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Faculdade de Ciências Departamento de Química Licenciatura em Química Industrial Trabalho de Licenciatura Estudo das propriedades físico-químicas e microbiológicas do peixe salgado seco (Oreochromis niloticus) comercializado nos mercados de Maputo (Janet e Xipamanine). Autor: Fernandes Alfredo Tila Maputo, Setembro de 2021 Faculdade de Ciências Departamento de Química Licenciatura em Química Industrial Trabalho de Licenciatura Estudo das propriedades físico-químicas e microbiológicas do peixe salgado seco (Oreochromis niloticus) comercializado nos mercados de Maputo (Janet e Xipamanine). Autor: Fernandes Alfredo Tila Supervisora: Profa. Doutora Tatiana Kuleshova Co-supervisora: Licenciada Maria Tauzene (LNHAA) Maputo, Setembro de 2021 Estudo das propriedades físico-químicas e microbiológicas do peixe salgado seco comercializado nos mercados de Maputo. Fernandes Alfredo Tila i DEDICATÓRIA Dedico este trabalho aos meus pais, Alfredo Jaime Tila e Isabel Fernando Johane, pela vida, encorajamento, apoio, força e atenção que me têm facultado durante os estudos e pelo esforço que fizeram em depositar o que não tinham para que fosse possível alcançar um dos meus objectivos. Estudo das propriedades físico-químicas e microbiológicas do peixe salgado seco comercializado nos mercados de Maputo. Fernandes Alfredo Tila ii AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus todo-poderoso por me ter concedido o dom da vida, da sabedoria, perseverança, pela sua protecção e pelo seu amor. Um especial agradecimento à minha supervisora Profa. Doutora Tatiana Kuleshova e co- supervisora licenciada Maria Tauzene pela confiança, privilégio de trabalhar com elas, paciência e dedicação em transmitir conhecimentos, experiência, orientação sábia, críticas, ensinamentos e orientação para tornar possível a realização deste trabalho. À Profa. Doutora Fung Dai Kin pela ajuda prestada para o melhoramento do trabalho e pelas correcções ortográficas feitas em todo o trabalho. À direcção do Laboratório Nacional de Higiene de Águas e Alimentos (LNHAA), por ter aceitado o pedido de estágio para concretização do trabalho. A toda a equipa do laboratório, em especial à secção de Química e Microbiologia de Alimentos, concretamente as licenciadas Anabela Langa, Cármen Mário, Isabel Nzucule e Marta Gove, pela paciência na transmissão de conhecimentos e acompanhamento na familiarização com novos equipamentos e técnicas de análise química e microbiológica. Agradeço a toda a equipa do Departamento de Química da Faculdade de Ciências da Universidade Eduardo Mondlane, pelos conhecimentos transmitidos como contributo para a minha formação. Aos meus pais, Alfredo Jaime Tila e Isabel Fernando Johane, aos meus irmãos Jemina, Anabela, Valdo e Dévis, aos meus sobrinhos Isabel, Nayara, Lyndiwy, Ithan e Thannaya, à minha noiva Alvina Rangeiro e cunhado Domingos Donquene pelo apoio. Aos meus amigos e colegas, Dionísio Jacinto, Helton Chissano, Ezequiel Macamo, Arlindo Sitoe, Nuro Josine, Osório Mucocosselane, Venildo Mugunhe, Júlio Maqueto e Alex Dima, pelo apoio e incentivo durante toda a fase da formação. Finalmente, a todos aqueles que não citei, mas que de alguma forma, contribuíram para mais esta conquista. Estudo das propriedades físico-químicas e microbiológicas do peixe salgado seco comercializado nos mercados de Maputo. Fernandes Alfredo Tila iii DECLARAÇÃO DE HONRA Eu, Fernandes Alfredo Tila, declaro por minha honra que o presente trabalho de licenciatura é da minha autoria, e foi por mim realizado no Laboratório Nacional de Higiene de Águas e Alimentos (LNHAA), com base na bibliografia a que se faz referência ao longo do relatório. Maputo, aos 27 de Setembro de 2021 O Autor ____________________________________________________ (Fernandes Alfredo Tila) Estudo das propriedades físico-químicas e microbiológicas do peixe salgado seco comercializado nos mercados de Maputo. Fernandes Alfredo Tila iv RESUMO O peixe é um alimento que apresenta elevado valor nutricional. Porém, é considerado um alimento altamente perecível, consequentemente sua decomposição ocorre de maneira mais rápida. Assim sendo, a implementação de diversas técnicas de processamento e conservação como a salga é condição necessária para agregar valor aos produtos da pesca. Por meio de entrevistas nos locais de venda, mercados Janet (MJ) e Xipamanine (MX), foi constatado que não se faz nenhuma análise do peixe comercializado em termos de qualidade. Por essa razão, neste trabalho foi feito o estudo das propriedades físico-químicas e microbiológicas do PSS (Oreochromis niloticus), comercializado nos MJ e MX e finalmente avaliou-se a qualidade do PSS comercializado nestes mercados. As amostras foram submetidas a análises físico-químicas como o pH, humidade, cinzas, cloretos e gorduras e a análises microbiológicas (quantificação de Escherichia coli, Staphylococcus aureus, Coliformes totais e fecais e pesquisa de Salmonella spp.). No total foram colhidas e analisadas 6 amostras (3 do MJ e 3 do MX). Os resultados obtidos para MJ e MX foram os seguintes: pH 6,36 (± 0,04) e 6,43 (± 0,04), humidade 16,01% (± 3,47) e 43,08% (± 2,61), cinzas 5,69% (± 0,50) e 7,35% (± 3,20), cloretos 22,49% (± 5,62) e 36,99% (± 12,78), gorduras 5,13% (± 0,88) e 5,41% (± 0,59) respectivamente. As análises físico- químicas das amostras de PSS colhidas nos dois mercados, mostraram que os parâmetros estiveram em conformidade com os padrões de qualidade estabelecidos pelo Decreto-Lei no 25/2005 de Portugal. Durante a realização das análises microbiológicas de 5 microrganismos possíveis, foram detectados 2 microrganismos (Staphylococcus coagulase positiva e Coliformes totais), sendo que o primeiro esteve acima dos padrões estabelecidos, excepto na amostra do Vendedor CMJ. O segundo foi detectado apenas na amostra do Vendedor AMJ, entretanto, o valor deste último esteve dentro dos padrões de qualidade estabelecidos pela legislação brasileira. Em suma, de acordo com os padrões microbiológicos de qualidade estabelecidos pela legislação brasileira (ANVISA, 2001), constatou-se que apenas a amostra do Vendedor CMJ apresentou um PSS de qualidade sanitária aceitável para o consumo humano. Palavras-chave: Peixe, análise físico-química, microbiológica. Estudo das propriedades físico-químicas e microbiológicas do peixe salgado seco comercializado nos mercados de Maputo. Fernandes Alfredo Tila v GLOSSÁRIO ADP = Adenosina Difosfato AMJ = Vendedor ‘A’ do Mercado Janet AMP = Adenosina Monofosfato AMX = Vendedor ‘A’ do Mercado Xipamanine ANOVA = Análise de Variância ANVISA = Agência Nacional de Vigilância Sanitária AP = Caldo de Peptona ATP = Adenosina Trifosfato BHI = Caldo de Brain-Heart Infusion BMJ = Vendedor ‘B’ do Mercado Janet BMX = Vendedor ‘B’ do Mercado Xipamanine BP = Baird-Parker Agar CMJ = Vendedor ‘C’ do Mercado Janet CMX = Vendedor ‘C’ do Mercado Xipamanine DHA = Ácido docosaexaenóico E. coli = Escherichia coli EDTA = Ácido etilenodiamino tetra-acético EMBRAPA = Empresa Brasileira de pesquisa agro-pecuária EPA = Ácido eicosapentaenóico FAO = Fundo das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura Estudo das propriedades físico-químicas e microbiológicas do peixe salgado seco comercializado nos mercados de Maputo. Fernandes Alfredo Tila vi FPLM = Forças Populares da Libertação de Moçambique HAEH = Hektoen-Agar Entérico de Hektoen LDH = Lactato Desidrogenase LNHAA = Laboratório Nacional de Higiene de Águas e Alimentos MISAU = Ministério da Saúde MJ = Mercado Janet MKTTn = Muller-Kauffmanntetrationato-novobiocina MX = Mercado Xipamanine NAD = Nicotinamida Adenina Dinucleótido NE= Número Estimado PCA = Plate Count Agar PSS = Peixe Salgado Seco RDC = Resolução da Directoria Colegiada RVS = Caldo Rappaport Vassiliadis com Soja S. aureus = Staphylococcus aureus S. paratyphi = Salmonella paratyphi S. typhi = Salmonella typhi TBX = Tryptone-bile-glucuronic medium TSA = Triptona Soja Agar TSIA = Triple Sugar Iron Agar UFC = Unidade Formadora de Colónias Estudo das propriedades físico-químicas e microbiológicas do peixe salgado seco comercializado nos mercados de Maputo. Fernandes Alfredo Tila vii VRBA = Violet Red Bile Agar XLD = Agar Xilose Lisina Descarboxilado Estudo das propriedades físico-químicas e microbiológicas do peixe salgado seco comercializado nos mercados de Maputo. Fernandes Alfredo Tila viii ÍNDICE GERAL DEDICATÓRIA........................................................................................................................... i AGRADECIMENTOS ................................................................................................................ ii DECLARAÇÃO DE HONRA ................................................................................................... iii RESUMO ................................................................................................................................... iv GLOSSÁRIO .............................................................................................................................. v 1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 1 1.1. Objectivos......................................................................................................................... 2 1.1.1. Objectivo geral ............................................................................................................. 2 1.1.2. Objectivos específicos .................................................................................................. 2 1.2. Pergunta de pesquisa ........................................................................................................ 2 1.3. Justificativa....................................................................................................................... 2 1.4. Metodologia ..................................................................................................................... 3 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ........................................................................................... 5 2.1. Classificação taxonómica ................................................................................................. 5 2.2. Morfologia externa ........................................................................................................... 5 2.3. Distribuição geográfica e habitat da espécie .................................................................... 6 2.4. Crescimento e reprodução ................................................................................................ 6 2.5. Classificação das espécies de peixe quanto ao teor de gordura ....................................... 6 2.6. Composição química do pescado ..................................................................................... 7 2.7. Putrefacção dos produtos da pesca ................................................................................. 11 2.7.1. Putrefacção autolítica ................................................................................................. 13 2.7.2. Putrefacção microbiológica ........................................................................................ 14 2.8. Processos de conservação do pescado ............................................................................ 15 2.9. Salga de peixe................................................................................................................. 15 Estudo das propriedades físico-químicas e microbiológicas do peixe salgado seco comercializado nos mercados de Maputo. Fernandes Alfredo Tila ix 2.9.1. Métodos de salga ........................................................................................................ 16 2.9.2. Factores que podem influenciar o processo de salga .................................................. 17 2.9.3. Secagem ...................................................................................................................... 19 2.9.4. Factores que podem influenciar o processo de secagem ............................................ 20 2.10. Processamento do peixe salgado seco (Oreochromis niloticus) ................................. 21 2.11. Microrganismos de interesse para qualidade do peixe salgado seco .......................... 25 2.11.1. Coliformes totais......................................................................................................... 25 2.11.2. Coliformes fecais ........................................................................................................ 25 2.11.3. Salmonella spp. ........................................................................................................... 25 2.11.4. Staphylococcus coagulase positiva ............................................................................. 26 3. DESCRIÇÃO DO LOCAL DE ESTUDO E DAS ANÁLISES ....................................... 28 3.1. Processamento do peixe salgado seco pelo método artesanal no distrito de Massingir . 28 3.2. Amostragem ................................................................................................................... 28 3.3. Mercado Janet ................................................................................................................ 29 3.4. Mercado Xipamanine ..................................................................................................... 29 3.5. Laboratório Nacional de Higiene de Águas e Alimentos ............................................... 30 4. PARTE EXPERIMENTAL .............................................................................................. 32 4.1. Materiais, Reagentes e Equipamentos ............................................................................ 32 4.1.1. Materiais ..................................................................................................................... 32 4.1.2. Reagentes .................................................................................................................... 32 4.1.3. Equipamentos ............................................................................................................. 33 4.2. Análises físico-químicas ................................................................................................ 34 4.2.1. Procedimentos experimentais ..................................................................................... 34 4.3. Análises microbiológicas ............................................................................................... 40 Estudo das propriedades físico-químicas e microbiológicas do peixe salgado seco comercializado nos mercados de Maputo. Fernandes Alfredo Tila x 4.3.1. Preparação das amostras ............................................................................................. 40 5. RESULTADOS E DISCUSSÃO ...................................................................................... 45 5.1. Análises físico-químicas ................................................................................................ 45 5.1.1. Potencial de hidrogénio (pH) ...................................................................................... 46 5.1.2. Humidade.................................................................................................................... 47 5.1.3. Cinzas .........................................................................................................................48 5.1.4. Cloretos ....................................................................................................................... 50 5.1.5. Gorduras ..................................................................................................................... 51 5.2. Análises microbiológicas ............................................................................................... 53 5.2.1. Escherichia coli .......................................................................................................... 54 5.2.2. Staphylococcus coagulase positiva ............................................................................. 54 5.2.3. Coliformes totais......................................................................................................... 55 5.2.4. Coliformes fecais ........................................................................................................ 55 5.2.5. Salmonella spp. ........................................................................................................... 56 6. TRATAMENTO ESTATÍSTICO DOS RESULTADOS ................................................. 57 7. CONCLUSÕES, RECOMENDAÇÕES E LIMITAÇÕES .............................................. 62 7.1. Conclusões ..................................................................................................................... 62 7.2. Recomendações .............................................................................................................. 63 7.3. Limitações ...................................................................................................................... 63 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................................... 64 ANEXOS ...................................................................................................................................... a Estudo das propriedades físico-químicas e microbiológicas do peixe salgado seco comercializado nos mercados de Maputo. Fernandes Alfredo Tila xi ÍNDICE DE FIGURAS Figura 1. Oreochromis niloticus (Salgado seco). .......................................................................... 5 Figura 2. Estrutura de alguns ácidos gordos poli-insaturados existentes no pescado: I - ácido oléico (C18:1 n-9), II - ácido linoléico (C18:2 n-6), III - ácido linolénico (C18:3 n-3), IV - ácido eicosapentaenóico (C20:5 n-3) e V - ácido docosahexaenóico (C22:6 n-3). .................................. 8 Figura 3. Estrutura de aminoácidos essenciais presentes no pescado: I - lisina, II - metionina e III - cisteína. .................................................................................................................................... 9 Figura 4. Estruturas de algumas vitaminas existentes no pescado: I - piridoxina, II - riboflavina, III - vitamina A2, IV - retinol, V - vitamina D3 e VI - vitamina D4. ........................................... 10 Figura 5. Principais alterações post-mortem no peixe. ................................................................ 12 Figura 6. Esquema de produção do ácido láctico a partir do glicogénio. .................................... 13 Figura 7. Esquema de degradação de nucleotídeos. .................................................................... 14 Figura 8. Fluxograma de processamento do PSS proveniente do distrito de Massingir comercializado nos MJ e MX. ...................................................................................................... 21 Figura 9. Cilindro de lavagem para higienização do peixe (passagem da área suja para área limpa). ........................................................................................................................................... 22 Figura 10. Ilustração do corte (abertura) da parte ventral da Oreochromis niloticus para a posterior evisceração. .................................................................................................................... 23 Figura 11. Lavagem e escovação da parte ventral da Oreochromis niloticus após a evisceração. ....................................................................................................................................................... 24 Figura 12. Ilustração da amostragem. .......................................................................................... 28 Figura 13. Comercialização do PSS no MJ (A- PSS colocado no chão, sob o risco de ser contaminado, B- PSS colocado directamente na bancada de cimento sem observância de nenhuma regra de higiene). ........................................................................................................... 29 Figura 14. Comercialização do PSS no MX (A- PSS comercializado ao lado de sacos e bancas pouco higienizadas, B- Manipulação excessiva sem uso de luvas). ............................................. 30 Figura 15. Imagem da localização geográfica do LNHAA. ........................................................ 31 Figura 16. Ilustração da preparação da amostra para a posterior realização das análises físico- químicas. ....................................................................................................................................... 34 Figura 17. Determinação do pH pelo método potenciométrico. .................................................. 35 Estudo das propriedades físico-químicas e microbiológicas do peixe salgado seco comercializado nos mercados de Maputo. Fernandes Alfredo Tila xii Figura 18. Estufa usada na determinação de humidade. .............................................................. 36 Figura 19. Ilustração do processo de incineração dos cadinhos com amostra na placa eléctrica (A), incineração na mufla (B) e arrefecimento dos cadinhos no exsicador até à temperatura ambiente (C).................................................................................................................................. 37 Figura 20. Ilustração da filtração da solução em balões volumétricos (A) e o ponto de equivalência na determinação de Cloretos (B). ............................................................................ 38 Figura 21. A- pesagem dos cartuchos com a amostra, B- cartuchos com amostra, retirados da estufa, C- cartuchos levados ao extractor de gorduras. ................................................................. 39 Figura 22. Pequenas porções da amostra colocadas em sacos de stomacher estéreis. ................ 41 Figura 23. Placas de petri estéreis com diluições de E. coli e Coliformes fecais. ....................... 41 Figura 24. Placas com colónias típicas de staphylococcus coagulase positiva. .......................... 42 Figura 25. Placa com colónias típicas de Coliformes totais. ....................................................... 43 Figura 26. Tubos de ensaio com os meios RVS e MKTTn. ........................................................ 44 ÍNDICE DE FÓRMULAS Fórmula 1. Expressão para determinação do teor de humidade. ................................................. 36 Fórmula 2. Expressão para determinação do teor de cinzas. ....................................................... 37 Fórmula 3. Expressão para determinação do teor de cloretos. .................................................... 38 Fórmula 4. Expressão para determinação do teor de gorduras. ................................................... 39 Estudo das propriedades físico-químicas e microbiológicas do peixe salgado seco comercializado nos mercados de Maputo. Fernandes Alfredo Tila xiii ÍNDICE DE TABELAS Tabela 1. Resultados das análises dos parâmetros físico-químicos das amostras de PSS provenientes dos MJ e MX. .......................................................................................................... 45 Tabela 2. Resultados dasanálises microbiológicas das amostras do PSS provenientes dos MJ e MX. ............................................................................................................................................... 53 Tabela 3. Tratamento estatístico dos resultados de pH das amostras de PSS - MJ. .................... 57 Tabela 4. Tratamento estatístico dos resultados de pH das amostras de PSS - MX. ................... 58 Tabela 5. Tratamento estatístico dos resultados do teor de humidade das amostras de PSS - MJ. ....................................................................................................................................................... 58 Tabela 6. Tratamento estatístico dos resultados do teor de humidade das amostras de PSS - MX. ....................................................................................................................................................... 58 Tabela 7. Tratamento estatístico dos resultados do teor de cinzas das amostras de PSS - MJ. ... 59 Tabela 8. Tratamento estatístico dos resultados do teor de cinzas das amostras de PSS - MX. .. 59 Tabela 9. Tratamento estatístico dos resultados do teor de cloretos das amostras de PSS - MJ. 59 Tabela 10. Tratamento estatístico dos resultados do teor de cloretos das amostras de PSS - MX. ....................................................................................................................................................... 60 Tabela 11. Tratamento estatístico dos resultados do teor de gorduras das amostras de PSS - MJ. ....................................................................................................................................................... 60 Tabela 12. Tratamento estatístico dos resultados do teor de gorduras das amostras de PSS - MX. ....................................................................................................................................................... 61 Tabela 13. Resultados comparativos entre F2,6 (calculado) e F2,6 (tabelado) no tratamento estatístico....................................................................................................................................... 61 Estudo das propriedades físico-químicas e microbiológicas do peixe salgado seco comercializado nos mercados de Maputo. Fernandes Alfredo Tila xiv ÍNDICE DE GRÁFICOS Gráfico 1. Ilustração da comparação dos resultados do pH das amostras de PSS. ...................... 46 Gráfico 2. Ilustração da comparação dos resultados do teor de humidade das amostras de PSS com o padrão estabelecido. ........................................................................................................... 47 Gráfico 3. Ilustração da comparação dos resultados do teor de cinzas das amostras de PSS. ..... 49 Gráfico 4. Ilustração da comparação dos resultados do teor de cloretos das amostras de PSS com o padrão estabelecido. ................................................................................................................... 51 Gráfico 5. Ilustração da comparação dos resultados do teor de gorduras das amostras de PSS. . 52 ÍNDICE DE ANEXOS Anexo 1. Valores de pH, peso das amostras de PSS e volumes gastos nas análises ....................... a Anexo 2. Fórmulas para o cálculo de médias experimentais e desvio padrão ................................ f Estudo das propriedades físico-químicas e microbiológicas do peixe salgado seco comercializado nos mercados de Maputo. Fernandes Alfredo Tila 1 1. INTRODUÇÃO Os produtos da pesca são reconhecidos como uma importante fonte de elevado valor nutricional para o homem, pois são ricos em proteínas, lípidos, vitaminas lipossolúveis (A e D), hidrossolúveis (complexo B) e minerais (Baisch et al., 2006). Em algumas espécies os lípidos desempenham um importante papel nutricional, por sua actividade preventiva contra doenças cardiovasculares como aterosclerose, infarto do miocárdio, trombose cerebral, entre outras (Baisch et al., 2006). O pescado é muito susceptível à putrefacção devido a elevada actividade de água nos tecidos, ao teor de gorduras insaturadas facilmente oxidáveis, e principalmente, ao pH próximo à neutralidade, estes factores favorecem a um excelente meio de cultura de microrganismos patogénicos para o homem (Franco & Landgraf, 2004). Assim sendo, a implementação de diversas técnicas de processamento e conservação (salga, congelamento, refrigeração, entre outras) é condição necessária para agregar valor aos produtos da pesca (Baisch et al., 2006). Em Moçambique e não só, a Oreochromis niloticus devido à sua baixa estabilidade microbiológica e físico-química, tem sido direccionada principalmente ao processo de salga seguida de secagem natural, por ser um processo relativamente simples, de fácil elaboração e de baixo custo (Alves et al., 2010). A salga é uma das técnicas mais antigas e tradicionais de conservação de alimentos. Está baseia-se no princípio da desidratação osmótica, em que o cloreto de sódio é a substância química utilizada (Avdolov et al., 2007). Durante a colheita das amostras de PSS, observou-se que as condições de comercialização são precárias e os vendedores não dispõem de nenhum equipamento de protecção individual (batas, luvas, toucas e botas), e não observam algumas regras de segurança tais como, o uso de equipamentos que asseguram a conservação, a refrigeração e manipulação ideais enquanto exposto a venda, mesmo sabendo que devem usar, justificando a falta de meios financeiros. Tendo em vista os factos acima apresentados, no presente trabalho far-se-á a determinação de parâmetros físico-químicos e microbiológicos para aferir a qualidade higiénico- sanitária da Oreochromis niloticus salgada e seca comercializada nos MJ e MX. Estudo das propriedades físico-químicas e microbiológicas do peixe salgado seco comercializado nos mercados de Maputo. Fernandes Alfredo Tila 2 1.1. Objectivos 1.1.1. Objectivo geral • Estudar as propriedades físico-químicas e microbiológicas do peixe salgado seco comercializado nos mercados de Maputo. 1.1.2. Objectivos específicos • Determinar através de ensaios físico-químicos o pH, Humidade, Cinzas, Cloretos e Gorduras; • Quantificar a Escherichia coli, Staphylococcus aureus, Coliformes totais e fecais; • Pesquisar a presença da Salmonella spp.; • Comparar os resultados obtidos entre os dois mercados com os padrões de qualidade estabelecidos pelo Decreto-Lei no 25/2005 de Portugal e pela legislação brasileira (ANVISA, 2001), e fazer uma comparação com outros autores; • Fazer o tratamento estatístico dos resultados. 1.2. Pergunta de pesquisa A forma como o PSS é exposto nos locais de venda (mercados) pode influenciar na sua qualidade e as suas propriedades funcionais? 1.3. Justificativa O PSS (Oreochromis niloticus) é uma espécie que tem uma grande importância para a segurança alimentar da população, sobretudo a de baixa renda, porque se encontra no mercado a preços baixos (15-20 MZN/cada), sendo deste modo acessível às comunidades locais. A escolha deste tema e da espécie, deve-se ao facto de o peixe Oreochromis niloticus, vulgarmente conhecido como Tilápia do Nilo ou Peixe pende, ser comercializado em condições de conservação muito precárias, o que pode comprometer a saúde dos consumidores, bem como diminuir a taxa de procura pelo produto, poluir o meio ambiente com resíduos, e em última instância, diminuir o fluxo do público que procura estes pontos de comercialização. Estudo das propriedades físico-químicas e microbiológicas do peixe salgado seco comercializado nos mercados de Maputo. Fernandes Alfredo Tila 3 Esse facto, aliado à desconsideração do poder público e dos órgãos competentes pela fiscalização e inspecção, serviram de estímulo e é neste contexto que se insere o estudo,que congrega a intenção de estudar as propriedades físico-químicas e microbiológicas do PSS comercializado nos MJ e MX. 1.4. Metodologia Para a realização do presente trabalho, seguiu-se de forma rigorosa as seguintes etapas: ✓ Pesquisa bibliográfica; ✓ Colheita da amostra; ✓ Análises laboratoriais; ✓ Elaboração e redacção do relatório final. 1) Pesquisa bibliográfica Pesquisa de conteúdo teórico em livros, dissertações e artigos científicos publicados, que abordam diversos assuntos teóricos sobre química e microbiologia dos alimentos, qualidade do pescado, nutrição, bioquímica, tecnologia alimentar e produção industrial de alimentos. 2) Colheita da amostra As amostras de PSS foram colhidas no município de Maputo, concretamente nos MJ e MX, durante o mês de Setembro de 2020. As amostras eram imediatamente introduzidas em sacos plásticos do tipo Ziploc e transportadas ao LNHAA (Mavalane), onde foram recebidas, codificadas e distribuídas para as secções de Microbiologia e Química para a posterior realização das análises planificadas. Estudo das propriedades físico-químicas e microbiológicas do peixe salgado seco comercializado nos mercados de Maputo. Fernandes Alfredo Tila 4 3) Análises laboratoriais As análises laboratoriais consistiram na determinação dos parâmetros: pH, Humidade, Cinzas, Cloretos, Gorduras, Escherichia coli, Staphylococcus aureus, Coliformes totais, Coliformes fecais e Salmonella spp. 4) Elaboração e redacção do relatório final Para a compilação do relatório final, primeiro fez-se uma análise dos resultados e, sendo satisfatórios, foi elaborado o relatório final com a utilização do Software Microsoft Excel 2010 e pacotes estatísticos como a Análise de variância (ANOVA de factor único a 95% de nível de confiança). Estudo das propriedades físico-químicas e microbiológicas do peixe salgado seco comercializado nos mercados de Maputo. Fernandes Alfredo Tila 5 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 2.1. Classificação taxonómica Reino: Animal Filo: Cordata Classe: Actinopterygii Subclasse: Neopterygii Ordem: Perciformes Subordem: Labroidei Família: Cichlidae Subfamília: Pseudocrenilabrinae Divisão: Tilápia Género: Oreochromis Espécie: Oreochromis niloticus Fonte: Buque (2007). Figura 1. Oreochromis niloticus (Salgado seco). 2.2. Morfologia externa Linha lateral com 30-34 escamas; 20-26 branquispinhas no primeiro arco branquial inferior. A barbatana dorsal tem 14-18 raios e 12-14 espinhas, barbatana anal com 9-11 raios e 3 espinhas, ambas as barbatanas apresentam cor acinzentada (Skelton, 2001 citado por Buque, 2007). A barbatana caudal é estriada com forma truncada e tem finas linhas verticais de coloração cinzenta e vermelho-escura. O corpo é cinzento-acastanhado (Figura 1), escuro na parte inferior, traços fracos de 6 a 7 linhas escuras verticais nos lados e no pedúnculo caudal (Skelton, 2001 citado por Buque, 2007). Na época da reprodução, em machos maduros, a superfície ventral e anal, barbatanas dorsal e pélvica são pretas, a cabeça e os flancos ficam Estudo das propriedades físico-químicas e microbiológicas do peixe salgado seco comercializado nos mercados de Maputo. Fernandes Alfredo Tila 6 salpicados de vermelho e as fêmeas apresentam uma coloração avermelhada na superfície ventral. Fora dessa época os sexos não são facilmente distinguíveis (Skelton, 2001 citado por Buque, 2007). 2.3. Distribuição geográfica e habitat da espécie A Oreochromis niloticus em Moçambique é reportada como ocorrendo nos rios Limpopo, Elefantes, Massingir entre outros (Schneider, 2003). Esta espécie tem como habitat preferenciais as zonas pantanosas, rios, lagos, canais de águas residuais e de irrigação. Normalmente ocorrem a 10 m de profundidade ou menos, porém podem atingir também os 30 m, sendo a profundidade proporcional ao seu tamanho (Witte & Van Densen, 1995 citados por Buque, 2007). 2.4. Crescimento e reprodução O peixe ocorre geralmente com um comprimento padrão de 40 cm. Reproduz-se durante todo o ano desovando num substrato maioritariamente composto por areia e gravilha entre 3.5-10 m de profundidade e os juvenis ocorrem em viveiros pouco profundos (Witte & Van Densen, 1995 citados por Buque, 2007). O menor peixe maduro encontrado, foi um macho com 15.5 cm e uma fêmea com 15.8 cm. A sua reprodução é complexa com um elaborado corte e um cuidado parental intensivo (Berra, 2001). As fêmeas são ovíparas e guardam os ovos na boca (Skelton, 2001 citado por Buque, 2007). 2.5. Classificação das espécies de peixe quanto ao teor de gordura Consoante o teor de gordura, o peixe pode dividir-se em 3 grupos nomeadamente: pescado magro (grupo 1) - tem um teor de gordura inferior a 2%, por sua vez os de gordura moderada (grupo 2) - com um teor que varia de 2 a 8% e o peixe gordo (grupo 3) - apresenta um teor maior que 8 (Portugal, 2005 citado por Baltazar, 2012). Estudo das propriedades físico-químicas e microbiológicas do peixe salgado seco comercializado nos mercados de Maputo. Fernandes Alfredo Tila 7 2.6. Composição química do pescado A composição nutricional do pescado varia muito de espécie para espécie, quer interespecificamente, quer intraespecificamente, dependendo da idade, sexo, meio ambiente e época do ano. No entanto, a fracção edível do pescado corresponde, em regra, com cerca de 45- 50% do peso total do seu corpo e os componentes fundamentais da parte edível são: água, lípidos e proteínas. Dos constituintes menores destacam-se as substâncias azotadas não proteicas, os minerais, as vitaminas e uma quantidade pouco significativa de hidratos de carbono (FAO, 1995). i) Água A água, é por norma o principal constituinte dos alimentos e simultaneamente o solvente mais importante, permitindo que os restantes constituintes se tornem solúveis, de modo a poderem ser transportados, absorvidos ou expelidos do interior das células. É o meio em que ocorrem diversas reacções químicas e é um reagente nos processos hidrolíticos. O teor de humidade na musculatura do pescado fresco varia de 66% a 84%, e está directamente relacionado com a quantidade de lípidos, uma vez que a concentração de proteínas é praticamente constante. Os peixes magros apresentam um alto teor de humidade, enquanto que os gordurosos possuem uma quantidade menor, que pode ser inferior a 58% (FAO, 1997). ii) Lípidos Ogawa e Maia (1999) descrevem que os lípidos de peixes são caracterizados pelo elevado grau de insaturação dos seus ácidos gordos, podendo apresentar alterações degradativas como ranço oxidativo/hidrolítico quando a deterioração microbiana tem início. Estes lípidos, para além de fonte energética, são ricos em ácidos gordos poli-insaturados (Figura 2) da série Omega-3, especialmente EPA (ácido eicosapentaenóico) e DHA (ácido docosahexaenóico) que apresentam efeitos redutores sobre os teores de triglicerídeos e colesterol sanguíneo, reduzindo consequentemente os riscos de incidência de doenças cardiovasculares como arteriosclerose, infarto do miocárdio, trombose cerebral entre outras. Estudo das propriedades físico-químicas e microbiológicas do peixe salgado seco comercializado nos mercados de Maputo. Fernandes Alfredo Tila 8 OH O OH O OH O Figura 2. Estrutura de alguns ácidos gordos poli-insaturados existentes no pescado: I - ácido oléico (C18:1 n-9), II - ácido linoléico (C18:2 n-6), III - ácido linolénico (C18:3 n-3), IV - ácido eicosapentaenóico (C20:5 n-3) e V - ácido docosahexaenóico (C22:6 n-3). Fonte: Tsenane (2016). iii) Proteínas O peixe constitui a base da dieta de inúmeros grupos populacionais, uma vez que possui uma concentração de proteínas comparável ao ovo, à carne eao leite (Ogawa & Maia, 1999). O músculo do peixe é composto por proteínas de elevado valor nutritivo, que contêm alto teor de aminoácidos essenciais, particularmente os limitantes em proteínas de origem vegetal, tais como a lisina e aminoácidos contendo enxofre, como a metionina e a cisteína (Figura 3) (Sgarbieri, 1996 citado por Tete, 2012). IV) V) I) II) III) IV) Estudo das propriedades físico-químicas e microbiológicas do peixe salgado seco comercializado nos mercados de Maputo. Fernandes Alfredo Tila 9 Figura 3. Estrutura de aminoácidos essenciais presentes no pescado: I - lisina, II - metionina e III - cisteína. Fonte: Tete (2012). iv) Vitaminas O pescado é rico em vitaminas (Figura 4) hidrossolúveis do complexo B (componentes de co-enzimas), porém, destacando-se como maioritárias as vitaminas lipossolúveis A (precursor de retina) e D (regulador do metabolismo de cálcio e fósforo) (Huss, 1999). I II III Estudo das propriedades físico-químicas e microbiológicas do peixe salgado seco comercializado nos mercados de Maputo. Fernandes Alfredo Tila 10 Figura 4. Estruturas de algumas vitaminas existentes no pescado: I - piridoxina, II - riboflavina, III - vitamina A2, IV - retinol, V - vitamina D3 e VI - vitamina D4. Fonte: Tete (2012). v) Minerais Grande parte dos minerais são encontrados no tecido do pescado variando de 0,8% a 2%, destacando-se o potássio, cálcio, zinco, sódio, fósforo, magnésio, ferro, cobre, cobalto, enxofre, cloro, flúor e iodo (Ogawa & Maia, 1999). I II III IV V VI Estudo das propriedades físico-químicas e microbiológicas do peixe salgado seco comercializado nos mercados de Maputo. Fernandes Alfredo Tila 11 vi) Carbohidratos Os carbohidratos proporcionam energia para as células do corpo, principalmente ao cérebro que é um órgão que precisa bastante desse nutriente, entretanto a sua quantidade nos produtos da pesca é bastante reduzida (Ramírez, 2005). 2.7. Putrefacção dos produtos da pesca Quando o peixe morre, ele começa a sofrer uma série de alterações físico-químicas e microbiológicas que terminam na sua completa putrefacção. Essas alterações incluem a produção de muco na superfície do seu corpo, desenvolvimento de rigor mortis, alterações autolíticas e finalmente a decomposição bacteriana (Correia, 2018). Estás alterações não são consecutivas, o seu início, duração e fim podem variar dependendo de muitos factores como a espécie, o método de captura, a temperatura de armazenamento entre outros. O muco é causado pelas glândulas mucosas da pele do peixe como uma reacção do organismo face às condições desfavoráveis que o rodeiam. O muco, é composto principalmente por uma glico-proteína chamada mucina, que fornece um meio propício para o desenvolvimento microbiano. A produção de muco não significa que o peixe está em más condições para o consumo, mas ao permitir o crescimento de bactérias, pode se tornar num veículo de entrada de agentes de putrefacção para outras partes do peixe (Vaz-Pires, 2006). A mudança mais dramática ocorre quando se da início do rigor mortis. Logo após a morte do peixe, o músculo fica totalmente relaxado, a textura fica flexível e elástica (Correia, 2018; Huss, 1999). De acordo com Correia (2018), o estado de relaxamento geralmente persiste por algumas horas, sendo que, depois o músculo se contrai. Quando fica duro e rígido, todo o corpo se torna inflexível (Figura 5) e diz se que o peixe esta em in rigor mortis. Estudo das propriedades físico-químicas e microbiológicas do peixe salgado seco comercializado nos mercados de Maputo. Fernandes Alfredo Tila 12 Figura 5. Principais alterações post-mortem no peixe. Fonte: Correia (2018). A condição de in rigor mortis é mantida por um ou mais dias, depois o rigor é resolvido. A resolução do rigor mortis torna o músculo novamente relaxado e recupera a flexibilidade, mas não recupera a elasticidade que tinha antes do rigor. A duração entre o início e a resolução do rigor vária dependendo da espécie e é afectado pela temperatura, manuseio, tamanho e condições físicas dos peixes. O efeito da temperatura no rigor não é uniforme. No caso da Oreochromis niloticus, temperaturas altas causam um rápido início do rigor e um rigor mortis bastante severo e intenso. Isso deve ser evitado, uma vez que as fortes tensões produzidas pelo rigor podem causar enfraquecimento do tecido conjuntivo e subsequente ruptura de filete (Huss, 1999). Vaz-Pires (2006), afirma que geralmente é aceite que o início e a duração do rigor mortis ocorrem rapidamente em temperaturas mais altas, mas em certas espécies tropicais o efeito ocorre de forma contrária. É evidente que nessas espécies o início do rigor acelera para a temperatura de 0oC em relação a 10oC. Huss (1999), afirma que o início do rigor mortis também depende da diferença entre a temperatura do mar e a temperatura de armazenamento. Quando essa diferença é grande, o rigor começa em um tempo menor e vice-versa. Estudo das propriedades físico-químicas e microbiológicas do peixe salgado seco comercializado nos mercados de Maputo. Fernandes Alfredo Tila 13 No caso de peixes cujas reservas de glicogénio estão esgotadas, o rigor mortis começa de imediato ou logo após a morte. 2.7.1. Putrefacção autolítica Autólise significa “auto-digestão’’, que é um processo de destruição ou digestão de células mortas efectuada por enzimas existentes nas próprias células do pescado. É sabido já a alguns anos que existem pelo menos 2 tipos de putrefacção em peixes: bacteriana e enzimática (Huss, 1995). Quando um organismo morre, o seu sistema regulador normal para de funcionar, o fornecimento de oxigénio e a produção de energia são interrompidos, pois o sangue para de ser bombeado pelo coração e não circula através das brânquias. Assim começa um processo caracterizado pela quebra anaeróbica de glicogénio e a quebra de compostos ricos em energia (Almeida et al., 2005). Os primeiros processos autolíticos no tecido muscular dos peixes envolvem os carbohidratos e nucleotídeos. Em geral, o músculo do peixe contém quantidades relativamente baixas de glicogénio quando comparado com o músculo de mamíferos, e o pH post-mortem é mais alcalino, predispondo a carne de peixe a ser mais susceptível ao ataque microbiano (Huss, 1995). Para a maioria dos peixes teleósteos, a glicólise é o único caminho possível para a produção de energia assim que o coração para de bater (Huss, 1995). Este processo, gera como produtos finais, o ácido láctico e pirúvico (Figura 6). *LDH – Lactato desidrogenase. Figura 6. Esquema de produção do ácido láctico a partir do glicogénio. A quantidade de ácido láctico produzida está relacionada com a quantidade de glicogénio no tecido do peixe. O estado nutricional dos peixes, a quantidade e grau de exaustão no momento da morte têm um efeito importante nos níveis de glicogénio armazenados e consequentemente no pH final post-mortem (Huss, 1999; Vaz-Pires, 2006) Estudo das propriedades físico-químicas e microbiológicas do peixe salgado seco comercializado nos mercados de Maputo. Fernandes Alfredo Tila 14 De acordo com Correia (2018), os peixes descansados e bem alimentados contém mais glicogénio do que os peixes exaustos e com fome. A resolução do rigor é um processo que ainda não foi compreendido na totalidade, mas sabe-se que sempre causa o amolecimento subsequente do tecido muscular e acredita-se que esteja relacionado com a activação de uma ou mais enzimas musculares presentes nos peixes. O amolecimento do músculo durante a resolução do rigor (início do processo de putrefacção) que coincide com as alterações autolíticas. Dessas mudanças, a primeira a ser reconhecida após a morte é a degradação de compostosrelacionados ao ATP (Almeida et al., 2005). A Figura 7 ilustra a degradação de AMP até a formação da hipoxantina, substância responsável pelas alterações de sabor do peixe deteriorado. A degradação dos nucleotídeos de ATP ocorre da mesma forma na maioria dos peixes, mas a velocidade de cada reacção, varia enormemente de uma espécie para outra (Almeida et al., 2005). Figura 7. Esquema de degradação de nucleotídeos. Fonte: Tsenane (2016). 2.7.2. Putrefacção microbiológica Os microrganismos representam a principal causa da deterioração de peixes durante o armazenamento (Arvanitoyannis et al., 2005 citados por Tete, 2012). As principais origens dos microrganismos presentes no pescado, vão desde a água e o solo, passando pelos utensílios e recipientes onde ficam contidos, sem esquecer do homem que por práticas de higiene pessoal e PO3 2- Estudo das propriedades físico-químicas e microbiológicas do peixe salgado seco comercializado nos mercados de Maputo. Fernandes Alfredo Tila 15 de manipulação incorrecta é veículo de microrganismos patogénicos (Wanda & Sousa, 1998, citados por Tete, 2012). O crescimento bacteriano requer uma fonte de carbono, nitrogénio, enxofre, energia, água e vários iões para a construção das proteínas, estruturas e membranas que compõem a célula bacteriana e a maquinaria bioquímica da célula (Murran et al., 2004 citados por Tete, 2012). Em muitos casos, os microrganismos usam para o seu crescimento os nutrientes contidos nos alimentos, causando a deterioração (Franzier & Westhoff, 1988, citados por Tete, 2012), traduzida em mudanças no aspecto, sabor, odor e em outras características do alimento (Pelczar et al., 1996, citados por Tete, 2012). O rápido crescimento microbiano é influenciado pela humidade, temperatura, oxigénio e valor do pH. A humidade elevada é sempre favorecedora, assim como temperaturas até 50oC, o oxigénio favorece as bactérias aeróbicas e inibe as anaeróbicas, o pH abaixo de 2,5 inibe as bactérias e apenas permite o desenvolvimento de alguns fungos (Ferreira, 1994 citado por Tete, 2012). As bactérias responsáveis pela alteração do pescado são as psicotrófilas, por se adaptarem a temperaturas frias e continuarem a crescer sob condições normais de refrigeração. Apenas em águas costeiras e água doce existe um número de espécies de bactérias mesófilas, provenientes das águas residuais e de esgotos (Rodriguez & Sosa, 1984). As bactérias psicotrófilas existentes na água são, Gram-negativas, aeróbicas e móveis. Os mais importantes agentes pertencem aos géneros Pseudómonas e Achromobacter (Rodriguez & Sosa, 1984). 2.8. Processos de conservação do pescado O pescado fresco é muito perecível e tem um curto tempo de prateleira quando comparado com outras espécies terrestres. Assim sendo, a não perda da qualidade deste produto depende da eficácia do manuseamento e da rapidez no processamento após a captura (Cabral Júnior et al., 2008). 2.9. Salga de peixe A salga de peixe é um dos métodos mais tradicionais e antigos de conservação de alimentos. É um processo relativamente simples, de fácil elaboração e baixo custo. Baseia-se no Estudo das propriedades físico-químicas e microbiológicas do peixe salgado seco comercializado nos mercados de Maputo. Fernandes Alfredo Tila 16 princípio da desidratação osmótica, em que o cloreto de sódio é a substância química utilizada (Avdolov et al., 2007). No processo de salga, verifica-se a penetração do sal e libertação de água da musculatura do peixe, diminuindo assim a actividade de água e criando condições impróprias para o desenvolvimento de microrganismos. Cabral Júnior еt al. (2008) descrevem que para garantir melhor conservação, ao final do processamento, o produto salgado é submetido a processos complementares, como a secagem e/ou refrigeração. 2.9.1. Métodos de salga Segundo Bastos (1988), podem considerar-se 3 tipos de salga: a salga seca, a mista e a salga em salmoura ou húmida. i) Salga seca Neste tipo de salga, o peixe é colocado em contacto directo com o cloreto de sódio (NaCl), favorecendo dessa forma, uma maior desidratação, que permite boa conservação. No entanto, o pescado é mais susceptível à oxidação lipídica com a aplicação desta técnica dado que há contacto directo de oxigénio com o peixe (Bastos, 1988). Vantagens da salga seca de acordo com Bastos (1988): • A velocidade de penetração do sal é muito rápida protegendo desde o início a deterioração do peixe e pode ser exercido em embarcações comuns de tamanho reduzido (barcas). A desvantagem, de acordo com Noguchi (1972), citado por Chaves (2013): • A penetração do sal não é homogénea. ii) Salga mista Na salga mista os peixes são colocados entre camadas de sal, até ao alto do recipiente, que deverá receber uma tampa, com um peso em cima, para prensar os peixes e garantir que a água exsudada deles forme a salmoura necessária para cobrir todas as unidades (Ogawa & Maia, 1999). Estudo das propriedades físico-químicas e microbiológicas do peixe salgado seco comercializado nos mercados de Maputo. Fernandes Alfredo Tila 17 iii) Salga em salmoura ou húmida Na salga em salmoura ou húmida, o pescado é imerso em tanques com uma solução previamente preparada (salmoura) a uma concentração adequada. Neste processo, a solução saturada de cloreto de sódio (NaCl) permanece no recipiente que contém o peixe, o que garante uma baixa concentração de oxigénio no meio, protegendo a gordura do processo de oxidação (Chaves, 2013). De acordo com o mesmo autor, no decorrer deste processo, a água do músculo do peixe flui no sentido da salmoura, diluindo-a. Levando em consideração este problema, deve- se medir a concentração de sal na salmoura e adicioná-lo afim de manter a salmoura sempre saturada, aplicando para o efeito 30% de sal e 70% de água. Neto (2009) descreve que o tempo necessário para salga em salmoura varia de 7 a 30 dias. Para Machado (1994) e Neto (2009), as vantagens da salga em salmoura ou húmida são: • A concentração do sal na salmoura pode ser ajustada, e é evitada a oxidação das gorduras pelo oxigénio durante o processo e a desidratação do produto é moderada; Machado (1994) e Neto (2009), recomendam a troca diária da salmoura e que a mesma não seja reutilizada no final do processo, para evitar uma selecção da microbiota, que poderá resultar em uma maior contaminação do produto e consequente risco de deterioração. 2.9.2. Factores que podem influenciar o processo de salga De acordo com Bastos (1988), dos factores principais que podem influenciar no processo de salga destacam-se os seguintes: Qualidade do sal, qualidade do peixe e temperatura. i) Qualidade do sal Para Argenta (2012), a elaboração de um peixe salgado seco de boa qualidade depende muito da qualidade do sal. O mesmo autor descreve que um sal de boa qualidade é aquele que contém 99% de cloreto de sódio (NaCl) e impurezas devido aos sais de cálcio e magnésio, nunca superiores a 0,05 e 0,4%, pois estas causam brancura, rigidez e ligeiro sabor amargo no peixe Estudo das propriedades físico-químicas e microbiológicas do peixe salgado seco comercializado nos mercados de Maputo. Fernandes Alfredo Tila 18 salgado seco. A concentração de compostos de cobre e ferro acima de 0,2 a 0,4 ppm e de 30 ppm causa manchas amarelas e castanhas no produto final (Machado, 1994). Em relação à granulometria, Bastos (1988) descreve que o sal tem maior ou menor eficiência na penetração e conservação do pescado. O sal fino, contém pequenos cristais que o possibilitam ter uma penetração mais eficaz no início, mas o seu poder penetrante vai diminuindo com o tempo, o que ocasiona a coagulação das proteínas da superfície da musculatura, gerando então uma conservação deficiente do produto. Já o sal grosso actua lentamente, e não se verifica a coagulação dasproteínas, entretanto, a sua lenta acção ao longo do processo de cura conduz a alterações indesejáveis, principalmente se a salga for processada em dias quentes. Para uma salga mais adequada e, para eliminar os problemas acima expostos, recomenda-se a utilização de partes iguais de sal fino e sal grosso (Chaves, 2013). A concentração é um factor limitante, pois, quanto mais elevada for a concentração do sal maior será a sua penetração nos tecidos até que se alcance o equilíbrio osmótico (Castro, 2009). ii) Qualidade da matéria-prima (peixe) De acordo com Castro (2009), para a elaboração de um peixe salgado seco de boa qualidade, deve-se processar apenas peixes com um bom índice de frescor, ou seja, que apresente condições sanitárias adequadas, devendo-se eviscerar a cavidade abdominal com a finalidade de introduzir as acções antibacterianas. Conteúdo de gordura: A penetração do sal nos tecidos do peixe é inversamente proporcional ao conteúdo de gordura no músculo, ou seja, quanto maior o conteúdo em gordura menor será a penetração de sal nos tecidos do peixe e vice-versa. A gordura, para além de retardar o processo de salga, produz ainda a rancidez que confere sabor desagradável ao peixe (Castro, 2009). Chaves (2013) afirma que a espessura do músculo é directamente proporcional ao tempo de salga do pescado, ou seja, quanto maior for a espessura do músculo, maior será o tempo de salga. Estudo das propriedades físico-químicas e microbiológicas do peixe salgado seco comercializado nos mercados de Maputo. Fernandes Alfredo Tila 19 iii) Temperatura De acordo com Sibanda (2015), esse factor influência na aceleração da salga, isto é, quanto mais elevada for a temperatura, mais rápido será o processo. 2.9.3. Secagem A secagem é o processo preliminar que é considerado, após a salga do peixe. O sal por si só, não constitui um processo de conservação definitiva contra a deterioração do peixe, sendo então necessária a secagem dos produtos salgados (Bastos, 1988). De acordo com Bastos (1988), o processo de secagem pode ser realizado por métodos naturais assim como artificiais. • Secagem natural Esse processo é aplicado em regiões cuja temperatura varia entre 35°C - 40°C, contendo boa taxa de radiação solar, baixa humidade relativa do ar e baixo índice de poluição. É um processo de menor custo, utilizando apenas bandejas para a desidratação e redes protectoras contra vectores. No entanto, é altamente dependente das condições climáticas, apresenta maior risco de contaminação ambiental, elevado tempo de secagem e grande necessidade de mão-de- obra (Rodrigues, 2012). De acordo com Neto (2009), a vantagem do processo de secagem natural está relacionada com o facto de que por utilizar energia solar, sendo a mesma gratuita, esse método torna se mais barato. A desvantagem deste processo de acordo com o mesmo autor é que uma vez que o peixe é exposto ao ar livre, os processos de oxidação ocorrem mais intensamente e também há reacções de peroxidação que são catalisadas pela radiação de raios ultravioletas. • Secagem artificial O processo de secagem artificial é realizado com o uso de equipamentos especializados (estufas ou túneis) com condições termodinâmicas de secagem que permitem o controlo de parâmetros físicos como a temperatura, velocidade do ar e velocidade relativa, obtendo um pescado com humidade inferior a 25% e com qualidade superior aos de secagem natural (Nunes & Pedro, 2011). De acordo com Bastos (1988), a temperatura de secagem varia tanto para peixes Estudo das propriedades físico-químicas e microbiológicas do peixe salgado seco comercializado nos mercados de Maputo. Fernandes Alfredo Tila 20 de águas temperadas como para peixes de águas tropicais, sendo que os peixes de águas tropicais toleram níveis de temperaturas mais elevadas. As vantagens do método de secagem artificial de acordo com Castro (2009) são: i) Não exige grandes áreas de secagem e, ii) É um método relativamente rápido. 2.9.4. Factores que podem influenciar o processo de secagem Os factores que podem influenciar o processo de secagem de acordo com Bastos (1988) são: Humidade do produto, tamanho e forma do peixe, teor de gordura, superfície do músculo, espaçamento entre as amostras no ambiente, efeito da película e condições termodinâmicas de secagem. Minozzo (2011), no seu trabalho sobre processamento e conservação do pescado afirmou que: i) Quanto maior a velocidade do ar maior a velocidade de secagem; ii) Quanto maior a área de exposição do peixe maior velocidade de secagem; iii) Quanto maior a temperatura do ar maior a velocidade de secagem; e iv) Quanto maior a humidade relativa do ar menor a velocidade de secagem. CIÊNCIA E TECNOLOGIA - PARANÁ - Estudo das propriedades físico-químicas e microbiológicas do peixe salgado seco comercializado nos mercados de Maputo. Fernandes Alfredo Tila 21 2.10. Processamento do peixe salgado seco (Oreochromis niloticus) Figura 8. Fluxograma de processamento do PSS proveniente do distrito de Massingir comercializado nos MJ e MX. A seguir ao abate, a Oreochromis niloticus deve entrar na sequência do fluxograma de processamento (Figura 8) em monoblocos previamente lavados e higienizados com água e detergente, contendo quantidade suficiente de gelo para cobrir o peixe ou ser encaminhado para armazenamento em câmaras de congelamento (EMBRAPA, 2018). As características da matéria-prima influenciam directamente na qualidade do produto final. Por conseguinte, é de extrema importância que a matéria-prima a ser utilizada seja seleccionada, classificada e possua boa procedência e qualidade, antes de entrar no fluxo de processamento. A matéria-prima pode ser classificada de acordo com o tamanho, qualidade e integridade física (EMBRAPA, 2018). De acordo com Lins (2011), a selecção por tamanho da Oreochromis niloticus pode ser feita de forma manual ou por meio de equipamentos mecanizados com grades de selecção para a triagem da matéria-prima. Para os casos em que há um grande fluxo de peixe recebido, este poderá ser armazenado em câmara de espera, a temperaturas que variam de 0 a 1°C. Posteriormente, conforme ilustra a Figura 9 o pescado é separado do gelo para pesagem e lavado em cilindros (Lins, 2011). Matéria-prima (Peixe fresco) Preparação (Sangria e Evisceração) Salga húmida Lavagem Secagem natural Embalagem Estudo das propriedades físico-químicas e microbiológicas do peixe salgado seco comercializado nos mercados de Maputo. Fernandes Alfredo Tila 22 Figura 9. Cilindro de lavagem para higienização do peixe (passagem da área suja para área limpa). Fonte: EMBRAPA (2018). Sangria: Este método é realizado por perfuração das brânquias, logo após a captura do peixe quando ainda há circulação de sangue (Freire & Gonçalves, 2013). Evisceração: Consiste no corte da parte ventral (Figura 10) para a remoção dos órgãos internos como vísceras, guelras e intestinos (EMBRAPA, 2018). Estudo das propriedades físico-químicas e microbiológicas do peixe salgado seco comercializado nos mercados de Maputo. Fernandes Alfredo Tila 23 Figura 10. Ilustração do corte (abertura) da parte ventral da Oreochromis niloticus para a posterior evisceração. Fonte: EMBRAPA (2018). Lavagem: A lavagem da cavidade interna é feita com água hiperclorada com teores de 2,5 ppm a 5,0 ppm de cloro livre para a retirada de resíduos e coágulos sanguíneos, com o objectivo de remover partes não comestíveis do corpo da Oreochromis niloticus que reduzem a qualidade do mesmo, como intestino, ducto pneumático, estômago e bexiga-natatória. Esta técnica pode ser feita de forma manual ou com auxílio de equipamentos especializados (Figura 11) (EMBRAPA, 2018).Estudo das propriedades físico-químicas e microbiológicas do peixe salgado seco comercializado nos mercados de Maputo. Fernandes Alfredo Tila 24 Figura 11. Lavagem e escovação da parte ventral da Oreochromis niloticus após a evisceração. Fonte: EMBRAPA (2018). Salga húmida: Neste método o peixe é imerso em tanques com uma solução previamente preparada (salmoura) a uma concentração adequada (Chaves, 2013). De acordo com Reis (2015), à quantidade de sal e água que deve ser usada neste método diverge muito por parte dos autores. Fidalgo (2011) citado por Reis (2015), na sua dissertação de mestrado sobre o efeito da alta pressão em demolha de bacalhau e enzimas de cavala afirmou que à quantidade de NaCl usada para 1L de água é de 18-25%. No entanto, Carvalho (2012) citado por Reis (2015), na sua dissertação de mestrado sobre a salga e dessalga de peixes afirmou que à quantidade de NaCl usada para 1L de água é de 30-36%. Secagem natural: É realizada em regiões com temperaturas médias de 35°C - 40°C, e sua humidade deve ser reduzida de 50% a 70% ao sol. Após a redução da humidade dos peixes, o processo de secagem deverá ser finalizado na sombra para se preservar a cor e o aroma natural (Celestino, 2010 citado por Azevedo & Leonardi, 2018). No decorrer do período de secagem, o peixe deve ser virado com alguma frequência e monitorando-se o seu peso, para apontar de que o mesmo está ideal, indicando a qualidade no produto (Azevedo & Leonardi, 2018). Embalagem: Após a salga e a secagem, os peixes são colocados em sacos plásticos de polietileno de baixa densidade, e armazenados a temperatura ambiente para posterior comercialização. Estudo das propriedades físico-químicas e microbiológicas do peixe salgado seco comercializado nos mercados de Maputo. Fernandes Alfredo Tila 25 2.11. Microrganismos de interesse para qualidade do peixe salgado seco 2.11.1. Coliformes totais Os coliformes totais pertencem à família Enterobacteriaceae, representada principalmente pelos géneros Escherichia, Citrobacter, Enterobacter e Klebisiella. Podem ser detectados em vários tipos de alimentos, mas não vêm indicar necessariamente uma contaminação de origem fecal, no sentido de envolver contacto directo ou indirecto com fezes. A sua presença é constantemente atribuída às más práticas de higiene nos processos de manipulação (Franco & Landgraf, 2004). Este grupo é utilizado como indicador de condições higiénico-sanitária em alimentos há muitos anos. Dos agentes bacterianos, eles são internacionalmente considerados como microrganismos indicadores da segurança microbiológica em alimentos, e incluem bactérias aeróbicas e anaeróbicas facultativas, Gram-negativas, não esporogénicas, com capacidade de fermentar a lactose com produção de gás em um período de 48 horas a 35°C (Franco & Landgraf, 2004). 2.11.2. Coliformes fecais A descrição é análoga à de Coliformes totais, porém, restringe-se aos membros capazes de fermentar lactose com produção de gás em 24-48h a 44,5-45,5°C (Junqueira et al., 1997; Siqueira, 1995). O microrganismo mais conhecido e o mais diferenciado dos membros não fecais dentro deste grupo é a E. coli. Em alimentos, a presença de E. coli é considerada um indicador de contaminação fecal directa ou indirecta. A contaminação directa ocorre durante o processamento de matérias-primas de origem animal e devido à falta de higiene pessoal dos manipuladores. A contaminação indirecta pode ocorrer através de águas poluídas e de esgoto. No caso de alimentos processados pelo calor, a sua presença é vista com grande preocupação (Ray, 1996). 2.11.3. Salmonella spp. A Salmonella, pertencente à família Enterobacteriaceae, compreende bacilos Gram- negativos não produtores de esporos. É constituído por bastonetes de 0,5 a 0,7 por 1 a 3 micrómetros, são aeróbicos facultativos, produtores de gás a partir de glicose e são capazes de Estudo das propriedades físico-químicas e microbiológicas do peixe salgado seco comercializado nos mercados de Maputo. Fernandes Alfredo Tila 26 utilizar o citrato como única fonte de carbono, a maioria é móvel, através de flagelos distribuídos por toda célula (flagelos peritríquios) (Franco & Landgraf, 2004). De acordo com Franco e Landgraf (2004), a temperatura ideal para a multiplicação do microrganismo em questão é 35-37º C, sendo a mínima de 5ºC e a máxima de 47ºC. A Salmonella é uma das bactérias mais frequentes envolvidas em casos de doenças de origem alimentar pelo mundo. As doenças causadas por Salmonella costumam ser subdivididas em grupos: i) A febre tifóide: Causada por S. typhi; ii) As febres entéricas: Causadas por S. paratyphi (A, B e C) e as, iii) Enterocolites (ou salmoneloses): Causadas pelas demais salmonelas (Franco & Landgraf, 2004; Siqueira, 1995). Franco e Landgraf (2004), afirmam que alimentos cozidos e aquecidos a 70ºC, por pelo menos 10 minutos, são considerados seguros, se consumidos imediatamente, mantidos a 50ºC ou armazenados 10ºC ou menos. 2.11.4. Staphylococcus coagulase positiva No meio de diversos microrganismos patogénicos que podem ser transmitidos por alimentos, destaca-se o S. aureus, cuja importância epidemiológica decorre da sua alta prevalência e do risco de produção de toxinas causadoras de gastroenterites alimentares (Siqueira, 1995). Os representantes do género Staphylococcus podem produzir doenças tanto pôr sua capacidade de multiplicação e disseminação ampla nos tecidos, como pela produção de substâncias extracelulares, como enterotoxinas, que é uma causa importante de intoxicações alimentares (Madigan et al., 2004). Enquanto as células de S. aureus são termolábeis e facilmente eliminadas por processos moderados de temperatura, as enterotoxinas são termoestáveis e resistentes a temperaturas elevadas (Ray, 1996). Este facto traduz-se com a permanência activa da toxina, mesmo submetendo o alimento ao reaquecimento antes do consumo. Os mecanismos de patogenicidade atribuídos ao S. aureus estão relacionados aos factores de virulência na forma de toxinas, enzimas e outras proteínas associadas à parede celular, mediadas por genes plasmidiais ou cromossomicos que combinados conduzem à doença (Siqueira, 1995). Estudo das propriedades físico-químicas e microbiológicas do peixe salgado seco comercializado nos mercados de Maputo. Fernandes Alfredo Tila 27 De acordo com Madigan еt al. (2004), os alimentos permanecem seguros quando são mantidos sob refrigeração adequada após a sua confecção, porque em baixas temperaturas, o crescimento de S. aureus é significativamente reduzido, o que geralmente não ocorre em mercados. Quando o alimento for inoculado por células de S. aureus oriunda de manipuladores infectados, poderá ocorrer o rápido crescimento bacteriano e, por conseguinte, a produção de enterotoxinas. Estudo das propriedades físico-químicas e microbiológicas do peixe salgado seco comercializado nos mercados de Maputo. Fernandes Alfredo Tila 28 3. DESCRIÇÃO DO LOCAL DE ESTUDO E DAS ANÁLISES 3.1. Processamento do peixe salgado seco pelo método artesanal no distrito de Massingir O processamento do PSS no distrito de Massingir na província de Gaza pelo método artesanal, é procedido conforme o fluxograma descrito na Figura 8. Após a captura do peixe fresco na água doce, é retirado todo o sangue e as tripas (sangria e evisceração), lavado e colocado em tambores plásticos de 500 L cheios de água com excesso de sal (normalmente 2 sacos de 50 kg, sendo a concentração final da salmoura igual a 200 g/L de água). Passadas 48h- 72h, o peixe é colocado em redes enormes erguidas a pelo menos 1 metro acima do solo, para posterior secagem, embalagem e comercialização. O tempo de secagem dos peixes varia de 4 a 9 dias, dependendo do tamanho e conteúdo degordura. 3.2. Amostragem A amostragem do PSS foi feita no município de Maputo, nomeadamente, nos MJ e MX, durante o mês de Setembro de 2020. A colheita foi feita em bancas diferentes, de modo a perfazer um total de 3 unidades (A, B, C) da amostra colhida em cada mercado. As amostras foram imediatamente introduzidas em sacos plásticos do tipo Ziploc (Figura 12) fornecidos pelo LNHAA na secção de Microbiologia, e transportadas para o LNHAA, onde foram recebidas, codificadas e distribuídas para as secções de Microbiologia e Química de alimentos para a posterior realização das análises planificadas. Figura 12. Ilustração da amostragem. Estudo das propriedades físico-químicas e microbiológicas do peixe salgado seco comercializado nos mercados de Maputo. Fernandes Alfredo Tila 29 3.3. Mercado Janet O MJ, localiza-se na Avenida Vladimir Lenine, concretamente no bairro de Malhangalene, na cidade capital. É um mercado coberto, próximo da estrada e exposto a poeiras provocadas pelos carros. As bancas são de madeira (Figura 13A) e cimento (Figura 13B), cobertas com panos ou sacos de plástico, muitas vezes expostos a condições ambientais adversas como a humidade, insectos, contaminação ambiental, manipulação excessiva e inadequada. Figura 13. Comercialização do PSS no MJ (A- PSS colocado no chão, sob o risco de ser contaminado, B- PSS colocado directamente na bancada de cimento sem observância de nenhuma regra de higiene). 3.4. Mercado Xipamanine O MX, localizado na cidade de Maputo, no distrito municipal Kalhamankulu, no bairro com o mesmo nome, à semelhança do MJ, é um local coberto, próximo da estrada e exposto a poeiras provocadas pelos carros. As bancas são de madeira e cimento, cobertas com panos ou sacos de plástico (14A), muitas vezes expostos a condições ambientais adversas como a humidade, insectos, contaminação ambiental, manipulação excessiva e inadequada (Figura 14B). Estas condições favorecem a contaminação do produto, comprometendo a sua qualidade e segurança sanitária. A B Estudo das propriedades físico-químicas e microbiológicas do peixe salgado seco comercializado nos mercados de Maputo. Fernandes Alfredo Tila 30 Figura 14. Comercialização do PSS no MX (A- PSS comercializado ao lado de sacos e bancas pouco higienizadas, B- Manipulação excessiva sem uso de luvas). 3.5. Laboratório Nacional de Higiene de Águas e Alimentos Todos os ensaios analíticos referentes ao presente trabalho foram realizados no LNHAA, pertencente ao MISAU. O laboratório (Figura 15) localiza-se na cidade de Maputo, no bairro de Mavalane, concretamente na avenida das FPLM no 2260 detrás do Hospital Geral de Mavalane (nas instalações do Centro de Saúde de Mavalane). O LNHAA é constituído por 3 departamentos, nomeadamente: • Departamento de Toxicologia Este departamento reparte-se em duas secções, nomeadamente, sala de instrumentação, toxicologia e contaminantes ambientais. • Departamento de Águas Este departamento reparte-se em duas secções, nomeadamente, química de águas e microbiologia de águas. • Departamento de Alimentos Este reparte-se em duas secções, nomeadamente, química de alimentos e microbiologia de alimentos. A B Estudo das propriedades físico-químicas e microbiológicas do peixe salgado seco comercializado nos mercados de Maputo. Fernandes Alfredo Tila 31 Figura 15. Imagem da localização geográfica do LNHAA. Adaptado de: Chibindje (2020). Estudo das propriedades físico-químicas e microbiológicas do peixe salgado seco comercializado nos mercados de Maputo. Fernandes Alfredo Tila 32 4. PARTE EXPERIMENTAL 4.1. Materiais, Reagentes e Equipamentos 4.1.1. Materiais ✓ Agitador de tubos tipo vortex; ✓ Ansas de platina (3 mm); ✓ Balões volumétricos (Pyrex 100 mL); ✓ Bico de Bunsen; ✓ Bureta (DURAN 25 mL); ✓ Cadinhos metálicos; ✓ Cartuchos; ✓ Conta colónias; ✓ Copos de precipitação (250 mL); ✓ Esguicho; ✓ Espalhador de vidro; ✓ Espátulas esterilizadas com diâmetro de 90 mm; ✓ Erlenmeyer (PYREX 250 mL); ✓ Faca; ✓ Frascos para amostras e para meios de cultura; ✓ Garra; ✓ Marcador; ✓ Papel de filtro (Whatman, 270 mm); ✓ Pinças; ✓ Pipetas esterilizadas (1, 2, 5 e 10 mL com 0,1 mL de graduação); ✓ Pipetas volumétricas (10 mL); ✓ Placas de petri esterilizadas; ✓ Provetas graduadas (50 mL). ✓ Suporte universal; ✓ Tubos de ensaio; ✓ Varetas. 4.1.2. Reagentes ✓ Agar Xilose Lisina Descarboxilado (XLD) (Sigma Chemical, Co, USA); ✓ Água destilada; ✓ Água peptonada (Sigma Chemical, Co, USA); ✓ Baird-Parker Agar (BP) (Sigma Chemical, Co, USA); ✓ Caldo de Brain-Heart Infusion (BHI) (Sigma Chemical, Co, USA); ✓ Caldo de Peptona (AP) (Sigma Chemical, Co, USA); ✓ Caldo Rappaport Vassiliadis com Soja (RVS) (Sigma Chemical, Co, USA); Estudo das propriedades físico-químicas e microbiológicas do peixe salgado seco comercializado nos mercados de Maputo. Fernandes Alfredo Tila 33 ✓ Coagulase-plasma com EDTA (Sigma Chemical, Co, USA); ✓ Hektoen-Agar Entérico de Hektoen (HAEH) (Sigma Chemical, Co, USA); ✓ Plate Count Agar (PCA) ✓ Soluções-tampão, pH 4,0; 7,0; ✓ Triple Sugar Iron Agar (TSIA) (Sigma Chemical, Co, USA); ✓ Triptona Soja agar (TSA); ✓ Tryptone-bile-glucuronic medium (TBX) (Sigma Chemical, Co, USA); ✓ Solução indicadora de K2CrO4 a 10%; ✓ Solução padrão de AgNO3 0,1N; ✓ Violet Red Bile Agar (VRBA) (Sigma Chemical, Co, USA). 4.1.3. Equipamentos ✓ Aparelho de pH, com precisão de ± 0,1 (Quimis ® Q-400A); ✓ Autoclave para esterilização a vapor (Raypa ®); ✓ Balança analítica (Adam, modelo PW 254); ✓ Balança electrónica com capacidade máxima de 2000 g e sensibilidade de 0,1 g (MARTE, modelo AS 2000); ✓ Banho-maria, controlado por termostato (FALC, modelo BM4); ✓ Estufa (Intercontinental Equipment, modelo DAS/40000 1050C); ✓ Estufa de esterilização (Memmert, modelo UNE 400); ✓ Homogeneizador com os respectivos sacos plásticos esterilizados; ✓ Incubador, controlado por termostato (Raypa ®); ✓ Mufla (Carbolite, modelo AAF 1100). Estudo das propriedades físico-químicas e microbiológicas do peixe salgado seco comercializado nos mercados de Maputo. Fernandes Alfredo Tila 34 4.2. Análises físico-químicas 4.2.1. Procedimentos experimentais • Preparação da amostra Os peixes foram escamados e retiradas as espinhas (Figura 16) para a posterior realização das análises físico-químicas (pH, humidade, cinzas, cloretos e gorduras). Figura 16. Ilustração da preparação da amostra para a posterior realização das análises físico- químicas. Todas as análises físico-químicas foram feitas usando os procedimentos descritos no Manual de Química Alimentar do Laboratório Nacional de Higiene de Águas e Alimentos (2000). • Determinação do pH pelo método potenciométrico O pH foi determinado pelo método potenciométrico em amostras de PSS (crú) à temperatura ambiente, com uso de pH metro, obedecendo à seguinte sequência: i) Ligou-se o potenciómetro (Figura 17) à corrente eléctrica, pressionou-se o botão power e deixou-se estabilizar durante 5 minutos; ii) Calibrou-se o potenciómetro com as soluções-tampão de pH 4,0 e 7,0 a 22,8°C. Estudo das propriedades físico-químicas e microbiológicas do peixe salgado seco comercializado nos mercados de Maputo. Fernandes Alfredo Tila 35 iii) Deixou-se algum tempo, até que aparecesse no visor (ler), indicando que pode ser lido o valor do pH. Com o auxílio de uma tesoura, cortou-se a musculatura do PSS em pequenos pedaços e introduziu-se em tubos de ensaio onde se adicionou 10 mL de água destilada nos mesmos. Posteriormente procedeu-se com a homogeneização até que se formasse uma massa pastosa. Introduziu-se o eléctrodo do potenciómetro, previamente calibrado, fez-se a leitura directa
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