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O GÊNERO E A ESSÊNCIA LÍRICA Universidade Federal Do Pará Campus Universitário Do Tocantins/Cametá Faculdade de Linguagem Licenciatura em Língua Portuguesa Disciplina: Teoria do Texto poético Professora: Ivone dos Santos Veloso Discentes: Luciane Lobato Mª Diana Cruz Nazaré Barra Wanessa Furtado O GÊNERO LÍRICO Seu nome vem de lira, instrumento musical que acompanhava os cantos dos gregos. Por muito tempo, até o final da Idade Média, as poesias eram cantadas; separando-se o texto do acompanhamento musical, a poesia passou a apresentar uma estrutura mais rica. A partir daí, a métrica (a medida de um verso, definida pelo número de sílabas poéticas), o ritmo das palavras, a divisão em estrofes, a rima, a combinação das palavras foram elementos cultivados com mais intensidade pelos poetas. FENÔMENOS ESTILÍSTICOS DO GÊNERO LÍRICO MUSICALIDADE E POEMA- Eles estão muito ligados, muitos poemas foram transformados em músicas e muitas músicas transformadas em poemas. COMUNICAÇÃO E A INTENÇÃO QUAIS SÃO AS INTENÇÕES DE UM POETA? RIMA E RITMO FUNERAL DE UM LAVRADOR ( João Cabral de Melo Neto) Esta cova em que estás com palmos medida É a conta menor que tiraste em vida É de bom tamanho nem largo nem fundo É a parte que te cabe deste latifúndio Não é cova grande, é cova medida É a terra que querias ver dividida É uma cova grande pra teu pouco defunto Mas estarás mais ancho que estavas no mundo É uma cova grande pra teu defunto parco Porém mais que no mundo te sentirás largo É uma cova grande pra tua carne pouca Mas a terra dada, não se abre a boca Mas a terra dada, não se abre a boca. REPETIÇÃO: É um trabalho estilístico com o objetivo de produzir um efeito sintático e semântico. Sintático porque tem a ver com a articulação dos termos, das frases ou dos versos com a composição; e semântico porque essa organização traz consequências de sentido para o poema. Poema da necessidade É preciso casar João, é preciso suportar Antônio, é preciso odiar Melquíades é preciso substituir nós todos. É preciso salvar o país, é preciso crer em Deus, é preciso pagar as dívidas, é preciso comprar um rádio, é preciso esquecer fulana. É preciso estudar volapuque, é preciso estar sempre bêbado, é preciso ler Baudelaire, é preciso colher as flores de que rezam velhos autores. É preciso viver com os homens é preciso não assassiná-los, é preciso ter mãos pálidas e anunciar O FIM DO MUNDO. Carlos Drummond de Andrade DESVIO DA NORMA GRAMATICAL: É a repetição contrária ao uso linguístico corrente que a linguagem poética provoca. AMBIGUIDADE :É a duplicidade de sentidos. ÓRION A primeira namorada,tão alta Que o beijo não alcançava, Nem mesmo a voz a alcançava. Eram quilômetros de silêncio, Luzia na janela do sombrado. Carlos Drummond de Andrade. HIPÉRBATO: É a inversão simples ou acentuada dos termos em uma oração cometida para satisfazer as exigências do ritmo De repente do riso fez-se o pranto Silencioso e branco como a bruma E das bocas unidas fez-se a espuma E das mãos espalmadas fez-se o espanto De repente da calma fez-se o vento Que dos olhos desfez a última chama E da paixão fez-se o pressentimento E do momento imóvel fez-se o drama De repente não mais que de repente Fez-se de triste o que se fez amante E de sozinho o que se fez contente Fez-se do amigo próximo, distante Fez-se da vida uma aventura errante De repente, não mais que de repente Soneto da Separação Vinicius de Moraes SINTAXE LÓGICA-DISCURSIVA. Pensamento se organiza em sequencia, mas a linguagem lírica em procedimentos contrario. PREGÃO DO VENDEDOR DE LIMA - Lima rima pela rama lima rima pelo aroma. O rumo é que leva o remo. O remo é que leva a rima. O ramo é que leva o aroma porém o aroma é da lima. É de lima o aroma O aroma? É da lima-lima Lima da limeira Do ouro da lima O aroma de ouro do ar! Cecília Meireles . Antidiscursividade – é a ausência de ligações sintáticas e da estrutura frasal. Motivo Eu canto porque o instante existe e a minha vida está completa. Não sou alegre nem sou triste: sou poeta. Irmão das coisas fugidias, não sinto gozo nem tormento. Atravesso noites e dias no vento. Se desmorono ou se edifico, se permaneço ou me desfaço, — não sei, não sei. Não sei se fico ou passo. Sei que canto. E a canção é tudo. Tem sangue eterno a asa ritmada. E um dia sei que estarei mudo: — mais nada. Cecília Meireles ALOGICIDADE: O poema lírico rompe com a lógica é com a razão, pelo transbordamento da emoção. O paradoxo é muito importante comum na composição poética principalmente no gênero estilístico. Paradoxo ou oximoro: é uma declaração aparentemente verdadeira que leva a uma contradição lógica, ou uma situação que contra diz a intuição comum. Vejamos um trecho do poema Operário em construção foi escrito Vinícius de Moraes em 1959. Era ele que erguia casas Onde antes só havia chão. Como um pássaro sem asas Ele subia com as casas Que lhe brotavam da mão. Mas tudo desconhecia De sua grande missão: Não sabia, por exemplo Que a casa de um homem é um templo Um templo sem religião Como tampouco sabia Que a casa que ele fazia Sendo a sua liberdade Era a sua escravidão. De fato, como podia Um operário em construção Compreender por que um tijolo Valia mais do que um pão? Tijolos ele empilhava Com pá, cimento e esquadria Quanto ao pão, ele o comia... Mas fosse comer tijolo! E assim o operário ia Com suor e com cimento Erguendo uma casa aqui Adiante um apartamento Além uma igreja, à frente Um quartel e uma prisão: Prisão de que sofreria Não fosse, eventualmente Um operário em construção [...] CONSTRUÇÃO PARATÁTICA: Por sua vez, consiste na predominância de orações coordenadas, que ao contrario das orações subordinada, não estabelecem, entre outras, relações causas e consequências, próprias da narrativas. Gastei uma hora pensando um verso que a pena não quer escrever. No entanto ele está cá dentro inquieto, vivo. Ele está cá dentro e não quer sair. Mas a poesia deste momento inunda minha vida inteira. Carlos Drummond de Andrade CONCLUSÃO. Todos esses fenômenos estilísticos juntos tem um ponto comum nos poemas ou na poesia lírica, ambos eles remetem o leitor a um contato sensorial, intuitivo, não racional com que diz a linguagem, e justamente isso que nos permite afirmar o sentido do poema, de ter as fantasias a emoções ao ler ou narrar um poema. Referências ANDRADE, C. D. Alguma Poesia. Belo Horizonte, Edições Pindorama, 1930. MORAES, Vinicius. O operário em construção. Rio de Janeiro, 1959 PORTELLA, Eduardo; Org.. Teoria Literária: Planejamento e coordenação de Eduardo Portella. Volume 2. ed. Tempo Brasileiro. Rio de Janeiro,197/6 MUSICAS. CAETANO VELOSO. Tiranizar. Universal Music. São Paulo. Duração 3.45 s. CHICO BUARQUE. Funeral de Lavrador. São Paulo. Volume 3, 1968. Duração: 3: 45s. RENATO RUSSO: Mas uma Vez: São Paulo: Emi-Odeon. Duração: 5:05s TIAGO IORC. Amei te Ver. Rio de Janeiro: Trator Fimes. 2015 duração:3:65s
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