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Ciências Sociais, Humanas e Políticas Autoria: André de Faria Thomáz CIÊNCIAS SOCIAIS,CIÊNCIAS SOCIAIS, HUMANAS E POLÍTICASHUMANAS E POLÍTICAS SSEJAEJA BEMBEM--VINDOVINDO!! ReitoR: Prof. Cláudio ferreira Bastos Pró-reitor administrativo financeiro: Prof. rafael raBelo Bastos Pró-reitor de relações institucionais: Prof. Cláudio raBelo Bastos Pró-reitor acadêmico: Prof. HerBert Gomes martins direção ead: Prof. riCardo ZamBrano Júnior coordenação ead: Profa. luCiana rodriGues ramos Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida, total ou parcialmente, por quaisquer métodos ou processos, sejam eles eletrônicos, mecânicos, de cópia fotostática ou outros, sem a autoriza- ção escrita do possuidor da propriedade literária. Os pedidos para tal autorização, especificando a extensão do que se deseja reproduzir e o seu objetivo, deverão ser dirigidos à Reitoria. expediente Ficha técnica autoria: andré de faria tHomáZ suPervisão de Produção ead: franCisCo Cleuson do nasCimento alves design instrucional: antonio Carlos vieira Projeto gráfico e caPa: franCisCo erBínio alves rodriGues diagramação e tratamento de imagens: ismael ramos martins revisão textual: antonio Carlos vieira Ficha catalogRáFica catalogação na publicação biblioteca centRo univeRsitáRio ateneu THOMÁZ, André de Faria. Ciências sociais, humanas e políticas. André de Faria Thomáz. – Fortaleza: Centro Universitário UniAteneu, 2022. 144 p. ISBN: 1. Sociologia. 2. Filosofia. 3. Política. 4. Cultura. Centro Universitário Ateneu. II. Título. SSEJAEJA BEMBEM--VINDOVINDO!! Caro(a) estudante, Você sabia que quanto mais conhecemos sobre nossas origens mais aptos ficamos para absorver e trocar conhecimento? Então, apresentamos o livro da disciplina Ciências sociais, humanas e políticas. Nele, trabalharemos temas de grande relevância para sua formação pessoal com reflexos na profissional. O nosso material está dividido em quatro unidades. Na primeira delas, faremos uma introdução sobre o Homem e suas vivências dentro de uma sociedade com foco no conhecimento, tendo princípios como prisma para o controle das atividades humanísticas e sociais. Na segunda unidade, aprenderemos sobre a sociedade, suas facetas e controles sobre a evolução do homem como ser natural que procura em sua origem um motivo para descrever seus pensamentos e assim atribui-los dentro das atividades diárias. Na terceira unidade, conheceremos um pouco sobre a relação homem x política, com um foco mais institucional na necessidade do homem em dominar e assim evoluir. Na última unidade, abordaremos mais sobre a cultura e a forma como ela atribui valores aos homens e suas ações e até mesmo um pouco sobre a arte. Estamos juntos nesta jornada de formação, e parabéns para você que chegou até aqui e estudará um tema tão importante como ciências sociais, humanas e políticas. Vamos juntos nessa busca pelo conhecimento?! SUMÁRIO CCONECTEONECTE--SESE AANOTAÇÕESNOTAÇÕES RREFERÊNCIASEFERÊNCIAS Estes ícones aparecerão em sua trilha de aprendizagem e significam: SUMÁRIO 1. Os princípios do conhecimento dentro do âmbito cosmológico ......................................................8 1.1. O Homem como ser pensante ..................................10 1.2. As sociedades humanas ..........................................14 2. A pertinência do conhecimento e seus princípios .................................................................20 3. O circuito razão/afeto/pulsão e a unidualidade ...............25 Referências .........................................................................34 01 1. A história das ideias ................................................... 38 2. Para compreender Durkheim e o pensamento sociológico: o objeto – a sociedade ............................ 44 3. Para compreender Marx e o projeto revolucionário ................................................. 46 4. A ideologia alemã de Weber e a conduta do indivíduo .................................................. 50 5. Utopia e ética revolucionária em Marx ...................... 56 Referências .................................................................... 69 02 A SOCIEDADE O HOMEM 1. Antropologia cultural .............................................. 110 2. Cultura x cultura patrimonial x cultura industrial .... 113 3. A arte ..................................................................... 116 4. Desigualdades sociais ........................................... 122 5. Cultura afro e crenças ........................................... 124 6. A influência da religião .......................................... 127 7. Os povos indígenas ............................................... 129 8. A revolução digital ................................................. 132 Referências ............................................................... 143 04 A CULTURA 1. O Estado e a política .................................................. 72 2. Conceito de política e a teoria do Estado ................... 74 3. Introdução à teoria política ......................................... 81 4. A política social e a república ..................................... 85 5. Situação social e política no Brasil e a república ....... 87 6. Platão e a república .................................................... 89 7. A política e a democracia ........................................... 91 7.1. Política na Roma Antiga na visão de Cícero ................................................... 97 7.2. Pensamento político cristão: Agostinho, Tomás de Aquino e Thomas Morus .................. 100 Referências .................................................................. 106 03 A POLÍTICA Unidade 02 A sOciedAde A sOciedAde ApresentaçãoApresentação Caro estudante, nesta unidade, estudaremos sobre os principais conceitos de sociedade e, neste caso, precisamos conhecer sobre a sociedade francesa que, no século XIX, foi marcada pelas transformações sociais oriundas do processo de consolidação do capitalismo moderno enquanto regime político-econômico do ocidente. A ascensão da burguesia como classe dominante, produto e produtora da Revolução Industrial e da Revolução Francesa, trouxe rupturas e transformações na cultura, política, instituições e Estados. Importante destacar ainda que, nesta unidade, conheceremos e aprofundaremos sobre os pensamentos e visões em torno das experiências de Marx e Weber, e como as contribuições deles alinharam o controle da sociedade e a inserção do homem na sociedade. Nesse período, viveu Émile Durkheim (1858-1917), um dos principais pensadores da sociologia. Suas ideias estavam centradas nas questões da coesão social e na elaboração da sociologia como uma ciência que pudesse diagnosticar as anomalias sociais presentes e saná-las. Observando uma sociedade em intenso processo de transformações e, consequentemente, com ebulições sociais, quais elementos sociais permitem sua coesão social? Vamos descobrir juntos?! 38 CIÊNCIAS SOCIAIS, HUMANAS E POLÍTICAS| OOBJETIVOSBJETIVOS DEDE APRENDIZAGEMAPRENDIZAGEM • Compreender como a sociedade criou seus caminhos; • Conhecer as principais contribuições para a ciência sociologia; • Conhecer as principais ideias de Émile Durkheim; • Conhecer as principais contribuições de Karl Marx e Max Weber. 1. A históriA dAs ideiAs1. A históriA dAs ideiAs Assim como Karl Marx e Max Weber, Émile Durkheim é considerado um dos fundadores da sociologia. Seu esforço em desenvolver essa disciplina aos moldes das ciências naturais, definindo método e objeto específicos, foi essencial para seu desenvolvimento e distinção dentre as outras ciências humanas e sociais. As ideias e conceitos de Durkheim fundamentaram grande parte da corrente funcionalista, principalmente o funcionalismo francês. Seu pensamento segue atual, com influência em áreas como a criminologia e a psicologia social. Durkheim se preocupava em pensara sociedade, naquilo que seriam seus elementos sociais, e entendia que, para tanto, era necessário o empenho prático de desenvolver uma metodologia específica da sociologia. Sua orientação positivista o levou a buscar nas ciências naturais a estrutura-base que orientaria a elaboração de seu método sociológico. Percebemos que, com o passar do tempo, o homem foi inserido dentro da sociedade. Com foco na manifestação humana, os diferentes períodos da humanidade foram moldados de acordo com seus meios de produção, tanto do ponto de vista social quanto nos aspectos culturais. Assim, em uma era de predomínio industrial, com os diversos avanços tecnológicos, não seria de se espantar que a produção cultural fosse influenciada diretamente por esse modelo. A possibilidade de massificar processos de produção e de consumo CIÊNCIAS SOCIAIS, HUMANAS E POLÍTICAS 39| não se restringiu à indústria automotiva, da construção civil e às outras diversas que produzem bens duráveis, pelo contrário, esse processo também possibilitou a apropriação, a produção e o consumo em larga escala de bens culturais a partir dos diversos meios de comunicação, por isso, cultura de massa. Isso poderia acontecer na formação da sociedade? Nas cidades? Muitos pensadores do urbano, como Henri Lefebvre, Manuel Castells e David Harvey, concordam que os espaços não são criados de maneira espontânea, e, sim, que são construções sociais, socialmente construídos, resultando, assim, na “produção do espaço”. No entanto, a partir de qual lógica essa produção do espaço ocorre? Para os pensadores, ela é socialmente produzida, surgindo a partir dos meios de produção de um determinado período histórico. Pense, por exemplo, como seria um determinado “objeto” no período paleolítico e se seria possível, com o “desenvolvimento tecnológico” desse período, a produção de um helicóptero. Claro que não, certo? Assim como a massificação cultural só foi possível a partir da Revolução Industrial e da economia de mercado, a produção de um determinado “objeto” dependerá das tecnologias disponíveis de cada período. Os meios de produção de um determinado período histórico condicionam a criação de ferramentas de trabalho, das relações de trabalho, da cultura, da organização social, do tipo de edificação e também da produção do espaço. Entretanto, quais são as consequências da influência da sociedade para a formação dos homens? Pelo lado positivo, é possível elencar alguns mecanismos da produção em massa ou aglomerações responsáveis pela melhoria nas condições de vida de muitas pessoas. Certamente, você já ouviu muito a palavra “cultura”, mas já parou para pensar o que ela significa e qual é a importância e a serventia de entendê-la? Você já percebeu que os olhos de algumas pessoas são puxadinhos enquanto os de outras são mais saltados? Já se deu conta de que uns possuem pele 40 CIÊNCIAS SOCIAIS, HUMANAS E POLÍTICAS| branca e outros, negra? Já notou que há sociedades que consomem carne de cachorro (como a chinesa) e outras que os levam para passear (como a nossa)? É nesse ponto que reside uma das questões mais cruciais da convivência humana: a compreensão do que é cultura e de sua importância para o reconhecimento de uma pluralidade humana. Em relação às diferenças fenotípicas apresentadas, isso diz bastante e, ao mesmo tempo, muito pouco a respeito de uma pessoa, afinal, todos pertencemos à espécie humana, independentemente de cor, estatura ou formato dos olhos. Do mesmo modo, diz muito sobre o cotidiano social, em razão de julgamentos muito variados, mas pouquíssimo sobre a ideia de cultura, afinal, o ser humano vive em um ambiente natural e social, que se desdobra em uma variedade de realidades, como a econômica, a histórica e a cultural, e é justamente na questão da cultura que vamos nos deter. CCURIOSIDADEURIOSIDADE Fenótipo é o conjunto de caracteres visíveis de um indivíduo ou de um organismo em relação à sua constituição e às condições do meio ambiente. Fonte: https://bit.ly/3Ac8sCR. Todos os seres humanos possuem cultura, e ela jamais apresentará nível superior ou inferior, independentemente de qualquer variação genotípica ou fenotípica, linguística, religiosa ou sexual. É esse complexo fenômeno humano que este texto aborda, ou seja, a cultura e seu riquíssimo universo, o que constitui a vivência de todos nós. No intuito de firmar a sociologia enquanto ciência, Durkheim (1996) defendia que seu método deveria seja objetivo, permitindo observar a sociedade para além das noções preestabelecidas sobre seus fenômenos. É isso que o autor quer dizer ao instruir os sociólogos a tratar os fatos sociais enquanto coisas. CIÊNCIAS SOCIAIS, HUMANAS E POLÍTICAS 41| Os métodos apresentados por Durkheim são os seguintes: a) Método comparativo Para superar a mera descrição, Durkheim apresentou o método comparativo como próprio da sociologia, na medida em que aproxima os pesquisadores dos fatos sociais, isto é, daquilo que é comum e geral. Esse método consiste em investigar as manifestações particulares de determinado fenômeno social e, comparando-as, extrair aquilo que seria comum, que não se alteraria de maneira substancial nas variadas formas de manifestação individual. b) Método indutivo Por meio do método indutivo, ou seja, indo do particular para o geral, esses elementos que se repetem consolidam categorias gerais, ou seja, conceitos científicos. A comparação permite superar as semelhanças aparentes e as noções previamente construídas sobre o objeto em questão para alcançar as semelhanças mais profundas. Na visão Martins (2006, p. 63), “[...] o objeto [da sociologia] são os fatos sociais; o método é a observação e a experimentação indireta, em outros termos, o método comparativo”. A sociedade é um arranjo constituído por elementos específicos, que têm como objetivo estabelecer regras de conduta para organizar a convivência humana. Esses elementos são: • Finalidade social; • Manifestações conjuntas ordenadas; • Poder social. Essa teoria do naturalismo que identifica a formação da sociedade teve início com o filósofo grego Aristóteles, no século IV a.C., o qual concluiu que o homem era um ser naturalmente político e que, por isso, precisaria viver em sociedade. Para Aristóteles, como afirma Morin (2009, p. 45): 42 CIÊNCIAS SOCIAIS, HUMANAS E POLÍTICAS| Só um indivíduo de natureza vil ou superior ao homem pro- curaria viver isolado dos outros homens sem que a isso fosse constrangido. Quanto aos irracionais, que também vivem em permanente associação, eles constituem meros agrupamentos formados pelo instinto, pois o homem, entre todos os animais, é o único que possui a razão, o sentimento do bem e do mal, do justo e do injusto. Seguindo a teoria de Aristóteles, Cícero, na Roma Antiga, também defendia a ideia de que o homem tem uma disposição natural para a vida associativa. Do mesmo período medieval, Santo Tomás de Aquino afirmava que o homem é um ser político por fatores naturais e que a vida em isolamento é exceção, que pode se enquadrar em três situações distintas: • Excellentia naturae, quando o indivíduo for tão virtuoso quanto os santos eremitas; • Corruptio naturae, quando o indivíduo sofrer anomalias mentais; • Mala fortuna, quando, por acidente, o indivíduo passar a viver em isolamento. Dessa forma, podemos afirmar que nem toda reunião de pessoas é considerada uma sociedade, visto que é necessária a presença desses elementos. Contrapondo-se à teoria naturalista, contudo, há a teoria contratualista. Essa teoria defende que a sociedade é o resultado de um acordo de vontades, de um contrato hipotético celebrado entre os homens. Há entendimentos diversos sob a perspectiva da teoria contratualista, sendo que o ponto comum entre elas é a desconsideração da vida em sociedade como impulso natural; podemos dizer, sobretudo, que a vontade humana justifica a vida em sociedade. Thomas Hobbes, autor do Leviatã, de 1651, apresenta o entendimentode que, primeiro, o homem vivia em estado de natureza, referindo-se às épocas mais primitivas e à situação de desordem criada pela ausência de uma organização social, causando o que o autor chama de “guerra de todos contra todos”. Para Morin (2009, p. 48): CIÊNCIAS SOCIAIS, HUMANAS E POLÍTICAS 43| O mecanismo dessa guerra tem como ponto de partida a igual- dade natural de todos os homens. Justamente por serem, em princípio, igualmente dotados, cada um vive constantemente temeroso de que outro venha tomar-lhe os bens ou causar-lhe algum mal, pois todos são capazes disso. Thomas Hobbes defende, ainda, que a preservação da vida em sociedade depende de um poder visível, que mantenha os homens dentro dos limites da lei da natureza, obrigando-os a cumprir as suas obrigações. Esse poder visível, para o autor, é o Estado, que se caracteriza por um homem artificial, dotado de poder de proteção e defesa, que, mesmo que desempenhe suas funções de maneira ineficiente, deve ser mantido, pois a sociedade dá segurança aos homens e deve ser preservada a qualquer custo. Locke defende que o Estado apenas deve reconhecer e proteger direitos preexistentes, visando o bem comum, tendo em vista que não tem o poder de constituir quaisquer direitos, como supunha Hobbes. As teorias de John Locke são forte influência para a proposta liberal em crescimento na atualidade, defendendo a pouca intervenção do Estado na vida do indivíduo. Seguindo o desenvolvimento das teorias contratualistas, Montesquieu, em 1748, na sua obra O espírito das leis, defende o estado de natureza, mas insere o homem nesse cenário como um ser amedrontado, que precisa dos seus semelhantes para se sentir fortalecido e buscar a paz. No entanto, depois da formação das sociedades há o que o filósofo acredita ser o início da guerra, entre sociedades ou entre indivíduos, justificando assim a existência de um Estado para controlá-los, por meio das leis. Retomando a ideia de Thomas Hobbes, surge Jean-Jacques Rousseau, em 1762, com a obra O contrato social. Para Rousseau, é a vontade, não a natureza humana, o fundamento da sociedade: no estado de natureza, o homem só se preocupa com a sua individualidade e não há condições de permanecer vivo, sendo necessária a união de esforços para que seja alienada a vontade de cada um em prol da vontade geral, o que o filósofo chama de contrato social. Essa associação cria o Estado, que se torna responsável por proteger a sociedade e manter a ordem social. O autor afirma que esse temor é responsável pela iniciativa agressiva dos homens. 44 CIÊNCIAS SOCIAIS, HUMANAS E POLÍTICAS| Figura 01: Jean-Jacques Rousseau, filósofo e teórico político, e seu O contrato social influenciaram o Iluminismo e a Revolução Francesa. Fontes: https://bit.ly/3Ifm6YV; https://bit.ly/3Ih3F60 (Reprodução). 2. pArA cOmpreender durkheim e O pensAmentO 2. pArA cOmpreender durkheim e O pensAmentO sOciOlógicO: O ObjetO – A sOciedAdesOciOlógicO: O ObjetO – A sOciedAde O desenvolvimento técnico-cientifico proporcionado pela Revolução Industrial foi o elemento central que impulsionou rupturas na estrutura social das sociedades europeias do século XIX. Os processos de industrialização, urbanização, êxodo rural e globalização tomaram força e marcaram a sociedade moderna. Esse foi o momento de consolidação do capitalismo moderno enquanto forma de produção vigente na sociedade ocidental, trazendo uma sociedade individualizada, especializada e com alta densidade populacional, ambiente que favoreceu as consciências individuais a ganharem mais espaço. Durkheim (1996) entendia que a sociedade capitalista moderna é marcada por uma grande liberdade dos indivíduos para agir e pensar, pela diferenciação e especialização de suas formas de trabalho e pela dependência entre eles, visto que a divisão do trabalho seria o melhor caminho para superar as questões acerca da luta pela sobrevivência. CIÊNCIAS SOCIAIS, HUMANAS E POLÍTICAS 45| O fato social é então o conceito central da teoria de Durkheim (1977, p. 11), segundo o qual: É fato social toda maneira de agir fixa ou não, suscetível de exercer sobre o indivíduo uma coerção exterior; ou então ainda, que é geral na extensão de uma sociedade dada, apresentando uma existência própria, independente das manifestações indivi- duais que possa ter. Sendo assim, os fatos sociais teriam as seguintes características: • Externalidade Isto é, sua propriedade de ser externo e independente dos indivíduos. Essa externalidade diferencia o fato social daquilo que Durkheim (1996) chamava de fenômenos orgânicos (relacionados às características físicas e biológicas) e fenômenos psíquicos (relacionados às características psicológicas), que fazem parte do ser individual, enquanto os fatos sociais integram o ser social. A externalidade do fato social não significa que as consciências individuais sejam dispensáveis para sua existência. Na mesma medida em que a consciência coletiva só é possível a partir da existência de um grupo de consciências individuais, o ser social só existe a partir da existência de um ser individual. O que Durkheim ressaltava nos fatos sociais é a sua capacidade de existir na sociedade, agindo sobre os indivíduos que a ela pertençam. • Potencial coercitivo A segunda característica definidora do fato social é seu potencial coercitivo sobre as consciências individuais. Segundo Durkheim (1996, p. 2): “Estes tipos de conduta ou de pensamento não são apenas exteriores ao indivíduo, são também dotados de um poder imperativo e coercitivo, em virtude do qual se lhe impõem, quer queira, quer não”. De modo geral, essa coerção é branda, pois grande parte dos fatos sociais está naturalizada pelos indivíduos. Entretanto, Durkheim (1977) apontava que alguns fatos sociais se impõem de maneira incisiva, com uma coerção violenta, por exemplo, quando uma pessoa viola alguma lei, cometendo um crime. 46 CIÊNCIAS SOCIAIS, HUMANAS E POLÍTICAS| • Tendência a ser geral A terceira característica do fato social é sua tendência a ser geral na sociedade. O fato tende a se generalizar na sociedade por ser social e, não, o contrário. Logo, a generalidade é causa e efeito das primeiras duas características: externalidade e coercitividade. Os costumes, direito e padrões morais são fatos sociais que se aplicam à sociedade como um todo, independentemente das manifestações individuais. Impõem-se sobre todas as consciências individuais, por fazerem parte da consciência coletiva, como elemento agregador e estabilizante da vida em sociedade. 3. pArA cOmpreender mArx e O prOjetO revOluciOnáriO3. pArA cOmpreender mArx e O prOjetO revOluciOnáriO O pensamento de Karl Marx se concentrou no desenvolvimento do capitalismo a partir de suas contradições sociais. As relações conflituosas entre as classes sociais do capitalismo industrial eram entendidas como motor de desenvolvimento da sociedade capitalista. FFIQUEIQUE ATENTOATENTO O desenvolvimento posterior do pensamento marxista levou outros pensadores a ampliarem as teses originais de Marx para o entendimento de outros aspectos da sociedade moderna e relegaram uma importante contribuição para o entendimento sociológico dos conflitos sociais. Como o pensamento e a abordagem marxista pode auxiliar a compreender os conflitos e problemáticas geradas pelo desenvolvimento do capitalismo moderno? A inovação de Marx, para a análise histórica e social, foi o método materialista e dialético. Seu pensamento se desenvolveu a partir de três fontes: a filosofia hegeliana, a economia política liberal e as ideias socialistas de sua época. CIÊNCIAS SOCIAIS, HUMANAS E POLÍTICAS 47| A abordagem marxista pode ser resumida da seguinte maneira: para se compreender a vida social, deve-se examinar o desenvolvimento de antagonismos e conflitos (dialética) entre as classes sociais envolvidas em relações de produção econômica (materialismo). A filosofia idealista foi uma concepção filosófica que afirmavaque a história humana era produto do desenvolvimento do pensamento e das ideias. Ao longo da história, as ideias entravam em contradição umas com as outras, e a superação dessa contradição levava à criação de uma ideia mais universal. Esse era o movimento dialético das ideias que produzia a história humana. Karl Marx pensava que o idealismo havia desconsiderado que a história humana é feita por homens em relações sociais e econômicas. Dessa forma, não é o conflito de ideias e maneiras de pensar que move a história, mas esta é feita por homens vivendo em sociedade e estabelecendo relações sociais entre si. As ideias são, na verdade, produto das relações sociais entre os seres humanos. Para Marx, as ideias humanas existem para explicar ou até mesmo justificar essas relações sociais. Assim, ele inverteu o pensamento idealista e foi em busca do entendimento do movimento histórico real das sociedades humanas e não de um movimento abstrato das ideias. As relações sociais fundamentais seriam as de produção, pois estavam diretamente ligadas à sobrevivência dos indivíduos. No início da história da humanidade, era na família que ocorria a maior parte das relações de produção, com o trabalho sendo dividido em tarefas masculinas e femininas, havendo apenas uma divisão natural e sexual do trabalho. Nessa época, as pessoas viviam em comum, sem qualquer tipo de propriedade privada dos meios de produção. Esse período da história era o chamado comunismo primitivo, pois era uma época em que a principal divisão social do trabalho se dava no interior da família. Os meios de produção são as máquinas, ferramentas, terras, matérias-primas e tudo o mais que for necessário ao processo produtivo de trabalho. Com a propriedade privada, uma classe social é dona dos meios de produção e a outra, de sua força de trabalho. 48 CIÊNCIAS SOCIAIS, HUMANAS E POLÍTICAS| Figura 02: Marx e sua maior obra, O capital, em que faz uma análise profunda da sociedade capitalista. Fonte: https://amzn.to/35kvwUP (Divulgação). Conforme Martins (2006), com o desenvolvimento histórico e econômico, surgiram divisões sociais do trabalho, por exemplo, entre trabalho manual e intelectual, e a divisão entre proprietários e não proprietários dos meios de produção. Enquanto no comunismo primitivo as divisões sociais eram basicamente por idade e sexo, ao longo da história, a propriedade privada dos meios de produção emergiu, provocando a divisão social em classes sociais. Ao viverem e trabalharem em uma sociedade em que existe a propriedade privada, os seres humanos se dividem entre aqueles que detêm a posse dessa propriedade e aqueles que detêm apenas sua força de trabalho. O trabalho é a atividade produtora de bens ou serviços que os seres humanos realizam para satisfazerem suas necessidades. Para Marx (1980), é a partir das condições reais de produção (trabalho) que se deve começar a entender os seres humanos: A maneira pela qual os indivíduos manifestam a sua vida reflete muito exatamente o que são. O que eles são coincide, portanto, com a sua produção, tanto com o que produzem, quanto com a maneira pela qual produzem. O que os indivíduos são depen- de, portanto, das condições materiais de sua produção. (HALL, 2003, p. 85). CIÊNCIAS SOCIAIS, HUMANAS E POLÍTICAS 49| A vida humana em sociedade não pode ser compreendida apenas pelo entendimento das ideias e concepções que os seres humanos criam acerca de si, mas, sobretudo, pelas relações de produção econômica que esses indivíduos criam para conseguirem sobreviver. Nesse sentido, Hall (2003, p. 37) afirma que: [...] na produção social da sua vida os homens entram em deter- minadas relações, necessárias, independentes da sua vontade, relações de produção que correspondem a uma determinada etapa de desenvolvimento das suas forças produtivas materiais. A totalidade destas relações de produção forma a estrutura eco- nômica da sociedade, a base real sobre a qual se ergue uma superestrutura jurídica política, e à qual correspondem determi- nadas formas da consciência social. O modo de produção da vida material é que condiciona o processo da vida social, política e espiritual. Não é a consciência dos homens que determina o seu ser, mas, inversamente, o seu ser social que determina a sua consciência. Na opinião de Quintaneiro (2002), Marx (2008) utiliza as forças produtivas materiais, que são compostas pela combinação entre a força de trabalho disponível e os meios de produção. A combinação entre estas e as relações de produção forma a estrutura econômica da sociedade, a qual constitui o alicerce sob o qual se formam os outros campos da vida social (superestrutura), como as leis e o direito, o Estado e a política, as crenças religiosas, o pensamento filosófico e científico, o senso comum e os valores culturais. A análise social começa com o entendimento das estruturas econômicas, isto é, das relações de trabalho criadas pelos seres humanos, que determinam a estrutura social de classes e os conflitos que decorrem dos antagonismos entre elas. A seguir, conheça mais sobre a estrutura social: a. Classe social Na visão de Hall (2003), Marx define como um conjunto de indivíduos que compartilham determinada classe social, condição social, em virtude do lugar que ocupam nas relações sociais de produção. Além disso, para que forme realmente uma classe, esse grupo social deve ter consciência política de seus interesses e papel na sociedade e deve ativamente participar da luta política pelo poder social. 50 CIÊNCIAS SOCIAIS, HUMANAS E POLÍTICAS| b. Luta de classes De acordo com Lima (2000), a dinâmica de luta de classes ou a disputa política (poder político), econômica (distribuição da renda) e social (crenças e valores) entre classes sociais, condiciona todos os outros campos da vida social e explica seu dinamismo e contradições, como a definição de políticas pelo Estado ou a criação jurídica de leis que regulamentam a sociedade. Marx pensava que as sociedades humanas evoluem, isto é, mudam de um estado social para outro, em virtude do acirramento dos conflitos sociais, justamente em decorrência do avanço da exploração do trabalho de uma classe sobre a outra. A economia capitalista é formada basicamente por duas classes: a dos proprietários dos meios de produção e a dos que oferecem sua força de trabalho. Os empresários que são os donos dos meios de produção, das terras e máquinas são chamados de burgueses, e os trabalhadores assalariados, detentores apenas de sua força de trabalho, de proletários. Os burgueses e os proletários poderiam determinar livremente as condições de trabalho e a forma de remuneração, sem qualquer tipo de constrangimento. Na época de Marx, as regulamentações sobre os contratos de trabalho eram esparsas ou até mesmo inexistentes, o que levava a condições e relações de trabalho degradantes. 4. A ideOlOgiA Alemã de4. A ideOlOgiA Alemã de Weber e A cOndutA dO indivíduOWeber e A cOndutA dO indivíduO Como já mencionado, a sociologia precisava de um método. Durkheim, ao propor um método específico para a ciência que estava instituindo, definiu também o objeto de estudo dessa ciência: o fato social. Além disso, o autor demonstrou que os fatos sociais têm características próprias, que se distinguem das que ocorrem nas demais ciências. Dessa maneira, os fatos sociais devem ser tomados como “coisas”. E, assim como as “coisas da natureza” acontecem independentemente da ação humana, também ocorre com as “coisas da sociedade”. Seguindo a compreensão durkheimiana, a realidade se impõe ao sujeito. CIÊNCIAS SOCIAIS, HUMANAS E POLÍTICAS 51| Para Durkheim, o ser humano é o resultado de uma construção histórica, escrita em uma consciência coletiva, que age sobre ele de forma coercitiva para que ele se comporte de uma determinada forma. Assim, o homem seria um animal que se torna humano quando socializado, quando aprende hábitos e costumes característicos de seu grupo social: a socializaçãoé o processo de aprendizagem da consciência coletiva. É por meio dela que aprendemos as regras e normas de comportamento esperadas em uma determinada sociedade, e são as instituições sociais (a família, a escola, a igreja) que têm essa função (HALL, 2003, p. 73-79). Vejamos um exemplo: aprendemos que brincar de boneca e “casinha” é “coisa de menina”, e brincar de “carrinho” ou de “luta” é “coisa de menino”. Ou seja, de modo geral, nossas preferências não são escolhas individuais, mas determinadas pela sociedade. Observe que a consciência coletiva é o conjunto de crenças e de sentimentos comuns da população de uma determinada sociedade, formando um sistema com existência própria e que exerce uma força coercitiva sobre os membros. “É um sistema que existe fora dos indivíduos, mas que os controla, ditando as maneiras de agir, de pensar e de sentir em sociedade” (HALL, 2003, p. 90). Logo, percebemos que a educação dada às crianças é uma forma de introdução à consciência coletiva, uma vez que elas são ensinadas a comer, a beber, a falar, a se vestir de acordo com as normas e os padrões sociais vigentes. Qualquer desvio dos padrões pode ocasionar um isolamento do indivíduo. Assim, a criança sofre uma pressão da sociedade para que se molde à sua imagem e semelhança. Assim, para Weber, o progresso histórico que resultou na sociedade moderna foi regido por uma redução lógica da vida social, uma crescente racionalização da vida. A modernidade não representa apenas uma diferenciação da economia capitalista e do Estado, mas também uma reordenação racional da cultura e da sociedade. Em seus estudos sobre o processo histórico de transição das sociedades tradicionais às sociedades modernas, buscando determinar as causas do progresso e do desenvolvimento de novas e avançadas formas de sociedade, de ciência, das artes, do aprendizado e da tecnologia, Weber identificou, como característica central, o crescente progresso racional e secular em contraposição ao mundo tradicional e sagrado da sociedade ocidental. 52 CIÊNCIAS SOCIAIS, HUMANAS E POLÍTICAS| CCURIOSIDADEURIOSIDADE Para aprofundar nossos estudos, indico a leitura do livro “Sociologia” (6. ed., editora Penso, 2012) de Giddens, que nos traz o tema desta unidade com grande maestria e clareza na execução e domínio das atividades sociologias com o homem. Figura 03: “Sociologia” de Anthony Giddens. Fonte: https://amzn.to/3Ijmoy6 (Divulgação). Segundo Martins (2006, p. 91), a sociologia weberiana é a ciência que busca compreender a ação social. Tal compreensão implica identificar a percepção do sentido que o indivíduo atribui à ação, ou seja, compreender o sentido que cada ator dá a sua própria conduta. Nesse sentido, a ação social é uma ação que, quanto ao sentido visado pelo agente, ou pelos agentes, refere-se ao comportamento de outros indivíduos. É a ação dos indivíduos, quando orientada em relação a outros indivíduos, estabelecendo algum sentido (uma comunicação, um sentido compartilhado). CIÊNCIAS SOCIAIS, HUMANAS E POLÍTICAS 53| Dessa forma, Weber elege como objeto de investigação a ação social, a conduta humana dotada de sentido. “Assim, o homem ganhou, na teoria weberiana, significado e especificidade. O homem dá sentido à ação social: estabelece a conexão entre o motivo da ação, a ação propriamente dita e seus efeitos” (MORIN, 2009, p. 63). É por meio dos valores sociais e de sua motivação que o sujeito produz o sentido da ação social. Para que uma ação seja uma ação social, é preciso que o indivíduo tente estabelecer algum tipo de comunicação com os demais indivíduos envolvidos. Por exemplo, alguns eleitores definem seus votos orientando-se pela ação dos demais eleitores. Nesse caso, a ação só é compreensível se percebermos que a escolha feita teve como referência o conjunto dos demais eleitores. A ação tradicional é determinada por costume ou por hábito arraigado. Nesse tipo de ação, o agente reage de forma automática ao estímulo habitual. Ações desse tipo são orientadas por crenças tradicionais que agem como imperativos morais em julgamentos dos atores (MORIN, 2009, p. 48-49). São as ações cotidianas, em que os meios e fins são determinados pelos costumes, sem critérios de avaliação. Por exemplo, com a confiança estabelecida no conhecimento do professor, o aluno sequer questiona o saber que o docente demonstra ter, apenas acredita que o que está sendo ensinado é correto. A ação afetiva é determinada por afetos ou estados sentimentais, dependendo do estado mental do ator em uma dada circunstância (MORIN, 2009, p. 48-49). Por exemplo, a preferência que um aluno tem por um determinado professor, uma vez que, em muitos casos, o docente acaba reproduzindo os valores da comunidade e da família desse aluno, o que aproxima ao padrão de afetividade vivenciado. A ação racional relacionada a valores é determinada pela crença consciente em um valor importante. O objetivo do ator é colocar em prática suas convicções, confirmar seus valores, seu dever, sua honra, sua beleza, sua religiosidade, sua lealdade pessoal (LIMA, 2000, p. 84). Por exemplo, a confiança no conhecimento das pessoas que possuem maior qualificação: especialistas, mestres, doutores. 54 CIÊNCIAS SOCIAIS, HUMANAS E POLÍTICAS| A ação racional relacionada a fins é determinada pelo cálculo racional dos meios necessários para atingir determinado fim. É o tipo mais racional de ação. Nela, o ator é livre para escolher os meios para atingir fins racionais. Por exemplo, a escolha de uma instituição de ensino mais renomada, comprovadamente mais qualificada, com professores mais titulados, visando obter um diploma mais valorizado, que pode “abrir portas” no futuro. Além das ações sociais, outro ponto relevante para o estudo de Weber são os tipos ideais, construções teóricas que não se encontram na realidade e funcionam como uma espécie de caricatura do tipo social em virtude dos “exageros” das características fundamentais do tipo. Os tipos ideais são construídos a partir da representação dos traços típicos dos indivíduos envolvidos na ação social. Por exemplo, quando pensamos em um gaúcho, pode vir a nossa mente um indivíduo vestindo bombacha, tomando chimarrão e comendo churrasco. Estas são as características típicas desse indivíduo; um “exagero” seria encontrar um indivíduo representando todas as características ao mesmo tempo. Para Weber, é a partir dessa construção metodológica que o sociólogo pode identificar a motivação da ação social. “O tipo ideal não é um modelo a ser alcançado nem um acontecimento observável. É uma construção do pensamento, uma ‘lupa’ que auxilia o cientista” (LIMA, 2000, p. 65). Por isso, devemos lembrar sempre: o tipo ideal é apenas ideal, não é real, não é um modelo perfeito nem desejado pelas formações sociais, não é observável na realidade. O tipo ideal é apenas um instrumento de análise científica, que ajuda na construção de conceitos sobre fenômenos e formações sociais, permitindo ao pesquisador identificar as motivações (o sentido, o significado) das ações individuais manifestas na realidade observada. Nesse sentido, A tarefa da sociologia é interpretar esse agir de modo que ele se torne um agir compreensível, e isto significa, sem exceção, um agir de homens que se relacionam uns com os outros (LIMA, 2000, p. 67). Dessa forma, podemos dizer que a perspectiva sociológica proposta por Weber coloca a ação dos indivíduos e suas motivações no centro dos fenômenos sociais. O pesquisador deve, com base nessa abordagem, investigar as motivações individuais para compreender como a sociedade em que está inserido funciona. CIÊNCIAS SOCIAIS, HUMANAS E POLÍTICAS 55| Em seus estudos, Weber observou que a organização burocrática se tornou o padrão para a política, a economia e a tecnologia moderna, como uma forma de administração tecnicamente superior. Assim, ele compreende a racionalização da atividade política pela administração no Estado modernoenquanto forma de criar um Estado governado dentro dos limites legais e com leis racionalmente descritas. Em cada época, um determinado tipo de educação era mais valorizado pelas organizações políticas (Estado e empresas privadas). No período medieval, a educação europeia estava associada às instituições religiosas (monastérios) e se destinava apenas a uma parcela muito restrita da população. O “ser educado” estava atrelado a uma compreensão quase sagrada; possuir os conhecimentos era exclusividade dos sábios. No medievo, ainda segundo Weber, a educação se destinava a uma população mais culta, à valorização de bens culturais e artísticos, isso porque a posse desses bens servia para diferenciar socialmente os dominantes dos dominados. A transição para a sociedade moderna alterou o tipo de educação. A necessidade de criação de uma administração racional do Estado forçou a constituição de uma educação voltada para a especialização, mais racional. Quadro 01: Comparativo entre Durkheim, Marx e Weber. DURKHEIM MARX WEBER MÉTODO Abordagem funcionalista dos fatos sociais. Materialismo histórico com atenção à produção. Sociologia compreensiva da ação social. EPISTEMOLOGIA Holismo, primado do objeto. Holismo, primado do devir. Individualismo, primado do sujeito. TEORIA POLÍTICA É necessária uma nova moral que equalize o descompasso entre estrutura e interação social. É necessária uma ação política pela via comunista. É necessário burocratizar o sistema político para evitar oportunismos. TEORIA DA MODERNIDADE A anomia é o grande problema do mundo moderno. A modernidade é marcada pela emergência do modo de produção capitalista. A racionalização como grande característica da modernidade. Fonte: https://bit.ly/33G6ajn (Adaptado). 56 CIÊNCIAS SOCIAIS, HUMANAS E POLÍTICAS| 5. utOpiA e éticA revOluciOnáriA em mArx 5. utOpiA e éticA revOluciOnáriA em mArx A obra de Marx está repleta de referências ao papel central dos trabalhadores no processo de construção histórica da sociedade. Pesquisador e agente revolucionário, abriu um paradigma científico novo, uma corrente de pensamento composta por uma vasta gama de pesquisadores, de várias ciências, em especial das ciências sociais aplicadas, conhecidos como marxistas. Marx é considerado o criador da economia política como um ramo autônomo de pesquisa. Sua influência na construção da sociologia é indiscutível. Na obra de Marx, encontramos uma grande variedade de temas de análise, porém, o principal legado deixado pelo autor para a ciência social é a investigação do processo histórico em que a humanidade “emerge” da história natural e constrói sua própria história. Para isso, Marx elaborou uma metodologia específica, denominada materialismo histórico-dialético. O termo materialismo é utilizado porque a metodologia marxiana parte da análise da base de produção material da sociedade. Para Marx, o estudo da sociedade deve começar sempre por sua economia, a vida material do homem que é, segundo o autor, o elemento que condiciona todo o desenvolvimento da vida social. O método é também histórico, uma vez que devemos buscar a origem do que ocorre na realidade social no processo cíclico da história humana da produção material da vida. Para Marx, existe uma relação entre os indivíduos e a sociedade que faz com que ambos se modifiquem, desencadeando um processo histórico-social. Essa relação de modificação mútua entre homem e sociedade acontece de forma dialética. Unindo os termos, podemos dizer que o materialismo histórico- dialético é a teoria crítica que concebe a realidade social como produto da produção material da vida. O materialismo histórico-dialético está comprometido com a transformação da sociedade, pois, além de explicar a realidade a partir da produção da vida material, tem como objetivo que essa explicação possa conscientizar os grupos desfavorecidos (minorias étnicas, trabalhadores assalariados, camponeses etc.) sobre seu papel central no processo de produção da sociedade capitalista. CIÊNCIAS SOCIAIS, HUMANAS E POLÍTICAS 57| O método pretende ainda revelar os interesses dominantes, os interesses dos capitalistas, ou seja, o interesse em manter a sociedade tal como ela está. Dessa forma, busca demonstrar a condição da classe trabalhadora como central no processo de produção e, portanto, a classe central na estrutura de uma sociedade que é regida pelo sistema de produção. Visa, por fim, identificar o grau de sua alienação no processo de produção. A infraestrutura é a dimensão econômica da sociedade, o conjunto das forças produtivas (matérias-primas e meios de produção) e das relações de produção (interações que os homens estabelecem entre si nas atividades produtivas). São as forças produtivas que condicionam quais as relações de produção que serão estabelecidas. A superestrutura é utilizada para regular a sociedade que está dividida em classes sociais (relações que os homens estabelecem no processo produtivo). Para esse controle, criou-se o Estado e, juntamente com ele, uma base ideológica de controle social. O Estado e a ideologia são, portanto, os dois elementos que compõem a superestrutura. Assim, as desigualdades desencadeadas pelas relações de produção que dividem os homens entre os proprietários dos meios de produção e os não proprietários são responsáveis pela criação da sociedade de classes, ou seja, uma sociedade caracterizada pela desigualdade. Karl Marx construiu as bases da economia política a partir de alguns pressupostos, que são, segundo a apresentação de Lima (2000): A produção da vida material: os homens devem estar em condições de viver para fazer a história. Esse pressuposto nos ensina que as condições de subsistência dos homens precisam ser garantidas para que eles possam construir suas vidas. Por exemplo, para que possamos trabalhar, precisamos de condições mínimas de trabalho, além de ter uma boa alimentação, boa saúde, qualificação para o trabalho etc. A produção de novas necessidades: após satisfeita a primeira necessidade do homem, completada a ação e adquirido o instrumento para essa satisfação, criam-se novas necessidades. Uma necessidade gera novas necessidades. Por exemplo, a necessidade de trabalhar em horário de almoço gera a necessidade de dispor de um local adequado no ambiente de trabalho para as refeições. 58 CIÊNCIAS SOCIAIS, HUMANAS E POLÍTICAS| A família: os homens se reproduzem, renovam diariamente sua própria vida e criam outros homens. O Estado social: é um modo de produção ou um estágio industrial que está sempre ligado a um modo de cooperação social. Cada estágio de desenvolvimento econômico cria um modelo de Estado correspondente a suas necessidades. Para que a classe dominante continue sendo a burguesia, há a necessidade de manter o Estado sob o domínio da burguesia. A cada novo processo eleitoral em que a classe trabalhadora ameaça tomar o poder, as forças de domínio burguês desenvolvem mecanismos para garantir sua permanência. A produção social: está ligada à consciência humana que nasce da existência de intercâmbio com outros homens. Assim como as forças de poder do Estado dependem do modo de produção, este determina a forma como os homens pensam socialmente, definindo sua base ideológica. As diferentes abordagens são baseadas nas contribuições dos fundadores da ciência, Émile Durkheim, Max Weber e Karl Marx, e constituem um conjunto vasto e diverso que vai desde abordagens funcionalistas (destaque para a contribuição de Durkheim) até as que apresentam uma reflexão mais crítica, com base em uma contribuição marxista da educação. Figura 04: A educação é um fenômeno social. Fonte: https://bit.ly/3FXjpK7. CIÊNCIAS SOCIAIS, HUMANAS E POLÍTICAS 59| Os estudos sociológicos sobre a educação se iniciaram com Durkheim dentro do movimento de criação da própria ciência, pois a educação pode ser tomada como um objeto sociológico por excelência. Segundo Martins (2006, p.102), “[...] a Sociologia é capaz de estabelecer conexões, pontes ou, se preferir, links entre processos e instituições educacionais, de um lado, e os processos e instituições sociais mais gerais, de outro”. Devido à complexidade de temáticas de pesquisa, os estudos sociais sobre a educação precisam dar conta tanto de temas mais gerais a respeito da educação (como estudos acerca das competências do Estado sobre o sistema educativo, estudos sobre a legislação educacional, entre outros) quanto das relações com a sociedade (por exemplo, estudos sobre a contribuição da escolarização no mercado de trabalho, sobre modelos de educação específicos, como educação profissional, capacitação, entre outros). Além disso, precisam abranger também estudos a respeito da interação entre a escola e a comunidade em que ela está inserida (como estudos sobre a relação família e escola, sobre a escolarização dos pais, líderes comunitários, entre outros) e estudos mais específicos sobre as condições sociais da sala de aula (por exemplo, estudos sobre o nível socioeconômico dos alunos, sobre a organização dos horários de aula, entre outros). Essa visão economicista da educação ganhou força com o passar dos anos; e podemos encontrá-la ainda nos dias atuais, especialmente em políticas que tomam a educação como um instrumento impulsionador do crescimento econômico e como base de distribuição das oportunidades e de redistribuição de bens e serviços sociais. Os principais temas de pesquisa nessa perspectiva são referentes às desigualdades sociais alimentadas pelo sistema de ensino ou pelas desigualdades de acesso à educação, como: • A mobilidade social (indicadores de ascensão ou rebaixamento de posição social); • Os mecanismos de seleção escolar (estudos sobre critérios de seleção como classe social, raça, etnia, gênero); • A democratização do ensino. 60 CIÊNCIAS SOCIAIS, HUMANAS E POLÍTICAS| Além dessa abordagem economicista, a vertente funcionalista apresenta também pensadores que atribuem à educação um papel fundamental na distribuição de bens culturais e simbólicos. Talcott Parsons foi um importante sociólogo que revisou as obras de pensadores pioneiros da sociologia – Max Weber, Vilfredo Pareto e Émile Durkheim – buscando construir uma grande teoria funcionalista sobre a ação humana, entendida por ele como algo voluntário (que independe de imposições), intencional (que possui uma motivação) e simbólico (que possui algum significado para o agente). Na sociologia, o pensamento de Parsons é considerado uma tese pós-positivista da ciência, isso porque ele desenvolveu uma teoria empirista, ou seja, baseada na experiência e na observação, respaldando- se em uma base teórica que confere à sociologia um caráter científico. Para isso, o autor reafirma a importância do ordenamento da coleta e análise de dados empíricos para além do trabalho de campo, de tal forma que o trabalho teórico seria, para ele, uma condição essencial para produzir generalizações necessárias à compreensão da sociedade. Essa divisão da escola, segundo a explicação dos autores, ocorre desde o começo da vida escolar das crianças, de tal forma que os filhos dos trabalhadores estão destinados a não atingir os níveis superiores e são encaminhados para as atividades manuais. Dessa forma, a escola acaba por dividir o aprendizado das crianças para o trabalho intelectual e para o trabalho manual, reproduzindo a estrutura da sociedade capitalista. Tal diferença coloca essa escola em situações antagônicas, que corresponde à estrutura também antagônica da sociedade: burguesia e proletariado. Assim, a escola constrói relações educativas diferentes, como escola voltada para a formação do alunado de origem proletária e a escola voltada para a educação burguesa. ...a escola acaba por dividir o aprendizado das crianças para o trabalho intelectual e para o trabalho manual, reproduzindo a estrutura da sociedade capitalista. CIÊNCIAS SOCIAIS, HUMANAS E POLÍTICAS 61| FFIQUEIQUE ATENTOATENTO A desigualdade social, portanto, se reproduz na escola, pois a criança já traz do meio social sua submissão ou dominação. Essa divisão social que a escola reproduz determina as oportunidades futuras do alunado. Os filhos dos proletários estão destinados a não atingir os níveis superiores escolares, mas sim as atividades de trabalhos manuais. Assim, a escola age como um aparelho ideológico, contribuindo para a formação de forças de trabalho, mantendo o proletariado sob o domínio dos interesses burgueses, contendo-os e dominando-os. Nessa perspectiva, as diferenças entre sucesso e fracasso escolar não estão associadas aos indivíduos, mas, sim, a suas origens sociais. Em seus estudos, Establet e Baudelot identificam duas funções básicas da escola: contribuir para a formação da força de trabalho e a inculcação da ideologia burguesa. Ambas as funções são interdependentes. Segundo os autores, na formação da força de trabalho as práticas escolares realizam o processo de inculcação ideológica. Isso é feito, ainda segundo os autores, de duas formas concomitantes: a inculcação explícita da ideologia dominante e a sujeição e disfarce da ideologia proletária. O contexto vivido na primeira metade da década de 1980 do século XX era de transição do período militar para o governo democrático. Em 1985, ocorreu a primeira eleição para a presidência da república. Foi o resultado de intensas manifestações pelas “Diretas Já”, apesar de ainda ter ocorrido sob medidas restritivas da época da ditadura militar, ou seja, não foram eleições diretas como as que temos hoje. Foram, no entanto, parte de um importante processo de democratização no país. 62 CIÊNCIAS SOCIAIS, HUMANAS E POLÍTICAS| Figura 05: Importância das eleições como efeito social. Fonte: https://bit.ly/3qXDw6I (Reprodução). Nessa eleição, foi eleito o presidente Tancredo Neves e seu vice, José Sarney. Contudo, Tancredo faleceu, assumindo a presidência o vice- presidente eleito. Havia, então, um intenso movimento de toda a sociedade que pressionava o governo militar pelas “Diretas Já”. Juntamente a isso, havia uma pressão internacional para que o Brasil garantisse direitos aos seus cidadãos. Tudo isso aliado a um contexto de instabilidade econômica que barrava o crescimento econômico do país. Os movimentos sociais ganharam forças suficientes para a garantia de muitos pleitos na elaboração da nova Constituição Brasileira. Foram intensos processos de participação popular construindo propostas e pressionado, inclusive presencialmente, o Congresso Nacional em Brasília. Muitos grupos de pessoas acampavam na capital como forma de pressão popular. Com a promulgação da Constituição Cidadã, em 1988, o Brasil construía alicerces importantes para a garantia de direitos de forma igualitária a todos. Mas, como você já sabe, não basta estar escrito, mas é preciso dar legitimidade ao que está posto. Para isso, são necessárias a informação e a divulgação dos direitos garantidos constitucionalmente. Foi e ainda é um processo gradual a materialização daquilo que está posto na Constituição brasileira. É constante o embate entre a garantia de acesso a políticas públicas e a falta de recursos destinados à execução dessas políticas com qualidade suficiente. CIÊNCIAS SOCIAIS, HUMANAS E POLÍTICAS 63| Você deve prestar atenção aqui para as disputas de interesses de projetos políticos de sociedade divergentes que também ocorriam na época da promulgação da Constituição Federal de 1988. Ao mesmo tempo em que se garantiam direitos pela pressão popular, o contexto de recessão estava presente, assim como as pressões internacionais que exigiam, contraditoriamente, a garantia de direitos constitucionais, menos “gastos” com políticas públicas no Brasil. No pensamento de Aristóteles, podemos dizer que não há cidadania sem a garantia material dos direitos. Mas para que isso ocorra, a participação sob diversas formatações é fator primordial, vindoantes mesmo da cidadania? Mas como seria possível participar de algo que não temos conhecimento e informações que nos subsidiem? Portanto, é condição primeira que haja a disseminação de informações e a constante construção de conhecimento acerca de temas de interesse social para que a participação seja efetiva e promissora de conquistas de direitos. A sociedade de classes em que vivemos, atualmente, promove constantes embates entre grupos de classes sociais diferentes, marcando a existência de correlações de forças opostas. Nesse cenário, faz-se necessária a análise constante da realidade, balizada pela força da história socialmente construída e suas contradições, sob pena de banalização de injustiças sociais e retomada de forças contrárias às conquistas duramente garantidas constitucionalmente, por exemplo, a igualdade, a cidadania e a democracia minimamente consolidadas neste país. A participação da sociedade em espaços democráticos e deliberativos foi sendo enraizada institucionalmente, e gradativamente, após a Constituição de 1988. Ao mesmo tempo, nada seria instituído sem a participação massiva da sociedade para garantir que tais instâncias deliberativas e consultivas fossem viabilizadas. Porém, a participação efetiva em temas de interesse social somente é possível mediante a informação e compreensão dos temas discutidos e deliberados. 64 CIÊNCIAS SOCIAIS, HUMANAS E POLÍTICAS| A informação empodera os sujeitos sociais para a verdadeira transformação daquilo que se pretende. Caso não haja a democratização do acesso à informação, há o risco de passividade e manipulação de interesses coletivos em detrimento de interesses privados. Nesse aspecto, você pode avaliar a importância do papel profissional do assistente social, especialmente na condução de Conselhos de Direitos, como os Conselhos Municipais e Estaduais de Assistência Social, de Saúde, de Direitos da Criança e do Adolescente, do Idoso, dos Conselhos de Habitação, entre outros. As informações são condições essenciais para a compreensão das políticas públicas e de seu funcionamento local. Mas você deve estar pensando: e como posso utilizar na minha profissão? A utilização está bem clara, pois você tratará e associará os fundamentos humanísticos e sociais dentro do contato com pessoas, formação de equipes, estruturas financeiras, entre outras. Isso se destaca, sobretudo, quando consideramos o contexto histórico vigente, no qual teorias (como o darwinismo social, desenvolvido pelo filósofo inglês Herbert Spencer, na passagem do século XIX para o XX) defendiam a existência de uma cadeia evolutiva das sociedades. Assim, nessa rede evolutiva, a civilização europeia estaria no mais alto grau de desenvolvimento, enquanto as outras estariam próximas ou distantes dela. Em relação aos elementos de outras culturas. A diversidade cultural passou a fazer parte dos estudos antropológicos, dando base para a construção do campo de estudo intitulado antropologia da arte. Desse modo, a arte, como parte integrante da cultura de um povo ou uma sociedade, abriu as portas para uma antropologia das artes, como mais uma área de estudo das expressões artísticas. Assim como a antropologia, outra ciência humana tem relação com a cultura e a arte, a história, que, como ciência, estuda a ação humana ao longo do tempo e no espaço e, para desenvolver esse estudo, considera diferentes fontes: documentos escritos, relatos orais, documentos audiovisuais. Em outras palavras, pode ser utilizado como fonte tudo o que foi produzido pelo homem e demonstra como ele viveu, mas nem sempre foi assim. A história, ao se constituir como ciência, também passou por caminhos e descaminhos até chegar nessa atual definição. CIÊNCIAS SOCIAIS, HUMANAS E POLÍTICAS 65| No auge do racionalismo do século XIX, os documentos escritos, oficiais (produzidos pelo Estado) e que falassem dos grandes heróis da nação (governantes, figuras tidas como ilustres) eram os preferidos, pois se entendia que, assim, atribuía-se legitimidade à ciência que se buscava construir, mas, aos poucos, isso foi mudando. A própria pesquisa histórica era pautada apenas na descrição/narrativa dos documentos, porque ao historiador não caberia fazer uma análise dos acontecimentos, uma vez que se considerava o risco de ele contaminar a escrita da história com juízo de valores particulares. Mudanças sociais, no entanto, frutos de um processo histórico pelo qual passou o mundo no decorrer dos séculos XIX e XX, com alterações políticas, econômicas, grandes conflitos e guerras, trouxeram à tona questionamentos acerca do papel dessa ciência. Ao modificar sua atuação, a história passou a abordar novos sujeitos, por meio de novas fontes e objetos. Assim, percebeu-se, com o marxismo, que uma análise materialista da história não poderia ser feita apenas por meio de documentos que remetessem às elites políticas. Eram necessárias fontes que demonstrassem como o embate entre as classes aconteceu ao longo da história, modificando os sistemas de produção vigentes. Desse modo, as classes trabalhadoras, camponeses e operários também ganharam espaço como sujeitos que fizeram história ao participarem, ativamente, dessas mudanças. Mais uma vez, podemos constatar a importância que a cultura tem sobre os modos de se expressar a arte, além da relação que a ciência histórica, a arqueologia e a arte mantêm entre si. Nesse processo, as mudanças em torno das perspectivas históricas foram afetadas pelo contexto social do início do século XX. As potências europeias, consideradas parte de uma grande civilização, entraram em conflito duas vezes, no limiar do século XX. Os motivos e desenrolares da Primeira e da Segunda Guerras Mundiais evidenciaram barbáries humanas no seio do que se autodenominava a civilização mais evoluída. Nesse momento, questionou-se a noção de progresso, presente na sociedade ocidental, devido, em especial, ao rápido desenvolvimento tecnológico advindo da Revolução Industrial. 66 CIÊNCIAS SOCIAIS, HUMANAS E POLÍTICAS| Cresceu, assim, a investigação dos modos de vida dos seres humanos e como eles agem na transformação social ao longo do tempo. Essa transformação nem sempre é positiva ou evoluída, como as primeiras vertentes de historiadores ligados ao positivismo nos fizeram acreditar. Desse modo, os historiadores chegaram à conclusão de que era necessário olhar para todos os aspectos culturais dos grupos humanos que fossem estudados. Foi assim que a arte passou a ser pauta de estudos, pois, como afirmamos desde o início desta unidade, ela é uma parte integrante da cultura e, portanto, do fazer e do saber humano. Na passagem do século XIX para o XX, a história estava se tornando uma ciência e, como já exposto, as fontes consideradas fidedignas eram os documentos escritos (de preferência oficiais). Sendo assim, considerou-se que a história só teve início a partir da invenção da escrita e, desse modo, tudo aquilo que aconteceu antes foi denominado pré-histórico. Como as transformações afetaram o desenvolvimento dessa ciência e os afazeres do historiador, novos sujeitos foram sendo incorporados aos estudos históricos, a fim de compreender melhor o homem ao longo do tempo. Para tanto, novas fontes foram necessárias e foi assim que chegamos ao homem antes da invenção da escrita, ou seja, ao período conhecido como Pré-História. Destaca-se que, desde então, esse período deixou de ser visto com indiferença. Pelo contrário, conhecimentos relacionados ao homem, desde a sua gênese, foram e são significativos, para que possamos conhecer as relações humanas atuais. Como a história não é uma ciência só do passado, pois analisa a relação entre o passado e o presente, investigar o modo de vida do homem na Pré-História passou a fazer parte do ofício do historiador, a fim de compreender a ação humana ao longo do tempo. Assim, a arte, que está relacionada ao padrão estético de cada época, sociedade, cultura, passou a ser uma fontevaliosa na investigação histórica e, inclusive, pré-histórica. Do mesmo modo, a pesquisa histórica auxiliou os estudos da arte e de seu papel nas relações humanas. Feitas essas considerações, chegamos, enfim, ao nascimento das artes, aos períodos que dividem a Pré-História: Paleolítico e Neolítico. CIÊNCIAS SOCIAIS, HUMANAS E POLÍTICAS 67| PPRATIQUERATIQUE 1. Descreva o que é um fato social e exemplifique com um exemplo atual, com- parando com os fatores sociológicos. 2. Por que a sociedade é tão importante na formação do Homem? Explique. 3. Descreva o pensamento de Karl Marx dentro das atitudes modernas e exem- plifique. 4. Como a vida humana se forma na visão dos sociólogos? Exemplifique. 5. Descreva como o Homem é considerado um “ser animal” dentro dos parâme- tros da sociologia. 6. De acordo com o que estudou, você acha que as ações tradicionais contri- buem para a formação do Homem? Por quê? 7. Qual o papel dos trabalhadores dentro da sociedade? 68 CIÊNCIAS SOCIAIS, HUMANAS E POLÍTICAS| 8. Por que o materialismo é importante na formação do Homem e da sociedade? 9. Karl Marx construiu as bases da economia política a partir de alguns pressu- postos. Quais são esses pressupostos? 10. A desigualdade social pode ser considerada como fator de grandeza para a formação do Homem? Justifique. RRELEMBREELEMBRE Vimos, nesta unidade, que Durkheim define que o objeto da sociologia são os fatos sociais e seu método é o comparativo. Essas duas definições foram de grande importância para o desenvolvimento da sociologia enquanto ciência autônoma e delimitada em relação às outras ciências humanas. Émile Durkheim é considerado um dos fundadores da sociologia e da corrente funcionalista, que se mantém atual dada sua capacidade de analisar a sociedade em diversos aspectos relevantes. Comparando as sociedades arcaicas com as capitalistas modernas, o pensador identificou duas formas de vínculos sociais entre seus indivíduos: as solidariedades mecânica e orgânica. A mecânica é gerada pela semelhança entre os indivíduos, em grupos pequenos e de baixa divisão do trabalho. Por sua vez, Marx nos demonstra que o uso na sociedade é orgânico, é causado pela regulação das diferenças entre os indivíduos de uma sociedade e pela organização da cooperação entre eles, dada sua especialização. CIÊNCIAS SOCIAIS, HUMANAS E POLÍTICAS 69| Durkheim também estudou o papel das instituições para a estabilidade social e sua importância nos momentos de anomia, nos quais falta à sociedade um corpo de normas capaz de regular as relações entre os indivíduos dentro de uma rede de interdependência e especialização funcional. Já Weber nos demonstra o equilíbrio entre o homem e a sociedade com foco na aplicação dos cuidados humanísticos, e mais tarde Durkheim aprimoraria e definiria seu estudo sobre o suicídio, demonstrando que ele contém vieses que não são apenas psicológicos e individuais, mas, também, sociais. Por fim, vimos que o funcionalismo de Durkheim observa a sociedade enquanto um organismo vivo, composto por diversas partes diferentes e especializadas, entre as quais se forma uma rede de interdependência que é a base para as relações sociais, valorizando o estudo das estruturas sociais e seu impacto sobre os indivíduos. RREFERÊNCIASEFERÊNCIAS ANDERY, M. A et al. Para compreender a ciência: uma perspectiva histórica. São Paulo: Espaço e Tempo, 2007. CHAUÍ, Marilena de Souza. Convite à filosofia. São Paulo: Ática, 2009. DURKHEIM, Émile. Da divisão do trabalho social. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1999. HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Rio de Janeiro: DP&A Editora, 2003. LIMA, Luiz Costa. Teoria da cultura de massa. São Paulo: Paz e Terra, 2000. MARTINS, Carlos Benedito. O que é sociologia. São Paulo: Brasiliense, 2006. 70 CIÊNCIAS SOCIAIS, HUMANAS E POLÍTICAS| MORIN, Edgar. Ciência com consciência. Rio de Janeiro: Bertrand, 2008. MORIN, Edgar. Cultura de massas no século XX: espírito do tempo - neurose. Vol.1. Rio de Janeiro: Forense, 2009. QUINTANEIRO, Tânia et al. Um toque de clássicos: Marx, Durkheim, Weber. Belo Horizonte: UFMG, 2002. WEBER, Max. Ensaios de sociologia. Rio de Janeiro: LTC, 1996 AANOTAÇÕESNOTAÇÕES Rua Coletor Antônio Gadelha, Nº 621 Messejana, Fortaleza – CE CEP: 60871-170, Brasil Telefone (85) 3033.5199 w w w .U ni AT EN EU .e du .b r
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