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CENTRO UNIVERSITÁRIO DA CIDADE - UniverCidade Escola de Engenharia Introdução à Engenharia EMENTA Capítulo 1 - A ENGENHARIA Capítulo 2 - O PROFISSIONAL DA ENGENHARIA Capítulo 3 - METODOLOGIA CIENTÍFICA Capítulo 4 - CIÊNCIA E TECNOLOGIA Capítulo 5 - ESTUDO DE CASOS OBJETIVO Apresentar ao aluno do curso de Engenharia uma visão atual e perspectivas de sua futura profissão, bem como integrá-lo a esse novo ambiente de constante aprimoramento técnico com embasamento em padrões de ética peneres. Prof. M. Sc. Fernando Antônio Tupinambá Barbosa Introdução à Engenharia UniverCidade Fevereiro/2010 Introdução à Engenharia 3 1 A ENGENHARIA 1.1 Introdução Engenharia (do latim ingeniu = "faculdade inventiva, talento") é a arte, a ciência e a técnica de bem conjugar os conhecimentos especializados (científicos) de uma dada área do saber com a sua viabilidade técnico- econômica, para produzir novas utilidades e/ou transformar a natureza, em conformidade com idéias bem planejadas e em observância aos imperativos de preservaçã ambiental e de conservação ambiental, na escala que se fizer necessária. Basicamente a Engenharia é observada em dois momentos distintos: a Engenharia Antiga e a Engenharia Moderna 1.2 Engenharia Antiga 1.2.1 Período Paleolítico Nos tempos primitivos não havia documentos escritos sobre a vida nem sobre o homem. Esse período é chamado de Pré-história e o que se conhece a seu respeito baseia-se nos objetos que restam dessa época. A Pré- história divide-se em Idade da Pedra, do Bronze e do Ferro. A Idade da Pedra foi dividida em dois períodos: Paleolítico ou Idade da Pedra Lascada e Neolítico ou Idade da Pedra Polida. Centro Universitário da Cidade - UniverCidade / 2010 Introdução à Engenharia 4 Conhecido como o mais extenso período da história humana, o Período Paleolítico abrange uma datação bastante variada que vai de 2,7 milhões de anos até 10.000 a.C.. Desprovido de técnicas muito sofisticadas, os grupos humanos dessa época desenvolviam hábitos e técnicas que facilitavam sua sobrevivência em meio às hostilidades impostas pela natureza. Nesse período, as baixas temperaturas da Terra obrigavam o homem do Paleolítico a viver sob a proteção das cavernas. Uma das mais importantes descobertas dessa época foi o fogo. Com esse poderoso instrumento, os homens pré-históricos alcançaram melhores condições de sobrevivência mediante as severas condições climáticas. Além disso, o domínio do fogo modificou os hábitos alimentares humanos, com a introdução da caça e vegetais cozidos. Sem contar com técnicas de produção agrícola, o homem vivia deslocando-se por diversos territórios. Praticantes do nomadismo, os grupos paleolíticos utilizavam dos recursos naturais à sua volta. Depois de consumi- los, migravam para regiões que apresentavam maior disponibilidade de frutas, caça e pesca. Para fabricar suas armas e utensílios, os homens faziam uso de osso, madeira, marfim e pedra. Devido a essas características da cultura material do período, também costumamos chamar o Paleolítico de Período da Pedra Lascada. Por volta de 40 mil anos, os povos do Paleolítico começaram a viver em grupos mais populosos. Ao mesmo tempo, começaram a criar novas moradias feitas a partir de gravetos e peles de animal. Uma das grandes fontes de compreensão desse período é encontrada nas paredes das cavernas, onde se situam as chamadas pinturas rupestres. Nelas temos informações sobre o homem pré-histórico referente à suas ações cotidianas. No fim do Paleolítico, uma série de glaciações transformou as condições climáticas do mundo. As temperaturas tornaram-se mais amenas e, Centro Universitário da Cidade - UniverCidade / 2010 Introdução à Engenharia 5 a partir de então, foi possível o processo de fixação dos grupos humanos. Com isso, uma série de mudanças marcou a passagem do período Paleolítico para o Neolítico. 1.2.2 Período Neolítico Uma das mais importantes conquistas na formação das primeiras civilizações humanas estabelece-se em um novo período da Pré-História. Durante o Neolítico ou Idade da Pedra Polida ocorreram grandes transformações no clima e na vegetação. O continente europeu passou a contar com temperaturas mais amenas e observamos a formação do Deserto do Saara, na África. A prática da caça e da coleta se tornaram opções cada vez mais difíceis. A agricultura e o consequente processo de sedentarização do homem se estabeleceram gradualmente. Além disso, a domesticação animal se tornou uma prática usual entre os grupos humanos que se formavam nesse período. A estabilidade obtida por essas novas técnicas de domínio da natureza e dos animais também possibilitou a formação de grandes aglomerados populacionais. Novas formas de organização social surgiam e, assim, as primeiras instituições políticas do homem podem ter sido formadas nessa mesma época. A criação e o abandono de formas coletivas de organização sócio-econômicas podem ser vislumbrados no Neolítico. Conforme alguns pesquisadores, as primeiras sociedades complexas, criadas em torno da emergência de líderes tribais ou a organização de um Estado, são frutos dessas transformações. No fim do período Neolítico também ocorreu a chamada Idade dos Metais. Nessa época, o desenvolvimento de armas e utensílios criados a partir do cobre, do bronze e, posteriormente, de ferro se tornaram usuais. Com o Centro Universitário da Cidade - UniverCidade / 2010 Introdução à Engenharia 6 desenvolvimento dos primeiros Estados e o aparecimento da escrita, o período Neolítico finalizou o recorte de tempo da Pré-História e abriu portas para o estudo das primeiras civilizações da Antigüidade. 1.2.3 Idade dos Metais Considerada a última fase do Neolítico, a Idade dos Metais marca o início da dominação dos metais por parte das primeiras sociedades sedentárias da Pré-História. No entanto, qual a importância de se ressaltar esse tipo de descoberta humana? O que podemos frisar é que a utilização dos metais foi de fundamental importância para algumas das sociedades que surgiram durante a Antiguidade. Através do domínio de técnicas de fundição, o homem teve condições de criar instrumentos mais eficazes para o cultivo agrícola, derrubada de florestas e a prática da caça. Além disso, o domínio sobre os metais teve influência nas disputas entre as comunidades que competiam pelo controle das melhores pastagens e áreas férteis. Dessa maneira, as primeiras guerras e o processo de dominação de uma comunidade sobre outra contou com o desenvolvimento de armas de metal. O primeiro tipo de metal utilizado foi o cobre. Com o passar dos anos o estanho também foi utilizado como outro recurso na fabricação de armas e utensílios. Com a junção desses dois metais, por volta de 3000 a.C., tivemos o aparecimento do bronze. Só mais tarde é que se tem notícia da descoberta do ferro. Manipuladopor comunidades da Ásia Menor, cerca de 1500 a.C., o ferro teve um lento processo de propagação. Isso se deu porque as técnicas de manipulação da liga de ferro eram de difícil aprendizado. Contando com sua utilização, observamos que a maior resistência dos Centro Universitário da Cidade - UniverCidade / 2010 Introdução à Engenharia 7 produtos e materiais metálicos teve grande importância na consolidação das primeiras grandes civilizações do Mundo Antigo. Assim, o uso do metal pôde influenciar tanto na expansão, como no desaparecimento de determinadas civilizações. 1.2.4 Surgimento da Engenharia Antiga 1.2.4.1 Na Antiguidade Desde cerca de 4000 a.C., se delineiam, tanto no Egito como na Mesopotâmia, condições material e intelectualmente propícias ao exercício de atividades de engenharia agrícola e arquitetônica. Tais requisitos se consolidam entre 3.500 e 2.500 a.C., quando nas duas regiões se observa um apreciável progresso das matemáticas. Os egípcios do período anterior à IV dinastia estabeleceram os fundamentos da aritmética e da geometria: criaram o sistema decimal, calcularam a área do círculo (como a dos retângulos, triângulos e hexágonos), o volume da pirâmide, do cilindro e do hemisfério. Os sumérios, por sua vez, multiplicavam, dividiam, extraíam as raízes quadrada e cúbica, além de terem padronizado um sistema de pesos e medidas. Seria, pois, descabido subestimar, na arquitetura descomunal das pirâmides, a prática de cálculos e projetos rigorosos, sem a qual pouca valia teriam a farta mão-de-obra (no caso da obra de Quéops, segundo Heródoto, cerca de cem mil homens em vinte anos) e os recursos tecnológicos existentes, que compreendiam a adoção de imensos planos inclinados e indiscutível perícia no uso de cunhas, brocas e alavancas. Consideração análoga deve ser feita a propósito dos templos sumérios com suas torres de diversos andares, Centro Universitário da Cidade - UniverCidade / 2010 Introdução à Engenharia 8 erigidos quase sempre com tijolos secos ao sol, ou das tumbas reais e residências de Ur, onde se revelaram as invenções mais importantes da arquitetura suméria, sinal de seu adiantamento técnico: o arco, a abóbada, a cúpula e a coluna. Os egípcios são responsáveis pelos primeiros empreendimentos no campo da engenharia agrícola. Com base no perfeito calendário solar de que dispunham, desenvolveram excelentes técnicas de irrigação e de aproveitamento racional do regime do rio Nilo, cujas águas desviaram com diques. No Médio Império, perfuraram a primeira versão do canal de Suez. A partir de 1.800 a.C., os amorritas ou antigos babilônios dominaram a cultura mesopotâmica e demonstraram em seus edifícios a mestria de sua arquitetura. Nos séculos seguintes, suas realizações não são menos impressionantes e envolvem preocupação com o planejamento e o traçado prévio também de cidades, como é o caso de Nippur, de esquadrejamento geométrico. Em seu combate organizado aos animais patogênicos, os egípcios se aproximaram dos rudimentos de uma engenharia sanitária. Nessa área, a civilização egéia do período minóico (1.450-1.400 a.C.) atingiu as raias do prodígio: o principal palácio de Cnosso dispunha de instalações de água encanada e outras comodidades dessa ordem. Ainda nesse período, os cretenses se destacam como os primeiros construtores de estradas pavimentadas, com até 3,5 m de largura. Algumas das maiores proezas de antecipação da engenharia na antiguidade se apresentaram no decorrer do último milênio antes da era cristã, efetuadas por diversos povos que, na maior parte, herdaram direta ou indiretamente as conquistas da ciência e da tecnologia egípcias, sumérias, acadianas. Os caldeus e babilônios do século VI a.C. levaram bem mais longe os conhecimentos egípcios em engenharia hidráulica, pois construíram muitos canais de irrigação, represas e aquedutos cujas ruínas surpreenderam os Centro Universitário da Cidade - UniverCidade / 2010 Introdução à Engenharia 9 historiadores modernos. Mais ainda fizeram os assírios que, sob Senaquerib, canalizaram para Nínive as águas das montanhas, valendo-se de uma ponte de 280 m de comprimento, dois de largura e nove de altura. Guerreiros implacáveis criaram também as primeiras obras de engenharia militar de que se tem notícia. Suas fortificações, especialmente em Assur, estendiam-se por quilômetros ao longo do rio Tigre, garantidas por torres e muros externos e internos. Os persas introduziram o uso das vigas de madeira (cedro, no caso) em telhados e foram dos primeiros a construírem estradas dignas desse nome, durante o período aquemênida, sob Dario I. No século IV a.C., filósofos como Tales de Mileto e Pitágoras deram vigoroso impulso às matemáticas e, no século seguinte, a arquitetura atingiu seu apogeu na Acrópole de Atenas. Outras obras que atestam o adiantamento das atividades de engenharia na Grécia antiga são a construção do porto do Pireu, em Atenas, e, no século IV a.C., do estádio de Delfos e dos teatros de Epidauro e de Dioniso, este último com lugares para 17.000 espectadores. Nessa época, a abóbada e a cúpula são empregadas constantemente. No Império Romano, os trabalhos de engenharia hidráulica, arquitetônica e sanitária alcançaram níveis notáveis. A cidade de Roma dispunha de esgotos aparentemente projetados para durar milênios, com pedras de mais de três toneladas. Ainda mais expressivos, no entanto, são os aquedutos, o primeiro dos quais, o Aqua Appia, foi edificado em 312 a.C., com mais de 11 km de extensão. Os romanos conheciam o uso dos sifões e do tubo de alta pressão, garantindo assim o deslocamento das águas até a cidade. Poucas metrópoles modernas chegariam a ter a fartura de água da Roma antiga, que contava com amplos reservatórios e uma rede de canos eficiente, dotada de válvulas de segurança. O Império Romano também demonstrou habilidade na construção de suas estradas, por algumas das quais ainda se pode trafegar. A maior obra arquitetônica e de engenharia de Roma foi o Coliseu, inaugurado em 80 a.C. Centro Universitário da Cidade - UniverCidade / 2010 Introdução à Engenharia 10 Era o maior anfiteatro de Roma, com capacidade para cinquenta mil espectadores. Os gregos da fase helenística, de Alexandre o Grande, foram os precursores da engenharia de guerra. Produziam engenhos mecânicos destinados ao arremesso de projéteis ou ao arrombamento de muralhas. Produziam armas como a catapulta, o escorpião ou besta fixa - munida de grandes manivelas para puxar a seta na corda retesada do arco - e vários tipos de aríete. A engenharia militar dos romanos se voltou para o terreno das fortalezas, para conter a ameaça dos bárbaros. Estenderam sua cadeia de terraplenos, fossos, fortins e postos avançados ao longo do Reno e do Danúbio, dando origem a cidades como Strasbourg, Mainz, Colônia e Viena. 1.2.4.2 Na Idade Média No final do século V, a civilização romana do Ocidente estava desbaratada e os povos que dominaram a Europa ocidental não apresentavam, em suas culturas ou em seu modo de produção, características que favorecessem o progresso nas práticas de engenharia ou na expressão arquitetônica. A alta Idade Média se desenrolou com poucas manifestações representativas e se limitou à construção de mosteiros,castelos e fortificações que, na maioria, não traziam inovação às técnicas já anteriormente dominadas. O panorama não se modificou durante o império de Carlos Magno e patenteou- se ainda mais no período de consolidação do feudalismo. Somente a partir de meados do século X, quando acabou o bloqueio muçulmano do Mediterrâneo e se restabeleceu o comércio do Ocidente, a vida urbana ressurgiu, com muitas modificações no sentido econômico. Como decorrência, tornou-se necessário incrementar a produção agrícola e promover os meios adequados à circulação de riqueza. Em Flandres (século XI), são Centro Universitário da Cidade - UniverCidade / 2009 Introdução à Engenharia 11 tarefas ao mesmo tempo de engenharia agrícola e sanitária os diques construídos em torno das terras de aluvião, que exigiam manutenção e controle do desaguamento. Surgem na mesma época, em diversas regiões da Europa, iniciativas com o fim de reparar as estradas existentes e abrir novos caminhos, passagens e pontes. Peregrinos anônimos criaram, nessa fase, as primeiras pontes pênseis, sobre os Alpes, contribuindo para a ligação dos reinos italianos com o norte da Europa. Pontes maiores e mais dispendiosas foram edificadas, principalmente nas cidades, com o financiamento dos burgueses. São exemplos significativos as pontes de Londres, no Tâmisa; de Rouen e de Paris, no Sena; de Liège, de Namur, Maastricht etc., no Mosela; de Avignon, no Ródano. Na arte gótica, que apareceu na segunda metade do século XII, as soluções de engenharia tiveram um progresso admirável, que correspondia às transformações processadas na Europa ocidental desde fins do século X. Os construtores passaram a calcular a estabilidade menos em função da massa do que da forma. Tornaram os arcos mais leves, aliviaram as pressões laterais sobre as pilastras, distribuíram o peso dos arcos sobre as colunas internas, que se tornaram mais altas e delgadas. A alvenaria alcançou, assim, no gótico, os limites extremos de suas possibilidades estruturais. O desenvolvimento do comércio, no fim da Idade Média, não se fez acompanhar de uma suficiente melhoria das estradas e dos meios de transporte. O comércio, então, buscou saída pelos rios e pelos mares, a navegação se expandiu e, como uma de suas consequências, retomaram-se as atividades de engenharia portuária e construção de canais. No século XIII, a planície flamenga era toda recortada por canais providos de comportas para controle da altura das águas. Centro Universitário da Cidade - UniverCidade / 2010 Introdução à Engenharia 12 1.2.4.3 Os Árabes A civilização sarracena não precisou de muitas pontes e estradas para penetrar na Europa na baixa Idade Média e marcar com a poderosa influência de sua cultura o destino dos conhecimentos, das artes e das técnicas. Entre os séculos VII e XI, afirmou-se como a mais desenvolvida de seu tempo no preparo dos que se ocupam das atividades de engenharia. Seus fundamentos econômicos, somados a seu saber científico, propiciaram grandes realizações. Os árabes se anteciparam de quatro a cinco séculos às características iniciais do sistema capitalista de produção. Difusores da numeração universalmente adotada com o nome de arábica e pioneiros da álgebra e da trigonometria elevaram o conhecimento a um nível bem além do atingido pelos gregos do período helenístico. Admiráveis no que interessa à engenharia, nos frutos arquitetônicos desse processo, na funcionalidade de suas escolas e hospitais, os árabes foram ainda os verdadeiros precursores das engenharias química, biomédica e industrial modernas. Basta mencionar o excelente aço de Damasco, a larga produção de medicamentos ou os caprichosos objetos de vidro. Considerações à parte merecem ainda suas técnicas agronômicas. Os árabes restabeleceram e aperfeiçoaram os sistemas de irrigação do Egito e da Mesopotâmia. Na Espanha, deram provas de seu amplo domínio da natureza para fins agrícolas, ao aterrarem declives de montanhas para o cultivo da videira. 1.2.4.4 O Império Bizantino Na convergência das culturas greco-romana e oriental, Bizâncio ofereceu condições para importantes obras de engenharia, algumas das quais Centro Universitário da Cidade - UniverCidade / 2009 Introdução à Engenharia 13 famosas por sua originalidade arquitetônica. O império bizantino empreendeu trabalhos de engenharia militar que estão entre os mais ambiciosos da Idade Média e cidades fortificadas com linhas de defesa interligadas por meio de fortins intermediários. 1.2.4.5 O Renascimento A época não se destaca propriamente pelas grandes construções materiais, mas pelo extraordinário alargamento dos horizontes culturais e científicos. No Renascimento a engenharia ganhou seu caráter sistemático e sua base científica. À frente dessa nova perspectiva está o trabalho de Leonardo da Vinci, que, em meio a outras atividades, exerceu a de engenheiro civil e militar. Seu método de pesquisa deve ser encarado como o marco inicial da engenharia científica. Leonardo foi também o pioneiro da análise estrutural, em sua tentativa de utilizar noções elementares da estática para a avaliação das forças e reações internas de um vigamento. Outro gênio precursor da engenharia moderna foi Galileu Galilei, que estudou a resistência dos materiais e a flexão das vigas. No século XVII os impulsos de desenvolvimento da matemática e da física ampliaram cada vez mais a base dos conhecimentos de que a engenharia propriamente dita vai se utilizar. Entre os muitos marcos dessa época estão a obra de Bonaventura Cavalieri nos campos da geometria e da trigonometria; a criação da geometria analítica por Descartes (1637) e da máquina de calcular (1642) por Pascal; a lei de Robert Hooke (1653-1703) sobre a elasticidade dos corpos; a descoberta do cálculo das probabilidades por Pascal e Pierre de Fermat (1601-1665); do cálculo diferencial, integral e infinitesimal, por Newton e Leibniz. Centro Universitário da Cidade - UniverCidade / 2010 Introdução à Engenharia 14 1.2.4.6 Outros predecessores Nos quase seis mil anos que vão da formação dos primeiros impérios da antiguidade até o fim do Renascimento europeu, vários outros povos e civilizações realizaram importantes obras de engenharia pré-científica. Destaca-se a experiência hindu, a partir do século II a.C., e especialmente depois do século XI, assim como a chinesa do século III a.C., quando se construiu excelente sistema de irrigação e se iniciou a grande muralha, que chegou a ter 2.400 km de extensão. Há ainda as realizações dos impérios da América pré-colombiana. Os incas, particularmente, de 500 a 1000 de nossa era, construíram enormes edificações, estradas, pontes, terraços para fins agrícolas, assim como os maias, entre 300 e 900 da era cristã, e os astecas, nos séculos XIV e XV. 1.3 Engenharia Moderna Em 1747, a moderna engenharia foi reconhecida pela primeira vez ao ser fundada na França a École Nacionale de Ponts et Chaussées. Nessa escola foram compilados e difundidos os conhecimentos da época sobre técnicas de construção e analisados os avanços decisivos da tecnologia de materiais, que na transição dos séculos XVIII e XIX, foram a raiz da revolução industrial. Destacam-se contribuições tais como a máquina a vapor do engenheiroescocês James Watt, as radicais modificações na produção têxtil devidas à mecanização da indústria e as primeiras experiências sobre eletricidade. Na mediação promovida pela engenharia entre a super e a infra- estrutura de uma sociedade, o traço de união objetivo é a matéria-prima Centro Universitário da Cidade - UniverCidade / 2010 Introdução à Engenharia 15 incorporada no fluxo produtivo. Os materiais da engenharia estão sempre ligados aos progressos de sua utilização. Sob esse aspecto, a introdução do ferro e do carvão marca o início da revolução industrial. A partir de 1860 aproximadamente, tem início o período conhecido como segunda revolução industrial, quando se torna possível a expansão e o barateamento da produção de aço. Outro fator determinante dos progressos nessa etapa foi o petróleo, ao lado dos metais leves. A engenharia das construções dinâmicas (a das máquinas e veículos) passou a atuar tanto quanto a das construções estáticas. Surgiram, então, algumas especializações: engenharia mecânica, química, de mineração, de pontes e estradas. Durante o século XIX e nas primeiras décadas do XX a engenharia já contava com grandes personalidades, como os franceses Ferdinand de Lesseps, inspirador e projetista do canal de Suez, e Alexandre-Gustave Eiffel, criador da torre parisiense que tem seu nome, e o americano George Washington Goethals, construtor do canal do Panamá. No princípio do século XX, a eletricidade, os veículos automotores e o rádio proporcionam mudanças ainda maiores no quadro tecnológico e econômico, trazendo novas especializações: engenharia eletrotécnica, metalúrgica, naval. Como conseqüência da urbanização e do crescimento populacional, surgem as engenharias agronômica (para abastecimento das cidades) e hidráulica. Outro material que introduziu grandes mudanças foi o cimento portland, patenteado em 1824 na Inglaterra, utilizado para fazer a massa de concreto. As qualidades do concreto e do ferro foram reunidas no concreto armado, que apareceu no fim do século XIX e se consagrou, ao longo do século XX, como um dos materiais indispensáveis a todas as obras de engenharia. No final do século XX, os sucessivos e constantes avanços da pesquisa científica e a tendência à máxima racionalização das obras de Centro Universitário da Cidade - UniverCidade / 2010 Introdução à Engenharia 16 engenharia determinavam um grau de complexidade das obras impensável para os que se ocupavam desse campo de atividade em meados do século. Como consequência, cresceu a diferenciação de disciplinas e apareceram diversos ramos ou especialidades, como as engenharias mecânica, química, elétrica, de telecomunicações, de minas, aeronáutica, de construção naval, de estradas, canais e portos etc. Novos campos do conhecimento, além disso, têm sido incorporados à engenharia, como a pesquisa nuclear e a genética. 1.3.1 O Ensino Nos séculos XIX e XX, no ritmo do desenvolvimento industrial, o ensino da engenharia se difundiu em rápida progressão, quer incorporado a grandes universidades já existentes, quer se exercendo em novas instituições autônomas, chamadas institutos (ou escolas) politécnicos. De modo geral, a programação das cadeiras, até meados do século XX, organizava-se em duas etapas. Na primeira, todo o corpo discente se dedicava às mesmas disciplinas: matemática (cálculo diferencial e integral, geometria analítica e descritiva), mecânica, resistência dos materiais e desenho técnico. Na segunda, os alunos se repartiam conforme a especialização pretendida e o futuro exercício profissional. Encaminhavam-se para a engenharia de pontes e estradas, para a engenharia química ou para a da construção e manutenção de máquinas. Guardadas as diferenças de país para país e entre graus de industrialização, da segunda guerra mundial em diante essa organização do ensino da engenharia passou por sucessivas reformulações, enquanto se transformava a estrutura econômica, a tecnologia e a ciência. A antiga segunda etapa do curso aumentou e subdividiu-se, ao mesmo tempo em que as especializações passaram a ser feitas na prática, na forma de estágios em Centro Universitário da Cidade - UniverCidade / 2010 Introdução à Engenharia 17 unidades de produção ou prestação de serviços, em contato com os empresários ou diretores de empresas estatais e com o material específico da área escolhida. 1.3.2 Na Atualidade A partir do início do século XX, o mundo civilizado passou por algumas das maiores mudanças qualitativas de sua história. A profusão de descobertas e progressos, de guerras e revoluções, acontecimentos e fenômenos alteraram radicalmente o panorama tecno-econômico, político-social e científico-cultural das maiores nações da Terra e, em consequência, dos países que, de um modo ou de outro, se vinculavam àqueles centros hegemônicos. De década para década, seja mobilizada pela expansão imobiliária ou pela demanda de escoadouros (estradas, pontes, viadutos, túneis) para a crescente produção de automóveis, seja pelos complexos energéticos, represas, refinarias, estaleiros e conjuntos habitacionais que se erguem, a engenharia mais e mais se modernizou e se desdobrou. O engenheiro passou a assumir maiores encargos e maiores riscos. Nesse contexto, engenharia e produção se tornaram cada vez mais ligadas. O sinais e rigores dessa intimidade se apresentam desde a mais simples operação econômica até os mais altos patamares do controle social e do poder político, na tecnocracia e na sociedade de massa. Mediador nas estruturas sociais contemporâneas, projetista, construtor, planejador, o engenheiro corporifica um dos desafios cruciais da humanidade em sua história presente: o de promover o bem-estar das massas, sem o sacrifício da consciência e liberdade individual do ser humano. Centro Universitário da Cidade - UniverCidade / 2010 Introdução à Engenharia 18 1.4 Engenharia: Uma visão do futuro No século passado a engenharia teve grandes realizações. O amplo desenvolvimento e distribuição de eletricidade e água potável, automóveis e aviões, rádio e televisão, naves e lasers, antibióticos e aparelhagens médicas, os computadores e a Internet são apenas alguns dos destaques de um século em que revolucionou a engenharia e melhorou praticamente todos os aspecto da vida humana. Como a população cresce e suas necessidades e desejos de se expandir são vitais, o problema de sustentar o avanço contínuo da civilização e ao mesmo tempo melhorar a qualidade de vida são objetivos a alcançar mais imediatos. A vulnerabilidade às doenças pandêmicas, da violência, do terroris mo e catástrofes naturais, exigem pesquisas sérias para novos métodos de proteção e prevenção. A Terra é um planeta de recursos finitos, e sua crescente população os consome atualmente a um ritmo que não pode ser sustentado. Amplamente relatado, advertências têm enfatizado a necessidade de desenvolver novas fontes de energia, ao mesmo tempo como prevenir ou reverter a degradação do meio ambiente. A energia solar a muito ofereceu uma fonte estimulante de energia ambientalmente amigável, banhando a Terra com mais energia a cada hora que a população do planeta consome em um ano. Mas captar essa potênciae converte-la em forma útil e armazená-la para um dia chuvoso, coloca desafios para a engenharia. Outra proposta para o fornecimento a longo prazo é a energia de fusão nuclear, a recriação artificial da energia solar na Terra. A busca da fusão nuclear estendeu os limites da engenharia. Soluções de engenharia para a energia solar e fusão nuclear deve ser viável não só tecnologicamente, mas também economicamente, quando Centro Universitário da Cidade - UniverCidade / 2010 Introdução à Engenharia 19 comparado com o uso contínuo de combustíveis fósseis. Há evidências de que o dióxido de carbono lançado na atmosfera pela queima de combustíveis fósseis está aumentando a temperatura do planeta e ameaça com efeitos negativos sobre o clima. Antecipando a continuação do uso de combustíveis fósseis, engenheiros exploraram métodos tecnológicos de capturar o dióxido de carbono produzido pela queima de combustível e seqüestro subterrâneo. Outra preocupação ambiental envolve a componente dominante da atmosfera, o elemento nitrogênio. O ciclo biogeoquímico do nitrogênio tornou-se alterada pela atividade humana. Com o uso disseminado de fertilizantes e a combustão da alta temperatura industrial, os seres humanos têm o dobro da taxa de nitrogênio que é retirado do ar em relação à era pré-industrial, contribuindo para a poluição atmosférica e chuva ácida, poluição da água potável e o agravamento do aquecimento global. Os engenheiros devem projetar contramedidas para problemas ligados ao ciclo do nitrogênio, mantendo a capacidade da agricultura para produzir alimentos suficientes. Uma das maiores preocupações mundiais é quanto a qualidade e quantidade de água, que está diminuindo nas fontes em muitas regiões. Tanto para uso pessoal - potável, limpeza, cozinha e remoção de lixo – como no uso de irrigação para a agricultura, a água deve estar disponível e fornecida de forma sustentável para manter a qualidade de vida. Dentre as novas tecnologias a a dessalinização da água do mar pode ser útil. Naturalmente, a qualidade da água e muitas outras preocupações ambientais estão intimamente relacionadas a questões de saúde humana. Embora muitos dos flagelos do passado tenham sido controlados ou mesmo eliminados pela medicina moderna, os problemas mais recentes permaneceram resistentes aos avanços da medicina, exigindo novas tecnologias médicas. Centro Universitário da Cidade - UniverCidade / 2010 Introdução à Engenharia 20 Um dos objetivos da engenharia biomédica, hoje, é cumprir a promessa da medicina personalizada. Os médicos têm reconhecido por muito tempo que os indivíduos diferem na sua susceptibilidade à doença e sua resposta aos tratamentos. Recente catalogação da dotação genética humana, e uma compreensão mais profunda do corpo, o complemento de proteínas e suas interações bioquímicas oferecem a perspectiva de identificar os fatores específicos que determinam a doença e do bem-estar de qualquer indivíduo. Uma importante forma de aproveitamento de tais informações seria o desenvolvimento de métodos que permitam que os médicos prevejam os benefícios e efeitos colaterais dos tratamentos potenciais ou curas. "Reverter a engenharia" do cérebro, para determinar como ele se comporta e executa suas ações, devem oferecer os benefícios de ajudar a tratar doenças ao fornecer indícios para novas abordagens de inteligência artificial computadorizada. A avançada inteligência artificial, por sua vez, deve permitir um diagnóstico automatizado e prescrições para o tratamento. O catálogo computadorizado de informações de saúde deverá reforçar a capacidade do sistema médico para controlar a propagação da doença e analisar a eficácia comparativa das diferentes abordagens para a prevenção e terapia. Outra razão para desenvolver novos medicamentos contra o risco crescente de ataques de doenças e seus agentes causadores é a partir de que certas bactérias mortais, por exemplo, evoluíram novas propriedades, tais como a resistência contra doenças e contra antibióticos mais potentes. Novos vírus surgem com o poder de matar e espalhar mais rapidamente do que sistemas de prevenção de doenças. Como consequência, a vulnerabilidade a desastres biológicos surgem no topo da lista de desafios não atendida por engenheiros biomédicos. Tecnologias para detecção precoce de tais ameaças e implantação rápida de contramedidas (como vacinas e medicamentos antivirais) estão entre os mais urgentes desafios da engenharia. Centro Universitário da Cidade - UniverCidade / 2010 Introdução à Engenharia 21 Todos estes exemplos são desafios que os engenheiros terão de enfrentar no século XXI. Os problemas aqui descritos ilustram a magnitude e a complexidade das tarefas que devem ser dominadas para garantir a sustentabilidade da civilização e da saúde dos seus cidadãos, com a finalidade de reduzir as vulnerabilidades individuais e sociais e aumentando a alegria de viver no mundo moderno. Nenhuns desses desafios serão alcançados, no entanto, sem encontrar formas de ultrapassar as barreiras que bloqueiam a sua realização. Mais obviamente, soluções de engenharia deve sempre ser projetado com considerações de ordem econômica em mente, apesar de que as tecnologias poluentes mais baratas permanecem muitas vezes preferidas ao longo das mais cara, tecnologias limpas. Engenheiros devem também enfrentam obstáculos políticos. Em muitas partes do mundo, grupos se beneficiam de sistemas antigos que exercem o poder político e bloqueiam novas empresas. Engenheiros devem juntar-se aos cientistas, educadores e outros para incentivar e promover a melhoria da ciência, da educação tecnológica, engenharia e matemática nas escolas e informações técnicas ao público em geral, não apenas transmitindo os fatos da ciência e engenharia, mas também uma valorização das formas como os cientistas e engenheiros transmitirão os conhecimentos e ferramentas necessárias para atender às necessidades da sociedade. A compreensão pública da engenharia e da sua ciência subjacente será importante para apoiar os pedidos de financiamento, bem como para melhorar a perspectiva de sucesso na adoção de novas tecnologias. Os utilizadores finais de produtos de engenharia são pessoas com interesses individuais e pessoais, e em muitos casos, a resistência a novas maneiras de fazer as coisas terão de ser superados. Os professores devem reformular seus currículos e estilos de ensino para beneficiar de métodos eletrônicos de Centro Universitário da Cidade - UniverCidade / 2010 Introdução à Engenharia 22 aprendizagem personalizados. Médicos e pessoal hospitalar terão de alterar os seus métodos de fazer uso de sistemas de informática da saúde e implementar medicina personalizada. Novos sistemas para a regulamentação dos medicamentos e aprovação será necessária quando os medicamentos são concebidos para um número pequeno de indivíduos, em vez de populações de pacientes como um todo. Um bom exemplo onde esse obstáculo existe é no desafio de reduzir a vulnerabilidade a agressões no ciberespaço, como o roubo de identidade e vírus de computador projetados para interromper o tráfego na Internet. Sistemas para manter ciberespaço seguro deve ser projetadopara ser compatível com os usuários humanos. Em suma, as barreiras governamentais e institucionais, políticas e econômicas, sociais e pessoais repetidamente surgem para dificultar a busca de soluções para os problemas. Como eles têm toda a história, os engenheiros terão de integrar os seus métodos e soluções com os objetivos e desejos de todos os membros da sociedade. Talvez o desafio mais difícil de todos seja para divulgar amplamente os frutos da engenharia ao redor do globo, para ricos e pobres. No mundo de hoje, muitas das possibilidades da engenharia para a civilização são distribuídos de forma desigual. Pelo menos um bilhão de pessoas não têm acesso a fornecimentos adequados de água potável. Incontáveis milhões não têm praticamente nenhuma assistência médica disponível, muito menos diagnóstico personalizado e tratamento. Abastecimen to sustentável de alimentos, água e energia, proteção contra a violência humana, desastres naturais e doenças, pleno acesso ao ensino, pesquisa, comunicação e entretenimento - essas são as metas para todos os povos do mundo. Assim, na procura dos grandes desafios do século, os engenheiros devem moldar seu trabalho com o objetivo final de acessibilidade universal na Centro Universitário da Cidade - UniverCidade / 2010 Introdução à Engenharia 23 mente. Através das realizações da engenharia do passado, o mundo se tornou menor, mais inclusiva e mais conectados. Os desafios para a engenharia de hoje não são aqueles de localidades isoladas, mas do planeta como um todo e as pessoas de todo o planeta. Centro Universitário da Cidade - UniverCidade / 2010
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