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1 HISTÓRIA DAS RELIGIÕES MUNDIAIS 2 1 INTRODUÇÃO Este curso foi organizado de maneira a proporcionar um diálogo com algumas especificidades da área, possibilitando uma formação mais ampla do docente no sentido de tornar o conhecimento mais ativo e relevante para ele e, consequentemente, para o aluno. Salientamos que o material contido nas apostilas é bastante atualizado, e condizente com o magistério no Ensino Religioso Escolar. Salientamos ainda que foram também consideradas a leitura e utilização de autores e livros considerados clássicos, que são sempre base para novas discussões e novas pesquisas. Também é fato que não há nenhuma pretensão de esgotar os assuntos, apenas lançar as discussões e deixar uma extensa bibliografia ao final de cada caderno da apostila que possibilitará novas pesquisas e esclarecimentos de dúvidas que poderão surgir. Notadamente deixamos claro que o assunto religião é bastante amplo e que neste trabalho não há a intenção de privilegiar esta ou aquela corrente religiosa e nem tampouco denegrir qualquer que seja a vertente. Este curso tem objetivos claros e específicos no sentido capacitar mais e melhor o graduado para o exercício da docência no Ensino Religioso Escolar, no entanto, colocamo-nos à disposição para eventuais críticas e opiniões que certamente poderão aperfeiçoar mais e melhor os nossos trabalhos. Tratando-se de um curso EAD – Ensino à distância os alunos que ingressam nesta especialização podem escolher a melhor forma para estudar e se preparar. O que gostaríamos de colocar é que quanto mais capacitado estiver o professor, melhor poderá desempenhar as suas funções e, também, mais preparado estará para enfrentar o mercado de trabalho na área da educação. Nós lhes desejamos uma boa leitura e bons estudos. 2 RELIGIÕES SURGIDAS NO ORIENTE MÉDIO Nesse primeiro momento focaremos em fornecer um singelo panorama das três principais religiões monoteístas trazendo algumas de suas singularidades. - As semelhanças entre as três religiões monoteístas: Para Oliveira (2009, s/p) o Islamismo reconhece elementos de verdade no Judaísmo e no Cristianismo, isto é, o Islamismo 3 nada mais é que um mix destas duas religiões a começar por reconhecer os Livros Sagrados os mesmos (Torá e o Novo testamento) e Moisés e Cristo como profetas. São religiões também que visam salvação e detentoras de revelações escritas. As três religiões creem em um só Deus, tiveram sua época de perseguições e seguiam um líder espiritual. Acreditavam na existência de anjos. A crença no Juízo final, paraíso e inferno. A fé e a ascese como forma de cultivar a própria vida dando ênfase à uma atitude libertadora onde havia o diálogo entre divindade e as pessoas é comum, uma mística também era comum. O amor está na base de todas as religiões, os mandamentos também são inerentes à todas como código de ética. A liberdade é fundamental, são religiões reveladas onde são vistas como dotadas da “Verdade” e predestinação. Alma e espírito também são conceitos semelhantes, assim como o sofrimento e a ajuda “Justiça-graça” não funciona sem uma intervenção justa de Deus. - As diferenças entre as três religiões monoteístas: De acordo com Oliveira (2009, s/p) as diferenças básicas consistem em três: A Trindade, a figura de Cristo e a ética. Depois vêm outras diferenças menores. A Trindade cristã (Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo) é vista pelas outras duas religiões monoteístas como um enfraquecimento da ideia da unidade de Deus, principalmente os judeus veem a trindade como um retrocesso para o paganismo. Cristo para os cristãos é Deus filho encarnado quando no Islamismo ele é mais um profeta, já para os Judeus a opinião pode ser dividida, isto é, uns podem até acha- lo um professor ético e outros que ele apenas foi um homem e nada mais, mas Messias, jamais. A ética se diferencia no ponto de que no judaísmo é vista como “não faça para o outro aquilo que não queres para si”, a cristã é resumida em valores básicos para a convivência de todos como imagem e semelhança de Deus e a Islâmica o ponto fundamental é a justiça como o que dá o equilíbrio da convivência total. A questão do livre arbítrio para o cristão é que já nascemos com a mácula do pecado original, já o judeu não acredita nisto, isto é, todos nascem com boas ou más inclinações, resta-nos escolhermos. Os símbolos também são diferenciados como no Judaísmo é o candelabro de sete braços, a menorá dos tempos bíblicos, do cristianismo a cruz e do Islamismo é um texto escrito o nome de Deus. (OLIVEIRA, 2009, s/p). 4 2.1 Cristianismo De acordo com Brito (2008, s/p) o cristianismo é uma religião monoteísta baseada na vida e nos ensinamentos de Jesus de Nazaré, tais como estes se encontram recolhidos nos Evangelhos, parte integrante do Novo Testamento. Os cristãos acreditam que Jesus é o Messias e como tal referem-se a ele como Jesus Cristo. Com cerca de 2,1 bilhões de adeptos (segundo dados de 2001), o cristianismo é hoje a maior religião mundial. É a religião predominante na Europa, América do Norte, América do Sul, Oceania e em grande parte de África. O cristianismo começou no século I como uma seita do judaísmo, partilhando por isso textos sagrados com esta religião, em concreto o Tanakh, que os cristãos denominam de Antigo Testamento. À semelhança do judaísmo e do islã, o cristianismo é considerado como uma religião abraâmica. Segundo o Novo Testamento, os seguidores de Jesus foram chamados pela primeira vez “cristãos” em Antioquia (Atos 11:26). Embora existam diferenças entre os cristãos sobre a forma como interpretam certos aspectos da sua religião, é também possível apresentar um conjunto de crenças que são partilhadas pela maioria deles. - Monoteísmo: O cristianismo herdou do judaísmo a crença na existência de um único Deus, criador do universo e que pode intervir sobre ele. Os seus atributos mais importantes são por isso a onipotência, a onipresença e onisciência. Outro dos atributos mais importantes de Deus, referido várias vezes ao longo do Novo Testamento, é o amor: Deus ama todas as pessoas e estas podem estabelecer uma relação pessoal com ele através da oração. A maioria das denominações cristãs professa crer na Santíssima Trindade, isto é, que Deus é um ser eterno que existe como três pessoas eternas, distintas iguais e indivisíveis: o Pai, o Filho e o Espírito Santo. A doutrina das denominações cristãs difere do monoteísmo Judaico visto que no judaísmo não existem três pessoas da Divindade, há apenas um único Deus, e o Messias que virá será um homem, descendente do rei Davi. Algumas denominações professam crer na Santíssima Trindade, isto é, que Deus é um ser eterno que existe como três pessoas eternas, distintas e indivisíveis: o Pai, o Filho, e o Espírito Santo. Existem ainda outras denominações que creem em duas pessoas da Divindade o Pai 5 que deve ser adorado e o Filho que não tem nenhum direito na Divindade em adoração. - Jesus: Outro ponto crucial para os cristãos é o da centralidade da figura de Jesus Cristo. Os cristãos reconhecem a importância dos ensinamentos morais de Jesus, entre os quais salientam o amor a Deus e o amor ao próximo, e consideram a sua vida como um exemplo a seguir. Acreditam que Ele é o Filho de Deus (o próprio Deus encarnado) que veio a Terra libertar os seres humanos do pecado através da sua morte na cruz e da sua ressurreição, embora variem entre si quanto ao significado desta salvação e como ela se dará. Para ser considerado cristão é fundamental a crença de que Jesus é completamente divino (Deus) e completamente humano (homem). - A salvação: Acreditam os cristãos que a féem Jesus Cristo proporciona aos seres humanos a salvação e a vida eterna. Alguns julgam que precisam cumprir certas obras para obter a salvação (salvação por obras) e outros que, embora o que salve seja a fé, esta apenas pode ser demonstrada se a pessoa agir de acordo com aquilo que crê (salvação pela fé no sacrifício). - A vida depois da morte: A visão cristã sobre a vida depois da morte envolve, de uma maneira geral, a crença no céu e no inferno. A Igreja Católica considera que para além destas duas realidades existe o purgatório, um local de purificação onde ficam as almas que morreram em estado de graça, mas que cometeram pecados. A Igreja: Os cristãos acreditam na Igreja, entendida como a comunidade de todos os cristãos e como corpo místico de Cristo presente na Terra e sua continuidade. As principais igrejas ligadas ao cristianismo são: a Igreja Católica, as Igrejas Protestantes, as Igrejas Petencostais, as Igrejas Neopetencostais e a Igreja Ortodoxa Sobre as diferenças nas crenças, Brito (2008, s/p) aponta que o credo de Nicéia formulado nos concílios de Niceia e Constantinopla, foi ratificado como credo universal da Cristandade no Concílio de Éfeso de 431. Os cristãos ortodoxos orientais não incluem no credo a cláusula filioque, que foi acrescentada pela Igreja Católica mais tarde. As crenças principais declaradas no Credo de Niceia são: A crença na Trindade; Jesus é simultaneamente divino e humano; A salvação só é possível através da pessoa, vida e obra de Jesus; Jesus Cristo foi concebido de forma virginal, foi crucificado, ressuscitou, ascendeu ao céu e virá de novo a Terra; A remissão dos pecados é possível através do batismo; Os mortos ressuscitarão. Na altura em que foi 6 formulado, o Credo de Niceia procurou lidar diretamente com crenças que seriam consideradas heréticas, como o arianismo, que negava que o Pai e Filho eram da mesma substância, ou o gnosticismo. A maior parte das igrejas protestantes partilha com a Igreja Católica a crença no Credo de Nicéia. (...) (BRITO, 2008, s/p) Brito (2008, s/p) continuando sua explanação afirma que segundo a religião judaica, o Messias, um descendente do Rei Davi, iria um dia aparecer e restaurar o Reino de Israel. Na Palestina, por volta de 26 d. C., Jesus Cristo, nascido na cidade de Belém na Galileia começou a pregar uma nova doutrina e atrair seguidores, sendo aclamado por alguns como o Messias. Jesus foi rejeitado, tido por apóstata pelas autoridades judaicas. Foi condenado por blasfêmia e executado pelos Romanos como um líder rebelde. Seus seguidores enfrentaram dura oposição políticoreligiosa, tendo sido perseguidos e martirizados, pelos líderes religiosos judeus, e, mais tarde, pelo Estado Romano. Com a morte e ressurreição de Jesus, os apóstolos, principais testemunhas da sua vida, reúnem-se numa comunidade religiosa composta essencialmente por judeus e centrada na cidade de Jerusalém. Esta comunidade praticava a comunhão dos bens, celebrava a “partilha do pão” em memória da última refeição tomada por Jesus e administrava o batismo aos novos convertidos. A partir de Jerusalém, os apóstolos partiram para pregar a nova mensagem, anunciando a nova religião inclusive aos que eram rejeitados pelo judaísmo oficial. Assim, Filipe prega aos Samaritanos, o eunuco da rainha da Etiópia é batizado, bem como o centurião Cornélio. Em Antioquia, os discípulos abordam pela primeira vez os pagãos e passam a ser conhecidos como cristãos. Nas primeiras comunidades cristãs a coabitação entre os cristãos oriundos do paganismo e os oriundos do judaísmo gerava por vezes conflitos. Alguns dos últimos permaneciam fiéis às restrições alimentares e recusavam-se a sentar-se à mesa com os primeiros. Na Assembleia de Jerusalém, em 48, decide-se que os cristãos ex- pagãos não serão sujeitos à circuncisão, mas para se sentarem à mesa com os cristãos de origem judaica devem abster-se de comer carne com sangue ou carne sacrificada aos ídolos. Consagra-se assim a primeira ruptura com o judaísmo. Na época, a visão de mundo monoteísta do judaísmo era atrativa para alguns dos cidadãos do mundo romano, mas costumes como a circuncisão, as regras de alimentação incômodas, e a forte identificação dos judeus como um grupo étnico (e 7 não apenas religioso) funcionavam como barreiras dificultando a conversão dos homens. Através da influência de Paulo, o Cristianismo simplificou os costumes judaicos aos quais os gentios não se habituavam enquanto manteve os motivos de atração. Alguns autores defendem que essa mudança pode ter sido um dos grandes motivos da rápida expansão do cristianismo. (BRITO, 2008, s/p) De acordo ainda com Brito (2008, s/p) outros autores entendem a ruptura com os ritos judaicos mais como uma consequência da expansão do cristianismo entre os não judeus do que como sua causa. Estes invocam outros fatores e características como causa da expansão cristã, por exemplo: a natureza da fé cristã que propõe que a mensagem de Deus destina-se a toda a humanidade e não apenas ao seu povo escolhido; a fuga da perseguição religiosa empreendida inicialmente por judeus conservadores, e posteriormente pelo Estado Romano; o espírito missionário dos primeiros cristãos com sua determinação em divulgar o que Cristo havia ensinado a tantas pessoas quantas conseguissem. A narrativa da perseguição religiosa, da dispersão dela decorrente, da expansão do cristianismo entre não judeus e da subsequente abolição da obrigatoriedade dos ritos judaicos pode ser lida no livro de Atos dos Apóstolos. De resto, os cristãos adotam as regras e os princípios do Antigo Testamento, livro sagrado dos Judeus. Em Junho do ano 66, inicia-se a revolta judaica. Em Setembro do mesmo ano a comunidade cristã de Jerusalém decide separar-se dos judeus insurrectos, seguindo a advertência dada por Jesus de que quando Jerusalém fosse cercada por exércitos a desolação dela estaria próxima, e exila-se em Pela, na Transjordânia, o que representa o segundo momento de ruptura com o judaísmo. Após a derrota dos judeus em 70, cristãos e outros grupos judeus trilham caminhos cada vez mais separados. Para o Cristianismo o período que se abre em 70, e que segue até aproximadamente o ano 135 caracteriza-se pela definição da moral e fé cristã, bem como de organização da hierarquia e da liturgia. No Oriente, estabelece-se o episcopado monárquico: a comunidade é chefiada por um bispo, rodeado pelo seu presbitério e assistido por diáconos. Gradualmente, o sucesso do Cristianismo junto das elites romanas fez deste um rival da religião estabelecida. Embora desde 64, quando Nero mandou supliciar os cristãos de Roma, se tivessem verificado perseguições ao Cristianismo, estas eram irregulares. As perseguições organizadas contra os cristãos surgem a partir do século 8 II: em 112, Trajano fixa o procedimento contra os cristãos. Para além de Trajano, as principais perseguições foram ordenadas pelos imperadores Marco Aurélio, Décio, Valeriano e Diocleciano. Os cristãos eram acusados de superstição e de ódio ao gênero humano. Se fossem cidadãos romanos eram decapitados; se não, podiam ser atirados às feras ou enviados para trabalhar nas minas. Durante a segunda metade do século II assiste-se também ao desenvolvimento das primeiras heresias. Tatiano, um cristão de origem síria convertido em Roma, cria uma seita gnóstica que reprova o casamento e que celebrava a eucaristia com água em vez de vinho. Marcião rejeitava o Antigo Testamento, opondo o Deus vingador dos judeus, ao Deus bondoso do Novo Testamento, apresentado por Cristo; ele elaborou um Livro Sagrado feito a partir de passagens retiradas do Evangelho de Lucas e das epístolas de Paulo. À medida que o Cristianismo criava raízes mais fortes na parte ocidental do Império Romano, o latim passa a ser usado como língua sagrada (nascomunidades do Oriente usava-se o grego). A ascensão do imperador romano Constantino representou um ponto de virada para o Cristianismo. Em 313 ele publica o Édito de Tolerância (ou Édito de Milão) através do qual o Cristianismo é reconhecido como uma religião do Império, e concede a liberdade religiosa aos cristãos. A Igreja pode possuir bens e receber donativos e legados. É também reconhecida a jurisdição dos bispos. (BRITO, 2008, s/p) Para Brito (2008, s/p) a questão da conversão de Constantino ao Cristianismo é um tema de profundo debate entre os historiadores, mas em geral aceita-se que a sua conversão ocorreu gradualmente. Constantino estipula o descanso dominical, proíbe a feitiçaria e limita as manifestações do culto imperial. Ele também mandou construir em Roma uma basílica no local onde, supostamente, o apóstolo Pedro estava sepultado e, influenciado pela sua mãe, a imperatriz Helena, ordena a construção em Jerusalém da Basílica do Santo Sepulcro e da Igreja da Natividade em Belém. Constantino quis também intervir nas querelas teológicas que na altura marcavam o Cristianismo. Luta contra o arianismo, uma doutrina que negava a divindade de Cristo, oficialmente condenada no Concílio de Niceia (325), onde também se definiu o Credo cristão. Mais tarde, nos anos de 391 e 392, o imperador Teodósio I combate o paganismo, proibindo o seu culto e proclamando o Cristianismo religião oficial do Império Romano. O lado ocidental do Império cairia em 476, ano da deposição do último imperador romano pelo “bárbaro” germânico Odoacer, mas o Cristianismo permaneceria triunfante em grande parte da 9 Europa, até porque alguns bárbaros já estavam convertidos ao Cristianismo ou viriam a converter-se nas décadas seguintes. O Império Romano teve desta forma um papel instrumental na expansão do Cristianismo. Do mesmo modo, o cristianismo teve um papel proeminente na manutenção da civilização europeia. A Igreja, única organização que não se desintegrou no processo de dissolução da parte ocidental do império, começou lentamente a tomar o lugar das instituições romanas ocidentais, chegando mesmo a negociar a segurança de Roma durante as invasões do século V. A Igreja também manteve o que restou de força intelectual, especialmente através da vida monástica. Embora fosse unida linguisticamente, a parte ocidental do Império Romano jamais obtivera a mesma coesão da parte oriental (grega). Havia nele um grande número de culturas diferentes que haviam sido assimiladas apenas de maneira incompleta pela cultura romana. Mas enquanto os bárbaros invadiam, muitos passaram a comungar da fé cristã. Por volta dos séculos IV e V, todo o território que antes pertencera ao ocidente romano havia se convertido ao cristianismo e era liderado pelo Papa. Missionários cristãos avançaram ainda mais ao norte da Europa, chegando a terras jamais conquistadas por Roma, obtendo a integração definitiva dos povos germânicos e eslavos. (...) (BRITO, 2008, s/p) No cristianismo, para Brito (2008, s/p) existem numerosas tradições e denominações, que refletem diferenças doutrinais por vezes relacionadas com a cultura e os diferentes contextos locais em que estas se desenvolveram. Segundo a edição de 2001 da World Christian Encyclopedia existem 33.830 denominações cristãs. Desde a Reforma o cristianismo é dividido em três grandes ramos: - Catolicismo: composto pela Igreja Católica Apostólica e que hoje congrega o maior número de fiéis; - Ortodoxia: originária da primeira grande cisma cristã é constituída por duas grandes igrejas ortodoxas - a grega e a russa - que apresentam algumas diferenças entre si, nomeadamente a língua usada na liturgia. Há ainda um terceiro ramo, a igreja de rito Copta, que surgiu no Norte de África; - Protestantismo: originária da segunda grande cisma cristã (Reforma Protestante) de Martin Lutero, no século XVI, e engloba grande número de movimentos e denominações distintas. Atualmente a Igreja Protestante (também chamada Igreja Evangélica) pode ser dividida em três vertentes: 10 - Denominações Históricas: resultado direto da reforma protestante. Destacam-se nesta vertente os luteranos, anglicanos, presbiterianos, metodistas e batistas. - Denominações Pentecostais: originárias em movimento do início do século XX são baseadas na crença na presença do Espírito Santo na vida do crente através de sinais, denominados por estes como dons do Espírito Santo, tais como falar em línguas estranhas (glossolalia), curas, milagres, visões etc. Destacam-se nesta vertente a Assembleia de Deus e a Igreja do Evangelho Quadrangular. - Denominações Neopentecostais: originárias na segunda metade do século XX de avanço das igrejas pentecostais, não configuram uma categoria homogênea. São consideradas seitas pelos Protestantes. Destacam-se nesta vertente a Igreja Universal do Reino de Deus, Igreja Apostólica Renascer em Cristo, Igreja Internacional da Graça de Deus, Comunidade Evangélica Sara Nossa Terra, e a Igreja Evangélica Cristo Vive. É o ramo mais que mais cresce no Brasil e no mundo. Além desses três ramos majoritários, ainda existem outros segmentos minoritários do Cristianismo. Em geral se enquadram em uma das seguintes categorias: - Restauracionismo: São doutrinas surgidas após a Reforma Protestante cujas bases derrogam as de todas as outras tradições cristãs, basicamente tendo como ponto em comum apenas a crença em Jesus Cristo. A maioria deles não se considera propriamente “protestante” ou “evangélico”. Nesta categoria estão enquadrados os Mórmons, a Igreja Adventista do Sétimo Dia e as Testemunhas de Jeová, entre outras denominações. Quanto às Testemunhas de Jeová, embora afirmem ser cristãs, também não se consideram parte do protestantismo. Seus adeptos creem que praticam o cristianismo primitivo e que não são fundamentalistas no sentido em que o termo é comumente usado. Aceitam a Jesus como criatura, de natureza divina, seu líder e resgatador, rejeitando, no entanto a crença na Trindade e ensinando que Cristo é o filho do único Deus Todo Poderoso, Jeová. - Cristianismo primitivo: são as Igrejas cujas bases são anteriores ao estabelecimento do catolicismo e da ortodoxia. É o caso das igrejas não calcedonianas e da Igreja Assíria do Oriente (Nestoriana). - Cristianismo esotérico: é a parte mística do Cristianismo, e compreende as escolas cristãs de mistérios e sincretismo religioso. A este ramo pertence o Gnosticismo que é uma crença com raízes antecedentes ao próprio cristianismo e que 11 tem características da ciência egípcia e da filosofia grega. O Rosacrucianismo também se enquadra nessa vertente sendo uma ciência oculta cristã que ressalta as boas ações por meio da fraternidade. - Espiritismo Cristão: Os simplesmente Espíritas não acreditam que uma pessoa pode redimir “os pecados” de outra, contudo para a maior parte dos adeptos do espiritismo a obra de Allan Kardec constitui uma nova forma do cristianismo, são os espíritas cristãos. Inclusive, um dos seus livros fundantes é denominado de O Evangelho Segundo o Espiritismo. Esse livro apresenta uma reinterpretação de aspectos da filosofia e moral cristã. - Concepções religiosas e filosóficas: O Cristianismo prega o amor a Deus e ao próximo como o seu fundamento espiritual. De fato estas atitudes não constituem dois mandamentos separados (primeiro a Deus e segundo ao próximo), mas sim um só em que nenhuma das partes pode ser excluída. A salvação espiritual é oferecida gratuitamente a quem deseja aceitá-la buscando a Deus na figura de seu filho Jesus e que a busca de Deus é uma experiência transformadora da natureza humana. (BRITO, 2008, s/p) Podemos considerar três períodos que definem a concepção e filosofia do Cristianismo: Cristianismo primitivo: caracterizado por uma heterogeneidade de concepções; Patrística:ocorrida no período entre os séculos II e VIII, com a transformação da nova religião em uma Igreja oficial do Império Romano Constantino e a formação de um clero institucionalizado, e cujo doutrinário expoente foi Santo Agostinho; Escolástica: a partir do século VIII e cujo expoente foi São Tomás de Aquino, que afirmou que fé e razão podem ser conciliadas, sendo a razão um meio de entender a fé. A partir do protestantismo, é necessário fazer uma diferenciação entre a história e concepção da Igreja Católica e das diversas denominações evangélicas que se formaram. - Formas de culto: As formas de culto do cristianismo envolvem a oração, a leitura de passagens da Bíblia, o canto de hinos, a cerimônia da eucaristia (católicos e ortodoxos) e a audição de um sermão dito pelo sacerdote ou ministro. A maioria das denominações cristãs considera o Domingo como dia dedicado ao culto (há minorias que consideram o Sábado). É um dia dedicado ao descanso, no qual os cristãos 12 reúnem-se para o culto, embora a devoção e oração individual em qualquer outro dia da semana sejam também valorizadas no cristianismo. Os católicos e os ortodoxos interpretam as formas de culto (ou missa, para o catolicismo) cristãs em termos de sete sacramentos, considerados como graças divinas: batismo; Eucaristia; Matrimônio; Confirmação ou crisma; Penitência; Extrema unção ou Unção dos enfermos; Ordem. Os protestantes não têm os sacramentos impostos pelo catolicismo, mas eles utilizam de passagens bíblicas para os cultos, como: batismo (para a maioria das denominações, apena em adultos); Santa Ceia (não aceitando a eucaristia, voltando ao padrão bíblico “PÃO” e “VINHO”, ambos aceitos apenas como símbolos). (BRITO, 2008, s/p) O símbolo mais reconhecido do cristianismo de acordo com Brito (2008, s/p) é sem dúvida a cruz, que pode apresentar uma grande variedade de formas de acordo com a denominação: crucifixo para os católicos, a cruz de oito braços para os ortodoxos e uma simples cruz para os protestantes evangélicos. Outro símbolo cristão, que remonta aos começos da religião é o Ichthys ou peixe estilizado (a palavra Ichthys significa peixe em grego, sendo também um acrônimo de Iesus Christus Theou Yicus Soter, “Jesus Cristo filho de Deus Salvador”), hoje sempre visto no protestantismo. Outros símbolos do cristianismo primitivo, por vezes ainda utilizados, eram o Alfa e o Ômega (primeira e última letras do alfabeto grego, em referência ao fato de Cristo ser o princípio e o fim de todas as coisas), a âncora (representando a salvação da alma chegada ao bom porto) e o “Bom Pastor”, a representação de Cristo como um pastor com as suas ovelhas. Alguns grupos cristãos atribuem a determinado dias do calendário uma importância religiosa. Estes dias estão ligados à vida de Jesus Cristo ou à história dos primórdios do movimento cristão. O calendário litúrgico cristão inclui as seguintes festas: - Advento: período constituído pelas quatro semanas antes do Natal, entendidas como época de preparação para a celebração do nascimento de Jesus Cristo; - Natal: celebração do nascimento de Jesus; 13 - Epifania: para os católicos, celebra a adoração de Jesus Cristo pelos Reis Magos, enquanto que para os cristãos ortodoxos o seu batismo acontece doze dias após o Natal; - Sexta-feira Santa: morte de Jesus, - Domingo de Páscoa: ressurreição de Jesus; - Ascensão: ascensão de Jesus ao céu acontece quarenta dias após o Domingo de Páscoa; - Pentecostes: celebração do aparecimento do Espírito Santo aos cristãos ocorre cinquenta dias após o Domingo de Páscoa. Alguns dias têm uma data fixa no calendário (como o Natal, celebrado a 25 de Dezembro), enquanto que outros se movem ao longo de várias datas. O período mais importante do calendário litúrgico é a Páscoa, que é uma festa móvel. Nem todas denominações cristãs concordam em relação a que datas atribuir importância. Por exemplo, o Dia de Todos os Santos é celebrado pela Igreja Católica e pela Igreja Anglicana em primeiro de Novembro, enquanto que para a Igreja Ortodoxa a data é celebrada no primeiro Domingo depois do Pentecostes; outras denominações cristãs não celebram sequer este dia. De igual forma, alguns grupos cristãos recusam celebrar o Natal decido a esta data ter origens pagãs. (BRITO, 2008, s/p) 2.2 Islamismo De acordo com Somma (2005, s/p) Maomé viveu a maior parte da vida como um mercador analfabeto que, como tantos outros, conduzia caravanas pelos desertos da Arábia, no século VI. Aos 40 anos de idade, porém, tornou-se o profeta de uma religião revolucionária que em menos de 200 anos dominaria metade do mundo. Na época em que Maomé nasceu, lá pelo ano de 570, a vida na Península Árabe não era nada fácil. A comida andava escassa e, ao lado da criação de cabras, da pouca agricultura e do comércio, os saques eram a forma mais comum de consegui-la. Nessa terra sem lei, onde o roubo de tão corriqueiro não era punido, as contendas mais sérias acabavam resolvidas na base do olho por olho e do dente por dente. Quem matava, morria. Se o criminoso não fosse encontrado, um parente dele perdia o pescoço. Desprovidas de direitos ou de poder para competir nesse mundo violento, as mulheres sofriam ainda mais. Aquelas que escapavam do infanticídio eram entregues em casamento ainda crianças. Com os homens vivendo e morrendo nos 14 intermináveis conflitos tribais, aceitar o papel de concubina em troca de comida e proteção era, para as mulheres, uma forma legítima de sobreviver. (SOMMA, 2005, s/p) Para Somma (2005, s/p) limitados ao norte pelos bizantinos e ao leste pelos persas, esses homens e mulheres nômades de origem semita, conhecidos como árabes jamais haviam constituído uma nação unificada, nunca foram além das diferenças tribais, nem superaram rixas regionais para enfrentarem invasores ou vizinhos poderosos como sumérios e egípcios, que ocuparam a região ao longo de mais de três mil anos. “Exceto por algumas cidades e oásis, o clima árido foi sempre um obstáculo ao estabelecimento de sociedades na Península Árabe, com 95% de sua área ocupada por desertos”, diz John Voll, historiador da Universidade de Georgetown, em Washington, Estados Unidos e autor de The History of Islam (A História do Islã, inédito em português). “Durante séculos os árabes viveram do pastoreio e da agricultura incipiente nos poucos lugares onde a seca lhes dava folga. Outra alternativa era levar caravanas através do deserto para comercializar com o Egito, a Mesopotâmia e o Golfo Pérsico e de lá até vale do rio Indo.” Na época, a sociedade árabe estava dividida em grandes tribos, que por sua vez tinham subdivisões, os clãs. Maomé era da tribo dos coraixitas, os ‘bambambãs’ da cidade de Meca, onde ele nasceu. Sobre sua infância, sabe-se pouco além de que era órfão de pai e que aos seis anos perdeu a mãe. Depois de viver com o avô, que morreria pouco depois, passou à tutela do tio paterno, Abu Talib, de quem herdou a profissão: negociante. Meca era um centro comercial para onde convergiam caravanas vindas da Pérsia e da Síria. Para lá também afluíam peregrinos de toda a região para visitar o templo da Caaba, um local sagrado já naquela época – os árabes tinham vários deuses e objetos de adoração, mas nenhum tão importante como a Pedra Negra de Meca. Os romeiros, ao lado do comércio, eram a principal fonte de riqueza da cidade. “Naquela região e naquela época, Meca era um exemplo único de diversidade cultural. E é bem provável que tal condição tenha influenciado Maomé, que, até por força de sua profissão, certamente tinha contato com cristãos, judeus e persas”, afirma Voll. Ainda de acordo com Somma (2005, s/p) “os primeiros relatos sobre Maomé o descrevem como um sujeito justo e amável, dotado de um agradável senso de humor”, diz o historiador William Graham,da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos. 15 “Apesar de ser membro de uma tribo poderosa, Maomé pertencia a um clã com poucos recursos. Chamado de Al Amin, ou ‘o confiável’, aos 25 anos ele tinha fama de bom administrador”, diz Graham. Uma dessas qualidades – ou todas elas – chamou a atenção de Khadija, uma rica viúva dez anos mais velha que ele. O casamento foi vantajoso para ambos. Tanto que durou. Juntos, eles tiveram seis filhos e, ao contrário do que era comum na época, Maomé não teve outras esposas enquanto esteve casado com Khadija. “A relação dos dois era rara e especial e foi definitiva para a biografia de Maomé”, afirma Voll. Maomé chegou aos 40 anos rico, dono de caravanas, cercado por empregados e parentes. Parecia que uma velhice tranquila se avizinhava. (...) Por volta do ano 610, Maomé teve uma epifania, uma revelação mística. E iniciou uma revolução. - A revelação: Muhammad Ibn Ishaq, que viveu no século VIII, foi um dos primeiros historiadores a fornecer um relato sobre a experiência de Maomé. Segundo Ishaq, durante um passeio pelo deserto, Maomé teria ouvido chamar seu nome. A voz se apresentou como Jibril, o mesmo que na tradição judaico-cristã é o anjo Gabriel. Ao voltar para casa, Maomé tremia. Teria se jogado nos braços da mulher e pedido para que ela o cobrisse, pois sentia frio. Ao contar a ela o ocorrido, Maomé teria dito que achava estar delirando. Ainda de acordo com Ishaq, Khadija levou o marido para conversar com um primo que era cristão e que concluiu que Maomé havia falado com Alá (nome que em árabe significa “Deus”) e recebido dele os primeiros versos do Alcorão, o livro que se tornaria sagrado para seus seguidores. Relutante, Maomé manteve sua história circunscrita aos amigos mais próximos e parentes por quase dois anos. Finalmente, convencido de que ele era o mensageiro de uma nova fé, Maomé iniciou sua pregação. Ele dizia haver um único deus, Alá, ao qual todos deveriam se submeter (Islam, ou Islã, em árabe significa submissão). “Como os profetas bíblicos, ele foi um reformador que, a partir da crença em um único deus e em nome desse deus, promoveu uma série de transformações sociais”, diz o historiador americano John Esposito, da Universidade de Georgetown, autor de mais de 15 livros sobre a história do Islã. “Ele proibiu o infanticídio, estabeleceu regras para comércio e um código de ética para a guerra”, afirma Esposito. A mensagem transformadora de Maomé atraiu muita gente, principalmente entre a população mais pobre de Meca: jovens, escravos e homens sem vínculos 16 tribais e peregrinos. Em um mundo onde a morte era considerada o fim de tudo, ele prometia que os fiéis – pobres ou ricos, independentemente de tribos ou clãs – teriam uma vida eterna e gloriosa. Dizia, ainda, que os ricos deveriam distribuir parte de sua riqueza com os pobres e que aqueles que não se importassem com o bemestar dos outros seriam julgados após a morte. Maomé reconheceu os judeus e cristãos – chamados de “os povos do livro”, mas se lançou contra a adoração de ídolos pagãos. Como boa parte dos revolucionários do mundo antigo (para a cronologia ocidental o século VII faz parte da Idade Média, mas seguiremos a linha de tempo do mundo muçulmano, que coloca a fase antes do nascimento de Maomé como pré-história), Maomé teve uma inspiração religiosa por trás das mudanças que defendeu. “A religião era o principal – em muitos casos, o único – código de conduta na Antiguidade. Transformá-la, portanto, sempre foi um meio poderoso de atingir mudanças sociais, políticas ou econômicas. De Moisés a Jesus, a proposição de um novo ambiente religioso comumente está ligada à eclosão de processos revolucionários mais amplos”, diz John Voll. (SOMMA, 2005, s/p) Para Somma (2005, s/p) segundo Marshall Hoddgson, autor do clássico The Venture of Islam (A Aventura do Islã, inédito no país), as pregações de Maomé incomodaram os membros da classe dominante, em Meca. Em 616, o líder dos coraixitas proibiu que qualquer membro da tribo fizesse negócios com Maomé. Como eles dominavam quase toda a atividade econômica da cidade, isso era o mesmo que condená-lo à miséria. Além disso, seus amigos e fiéis, chamados muslimuus – ou muçulmanos (“aqueles que se submetem”, em árabe), passaram a ser perseguidos. Alguns biógrafos dizem que o próprio Maomé foi ameaçado. Para piorar, nessa época ele perdeu a esposa Khadija e o tio Abu Talib, seu protetor, que ainda era influente entre os coraixitas. Maomé decidiu abandonar Meca. Em 622, ele e seus amigos foram para Yathreb, um oásis de agricultores a 300 quilômetros de Meca, mais tarde rebatizado de Medina. A saída de Meca, porém, não acalmou os ânimos entre os líderes da cidade e os seguidores de Maomé. Pelo contrário. Os muçulmanos passaram a atacar as caravanas de Meca. Em 624, eles emboscaram e venceram o exército de Meca em Uhud. No ano seguinte, foram derrotados em Badr e perderam centenas de homens. Em quase uma década, os conflitos foram comuns, até que em 630, depois de resistir durante dois meses à ofensiva inimiga em Medina, Maomé liderou três mil guerreiros num decisivo contra-ataque e tomou Meca quase sem combates. 17 Timothy Winter, professor da Universidade de Cambridge, na Inglaterra, Maomé foi tolerante com o povo de Meca. “Ele não perseguiu cristãos nem judeus, permitindo que continuassem a praticar seus ritos. No entanto, destruiu os ídolos que eram adorados na Caaba”, diz. Diferentemente de outros religiosos, de acordo com Somma (2005, s/p) que defenderam reformas radicais na sociedade em que viviam, Maomé chegou ao poder e teve a oportunidade de realizar tais transformações. “Ele estabeleceu reformas no interior das famílias e tribos, dando às mulheres, crianças e jovens direitos sociais. Os pobres foram beneficiados com a instituição do zakat, uma taxa recolhida dos mais ricos e distribuída entre eles”, diz o historiador inglês W. Montgomery Watt em Muhammad, Prophet and Statesman (Maomé, Profeta e Estadista, inédito no Brasil). Maomé voltou à Medina, mas não usufruiu da sociedade que acabara de criar: ele morreu em 8 de junho de 632. “Maomé não foi apenas o fundador de uma religião. Foi um revolucionário, que mudou radicalmente as condições de vida de seu povo, trazendo unidade política, melhorias econômicas e justiça social”, afirma William Graham. “Ele tinha grande habilidade política e transformou completamente as condições de vida de seu povo, resgatando-o da violência estéril e da desintegração, dando-lhe nova e orgulhosa identidade”, afirma Karen Armstrong no livro Maomé – Uma Biografia do Profeta (Companhia das Letras). Em menos de 200 anos, essa “nova e orgulhosa identidade” dos seguidores do Islã se espalhou do Himalaia à Europa, fundindo-se à cultura dos povos que conquistou. Logo, a sociedade árabe se tornaria a mais desenvolvida de seu tempo, esmerada nas artes, na tecnologia, na arquitetura, na matemática e na navegação. Uma verdadeira revolução, cujas repercussões influenciam boa parte do mundo, até hoje. O santuário da Caaba, em Meca, virou centro de peregrinação na Antiguidade graças à Pedra Negra. Não se sabe exatamente quem construiu um santuário em torno dela, mas é certo que, na época de Maomé, as peregrinações para lá já aconteciam. Os nômades pré-islâmicos eram politeístas e adoravam cerca de 360 deuses diferentes. “A Caaba era tão importante no tempo de Maomé, que era considerada um centro sagrado de tempos imemoriais”, afirma William Graham, da Universidade de Harvard. “A tradição islâmica a conecta com Abraão, mas há quem também a relacione a Adão.” Segundo os muçulmanos, a pedra 18 teria sido dada por Alá ao primeiro homem, Adão. Ela era clara, quase branca, mas os pecados do mundo a tornaram negra. Os cientistas e historiadores, é claro, têm outra explicação:acreditam que a pedra seja um meteorito, embora nenhum exogeólogo (especialistas em rochas vindas de outros corpos celestes) jamais tenha tido a chance de estudá-la. Ainda segundo a crença muçulmana, o santuário em torno da pedra negra teria sido construído por Abraão, considerado o pai das religiões monoteístas – judaísmo, cristianismo e islamismo. “A Caaba é identificada na tradição religiosa com Abraão. Dessa forma, rezar em direção a ela é uma forma de enfatizar essa conexão com um deus único”, afirma o historiador John Voll, da Universidade de Georgetown. A Caaba lembra uma caixa, tem formato cúbico e cerca de 15 metros de altura. Dentro está guardada a pedra sagrada. Segundo a historiadora britânica Karen Armstrong, a antiga prática de dar sete voltas em torno da Caaba também já existia antes do islamismo e foi incorporada pela nova religião. “Hoje, a peregrinação ao santuário se transformou em um dos cinco pilares do Islã e é considerada obrigatória, pelo menos uma vez na vida, para todo muçulmano que tiver condições físicas e econômicas”, diz a historiadora inglesa. (SOMMA, 2005, s/p) Ainda de acordo com Somma (2005, s/p) a expansão muçulmana ocorrida após a morte de Maomé não tem precedentes na história. Foi rápida e avassaladora. Em menos de um século, unificados pela fé na mensagem do homem que acreditavam ser um enviado de Deus, árabes – e seus exércitos – chegaram à Europa. No caminho, a revolução conquistou e converteu povos africanos, persas e turcos, dominando todo o Oriente Médio e o norte da África e atingindo o noroeste da Índia. É verdade que em alguns lugares a conquista foi efêmera, mas em outros, como na Península Ibérica, os muçulmanos fundaram uma civilização que durou sete séculos. Na Europa, os muçulmanos foram barrados somente em 732 na cidade de Poitiers, atualmente na França, pelas tropas de Carlos Martel. As cadeias montanhosas afegãs, o deserto africano e o oceano Índico foram barreiras naturais que impediram o avanço dos exércitos, mas não da fé. Graças ao intenso deslocamento dos mercadores muçulmanos, a religião chegou às ilhas que hoje formam a Indonésia, país onde se encontra a maior população muçulmana do mundo na atualidade. - Meca: Depois de oito anos de brigas entre os coraixitas de Meca e os muçulmanos de Medina, a cidade onde nasceu Maomé, foi conquistada pelo próprio, à frente de um exército de três mil homens. Por abrigar a Caaba, desde 624 o local marca o ponto para o qual os islâmicos devem direcionar suas orações. 19 - Damasco: Um dos maiores centros urbanos da época de Maomé, a cidade que pertencia à Síria bizantina, foi conquistada três anos após a morte do profeta. Em 661, o quinto califa, Mu’awiyah I (661–680), mudou de Medina para lá, tornando-a a capital do Império Muçulmano. - Jerusalém: Apenas seis anos após a morte de Maomé, os muçulmanos conquistam a cidade, na época parte do Império Bizantino. Considerada santa por cristãos e judeus, também é sagrada para os muçulmanos, pois de lá Maomé teria ascendido aos céus. - Alexandria: Depois de resistir por quase cinco meses, a cidade fundada por Alexandre, o Grande, no Egito, rendeu-se aos exércitos do terceiro califa, Uthman ibn Affan. Os bizantinos a retomaram três anos depois, mas a cidade logo voltou ao domínio muçulmano. - Isfahan: A partir de 644, as principais cidades da Pérsia foram conquistadas rapidamente e, em 651, o rei da dinastia sassânida, que dominava a região, deixou a capital. Depois de se refugiar em diversos cantos do país, foi assassinado na cidade de Merv. - Herat: Além da cidade afegã, outras localidades da Ásia central foram tomadas por exércitos muçulmanos. As tropas do califa Uthman chegaram até a província do Sind, no noroeste da Índia. A partir do século XIII, surgiriam reinos muçulmanos na região. - Córdoba: Com a ajuda dos berberes africanos, recém-convertidos ao islamismo, e graças às fraquezas e rupturas do reino dos visigodos, os muçulmanos invadiram a Europa com facilidade e se instalaram no território que hoje pertence à Espanha. Dali só seriam expulsos em 1492, depois de muita luta. - Poitiers: Cem anos após a morte de Maomé, os muçulmanos foram derrotados na Batalha de Poitiers, na atual França, por Carlos Martel, líder dos francos. A vitória dos europeus interrompeu a expansão do Islã e marcou o ponto mais setentrional que os seguidores de Maomé já alcançaram Sobre as mulheres e o Islã, Somma (2005, s/p) aponta que quando Khadija morreu, Maomé não ficou sozinho por muito tempo. Ele se casou rapidinho – e com várias mulheres. “Era um costume da época ter muitas esposas para consolidar laços tribais e também por atração e amor”, diz John Esposito, da Universidade de Georgetown. Maomé teria tido pelo menos 11 mulheres, entre elas viúvas de 20 combatentes muçulmanos que perderam a vida em batalhas contra Meca e filhas de amigos próximos, que mais tarde se tornariam os primeiros califas. Para o historiador John Voll, também de Georgetown, as esposas de Maomé tiveram um papel efetivo na propagação do islamismo desde os primeiros momentos da nova fé. Como exemplo disso, ele lembra que o texto do Alcorão foi totalmente memorizado por uma delas, Hafsa, que o ditou para os primeiros escribas islâmicos. “Outra delas, Umm Salamah, conseguiu evitar um motim entre as tropas. Mas coube a Aisha, a predileta, o papel de conselheira do profeta”, diz Voll. Aisha era conhecida por falar o que pensava. Ela era filha de Abu Bakr, sucessor de Maomé como líder dos muçulmanos e um de seus amigos mais íntimos. Aisha ainda é muito lembrada pela tradição islâmica por ter sido uma das fontes dos hadiths – os relatos sobre ditos e ações de Maomé que passaram a ter força de lei depois de sua morte. Segundo Timothy Winter, da Universidade de Cambridge, as mulheres árabes ganharam um novo status com o Islã devido ao afeto que Maomé dedicava a elas. “Cerca de 15% dos intelectuais medievais eram mulheres. Isso só foi possível porque Maomé recomendou que todas recebessem educação”, diz. Pela lei islâmica as mulheres podem se divorciar e conservar seus bens após o casamento, o que não ocorria na Inglaterra há cem anos. (SOMMA, 2005, s/p) Os cinco pilares do islamismo formam a estrutura de vida do seguidor da religião. São eles: - Pronunciar a declaração de fé intitulada “chahada”: “Não há outra divindade além de Deus e Mohammad é seu Mensageiro.” - Realizar as cinco orações obrigatórias durante cada dia, no ritual chamado “salat”. As orações servem como uma ligação direta entre o muçulmano e Deus. Como não há autoridades hierárquicas, como padres ou pastores, um membro da comunidade com grande conhecimento do Corão dirige as orações. Os versos são recitados em árabe, e as súplicas pessoas são feitas no idioma de escolha do muçulmano. As orações são feitas no amanhecer, ao meio-dia, no meio da tarde, no cair da noite e à noite. Não é obrigatório orar na mesquita - o ritual pode ser cumprido em qualquer lugar. - Fazer o que puder para ajudar quem precisa, no chamado “zakat”. A caridade é uma obrigação do muçulmano, mas deve ser voluntária e, de preferência, em segredo. O muçulmano deve doar uma parte de sua riqueza anualmente, uma 21 forma de mostrar que a prosperidade não é da pessoa - a riqueza é originária de Deus e retorna para Deus. - Jejuar durante o mês sagrado do Ramadã, todos os anos. Nesse período, todos os muçulmanos devem permanecer em jejum do amanhecer ao anoitecer, abstendo-se também de bebida e sexo. As exceções são os doentes, idosos, mulheres grávidas ou pessoas com algum tipo de incapacidade física - eles podem fazer o jejum em outra época do ano ou alimentar uma pessoa necessitada para cada dia que o jejum foi quebrado. O muçulmano que cumpre o jejum se purifica ao vivenciar a experiência de quem passa fome. Nofim do Ramadã, o muçulmano celebra o EidalFith, uma das duas principais festas do calendário islâmico. - Realizar a peregrinação a Meca, o “haj”. Todos os muçulmanos com saúde e condição financeira favorável deve realizar a peregrinação pelo menos uma vez na vida. Todos os anos, cerca de dois milhões de pessoas de todas as partes do mundo se reúnem em Meca, sempre com vestimentas simples - para eliminar as diferenças de classe e cultura. No fim da peregrinação, há o festival de Eid-Al-Adha, com orações e troca de presentes - a segunda festa mais importante. (VEJAON LINE, s/d, s/p) 2.3 Judaismo De acordo com Algazi (s/d, s/p) disse Gräetz que são dois os povos criadores da civilização humana: o helênico e o hebreu1. O povo helênico sucumbiu “quando as falanges macedônicas e as legiões romanas lhe mostraram a vida sombria, grave e sem sorrisos, como a que haviam conhecido; então sua sabedoria transformou-se em excentricidade”. O hebreu, ao contrário, permaneceu vivo em meio a impérios que se extinguiam, porque soube dar à vida um fim determinado e ponderado. Querendo, pode-se chamar a este objetivo do povo israelita “a moral pura” e, ainda que a palavra esteja muito aquém da ideia, o que interessa destacar é que o povo judeu entendeu que seu dever é tomar a sério essa “moral pura”. Para que se possa compreender isto, é necessário conhecer, ainda que sumariamente, a história do povo de Israel. Portanto, daremos uma síntese dos acontecimentos pelos quais passou o povo judeu, desde os tempos mais remotos. Corria o ano 2140 (a. C.). Um homem inspirado chamado Abraão, habitante da alta 22 Mesopotâmia, recebeu de Deus a ordem de abandonar sua cidade natal e estabelecer-se num país que lhe seria designado, fundando ali um povo que seria cumulado de favores e objeto de especial predileção. Abraão estabeleceu-se com seus rebanhos no país de Canaã. Seu poder patriarcal passou a seu filho Isaac e deste para Jacob que depois o passou para seus doze filhos. Um destes, chamado José, vendido como escravo ao Faraó, rei do Egito, soube captar tal prestígio e autoridade, que chegou a ser vice-rei do Egito. Nesta qualidade chamou seus irmãos e lhes entregou a terra de Goshen para que a cultivassem e vivessem de seus produtos. Os israelitas tornaram-se tão numerosos e fortes, que os reis do Egito, temerosos de sua importância, os submeteram a dura escravidão, acabando por decretar a morte de todos os filhos varões que nasceram naquele povo. Porém Moisés, um desses meninos, jogado às águas do Nilo, foi salvo pela filha do Faraó e educado na corte do rei. Mais tarde esse menino seria o libertador daquele povo e seu legislador. Efetivamente, por decreto divino, Moisés organizou o grande êxodo dos israelitas, que segundo a Bíblia foi de 600.000 homens. Em busca da terra prometida atravessaram o golfo ocidental do Mar Vermelho e passaram 40 anos no deserto experimentando todas as dificuldades da vida nômade. Ao pé do Monte Sinai, Moisés deu aos israelitas o Decálogo, ou seja, os dez mandamentos, supremo código moral da humanidade. (ALGAZI, s/d, s/p) Conforme Algazi (s/d, s/p) antes de morrer, Moisés nomeou como seu sucessor Josué, o qual, depois de atravessar o Jordão e derrotar os inimigos que se opunham à sua marcha vitoriosa, distribuiu as terras conquistadas entre as doze tribos. Josué foi sucedido pelos Juízes, entre os quais Jefté, Sansão e a profetisa Débora, que nos legou um canto lírico de grande magnitude. O último dos juízes foi Samuel, que, a pedido do povo, mudou a forma de governo e instituiu a monarquia, nomeando Saul como primeiro rei. Morto Saul, entre vitórias e derrotas, foi David ungido como rei e a este sucedeu seu filho Salomão, o qual levou o país ao cume da felicidade e causou a admiração de todo o Oriente e Ocidente por seu saber e sua sagacidade. Após a morte de Salomão, seu reino foi dividido entre Roboão, seu filho, e Jeroboão, seu adversário; o primeiro contava com duas tribos e o segundo com dez, tendo havido entre eles uma luta constante. As nações vizinhas aproveitaram-se desta discórdia para sua própria expansão e o povo de Israel perdeu assim o caráter específico que lhe havia assegurado o rei Salomão. Depois de uns poucos anos de reinado, Roboão foi vencido, primeiro por Sisac, rei do Egito, que tomou Jerusalém e se apoderou do 23 Templo e dos tesouros reais, e segundo por Nabucodonosor, rei da Babilônia. (...) A parte da Palestina onde o povo emigrante se estabeleceu foi chamada Judéia e seus moradores receberam o nome de judeus. Povoaram novamente as cidades e obtiveram permissão para reconstruir o Templo e as muralhas de Jerusalém. A forma de governo daquele novo Estado foi uma espécie de república teocrática. (ALGAZI, s/d, s/p) O judaísmo, segundo Algazi (s/d, s/p) saiu vitorioso de seu choque com o helenismo. Conhecia-se sob este nome a forma de civilização grega que, estando já a Grécia em decadência, foi difundida pelo mundo asiático e egípcio por Alexandre Magno e especialmente por seus sucessores. O helenismo difundiu-se também na Judéia, onde o sentido grego da vida, mais superficial e cheio da formosura da natureza, havia entusiasmado muitos judeus que, possuindo possivelmente tendências assimilacionistas muito desenvolvidas, haviam começado a sentir o peso de sua doutrina mãe, demasiado séria e de suas normas de vida muito severas. Na Judéia o helenismo foi combatido com armas pelos Macabeus e verbalmente pela obra incansável e contínua dos sábios, os quais, com o correr dos séculos foram substituindo os profetas. Durante anos lutou-se na pequena Palestina; durante muitos meses foram sitiados Jerusalém e seu santuário; e no ano 70 (d. C.) o imperador Tito conseguiu entrar na cidade: incendiou o templo e assassinou e vendeu a maior parte de seus habitantes, começando assim para o judeu sua vida errante. Algumas famílias imigraram para as regiões asiáticas; outras fixaram sua residência no ocidente, enquanto os judeus de Alexandria, os já helenizados, continuaram vivendo no mesmo ambiente e desenvolvendo sua cultura da maneira mais perfeita. Enquanto os exilados procuravam salvação em diversas terras e se preocupavam com sua vida e seu trabalho, na Palestina continuava-se vivendo sob certa autonomia. (...) Na diáspora romana, porém, as coisas não sucediam assim. No ano 350, ao subir Constantino ao trono, começou contra o povo judeu uma política de coação, atenuada, no entanto, nas regiões onde os judeus sujeitaram-se ao islamismo, podendo desta forma dedicar-se tranquilamente ao comércio, como em Bagdá, Cairo e toda a Espanha muçulmana. Assim, no século IX houve comunidades judias no Cairo, Fez e Marrocos, enquanto na Babilônia, uma vez conquistada a Pérsia pelos muçulmanos, vinha ocorrendo o mesmo fenômeno. O povo judeu, portanto, pôde continuar seu 24 desenvolvimento cultural somente nos países muçulmanos, onde podia ter uma vida mais tranquila, igual aos outros povos, e dedicar-se a qualquer tarefa ou ocupação. Em troca, no mundo cristão, à medida que o cristianismo ia ganhando terreno no monopólio das fontes de riqueza dos países do Ocidente, ia à influência judaica pouco a pouco voltando ao estado de prostração em que esteve mergulhada nos últimos tempos do império romano. Os judeus não podiam ter autoridade alguma sobre os cristãos; eram afastados dos cargos públicos e eram privados dos direitos de cidadania quando implicava em algum cargo de autoridade, como ter escravos, servos e até criados domésticos. Os cristãos deviam evitar todo contato social com os judeus, os quais deveriam ter uma marca ou distintivo em suas roupas ou em alguma parte visível do corpo. Desta maneira, os antigos hebreus e agora os judeus que eram um povo essencialmente agrícola, sem aptidão especial e sem gosto pelo comércio, viram-se obrigados,na sua qualidade de estrangeiros numa população urbana e de tráfico mercantil, a mudar suas características de vida. A partir da época feudal, especializaram-se cada vez mais no comércio e na medicina, que podiam exercer, pois lhes eram vedadas todas as outras profissões. (...) Na Espanha, onde os judeus já viviam desde o século III (d. C.), a população judaica aumentou notavelmente depois da batalha de Guadelete (711) como consequência da invasão dos árabes, provavelmente por terem ficado ali grande número de judeus que faziam parte dos exércitos muçulmanos. A situação dos judeus melhorou, prosperaram e houve reis que tiveram médicos, astrônomos e músicos judeus. Estes possuíam terras, tinham indústrias, faziam serviço militar sem qualquer restrição, iguais aos outros cidadãos e em certas jurisdições estavam no mesmo pé de igualdade com os fidalgos. Neste ambiente, os judeus começaram a desenvolver na Espanha uma atividade cultural que é tida como a “Idade de Ouro” da história judaica. (ALGAZI, s/d, s/p) Durante três séculos o judaísmo floresceu em Granada, Córdoba, Sevilha, Saragosa, Barcelona, etc., dedicando-se seus integrantes a produzir obras literárias, dando início aos comentários sobre o Talmud, que tornaram mais fácil a procura de qualquer dado. Com a ascensão da ciência árabe, muitos judeus que também escreviam deste idioma começaram a ocupar-se da filosofia. A cultura hebraica deu seus melhores frutos naquela época. (...). Repentinamente estalou um movimento antijudeu e, numa quarta-feira de cinzas de março de 1391, uma multidão turbulenta irrompeu no bairro judeu da cidade de Sevilha. No dia 9 de junho, uma orgia de matança apoderouse da cidade. Dali o tumulto popular propagou-se a Córdoba, onde 25 morreram dois mil hebreus. Continuou avançando até Toledo, onde o populacho, em sinal de fé cristã, marcou para a matança de judeus o dia 17 de Tamuz (20 de junho), em cuja triste e vergonhosa jornada correram torrentes de sangue israelita pelas ruas da cidade imperial, sem perdão de idade ou sexo. Sucederam terríveis matanças em cerca de setenta comarcas. (...) A partir desta época, o judaísmo espanhol, cortado ao meio, arrastou uma vida apática até que recebeu o golpe mortal com a Inquisição, fundada na Espanha em 1480. No dia da conquista de Granada, assegurada graças ao apoio moral e material dos judeus e que coroava a unidade espanhola e o triunfo da cruz, os reis Fernando e Isabel, sob a influência de Torquemada, ordenaram a expulsão de todos os judeus do território espanhol (31 de março de 1492). De 500 a 600 mil infelizes, sem outra culpa que a de permanecer fiéis à religião e crença de seus pais, tomaram o caminho do desterro, sendo este novo êxodo acompanhado de terríveis sofrimentos e toda sorte de privações. (ALGAZI, s/d, s/p) Em Portugal, de acordo com Algazi (s/d, s/p) os judeus levavam, até então, uma vida relativamente calma, mas como Manuel, rei de Portugal, estava em boas relações com Fernando, o católico, do qual iria tornar-se parente, e achando que em seu caráter de monarca absoluto não ficaria mal a política absolutista de seu colega, proibiu aos fugitivos da Espanha a entrada em seu reino. Muitos judeus da Espanha, assim como de Portugal, emigraram para as Índias ou a países mais hospitaleiros como a Itália, Turquia, Holanda, etc. Na Itália, devido talvez a sua política, como também pela persistência das tradições romanas e certa suavidade de costumes desse país, os judeus não sofreram grandes contrariedades nem tiveram que emigrar. (...) Na França, os judeus viveram de uma maneira diferente. Na sua maioria comerciantes, havia também entre eles tesoureiros fiscais, marítimos e médicos. Sob a dinastia dos Merovíngios começaram as perseguições. A situação melhorou muito durante o período Carolíngio. (...) Nos fins do século XII os judeus foram expulsos da França, mas continuaram vivendo ali, mesmo sofrendo, até o século XIV. Na Alemanha estabeleceram-se judeus desde tempos muito antigos. O primeiro documento de uma comunidade judaica na Colônia data do ano 321. Até a época dos últimos Carolíngios sua situação era muito boa. Floresceram escolas em Metz e Maguncia, onde ensinou o célebre rabi Guershon ben Judá, chamado “Luz da Diáspora”. (...) Na Áustria-Hungria, a história do povo judeu apresenta vicissitudes mais complexas que em outras nações. Os reis magiares serviam-se dos judeus como preceptores, tesoureiros e administradores de 26 suas fazendas e de seus investimentos industriais. Mesmo quando a Santa Sé romana interveio várias vezes para impedir estas relações, os soberanos voltaram atrás depois de haver acatado temporariamente as prescrições da cúria romana. Os séculos XIV e XV foram nefastos para os judeus austríacos. (...) Na Europa oriental, os judeus haviam se estabelecido desde a destruição do primeiro Templo. Na Polônia, eles chegaram por volta do século IX, procedentes da Alemanha e Bohemia. Ali gozavam de uma hospitalidade liberal, crescendo notavelmente a população judaica durante os dois séculos seguintes. (...) Na Criméia e na costa do Mar Negro existiam algumas comunidades antes da era cristã; para lá se dirigiram muitos, depois da destruição do Templo. Assim difundiu-se o judaísmo nesses lugares e, devido à sua influência, registrou-se a conversão do rei dos cuzares no ano 740 (d. C.). Muitos judeus do império bizantino foram para lá, mas, quando o reino cuzarí foi destruído (969), eles emigraram para a Rússia, onde, até o século XV, parece que levaram uma vida bastante tranquila. Na Inglaterra havia judeus desde o século VII (d. C.), mas notícias exatas só há a partir do século XI. Até o século XII a situação foi bastante boa, mas sob o reinado de Ricardo Coração de Leão começou em Londres e noutras localidades uma série de perseguições que se agravaram durante o reinado de João sem Terra. No ano de 1264 houve uma verdadeira matança e, por um decreto do ano de 1290, os judeus foram expulsos da Inglaterra, encontrando refúgio em Flandres, França, Alemanha e da Espanha setentrional. Os judeus da Ásia e da África que viviam nos países muçulmanos puderam gozar de certa tranquilidade durante um determinado período de tempo. Porém, depois da batalha de Rodas (624), começaram nos territórios muçulmanos graves perseguições. Omar expulsou-os da península arábica, admitindo-os novamente mais tarde. Sob o domínio árabe, foi muito importante o desenvolvimento do judaísmo egípcio, sobretudo em Fostat, antigo nome do Cairo, capital do Egito. Também em outras localidades da África setentrional foram-se formando comunidades judaicas muito importantes. A descrição da situação do judaísmo nos principais estados europeus até fins da Idade Média é suficiente para se ter uma ideia de sua verdadeira orientação político-social. Os judeus, que sob certos aspectos são considerados como um dos povos que tem vivido mais recolhido dentro de si mesmo e que, apesar das 27 perseguições, conservaram incólume o esotérico de sua doutrina, viveram durante os tempos medievais e uma parte da idade moderna encerrados numa espécie de círculo de ferro chamado gueto. A Reforma, no que concerne aos judeus, tem sido erroneamente interpretada ao afirmarem alguns autores que ela favoreceu a causa dos judeus. Depois dos dias amargos que os fez passar o fundador do protestantismo, isto foi benéfico para os israelitas, pois ao protestantismo deve-se o ressurgimento da crítica na sua mais ampla acepção. Modificou em parte a psicologia dos povos ao promover um maior interesse pelos estudos bíblicos, contribuindo assim para fazer luz sobre o passado. Sob seu influxo, as lutas foram menos brutais. O próprio Lutero, que não podia subtrair-se à instigação que em seu ânimo exerciam seus companheiros, chegou a sentir uma profunda preocupação pelos judeuse, como já mencionamos, tornoulhes a vida muito sombria com seus escritos e suas publicações. (...) (ALGAZI, s/d, s/p) Vejamos em continuação como foi a vida dos judeus nessa época de reformas e revoluções. Continuando Algazi (s/d, s/p) aponta que voltaram à França no século XVI com a anexação da Alsácia e Lorena e com a formação de colônias de “Anussim” (judeus convertidos ao cristianismo à força) na França meridional. A Revolução os encontrou na guarda nacional. A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, ao estabelecer o princípio de liberdade religiosa e de igualdade, produziu praticamente a emancipação dos judeus. Napoleão, apoiando este movimento nos anos de 1806- 1807, convocou em Paris o grande Sanedrin. Apesar da ótima situação judeo- francesa e apesar de ter sido a França a primeira a proclamar a liberdade dos judeus, ainda assim não pôde o francês eximir-se do antissemitismo. (...) Apesar destas raras convulsões no organismo social da França, os judeus franceses continuaram desenvolvendo sua vida e sua cultura, e sempre o perseguido num mundo inimigo olhou a França como um guia de liberdade e fraternidade. Nos últimos tempos, por exemplo, figuravam no parlamento seis deputados e três senadores judeus. Nas esferas intelectuais francesas contava-se com várias personalidades proeminentes que gozavam de fama positiva. Esta era a situação francesa na época da invasão alemã em 1940. (...) Na América, o judaísmo começou com a chegada dos primeiros judeus da Espanha que vieram em companhia de Colombo. Desde então foi aumentando a imigração judaica para as duas Américas. Em 1665 constituiu-se em Nova Iorque a 28 primeira comunidade israelita. Em 1790 a constituição dos Estados Unidos estabeleceu a liberdade de religiões e, mais tarde, em princípios do século XIX, a igualdade de direitos. A imigração da Europa Oriental aumentou depois que o Barão Maurício Hirsch (1831-93) fundou a Jewish Colonization Association (J. C. A.) que estabeleceu colônias na Argentina para os perseguidos da Rússia e da Polônia. Na realidade, pode-se afirmar que a condição dos judeus em toda a América é atualmente a melhor do mundo. (ALGAZI, s/d, s/p). 3 RELIGIÕES INDO-EUROPEIAS 3.1 Hinduismo Começando pelo hinduísmo, diferente de outras religiões mundiais, ele não teve fundados nem credo fixo nem organização de espécie alguma. A palavra hinduísta significa simplesmente "indiano" (da mesma raiz do rio Indo), e talvez a melhor maneira de definir o hinduísmo seja dizer que é o nome das várias formas de religião que se desenvolveram na Índia depois que os indoeuropeus abriram caminho para a Índia do Norte, de 3 a 4 mil anos atrás. ‘’ As raízes do hinduísmo podem ser encontradas em algum ponto entre o ano 1500 a.C. e o ano 200 a.C., quando os chamados arianos (isto é, os "nobres") começaram a subjugar o vale do Indo.’’ (Jostein Gaarder, 2002, p. 42). De acordo como conclui Gaarder, ‘’achados arqueológicos no vale do Indo indicam que houve uma civilização avançada na Índia, anterior à chegada dos indoeuropeus, e é certo que essa civilização também contribuiu para o hinduísmo moderno. O hinduísmo moderno compreende uma grande variedade de idéias e formas de culto. Todas as sociedades têm várias formas de distinção e estratificação em classes, mas é difícil encontrar um país onde isso tenha sido praticado tão sistematicamente quanto na Índia. Desde os tempos antigos sempre houve quatro classes sociais (a palavra sânscrita empregada é varna, que significa "cor"): * sacerdotes (brâmanes); * guerreiros; * agricultores, comerciantes e artesãos, * servos. 29 Porém, à medida que a sociedade indiana se desenvolveu, as pessoas foram sendo divididas em novas castas. No início do século XX havia em torno de 3 mil castas. Não se sabe como surgiu o sistema de castas, e não há prova definitiva de que se trata de uma evolução do sistema de quatro classes. Seria mais verdadeiro dizer que esse sistema de classes se ajusta bem às castas. ‘’ A vaca é um animal sagrado na Índia e é adorada durante certas festas religiosas. Isso provavelmente se relaciona com um antigo culto de fertilidade; nos Vedas há hinos à vaca, pois ela supre tudo o que é necessário para sustentar a vida. A vaca se tornou um símbolo da vida, e não é permitido matá-la.’’ (Jostein Gaarder, 2002) Em termos de culto, a vaca é mais "pura" do que o brâmane. Assim, a pessoa que toca uma vaca está ritualmente limpa. Todos os produtos derivados da vaca — o leite e a manteiga — são utilizados em diversas cerimônias de purificação. Até mesmo o excremento e a urina da vaca são tão sagrados que podem ser usados como agentes de purificação. Os hinduístas têm outros animais sagrados além da vaca, em especial o macaco, o crocodilo e a cobra. De modo geral, eles não gostam de tirar a vida. Isso transformou muitos hinduístas em vegetarianos e também abriu caminho para o ideal da não-violência, que ficou mais conhecido no Ocidente com a luta de Gandhi para tornar a Índia independente do colonialismo britânico. A multiplicidade do hinduísmo também se manifesta em seu conceito de Deus. Em sua forma mais filosófica, o conceito hindu de divindade é panteísta. A divindade não é um ser pessoal, mas uma força, uma energia que permeia tudo: os objetos inanimados, as plantas, os animais e os homens. No extremo menos filosófico do espectro há um conceito politeísta, que acredita num grande número de deuses. Quase todas as aldeias têm a sua própria divindade local. A palavra indiana para "ato" é karma. Hoje ela é usada para denotar todos os atos humanos — ou o resultado coletivo desses atos. No período védico, o termo se referia basicamente a atos religiosos ou rituais, em especial aos atos sacrificiais. Estes eram necessários para incrementar a fertilidade e manter a ordem universal. Esse antigo costume sacrificial, minuciosamente descrito nos Vedas, continua a desempenhar um papel capital no hinduísmo. Fazendo sacrifícios e boas ações, muitos hinduístas tentam obter a felicidade terrena, boa saúde, riqueza e copiosa descendência. Em última análise, o objetivo permanece o mesmo de outras correntes do hinduísmo: libertar-se do círculo vicioso da transmigração do espírito. 30 O hinduísmo tem uma série de deusas. Alguns adotam a teoria de que essa abundância de deusas não passa da expressão de uma grande e poderosa divindade feminina, a "Rainha do Universo" ou "Deusa-Mãe". Sua manifestação mais conhecida é Kali, a deusa negra, adorada sobretudo no Leste da Índia e a quem se sacrificam animais. O alto status de Kali no mundo dos deuses é evidente pelas imagens que a mostram pisoteando o corpo de Shiva. A importância das deusas na religião indiana é visível pela escolha da "Mãe Índia" (Bhárata Mata) como a divindade nacional do moderno Estado da Índia. Na cidade de Varanasi há um templo especial que lhe é dedicado. Ali, em vez de uma representação da deusa, está exposto um mapa da Índia. DIVINDADES MENORES A maioria das aldeias tem seu templo dedicado a Vishnu ou a Shiva. Esses deuses se concentram nas questões maiores, universais, e em geral são homenageados nos grandes festivais. Num nível mais terra-a-terra, as pessoas costumam visitar os pequenos templos dedicados a divindades menos importantes. Embora não sejam tão poderosas como Vishnu ou Shiva, é mais fácil se aproximar delas para assuntos de menor importância, tais como problemas pessoais. Os deuses menores por vezes exercem influência em áreas especiais, por exemplo, em certos tipos de doença. Muitos deles têm origem humana: podem ser heróis que morreram em batalha, ou esposas que se ofereceram para ser queimadas na pira funerária do marido. Alguns deuses são espíritos malignos que foram deixados para trás por homens maus. Ao cultivar esses espíritos como deuses, é possívelcontrolar e neutralizar seu mal. A Índia também é um continente de grandes contrastes no que se refere ao papel da mulher e ao modo como ela é considerada, tanto espiritual como socialmente. O Livro dos Vedas afirma que o homem e a mulher são iguais "como as duas rodas de uma carroça". Entretanto, a aceitação prática dessa idéia tem sido bem mais difícil. Um livro indiano de normas, com 2 mil anos de idade, tem o seguinte a dizer sobre o papel da mulher: "Assim como o estudo e o serviço doméstico na casa de seu mestre são para o menino, assim deve ser para a menina viver com seu marido; ela deve ajudá-lo em seus deveres e ser ensinada por ele. Cuidar do fogo sagrado, como seu esposo lhe ensina, é comparável ao serviço do menino junto ao fogo sacrificial de seu mestre". As mulheres na Índia são freqüentemente encaradas como "propriedade" do marido. Uma mulher solteira em geral tem um status baixo, e uma mulher casada sem filhos pode se encontrar numa situação bem precária. Por 31 outro lado, a Índia foi um dos primeiros países a ter uma mulher como primeiro- ministro (Indira Gandhi). Muitas mulheres desfrutam de notável influência pública, e em nenhum outro país do Terceiro Mundo há tantas mulheres trabalhando fora de casa. Nesse contexto, ser membro de uma casta pode constituir um fator decisivo na situação feminina. O culto das numerosas deusas mulheres também pode contribuir para elevar a consciência das mulheres. 3.2 Budismo ‘’Embora o budismo tenha se originado na Índia e sob esse aspecto possa ser considerado uma religião indiana, pouco resta do budismo na Índia de hoje; ele é mais difundido no Sri Lanka e no Sudeste da Ásia. Entretanto, o budismo também tem uma longa e importante história na China, na Coréia e no Japão. Excluindo a China, estima- se que quase 200 milhões de pessoas professam a fé budista.’’ (Jostein Gaarder, 2002) O fundador do budismo foi o filho de um rajá, Sidarta Gautama (560-480 a.C.), que viveu no Nordeste da Índia. Sobre sua vida há várias histórias, mais ou menos lendárias, mas os pontos de maior destaque são os seguintes: O príncipe Sidarta: cresceu no seio da fortuna e do luxo. O rajá ouvira uma profecia de que seu filho ou se tornaria um poderoso governante ou tomaria o caminho oposto e abandonaria o mundo por completo. Esta última opção aconteceria se lhe fosse permitido testemunhai as carências e o sofrimento do mundo. Para evitar que isso ocorresse, o rajá tentou proteger o filho contra o mundo que ficava além das muralhas do palácio, ao mesmo tempo que o cercava de delícias e diversões. Ainda jovem, Sidarta se casou com sua prima e mantinha também um harém de lindas dançarinas. Aos 29 anos Sidarta experimentou algo que haveria de ser o ponto crucial de sua vida. Apesar da proibição do pai, ele se arriscou a sair do palácio e viu, pela primeira vez, um velho, um homem doente e um cadáver em decomposição. Entretanto, depois dessas impressões desanimadoras, avistou um asceta com a expressão radiante de alegria. Percebeu então que uma vida de riqueza e prazer é 32 uma existência vazia e sem sentido. E se perguntou: haverá alguma coisa que transcenda a velhice, a doença e a morte? Sidarta também se sentiu tomado por uma grande compaixão pela humanidade e um chamado para livrá-la do sofrimento. Imerso em pensamentos, voltou ao palácio e na mesma noite renunciou à sua agradável vida de príncipe. Sem se despedir, abandonou esposa e filho, e partiu para uma vida de andarilho. As narrativas relatam que Sidarta, depois de uma vida de abundância, passou para o extremo oposto: os exercícios ascéticos. Obrigou-se a comer cada vez menos, até que finalmente, segundo a lenda, conseguia sobreviver com um único grão de arroz por dia. Dessa maneira ele esperava dominar o sofrimento; mas nem os exercícios de ascetismo nem a ioga lhe deram o que procurava. Assim, ele adotou o "caminho do meio", buscando a salvação por meio da meditação. E, aos 35 anos, após seis anos de vida ascética, alcançou a iluminação (bodhi), enquanto estava sentado em meditação sob uma figueira, à margem de um afluente do rio Ganges. Sidarta agora se transformara num buda, ou seja, um "iluminado": alcançou a percepção de que todo o sofrimento do mundo é causado pelo desejo. É apenas suprimindo o desejo que podemos escapar de outras encarnações. Durante sete dias e sete noites o Buda ficou sentado debaixo de sua árvore da iluminação. Ganhou dessa forma a compreensão de uma realidade que não é transitória, uma realidade absoluta acima do tempo e do espaço. No budismo isso se chama nirvana. Ao dominar seu desejo de viver, que antes o atava à existência, o Buda parou de produzir carma e, portanto, não estava mais sujeito à lei do renascimento. Conseguira alcançar a salvação para si mesmo, e o caminho estava aberto pata abandonar o mundo e entrar no nirvana final. O deus Brahma, porém, instou com ele para que difundisse seus ensinamentos. E então, mais uma vez, o Buda sentiu compaixão pelos outros seres humanos e por todos os seres vivos. Ele "contemplou o mundo com um olhar de Buda" e decidiu "abrir o portão da eternidade" para aqueles que o quisessem ouvir. O Buda decidira se tornar um guia dos seres humanos. Buda seguiu então para Benares, que já naquela época era um centro religioso. Ali deu sua primeira palestra — o famoso sermão de Benares, que contém os elementos mais importantes de seus ensinamentos. As "rodas da instrução" tinham sido postas em movimento. Diversos monges mendigos seguiam Buda, e durante mais de quarenta anos ele e seus discípulos vagaram pela região nordeste da Índia. Desde o início os seguidores de Buda se dividiram em dois grupos, os leigos e os 33 monges, cada um com seus próprios deveres. Quando Buda tinha por volta de oitenta anos, de repente adoeceu e decidiu se despedir dos discípulos. Antes de morrer, voltou-se para o triste rebanho dos discípulos a seu redor e disse: "Talvez alguns de vós estejam pensando: 'As palavras do mestre pertencem ao passado, não temos mais mestre'. Mas não é assim que deveis ver as coisas. O darma (instrução) que vos dei deve ser o vosso mestre depois que eu partir". 3.2.1 Os ensinamentos de Buda A LEI DO CARMA O budismo cresceu dentro do hinduísmo como um caminho individual para a salvação. As duas religiões têm muitos conceitos em comum: as doutrinas do renascimento, do carma e da salvação. Para Buda, um ponto de partida óbvio é que o ser humano é escravizado por uma série de renascimentos. Como todas as ações têm conseqüências, o princípio propulsor por trás do ciclo nascimentomorte- renascimento são os pensamentos do homem, suas palavras e seus atos (carma). Também nós podemos passar pela experiência de ver que certas coisas que pensamos ou fizemos em determinada época da vida nos afetaram mais tarde. Podemos sentir que nosso passado nos alcançou. É essa mesma idéia que percorre o hinduísmo e o budismo. A diferença é que os orientais vêem essa relação como algo estritamente regulado — e que se estende de uma vida a outra. O tipo de vida em que o indivíduo vai renascer depende de suas ações em vidas anteriores. O homem colhe aquilo que plantou. Não existe "destino cego" nem "divina providência". O resultado flui automaticamente das ações. Portanto, é tão impossível fugir de seu carma quanto escapar de sua própria sombra. Enquanto o ser humano tiver um carma, ele está fadado a renascer. Embora se possa dizer que a lei do carma possui um certo grau de justiça, ela é vista, no hinduísmo e no budismo, como algo um tanto negativo, algo de que se deve escapar. Assim, a salvação consiste em ser libertado do círculo vicioso dos renascimentos. A eterna série de reencarnações costuma ser comparada a um rio que separa o homem do nirvana. O objetivo do budismo, comum com os outros caminhos
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