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EDUCAÇÃO PARA O TRÂNSITO Autoria: Virna Mac Cord Catão Indaial - 2021 UNIASSELVI-PÓS 1ª Edição CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090 Copyright © UNIASSELVI 2021 Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. C357e Catão, Virna Mac Cord Educação para o trânsito. / Virna Mac Cord Catão – Indaial: UNIASSELVI, 2021. 114 p.; il. ISBN 978-65-5646-411-4 ISBN Digital 978-65-5646-412-1 1. Trânsito. - Brasil. 2. Legislação. – Brasil. II. Centro Universitário Leonardo da Vinci. CDD 370 Impresso por: Reitor: Prof. Hermínio Kloch Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD: Carlos Fabiano Fistarol Ilana Gunilda Gerber Cavichioli Norberto Siegel Julia dos Santos Ariana Monique Dalri Jairo Martins Marcio Kisner Marcelo Bucci Revisão Gramatical: Equipe Produção de Materiais Diagramação e Capa: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Sumário APRESENTAÇÃO ............................................................................5 CAPÍTULO 1 Educação Para o Trânsito e Seus Fundamentos ...................... 7 CAPÍTULO 2 Processos Educativos em Trânsito e Sua Relação Com a Segurança ......................................................... 43 CAPÍTULO 3 O Planejamento e o Trabalho Pedagógico de Educação Para o Trânsito Nas Escolas ............................. 79 APRESENTAÇÃO Olá, acadêmico! Seja bem-vindo à disciplina de Educação para o Trânsito. Neste Livro didático, você estudará a importância da educação para o trânsito no contexto escolar, os processos educativos envolvidos e o trabalho pedagógico que pode ser desenvolvido nas escolas a partir da temática de educação para o trânsito. O ensino de educação para o trânsito está instituído no Código de Trânsito Brasileiro desde 1997, direcionando um trabalho de conscientização, cidadania e ética diante da mobilidade de toda a sociedade brasileira. Os números de mortes e de violência no trânsito vêm ratificando, ao longo dos anos, que a educação para o trânsito não pode se limitar aos agentes de trânsito, sendo um dever de todas as instituições que compõem a sociedade constituir o papel educativo sobre a temática trânsito. Nesse sentido, os estudos desta disciplina estão organizados em três capí- tulos. O primeiro capítulo expõe os fundamentos da educação para o trânsito, ex- planando os aspectos legais, como o papel educativo está descrito no Código de Trânsito e na legislação educacional brasileira, assim como os direcionamentos cur- riculares para a apropriação docente da temática no processo educativo escolar. No segundo capítulo, por sua vez, é apresentado o conceito de cidadania envolvido com a temática, pois, a partir do momento em que nos inserimos, en- quanto sujeitos, na mobilidade do trânsito, assumimos a responsabilidade com a segurança coletiva, ou seja, temos direitos e deveres perante a nós mesmos, mas, principalmente, na relação com os outros usuários. Por fim, no terceiro ca- pítulo, é apresenta uma abordagem mais operacional no processo educativo es- colar, apontando que a temática pode estar presente como uma proposta local, refletindo tanto no Projeto Político Pedagógico (PPP) da escola quanto no plane- jamento do professor enquanto projeto pedagógico. Você terá, nesta disciplina, um encaminhamento sobre como desenvolver a temática trânsito em sala de aula com um olhar peculiar para a cidadania, respeito e ética, promovendo experiências significativas que colaborem com o desenvolvi- mento dos alunos e potencializem atitudes positivas nas relações e situações que compõem a mobilidade de nosso cotidiano. Para isso, é necessária sua participa- ção nas atividades propostas para que o ciclo de construção de conhecimento e a atuação pedagógica se concretizem: leia o material e os complementos indicados, articule teoria e prática participando das atividades propostas, lembre-se de intera- gir com os colegas e sistematize seus conhecimentos com as questões de estudo. Boa leitura e bons estudos! CAPÍTULO 1 Educação Para o Trânsito e Seus Fundamentos A partir da perspectiva do saber-fazer, são apresentados os seguintes objetivos de aprendizagem: � Compreender o significado da educação para o trânsito como parte do proces- so da educação escolar. � Conhecer os fundamentos legais aos fundamentos curriculares, estabelecendo diálogos iniciais sobre o educar para o trânsito. � Estabelecer elementos teórico-práticos na educação escolar que desenvolvam os processos de conscientização de mobilidade nos espaços que fazemos parte. 8 Educação para o Trânsito 9 Educação Para o Trânsito e Seus FundamentosEducação Para o Trânsito e Seus Fundamentos Capítulo 1 1 CONTEXTUALIZAÇÃO A Educação para o Trânsito é um trabalho evidente para a sociedade atual, uma vez que urge a necessidade de uma formação cidadã nas relações institu- ídas na temática. A falta de respeito ao outro e às regras, a intolerância e a im- prudência são atitudes negativas que colaboram com o aumento dos números de acidentes no trânsito. De acordo com o Código de Trânsito Brasileiro (CTB), “educar para o trân- sito” é um dos três pilares fundamentais para a viabilidade de um trânsito com segurança e pontua, ainda, a entrada da temática em todas as etapas/níveis da Educação Escolar, formalizando o processo educativo que envolve a questão. FIGURA 1 – CRIANÇAS ATRAVESSANDO A RUA FONTE: <https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/cros- sing-street-183150149>. Acesso em: 04 abr. 2021. O trabalho pedagógico deve levar em consideração as orientações le- gais e curriculares acerca da temática. No que tange às orientações legais, a educação para o trânsito é colocada como obrigatória no CTB – não pro- priamente na Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) – e, no que diz respeito às questões curriculares, a educação para o trânsito é apontada como um tema local e transversal, que pode ser trabalhado em uma ou em mais disciplinas, possibilitando, ainda, um trabalho interdisciplinar. https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/crossing-street-183150149 https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/crossing-street-183150149 10 Educação para o Trânsito A educação para o trânsito, em cada etapa/nível da educação escolar, deve seguir os princípios da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), assim estar alinhada às Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs). Nesse caso, podemos tomar como exemplo as escritas para a etapa de Educa- ção Infantil, cujo direcionamento dado às propostas pedagógicas se pauta em dois eixos: interações e brincadeiras. Nesse sentido, é essencial que o professor compreenda os aspectos pedagógicos e culturais para a organi- zação do trabalho pedagógico da educação para o trânsito. Cada segmen- to tem orientações peculiares que devem ser incorporadas no processo educativo da proposta de educar para o trânsito. Vamos conhecer essas questões mais detalhadamente juntos! FIGURA 2 – CRIANÇAS ATRAVESSANDO A RUA COM SEGURANÇA. FONTE: <https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/crosswalk-hand- -drawing-vector-illustration-on-145745606>. Acesso em: 04 abr. 2021. 2 O SIGNIFICADO DE EDUCAR PARA O TRÂNSITO Quando falamos em “educar para o trânsito”, estamos falando de uma te- mática delicada, que aflige a sociedade diante do número de mortes e violência, e que necessita de um olhar pedagógico, pois diz respeito ao conhecimento e às atitudes dos indivíduos que são formados por diversas instituições da sociedade. https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/crosswalk-hand-drawing-vector-illustration-on-145745606 https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/crosswalk-hand-drawing-vector-illustration-on-145745606 11 Educação Para o Trânsito e SeusFundamentosEducação Para o Trânsito e Seus Fundamentos Capítulo 1 A palavra “educar” é muito mais ampla do que “ensinar”. Por exemplo, a fa- mília educa, a igreja educa, a escola educa (e ensina). Todas as instituições da sociedade assumem uma função importante na formação dos cidadãos, e isso significa que, quando abordamos o “educar”, estamos diante de um conceito de corresponsabilidade na formação dos sujeitos. É nesta direção que a “educação para o trânsito” se sustenta como uma corresponsabilidade das instituições que compõem a sociedade. Entendemos, portanto, que a educação é um processo peculiar ao homem que, apropriando-se dos conhecimentos e das experiências que lhes são propor- cionados, atua na sociedade. As experiências constituem o homem, pois são elas que levam os seres humanos a modificar os comportamentos, ações, pensamen- tos, incorporando alguns destes a sua formação ou, até mesmo, descartando ou- tros que não provocam sentido/significado. Trânsito é o conjunto de deslocamentos diários de pessoas pe- las calçadas e vias é a movimentação geral de pedestres e de diferentes tipos de veículos. O trânsito ocorre em espaço públi- co e reflete o movimento de múltiplos interesses, atendendo às necessidades de trabalho, saúde, lazer e outros, muitas vezes conflitantes (VASCONCELLOS, 1998, p. 14). O trânsito está relacionado ao cotidiano das pessoas. Transitar é uma neces- sidade humana, e é por meio do trânsito que nos locomovemos, que chegamos ou não no horário de nossos compromissos. No entanto, atualmente, o trânsito ganhou o âmbito de um problema social sob vários aspectos, desde o problema de mobilidade urbana até a intolerância e a violência no trânsito. FIGURA 3 – INTOLERÂNCIA NO TRÂNSITO FONTE: <https://shutr.bz/3l3e4ts> Acesso em: 4 abr. 2021. Segundo dados estatísticos atuais da Organização Mundial de Saúde (OMS), desde os anos 2000 os acidentes de trânsito matam mais do que guerras. Nesse sentido, sabe-se que há uma situação caótica diagnóstica em relação ao trânsito 12 Educação para o Trânsito e que é necessária uma mudança brusca no que diz respeito à legislação e edu- cação para o trânsito. A reportagem “Mortes no Trânsito: Tráfego brasileiro mata 1 pes- soa a cada 15 minutos” publicada no site do “Estadão” em 15 set. 2020 mostra que o Brasil ocupa a quarta posição entre os países com mais mortes em acidentes de trânsito no mundo. Leia um pouco mais sobre a comparação com os demais países, acessando toda a reportagem no seguinte link: https://bit.ly/3D6VC9p. Acesso em: 13 ago. 2021. De acordo ainda com o “Portal de Trânsito”, de janeiro a março de 2020, an- tes mesmo do isolamento social devido à pandemia da COVID-19, houve um au- mento de, em média, 16% no número de acidentes em relação ao mesmo período do ano de 2019. Os números saltaram de 74.699 para 84.028. FIGURA 4 – DADOS SOBRE SINISTROS E INDENIZAÇÕES POR ACIDENTES DE TRÂNSITO FONTE: <https://bit.ly/3B9VKUS>. Acesso em: 1o abr. 2021. 13 Educação Para o Trânsito e Seus FundamentosEducação Para o Trânsito e Seus Fundamentos Capítulo 1 Nesse sentido, a situação atual demonstra como é importante o trabalho constante de educação para o trânsito em conjunto com toda a sociedade. Banas- zeski e Ecco (2009) pontuam que “Educar para o trânsito é preservar a vida, evitar acidentes, exercer a cidadania, no qual respeito, cortesia, cooperação, solidarie- dade e responsabilidade constituem os eixos determinantes da transformação do comportamento do homem no trânsito” (p. 4). Os dados evidenciam a necessidade de refletirmos sobre os comportamentos que temos, o entendimento das normas, as relações mútuas de respeito aos que transitam, entre outros. Entendemos, portanto, que a escola tem um papel funda- mental no ensino e desenvolvimento das relações de trânsito, na busca por atitudes mais éticas e respeitosas para que tenhamos uma sociedade mais humana. Tendo em vista essas questões, o CTB estabelece que: Art. 76. A educação para o trânsito será promovida na pré-es- cola e nas escolas de 1º, 2º e 3º graus, por meio de planeja- mento e ações coordenadas entre os órgãos e entidades do Sistema Nacional de Trânsito e de Educação, da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, nas respectivas áreas de atuação. (BRASIL, 1997, s. p.) Desde 1997, a preocupação com a educação para o trânsito tem sido o cer- ne de discussões. Por volta de 1997, legitimou-se, por meio da legislação perti- nente, que a educação para o trânsito não dizia respeito apenas à aprendizagem desenvolvida pelas para quem fosse adquirir licença para dirigir ou somente para as escolas de direção. A legislação mostrou que a educação para o trânsito é uma necessidade instituída como prática do cotidiano de todas as pessoas, não ficando de fora a obrigação da escola de levar a temática trânsito para todos os estudantes, articulando com os demais órgãos envolvidos um trabalho pedagógi- co cujo alcance está direcionado a toda educação escolar. Embora o Código Brasileiro de Trânsito mencione os ensi- nos de 1º, 2º e 3º graus, precisamos salientar que esta nomen- clatura da estrutura de ensino no Brasil não é mais a usual. Atualmente, temos a Educação Escolar organizada em Educa- ção Básica – Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio – e Educação Superior, conforme organograma abaixo. 14 Educação para o Trânsito FIGURA 5 – COMPOSIÇÃO DA EDUCAÇÃO ESCOLAR FONTE: A autora. Nesta direção, fica subentendido que a “educação para o trânsito” é uma proposta que abrange toda a educação escolar, que vai desde a Educação Infantil até a Educação Superior. A Educação no Trânsito, enquanto processo educativo também de incumbên- cia das instituições escolares, abrange não somente comportamentos ou hábitos (conteúdos atitudinais), envolve conhecimentos para que haja a compreensão am- pla do processo de circulação nos espaços, ou melhor, envolve também saberes (conteúdos conceituais) e procedimentos (conteúdos procedimentais), contemplan- do a proposta dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) (BRASIL, 1998). (...) a educação para o trânsito é a ação exercida pelos educa- dores sobre os indivíduos em geral cujo objeto é desenvolver nos educandos comportamentos conscientes que resultem no uso seguro dos meios de circulação terrestres. (...) O objetivo principal de educar para o trânsito é criar uma nova cultura da mobilidade social, que se reflita nos comportamentos seguros e responsáveis de cada um enquanto usuários das vias de circula- ção terrestres (ALMEIDA SOBRINHO, 2012, p. 248). 15 Educação Para o Trânsito e Seus FundamentosEducação Para o Trânsito e Seus Fundamentos Capítulo 1 FIGURA 6 – TIPOS DE CONTEÚDO TAMBÉM DIFUNDIDOS PELOS PCNS FONTE: Elaborado pela autora. Embora estejamos inclinando o processo educativo para o ambiente escolar, Maciel (2008) aponta que o contato com a legislação de trânsito faz parte dos há- bitos para uma sociedade mais civilizada. FIGURA 7 – NORBERT ELIAS FONTE: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Norbert_ Elias,_1987_(cropped).jpg>. Acesso em: 16/04/2021. Você conhece o sociológico alemão Norbert Elias? De família judaica ele teve que fugir dos nazistas durante o holocausto. Suas obras focaram as relações de poder, comportamento e sociedade de https://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Norbert_Elias,_1987_(cropped).jpg https://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Norbert_Elias,_1987_(cropped).jpg 16 Educação para o Trânsito um modo geral. Dentre suas obras, uma muito conhecida é “O pro- cesso civilizador”. Para entender um pouco mais sobre a ideia de sociedade civilizada, sugerimos a leitura complementar da “Introdu- ção” da “Parte I”. O livro encontra-se disponível no link: https://insti- tucional.ufrrj.br/portalcpda/files/2018/09/ELIAS__Norbert._O_proces- so_civilizador_volume_1.pdf. Acesso em: 13 ago. 2021. Para entender asleis de trânsito, basta ser um cidadão que faz uso da mobi- lidade nos diferentes espaços. As leis não foram feitas apenas para quem dirige, foram feitas para todos os atores que circulam no dia a dia das cidades, dos cen- tros urbanos, nas estradas etc. Quanto mais cedo se tem contato com a legislação de trânsito e as normas gerais de circulação e conduta, mais fácil é formar há- bitos civilizados compatível com o que a nossa sociedade clama. Para conhecer o CTB, não é necessário ser condutor habilitado e nem maior de idade. As normas de trânsito foram feitas para todos, portanto, todas as pessoas devem entrar na luta pela paz no trânsito, embasado nas conquistas de todos, no direito de ir e vir com liberdade e segurança. (MACIEL, 2008, p. 116). Na prática, na maioria das vezes, o trabalho pedagógico sobre o trânsito nas escolas se limita a uma visita de um agente de trânsito. Não que este tipo de trabalho não seja válido, pelo contrário, mas, aqui, trazemos uma questão de for- mação do sujeito, buscando uma inserção no currículo escolar, nas salas de aula, não somente por campanhas. FIGURA 8 – SALA DE AULA FONTE: <https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/school-classroom- -blur-background-without-young-666030916>. Acesso em: 16 abr. 2021. https://institucional.ufrrj.br/portalcpda/files/2018/09/ELIAS__Norbert._O_processo_civilizador_volume_1.pdf https://institucional.ufrrj.br/portalcpda/files/2018/09/ELIAS__Norbert._O_processo_civilizador_volume_1.pdf https://institucional.ufrrj.br/portalcpda/files/2018/09/ELIAS__Norbert._O_processo_civilizador_volume_1.pdf https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/school-classroom-blur-background-without-young-666030916 https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/school-classroom-blur-background-without-young-666030916 17 Educação Para o Trânsito e Seus FundamentosEducação Para o Trânsito e Seus Fundamentos Capítulo 1 O trabalho de conscientização do trânsito cabe a toda sociedade, porém, sa- be-se que há uma defasagem no que diz respeito a políticas educacionais. De acordo com Rodrigues (2011 apud CUNHA; PINTO, 2013, p. 67): Não há políticas públicas voltadas exclusivamente para a educa- ção para o trânsito. A educação para o trânsito está quase sem- pre vinculada ao planejamento de transporte e de trânsito e re- presenta um papel secundário, quando muito, nessas políticas. A educação para o trânsito deveria assumir um papel central nas políticas públicas e considerarem elementos importantes como a acessibilidade, a mobilidade, as sequelas visíveis e invisíveis dos acidentes de trânsito, os papéis mais vulneráveis são con- gestionamentos, poluição ambiental, invasão dos espaços habi- tacionais e de vivência coletiva por tráfego inadequado. Por sua vez, Filho (2015) ratifica esta questão, apontando que De nada adianta a realização de campanhas ou eventos oca- sionais. A educação para o trânsito necessita de ações firmes e contínuas, visando a atingir não só o maior número de pes- soas, como também produzir, nos usuários das vias, sobretudo condutores, a necessidade de alteração do comportamento er- rôneo de dirigir (p. 14). As crianças, principalmente, devem compreender que elas também são agentes ativas de trânsito. Diante disso, temos que encaminhar um trabalho para que as escolas conduzam as crianças nesse processo de compreensão. É na educação para o trânsito que os sujeitos escolares podem praticar, experienciar situações de trânsito, refletir sobre comportamentos adequados e, assim, produzir significações sobre o papel cidadão que ele tem consigo e com o outro. A mudan- ça é possível desde que todos entendam as relações que estão envolvidas na temática em si. O que aprendemos com a educação para o trânsito? Além da instrução para circulação nos espaços viários, aprendemos, também, a nos relacionar com os outros. Nesse sentido, aprendemos: • Os conceitos técnicos para a circulação no espaço diário. • A leitura de signos e símbolos. • Os riscos e segurança no trânsito. • As causas e consequências dos acidentes de trânsito. • As reflexões sobre o papel da tolerância e do respeito em relação aos comportamentos e os dados sobre violência. • A corrigir atitudes inadequadas na circulação dos espaços; • A prevenção de acidentes; • As leis de trânsito etc. 18 Educação para o Trânsito Cabe, aqui, destacarmos a ideia de trinômio do trânsito. De origem estaduni- dense, o trinômio do trânsito envolve três campos: a engenharia, o esforço legal e a EDUCAÇÃO. FIGURA 9 – TRINÔMIO DO TRÂNSITO FONTE: A autora. O pilar da educação é considerado o mais importante do trinômio. É neste pilar que encontramos todas as ferramentas para fruir os comportamentos ade- quados no trânsito. É a base de tudo, de todo o processo de formação do ser humano. O equilíbrio entre os três pilares é fundamental. Perceba que os três pilares estão interligados, o que significa que não fun- cionam sozinhos, um depende do outro para que o equilíbrio seja alcançado. As ruas, os quarteirões, os semáforos, tudo aqui que faz o trânsito funcionar tem uma engenharia, que, combinada, possibilita o desenho de um fluxo viário que deve ser regulamentado, por isso há, também, a ligação com o pilar esforço legal. 19 Educação Para o Trânsito e Seus FundamentosEducação Para o Trânsito e Seus Fundamentos Capítulo 1 FIGURA 10 – ENGENHARIA, UM DOS PILARES DO TRINÔMIO DO TRÂNSITO FONTE: <https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/government-buil- dings-city-streets-roads-traffic-527620819> Acesso em: 2 abr. 2021. Nesse contexto, de nada adianta os pilares do esforço legal e da engenharia se os sujeitos viários não aprenderem a lidar com este fluxo, não compreende- rem as regras, não constituírem como um dos procedimentos da vida cidadã. Os relatos e os dados estatísticos mostram que a necessidade de um trabalho mais eficaz só aumenta. A única redução no número de acidentes que tivemos, desde 2000, foi durante o período de isolamento social da pandemia, entre 2020 e 2021. Diante disso, ao introduzir a educação para o trânsito nas instituições esco- lares o objetivo é de assegurar a formação de valores cidadãos e procedimen- tos/comportamentos éticos que levem todos os envolvidos nos espaços viários a compartilharem do mesmo espaço de forma saudável. O trabalho pedagógico sobre o trânsito deve ser pragmático, não apenas abordar códigos e leis. Ao abor- dar a temática trânsito de forma prática, os comportamentos afloram e valores são formados pelas diversas situações colocadas aos alunos. Sobre a educação para o trânsito e sua inserção nas escolas, analise as sentenças a seguir e classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas, justificando suas respostas: https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/government-buildings-city-streets-roads-traffic-527620819 https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/government-buildings-city-streets-roads-traffic-527620819 20 Educação para o Trânsito 1. A educação para o trânsito será promovida na pré-escola e nas escolas de 1º, 2º e 3º graus, por meio de planejamento e ações coordenadas entre os órgãos e entidades do Sistema Nacional de Trânsito e de Educação, da União, dos Estados, do Distrito Fede- ral e dos Municípios, nas respectivas áreas de atuação. ( ) 2. O trinômio do trânsito é formado por três pilares: engenharia – es- forço legal – educação, sendo que cada um age de forma isolada, para que não se misturem os objetivos. ( ) 3 FUNDAMENTOS LEGAIS Já aprendemos sobre a importância da educação para o trânsito e os seus fundamentos. O trabalho de educação para o trânsito diz respeito a dois funda- mentos: os legais e os curriculares. Os fundamentos legais apresentam as princi- pais regras que norteiam o trabalho pedagógico nas escolas. O primeiro documento legislativo que devemos conhecer é o Código de Trân- sito Brasileiro (CTB). É nele que encontramos a obrigatoriedade de inserirmosno contexto educativo os conhecimentos necessários para a vida cidadã. O CTB em vigor atualmente data de 1997, por meio da Lei 9.503, ou seja, foram 31 anos para ocorrer essa atualização, extremamente necessária, frente ao aumento da mobilidade nas cidades, ao consumo viário e ao avanço das novas tecnologias. FIGURA 11 – CÓDIGO DE TRÂNSITO BRASILEIRO FONTE: <https://www.sindlocmg.com.br/artigos/lei-no-14-071-2020-modifica- coes-no-codigo-de-transito-brasileiro-a-vista/>. Acesso em: 2 abr. 2021. https://www.sindlocmg.com.br/artigos/lei-no-14-071-2020-modificacoes-no-codigo-de-transito-brasileiro-a-vista/ https://www.sindlocmg.com.br/artigos/lei-no-14-071-2020-modificacoes-no-codigo-de-transito-brasileiro-a-vista/ 21 Educação Para o Trânsito e Seus FundamentosEducação Para o Trânsito e Seus Fundamentos Capítulo 1 No CTB, há uma seção específica que aborda a educação para o trânsito. Nesta seção, tem-se que, assim como a educação, no sentido amplo, a educação para o trânsito é um direito de todos e é um dever prioritário do Sistema Nacional de Trânsito (SNT). Determina-se, ainda, que os órgãos envolvidos no sistema de- vem promover campanhas relacionadas à temática. No entanto, cabe retomar o artigo 76, já citado anteriormente, que aponta a educação para o trânsito como ini- ciativa a ser promovida em todo o âmbito escolar, em articulação com o Ministério da Educação, descrevendo que este convênio promoverá: I- a adoção, em todos os níveis de ensino, de um currículo interdis- ciplinar com conteúdo programático sobre segurança de trânsito; II- a adoção de conteúdos relativos à educação para o trânsito nas escolas de formação para o magistério e o treinamento de professores e multiplicadores; III- a criação de corpos técnicos interprofissionais para levan- tamento e análise de dados estatísticos relativos ao trânsito; IV- a elaboração de planos de redução de acidentes de trânsito junto aos núcleos interdisciplinares universitários de trânsito, com vistas à integração universidades-sociedade na área de trânsito. (BRASIL, 1997, s. p.) Complementando as ações propostas pelo CTB, o Conselho Nacional de Trânsito (CONTRAN), por intermédio da Resolução nº 514 de 18 de dezembro de 2014, apresenta o marco referencial para o planejamento mais sistemático de ações no trânsito. Nesse sentido, para que haja melhoria na segurança viária, é necessário um aprimoramento da educação para a cidadania no trânsito (artigo 4º). A educação para a cidadania no trânsito é uma das cinco diretrizes em articu- lação e promoção na Educação Básica, na capacitação de professores multiplica- dores, em parcerias com instituições de nível superior, em produção intelectual, na formação de condutores e em campanhas. De acordo com o documento produzido pelo Observatório Nacional de Se- gurança Viária (ONSV), a educação para o trânsito tem três eixos de atuação: na formação básica, na formação específica e técnica e na formação continuada/ campanhas. QUADRO 1 – EIXOS DE ATUAÇÃO DA EDUCAÇÃO PARA O TRÂNSITO Educação Formal e Básica Educação Específica e Técnica Educação Continuada Construída no binômio família-esco- la, com participação direta e indireta de toda a sociedade e as concep- ções de mundo presentes na cul- tura, é a educação básica para a convivência no trânsito e acontece Diz respeito à construção de conhecimentos e habi- lidades técnicas para atu- ar e conviver no trânsito, seja em processos de ha- bilitação para condução A sociedade e as cidades estão em constante transformação e exigem ressignificações dos con- ceitos e formas de convivência por parte de seus sujeitos sociais. Esse processo de transformação 22 Educação para o Trânsito durante a infância, adolescência e juventude. Essa educação se dá de forma intencional ou não, mas defende-se a atuação com intencio- nalidade educativa, buscando cons- truir uma concepção de trânsito e mobilidade que agregue as discus- sões suscitadas neste documento. de veículos ou no ensino técnico e superior. Essa educação passa a ser oferecida na juventude e pode ser realizada duran- te toda a vida adulta. de atitudes e comportamentos pode ser espontâneo ou orienta- do, por meio de campanhas e ini- ciativas da área de educação para o trânsito realizada pelo poder pú- blico e sociedade civil organizada. Envolve todos os cidadãos. FONTE: ONSV (2016, p. 8.). O documento ainda, por exemplo, aponta os conteúdos e conceitos centrais para o Ensino Fundamental: • Regras e condutas para a circulação de pedestres, ciclis- tas, condutores e passageiros de veículos motorizados e não motorizados. • Mobilidade, acessibilidade e segurança viária e segurança veicular. • Construção de conhecimento sobre saúde, autocuidado e autoproteção. • Compreensão e aquisição de valores éticos e sustentáveis. • Desenvolvimento da cidadania e de hábitos seguros e soli- dários para uma boa convivência no trânsito. • Conhecimentos sobre estatísticas de trânsito, condições viárias, sinalização. • Redução e prevenção de acidentes no trânsito.(ONSV, 2016, p. 11-12). FIGURA 12 – CRIANÇAS E EDUCAÇÃO PARA O TRÂNSITO FONTE: <https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/group-four-kids- -studying-road-safety-453351136>. Acesso em: 2 abr. 2021. https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/group-four-kids-studying-road-safety-453351136 https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/group-four-kids-studying-road-safety-453351136 23 Educação Para o Trânsito e Seus FundamentosEducação Para o Trânsito e Seus Fundamentos Capítulo 1 É notório que há uma carência legislativa sobre a temática trânsito por parte do Ministério da Educação (MEC), porém, parcerias têm sido estabelecidas como parte do SNT para viabilizar as campanhas e a inserção da educação para o trân- sito nas escolas. De acordo com as DCNs para a Educação Básica, “outras leis específicas, a latere da LDB, determinam que sejam incluídos componentes não disciplinares, como as questões relativas ao meio ambiente, à condição e direito do idoso e ao trânsito (BRASIL, 2010, p. 33).” Art. 16. Os componentes curriculares e as áreas de conheci- mento devem articular em seus conteúdos, a partir das pos- sibilidades abertas pelos seus referenciais, a abordagem de temas abrangentes e contemporâneos que afetam a vida hu- mana em escala global, regional e local, bem como na esfera individual. Temas como saúde, sexualidade e gênero, vida fa- miliar e social, assim como os direitos das crianças e adoles- centes, de acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei nº 8.069/90), preservação do meio ambiente, nos termos da política nacional de educação ambiental (Lei nº 9.795/99), educação para o consumo, educação fiscal, trabalho, ciência e tecnologia, e diversidade cultural devem permear o desen- volvimento dos conteúdos da base nacional comum e da parte diversificada do currículo. §1º Outras leis específicas que complementam a Lei nº 9.394/96 determinam que sejam ainda incluídos temas relati- vos à condição e aos direitos dos idosos (Lei nº 10.741/2003) e à Educação para o Trânsito (Lei nº 9.503/97). §2º A transversalidade constitui uma das maneiras de traba- lhar os componentes curriculares, as áreas de conhecimento e os temas sociais em uma perspectiva integrada, conforme as Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Básica (CNE/CEB, 2010, p. 5). Nesse sentido, mesmo não sendo uma disciplina, a educação para o trânsito é uma temática obrigatória para a Educação Básica. Na BNCC, os temas trans- versais contemporâneos ratificam a temática trânsito como componente curricular. 24 Educação para o Trânsito FIGURA 13 – TEMAS CONTEMPORÂNEOS TRANSVERSAIS NA BNCC FONTE: BRASIL (2019, p. 13). Entendemos, até aqui, algumas questões legais envolvidas que implicam, também, em procedimentos curriculares. Diante disso, sendo obrigatória e não disciplinar, a educação para o trânsito assume o caráterinterdisciplinar por se desenvolver por meio da transversalidade. Nesse contexto, a interdisciplinaridade é consequência da transversalidade, pois, a partir do momento que a temática perpassa por mais de uma disciplina, cria elos de ligações entre elas. 1 - Segundo o Código de Trânsito Brasileiro e as legislações educacionais, o que é educação para o trânsito? 2 - A escolas devem criar uma disciplina para tratar da educação para o trânsito? 25 Educação Para o Trânsito e Seus FundamentosEducação Para o Trânsito e Seus Fundamentos Capítulo 1 4 FUNDAMENTOS CURRICULARES O entendimento sobre o trânsito não se limita à formação de condutores. En- quanto usuários viários, o trânsito faz parte de nossa vida cotidiana. Convivemos com o trânsito diariamente, o que justifica um trabalho de formação humana e cida- dã diante da temática. O trabalho de formação humana e cidadã implica na constru- ção de valores e atitudes éticas diante das diferentes situações que vivemos. Nesse sentido, esclarecemos que a legislação sobre a educação para o trân- sito fica mais a cargo do CTB do que em legislações educacionais. A LDB (Lei no 9394/96) não contempla nenhuma orientação em relação ao tema. Nas DCNs, há algumas sinalizações, porém, documentos como Referenciais Curriculares Nacio- nais para a Educação Infantil (RCNEI) e PCNs não indicam diretamente o trânsito como um tema transversal, ficando apenas subentendido que a temática trânsito pode ser agregada aos temas locais de forma transversal. O currículo escolar, nesse sentido, demonstra uma carência de orientação aos professores para que haja um trabalho efetivo de educação para o trânsito. Currículo não é lista de conteúdos. A própria etimologia da pa- lavra significa “caminho”, assim, entende-se que, neste caminho, há um objetivo a ser alcançado e que perpassaremos vários conheci- mentos para atingir o objetivo. FIGURA 14 – CURRÍCULO SIGNIFICA CAMINHO FONTE: <https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/group-children- -running-along-path-towards-284519603>. Acesso em: 3 abr. 2021. https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/group-children-running-along-path-towards-284519603 https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/group-children-running-along-path-towards-284519603 26 Educação para o Trânsito 4.1 PANORAMA CURRICULAR E EDUCAÇÃO PARA O TRÂNSITO O CTB indica que a educação para o trânsito seja promovida em todos os ní- veis de ensino (BRASIL, 1998). Dois documentos educacionais foram publicados pelo Departamento Nacional de Trânsito (DENATRAN): Diretrizes Nacionais da Educação para o Trânsito para a Pré-Escola (DENATRAN, 2009a); e Diretrizes Nacionais da Educação para o Trânsito para o Ensino Fundamental (DENATRAN, 2009b). Sobre o trabalho na pré-escola (2009a) alguns objetivos são propostos: I- considerar as capacidades afetivas, emocionais, sociais e cognitivas de cada criança, garantindo um ambiente saudável e prazeroso à prática de experiências educativas relacionadas ao trânsito; II- favorecer o desenvolvimento de posturas e atitudes que vi- sem a segurança individual e coletiva para a construção de um espaço público democrático e equitativo; III- respeitar as diversidades culturais, os diferentes espaços geográficos e as relações interpessoais que neles ocorrem; IV- superar a concepção reducionista de que educação para o trânsito é apenas a preparação do futuro condutor; V- criar condições que favoreçam a observação e a explora- ção do ambiente, a fim de que as crianças percebam-se como agentes transformadores e valorizem atitudes que contribuam para sua preservação; VI- utilizar diferentes linguagens (artística, corporal, oral e es- crita) e brincadeiras para desenvolver atividades relacionadas ao trânsito; VII- proporcionar situações, de forma integrada, que contribu- am para o desenvolvimento das capacidades de relação in- terpessoal, de ser e de estar com os outros e de respeito e segurança no espaço público; VIII- envolver a família e a comunidade nas ações educativas de trânsito desenvolvidas (DENATRAN, 2009a, p. 3). Já para o trabalho pedagógico no Ensino Fundamental (2009b) tendo a edu- cação para o trânsito enquanto tema transversal, os seguintes objetivos foram elencados: I- priorizar a educação para a paz a partir de exemplos positivos que reflitam o exercício da ética e da cidadania no espaço público; II- desenvolver posturas e atitudes para a construção de um es- paço público democrático e equitativo, por meio do trabalho sis- temático e contínuo, durante toda a escolaridade, favorecendo o aprofundamento de questões relacionadas ao tema trânsito; III- superar o enfoque reducionista de que ações educativas voltadas ao tema trânsito sejam apenas para preparar o futuro condutor; 27 Educação Para o Trânsito e Seus FundamentosEducação Para o Trânsito e Seus Fundamentos Capítulo 1 IV- envolver a família e a comunidade nas ações educativas de trânsito desenvolvidas; VI- contribuir para mudança do quadro de violência no trânsito brasileiro que hoje se apresenta; VII- criar condições que favoreçam a observação e a explo- ração da cidade, a fim de que os alunos percebam-se como agentes transformadores do espaço onde vivem (DENATRAN, 2009b, p. 2). No caso do Ensino Fundamental, o documento supracitado corrobora com os PCNs, já que, nas diretrizes estabelecidas pelo DENATRAN, valores e princípios cidadãos são citados. Um dos exemplos é a educação para a paz como forma de superação do estado de violência atual no que diz respeito à mobilidade no trânsito. A elaboração dos PCNs na década de 1990 veio consolidar o processo de- mocrático de estabelecimento curricular no Brasil. Assim, foram criados 10 volu- mes: um volume introdutório, seis volumes com áreas de conhecimento obrigató- rias e três volumes abrangendo os temas transversais. De acordo com os PCNs (BRASIL, 1998), transversalidade relaciona-se à constituição prática de um projeto curricular interdisciplinar. Assim, diante do sig- nificado da palavra transversal, imaginemos uma reta que atravessa outras re- tas. Quando essa reta atravessa duas retas ou mais, fixa pontos que provocam a união destas retas, conforme ilustra a Figura 11 a seguir. FIGURA 15 – UNIÃO POR MEIO DE UMA RETA TRANSVERSAL FONTE: Elaborado pela autora. Percebe-se, assim, que a transversalidade é algo que se aplica de forma “comum” a todas as disciplinas e, quando aplicada, provoca movimentos interdis- ciplinares, ou seja, a transversalidade é uma estratégia didática para a promoção da interdisciplinaridade na escola. 28 Educação para o Trânsito Ambas – transversalidade e interdisciplinaridade – se funda- mentam na crítica de uma concepção de conhecimento que toma a realidade como um conjunto de dados estáveis, sujeitos a um ato de conhecer isento e distanciado. Ambas apontam a complexidade do real e a necessidade de se considerar a teia de relações entre os seus diferentes e contraditórios aspectos. Mas diferem uma da outra, uma vez que a interdisciplinarida- de refere-se a uma abordagem epistemológica dos objetos de conhecimento, enquanto a transversalidade diz respeito princi- palmente à dimensão da didática (BRASIL, 1998, p. 31). Nesse contexto, entende-se que transversalidade e interdisciplinari- dade são fenômenos diferentes que se relacionam no contexto escolar. A transversalidade está na dimensão didática, enquanto a interdisciplinari- dade está na abordagem epistemológica. Podemos tomar como exemplo uma escola próxima a uma comunidade com alguns problemas de violên- cia no trânsito. O problema está anunciado na própria realidade e, assim, a principal questão é o que podemos fazer com o conhecimento produzido, de forma que sejam promovidas ações que busquem a resolução parcial ou integral do problema. As disciplinas escolares podem tomar esta ques- tão como um tema transversal, ou seja, como uma estratégia didática. Pensando na transversalidade comoestratégia didática para se mo- vimentar a interdisciplinaridade, os PCNs (BRASIL, 1998) propõem os te- mas transversais. Por tratarem de questões sociais, os Temas Transversais têm natureza diferente das áreas convencionais. Sua complexidade faz com que nenhuma das áreas, isoladamente, seja suficiente para abordá-los. Ao contrário, a problemática dos Temas Trans- versais atravessa os diferentes campos do conhecimento. Por exemplo, a questão ambiental não é compreensível apenas a partir das contribuições da Geografia. Necessita de conheci- mentos históricos, das Ciências Naturais, da Sociologia, da De- mografia, da Economia, entre outros. Por outro lado, nas várias áreas do currículo escolar existem, implícita ou explicitamente, ensinamentos a respeito dos temas transversais, isto é, todas educam em relação a questões sociais por meio de suas con- cepções e dos valores que veiculam. No mesmo exemplo, ainda que a programação desenvolvida não se refira diretamente à questão ambiental e a escola não tenha nenhum trabalho nesse sentido, Geografia, História e Ciências Naturais sempre veicu- lam alguma concepção de ambiente e, nesse sentido, efetivam uma certa educação ambiental. (BRASIL, 1998, p. 29). No documento curricular citado, são propostos sete temas transversais, a saber: ética, pluralidade cultural, meio ambiente, saúde, orientação sexual, temas locais e trabalho e consumo. Os temas transversais não sugerem a organização de novas disciplinas, pois seria contraditório à abordagem interdisciplinar, já que o 29 Educação Para o Trânsito e Seus FundamentosEducação Para o Trânsito e Seus Fundamentos Capítulo 1 conhecimento seria ainda mais compartimentalizado. Os temas transversais per- passam todas as disciplinas, atravessando-as, criando elos entre elas. Esses temas não são restritos ao documento curricular PCNs, e outros temas, mais atuais e ur- gentes, podem estar presentes também nas propostas pedagógicas das escolas. Nos PCNs, o tema trânsito é sugerido como um “tema local”. De certa forma, entende-se que o tema só tem necessidade de ser trabalhado se houver neces- sidade para determinada realização, contrariando todas as demais orientações, que tornam, inclusive, a temática obrigatória: “a sugestão do trânsito como tema local evidencia que, segundo os PCNs, o trânsito não é um tema de abrangência nacional, mas que ganha significado nos grandes centros urbanos (GONÇALVES; SILVA, 2007, p. 6). Em sala de aula, o tema trânsito pode ser trabalhado em todas as disciplinas, tanto como tema principal, como, também, para ilustrar os demais conteúdos, sem anular a importância do cur- rículo escolar. O objetivo é ampliar o entendimento dos alunos para o exercício da cidadania nas vias públicas e fazer com que eles levem os conhecimentos adquiridos na escola, para dentro de suas casas de forma que esta ação ganhe significa- do na medida em que a qualidade de suas vidas e da comuni- dade mude para melhor (FERREIRE, 1993, p. 234). De forma sintética, a educação para o trânsito é um componente curricular obrigatório que não só deve constituir uma disciplina, mas também deve atraves- sar o currículo de forma transversal, atingindo uma ou mais disciplinas e provo- cando movimentos interdisciplinares. 4.2 BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR Atendendo à proposta do Plano Nacional de Educação (PNE), que passou a vigorar a partir de 2014, foi estabelecida a BNCC para toda a Educação Básica, ou seja, a BNCC alcança a Educação Infantil, o Ensino Fundamental e o Ensino Médio. O objetivo da BNCC não é invalidar os documentos e leis já estabelecidas para a Educação Básica, porém, todos continuam valendo e devem dialogar com a BNCC. 30 Educação para o Trânsito FIGURA 16 – BNCC FONTE: <http://basenacionalcomum.mec.gov.br/>. Acesso em: 4 abr. 2021. De acordo com a BNCC, o início do processo educacional é na Educação In- fantil, pois “a entrada na creche ou na pré-escola significa, na maioria das vezes, a primeira separação das crianças dos seus vínculos afetivos familiares para se incorporarem a uma situação de socialização estruturada” (BRASIL, 2017). Logo no início do texto da BNCC (BRASIL, 2017), há ponderações acerca de abranger temas contemporâneos: cabe aos sistemas e redes de ensino, assim como às escolas, em suas respectivas esferas de autonomia e competência, in- corporar aos currículos e às propostas pedagógicas a aborda- gem de temas contemporâneos que afetam a vida humana em escala local, regional e global, preferencialmente de forma trans- versal e integradora. Entre esses temas, destacam-se: direitos da criança e do adolescente (Lei nº 8.069/199016), educação para o trânsito (Lei nº 9.503/199717) (BRASIL, 2017, p. 19). Ao longo do texto da BNCC, há outras ponderações e reflexões acerca dos objetivos de toda a Educação Básica. Nesse sentido, entender como está organi- zada a BNCC propicia reflexões sobre como a educação para o trânsito pode se constituir no currículo praticado. Cabe ressaltar, ainda, que não houve mudança em relação aos eixos es- truturais da Educação Infantil. Manteve-se o que estava descrito nas DCNs de 2009/2010, e, assim, o foco continua sendo a interação e a brincadeira. No âmbito da BNCC, a novidade está na relação entre os eixos estruturantes, os direitos de aprendizagem e os campos de experiência. Se a educação é um direito, aprender também é. Nesse sentido, a educação para o trânsito também se constitui como um direito. No que diz respeito à Educa- http://basenacionalcomum.mec.gov.br/ 31 Educação Para o Trânsito e Seus FundamentosEducação Para o Trânsito e Seus Fundamentos Capítulo 1 ção Infantil, a BNCC estabelece seis direitos de aprendizagem: conviver, brincar, participar, explorar, expressar e se conhecer. QUADRO 2 – DIREITOS DA APRENDIZAGEM Conviver Conviver com outras crianças e adultos, em pequenos e grandes grupos, utilizando diferentes linguagens, ampliando o conhecimento de si e do outro, o respeito em relação à cultura e às diferenças entre as pessoas. Brincar Brincar cotidianamente de diversas formas, em diferentes espaços e tempos, com dife- rentes parceiros (crianças e adultos), ampliando e diversificando seu acesso a produ- ções culturais, seus conhecimentos, sua imaginação, sua criatividade, suas experiências emocionais, corporais, sensoriais, expressivas, cognitivas, sociais e relacionais. Participar Participar ativamente, com adultos e outras crianças, tanto do planejamento da ges- tão da escola e das atividades propostas pelo educador quanto da realização das atividades da vida cotidiana, tais como a escolha das brincadeiras, dos materiais e dos ambientes, desenvolvendo diferentes linguagens e elaborando conhecimentos, decidindo e se posicionando. Explorar Explorar movimentos, gestos, sons, formas, texturas, cores, palavras, emoções, transformações, relacionamentos, histórias, objetos, elementos da natureza, na es- cola e fora dela, ampliando seus saberes sobre a cultura, em suas diversas modali- dades: as artes, a escrita, a ciência e a tecnologia. Expressar Expressar, como sujeito dialógico, criativo e sensível, suas necessidades, emoções, sentimentos, dúvidas, hipóteses, descobertas, opiniões, questionamentos, por meio de diferentes linguagens. Conhecer-se Conhecer-se e construir sua identidade pessoal, social e cultural, constituindo uma imagem positiva de si e de seus grupos de pertencimento, nas diversas experiências de cuidados, interações, brincadeiras e linguagens vivenciadas na instituição esco- lar e em seu contexto familiar e comunitário. FONTE: Adaptado de Brasil (2017). Podemos observar que todos os direitos apresentados no quadro anterior significam ações, e é a partir destas ações que haverá a promoção das experiên- cias em diversos campos. Dessa forma, as crianças pequenas consolidarão seus direitos à aprendizagem. Nesse sentido, a visão a ser incorporada na Educação Infantil é que a escola propicieexperiências práticas de educação para o trânsito. 32 Educação para o Trânsito FIGURA 17 – CRIANÇA E EXPERIÊNCIA NO TRÂNSITO FONTE: <https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/teacher-scho- ol-kids-cross-street-by-1730397127>. Acesso em: 4 abr. 2021. Os campos de experiências constituem um arranjo curricular que acolhe as situações e as experiências concretas da vida cotidiana das crianças e seus sa- beres, entrelaçando-os aos conhecimentos que fazem parte do cotidiano cultural. A definição e a denominação dos campos de experiências também se baseiam no que dispõem as Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação Infantil (DCNEI) em relação aos saberes e conhecimentos fundamentais propiciados às crianças e associados às suas experiências (BRASIL, 2017). Considerando os saberes e os conhecimentos fundamentais, encontramos, na BNCC, cinco campos de experiência. QUADRO 3 – CAMPOS DE EXPERIÊNCIA O eu, o outro e o nós É a partir da interação e do convívio com outras crianças, que a criança começa a construir sua identidade e a descobrir o outro. Quando ela chega na escola, seu foco é seu próprio mundo (EU). Com o trabalho realizado no ambiente escolar, ela passa a perceber seus colegas (OUTRO) e logo está interagindo no meio dos outros (NÓS). Portanto, é na Educação Infantil que a criança amplia sua autopercepção, assim como a percepção do outro. Além de valorizar sua identidade, ela aprende a respei- tar os outros e a reconhecer as diferenças entre ela e seus colegas. Corpo, gestos e movimentos A criança explora o espaço em que vive e os objetos a sua volta com o corpo, por meio dos sentidos, gestos e movimentos. É nesse contexto – a partir das lingua- gens como música, dança, teatro e brincadeiras – que elas estabelecem relações, expressam-se, brincam e produzem conhecimentos. https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/teacher-school-kids-cross-street-by-1730397127 https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/teacher-school-kids-cross-street-by-1730397127 33 Educação Para o Trânsito e Seus FundamentosEducação Para o Trânsito e Seus Fundamentos Capítulo 1 É na Educação Infantil que o corpo das crianças ganha centralidade. Por isso, é importante que a escola promova atividade lúdicas com interações, nas quais as crianças possam explorar e vivenciar um amplo repertório de movimentos, gestos, olhares, sons e mímicas com o corpo, para descobrir variados modos de ocupação e uso do espaço com o corpo (tais como sentar com apoio, rastejar, engatinhar, escorregar, caminhar apoiando-se em berços, mesas e cordas, saltar, escalar, equi- librar-se, correr, dar cambalhotas, alongar-se etc.) Traços, sons, cores e formas A convivência com diferentes manifestações artísticas, culturais e científicas no espaço escolar possibilita a vivência de várias formas de expressão e linguagens. A partir dessas experiências, as crianças desenvolvem seu senso estético e crítico, além da autonomia para criar suas produções artísticas e culturais. Dessa forma, é de extrema importância para a criança da Educação Infantil o con- tato com as artes visuais, música, teatro, dança e audiovisual, para que ela possa desenvolver sua sensibilidade, criatividade e sua própria maneira de se expressar. Escuta, fala, pensamento e imaginação O contato com experiências nas quais as crianças possam desenvolver sua escuta e fala são importantes para sua participação na cultura oral, pertencente a um gru- po social. Além da oralidade, é fundamental que a criança inicie seu contato com a cultura escrita a partir do que já conhecem e de suas curiosidades. Ao escutar histórias, participar de conversas, ter contato com livros, as crianças irão desenvolver, além de sua oralidade, a compreensão da escrita como uma forma de comunicação. Espaços, tempos, quantidades, relações e transforma- ções A criança da Educação Infantil está inserida em um mundo de descobertas, com es- paços e tempos de diferentes dimensões. Logo, é nessa idade que ela começa a despertar sua curiosidade para o mundo físico, seu corpo, animais, plantas, natureza, conhecimentos matemáticos, bem como para as relações do mundo sociocultural. Por isso, a BNCC entende que, na Educação Infantil, a escola “precisa promover experiências nas quais as crianças possam fazer observações, manipular objetos, investigar e explorar seu entorno, levantar hipóteses e consultar fontes de informa- ção para buscar respostas às suas curiosidades e indagações.” Dessa forma, a instituição cria oportunidades para a criança ampliar seu conheci- mento de mundo, de modo a utilizá-los em seu cotidiano. FONTE: Adaptado de Brasil (2017). A relação entre movimento, espaços, códigos é bem clara na BNCC, jus- tamente porque, nessa faixa etária, a exploração do mundo se dá por meio da relação criança e espaços. A criança, nos primeiros anos de vida, estabelece a linguagem corporal como referência de manifestação, daí a importância de a te- mática ser trabalhada desde a educação infantil. 34 Educação para o Trânsito 4.3 EXPERIÊNCIAS E BRINCADEIRAS Cada criança em suas brincadeiras comporta-se como um poeta, enquanto cria seu mundo próprio ou, dizendo melhor, enquanto transpõe os elementos formadores de seu mundo para uma nova ordem, mais agradável e conveniente para ela (FREUD apud KISHIMOTO, 2003, p. 57). A concepção aqui presente diz respeito ao desenvolvimento da criança como um todo, uma visão mais holística, mais integral. Nesse sentido, cabe lembrar que é objetivo da educação infantil o desenvolvimento integral, que inclui o aspecto inte- lectual e os aspectos psicológico, emocional, social etc., como já salientado na LDB. FIGURA 18 – ASPECTOS DO DESENVOLVIMENTO INTEGRAL DA CRIANÇA FONTE: A autora. É na primeira infância que a formação se inicia e, assim, os primeiros con- ceitos sobre o mundo que cerca a criança são organizados, o que impulsiona o desenvolvimento. Nesse sentido, o mundo ao redor deve ser experienciado com 35 Educação Para o Trânsito e Seus FundamentosEducação Para o Trânsito e Seus Fundamentos Capítulo 1 liberdade, para que a interação e a compreensão da vida sejam alicerçadas na criança. Pensar a brincadeira como experiência de cultura significa alinhar duas pers- pectivas que configuram o brincar: ao mesmo tempo como produto e prática cul- tural, ou seja, como patrimônio cultural, fruto das ações humanas transmitidas de modo inter e intrageracional; e como forma de ação que cria e transforma signifi- cados sobre o mundo. FIGURA 19 – CRIANÇA BRINCANDO DE DIRIGIR FONTE: <https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/child-driving- -car-made-cardboard-box-450428557>. Acesso em: 4 abr. 2021. Brincando sozinha ou com os outros, participando de atividades lúdicas, as crianças constroem um repertório de brincadeiras e de referências culturais que compõem a cultura lúdica infantil, ou seja, o conjunto de experiências que permite às crianças brincarem juntas e captarem as coisas do mundo. Para garantir que os objetivos sejam cumpridos, as DCNEI co- locam como eixos norteadores do currículo de Educação Infantil a INTERAÇÃO e a BRINCADEIRA. Nesse sentido, os fatores relacio- nais ganham destaque no texto legislativo, por entender que a crian- ça aprende na interação com o outro (perspectivas interacionista e sociointeracionista) e fatores lúdico-experimentais, por perceber que a criança está em constante aprendizagem. 36 Educação para o Trânsito Para Vygotsky, o brincar é fonte de desenvolvimento e de aprendizagem, constituindo uma atividade que impulsiona o desenvolvimento, pois a criança se comporta de forma mais avançada do que na vida cotidiana, exercendo papéis e desenvolvendo ações que mobilizam novos conhecimentos, habilidades e proces- sos de desenvolvimento e de aprendizagem. FIGURA 20 – VYGOTSKY FONTE: <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/8/8f/ Lev_Vygotsky_1896-1934.jpg>. Acesso em: 4abr. 2021. Vygotsky foi um educador que realizou estudos sobre a cons- trução do conhecimento, enfatizando o desenvolvimento no âmbito social, por isso, por isso sua teoria ficou conhecida como sociointe- racionista. Quer saber um pouco mais sobre Vygotsky? Acesse uma publicação do Domínio Público que aborda a teoria e a biografia de Vygotsky no seguinte link: http://www.dominiopublico.gov.br/downlo- ad/texto/me4685.pdf. Acesso em: 16 ago. 2021. A brincadeira é uma atividade propícia ao processo de significação, envolven- do uma flexibilização na forma de compreender os signos e as relações entre eles. https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/8/8f/Lev_Vygotsky_1896-1934.jpg https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/8/8f/Lev_Vygotsky_1896-1934.jpg http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/me4685.pdf http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/me4685.pdf 37 Educação Para o Trânsito e Seus FundamentosEducação Para o Trânsito e Seus Fundamentos Capítulo 1 FIGURA 21 – CRIANÇA E OS SIGNOS DE TRÂNSITO FONTE: <https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/cute-smiling- -boys-girls-child-learning-1304716081>. Acesso em: 4 abr. 2021. O espaço proporcionado na Educação Infantil deve apresentar quadros que representem a organização do mundo. Nesse sentido, podemos dispor as infor- mações por meio de fotografias, textos, livros etc. para que, a partir deste referen- cial, as crianças possam experimentar situações de expressão diversas, como o teatro ou desenhos, utilizando materiais diferentes. Diante disso, temos uma questão para a reflexão: devemos refletir sobre como criar um espaço que favoreça a ampliação da expressão, da invenção, da criatividade infantil que, ao mesmo tempo, traga possibilidades sensoriais e emo- cionais aos pequenos em relação à educação para o trânsito. A Educação Infantil é uma fase primordial para a introdução da educação para no trânsito no processo educativo. Nesse sentido, o conhecimento da temática trân- https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/cute-smiling-boys-girls-child-learning-1304716081 https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/cute-smiling-boys-girls-child-learning-1304716081 38 Educação para o Trânsito sito será sistematizado nos níveis seguintes de sua escolarização, e perdurará por toda a vida, afinal, transitamos, nos locomovemos, aprendemos a dirigir etc. 1 - Sobre a educação para o trânsito no âmbito da Educação In- fantil, leia o trecho a seguir: “No ato de brincar, os sinais, os gestos, os objetos e os espa- ços valem e significam outra coisa daquilo que aparentam ser. Ao brincar, as crianças recriam e repensam os acontecimentos que lhes deram origem, sabendo que estão brincando.” (BRASIL, 1998, p. 27.) BRASIL. Ministério de Educação e do Desporto. Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil. Volume 1. Brasí- lia, DF: MEC, 1998. p. 27. De acordo com as orientações curriculares, dois eixos são es- senciais para o trabalho pedagógico na Educação Infantil: as in- terações e as brincadeiras. As brincadeiras, principalmente, são referências para o desenvolvimento da imaginação na infância. Considerando essas informações e o conteúdo estudado sobre os eixos para o trabalho pedagógico na Educação Infantil, pode- -se afirmar que o brincar é uma forma original de aprendizagem, porque: ( ) por meio da brincadeira cria-se um espaço no qual as crianças podem experimentar o mundo. ( ) brincar é reproduzir os modelos do mundo adulto, no âmbito de grupos sociais diversos. ( ) as crianças memorizam os conceitos gerais com os quais brinca. ( ) é preciso que as crianças tenham certa dependência para esco- lher seus companheiros e os papéis que irão assumir. ( ) o brincar envolve um conjunto de conhecimento a ser transmitido pela escola. 39 Educação Para o Trânsito e Seus FundamentosEducação Para o Trânsito e Seus Fundamentos Capítulo 1 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES Iniciamos o capítulo falando sobre o conceito de trânsito e a importância da educação para o trânsito, mostrando o quanto os índices de acidentes e violência no trânsito impulsionam um trabalho sistemático nesta direção. Nesse sentido, temos como referência sobre a proposta de educação para o trânsito, o Código de Trânsito Brasileiro que determina que a temática é obrigatória em toda Educação Escolar, ou seja, o alcance diz respeito à Educação Infantil, Ensino Fundamental, Ensino Médio e Educação Superior. Em seguida, vimos que a educação é um dos pilares do trinômio da educação para o trânsito, e para que tenhamos um equilí- brio e uma vida saudável, os pilares do trinômio devem dialogar entre si. Vimos, ainda, as legislações sobre a temática. Além da legislação referência sobre educação para o trânsito, destacamos que a legislação educacional não supre todos os aspectos necessários, abordando superficialmente a temática. De qualquer forma, as DCNs, dialogando com os PCNs, trazem a educação para o trânsito como um tema transversal, não compondo uma disciplina, mas, sim, um componente curricular obrigatório. Objetivos foram traçados em dois documentos publicados pelo DENATRAN no que diz respeito a Educação Infantil e ao Ensino Fundamental. Entendemos, portanto, que a introdução dos conhecimentos acerca da educação para o trânsito acontece na primeira infância, quando a criança começa a se relacionar com o mundo. A primeira infância é um momento é de suma importância para o processo de significação e prático, para que, mais tarde, a partir do Ensino Fundamental, todo esse conhecimento seja sistematizado. Por isso a relevância da BNCC com os direitos à aprendizagem e campos de experiências, colocando os eixos intera- ção e brincadeiras como mola propulsora do trabalho pedagógico. Por fim, foi possível compreender que o processo educativo que trata da edu- cação para o trânsito deve levar em consideração a cultura no qual a criança está inserida, assim como o nível de desenvolvimento em que se encontra. REFERÊNCIAS ALMEIDA SOBRINHO, J. Comentários ao Código de Trânsito Brasileiro. Rio de Janeiro: Forense, 2012. BANASZESKI, A. A.; ECCO, I. Educação para o trânsito: Um olhar para o contexto escolar. 2009. Disponível em: https://bit.ly/3iwhHq9. Acesso em: 16 mar. 2021. 40 Educação para o Trânsito BRASIL. Ministério da Educação. Parâmetros Curriculares nacionais para o Ensino Fundamental: 1ªa 4ª séries. Brasília, DF: SEF, 1997. BRASIL. Conselho Nacional de Educação; Câmara de Educação Básica. Resolução nº 5, de 17 de dezembro de 2009. Fixa as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 2009. BRASIL. Conselho Nacional de Educação; Câmara de Educação Básica. Resolução Nº 7, de 14 de dezembro de 2010. Fixa Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental de 9 (nove) anos. Brasília, DF: Diário Oficial da União, 2010. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/ rceb007_10.pdf. Acesso em: 12 abr. 2018. BRASIL. Ministério da Educação. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei n. 9.394/96. Brasília, DF: MEC, 1996. Disponível em: http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm. Acesso em: 7 jun. 2019. BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular: Educação é a base. 2017. Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/ BNCC_EI_EF_110518_versaofinal_site.pdf. Acesso em: 16 abr. 2021. BRASIL. Lei nº 9.503 de setembro de 1997. Brasília, DF: Presidência da República, 1997. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/ l9503compilado.htm. Acesso em: 5 mar. 2021. BRASIL. Departamento Nacional de Trânsito. Código de Trânsito Brasileiro. 3. ed. Brasília, DF: DENATRAN, 2008. Disponível em: https://www.detran.am.gov. br//wp-content/uploads/2015/04/ctb.pdf. Acesso em: 15 ago. 2021. BRASIL. Departamento Nacional de Trânsito. Resolução nº 514 do Contran. Brasília, DF: DENATRAN, 2014. Disponível em: https://www.legisweb.com.br/legislacao/?id=279487. Acesso em: 10 mar. 2021. BRASIL. Ministério da Educação. Temas Contemporâneos Transversais na BNCC: Contexto Histórico e Pressupostos Pedagógicos. 2019. Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/implementacao/contextualizacao_ temas_contemporaneos.pdf>. Acesso em: 16 abr. 2021. CUNHA, M. M.; PINTO, C. S. Educação para o trânsito: a violência no trânsito trabalhada no contexto escolar. Eventos Pedagógicos, Florianópolis, v. 4. n. 1, p. 63-71, mar./jul. 2013. Disponível em: https://bit.ly/3A1e15y. Acesso em: 24 mar. 2021. http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/rceb007_10.pdf http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/rceb007_10.pdf http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm https://www.detran.am.gov.br//wp-content/uploads/2015/04/ctb.pdf https://www.detran.am.gov.br//wp-content/uploads/2015/04/ctb.pdf http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/implementacao/contextualizacao_temas_contemporaneos.pdf http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/implementacao/contextualizacao_temas_contemporaneos.pdf 41 Educação Para o Trânsito e Seus FundamentosEducação Para o Trânsito e Seus Fundamentos Capítulo 1 DENATRAN. Diretrizes Nacionais da Educação para o Trânsito para a Pré- Escola. 2009a. Disponível em: http://vias-seguras.com/educacao/educacao_ao_ transito_regulamentacao/diretrizes_nacionais_da_educacao_para_o_transito/ portaria_147_2009_anexo_i_fase_pre_escolar. Acesso em: 25 mar. 2021. DENATRAN. Diretrizes Nacionais da Educação para o Trânsito para o Ensino Fundamental. 2009b. Disponível em: http://vias-seguras.com/educacao/ educacao_ao_transito_regulamentacao/diretrizes_nacionais_da_educacao_ para_o_transito/portaria_147_2009_anexo_ii_ensino_fundamental. Acesso em: 25 mar. 2021. KISHIMOTO, T. M. O jogo e a educação infantil. São Paulo: Pioneira, 2003. MACIEL, M. Trânsito e educação numa proposta transversal. Caderno Discente do Instituto Superior de Educação, Aparecida de Goiânia, Ano 2, n. 2., p. 105-118, 2008. Disponível em: http://projetoescola.labtrans.ufsc.br/projetoescola/transito-e- educacao-numa-proposta-transversal-maciel-2008. Acesso em: 30 mar. 2021. ONSV. Educa: Educação para mobilidade consciente. R&D Consultoria, 2016. Disponível em: https://www.gov.br/infraestrutura/pt-br/centrais-de-conteudo/01- apresentacao-e-referencial-pdf. Acesso em: 31 mar. 2021. VASCONCELLOS, E. A. O que é Trânsito. 3. ed. São Paulo: Brasiliense, 1998. https://www.gov.br/infraestrutura/pt-br/centrais-de-conteudo/01-apresentacao-e-referencial-pdf https://www.gov.br/infraestrutura/pt-br/centrais-de-conteudo/01-apresentacao-e-referencial-pdf 42 Educação para o Trânsito CAPÍTULO 2 Processos Educativos em Trânsito e Sua Relação Com a Segurança A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: � Identificar a Educação para o Trânsito como fator de cidadania e de segurança pessoal e coletiva. � Pontuar os direitos, os deveres e os comportamentos dos motoristas e pedes- tres nas vias públicas. � Colaborar para a formação de comportamentos que proporcionem segurança no trânsito e os comportamentos que proporcionem ou comprometem essa se- gurança. � Analisar atitudes positivas e negativas, comparando-as com as normas estabe- lecidas vigentes. 44 Educação para o Trânsito 45 Processos Educativos em Trânsito e Sua Processos Educativos em Trânsito e Sua Relação Com a SegurançaRelação Com a Segurança Capítulo 2 1 CONTEXTUALIZAÇÃO Ao falar de educação, devemos pensá-la historicamente e na cultura em que está inserida, tanto em espaços de educação formal quanto de educação não formal. Isto significa que uma proposta de educação para o trânsito deve conside- rar os problemas e desafios da sociedade, promovendo possibilidades dialógicas com os sujeitos que estão em foco nesse processo educativo. Todas as criações da humanidade devem estar a serviço dela, e, com a edu- cação para o trânsito, não seria diferente. Nessa direção, pensar em um trânsito saudável, em que a mobilidade de todos os envolvidos seja possível, é uma das formas de promoção da cidadania. Olhar o sujeito aprendiz como centro do processo é possibilitar a construção do conhecimento de forma ativa, conforme apontado por Piaget (2010[1969]) ao trazer os estudos sobre a cognição humana. Nesse sentido, ao agir perante o co- nhecimento, a criança modifica a sua realidade de forma interativa, como já pon- tuado por Vygotsky (1998). Piaget (2010[1969]) e Vygotsky (1998) são referências básicas que nos ajudam a pensar em não só informar crianças e adolescente sobre sinais de trânsito, placas etc., mas também possibilitar ações a partir de si- tuações reais que sejam significativas para o educando, tomando como referência Ausubel (MOREIRA, 2001). No contexto brasileiro, é complicado encontrar uma definição formal para a expressão “educação para o trânsito”. Até mesmo o Código de Trânsito Brasi- leiro (CTB), que determina a obrigação de um trabalho pedagógico, não conse- gue expor uma definição, tampouco uma diretriz pedagógica de trabalho, apenas apontando diretrizes políticas. Nesse sentido, são as práticas desenvolvidas por secretarias de transporte e órgãos ligados aos setores de trânsito na cidade que delineiam propostas e as ambientam em alguns espaços educacionais, geralmen- te desenvolvidas como campanhas, palestras e cartilhas para os usuários da mo- bilidade urbana. No entanto, no âmbito dos setores educacionais, algumas secre- tarias tomam para si esse compromisso, incentivando projetos escolares. Geralmente, o trabalho de educação para o trânsito se resume a ideias que vão desde o aprendizado de normas e o entendimento básico de códigos a pre- ceitos de civilidade, mais do que uma etiqueta de mobilidade urbana, mas um composto de consciência, ética e tolerância em prol de um trânsito mais saudável. Entende-se, portanto, que além de fazer parte dos direitos e deveres daqueles que estão no contexto no espaço móvel público, a educação no trânsito promove o ensino de valores fundamentais para a formação do caráter de um bom cidadão, como a cordialidade, o respeito, a solidariedade e o senso de cooperação e 46 Educação para o Trânsito de responsabilidade. Nesse sentido, é fundamental que a temática trânsito seja abordada desde a infância, enquanto o indivíduo começa a se entender como par- te de um todo e aprende, seja na escola ou em casa, a conviver em sociedade. O aprendizado garantirá que, mais tarde, ele faça parte do trânsito de uma maneira segura e consciente. FIGURA 1 – CRIANÇAS ATRAVESSANDO A RUA NA FAIXA DE PEDESTRE COM SEGURANÇA FONTE: <https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/kids-cross-roa- d-vector-illustration-1442994140>. Acesso em: 30 maio. 2021. Para a viabilidade da educação de trânsito, os fundamentos dos métodos e con- teúdos preventivos são essencialmente definidos a partir dos entendimentos tradicio- nais da questão da segurança viária, particularmente no que concerne à identificação de causas ou de responsáveis imediatos pelas colisões, atropelamentos etc. Nesse sentido, em se tratando do currículo escolar, a educação para o trân- sito tem sua importância como uma ideia de preparação para a inclusão do aluno no convívio social, porque objetiva estimular, entre crianças e jovens, atitudes e hábitos que contribuam para a preservação da vida e para a paz no cotidiano das comunidades, através de uma atitude consciente e responsável que seja capaz de atuar para a redução do número de acidentes, de mortos e de feridos. Os elementos podem dar a essência dos conteúdos e métodos de outras ações voltadas à formação de condutores, a palestras ou a campanhas. Cabe sa- lientar, ainda, que o sucesso dos trabalhos não pode ser avaliado a partir somente https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/kids-cross-road-vector-illustration-1442994140https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/kids-cross-road-vector-illustration-1442994140 47 Processos Educativos em Trânsito e Sua Processos Educativos em Trânsito e Sua Relação Com a SegurançaRelação Com a Segurança Capítulo 2 da redução do número de mortos e feridos no trânsito em dados momentos ou locais, mesmo que isso venha desejosamente ocorrer. De fato, algumas ações podem colaborar com a redução de colisões ou atro- pelamentos em um determinado ponto crítico como, por exemplo, a colocação de uma lombada, que é uma ação mais emergencial e, possivelmente, mais efetiva do que um programa educativo, que provoca efeitos a médio e longo prazo. A eficácia da educação estará, nesse caso, mais associada à conscientização dos sujeitos envolvidos e na capacidade de mobilizá-los para se obter ações, como a construção da lombada para a diminuição de problemas de trânsito. É nesta direção que todos podem contribuir para um trânsito mais humano e mais justo em que todos os elementos possam utilizar o espaço público de forma equitativa, com responsabilidade e respeito mútuo para, enfim, diminuir a violên- cia no trânsito. O trânsito é um espaço público e, como tal, um direito do cidadão que deve utilizá-lo com segurança e, assim, ao mesmo tempo, produzir segurança – um dever de todos. 2 CIDADANIA E EDUCAÇÃO PARA O TRÂNSITO Quando se pensa em educação para o trânsito, ficamos presos a ensinar a atravessar a rua ou a compreender o significado de símbolos essenciais para se locomover no meio urbano com segurança. Não que isso não seja importante, também é, e faz parte do trabalho a ser realizado. No entanto, o que também nos preocupa é a condição cidadão deste trânsito. Nesse sentido, podemos nos ques- tionar: o que é ser um cidadão? O que é o trânsito? Como cidadania se relaciona com o trânsito? É o que veremos nesta seção. A origem da palavra cidadania/cidadão, do latim civitas, significa “aquele que vive na cidade”. Cabe ressaltar que o conceito de cidadão já vinha sendo discuti- do e ampliado desde a época dos grandes filósofos gregos, extrapolando, assim, a etimologia da palavra. Com o advento da era moderna e a estruturação do pa- radigma antropocentrista, esse conceito sofreu alterações, principalmente após a Revolução Francesa, em que foi associado a um sentido mais político, alinhado aos direitos e deveres. 48 Educação para o Trânsito FIGURA 2 – CIDADÃOS NO TRÂNSITO DA CIDADE FONTE: <https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/people-crossing-road-un- controlled-pedestrian-crosswalk-1921849895>. Acesso em: 30 maio. 2021. Ampliando o conceito, podemos entender que cidadão é toda pessoa cons- ciente do seu papel na sociedade. Um cidadão deve ter o conhecimento de seus direitos e reconhecer, cumprir e exercer todos os seus deveres, ou seja, é um indi- víduo consciente do seu papel na sociedade e, para que a vida em sociedade seja possível, regras foram criadas para a convivência coletiva, normas de conduta para que possamos conviver em sociedade. Essas regras definem nossos direitos e deveres enquanto cidadãos e são os fundamentos da educação para o trânsito. A necessidade de que a educação trabalhe a formação ética dos alunos está cada vez mais evidente. A escola deve assu- mir-se como um espaço de vivência e de discussão dos refe- renciais éticos, não uma instância normativa e normatizadora, mas um local social privilegiado de construção dos significados éticos necessários e constitutivos de toda e qualquer ação de cidadania, promovendo discussões sobre a dignidade do ser humano, igualdade de direitos, recusa categórica de formas de discriminação, importância da solidariedade e observância das leis (BRASIL, 1998a, p. 16). O trânsito é o espaço em que acontece a mobilidade de várias pessoas, além de veículos e animais. O ato de transitar pode acontecer em ruas, em estradas, calçadas, qualquer espaço em que haja a circulação coletiva no qual as pessoas interagem entre si. Estar no trânsito, reconhecer-se como parte dele, em interação com as outras pessoas, é, também, um ato cidadão. Gostaríamos de ver no trânsito uma expressão de cidadania, um modo de partilhamento do espaço das vias públicas, orde- nado por regras comuns e impessoais. Mais do que uma ne- https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/people-crossing-road-uncontrolled-pedestrian-crosswalk-1921849895 https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/people-crossing-road-uncontrolled-pedestrian-crosswalk-1921849895 49 Processos Educativos em Trânsito e Sua Processos Educativos em Trânsito e Sua Relação Com a SegurançaRelação Com a Segurança Capítulo 2 cessidade vital individual, transitar seria um exercício cotidiano de solidariedade, gentileza e, sobretudo, respeito à integridade de cada pessoa, especialmente daquelas cujos deslocamentos as colocam em posição mais frágil na cidade – os pedestres (BIAVATI, 2009, s. p.). No trânsito, todos têm direitos e deveres, por isso, é necessário que haja respeito e educação entre todos que dele participam, para que possam usufruir dos espaços e objetivos dos diferentes cotidianos dos quais fazemos parte. A edu- cação é um caminho para a cidadania, e, consequentemente, a educação para o trânsito também. [...] a educação é entendida como instrumento, como um meio, como uma via através da qual o homem se torna plenamente homem apropriando-se da cultura, isto é, a produção humana historicamente acumulada. Nesses termos, a educação fará a mediação entre o homem e a ética permitindo ao homem assu- mir consciência da dimensão ética de sua existência com todas as implicações desse fato para a sua vida em sociedade. Fará, também, a mediação entre o homem e a cidadania, permitindo- -lhe adquirir consciência de seus direitos e deveres diante dos outros e de toda a sociedade... Em outros termos, pela media- ção da educação, será possível construir uma cidadania ética e, igualmente uma ética cidadã (SAVIANI, 2013, p. 1). O conceito de trânsito se relaciona diretamente ao direito de ir e vir, ou seja, está associado ao direito de se locomover de acordo com as suas necessidades. Cada pessoa é amparada pela Constituição Federal de 1988 acerca desse direito: Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros resi- dentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos seguintes termos: (...) II- ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei; (...) ; XV- é livre a locomoção no território nacional em tempo de paz, podendo qualquer pessoa, nos termos da lei, nele entrar, per- manecer ou dele sair com seus bens (BRASIL, 1988, s. p.). Desta forma, entendemos que, para que este direito seja concedido, é neces- sário que entendamos quais são as variáveis e fatores que permeiam a temática trânsito. O que isso significa? Significa que precisamos entender tanto das regras de trânsito quanto exercer nossas ações baseando-se no bom senso, pois nem tudo é previsível, e nem sempre o “como agir” está registrado nos documentos oficiais. De acordo com o CTB, Lei nº 9.503, de 23 de setembro de 1997, trânsito é considerado como: 50 Educação para o Trânsito (...) a utilização das vias por pessoas, veículos e animais, isola- dos ou em grupos, conduzidos ou não, para fins de circulação, parada, estacionamento e operação de carga e descarga. O trânsito é, também, o resultado da distribuição dos diversos tipos de uso do solo das cidades e dos deslocamentos diários das pessoas para trabalhar, se educar, se divertir, cuidar da sua saúde, retornar à residência etc. (BRASIL, 1997, s. p.). Vasconcellos (2019) ratifica que o trânsito é uma necessidade humana e que utilizamos destes deslocamentos diários para que se façam cumprir todas as nos- sas atividades: Trânsito é feito por pessoas, dentro de uma dada
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