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Riso e preconceito

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Riso e preconceito: os limites do humor
	“Todo mundo odeia o Chris”, seriado norte-americano, retrata, em um dos seus episódios, o sucesso de piadas preconceituosas entre os adolescentes do Brooklyn na década de 1980. Não distante da trama, hodiernamente, esse cenário se faz presente no Brasil, visto que sua sociedade ainda desconhece os limites do humor. Tal premissa está caucada em dois fatores: a manutenção de estereótipos sociais e a defasagem do ensino, os quais, ambos, necessitam de medidas socioeducativas.
	É oportuno ressaltar, em primeira instância, que estereótipos sociais são, muitas vezes, a base para a construção do humor. Isso porque rir do outro é uma espécie de fuga dos seus próprios defeitos, tendo em vista que todos possuem um lado vulnerável perante o inconsciente coletivo. Esse pressuposto é analisado pelo fundador da psicologia analítica Carl Jung, ao falar sobre a existência de uma “máscara” ilusória criada pelo indivíduo de acordo com as expectativas sociais. Assim, vê-se que não atender aos anseios da sociedade é tornar-se, automaticamente, alvo de piada, o que fortalece, sem limite, o preconceito. Logo, por meio de discursos cômicos insolentes, propaga-se a segregação social entre os grupos minoritários e os socialmente aceitos, realidade esta que precisa ser revertida.
	Em segunda instância, o ensino deficitário contribui para a permissividade do conteúdo humorístico sem filtro. Sob essa ótica, é válido refletir que o conhecimento não é repassado de forma a instruir a criticidade do aluno, como já pensara o educador Paulo Freire – em sua célebre obra “Pedagogia do Oprimido” – ao mostrar a educação atual tecnicista, sem estender o olhar crítico para o social. Dessa forma, a alteração almejada para a sociedade é letárgica e ainda não critica o humor preconceituoso difundido por comediantes, fator que contribui para a ultrapassagem de limites de maneira impune socialmente. Por essa razão, iniciativas educacionais têm fundamental importância para imposição de barreiras contra o preconceito revestido de comicidade.
	Partindo dos pressupostos anteriores, evidencia-se, portanto, a necessidade de delimitar o campo humorístico sem atingir identidades inferiores socialmente. Para isso, cabe ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações promover ações de cunho midiático – haja vista o enorme público atingido –, mediante o projeto “A linha tênue entre o riso e o preconceito”, a fim de mostrar a raiz histórica de discursos humorísticos preconceituosos e seu efeito negativo na comunidade alvo. Outrossim, urge ao Ministério da Educação instigar a criticidade nos estudantes, por intermédio de aulas de sociologia e de psicologia aplicada ao cotidiano, com o fito de formar o social para identificar os humores ofensivos e reprová-los. Enfim, poder-se-á alcançar o limite do humor e arrancar o riso com o máximo de respeito.

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