressão pela derrubada de grandes extensões de floresta para a sua expansão, e não são, em geral, produções relacionadas a produtores familia- res de pequeno e médio porte. As rodovias, apesar do papel de conectivida- de espacial, tornam acessíveis e/ou viáveis novas áreas à ocupação regular e irregular, 25 | Página24 | Página à exploração legal e ilegal de madeira e ao surgimento de novas vilas e pequenos núcle- os urbanos. Conheça o Projeto PRODES de Monitoramento da Floresta Amazônica Brasileira por Satélite, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), que monitora o avanço do desmatamen- to por derrubada de áreas significativas da vegetação florestal na Amazônia des- de 1988 e fornece as taxas anuais de desmatamento utilizadas pelo governo brasileiro para o estabelecimento de po- líticas públicas. Disponível no endereço: http://www.obt. inpe.br/prodes/index.php Saiba Mais! Além disso, conforme aponta Castro (2005), com base em Araújo (2003), a ilegalidade so- cial e ambiental segue como um traço marcan- te das áreas de fronteira agropecuária no início do século XXI. Segundo a autora, “A apropria- ção indevida de terras públicas, de créditos públicos destinados ao desenvolvimento de re- cursos naturais e do patrimônio milenar de po- pulações locais tem financiado os setores pro- dutivos e o mercado.” (CASTRO, 2005, p. 34). Os estados com maior desmatamento acumu- lado em áreas de Bioma Amazônia até 2012 foram Tocantins, Maranhão, Rondônia e Mato Grosso. Dentre esses, apenas Rondônia en- contra-se integralmente no Bioma. Os quatro estados encontram-se acima da média da área desmatada por estado, para a área abrangida pelo programa, com destaque para os estados do Maranhão e Tocantins, que ultrapassam o dobro da porcentagem de desmatamento médio dos estados, como po- demos observar no gráfico da Figura 2. Figura 2 - Gráfico do desmatamento acumulado em relação à área dos estados até 2012(INPE/ PRODES , 2012). Tal cenário reforça a gravidade da intensida- de do desmatamento nas áreas de fronteira agropecuária, coincidente com a interface do Bioma Amazônia com o Cerrado. O acúmulo do desmatamento na escala municipal reflete o cenário da escala estadual. Contudo, há significativa heterogeneida- de, em especial nos estados do Pará, Mato Grosso e Acre, que remete à interpretação da relevância da presença de eixos rodovi- ários para o avanço do desmatamento, uma vez que o desmatamento é mais intenso, na maioria dos casos, em Municípios atravessa- dos pelos principais eixos rodoviários. Conforme apontam estudos das organiza- ções não governamentais Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (IMAZON), Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) e Instituto Socioambiental (ISA), hou- ve um aumento significativo do desmatamen- to entre os anos de 2012 e 2013, discrepan- do da tendência de diminuição que ocorria desde 2004. http://www.obt.inpe.br/prodes/index.php http://www.obt.inpe.br/prodes/index.php 26 | Página Diversos fatores são apontados por essas instituições como causas do recente aumen- to, algumas das quais já amplamente conhe- cidas. O aumento dos preços dos produtos agrícolas tem, historicamente, influência no aumento do desmatamento, inclusive para fins especulativos. Grandes obras de infraestrutura – como as- faltamento de estradas e construções de hi- drelétricas e de portos – são intervenções que, ao alterarem as dinâmicas econômicas e sociais das regiões, interferem diretamen- te sobre a abertura de novas áreas por meio de desmatamento. Esse é um quadro que se agrava frente às fracas contrapartidas am- bientais e medidas mitigadoras de impactos sociais e ambientais. Além disso, algumas mudanças da legislação ambiental colaboraram para o aumento do desmatamento na região. Pode-se citar, como exemplo central, o novo Código Florestal — Lei Nº 12.651/ 2012, que, anistiando diversas formas de desmatamento ocorridos antes do ano de 2008, criou, segundo as ONGs men- cionadas, expectativas de que novos desma- tamentos também fossem anistiados. Outras ações tomadas pelo poder público também impactaram no enfraquecimento da proteção ambiental do Bioma Amazônia, como a proposta de redução de áreas de Unidades de Conservação e ameaças de enfraquecimento dos direitos indígenas, da PEC nº 215/2000. Não obstante, boa parte do desmatamento ocorrido no ano de 2013 se deu em terras públicas ainda não desti- nadas e em áreas sem informações fundiá- rias (IMAZON, IPAM e ISA, 2014), o que, em conjunto com a questão produtiva/econômica das atividades agropecuárias, reforça a ne- cessidade do adequado planejamento e ges- tão das estruturas fundiárias na região. De fato, a semelhança entre a localização espacial dos Municípios de maior desmata- mento acumulado e os de maior valor de pro- dução agropecuária por quilômetro quadrado (IBGE, 2012) é nítida nos estados do Mato Grosso, Rondônia e Pará. Assim como a pre- sença de estruturas rodoviárias com acesso e escoamento da produção, como anterior- mente mencionado. É relevante considerar que, apesar da ampla utilização dos dados oriundos de monitora- mento do desmatamento por meio de sen- soriamento remoto, como os utilizados pelo INPE, há uma carência de estudos acerca do corte seletivo. Os sensores remotos ge- ralmente utilizados para estudos de desma- tamento na Amazônia são eficientes para detectar o “corte raso”, ou seja, áreas de re- moção de vegetação florestal. O uso de geotecnologias, como o sen- soriamento remoto, é cada vez mais frequente e eficiente na gestão e no mo- nitoramento ambiental, além de outras atividades associadas à gestão territorial municipal. Conheça mais sobre sensoriamen- to remoto no curso complementar de Introdução às Geotecnologias ofereci- do pelo Programa de Qualificação da Gestão Ambiental – Municípios Bioma Amazônia. Disponível em: http://www.amazonia-i- bam.org.br/site_content/15-cursos-de- capacitacao-em-gestao-ambiental/23-in- troducao-a-geotecnologia Saiba Mais! Contudo, o “corte seletivo” remove apenas alguns indivíduos vegetais e, apesar de http://www.amazonia-ibam.org.br/site_content/15-cursos-de-capacitacao-em-gestao-ambiental/23-introducao-a-geotecnologia http://www.amazonia-ibam.org.br/site_content/15-cursos-de-capacitacao-em-gestao-ambiental/23-introducao-a-geotecnologia http://www.amazonia-ibam.org.br/site_content/15-cursos-de-capacitacao-em-gestao-ambiental/23-introducao-a-geotecnologia http://www.amazonia-ibam.org.br/site_content/15-cursos-de-capacitacao-em-gestao-ambiental/23-introducao-a-geotecnologia 27 | Página26 | Página causar impactos significativos na biodiver- sidade, pouco altera o padrão de resposta à radiação eletromagnética do conjunto das copas das árvores, seja por conta da reso- lução espacial, radiométrica, ou espectral inadequada dos sensores, seja por conta do fato de parte dos indivíduos vegetais re- movidos estarem com suas copas localiza- das abaixo dos indivíduos de maior porte. Contudo, há estudos avançados na elabora- ção e proposição de metodologias para de- tecção e monitoramento dessa modalidade de desmatamento. Existem duas formas principais pelas quais ocorre a extração de madeira, co- mumente chamadas de corte seletivo e de corte raso. O corte seletivo é caracterizado pela derrubada e extração de pequenas quan- tidades de indivíduos vegetais, muitas ve- zes selecionados, em meio aos demais,em função de seu maior valor de merca- do. Esse tipo de corte é mais difícil de ser detectado por instrumentos de monitora- mento por sensoriamento remoto. O corte raso ocorre com a abertura de grandes áreas em meio à floresta, na maioria dos casos com o uso de maqui- nário e com o intuito de que a área sirva a outras atividades, como a lavoura e a pecuária, após o corte da floresta. Atenção! 3.2 Atividades econômicas no ambiente rural associadas ao desmatamento Trataremos agora de caracterizar as prin- cipais atividades econômicas no meio rural Amazônico que, direta ou indiretamente, es- tão associadas ao desmatamento e à gestão ambiental. 3.2.1 Lavoura Com relação à produção de lavoura permanen- te, o estado de Rondônia, com a produção de café, e o estado do Pará, com pimenta-do-rei- no, destacam-se, atingindo valores de apro- ximadamente 291 milhões e 346 milhões de reais, respectivamente, no ano de 2012. Tais valores são equivalentes a 277 reais por km² no Pará e 1.225 mil reais por km² em Rondônia, considerando a razão do valor da produção pe- las áreas dos estados (IBGE, 2013). Já em relação à lavoura temporária, a de soja, no Mato Grosso, esta destaca-se muito em relação às demais produções, atingindo valor absoluto de 14,9 bilhões de reais e 16,5 mil reais por km². Destacam-se, ainda, as produções de soja do Maranhão, com valor absoluto de 1,22 bilhões de reais e 3,6 mil re- ais por km², e mandioca, no Pará, com valor absoluto de 1,19 bilhões de reais e 951 reais por km² (IBGE, 2013). Cabe ainda mencionar que, além do alto valor de produção da soja no Mato Grosso, observa-se também nos demais estados do Bioma Amazônia uma tendência geral de aumento do valor de produção de soja entre os anos de 2008 e 2012. Isto ocorre exceto no estado do Acre, para o qual o IBGE não contava com dados disponíveis referentes ao ano de 2012, apesar do aumento do valor de produção entre 2008 e 2010 (IBGE, 2013). O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) disponibiliza um vas- to acervo de dados oriundos de suas di- versas frentes de coleta de informações sobre as regiões, estados e Municípios do país. Parte significativa desses da- dos pode ser facilmente coletada por meio do Sistema IBGE de Recuperação Automática (SIDRA). Disponível em: http://www.sidra.ibge. gov.br/ Saiba Mais! 28 | Página O gráfico da Figura 3 nos permite comparar o valor de produção de soja nos estados do Bioma Amazônia nos anos de 2008, 2010 e 2012. É possível notar que, apesar de o esta- do do Mato Grosso se destacar dos demais, há tendência de aumento no valor da produ- ção em todos os estados do Bioma. Contudo, o valor da produção de soja nos es- tados do Acre, do Amazonas e de Roraima ainda é muito inferior ao dos demais esta- dos, evidenciando que a fronteira da soja, até 2012, ainda não avançava de forma expres- siva sobre esses estados. Figura 3 - Valor da produção de soja. Fonte: IBGE/SIDRA - 2013 O cultivo da soja é uma das principais ativi- dades econômicas associadas ao desmata- mento e a outros impactos ambientais sobre o Bioma Amazônia. É, em muitos casos, im- plantado, com grau significativo de mecani- zação e uso de insumos químicos, após o es- gotamento do solo pela atividade de pecuária bovina extensiva. O cultivo da soja vem sendo incentivado há décadas no Bioma do Cerrado e, na úl- tima década, avança rapidamente sobre a Amazônia, estando já consolidado nas áreas de transição entre os dois biomas. Segundo Fernández (2007), temos três fases da produção de soja no Brasil: • Até o início da década de 1970: marcada pela introdução no Brasil, na região Sul. • Entre 1970 e 1985: marcada pela modernização da atividade, incen- tivada por programas de crédito, expansão de infraestrutura, inves- timentos em pesquisa, programas de colonização – que induziram fluxos migratórios da região Sul para o Centro-Oeste e Norte, tam- bém em função de outras ativida- des – e formação dos “complexos agroindustriais”. • De 1985 até a metade da primei- ra década do século XXI: marcada pela expansão e consolidação da agricultura mecanizada no Cerrado e pelo avanço da lavoura de soja em direção ao Bioma Amazônia. Com obra referente à terceira fase, Kohlhepp (2002) chamava a atenção para o fato de que, 29 | Página28 | Página se por um lado havia programas inovadores voltados à proteção da floresta amazônica oriundos de parcerias internacionais, por ou- tro, diversos países europeus e o Japão es- timulavam a expansão da produção de soja, com apoio de investimentos públicos e priva- dos em infraestrutura e pesquisa. Tais processos se enquadravam perfeitamen- te no cenário estudado por Becker (2004), que consistia em uma forte contradição entre o modelo de desenvolvimento adotado para a região e os ideais de sustentabilidade. A pesquisadora cita como exemplos, na segun- da metade da década de 1990, as diversas ini- ciativas de criação de corredores ecológicos, proteção de recursos naturais e incentivo ao desenvolvimento de atividades sustentáveis locais e regionais, enquanto, em oposição, im- plantavam-se amplos corredores de desenvol- vimento, com foco no crescimento econômico. Para Becker (2004), a Amazônia do final do século XX foi marcada por esses dois cená- rios que se contrapõem, embora com sinais de mudanças. Tais cenários refletiam o inte- resse nacional em seus valores (econômicos e históricos) e, também, a incorporação de demandas por cidadania. A incorporação desses interesses e demandas no planejamento do desenvolvimento da re- gião gerou dois modelos de políticas públicas desarticuladas e conflitantes, visando ao de- senvolvimento por meio de estratégias territo- riais seletivas, porém embasadas por concei- tos de desenvolvimento praticamente opostos. Enquanto o primeiro modelo baseava-se em investimentos em infraestrutura, com foco no crescimento econômico e na integração ao mercado nacional e internacional, o segundo privilegiava as questões regionais e locais, dando primazia à busca por soluções para os problemas das populações tradicionais e à proteção ambiental. Assim, os atuais investimentos na produção de soja em larga escala, o enfraquecimento da legislação ambiental e dos direitos das populações indígenas e investimentos em grandes obras de infraestrutura representam indícios da continuidade – ou da retomada – desse cenário dicotômico na Amazônia. Se tais investimentos encontram-se de um “lado”, do outro “lado” ocorrem inciativas de descentralização da gestão ambiental para a escala municipal, de implantação do Cadastro Ambiental Rural (CAR) visando fomentar a regularização ambiental, além de políticas de incentivo à produção de pequeno porte e à autogestão das atividades das po- pulações tradicionais. O Cadastro Ambiental Rural (CAR) e outras políticas, instrumentos e inicia- tivas voltadas à conservação ambien- tal e regularização ambiental municipal são assuntos tratados em alguns dos outros cursos oferecidos pelo Programa de Qualificação da Gestão Ambiental – Municípios Bioma Amazônia. Consulte nosso portal na internet para conhecer os demais cursos atualmente disponíveis. Disponível em: http://amazonia-ibam.org.br/ Saiba Mais! 2.2.2 Pecuária Em relação aos produtos de pecuária, ex- cluindo-se a carne e o valor da venda do re- banho, destacam-se as produções de leite dos estados do Pará, com valor absoluto de 420 milhões de reais e 337 reais por km², e do estado do Mato Grosso, com valor abso- luto de 549 milhões de reais e 607 reais por km² (IBGE, 2012). O único estado onde outro produto se so- brepõe ao valor da produção leiteira é o Amazonas, no qual a produção de ovos de galinha atinge 165 milhões de reais, equiva- lente a 105 reais por km². Castro (2005) aponta que há outros setores http://amazonia-ibam.org.br/ 30 | Página tradicionais da pecuária que, na virada do séculoXX para o XXI, já mantinham consi- derável produtividade, como a produção de pescado para consumo interno e para expor- tação ao Nordeste e Sul do país. Contudo, segundo o mesmo autor, tal movi- mento comercial, ainda estaria, na década de 2000 à margem da fiscalização legal e am- biental. E, em contrapartida – mais uma vez relacionada ao padrão dicotômico das polí- ticas e investimentos na Amazônia (Becker, 2004) – houve significativo aumento da pes- ca industrial ao longo das duas últimas déca- das do século XX e início do XXI, com práti- cas mais predatórias e reflexos adversos nos estoques de pescado no Nordeste Paraense, Médio Amazonas e costa Norte do Amapá. Devido à sua importância econômica e para o desmatamento na Amazônia, cabe discutir de maneira mais aprofundada a pecuária bo- vina. O avanço da pecuária bovina extensiva é hoje a principal causa de desmatamento, principalmente nas porções Sul e Sudeste do Bioma Amazônia. Para avaliar o cenário da pecuária bovina voltada ao mercado de carne, podemos ob- servar os abates realizados ao longo dos me- ses dos anos de 2011 a 2013, no gráfico da Figura 4. Figura 4 - Abates Bovinos no Bioma Amazônia (IBGE/SIDRA, 2013). Na Figura 4, é possível perceber que, assim como na produção de soja, o estado do Mato Grosso se destaca dos demais, com os esta- dos de Rondônia, Pará e Tocantins com va- lores também significativos. Em geral, houve tendência de aumento ou manutenção dos valores de abate ao longo dos três anos ava- liados para todos os estados. Segundo Margulis (2003), até o início do sé- culo XXI, a pecuária (bovina) era a principal atividade causadora de desmatamentos na Amazônia Brasileira, com expansão na forma de “um processo contínuo de caráter inercial” (MARGULIS, 2003, p.79). Segundo ele, ao final do processo de ocupação, independen- temente dos atores iniciais, têm-se a pecu- ária como atividade predominante ao fim do processo de ocupação. O autor afirma ainda que, nas áreas onde há a presença marcante de atividades especu- lativas sobre o valor da terra – muitas vezes fruto da especulação acerca da realização de obras de infraestrutura –, o poder público é dominado pelos interesses das elites locais que atuam quase que exclusivamente em prol da expansão do modelo de produção da pecu- ária bovina extensiva. Em função da instabili- dade fundiária, atores locais de menor porte 31 | Página30 | Página deslocam sua atenção e esforços para asse- gurar a posse da terra, proteger-se da violên- cia do campo e enfrentar as condições precá- rias a que estão submetidas suas produções. Nesse cenário, ficam prejudicadas a proteção e o adequado manejo dos recursos naturais. Segundo Rivero et al. (2009), mesmo o avan- ço da agricultura em larga escala – destacan- do-se a soja – no final da primeira década do século XXI, não teve impacto significativo na redução da influência da pecuária sobre o desmatamento por meio da abertura de novas áreas para pastagens. O processo de avanço da pecuária sobre a floresta mante- ve-se acima do ritmo médio do país, na dé- cada de 2000. Rivero aponta que a pecuária bovina neces- sita de pouco capital para implantação em grandes áreas em comparação a outras ati- vidades menos impactantes, pouco preparo do solo e é pouco restringida pelo relevo e clima da região. Para o autor, um combate eficiente ao des- matamento causado pela pecuária bovina deve estar focado sobre a mitigação dos fa- tores que favorecem sua expansão/avanço sobre novas áreas, o favorecimento da inten- sificação da atividade em detrimento do mo- delo extensivo, o incentivo e favorecimento de boas práticas e, também, deve considerar estratégias diferentes para os grandes e os pequenos produtores. Além disso, o autor chama atenção para a necessidade do ordenamento territorial das áreas com situações irregulares de uso e ocupação da terra, com o intuito de se mitigar o avanço do desmatamento na Amazônia. De fato, há uma relação muito próxima entre o desmatamento e a grilagem de terras na Amazônia. Trataremos da grilagem de terra ainda no presente curso, mas, por enquanto, vamos abordar outras atividades econômicas rele- vantes no ambiente rural da Amazônia: a sil- vicultura e a extração vegetal. 3.2.3 Silvicultura e extração vegetal Em relação à silvicultura, em valor absoluto, destaca-se a produção de madeira em tora, no Pará, atingindo 231 milhões de reais. Contudo, a razão do valor da produção pela área estadu- al da produção no Pará chega a “apenas” 185 reais por km², enquanto a produção de madeira em tora do Amapá alcança 547 reais por km² e a de carvão vegetal do Maranhão, 292 reais por km², com valores absolutos de 78 milhões e 96 milhões de reais, respectivamente (IBGE, 2013). A produção de madeira em tora também se des- taca na atividade de extração vegetal. Os esta- dos do Pará e Mato Grosso, com valores abso- lutos de 862 e 637 milhões, respectivamente, e valores por km² de 691 e 706 reais, respectiva- mente, destacam-se dos demais (IBGE, 2013). Considerando o conjunto dos nove esta- dos abrangidos pelo programa, apenas no Amazonas, o principal produto de extração ve- getal não é madeira ou derivado, consistindo em gêneros alimentícios variados, atingindo valores absolutos de 105 milhões de reais e 67 reais por km² (IBGE, 2013). De fato, observando a distribuição espacial dos polos madeireiros na Amazônia na Figura 5, percebe-se a concentração das atividades nos mesmos estados onde os valores mais altos de silvicultura e extração vegetal correspondem à madeira e derivados (IBGE, 2013). Figura 5 – Distribuição dos polos madeireiros na Amazônia. Fonte: Imazon – 2009. 32 | Página Mediante a análise da Figura 5, percebemos que também há relação entre a localização dos polos madeireiros, as áreas de maior acúmulo de desmatamento (INPE/PRODES, 2012) e os principais eixos rodoviários, que também cor- respondem às áreas de maior valor de produ- ção agropecuária (total) por km² (IBGE, 2013). O Serviço Florestal Brasileiro e o Imazon (2010) desenvolveram estudos para identificar quais fatores seriam os principais indutores da expansão do setor madeireiro com vistas a combater atividades associadas à extração ile- gal. As conclusões a que chegaram indicam os seguintes principais fatores indutores: 1. A construção de estradas, pos- sibilitando acesso às florestas den- sas de terra firme, com madeiras de valor comercial. 2. Baixo custo de aquisição da ma- deira, consequência de fiscalização ambiental e fundiária incipiente. 3. Esgotamento de estoques ma- deireiros no Sul do Brasil e o con- sequente aumento da demanda. Segundo Castro (2005), a exploração de ma- deira, no meio da década de 2000, além de ser uma das mais relevantes atividades econômi- cas na Amazônia, organiza-se em um sistema complexo, incluindo os modos mais agressi- vos, como o uso da motosserra, correntes e tratores e, também, métodos de beneficiamen- to industrial sofisticados. Segundo a autora, a exploração da madeira alimenta uma teia também complexa de seg- mentos sociais, desde trabalhadores de baixa renda empregados na extração por métodos “tradicionais”, até grandes empresários da in- dústria madeireira. Castro (2005) destaca ainda que a atividade ma- deireira foi responsável pelo desaparecimento de espécies nobres de madeira, como o mogno, o acapu e a virola, antes abundantes no estuário próximo da embocadura do rio Amazonas. Assim, não seria equivocado afirmar que a ges- tão ambiental na região do Bioma Amazônia tem como grande desafio o planejamento, a gestão e a fiscalização, de maneira integrada das atividades agropecuárias e extrativistas na região e seus eixos de integração rodoviária. 3.2.4 Mineração Outro aspecto de relevância para o entendi- mento das pressões econômicas que incidem na região é a ocorrência da atividade de mine- ração, tanto a intensiva, em locais específicos de ocorrênciamineral, como a extensiva ao longo de determinados rios e seus afluentes. A atividade de mineração tem a potencialidade de produzir um impacto direto maior do que as atividades agropecuárias em termos de polui- ção ambiental, com reflexos também diretos na saúde humana. O desmatamento, em especial o de corte seletivo, tem impactos perceptíveis sobre a biodiversidade na escala de alguns anos. O desmatamento por corte raso tem impactos imediatos, como a perda de área florestada e impactos que são perceptíveis de maneira gradual, como aqueles sobre o clima e sobre a biodiversidade. Já os impactos da mineração, além de serem, em sua maioria, imediatos, quando nos referi- mos, por exemplo, à contaminação dos corpos hídricos por metais pesados, podem se acu- mular na cadeia alimentar e estar presentes no ambiente durante décadas. Com relação à localização das atividades de mineração que causam ou causaram graves impactos e deixaram um forte passivo ambien- tal, destacam-se a mineração de ferro em área de floresta primária em Carajás, de bauxita, também no Pará, de ouro em Serra Pelada e em diversos rios da Amazônia e de manganês na Serra do Navio no Amapá. 33 | Página32 | Página No caso da mineração nos rios, geralmente na forma de garimpos, ocorre a consequente polui- ção dos rios por produtos químicos como o mer- cúrio, nocivo à saúde humana e outras formas de vida, além da intensificação dos processos de assoreamento que prejudicam a dinâmica hidrológica e o trânsito de espécies aquáticas, com consequências sobre a cadeia alimentar. O termo garimpo se refere a uma mo- dalidade de mineração realizada com o uso de técnicas manuais ou de baixa mecanização. Na maioria dos casos, a atividade se dá de forma ilegal e acarreta prejuízos sociais e ambientais significati- vos nas regiões onde ocorre. Trata-se de uma questão muito polêmica, como podemos perceber com a leitura do Artigo “Falta uma lei moderna e susten- tável para o garimpo no Brasil”, publica- do pelo site Observatório Eco, em 2013. Disponível em: http://www.observatorioeco.com.br/in- dex.php/2013/01/falta-uma-lei-moderna -e-sustentavel-para-o-garimpo-no-brasil/ Saiba Mais! A lógica que impulsionou a mi- nero-metalurgia na região é a de assegurar sua viabilidade econô- mica tendo por base a garantia da utilização de vantagens com- parativas, decorrentes da possi- bilidade de acessar recursos e serviços ambientais a baixo custo associada ao baixo nível de su- pervisão governamental, principal- mente quanto a responsabilidades socioambientais para empresas transnacionais. Ocorre aí uma dis- sociação com arranjos produtivos locais, impossibilitando o estabe- lecimento de processos de desen- volvimento socialmente enraiza- dos. (MONTEIRO, 2005, p.198). Em publicação relacionada a conflitos no cam- po brasileiro, a Comissão Pastoral da Terra (CPT) (CANUTO, et al. 2013) trata de diversos temas associados a conflitos socioambientais. A questão da mineração aparece associada di- versas vezes à ocorrência de regimes de tra- balho escravo e à denúncia de impactos sobre terras indígenas e unidades de conservação. O problema da mineração, assim, se coloca como um desafio a ser enfrentado, associa- do a uma atividade que, se por um lado gera “riquezas” e matérias-primas importantes principalmente à indústria e construção civil, por outro lado carrega consigo um histórico de graves impactos ambientais e sociais, que devem ser alvo de ações e políticas públicas (CANUTO, et al. 2013). A Comissão Pastoral da Terra (CPT) mo- nitora e atua diretamente sobre diversas questões relacionadas direta e indireta- mente a conflitos socioambientais. Disponível em: http://cptnacional.org.br/ O texto do documento mencionado ante- riormente, de título “Conflitos no Campo – Brasil”, de 2013, também está disponível no endereço acima. Trata-se de um am- plo documento que a CPT também dis- ponibiliza para anos anteriores, no qual os dados estão, na maioria dos casos, categorizados por estados, Municípios e, quando relevante, por empresas relacio- nadas aos conflitos. Disponível em (link direto): http://cptnacional.org.br/index.php/com- ponent/jdownloads/finish/43-conflitos- no-campo-brasil-publicacao/344-confli- tos-no-campo-brasil-2013?Itemid=23 Saiba Mais! http://www.observatorioeco.com.br/index.php/2013/01/falta-uma-lei-moderna-e-sustentavel-para-o-garimpo-no-brasil/ http://www.observatorioeco.com.br/index.php/2013/01/falta-uma-lei-moderna-e-sustentavel-para-o-garimpo-no-brasil/ http://www.observatorioeco.com.br/index.php/2013/01/falta-uma-lei-moderna-e-sustentavel-para-o-garimpo-no-brasil/ http://cptnacional.org.br/ http://cptnacional.org.br/index.php/component/jdownloads/finish/43-conflitos-no-campo-brasil-publicacao/344-conflitos-no-campo-brasil-2013?Itemid=23 http://cptnacional.org.br/index.php/component/jdownloads/finish/43-conflitos-no-campo-brasil-publicacao/344-conflitos-no-campo-brasil-2013?Itemid=23 http://cptnacional.org.br/index.php/component/jdownloads/finish/43-conflitos-no-campo-brasil-publicacao/344-conflitos-no-campo-brasil-2013?Itemid=23 http://cptnacional.org.br/index.php/component/jdownloads/finish/43-conflitos-no-campo-brasil-publicacao/344-conflitos-no-campo-brasil-2013?Itemid=23 34 | Página Gestão Territorial e Desmatamento 4. 35 | Página34 | Página 4. GESTÃO TERRITORIAL E DESMATAMENTO Na presente unidade, abordaremos aspectos associados à gestão territorial na Amazônia relacionados direta ou indiretamente ao des- matamento e à gestão ambiental. Não se tem por objetivo, no presente curso, tratar de to- das as questões relacionadas à gestão territo- rial e ao desmatamento. Busca-se focar sobre aquelas de maior pertinência nos principais debates do meio acadêmico e da gestão pú- blica atualmente. São três temas principais: as questões fundiárias, as áreas protegidas e as grandes obras de infraestrutura. No entanto, é sempre adequado estarmos aten- tos a questões peculiares de cada Município que podem extrapolar a lista de questões aqui apresentadas e debatidas. 4.1 Questões fundiárias As questões fundiárias estão diretamente as- sociadas ao desmatamento. As políticas de in- centivo, controle e regularização da ocupação das terras tem um reflexo direto sobre a aber- tura de novas áreas pela derrubada da floresta e sobre o cenário socioambiental. Na Tabela 1 podemos notar que, no ano de 2013, 66% do desmatamento ocorrido na Amazônia se deu em assentamentos, terras públicas não destinadas e terras sem informa- ção fundiária. Tal quadro ilustra o resultado de processos de apropriação fundiária inadequa- da aos ideais de conservação e sustentabilida- de, que ocorrem há décadas na Amazônia. Para que se possa compreender tal cenário, é importante tratar de processos fundiários bastante distintos, mas que estão ambos as- sociados ao desmatamento na Amazônia, a grilagem de terras e a implantação de assen- tamentos de reforma agrária. 36 | Página 4.1.1 Grilagem de terras A apropriação privada irregular ou ilegal de ter- ras públicas, também denominada grilagem, tem sido bastante frequente na formação da propriedade privada rural no Brasil. O fenôme- no da grilagem é tão antigo que se torna difícil determinar em que momento ele se tornou um procedimento recorrente. Em diferentes momentos históricos foram utili- zados diversos mecanismos jurídicos e sociais para assegurar o acesso ilícito à terra e aos recursos florestais. A violência contra comuni- dades indígenas e camponesas é apenas um elemento deste complexo problema brasileiro. A privatização ilegal de terras públicas é uma constante na Amazônia, e os conflitos decor- rentes desta são motivo de manifestações de amplitude internacional. A “propriedade” advinda da grilagem não possui título fundado em uma base legal. A área do imóvel rural não é demarcada e as atividades desenvolvidas dentro de seus limites são ilegais, pois a explora- ção da terra parao desenvolvimento das atividades agropastoris ou florestais vio- lam normas ambientais, agrárias, civis, criminais e tributárias. Essa lógica leva à apropriação e concentração dos recursos naturais e financeiros de forma ilícita. Atenção! Essa prática ilegal, associada a graves impactos sociais, econômicos e ambien- tais, é parte das dinâmicas econômicas da Amazônia, estando associada à espe- culação fundiária para revenda de “pro- priedades” e movimentando, assim, de forma ilegal, grandes quantias de capital e de recursos naturais. Essas irregularidades, pela sua flagrante ilegalidade, têm motivado barganhas políti- co-administrativas e eleitoreiras, permitindo aos grileiros, geralmente detentores de im- portância política regional, a manutenção de seu poder. Por outro lado, a acumulação privada e ilegal de capital viabilizado pela venda direta das terras ilegalmente desmatadas, adquire moti- vação, em grande parte, nos lucros auferidos com a venda de lotes para pequenos e médios agricultores, não sendo rara a venda de uma mesma área para diferentes donos. Nessas condições, o combate à grilagem de terras e à sua inerente associação com a vio- lência no campo não pode ser visto como uma política de curto prazo, nem se basear apenas em ações pontuais e desconexas. O primeiro passo nesta direção é a realização do ordenamento fundiário, buscando superar a limitada capacidade de gestão dos órgãos 37 | Página36 | Página competentes, seja no tocante ao corpo técnico, seja nas suas condições materiais. Este breve histórico da ocupação humana recen- te da Amazônia, e de suas particularidades fun- diárias, busca esclarecer como o ciclo foi cons- truído e alicerçado em interesses então vigentes, sobretudo associados à carência de informações acerca da importância estratégica da floresta. Atualmente se busca estancar este ciclo de- letério, econômica, social e ambientalmente insustentável, priorizando as ações que se fundamentam no conhecimento dos proces- sos naturais da floresta, sem ignorar a cul- tura dos seus povos tradicionais. Lança-se novamente luz sobre os conceitos de Von Humboldt (1807), inspirando a crença na existência real de oportunidades de convívio do homem com a natureza de forma inteli- gente e ecologicamente harmônica. A questão fundiária da Amazônia é título e tema de um artigo que faz uma revisão histórica das questões associadas ao avanço do uso agropecuário das terras na Amazônia, envolvendo práticas asso- ciadas ao desmatamento e grilagem. Disponível em: http:/ /www.scielo.br/scielo.php?pi- d=S0103=40142005000200005-sscript- sci_arttext Saiba Mais! 4.1.2 Assentamentos de reforma agrária Como importante agente de transformações de uso e cobertura do solo e consequente abertu- ra de novas áreas na região, temos os projetos de assentamentos de reforma agrária, que não apenas ocasionam a derrubada da vegetação nativa – dentro de limites estabelecidos legal- mente, atualmente 20% da área dos lotes – para implantação de atividades agropecuárias, mas também a abertura de estradas. Entretanto, quando adequadamente planeja- dos e implementados, são elementos impor- tantes de ordenamento territorial e de justiça socioeconômica e ambiental, uma vez que fo- mentam o acesso à terra e podem ser adequa- dos às políticas públicas de emprego de prá- ticas sustentáveis, segurança alimentar e de fortalecimento de cooperativas de pequenos produtores em âmbito local e regional. Para Mendes (2007), a criação de assenta- mentos tem, em alguns casos na Amazônia, o intuito de favorecer o licenciamento rápido do manejo da madeira oriunda das áreas de desmatamento permitido em cada lote dos assentamentos. Tomando como referência processos da última década, a problemática da criação inadequa- da de assentamentos na Amazônia é grave e complexa, envolvendo situações de confli- tos fundiários e territoriais com Unidades de Conservação, suspeitas de fraudes no proces- so de seleção de famílias assentadas e suspei- tas de envolvimentos irregulares com a indús- tria madeireira (BEIROZ, 2010). Pode-se citar como exemplo a ação civil públi- ca por ato de improbidade administrativa mo- vida contra o INCRA, pelo Ministério Público Federal, em 2007, em função das irregularida- des na criação de Projetos de Assentamento e Projetos de Desenvolvimento Sustentável entre os anos de 2005 e 2006, no Pará (MPF, 2007). Como outro exemplo de problemas atrelados aos programas de assentamento, em 2005, Oliveira abordava a grilagem e a violência, de- nunciando, entre outros, a apropriação ilegítima http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-40142005000200005&script=sci_arttext http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-40142005000200005&script=sci_arttext http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-40142005000200005&script=sci_arttext 38 | Página de terras que deveriam ser destinadas à refor- ma agrária no Oeste do Pará e a criação de um grande número de projetos de assentamentos e de projetos de desenvolvimento sustentável sem a devida avaliação da viabilidade econô- mica e ambiental. Ilustrando a permanência da questão como um elemento central frente ao desmatamento, 29% do total das áreas desmatadas no ano de 2013 estavam localizadas em assentamentos, ao passo que, as áreas protegidas, incluindo terras indígenas, Unidades de Conservação de proteção integral e Áreas de Proteção Ambiental, juntas, “contribuem” com apenas 14% das áreas desmatadas em 2013. Cabe, porém, destacar que, considerando o so- matório das áreas desmatadas em proprieda- des privadas, terras públicas não destinadas e terras sem informação fundiária, têm-se 57% do total da área desmatada em 2013, na Amazônia, conforme podemos notar na Tabela 1. Não obstante, em publicação conjunta, IMAZON, ISA e IPAM (2013), afirmam, com base de di- versas fontes, que 75% dos desmatamentos em assentamentos, no ano de 2013, foram su- periores a 10 hectares, enquanto a maioria dos assentados desmata em torno de 2 hectares por ano, em geral para fins de subsistência. Além disso, apontam que 50% do desmata- mento em assentamentos foram oriundos de apenas 55, de um total de mais 2.700. Segundo as fontes citadas, trata-se de um indício de concentração de terras por não assentados, corroborando para o questionamento de que o problema mais grave, que associa assenta- mentos ao desmatamento na Amazônia, não está na criação dos assentamentos em si, mas no inadequado planejamento, gestão, ou desti- nação final das terras. No mesmo sentido desse questionamento, Calandino, Wehrmann e Koblitz (2012), após análises de assentamentos e desmatamentos no estado do Pará, apontam que, muitas ve- zes, os de fato beneficiários dos assentamen- tos não fazem parte do público alvo definido pelo Governo Federal, descaracterizando so- cialmente os assentamentos. Ainda nesse sentido, a incerteza fundiária (vide situações de assentamentos irregulares, ou em conflito territorial e fundiário, comentadas ante- riormente), os atrasos na concessão de crédito e a implantação de infraestruturas representam ameaças à sustentabilidade dos assentamen- tos e colaboram para o aumento do desmata- mento nessas áreas. Segundo Castro (2005), a situação do desma- tamento, atrelado aos assentamentos, é agra- vada pela relação desse instrumento com um sistema de apropriação de recursos naturais, em que o assentamento é o primeiro passo para a exploração de diversos recursos. Tourneau e Bursztyn (2010) tratam das contradições entre a política agrária e a política ambiental na Amazônia, em tor- no dos assentamentos. Trata-se de um artigo cuja leitura pode favorecer uma abordagem crítica das questões asso- ciadas ao desmatamento em assenta- mento e às políticas públicas. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ asoc/v13n1/v13n1a08.pdf Saiba Mais! O assentamento se converte, nessa lógica, em ferramenta de legitimação da apropriação privada de
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