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1 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 2 1.1 A didática e seu contexto ..................................................................... 3 1.2 A Didática como componente formador da prática pedagógica ......... 12 1.3 A interdisciplinaridade como facilitadora do processo de ensino/aprendizagem ............................................................................................ 15 1.4 A contribuição da didática na prática interdisciplinar com foco no processo de ensino/aprendizagem ........................................................................ 17 2 A DISCIPLINA DE ARTES E O PLANEJAMENTO ESCOLAR ................. 19 3 COMPETÊNCIAS, HABILIDADES, CONTEÚDOS ................................... 23 4 CONCEPÇÕES E POLÍTICAS SOBRE O ENSINO DA ARTE ................. 25 4.1 Concepção de Arte ............................................................................. 25 4.2 Concepção de Educação Artística ..................................................... 26 4.3 Arte-Educação .................................................................................... 27 5 CONCEPÇÃO DE ARTE E DE SEU ENSINO NAS POLÍTICAS EDUCACIONAIS ....................................................................................................... 31 5.1 Diretrizes e Bases da Educação Nacional .......................................... 31 5.2 Os PCN .............................................................................................. 34 6 O CONTEÚDO BÁSICO COMUM – CBC ................................................. 38 6.1 A Base Nacional Comum Curricular ................................................... 40 7 BIBLIOGRAFIA ......................................................................................... 44 2 1 INTRODUÇÃO A expressão “didática: arte de ensinar”, foi plenamente consagrada em 1629, por Comênio, em sua obra intitulada Didática Magna. Didática significa arte de ensinar: essa é a definição mais comum que se encontra nos livros de didática, porém ela significa o conhecimento científico, histórico, metodológico e educacional do século XVII, a qual corresponde pedagogicamente a esse período vivido pela sociedade. Atualmente didática é entendida pelos autores em sua grande maioria como sendo um agrupamento ordenado de normas, regras princípios teórico-práticos, os quais norteiam a comunicação ou transmissão do saber científico, colocado pela instituição escolar, como conteúdo. Porém, mesmo que seja coerente a explicação acima citada, em relação ao que é didática na atualidade, seu verdadeiro significado, vai muito além disso, uma vez que a mesma está relacionada a uma história longa e muito significativa, tanto para a instituição escolar, quanto para a educação. É necessário buscar nos fundamentos do século XVII, as raízes da didática daquela época, para que se tenha uma melhor compreensão da didática atual, conhecendo as mudanças sociais vividas no período de 1930 a 1990. A partir da transição da Idade Média para a Idade Moderna, houve grandes viagens em busca de novos povos os quais dispunham de uma nação mais desenvolvida; a Bíblia foi colocada em contestação, com relação as novas descobertas científicas; surgiu um novo modo de pensar, e todos esses fatores culminaram em um novo momento social, o Renascimento. Já nesse contexto histórico, o modo de produção feudal passa a ser substituído pelo capitalista incipiente, onde os bens produzidos deviam suprir as necessidades humanas. Com tantas mudanças sociais acontecendo nessa época era necessário que a escola formasse os indivíduos, para essa nova sociedade que estava culminando, preparando os mesmos para viverem nesse novo tempo, fazendo-se necessário o uso de um novo método, uma nova didática, com os mesmos interesses da sociedade em ascensão na época, os quais seriam ensinados aos alunos. 3 1.1 A didática e seu contexto Com a Didática Magna, escrita por Comênio, iniciou a organização do embasamento das novas formas de trabalho, na nova ciência experimental, nas mudanças radicais que aconteciam na estrutura social, nas discussões filosóficas, religiosas e educacionais da época. A pedagogia tradicional, mantém a educação com uma linha filosófica e pedagógica da Idade Média. Foi trazida para a o Brasil pelos jesuítas, cristalizando- se quando, no final do século XIX, chegam as ideias de Herbart. Sua essência diz respeito ao magistrocentrismo, ou seja, o professor sabe e o aluno não sabe, mas com o auxílio, a orientação e os métodos propostos pelo professor pode vir a saber. O processo tradicional tem o objetivo de ensinar os indivíduos a se tornarem receptores passivos. Nessa perspectiva, compreende-se que, ao nascer, a mente humana é uma tabula rasa e aos poucos a sociedade, por meio das instituições como a família, a igreja e escola, vai imprimindo as imagens e as informações do ambiente. A visão de mundo é transmitida de geração a geração, no sentido de preservar a tradição (TERUYA, 2010, p. 33). Trata-se do processo didático que se preocupa também com a moralização dos sujeitos. Isto significa que o aluno é um sujeito que precisa assimilar conteúdos a partir da exposição do professor, oral ou no quadro-de-giz, sendo estes conteúdos conhecimentos acumulados ao longo da história. A tendência tradicional ou conservadora, aplica uma educação humanista, de cultura geral, centrada no professor, a aula é expositiva e o aluno deve obediência ao professor, tendo que se comportar como um sujeito passivo em sala de aula. A avaliação é realizada sob a forma de verificação dos resultados através de interrogatórios orais e escritos, provas, exercícios e trabalhos de casa. O aluno deve reproduzir na íntegra o que foi ensinado (avaliado por banca examinadora), classificatória. As relações professor-aluno, neste modelo pedagógico se baseiam na imposição autoritária do professor que não permite nenhum tipo de participação do aluno, nem manifestação de qualquer natureza, que é identificada como indisciplina. Mesmo diante do surgimento de outras tendências pedagógicas, ainda hoje a tradicional predomina em muitos modelos educacionais. As atividades dos alunos consistiam em escrever, desenvolver a oralidade, imitar um, trecho de um poema, de um orador, compor sobre jardim, templo, 4 tempestade, compor frases, enfim, uma diversidade de exercícios para fixação e memorização (TERUYA, 2010, p. 36). Este processo didático apresenta a sensação de que o interesse da educação era conservar as pessoas dentro de uma linha de domínio, interessante para instituições que escolhem o poder e a influência sobre as pessoas como a base de suas atuações para a perpetuação nos postos em que ocupam e não raro a exploração do que estas pessoas são capazes de produzir: ideologias partidárias, religiosas, domínio de grupos patriarcais, oligarquias, entre outros. Não havia valorização à imaginação e à criatividade. O aluno era considerado um ser passivo, tendo que receber todo tipo de ensinamento sem buscar inovar, projetar, alcançar novos patamares no processo de aquisição de conhecimentos. Este modelo didático prevaleceu por mais tempo em vigor, pois se estendeu desde a Idade Média, passando pela Idade Moderna e parte da Contemporânea, sendo questionada com as mudanças exigidas pela aplicação da psicologia na área educacional, nas primeiras décadas do século XX, quando as descobertas científicas transformaram a até então conhecida como “ciência da alma” em “ciência do comportamento”. Embora ao longo desse tempo surgissem grandes nomes que colocassem em dúvida a educação tradicional, propondo já nos séculos XVII a XIX mudanças neste sentido, como o caso de Locke que propôs a “educação intelectual” com base na necessidade de leitura e da escrita (TERUYA,2010, p. 37). Da mesma forma Teruya (2010, p. 37) apresenta a proposta de Herbart, que é o fundador da Pedagogia Científica e da Psicologia Científica, afirmando que não havia interesse em mudança. Embora não existisse uma ideologia declarada aplicada à educação, pensava-se que o mundo necessitaria sempre do mesmo modelo de cidadão. A educação dentro deste processo didático foi aplicada no Brasil ao longo dos séculos de colonização, embora tenha tido problemas de filosofia ou finalidade no modelo de formação do homem, o que acabou criando dificuldades entre os jesuítas e o governo português, sendo assim, o governo português os expulsou da colônia em 1759, quando os jesuítas faziam dois séculos de serviços prestados aos colonizadores do Brasil. 5 Surge então uma nova proposta pedagógica, a qual se contrapõe diretamente à Pedagogia Tradicional, na medida em que centraliza toda a prática pedagógica no aluno, respeitando-o como capacitado a aprender desde que aja e produza ações. Essa maneira de ver a educação tem como proposição a aplicação de métodos didáticos ativos e adaptados para atender às necessidades e ao desenvolvimento livre e espontâneo, ou seja, a pedagogia da valorização da atividade espontânea e criadora passa a ser considerada uma forma de promover o desenvolvimento harmonioso do indivíduo articulado à evolução de seus interesses naturais, dentro de um ambiente de vida e de ação (NEGRÃO, 2010, p. 49). A Escola Nova foi criada nos Estados Unidos por John Dewey e um grupo de seguidores, no final do século XIX, expandiu-se pelo mundo no início do século XX, chegando ao Brasil na segunda metade da década de 1920, onde o Escolanovismo, pró reforma da educação, fortemente influenciado pela recém criada Psicologia da Educação, que passa a ver e tratar o aluno a partir de suas características individuais e a educação como ação dinâmica que oferece oportunidade de desenvolvimento intelectual com plena liberdade para aprender. Nos anos 30 do século XX, no Brasil, somam-se ao ideário europeu as ideias norte-americanas, defendidas e subsidiadas pela filosofia progressista de Dewey. Nesse contexto a transição ideológica provocada por uma transição social, o conceito individual se constitui no princípio fundamental da Escola Nova como uma forma de atender às necessidades de aprendizagem do indivíduo, obedecendo a seu desenvolvimento psicológico (NEGRÃO, 2010, p. 48). A escola nova foi uma reação à tradicional, porém não apenas com esta finalidade (de reagir), mas sim, se fundamentar nos princípios científicos que se projetam e alcançam resultados comprovados, no caso a psicologia foi a grande colaboradora com esta nova visão educacional. A proposta da escola nova tinha toda uma linha de aproveitamento dos aspectos psicológicos no contexto do desenvolvimento humano. Aproveitou-se muito dos legados daqueles que se manifestaram contra a escola tradicional. Traça-se uma nova forma de pensar em relação ao indivíduo e à sociedade, levando-se em conta o modo de se relacionar deste com seus semelhantes e com a sociedade em suas formas de organização. É este indivíduo que a educação deve preparar para acompanhar as transformações e criar, inovando para atender as necessidades gerais da sociedade. 6 Essa forma de pensar remete à compreensão de que o indivíduo, sociedade e cultura são elementos distintos que, simultaneamente, agem e interagem. São partes que formam um todo real. Entretanto, 9 há no indivíduo algo que o impede de ter determinado pela ação do meio social, e é esse algo que constitui o elemento original e livre do espírito humano. Esse elemento individual permite que o homem crie, invente e progrida (NEGRÃO, 2010, p. 50). Os ideais deste processo foram muito claros e fortes, portanto, convincentes no sentido de se fazer colocar em prática na educação, o qual predominou a primeira metade do século XX em todo o mundo ocidental. Porém, a má interpretação de seus princípios, fez com que houvesse muitas controvérsias quanto a aplicação de seus fundamentos, sendo acusada de causar decadência no ensino, marginalização dos pobres, acentuando a heterogenização do trabalho escolar. Diante dessa realidade, a pedagogia tradicional, veio tentar suprir as lacunas deixadas pela antiga proposta pedagógica. O tecnicismo apresenta características típicas de uma filosofia educacional de preparar o ser humano para uma integração no meio em que vive, através da modelação do seu comportamento. Simplificando pode-se utilizar o dito popular “dançar conforme a música”. A preocupação da educação é preparar pessoas que atendam às necessidades do mercado de trabalho, da produção econômica. De acordo com a filosofia educacional proposta por esta pedagogia, ela proporciona condições para que o ser humano sobreviva com dignidade e proporcione meios de desenvolvimento para o setor produtivo. Está em pleno acordo com o neoliberalismo que garantiu condições para a implantação da globalização, cujo princípio fundamental é criar cidadãos consumidores. Inicialmente, a tecnologia educacional foi influenciada pelas teorias comportamentalistas. Essa influência fez com que fosse enfatizado um planejamento de ensino baseado na descrição detalhada de objetivos comportamentais que seriam alcançados pelos estudantes. Sabe-se que essa abordagem pedagógica recebeu o nome de tecnicismo e, que, por conseguinte, defende o planejamento como solução para problemas educacionais. (ALTOÉ, 2010, p. 64). A tendência tecnicista enfatiza a produtividade do aluno, que por sua vez deve ser preparado para o mercado de trabalho e ao sair da escola “saber fazer”. O professor é um elo entre a verdade científica e o aluno. Toda atuação da escola está centrada no método científico, que enfatiza o uso de técnicas de microensino e recursos audiovisuais. 7 Muitos professores, ao fazerem uso de materiais audiovisuais, não conseguem o rendimento esperado e sentem-se frustrados. Certamente o recurso audiovisual utilizado com a fundamentação da abordagem tecnicista, centrado apenas em seu valor técnico, não trará, aos professores e estudantes, os resultados esperados para o processo de ensino e aprendizagem (ALTOÉ, 2010, p. 63). O tecnicismo como pedagogia educacional nada mais é que o fruto da preocupação capitalista em explorar cada vez o potencial produtivo do ser humano para o acúmulo de capital. Está certa a ideia de preparar o ser humano para uma profissão, porém, com a finalidade de ganhar sua vida (o que no caso do Brasil – principalmente não ocorre por causa dos salários aviltantes da maioria, insuficiente para a manutenção de condições dignas dos que trabalham). Mas é preciso que o preparo para o trabalho esteja voltado também para o “valor social do trabalho”, tão importante quanto o “valor econômico”. Por outro lado, o modelo tecnicista não apresenta nenhum tipo de preocupação com a formação do ser humano como tal. Um homem-cidadão comprometido com o bem-estar da sociedade na qual se integra e da qual é membro. No que se refere ao processo didático, cabe ao professor aplicar formas para arranjar e combinar reforços no encadeamento do que deve ser aprendido pelo aluno. Na concepção desse processo, o instrutor ou professor dispõe de três formas para arranjar e combinar o reforço e as contingências. São elas: a) encadeamento: consiste no arranjo das condições de reforço, de maneira que uma cadeia de respostas sejam aprendidas...; b) modelagem: refere-se à aprendizagem de hábitos motores, que no início se aproximam de uma cópia e melhoram conforme são executados e se tornam próximos do modelo apresentado; c) enfraquecimento: ocorre quando uma resposta controlada por estímulo passa a ser emitida mesmo quando o estímulo original se apresenta enfraquecida (ALTOÉ, 2010, p. 58). Pode-se observar que o processo didático tem uma sequência que se pretendealcançar, a qual seja lógica e capaz de criar uma escala de compreensão ao aluno para que a aprendizagem se realize dentro do que se pretende a partir dos pressupostos teóricos. Dentre os elementos que desafiaram o processo didático da pedagogia tecnicista, destaca-se a aplicação de técnicas que permitissem o ensino mais prático e operacional. Não havia um equilíbrio entre os elementos componentes dos métodos e a avaliação da aprendizagem. No entanto, a questão central do ensino na abordagem tecnicista não é o professor nem o estudante, mas as técnicas. Nessa direção, reorganiza-se o 8 processo educativo no sentido de torná-lo objetivo e operacional. As escolas tornaram-se instituições burocratizadas. Nesse contexto, exige-se dos professores, a operacionalização dos objetivos, como instrumentos para medir comportamentos observáveis e válidos porque devem ser mensurados, controlados (ALTOÉ, 2010, p. 60). O cenário de aplicação deste processo exigiu reestruturação de espaços físicos e criação de instrumentos que se orientam pela prática em muitas atividades educacionais, mesmo porque é dele que se vai orientar a formação de pessoal para mão-de-obra de muitas das áreas produtivas. A educação brasileira, a partir de 1980, começa a repensar e reorganizar o processo educativo, com o objetivo de formar um indivíduo ativo e interativo com o meio em que vive. Diante desta realidade surge o processo construtivista em meados de 1980, o qual pauta-se no interesse e curiosidade do aluno, os quais devem ser provocados pelo professor. O construtivismo se encontra concentrado na teoria de Piaget, cujo princípio no qual se fundamenta é que a criança precisa ter contato com o conhecimento científico, mas que este deve ser colocado à sua disposição, em um universo que a desperte e faça com que ela se desenvolva, em meio a objetos e fatos que lhe despertem a curiosidade e o interesse. Para que esse desenvolvimento aconteça em sua plenitude, faz-se necessário a mediação do professor. A explicitação de Piaget sobre a gênese e a natureza do conhecimento humano ampara a elaboração de um pensar e fazer pedagógico que, a partir de então denomina-se processo construtivista. Esses pressupostos teóricos enfatizam a primazia da ação do sujeito sobre o objeto do conhecimento, ou seja, a criança constrói seu conhecimento mediante uma experiência individual e por meio de interações estabelecidas com o meio físico e social (NEGRÃO, 2010, p. 71). Em termos conceituais, construtivismo significa, especificamente, que o conhecimento não é dado, em nenhuma instância, como algo terminado. Ele se constitui pela interação do indivíduo com o meio físico e social, com o simbolismo humano, com o mundo das relações sociais; e se constitui tal, por força de sua ação e não por qualquer dotação prévia, na bagagem hereditária ou no meio, de tal modo que podemos afirmar que, antes da ação não há psiquismo, nem consciência e, muito menos pensamento. A concepção construtivista, além de uma teoria, pode-se ser considerado como um referencial explicativo aplicativo que interpreta o processo de ensino-aprendizagem com um 12 processo social de caráter ativo em que o conhecimento é fruto da construção pessoal do aluno; construção essa 9 mediada pelo professor e outros agentes culturais que fazem parte do contexto “desse aluno”. Construtivismo é, portanto, a colocação em prática da ideia piagetiana a respeito da realização da aprendizagem e do conhecimento ou um movimento do pensamento que emerge do avanço das ciências e da filosofia dos últimos séculos. Uma teoria que nos permite interpretar o mundo em que vivemos. No caso de Piaget, o mundo do conhecimento: sua gênese e seu desenvolvimento. Construtivismo não é uma prática, não é um método, não é uma técnica de ensino, não é uma forma de aprendizagem, não é um projeto escolar, mas uma teoria que permite reinterpretar todas essas coisas jogando-nos para dentro do movimento da história: da humanidade e do universo. Não se pode esquecer que, em Piaget, aprendizagem só acontece na medida que a criança se desenvolve, como movimentos das estruturas da consciência. Na prática escolar, é possível compreender o que acontece em uma sala de aula, cuja teoria aplicada é a construtivista, em que os alunos têm à disposição uma variedade de elementos que evidencia a construção do conhecimento a partir do uso do raciocínio e, em muitos casos, da indução e dedução. A escola de hoje (século XXI), passou a adotar com muito sucesso nos últimos três anos a orientação construtivista. O construtivismo, em linhas gerais, é o processo pelo qual o indivíduo aprende as coisas da realidade ao colocá-las em relação aos seus conhecimentos anteriores. O professor repensa o seu papel como educador. Ao invés de ser somente o transmissor de ideias e informações, torna-se o agente do desenvolvimento do aluno, estimulando-o a raciocinar ao invés de imitar. Ele aprende através de descobertas. O educador entende os “erros” como hipótese e tem o prazer em discuti-los, promovendo o conflito interno e a evolução do pensamento. Para a criança, assim como para a ciência, uma hipótese é aceita como verdadeira até que surja outra que a derrube. Elas vão reformulando suas hipóteses no decorrer de seu desenvolvimento. Desta forma, o erro é visto como uma etapa, a qual está dentro do processo de aprendizagem, e serve como indicador do raciocínio da criança, possibilitando a interpretação e interferência do educador. Encoraja-se a criança a ser autônoma, independente e curiosa, a tomar iniciativas, exprimir suas ideias com convicção, de maneira construtiva e não de desencorajar facilmente. 10 O ensino é visto como um convite à exploração e à descoberta, ao invés de transmissão de informações e técnicas. Nesse contexto de interação sujeito-objeto, o indivíduo tem um papel preponderante na construção do conhecimento. Ferreiro e Teberosky (1985, p. 26) reafirmam que esse papel é fundamental para se conquistar a autonomia moral por meio da autonomia cognitiva porque é “um sujeito que procura ativamente compreender o mundo que o rodeia e trata de resolver as interrogações que este mundo provoca, não é um sujeito que espera que alguém que possui um conhecimento o transmita a ele” (NEGRÃO, 2010, p. 73). A aplicação adequada destes elementos é a base do aproveitamento do processo construtivista, que ainda suscita muita discussão, mas é defendido por muitos como atual e necessário para que a teoria e a prática se consolidem na realização do objetivo primeiro da educação, que é a aprendizagem. Diante desse patamar, o processo sócio libertador ganhou maior atenção, uma vez que se preocupava não somente com a aprendizagem de conteúdos escolares, mas também preocupava-se que o indivíduo, pudesse através da educação a vir ser emancipado. O processo didático sócio libertador tem suas origens na metade do século XX, com as ideias do brasileiro Paulo Freire, que revoluciona o pensamento educacional a partir da sala de aula, com extensão aos grupos sociais, integrando os cidadãos no sentido da aquisição de conhecimento, somados aos seus direitos e ao relacionamento uns com os outros. Tem por alicerce o despertar da consciência para o desempenho do papel humano na sua plenitude nas áreas política, profissional, familiar e sociocultural de modo geral. É preciso permitir que o homem se desenvolva a partir de sua capacidade intelectual e social. Para que isso ocorra é fundamental que lhe dê liberdade plena para suas ações e expressão de capacidade, ou seja de suas ideias. E isso só é possível quando este homem tem consciência de si e do que pode e deve fazer. Para Paulo Freire (1979), a conscientização é, neste sentido, um teste de realidade. Quanto mais conscientização, mais se “desvela” a realidade, mais se penetra na essência fenomênica doobjeto, frente ao qual nos encontramos para analisá-lo. Por esta mesma razão, a conscientização não consiste em “estar frente à realidade” assumindo uma posição falsamente intelectual. A conscientização não pode existir fora da “práxis”, ou melhor, sem o ato ação – reflexão. Esta unidade 11 dialética constitui, de maneira permanente, o modo de ser ou de transformar o mundo que caracteriza os homens. O processo de conscientizar, sempre inacabado, não significa transferir para os outros o peso de um saber descomprometido, o que induziria a novas formas da alienação, mas consiste em vinculá-lo a ações concretas e eficazes. Conhecer a conscientização como método pedagógico de libertação não é suficiente. Torna-se necessário transformá-la e vive-la, na prática escolar, como uma metodologia da mudança, constituindo-se um compromisso teórico-prático de todos os educadores e educandos (GASPARIN, 2010, p. 85). A preocupação com a filosofia deste processo didático está concentrada não na simples transmissão de conteúdos de supostos conhecimentos, tão pouco na formação do cidadão dentro de princípios em que predominam as ideologias feitas com base no pensamento de seus criadores. Trata-se de uma proposta que permite através do livre desenvolvimento intelectual e da criatividade, como elementos para a escolha do que é mais importante para cada um, sem com isso interferir na ordem legal ou esquecer-se das relações sociais. A formação do homem em sua capacidade intelectual está diretamente ligada ao ambiente onde se encontra. Quanto mais aberto, mais explícito, mais prático e transparente, melhor será o seu resultado. Isso só poderá ocorrer em ambiente de liberdade e de participação, o caso da educação, o aluno tem que ser tratado como sujeito ativo na sua plenitude. Isso implica afirmar que o processo de conscientização não permite imposição no sentido de escolha, mas sim, de descoberta dos direitos e deveres do cidadão e da capacitação para que ele possa ter instrumentos para alcançar e vivenciar estes dois lados de uma mesma moeda. O entendimento da proposta deste processo didático na prática ressalta a “educação como prática da liberdade”. Isso quer dizer que é preciso conhecer o outro para respeitá-lo, somando-se a ele e a demais indivíduos em diferentes dimensões para a construção de um mundo mais pacífico e sem omissões, seja participativo por compromisso e não por determinação normativa. A educação, nessa perspectiva, não se faz de um indivíduo para outro, ou sobre o outro, mas com o outro, mediatizados ambos pelo mundo, pelo conteúdo comum, nas condições concretas dos existires de cada um. Por isso, o conteúdo da educação não pode ser definido apenas pelo educador- educando, nem somente pelos educandos-educadores, mas buscado por ambos na realidade mediatizadora e na consciência que se tenha dela (GASPARIN, 2010, p. 87). 12 Identificando os níveis de consciência propostos neste processo didático, centrado principalmente na obra de Paulo Freire, torna-se mais simples compreender e assimilar o fenômeno da conscientização como prática educacional. Os níveis de consciência são apresentados da seguinte forma: Consciência intransitiva; consciência transitiva ingênua; consciência transitiva crítica; consciência filosófica; consciência sociopolítica organizativa e consciência pedagógica, apontadas por Gasparin (2010, p. 88-89). Pode-se observar que a proposta da conscientização é a da libertação da mente, que proporcionará ao cidadão agir de forma mais segura, pois ele sabe que além de estar exercendo um direito sagrado por sua condição humana, também devem se responsabilizar por seus atos e, portanto, responder por eles. A educação como um todo, deveria pensar seriamente na liberdade não como limitações do que pode e não pode, das penas as quais se corre o risco aquele que não seguem à risca o que estabelecem, aqueles que se julgam donos do poder, seja por leis e normas diversas ou por imposição apenas de poder político ou econômico. Isso indica que a prática da educação libertadora deveria ser mais presente nas escolas de nosso tempo. Com relação aos elementos didáticos, são denominados de forma semelhantes aos demais processos, porém, com estruturas diferenciadas. São elementos didáticos deste processo: Conteúdo; objetivo; metodologia; avaliação e planejamento, segundo Gasparin (2010, p. 92-93). Segundo essa proposta didática escolar, os conteúdos são fundamento para professores que desejam trabalhar os conteúdos curriculares das diversas áreas do conhecimento, tanto em nível de Ensino Fundamental e Médio quanto Superior.1 1.2 A Didática como componente formador da prática pedagógica A Didática constitui-se como uma disciplina importante para a formação do professor. Como um componente curricular do curso de Pedagogia e das demais licenciaturas, “estuda os objetivos, os conteúdos, os meios e as condições do 1 Texto extraído do link: http://www.dfe.uem.br/textos/tcc_2010/Vanessa%20Carolyne%20Lucca.pdf 13 processo de ensino tendo em vista finalidades educacionais, que são sempre sociais” (LIBÂNEO, 1994, p. 16). É também de crucial importância para a prática pedagógica por influenciar diretamente no processo de ensino-aprendizagem e na relação professor-aluno, bem como por oferecer os fundamentos teórico-práticos para o desenvolvimento e fundamentação dessa prática. Nesse sentido, os conteúdos escolares devem possuir uma finalidade social, o que significa que “[...] esses conteúdos sejam integrados e aplicados teórica e praticamente no dia-a-dia do educando [...]. Essa nova postura implica trabalhar os conteúdos de forma contextualizada em todas as áreas do conhecimento” (GASPARIN, 2005, p.2). Dessa forma, os conteúdos devem ser constantemente relacionados com a realidade social do educando. A Didática, como uma área da Pedagogia, “tem por especificidade o estudo da problemática de ensino-aprendizagem, contribui com as demais na formação de professores” (PIMENTA, 2001, p.68), visto que não se pode negar os conhecimentos prévios dos alunos, muito menos o contexto no qual estão inseridos. Segundo Martins (2003), a matriz curricular do curso de Pedagogia segue o pressuposto de que a teoria precede a prática. Dessa forma, se a pessoa tem um vasto conhecimento teórico, consequentemente, conseguirá relacionar a teoria aprendida com a prática em sala de aula, usando de métodos diversificados na apresentação e discussão dos conteúdos, no intuído de mediar uma aprendizagem significativa para o educando. Assim, o ensino da Didática está voltado para o processo de ensino-aprendizagem, levando em conta a utilização dos procedimentos metodológicos, para que os alunos possam compreender os conteúdos apresentados e discutidos nas aulas. (LUCKESI, 1984). Portanto, não poderá ser concebida como métodos e técnicas, mas como “associação entre teoria-prática; ensino-pesquisa; conteúdo e forma; técnico e político; professor-aluno. A Didática, no âmbito dessa Pedagogia, auxilia no processo da politização do futuro professor”. (FREITAS; RIBEIRO; MOURA, 2012, p. 40). Nessa perspectiva, cabe ao professor preparar as aulas, utilizando de artefatos apropriados para alcançar os objetivos propostos, visando não apenas a aprendizagem escolarizada, mas uma aprendizagem social. Esse componente, portanto, “permeia todos os outros, sendo interdisciplinar, pois será a ‘base comum’ para que o professor busque a melhor forma de desenvolver 14 sua função. Podemos perceber que é clara a importância da didática na formação e ação docente” (BARADEL, 2007, p. 36-37). Notamos, no contexto atual da profissão docente, que a Didática ainda não obteve essa relevância no processo de articulação teoria-prática, reduzindo-se somente à utilização de técnicas no processode ensino e aprendizagem. De acordo com Tavares (2011, p. 14), “a Didática, para desempenhar papel significativo na formação do educador, não poderá reduzir-se somente ao ensino de técnicas pelas quais se deseja desenvolver um processo de ensino-aprendizagem”. Esta, enquanto componente curricular dos cursos de licenciaturas, precisa ampliar a formação docente e levar em consideração o desenvolvimento da capacidade crítica, para que o professor pense sobre a realidade escolar, o contexto ao qual seus alunos pertencem, buscando refletir para quem ensinar, o que ensinar, por que ensinar. Dessa maneira, a Didática torna-se peça fundamental para que o docente aprenda a ter um olhar interdisciplinar. Dessa forma, sendo a educação uma prática social, a atividade docente torna- se uma práxis (relação teórico-prática), na qual está presente a unidade teoria/prática no processo de ensino aprendizagem (PIMENTA, 2006). Para tanto, cabe ao professor criar meios para que seus alunos consigam compreender, na íntegra, o que está sendo proposto. A Didática busca ainda analisar e refletir sobre os processos formativos para o exercício da docência. Nesse sentido, O objeto de estudo da Didática é o ensino e sua intencionalidade. É a problemática do ensino em situação. Como entendê-lo dialeticamente? Como investigá-lo na direção de nele identificar as possibilidades de contribuir para o processo de humanização dos homens? (PIMENTA, 2001, p. 63). Dessa forma, pode-se dizer que a Didática é um componente facilitador para a prática interdisciplinar, já que ela busca trazer uma aprendizagem para a vida e não apenas uma aprendizagem escolarizada; além de apresentar uma infinidade de recursos que contribuem no aprimoramento e desenvolvimento da prática docente. 15 1.3 A interdisciplinaridade como facilitadora do processo de ensino/aprendizagem O ato interdisciplinar deveria ser adotado por todas as instituições, visto que, trabalhar um determinado assunto em toda sua extensão, torna a aprendizagem mais fácil e eficaz, pois mostrará o sentido e o significado que as temáticas abordadas trazem para a vida do indivíduo. Segundo Ivani Fazenda, Interdisciplinaridade é uma nova atitude diante da questão do conhecimento, de abertura à compreensão de aspectos ocultos do ato de aprender e dos aparentemente expressos, colocando-os em questão. [...] A interdisciplinaridade pauta-se numa ação em movimento. Pode-se perceber esse movimento em sua natureza ambígua, tendo como pressuposto a metamorfose, a incerteza (FAZENDA, 2002, p. 180). Para uma melhor compreensão, ressaltamos aqui uma breve compreensão obtida durantes as aulas dos componentes curriculares: Epistemologia da Interdisciplinaridade e de Educação Ambiental no Ensino de Ciências, em que ficou evidente que a interdisciplinaridade pode ser vista como um pressuposto que qualifica o que é comum a duas ou mais disciplinas ou outros ramos do conhecimento. É o processo de ligação entre as disciplinas que "pressupõe a existência de ao menos duas disciplinas como referência e a presença de uma ação recíproca" (GERMAIN 1991, p. 143). A palavra interdisciplinar é formada pela união do prefixo "inter", que exprime a ideia de "dentro", "entre", "em meio"; com a palavra "disciplinar", que tem um sentido pedagógico de instruir nas regras e preceitos de alguma arte. É o diálogo entre as disciplinas curriculares. (JAPIASSU, 2009). A interdisciplinaridade vem sendo discutida por duas relevantes visões: pela visão epistemológica, que tem como ponto de partida o conhecimento em seus aspectos de produção, reconstrução e socialização; a ciência e seus paradigmas; e o método como mediação entre o sujeito e a realidade. E pela visão pedagógica que procura tratar basicamente das questões de natureza curricular, de ensino e de aprendizagem escolar (GADOTTI, 2004). No tocante à visão epistemológica, Morin (2005) destaca o pensamento complexo que, ao atuar sobre uma realidade também complexa, pode fazer avançar a reforma do pensamento na direção da contextualização, da articulação e da vasta mistura de conhecimento produzido pela humanidade. 16 Desse modo, pode-se afirmar que o exercício interdisciplinar é algo que vai além do conhecimento adquirido em sala de aula. É uma aprendizagem que procura trazer para o processo de ensino um sentido e significado que o indivíduo possa carregar para a vida. É aprender a ir além das paredes da sala de aula, fazendo com que o docente saia da zona de conforto e crie meios para levar uma aprendizagem crítica e humanizada. De acordo com Nunes (2011, p. 57), “o sentido é, pois, produzido a partir das relações que o sujeito estabelece com as outras pessoas e com o mundo que as cerca”. Dessa forma, a prática interdisciplinar se torna imprescindível no processo formativo e a prática pedagógica de professores. Para Japiassu (1976), a interdisciplinaridade visa à recuperação da unidade humana pela passagem de uma subjetividade para uma intersubjetividade e, assim sendo, recupera a ideia primeira de cultura (formação do homem total), o papel da escola (formação do homem inserido em sua realidade) e o papel do homem (agente das mudanças do mundo). Enquanto que a disciplinaridade é apenas uma forma de especificar o conhecimento científico, partindo-o em parcelas menores, fazendo com que cada professor trabalhe sua disciplina e conteúdo de forma isolada. Na visão de Veiga – Neto (1994, p. 59), O conhecimento disciplinar não pode ser extinto por atos de vontade, por engenharia curricular ou por decretos epistemológicos, uma vez que a disciplinaridade dos saberes é um dos fundamentos da modernidade (...). Essa disciplinaridade não é uma doença que veio de fora e atacou/contaminou nossa maneira de pensar, ela é a nossa própria maneira de pensar. Assim, a interdisciplinaridade não será um ato fácil, pois exige que os envolvidos saiam da zona de conforto, procurando sempre ir além de suas perspectivas e de seus conhecimentos padronizados. Além disso, que procurem reestruturar os conhecimentos obtidos durante a formação, bem como se posicionem perante o conhecimento, desfazendo-os dos condicionamentos históricos que os constituem. Nessa perspectiva, a interdisciplinaridade se distingue da disciplinaridade pela amplitude dos conhecimentos existentes entre cada especialista e pela forma como eles conseguem se relacionar, levando em conta o conhecimento específico de cada área, interagindo de forma global com a proposta apresentada. 17 1.4 A contribuição da didática na prática interdisciplinar com foco no processo de ensino/aprendizagem A escola, como lugar propício para aprendizagem, produção e reconstrução de conhecimento, sente a necessidade de seguir constantemente os avanços globais e criar meios que propiciem uma formação crítica e humanizada do indivíduo. Para isso, a interdisciplinaridade torna-se uma chave mestra para o processo de ensino/aprendizagem, bem como para o desenvolvimento social do educando, já que abarca de forma extensa os assuntos apresentados. Para Gadotti (1995), a interdisciplinaridade tem como função garantir a construção de um conhecimento globalizante, rompendo com as fronteiras das disciplinas, visando a um conhecimento amplo. Uma boa prática educativa é essencial para a formação de qualquer indivíduo, pois fornece meios de interpretar as coisas que veem, ou que ouvem, de uma forma mais coerente e clara. No entanto, torna-se cada vez mais difícil encontrar uma prática educativa que atenda a todas as demandas dos alunos, já que existem vários fatores que interferem no processo de ensino/aprendizagem e na prática educativa exercida pelo professor, como a questão familiar e as dificuldades/transtornos de aprendizagem, as questões sociopolíticas, dentre outras. Ferreiro (2000, p.31) afirma que “nenhuma prática pedagógicaé neutra. Todas estão apoiadas em certo modo de conceber o processo de aprendizagem e o objeto dessa aprendizagem”. O professor não pode, então, tornar-se um prisioneiro de suas próprias convicções elevar para sala apenas aquilo que ele acredita. Para ser eficaz, “deverá adaptar seu ponto de vista ao da criança. Uma tarefa que não é nada fácil” (FERREIRO, 2000, p.61). Dessa forma, é necessário que o educador conheça bem o contexto em que seus alunos estão inseridos, para buscar recursos que estejam ligados à realidade deles, não correndo o risco de abordar temáticas que estejam muito distantes da compreensão. Além do mais, devem adotar práticas atrativas que chamem a atenção dos educandos. Segundo Freire (1996), a prática educativa exige respeito aos saberes dos educandos, ou seja, conhecimentos que já possuem advindos de sua própria comunidade e relacioná-los com os conteúdos curriculares. Nessa perspectiva, Gasparin (2005, p. 7) ressalta que 18 O processo pedagógico deve possibilitar aos educandos, através do processo de abstração, a compreensão da essência dos conteúdos a serem estudados, a fim de que sejam estabelecidas as ligações internas específicas desses conteúdos com a realidade global. Com a totalidade da prática social e histórica. Este é o caminho por meio do qual os educandos passam do conhecimento empírico ao conhecimento teórico-científico, desvelando os elementos essenciais da prática imediata do conteúdo e situando-o no contexto da totalidade social. Dessa maneira, é necessário que o educador conheça o contexto no qual seus alunos estão inseridos, além de criar meios para que possam expor seus conhecimentos prévios acerca da temática abordada. O professor, enquanto mediador do conhecimento, não pode impor suas vontades e percepções, mas sim criar meios que conduzam seus educandos a um pensamento crítico e plausível para defrontar o conteúdo fora do espaço educacional. Boff (1997, p. 72) ressalta que: A natureza e o universo não constituem simplesmente o conjunto de objetos existentes, como pensava a ciência moderna. Constituem sim uma teia de relações, em constante interação. Os seres que interagem deixam de ser apenas objetos. Eles se fazem sujeitos, sempre relacionados e interconectados, formando um complexo sistema de inter-retro relações (sic.). Sendo assim, cabe sempre ao docente criar uma relação e um clima agradável que faça com que os alunos não se sintam meros objetos, mas que se sintam parte do ambiente, para que os assuntos abordados consigam atingir seus principais objetivos. Só assim o trabalho interdisciplinar propiciaria uma interação entre os professores e alunos, bem como uma experiência de convívio grupal. Dessa forma, é preciso repensar os procedimentos metodológicos como forma de promover a união escolar em torno do objetivo comum de formação de indivíduos sociais. Nessa perspectiva, a atitude interdisciplinar consiste em apresentar aos alunos possibilidades diferentes de olhar um mesmo acontecimento. Em vista do exposto, fica evidente que a interdisciplinaridade é o pressuposto eficaz para a construção do conhecimento crítico e para a aprimoração do processo de ensino/aprendizagem na sociedade atual, e que a Didática é o Componente Curricular que contribui para a aquisição de práticas docentes que atendam a essas demandas.2 2 Texto extraído do link: http://periodicos.uesb.br/index.php/semgepraxis/article/viewFile/7426/7199 19 2 A DISCIPLINA DE ARTES E O PLANEJAMENTO ESCOLAR Tendo em vista que o Ensino de Arte já passou por diversas mudanças dentro do currículo escolar até conquistar espaço garantido por lei, este ainda é ignorado por muitos no que se refere a sua importância no processo de desenvolvimento do indivíduo. A Lei 9.394/96 representa um avanço em termos do espaço para o ensino da arte no currículo do ensino básico, quando propõem que “o ensino da arte constituirá componente obrigatório, nos diversos níveis da educação básica, de forma a promover o desenvolvimento cultural dos alunos” (art. 26, &2º). Dessa forma, a disciplina de arte deve garantir que os alunos conheçam e vivenciem experiências relacionadas às modalidades artísticas como a música, as artes visuais, o teatro e a dança. Segundo os objetivos descritos no PCN de Arte, O aluno poderá desenvolver seu conhecimento estético e competência artística nas diversas linguagens da área de Arte (Artes Visuais, Dança, Música, Teatro), tanto para produzir trabalhos pessoais e grupais como para que possa, progressivamente, apreciar, desfrutar, valorizar e emitir sobre os bens artísticos de distintos povos e culturas produzidas ao longo da história e na contemporaneidade. (1998, p. 47). Sendo assim, é preciso que as aulas de artes sejam planejadas tendo em vista o contexto escolar, objetivando, um compromisso efetivo com a melhoria da qualidade do ensino e consequentemente com a educação. O planejamento em si é uma necessidade básica e fundamental para o desenvolvimento de toda e qualquer atividade que se pretenda executar, desde as mais simples até as mais complexas, e isso ocorre no dia a dia de qualquer indivíduo. O planejamento escolar também é necessário nas práticas educativas, e deve acontecer por meio de ações prévias que se pretende desenvolver em função de um ensino organizado e eficaz. Assim, o planejamento é extremamente importante, pois ajuda o professor a refletir e consequentemente compreender melhor todo um contexto para então, desenvolver com maior eficácia o processo de ensino aprendizagem dos alunos. Para Libâneo, O planejamento consiste numa atividade de previsão da ação a ser realizada, implicando definição de necessidades a atender, objetivos a atingir dentro das possibilidades, procedimentos e recursos a serem empregados, tempo de 20 execução e formas de avaliação. O processo e o exercício de planejar referem-se a uma antecipação da prática, de modo a prever e programar as ações e os resultados desejados, constituindo-se numa atividade necessária a tomada de decisões. (LIBÂNEO, 2001, p. 123) O planejamento é um instrumento de trabalho do professor, pois é ele quem vai executá-lo na sala de aula, é ele quem vai conhecer os fatores determinantes, mais essenciais, que precisam ser trabalhados durante o processo de ensino- aprendizagem. No entanto, o professor precisa ter clareza dos objetivos ao planejar, ao contrário ele não se envolverá significativamente na possibilidade de mudança da realidade. E isso, pode comprometer uma atuação mais ativa na transformação da realidade educacional. Segundo Libâneo (1994, p. 221), “o planejamento escolar é uma tarefa docente que inclui tanto a previsão das atividades em termos da sua organização e coordenação em face dos objetivos propostos, quanto a sua revisão e adequação no decorrer do processo de ensino”. Em outras palavras, o planejamento não pode ser estático, precisa mover-se de acordo com as necessidades observadas em sala de aula, com o perfil dos alunos e com a flexibilidade do professor. O planejamento é um reflexo da ação do professor, que deve ter clareza de sua importância, de outro modo, sua prática docente não terá fundamento e as metas, entre as quais podemos citar a formação de um indivíduo mais preparado para apreciar, construir e analisar os elementos artísticos a sua volta, dificilmente serão alcançadas. Segundo Vasconcellos (1995, p. 27), “se planejar significa antever uma intervenção na realidade visando sua mudança, a possibilidade do planejamento está intrinsecamente ligada à possibilidade desta transformação vir a ocorrer”. Portanto, o processo educacional requer uma ação prática docente voltada para uma educação de qualidade, com a finalidade da promoção da cidadania. Que seja também capaz de desenvolver no indivíduo saberes essenciais parao seu desenvolvimento pessoal e também profissional, para que, o nível de qualidade de ensino possa atingir o mais alto grau de excelência, combinando alcance dos objetivos com a realização plena do fazer docente. Portanto a arte, uma das mais expressivas formas de manifestações do indivíduo em todo o seu processo de evolução relacionada à história da humanidade, está presente em todos os processos de desenvolvimento, seja individual ou coletivo, 21 manifestando-se através das diversas modalidades artísticas. Dessa forma, a arte sofre influência da cultura, seja através dos meios naturais ou acontecimentos históricos sociais. E como a arte está intimamente vinculada à história e evolução da humanidade consequentemente o indivíduo é motivado a criar, interpretar, representar e produzir o fazer artístico, tais construções são edificadas a partir de experiências adquiridas ao longo de sua vida. Assim as autoras Fusari e Ferraz (1993, p. 53), foram precisas ao dizer que, “o professor de arte é um dos responsáveis pelo sucesso desse processo transformador, ao ajudar os alunos a melhorarem suas sensibilidades e saberes práticos e teóricos em arte”. A escola é um espaço onde se busca desenvolver a aprendizagem significativa, desempenhando papel fundamental na formação do indivíduo, tanto pessoal como profissional. Nessa perspectiva, favorece a ordenação e a continuidade da experiência individual ou coletiva, pois a orientação educativa é um fator de aprendizagem que promove o desenvolvimento do indivíduo em todos os seus aspectos cognitivos, moral e social. De acordo com o PCN de Arte: A dimensão social das manifestações artísticas revela modos de perceber, sentir e articular significados e valores que orientam os diferentes tipos de relações entre os indivíduos na sociedade. A arte estimula o aluno a perceber e relacionar tais significados sociais. Essa forma de compreensão da arte inclui modos de interação com a empatia e se concretiza em múltiplas sínteses. (1998. p.19). Percebemos então, que os conceitos relacionados à arte em todos os sentidos estão presentes no contexto histórico cultural o qual o indivíduo é parte integrante. Desse modo, a arte deve ser valorizada como parte do processo de construção do conhecimento. Nesse sentido, é importante a implementação de um currículo escolar organizado e articulado afim de que as aulas de arte tenham realmente significado para os educandos, e isso, deve acontecer de forma contextualizada. Dessa forma, as práticas pedagógicas devem respeitar as diversidades culturais, refletir seus conteúdos e métodos adotados no processo de ensino e aprendizagem em função de um ensino de qualidade, tendo em vista, as realidades cotidianas. Para Fusari e Ferraz, 22 Ao serem propostos os exercícios ou as atividades práticas e teóricas deve- se observar uma constante sintonia com o desenvolvimento das capacidades e habilidades artísticas e estéticas que estão sendo trabalhadas. Assim, pode-se organizar exercícios e atividades como uma busca de soluções para problemas de arte pensados a partir da realidade dos alunos. Esses trabalhos escolares podem levar o aluno tanto ao fazer artístico quanto ao ato de comparar e contrapor produções artísticas próprias e de outros autores (FUSARI e FERRAZ, 1993, p. 74). As atividades propostas na área de arte devem garantir e ajudar os educandos a desenvolverem suas habilidades de forma criativa, exercitando seus modos de expressão e comunicação. Para atingir esse fim, é preciso que o arte/educador repense os conteúdos e sua prática pedagógica, substituindo métodos ultrapassados por novas metodologias, pois a partir do uso de recursos inovadores é possível desenvolver ações educativas significantes ao processo de ensino e aprendizagem em arte. Para isso requer a integração de atividades relacionadas entre os conteúdos teóricos e a prática em sala de aula, inclusive utilizando o conhecimento do aluno de modo que este não seja um elemento passivo, mas sim construtivo em toda a dinâmica do planejamento. Portanto é viável que isso ocorra através da elaboração de projetos que contemplem diversas atividades como realização de seminários, oficinas práticas, pesquisas, exposições e etc. Dessa forma, tal metodologia contribuirá para a formação de indivíduos conscientes e atuantes no meio social onde convivem. Para Vasconcellos (1995, p. 45), “No contexto escolar o planejamento participativo caracteriza-se pela busca de integração efetiva entre escola e a realidade social, primando pelo inter-relacionamento entre teoria e prática”. O planejamento deve ser entendido como uma estratégia do professor, sendo um meio pelo qual ele deve elaborar suas aulas. Este precisa ser flexível, de acordo com a realidade e dentro das possibilidades de execução, atendendo as necessidades dos envolvidos no processo de construção do saber. O planejamento ainda pode ser entendido como uma ajuda ao pensamento estratégico do professor, sendo um recurso inteligente por meio do qual ele pode executar suas aulas, não fechando nenhum caminho de acesso, ao contrário, o planejamento somente pode concretizar-se na sala de aula e lá será necessário tomar um conjunto de decisões que, às vezes, afetam pouco o que havia sido previsto e, em outras, exigem modificações substanciais. 23 Diante da realidade a qual é formada a sociedade identifica-se uma grande diversidade cultural presente em todo o território nacional. Dessa forma, é fundamental que o planejamento das aulas de arte aconteça de modo que contemple todas as dimensões dentro do contexto histórico social e cultural. Isso implica as variações artísticas presentes na sociedade, e que é fato dentro das instituições escolares. Por isso, deve haver a integração de todos os grupos. Além disso, a escola precisa trabalhar essa realidade para que o educando possa interagir com o meio no qual está inserido. No entanto, a arte é uma forma de expressão e está diretamente relacionada a realidade cultural que vem se desenvolvendo durante todo o processo de civilização, desde as primeiras manifestações do homem. Assim, desde cedo, entramos em contato com diferentes expressões artísticas que auxiliam no desenvolvimento das nossas capacidades. Nesse sentido, cabe a disciplina de arte motivar o aluno a gostar de arte, ou simplesmente ensiná-lo a ser um observador crítico do mundo que o cerca. Por isso, as aulas de arte precisam ser planejadas de forma que centralizem e objetivem o desenvolvimento da criatividade dos alunos em processo de construção do conhecimento.3 3 COMPETÊNCIAS, HABILIDADES, CONTEÚDOS As competências e habilidades estão ligadas às práticas sociais – tanto em Arte como em outras disciplinas ou áreas. A aquisição de competências e habilidades, segundo Perrenoud (2001, p. 21), situa-se no âmbito do sujeito da aprendizagem, como conquista que lhe permitirá saber mobilizar recursos, tanto cognitivos como afetivos, para enfrentar situações complexas. Os PCNEM articularam sua proposta em Arte considerando as competências e as habilidades necessárias a uma aprendizagem mais afeita às demandas interdisciplinares. Isso não significa a supressão de conteúdos específicos de artes visuais, dança, música, teatro e artes audiovisuais. Significa, sim, a busca de pontos de interseção e, por vezes, a ênfase na separação entre as áreas e disciplinas, de modo a garantir que à classificação dos conteúdos de ensino de cada disciplina corresponda também a possível articulação entre conteúdos de diferentes disciplinas. 3 Texto extraído do link: http://bdm.unb.br/bitstream/10483/4487/1/2011_VilzaDiasdaCosta.pdf 24 Existem, portanto, competências e habilidades específicas que dizem respeito ao conhecimento da arte e outras, que podem ser comuns a várias disciplinasou áreas de conhecimento ou a questões sociais da atualidade. Seguindo a orientação de Le Borterf (1994), competências e habilidades são caracterizadas como um saber mobilizar recursos (conhecimentos e capacidades cognitivas e relacionais) – ou a capacidade do sujeito em lançar mão do todo ou de parte desses recursos – para enfrentar um conjunto de situações complexas. Não é possível estruturar o currículo escolar a partir de uma listagem de competências e habilidades. Isto porque, por um lado, tais indicadores não se prestam para todos os tipos de contexto de aplicação; por outro lado, competências e habilidades estão associadas a conceitos específicos e requerem recortes de conjuntos diferenciados de saberes, conforme os âmbitos de sua aplicação. Saber pesquisar, por exemplo, é competência de destaque nos desenhos curriculares; no entanto, o conjunto de competências e habilidades requeridas pela pesquisa varia conforme o objeto de investigação. E uma lista de competências não consegue dar conta dessas variações. Para melhor compreender por que precisamos definir competências e habilidades, suas variações em associação com o objeto e com os conceitos a serem desenvolvidos – que, por sua vez, compreendem também valores –, imaginemos dois objetos de pesquisa distintos: Num primeiro caso, o objetivo será promover as competências e habilidades necessárias para que o aluno saiba pesquisar obras de artistas; Num segundo, que o aluno saiba pesquisar sobre a história de uma região sobre a qual se conta com poucas fontes documentais. No primeiro caso, conceitos de arte permearão as ações do estudo: movimentos artísticos, contexto sociocultural da geração de poéticas, temperamento e estilo estarão tematizados nas ações de busca de fontes, seleção, ordenação e análise de informações e imagens. No segundo caso, o estudo demandará conceitos de história – como fontes primárias e secundárias, fatos e interpretações – imbricados, por exemplo, em entrevistas com habitantes da região, na busca de objetos ou tipos de habitação existentes no presente ou em fotos. Evidentemente, nos dois estudos 25 haverá interseções de algumas competências e habilidades, como selecionar e ordenar informações. 4 CONCEPÇÕES E POLÍTICAS SOBRE O ENSINO DA ARTE 4.1 Concepção de Arte Filósofos e artistas conceituam a Arte de acordo com o tempo em que a estão vivenciando. Todos têm algo em comum, conceituar Arte é muito complexo. Segundo Abbagnano (2000, p. 81), Arte designa todo um conjunto de regras capazes de dirigir uma atividade humana, podendo ser dívida em dois grupos ou áreas de conhecimento, a judicativa que consiste em apenas conhecer e a dispositiva ou imperativa, que simplesmente dirige determinada atividade do conhecimento. Segundo Pareyson (2001, p. 25), “a Arte no pensamento pode ser dividida em três grupos: como fazer, como conhecer e como exprimir”. Para Gombrich (2000, p. 15), “nada existe realmente a que se possa dar o nome de Arte. Existem somente artistas. Não prejudica ninguém dar o nome de Arte a todas essas atividades, desde que se conserve em mente, como tal palavras pode significar coisas muito diversas, em tempos e lugares diferentes”. Para Coli (1995 p. 10), a Arte é uma possível explicação, definição ou emissão de um juízo de gosto sobre os objetos. Essa definição nos leva a pensar que Arte é o que julgamos ser de um determinado objeto de acordo com o nosso gosto. Bertoncini (2011), citando Dewey (2008), concebe a Arte como conhecimento e experiência, afirmando que, em todas as funções mentais, participam: intuição, inteligência e emoção. Para esse filósofo, A Arte compreende modelar o barro, esculpir o mármore, fundir o bronze, aplicar pigmentos, construir edifícios, cantar canções, tocar instrumentos, representar papéis em um cenário, realizar movimentos rítmicos na dança. Cada Arte faz algo com algum material físico, o corpo ou algo fora do corpo, com ou sem uso de ferramentas e com o objetivo de produzir algo visível, audível ou tangível (DEWEY, 2008, apud BERTONCINI, 2011, p. 54). Conceituar Arte depende de quem a formula e da época dessa elaboração. Não é possível entender a cultura de um país sem conhecer sua obra artística. Arte é artefato, linguagem, emoção, conhecimento. Por meio das artes, é possível 26 desenvolver a percepção, a imaginação, a capacidade crítica e analisar a realidade de maneira a transformá-la. Barbosa (2003) em uma entrevista à Revista Art, conceitua Arte de forma clara. Ela diz que: “Arte é artefato, não é natureza. Arte é linguagem presentacional que pode inter textualizar com outras linguagens [...]. Arte é emoção, porém representada de forma comunicável, portanto, passando pelo crivo do inteligível” (BARBOSA, 2003, não paginado). A Arte existe desde os tempos mais remotos, ela sempre esteve e está presente no mundo. As relações e maneiras de ver e sentir do homem é que se diferenciam com tais objetos. A Arte vem do pensamento e o homem a materializa, seja por meio de escrita, gesto, fala ou imagem. Uma obra artística não acaba com o tempo, em cada época, ela nos mostra que é capaz de ser transcendente “imortal feito por mãos mortais, adquire presença tangível para fulgurar e ser visto, soar e ser escutado, escrever e ser lido” (ARENDT, 1981, p, 181). 4.2 Concepção de Educação Artística A discussão em torno da nomenclatura Educação Artística é bastante discutida no Brasil. Essa educação pode-se dizer que é um conjunto de diferentes tipos de conhecimentos, que visam à criação de significados de formas artísticas apresentadas por significados e por meio das imagens visuais, sonoras, corporais ou literárias. Segundo Silva (1998, p, 1), “A educação artística corresponde com a formulação, quer teórica quer prática, de uma constância normativa, transformada no esgotamento das suas possibilidades, na prescrição de uma regra cultural, isto é, na concepção estável de uma forma de identidade e de controle da cultura”. Essa educação realiza formas e maneiras úteis de formação artística. Em 1971, foi promulgada a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional- LDB, 5.692/7110, a qual se situa, como tal, em posição abaixo da Constituição Brasileira. Um educador brasileiro lembra-nos que Considerando-se a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional como a Lei maior da educação no país, por isso mesmo denominada, quando se quer acentuar a sua importância, de ―carta magna da educação‖, ela se situa imediatamente abaixo da constituição, definindo as linhas mestras do ordenamento geral da educação brasileira. Dado este caráter de uma lei geral, diversos de seus dispositivos necessitam ser regulamentados através de legislação específica de caráter complementar. E é precisamente nesse 27 contexto que vai se processando, através de iniciativas governamentais, o delineamento da política educacional que se busca implementar (SAVIANI, 2004, p.2). No art. 7º dessa lei, o ensino da Arte passou a ser obrigatório no currículo escolar do Ensino Fundamental e Médio, com nomenclatura Educação Artística. Segundo Barbosa (1979), a Educação Artística era uma atividade e não uma disciplina e caracterizou-se na escola, sobretudo, pela espontaneidade, abalizada por uma metodologia que priorizava a livre expressão, um deixar-fazer sem maior comprometimento com o saber artístico. Em 1973, foram criados os primeiros cursos de Licenciatura em Educação Artística, na modalidade curta, com duração de dois anos e com um currículo que contemplava a polivalência dos conteúdos: Artes Plásticas, Música e Artes Cênicas. Durante a V Conferência Brasileira de Educação, ocorrida em Brasília, em 04 de agosto de 1988, a Federação de Arte-Educadores do Brasil (FAEB) se pronunciou e expôs sua reivindicação, que era incluir o espaço da Arte na redação da LDB, em processo de discussão.No dia seguinte, uma carta com as conclusões do I Congresso da FAEB foi encaminhada para o V Congresso Brasileiro de Educação, com a moção intitulada “A Educação Artística ausente na nova LDB”. Essa moção reivindicava atenção mais adequada para a Arte; que ela constasse como disciplina básica nos currículos de 1º e 2º graus (DIA; LARA, 2012, p. 930). Mais tarde, com aprovação da Lei nº 9.394/96, incluindo a obrigatoriedade, o ensino de Arte passou a constituir componente curricular obrigatório, nos diversos níveis da educação básica, de forma a promover o desenvolvimento cultural dos alunos (BRASIL, 2000, p. 30). A nomenclatura Educação Artística foi renomeada como Arte e passou a constar nos documentos oficiais, o que foi legitimado pela publicação dos PCN para o Ensino Fundamental e para o Ensino Médio que tratam da grande área de Arte, com orientações para as áreas de artes visuais, música, teatro e dança. Mas, não foi apenas um renomear, o sentido do ensino de Arte foi modificado pelo movimento dos arte-educadores na década de 1990. 4.3 Arte-Educação A expressão arte-educação - educação através da Arte foi criada por Herbert Read em 1943, popularizou-se e chegou até nós, segundo Duarte Jr (1991, p. 12). O 28 autor, ainda na mesma página, afirma que estudar arte-educação não significa que a pessoa virá a ser artista, a arte-educação “quer significar uma educação que tenha a arte como uma de suas principais aliadas”. Diversos autores têm realizado estudos que norteiam a Arte-Educação, como: Eisner (2008), Barrett (1979), Duarte Jr (1991, 1995), Dewey (1980), Gloton; Clero (1973), Read (1954), entre outros. Para esses autores, a Arte-Educação é bastante complexa; cada um, a respeito dela, tem um ponto de vista, às vezes contraditório, no final se fundam em um único pensamento e crenças no papel da Arte-Educação. O Movimento de Arte-Educação no Brasil, com a influência de Dewey na Semana da Arte Moderna, em 1922, teve a contribuição da artista Anita Mafalti e Mário de Andrade, os quais se apoiavam nas ideias de livre-expressão. Em um primeiro momento, o Movimento se constituiu fora da escola regular. Em 1930, esse movimento vinculou-se às novas exigências educacionais, deixando a arte de livre-expressão e abrindo espaço para a industrialização, ou seja, arte capitalista. Nessa década, o educador Anísio Teixeira foi convidado para organizar os programas para as disciplinas das escolas primárias na Bahia. Através do projeto de novos programas e da inter-relação de disciplinas, produziu uma mudança que venceu o antigo sistema de escolas para perpetuação das classes sociais (BARBOSA, 2004). Esse professor inseriu, nesse contexto, a educação corporal e relacionou trabalhos manuais e exercícios físicos com atividades intelectuais, criou as Escolas Parque, entre outras ações. Na época, rompeu com padrões estéticos e metodológicos. O grupo de Arte-educadores trouxe diversas discussões que geraram novas metodologias para o ensino e a aprendizagem de Arte nas escolas. Em 1988, o movimento ganhou força com as discussões para a nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBN), a qual retiraria a obrigatoriedade do ensino das artes do currículo escolar; o que não aconteceu. Constituído nessa década de 1980, o movimento Arte-educação teve como finalidade inicial “conscientizar e organizar os professores, resultando na mobilização de grupos de professores de Arte, tanto da educação formal como na educação informal” (BRASIL, 2000, p.30). A partir de então, aumentaram as discussões sobre a valorização do professor, as políticas educacionais para as Artes e Arte-educação, e ação cultural na realidade brasileira. O que define o movimento de Arte-Educação é o 29 fazer artístico, o conhecimento histórico e a apreciação estética. Gloton; Clero (1973, p. 143) destaca que, por intermédio desses três eixos, o ensino de Arte nessa abordagem possibilita a expressão livre sob as suas formas, uma vez que constitui um meio de permitir um progresso contínuo no desabrochar das possibilidades criativas e receptivas da criança. [...]. Fornecer múltiplos meios de expressão para enriquecer um vocabulário que irá transformar-se, de acordo com a tomada de consciência do espaço em relação a si mesmo e em relação aos outros. [...] Permitir ao jovem, através das suas próprias experiências, adquiridas num movimento de relações permanentes, desenvolverem o seu poder de apreciação, a sua reflexão, melhorar a memória do seu vivido para além da visão, incorporando-lhe os sentimentos, o prazer ou o desgosto. Com a Abordagem Triangular, criada por Barbosa na década de 1990, também conhecida como Proposta Triangular, procurou-se englobar vários pontos de ensino aprendizagem ao mesmo tempo, como, por exemplo, a leitura da imagem ou objeto (por meio de análise, interpretação e julgamento), a prática artística (fazer/criar) e a contextualização (referenciar o objeto no mundo). A contextualização consiste em inter-relacionar a História da Arte com outras áreas do conhecimento. É necessário estabelecer relações que permitam a interdisciplinaridade no processo ensino-aprendizagem. Segundo Barbosa (2005, p. 142), interpretar a conjuntura de uma obra de arte consiste em situá-la, não só historicamente, “[...] mas também social, biológica, psicológica, ecológica, antropológica etc., pois contextualizar não é só contar a história da vida do artista que fez a obra, mas também estabelecer relações dessa ou dessas obras com o mundo ao redor, é pensar sobre a obra de arte de forma mais ampla”. De acordo com Barbosa (1998, p. 38), “qualquer conteúdo, de qualquer natureza visual e estética, pode ser explorado, interpretado e operacionalizado por meio da “Abordagem Triangular”. Algumas das características dessa proposta é que ela é construtivista, interacionista, dialogal, multiculturalista bem como pós-modernista por integrar tudo isso e articular Arte como expressão e cultura na sala de aula. Essa proposta veio para reestruturar o ensino de Arte que já estava desacreditado. Para Read (1954), é importante analisar, em conjunto, a ação do professor e a do educando quanto à influência do meio externo, para se estabelecer uma educação estética voltada ao desenvolvimento do ser humano. 30 A teoria que enunciarei abarca todos os modos de expressão individual, literária e poética não menos que musical e auditiva, e forma um enfoque integral da realidade que deveria denominar-se educação estética, a educação desses sentidos sobre os quais se funda a consciência e, em última instância, a inteligência e o juízo do indivíduo humano. Somente na medida em que esses sentimentos estabelecem uma relação harmoniosa e habitual como mundo exterior, se constrói uma personalidade integrada (READ, 1954, p. 33). O desenvolvimento psicológico e a livre-expressão são ideias que conduzem a Arte-Educação e proporcionam o desenvolvimento da imaginação e da criatividade. Em 1954, Read fundou a International Society of Education Through Art (INSEA) com o objetivo de, por meio da Arte, difundir a paz no mundo bem como promover o progresso e o entendimento maior entre os povos do Universo. Ele propunha, assim, a tese de que a arte seria a base da educação, ressaltando a importância da educação estética na regeneração moral da humanidade. Segundo Barbosa (1988), não houve questionamento, nos congressos, em relação à posição dos Arte-Educadores como veículos de transmissão e consolidação da ideologia que predominava no sistema de ensino da época. O movimento de Arte-Educação, no Brasil, tem influência até a época vigente. Segundo Barbosa (2002a, p. 52), “a maioria dos métodos introduzidos sob a inspiração de Dewey no ensino de Arte no Brasil continuam sendo utilizados e muitas vezes considerados vanguarda educacional”. Dewey (1980) defendia uma educaçãoestética do indivíduo como via de transformação de uma racionalidade tecnológica emergente, defendendo uma aprendizagem centrada na experiência da criança. Para isso, considerou dois princípios fundamentais: primeiro, a escola deve ser o núcleo da vida em comunidade; segundo, a educação deve partir da experimentação. Para o filósofo, pedagogo e pedagogista norte americano, a escola é um instrumento ideal para estender a todos os indivíduos os benefícios que a Arte provoca como expressão do relacionamento entre várias atividades. As ideias e os princípios que fundamentaram a Arte-Educação multiplicaram- se no país por meio de encontros e eventos promovidos por universidades, associações de Arte-Educadores, entidades públicas e particulares, com o intuito de rever e propor novos andamentos à ação em Arte (BRASIL, 1997). O movimento expandiu as discussões sobre a valorização do professor dentro da escola e da Arte. 31 5 CONCEPÇÃO DE ARTE E DE SEU ENSINO NAS POLÍTICAS EDUCACIONAIS 5.1 Diretrizes e Bases da Educação Nacional Em 20 de dezembro de 1961, no Governo João Goulart, foram promulgadas as Diretrizes e Bases da Educação Nacional através da Lei 4.24, de 20 de dezembro de 1961. Essa lei, no seu Art. 26, parágrafo único, determinava que “os sistemas de ensino poderão estender a sua duração até seis anos, ampliando, nos dois últimos, os conhecimentos do aluno e iniciando-o em técnicas de artes aplicadas, adequadas ao sexo e à idade” (BRASIL, 1961, p.156) e mais, no Art. 38, item IV, a organização do ensino de grau médio deveria observar as normas e incluir atividades complementares de iniciação artística. Esses dois artigos vigoraram por dez anos. Em 1971, por meio da Lei 5692, no artigo 7º, torna-se obrigatória a Educação Artística nos currículos de 1º e 2º grau. Com a titulação de atividade educativa e não disciplina, no Parecer nº 540/77 do MEC, consta que: “não é uma matéria, mas uma área bastante generosa e sem contornos fixos, flutuando ao saber das tendências e dos interesses”. (BRASIL, 2000, p.28). Seguindo essa linha de pensamento, nessa lei, acrescenta-se a importância ao estímulo da livre expressão. Não fala sobre sua organização, na qual se estabeleceriam os planejamentos das aulas com objetivos, métodos e avaliações. Nessa época, o sistema educacional enfrentava dificuldades em relação à formação dos professores; muitos sem habilitação e preparação para o domínio de várias linguagens artísticas como Artes Plásticas, Educação Musical, Artes Cênicas. Entre os anos de 1970 e 1980, os antigos professores e os recém-formados em Educação Artística viram-se responsabilizados por educar os alunos em todas as linguagens artísticas, tornando-se professores polivalentes em Arte. Com isso, o ensino enfraqueceu, visto que o professor trabalhava com propostas e técnicas separadas, dando a ilusão de que seria o bastante para se aprender todas as formas de Arte. O resultado dessa formação esfacelada produz várias gerações de professores de Educação Artística com concepções superficiais da Arte e de seu ensino. Em sua grande maioria, os docentes responsáveis pela formação desses professores eram especialistas em suas próprias linguagens. A ideia da polivalência 32 nas artes é desestruturada pela própria estrutura dos cursos. Queriam formar professores polivalentes com professores especialistas. Para atender à procura de profissionais qualificados, em 1973, o Governo Federal criou cursos de licenciatura em Educação Artística, que não foram suficientes, pois a demanda era grande. A disciplina Educação Artística foi tornada obrigatória, mas não criaram condições para que o trabalho do professor e as atividades artísticas pudessem ser atendidas. Faltavam recursos para o professor, espaço para a arte cênica, recursos para a pintura era pequeno, carga horária, entre outros. “Nessas condições os professores de Arte acabaram por desempenhar um papel decorativo no interior da escola” (DUARTE JR, 1995, p.135). Em 20 de agosto de1996, entrou em vigor a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB). A Lei em vigor foi aprovada no Governo de Fernando Henrique Cardoso. Mais conhecida como LDB de 9.394/96, a partir dela, a Arte ganhou importância: de mera atividade se igualou às outras disciplinas, com a denominação de Arte e tornou-se obrigatória na Educação Básica. No Art. 3º dessa LDB, a Arte é citada no inciso II: Art. 3º “O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios [...] II – liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o pensamento, a Arte e o saber” (BRASIL, 1996). No capítulo da Educação Básica, das disposições gerais, o inciso IV do Art. 24 confere uma flexibilidade referente às turmas de diferentes séries. Esse artigo dispõe que “poderão organizar-se classes, ou turmas, com alunos de séries distintas, com níveis equivalentes de adiantamento na matéria, para o ensino de línguas estrangeiras, artes, ou outros componentes curriculares” (BRASIL, 1996). Diferente dos PCN, que foram organizados para direcionar os currículos escolares, mas não tinham um caráter de obrigatoriedade, ficando apenas como sugestão de referências curriculares, o Art. 26, parágrafo 2º da LDB refere-se à Arte como componente obrigatório: “O ensino da arte especialmente em suas expressões regionais, constituirá componente curricular obrigatório, nos diversos níveis da educação básica, de forma a promover o desenvolvimento cultural dos alunos” (BRASIL, 1996). E, “a partir dessa obrigatoriedade, as décadas seguintes tornaram- se palco de novos debates, destacando-se, entre estes: o conteúdo a ser ensinado nas aulas de Arte e a formação do professor de arte” (UEM, 20--). 33 A base nacional comum deveria envolver, obrigatoriamente, o estudo da língua portuguesa, da matemática, do conhecimento do mundo físico e natural bem como da realidade social e política. O Art. 32, seção III do Ensino Fundamental, deixa claro que, O ensino fundamental obrigatório, com duração de nove anos, gratuito na escola pública, iniciando-se aos seis anos de idade, terá por objetivo a formação básica do cidadão, mediante [...] II, a compreensão do ambiente natural e social, do sistema político, da tecnologia, das artes e dos valores em que se fundamenta a sociedade (BRASIL, 1996). No Art. 36, Seção IV, lemos que o currículo do Ensino Médio deverá observar as seguintes diretrizes: I – destacará a educação tecnológica básica, a compreensão do significado da ciência, das letras e das artes; o processo histórico de transformação da sociedade e da cultura; a língua portuguesa como instrumento de comunicação, acesso ao conhecimento e exercício da cidadania (BRASIL, 1996, grifo nosso). Em 2008, foi decretada e sancionada pelo Presidente Luiz Inácio Lula da Silva uma emenda no que se refere à Música no currículo escolar. Essa emenda alterava a Lei nº 9.394/96 e dispunha a obrigatoriedade do ensino da música na educação básica. Comparando a LDB atual com a lei 5692/71, observamos que a lei vigente trata do ensino de Arte como o que abarca linguagens artísticas distintas na escola. Não se menciona, contudo, a educação artística, mas sim a Arte e o seu ensino. O que indica essa variação de nomes? Pensamos que a troca de denominação, nem sempre, ratifica a transformação de argumentos, pressupostos e práticas implícitas, fazendo com que, na verdade, as linguagens sejam separadas, embora aprisionadas em uma área chamada Arte. O acontecimento de diferentes linguagens, nem sempre, ocorre na realidade. Deparamo-nos, na realidade, frequentemente, é com a exclusividade da aula de artes plásticas, deixando os alunos sem contato com outras linguagens artísticas, como a música, a dança e o teatro. Para dar maior suporte à LDB/96, foram promulgados os PCN-Arte, propostos pelo Ministério da Educação, estabelecendo
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