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Administração no Terceiro Setor Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof. Dr. João Luiz de Souza Lima Revisão Textual: Prof. Me. Claudio Brites Mudanças na Gestão no Terceiro Setor • Introdução; • Globalização/Mundialização da Economia; • Efeitos da Globalização/Mundialização da Economia; • Mercados Regionais, Nacionais e Globais; • Desenvolvimento Sustentável e o Triple Bottom Line; • Nosso Futuro Comum e a Encíclica Papal Laudato Si. • Discorrer acerca das alterações no mercado global em função da globalização/mundia- lização da economia e do estabelecimento e evolução da questão da sustentabilidade organizacional por meio do triple bottom line, bem como das ações daí derivadas; • Conduzir o assunto envolvendo as mudanças na gestão no terceiro setor como uma excelente oportunidade de interação dos conhecimentos sobre a temática, incluindo as oportunidades derivadas para o gerenciamento efi ciente e efi caz das Organizações Não Governamentais no âmbito das mudanças inerentes ao século XXI. OBJETIVOS DE APRENDIZADO Mudanças na Gestão no Terceiro Setor Orientações de estudo Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua formação acadêmica e atuação profissional, siga algumas recomendações básicas: Assim: Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e horário fixos como seu “momento do estudo”; Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo; No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você tam- bém encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados; Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus- são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e de aprendizagem. Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Determine um horário fixo para estudar. Aproveite as indicações de Material Complementar. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma Não se esqueça de se alimentar e de se manter hidratado. Aproveite as Conserve seu material e local de estudos sempre organizados. Procure manter contato com seus colegas e tutores para trocar ideias! Isso amplia a aprendizagem. Seja original! Nunca plagie trabalhos. UNIDADE Mudanças na Gestão no Terceiro Setor Introdução Esta unidade apresenta e discorre sobre as mudanças na gestão no terceiro setor, baseando-se nos preceitos da globalização/mundialização da economia, da sustentabilidade organizacional e do triple bottom line. Apresenta ainda questões que levam à reflexão da importância do Terceiro Setor nesse cenário do século XXI. No Brasil, existem inúmeras entidades ou organizações de natureza privada que atuam no Terceiro Setor e estão rigorosamente inseridas nesse novo conceito econômico em que as transações organizacionais ultrapassam as tradicionais fron- teiras geográficas dos países por conto do novo fenômeno social da globalização/ mundialização da economia. Globalização/Mundialização da Economia O que explica essa reação em cadeia é a crescente interdependência dos países, decorrente do atual processo de internacionalização do capital, da produção, da informação, do conhecimento e dos cuidados com o meio ambiente. A expansão do comércio, tendo como pano de fundo o novo cenário montado após a II Guerra Mundial (1939-1945), com a divisão do planeta em duas esferas de influência, a norte-americana e a soviética, ocorreu em 1947 quando foi assinado o Acordo Geral de Tarifas de Comércio (GATT), do qual se originaria, em 1995, a Organização Mundial do Comércio (OMC). Os países signatários se comprome- teram a derrubar tarifas alfandegárias, no mais importante passo para a abertura efetiva dos mercados. O processo de integração informacional se acentuou a partir da década de 1990, especialmente no setor de telecomunicações. As trocas de informações (dados, voz e imagens) se tornaram quase instantâneas, encurtando distâncias e agilizando negócios. Segundo estudo recente do Banco Mundial, entre 1950 e 2018, o “volume” total das transações comerciais saltou de 61 bilhões de dólares para doze trilhões de dólares. O fim abrupto da antiga União Soviética e do chamado bloco socialista, no início da década de 1990, precisamente em 1991, acentuou o processo de globali- zação/mundialização da economia, agregando de forma desordenada a economia desses países à esfera capitalista. Muito menos traumática, porém tão ou mais impactante, é a abertura gradual e organizada do gigantesco mercado que envolvia a economia chinesa, promovida desde o fim da década de 1970 pelas reformas econômicas então comandadas pelo líder chinês Deng Xiaoping. Um capítulo importante da globalização/mundialização da economia foi a criação dos blocos econômicos regionais, em especial a União Europeia, que a partir de 8 9 1992 eliminou barreiras à circulação de mercadorias, capitais e mão-de-obra entre os países membros. No dia 1º de janeiro de 2002, a União Europeia colocou em circulação a sua moeda comum: o euro. Assim, integrando monetariamente as pri- meiras doze nações do continente em um momento de extrema relevância para o estabelecimento da união e do bem comum entre as nações europeias. No entanto, no início do ano de 2020, o Reino Unido deixou o bloco em um episódio conhecido pelo termo Brexit, colocando em xeque a união dos europeus e o próprio destino do Reino Unido. A saída definitiva do Reino Unido da União Europeia em 31/01/2020, após três anos e meio de muita discussão, foi apelidada de Brexit. O termo é originário da língua inglesa, resultante da junção das palavras British e exit. Ex pl or A globalização/mundialização da economia consiste no fenômeno contemporâneo no qual os bens, serviços, as pessoas, habilidades e ideias se movimentam através das fronteiras geográficas. Em outras palavras, a globalização/mundialização da economia consiste na interdependência entre os atores econômicos globais – governos, empre- sas e movimentos sociais (ONGs e entidades filantrópicas etc.). O termo Globalização vem da língua inglesa, ou de The Globe. O termo Mundialização vem da língua francesa, ou do termo Le Monde.Ex pl or Efeitos da Globalização/ Mundialização da Economia A explosão de investimentos juntamente com a expansão do comércio permitiu uma notável intensificação do fluxo de capitais entre os países. Os grandes grupos empresariais ampliaram suas operações, estabelecendo filiais em quase todos os continentes. Para custear essa expansão, os grandes grupos buscaram recursos no mercado financeiro, que se tornou uma instância onipresente no novo cenário global. Sob o impacto da ideologia neoliberal e sua teoria do “estado mínimo”, preconiza- das por organismos globais, como o Fundo Monetário Internacional (FMI), governos de dezenas de países privatizam empresas estatais, desobrigando-se de atividades como a geração de energia, a distribuição de água e o tratamento de esgoto, a coleta de lixo e as telecomunicações, reduzindo ainda subsídios e gastos sociais. Com um novo modelo produtivo, a globalização/mundialização da economia modificou profundamente o funcionamento das empresas, governos e ONGs. Por 9 UNIDADE Mudanças na Gestão no Terceiro Setor causa das fusões, aquisições e redefinições do processo produtivo e, emalguns setores que exigiam maior emprego de mão-de-obra, migração das unidades fabris para os países em desenvolvimento, grandes conglomerados reduziram substancialmente o quadro de trabalhadores. Ao mesmo tempo, a informatização e automação das empresas, o emprego intensivo das telecomunicações e a agi- lização dos transportes, a descentralização e a terceirização de várias atividades levaram a produtividade humana às alturas. A globalização/mundialização da economia é uma tendência intrínseca do ca- pitalismo. As principais críticas que lhe são feitas se referem ao fato de desse pro- cesso privilegiar uma minoria em detrimento da imensa maioria. Segundo alguns dos seus críticos, como, por exemplo, o economista norte-americano e ganha- dor do Prêmio Nobel de Economia de 2001 Joseph E. Stiglitz, a globalização/ mundialização da economia, tal como vem ocorrendo, acentua as desigualdades entre ricos e pobres no interior dos países e entre nações ricas e pobres em escala global. Stiglitz foi diretor do Banco Mundial e teceu duras críticas ao Fundo Mone- tário Internacional (FMI) e a outras instituições por colocarem os interesses de Wall Street e da comunidade financeira à frente dos interesses das nações mais pobres. A globalização/mundialização da economia resumidamente tem gerado os se- guintes efeitos sobre a sociedade mundial: • Rápida disseminação das informações; • Aumento do nível de conhecimento; • Comparação de valores, crenças e costumes; • Adaptação e assimilação de culturas; • Surgimento de novas necessidades pessoais; • Aumento da consciência de direitos; • Abertura de mercados econômicos; • Maior variedade de oferta de produtos; • Necessidade de preservação das individualidades pessoais e nacionais. Mercados Regionais, Nacionais e Globais As empresas de grande porte espalhadas por diversos países e conhecidas como multinacionais ou transnacionais começaram a moldar os novos padrões de competição e alianças. O seu desenvolvimento maior, a partir da década de 1950, marca o início de uma nova fase do capitalismo mundial. Países com grandes mercados internos, caso típico do Brasil, possuem muitas empre- sas de grande porte que operam apenas em território nacional. Seu desempenho, no en- tanto, é frequentemente influenciado pelas multinacionais. A partir da Segunda Guerra, teve início na economia mundial o movimento de internacionalização do capital, o que 10 11 configurou o que se veio a ser chamado de globalização/mundialização da economia. Junto com esse fenômeno, instalou-se um forte ambiente concorrencial, que abrangeu empresas e países. Considerando alguns dos países economicamente mais desenvolvi- dos, como Estados Unidos, Japão, Alemanha, Reino Unido, França, Itália e Canadá (que pertencem ao G7 e à OCDE), pode-se dizer que a maior parte dos produtos que um deles fabrica, outros países, em qualquer parte do mundo, têm também a possibilidade de fa- bricar. Assim sendo, a competência produtiva, por si só, não é mais o fator distintivo por excelência como acontecia, por exemplo, com os Estados Unidos ao final da Segunda Guerra Mundial. O Grupo dos Sete (G7) é o fórum dos sete países mais industrializados do mundo e a Federação Russa, a qual participa das reuniões, mas não das discussões econômicas. Esse grupo tem como objetivo coordenar a política econômica e monetária mundial. Membros: Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Grã-Bretanha, Itália, Japão e Rússia (participan- te das reuniões). A Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) reúne países que, juntos, produzem dois terços de todos os bens e serviços do mundo. É um fórum para discussão, consulta e coordenação da política econômica e social, que produz estatísticas e publicações em diversas áreas. Membros: Alemanha, Austrália, Áustria, Bélgica, Canadá, Coréia do Sul, Dinamarca, Espanha, Estados Unidos, Finlândia, França, Grécia, Holanda, Hungria, Irlanda, Islândia, Itália, Japão, Luxemburgo, México, Noruega, Nova Zelândia, Polônia, Portugal, Reino Unido, República Tcheca, Suécia, Suíça e Turquia. A Comissão Europeia também participa dos trabalhos da OCDE. Ex pl or O ambiente concorrencial contemporâneo levou a uma série de consequên- cias, uma das quais é o aparecimento de medidas protecionistas por parte das autoridades governamentais, pressionadas pelos fabricantes locais. Essas medidas costumam aumentar de intensidade quando as empresas estrangeiras começam a conquistar fatias significativas do mercado doméstico, quando a balança comercial mostra deterioração ou, ainda, quando o alto nível de desemprego local começa a preocupar as autoridades. O nível de desemprego tem, aliás, se mantido em patamares inquietantes em alguns países desenvolvidos e no Brasil desde que se manifestou a recessão mundial nas décadas de 2000 e 2010. Mesmo os Estados Unidos da América (EUA), país tradicionalmente defensor do livre comércio, não escapou da onda protecionista. Em parte, o auxílio americano à reconstrução da Europa Ocidental e do Japão visa- va justamente assegurar uma economia mundial de livre comércio. O crescimento econômico dessas regiões, aliado à supervalorização do dólar norte-americano no início da década de 1980 (prejudicando sobremaneira as exportações americanas), fez com que contínuos déficits aparecessem na balança comercial americana de manufaturados. De um pequeno superávit médio durante toda a década de 1970, esse déficit aumentou a partir de 1982, quase atingindo 150 bilhões de dólares por volta de 1990. Esse valor veio a subir de 2000 e 2010 para, respectivamente, 1 trilhão e 10 trilhões de dólares norte-americanos. 11 UNIDADE Mudanças na Gestão no Terceiro Setor Provavelmente o governo desempenhará um papel muito diferente na emergente era higt-tech (alta tecnologia), um papel menos vinculado aos interesses da economia e mais alinhado com os interesses da economia social. Moldar uma nova parceria entre o governo e o terceiro setor para reconstruir a economia social poderia ajudar a restaurar a vida cívica em cada nação. Alimentar os poderes, fortalecer serviços básicos de assistência à saúde, educar os jovens da nação, construir moradias a preços acessíveis e preservar o meio ambiente encabeçam a lista das prioridades urgentes nos próximos anos. No caso do Brasil, a partir da década de 2000, a economia apontou para um crescimento da ordem de 2%, levemente superior ao desempenho na década de 1990. O começo da década de 2010 aumentou a confiança de consumidores e empresários nos rumos da economia. Para ganhar a credibilidade da comunidade financeira internacional e dos investidores e para evitar qualquer possibilidade de descontrole inflacionário, o Governo do Brasil em 2019 e 2020 decidiu, por exem- plo, baixar a taxa de juros para 4,25% anuais. O término da Segunda Guerra Mundial mostrou claramente a necessidade da reconstrução não só física, mas também política e econômica dos países que foram atingidos indiretamente pelo conflito, os que hoje são chamados de “Terceiro Mundo”, ou seja, os países pobres. A integração dos países e das economias passou a ser o alvo da modernidade, ou seja, o “Norte” das nações, a eliminação das rivalidades e o desejo de união; ou seja, o reinício com novas propostas. As negociações globais representam um percentual cada vez maior das atividades mercadológicas no mundo empresarial e das atividades dos indivíduos, dos colabo- radores, dos executivos espalhados pelos países afora. Os negócios internacionais têm importância crescente na atividade econômica de grande parte das nações. Esses negócios assumiram, no final do século XX, destaque muito maior do que se imaginava, principalmente com a globalização da economia. A atuação das organizações em níveis internacionais vem sofrendo grandes alterações, em função de uma série de aspectos que caracterizam o novo mercado globalizado. Assim, entre os diversos tipos de empresas internacionalizadas, pode- -se apresentarum modelo de transição nas atividades das companhias caracteriza- do por alguns aspectos básicos, tais como: • Redes internacionais de contatos; • Criação de uma mentalidade claramente internacionalizada; • Busca de novos conhecimentos; • Envio de executivos a outros países para obtenção de maior conhecimento e cultura. A importância da globalização/mundialização da economia é tão grande e se faz presente de maneira tão intensa no dia a dia das pessoas e das empresas que não chega a causar espanto, por conta, por exemplo, da facilidade de penetração 12 13 dos produtos nas economias do mundo. A intensificação da globalização/mundia- lização da economia pode ser verificada, ainda, de maneira muito clara, no cres- cimento explosivo do número de empresas nacionais e multinacionais voltadas para o mercado internacional. O pioneirismo da Europa bem-aceito pela União Europeia (UE) foi seguido, anos depois, pelo surgimento de outros blocos econômicos: na América, à Associação Latino-Americana de Livre Comércio (ALALC) e ao Grupo Andino, que foram as primeiras “associações de países”, seguiram-se Associação Latino- -Americana de Integração (ALADI), o Mercado Comum do Sul (Mercosul), Tratado Norte-Americano de Livre Comércio (NAFTA), Mercado Centro-Americano e Comunidade do Caribe (Caricom); na África, o Mercado Meridional; na Ásia, a Associação de Nações do Sudeste Asiático (ASEAN); e no Pacífico, a Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (APEC). A abertura do Brasil para o comércio internacional, a partir da década de 1990, mostra claramente que os resultados têm sido de grande valia para o pro- cesso de estabilização da economia brasileira, e que, na atual conjuntura, o que se almeja é exportar ainda mais. Há muito o que ser feito nesse sentido, conforme demonstrado a seguir: • Analisar friamente a necessidade de financiamento aos clientes do exterior; • Criar realmente uma política de país exportador, com apoio comercial à altura das necessidades; • Mapear os focos produtivos, incentivando também o pequeno e o médio fabri- cante, os quais estão distantes dos grandes centros; • Reverter rapidamente os resultados das privatizações dos portos para os custos dos produtos exportados; • Melhorar a prestação de serviços complementares às exportações; • Mudar a cultura das empresas com relação ao comércio internacional; • Cobrar maior agilidade nas decisões por parte dos órgãos intervenientes, de modo a eliminar burocracias que somente prejudicam o progresso do comércio exterior brasileiro e outras mais que ainda estão incrustadas. O êxito da atividade exportadora se pauta pelo atendimento a uma série de requisitos e, em alguns casos, requer treinamento específico e apoio de profissionais especializados para as organizações nesse novo cenário. O fenômeno da Globalização / Mundialização da Economia exige que o gestor contemporâneo pense localmente ou regionalmente, porém, aja ou atue de forma nacional e global.Ex pl or 13 UNIDADE Mudanças na Gestão no Terceiro Setor Desenvolvimento Sustentável e o Triple Bottom Line O conceito de desenvolvimento sustentável está diretamente ligado ao processo de mudança que se acentua atualmente no mundo em virtude da exploração de recursos e, como consequência, à nítida degradação da natureza e aos reais temo- res sobre o legado que a geração atual deixará para as gerações futuras. Há inúmeros indícios de que o processo econômico, baseado no crescimento ilimitado e no livre mercado, encontrou finalmente os seus limites e que o atual crescimento econômico, dentro de seus padrões atuais, pode levar a Terra à des- truição, inclusive da raça humana. Os desafios atualmente do desenvolvimento sustentável estão ligados à crença da sobrevivência e da convivência humana pacífica no Planeta Terra, bem como da dúvida se essa crença ainda é viável. Portanto, surgem argumentos sobre uma racionalidade antiecológica. A Figura 1, a seguir, apresenta o conceito do triple bottom line (tripé da susten- tabilidade), que integra os três vetores da sustentabilidade, ou seja, o econômico, o ambiental e o social. Gestão Ambiental Responsabilidade Social Sustentabilidade Desenvolvimento Econômico Figura 1 – Triple bottom line Fonte: Acervo do conteudista O desenvolvimento sustentável consiste no desenvolvimento capaz de suprir as necessidades da geração atual, sem comprometer a capacidade de atender às necessidades das futuras gerações. Portanto, trata-se do desenvolvimento que não esgota os recursos para o futuro. Esse é um conceito que norteia as discussões atuais sobre proteção do meio ambiente. Foi definido em 1987, no relatório Nosso Futuro Comum, da Organização das Nações Unidas (ONU), e propõe atender às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras acatarem às próprias necessidades. 14 15 A Figura 2, a seguir, apresenta a exemplificação da aplicação do conceito do triple bottom line (tripé da sustentabilidade), conforme os seus três vetores, ou seja, o econômico, o social e o ambiental. Gestão Ambiental Responsabilidade Social Sustentabilidade Desenvolvimento Econômico Maximização do retorno do capital ao investidor e empreendedor (lucratividade no longo prazo) Preservação do rescursos naturais, ecoe�ciência e energia renovável Cidadania Geração de emprego Engajamento das partes interessadas Figura 2 – Exemplifi cação do triple bottom line Fonte: Acervo do conteudista O desenvolvimento sustentável pressupõe, portanto, a utilização de formas mais racionais de exploração da natureza, baseadas em “tecnologias não-predatórias” que preservem o equilíbrio ecológico. Esse estudo alerta também para o vínculo estreito entre pobreza e degradação ambiental. A partir da década de 1970, têm se tornado cada vez mais numerosas as iniciati- vas para transformar materiais usados em novos produtos, um processo estimulado pela crescente preocupação com o meio ambiente. Especialistas alertam para o fato de que é preciso, inicialmente, diminuir a quantidade de lixo. Didaticamente, fala-se nos “três erres”: • Redução; • Reutilização; • Reciclagem. O primeiro “erre” é realizado por meio do consumo consciente (de produtos com embalagens retornáveis, por exemplo). O segundo, pelo reaproveitamento de materiais que possam ter nova utilidade. O terceiro, pelo reenvio do lixo não-orgânico ao processo produtivo, para a fabricação de novos produtos. As so- ciedades pressionam as indústrias a aliar a exploração econômica à preservação ambiental, incentivando atividades como a coleta seletiva de lixo e a reciclagem. 15 UNIDADE Mudanças na Gestão no Terceiro Setor Nosso Futuro Comum e a Encíclica Papal Laudato Si No ano de 1983, o então Secretário-Geral da ONU, Javier Pérez de Cuéllar, convidou a médica, mestre em saúde pública e ex-Primeira Ministra da Noruega a compor e presidir a Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvi- mento (CMMAD). Brundtland foi a escolhida em virtude de que a sua visão em saúde ultrapassava as barreiras do mundo médico para os assuntos ambientais e de desenvolvimento humano. Em abril de 1987, a Comissão Brundtland, como ficou conhecida a CMMAD, publicou o relatório chamado Nosso Futuro Comum, que trazia o con- ceito inovador sobre o desenvolvimento sustentá- vel no âmbito do discurso público, sendo até hoje o conceito que norteia as discussões sobre proteção do meio ambiente. Esse relatório propõe atender às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as ge- rações futuras acatarem às próprias necessidades. Pressupõe, portanto, a utilização de formas mais ra- cionais de exploração da natureza, baseadas em tec- nologias não-predatórias que preservem o equilíbrio ecológico. Esse estudo alerta também para o víncu- lo estreito entre pobreza e degradação ambiental. A Figura 3, a seguir, apresenta a ilustração do relatório Nosso Futuro Comum, publicado no Brasil em 1987 pela Editora da Fundação Getúlio Vargas (FGV). AFigura 4, a seguir, apresenta a Doutora Gro Harlem Brundtland, política, diplomata e médica norueguesa, e uma líder internacional em desenvolvimento sustentável e saúde pública. Foi membro do Partido dos Trabalhadores da Noruega desde a sua juventude. Figura 4 – Gro Harlem Brundtland Fonte: P. Virot/OMS Figura 3 – Relatório nosso futuro comum Fonte: Editora da FGV, 1987 16 17 A Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, realizada em Estocolmo, na Suécia, em 1972, foi o primeiro grande evento da ONU que discutiu as questões ambientais. Realizada no período da Guerra Fria, o encontro não chegou a definir políticas efetivas por causa das divergências entre os países dos blocos capitalista (liderado pelos Estados Unidos – EUA) e socialista (encabeça- do pela União Soviética – URSS). Um dos poucos resultados efetivos foi a criação do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA). Ainda assim, o fórum colocou em pauta questões importantes, como a proposta de repasse de parte do Produto Interno Bruto (PIB) das nações ricas para os países pobres, como forma de auxiliá-los na resolução de problemas ambientais. Em 1982, ocorreu um novo encontro, a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, em Nairóbi, no Quênia, durante o qual se constatou não ter havido avanços consideráveis desde a conferência de Estocolmo. A reunião se limitou a avaliar o plano de ação aprovado dez anos antes, sem definir uma política global. O debate ambiental ganhou impulso em 1992, com a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, no Rio de Janeiro, no Brasil. O evento, que ficou conhecido como ECO-92 ou Rio-92, fez novo balanço tanto dos problemas existentes quanto dos progressos realizados e elaborou documentos importantes que continuam atualmente a ser referência para as discussões. Duas convenções são aprovadas nesse momento: uma sobre biodiversidade e outra sobre mudanças climáticas. Outro resultado positivo é a assinatura da Agenda 21, um plano de ação com metas para a melhoria das condições ambientais do planeta. Grande número de organizações não governamentais participou da ECO-92 e realizou de forma paralela o Fórum Global, que aprovou a Declaração do Rio (ou Carta da Terra). Segundo esse documento, os países ricos têm maior responsabilidade na preservação do planeta e, se os avanços tecnológicos em cur- so não forem suficientes para assegurar a integridade da biosfera, será necessário diminuir o padrão de produção e consumo, especialmente nessas nações. Como estava previsto na Convenção sobre Mudanças Climáticas, assinada durante a ECO-92, deveria ocorrer uma nova reunião internacional para debater a redução da emissão de gases responsáveis pelo aumento da temperatura do planeta. Esse encontro ocorreu no ano de 1997, em Kyoto, no Japão, onde líderes de 160 nações assinaram um tratado que ficou conhecido como Protocolo de Kyoto. O Protocolo de Kyoto previu, entre 2008 e 2012, uma redução de 5,2% (em relação aos níveis de 1990) nas emissões dos gases causadores do efeito estufa, con- sideradas, de acordo com a maioria das investigações científicas, como causa antro- pogênica do aquecimento global. Em julho de 2001, representantes de 178 países reunidos em Bonn, na Alemanha, aprovaram a regulamentação desse protocolo. Outro fórum mundial foi realizado em 2002, em Johanesburgo, na África do Sul. Com o nome de Cúpula Mundial sobre o Desenvolvimento Sustentável, a Rio+10, como também fica conhecida, integrou o conjunto de iniciativas da 17 UNIDADE Mudanças na Gestão no Terceiro Setor ONU para reduzir a pobreza. Outras questões importantes foram discutidas tam- bém, como o fornecimento de água e saneamento, energia, saúde, agricultura e biodiversidade. Sua pauta previu a implementação da Agenda 21 por meio de parcerias entre governos e sociedade civil. A meta era avaliar as ações tomadas em defesa do meio ambiente e discutir novas estratégias de desenvolvimento que não comprometessem o patrimônio ecológico do planeta. Nesse evento, contudo, não ficou definido nenhum compromisso das nações desenvolvidas com o cancelamento das dívidas dos países mais pobres, uma ques- tão considerada essencial para a redução da pobreza e a consequente defesa do meio ambiente. Um dos poucos progressos obtidos refere-se ao abastecimento de água, os países concordaram com a meta de reduzir pela metade o número de pessoas que não têm acesso à água potável e nem ao saneamento básico. Outro acordo assumido prevê a recuperação dos estoques de peixes por meio do controle da pesca oceânica, para que as espécies possam reproduzir-se antes de ser capturadas. Os demais itens da Agenda 21, ainda que adotados, ficaram sem definição de metas ou prazos. Novamente com realização na cidade do Rio de Janeiro, dessa vez no ano de 2012, a Rio+20 – ou Conferência da ONU sobre o Desenvolvimento Sustentável – reuniu um total de 193 representantes de países. Um dos poucos progressos obti- dos nesse encontro refere-se ao abastecimento de água. Em setembro de 2015, ocorreu, em Nova York (EUA), na sede da ONU, a Cúpula de Desenvolvimento Sustentável. Nesse encontro, todos os países da ONU definiram os novos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) como parte de uma nova agenda de desenvolvimento sustentável que deveria finalizar o trabalho dos ODM (os objetivos do milênio), sem deixar ninguém para trás. Os 8 (oito) Objetivos do Milênio (ODM) são os seguintes: • Redução da pobreza; • Atingimento do ensino básico universal; • Igualdade entre os sexos e a autonomia das mulheres; • Redução da mortalidade na infância; • Melhora da saúde materna; • Combate ao HIV/AIDS, à malária e outras doenças; • Garantia da sustentabilidade ambiental; • Estabelecimento de uma parceria mundial para o desenvolvimento. A ONU está organizando um novo evento a ser realizado em 2030 em lugar ainda a ser definido. A Agenda 2030, como o evento está sendo chamado, consiste em uma declaração de Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) e de suas metas com uma seção sobre meios de implementação e de parcerias globais e um 18 19 arcabouço para acompanhamento e revisão. O conjunto de objetivos e metas de- monstram a escala e a ambição dessa nova Agenda Universal. Os ODS aprovados foram construídos sobre as bases estabelecidas pelos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM), de maneira a completar o traba- lho deles e responder a novos desafios. São integrados e indivisíveis, e mesclam, de forma equilibrada, as três dimensões do desenvolvimento sustentável (triple bottom line), ou seja, a econômica, a social e a ambiental. Aprovados na Cúpula das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável (de 25 a 27 de setembro 2015), a implementação dos ODS será um desafio, o que requererá uma parceria global com a participação ativa de todos, incluindo gover- nos, sociedade civil, setor privado, academia, mídia e Nações Unidas. Todas as ações do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) estão alinhadas com os ODS, tendo em mente a necessidade da finali- zação do trabalho no âmbito dos ODM, visando a “não deixar ninguém para trás” no processo de desenvolvimento sustentável. Os cinco Ps da Agenda 2030 são os seguintes: • Pessoas: Erradicar a pobreza e a fome de todas as maneiras e garantir a dig- nidade e a igualdade; • Prosperidade: Garantir vidas prósperas e plenas, em harmonia com a natureza; • Paz: Promover sociedades pacíficas, justas e inclusivas; • Parcerias: Implementar a agenda por meio de uma parceria global sólida; • Planeta: Proteger os recursos naturais e o clima do nosso planeta para as gerações futuras. A Conferência das Nações Unidas Sobre Mudanças Climáticas (COP21), que foi realizada em Paris, de 30/11 a 11/12 de 2015, possibilitou a adoção de um novo acordo com o objetivo central de fortalecer a resposta global à ameaça da mudan- ça do clima e de reforçar a capacidade dos paísespara lidarem com os impactos decorrentes dessas mudanças. O Acordo de Paris foi ratificado e aprovado pelos representantes dos 195 países presentes. O compromisso está diretamente ligado ao controle do aumento da temperatura média global, tentando mantê-la em bem menos de 2°C acima dos níveis pré-industriais e de possibilitar os esforços para limitar o aumento da temperatura a 1,5°C acima dos níveis pré-industriais. O secretário-geral da ONU, em uma cerimônia em Nova York, no dia 22 de abril de 2016, abriu o período para assinatura oficial do acordo, pelos países signatá- rios. Esse período se encerrou em 21 de abril de 2017. Cada governo deve construir e oficializar os seus próprios compromissos, a par- tir das chamadas Pretendidas Contribuições Nacionalmente Determinadas (iNDC, na sigla em inglês). Por meio das iNDCs, cada nação deve apresentar a sua con- tribuição de redução de emissões dos gases de efeito estufa, seguindo o que cada governo considera viável a partir do cenário social e econômico local. 19 UNIDADE Mudanças na Gestão no Terceiro Setor No entanto, o governo do presidente Donald Trump retirou os Estados Unidos do Acordo do COP21, alegando que essa adesão iria prejudicar a economia norte-americana, bem como a redu- ção do nível de emprego no país. Por sua vez, dedicada totalmente à questão da mudança climática, do meio ambiente e da pobreza, a nova encíclica do papa Francisco, Laudato Si (Louvado Seja), a primeira de sua inteira responsabilidade, teve grande impacto nas negociações sobre o clima junto ao COP21. O texto da Encíclica Laudato SI se inscreve e baliza o contexto da realização da COP21 da ONU em Paris (França). A Figura 5, a seguir, apresenta a Encíclica Pa- pal Laudato Si. A máxima da Encíclica Laudato Si está representada na frase contida na Figura 6, a seguir. Figura 6 – Encíclica do papa Franciso – Laudato Si Fonte: PUC-RJ, 2015 A seguir, as críticas de comportamento presentes nessa encíclica: • Crítica à visão consumista do homem; • Crítica à cultura do descarte; • Crítica aos efeitos sociais e ambientais das mudanças climáticas; • Crítica à problemática da água; • Crítica à perda da biodiversidade; • Crítica à deterioração da qualidade de vida humana e degradação social; • Crítica à separação entre a degradação social e a ambiental; Figura 5 – Encíclica papal Laudato Si Fonte: Editora Loyola, 2015 20 21 • Crítica aos que acham que a redução da natalidade é a solução dos problemas; • Crítica ao antropocentrismo ensimesmado, não relacional (o homem em si mesmo); • Crítica à ineficácia das relações e discussões políticas; • Crítica ao paradigma tecnocrático; • Crítica ao relativismo prático (excesso de materialidade). A seguir, as propostas de mudanças e conversões da humanidade presentes na Encíclica Laudato Si do Papa Francisco, visando o “bem comum”: • Apontamento da sociedade global para um outro estilo de vida mais simples; • Educação para a aliança entre a humanidade e o ambiente; • Conversão ecológica do homem; • Concepção do “bem comum”; • Diálogo e união com as diferenças, principalmente entre a religião e a ciência; • Resgate da visão sistêmica do mundo (onde todos pertencem à Casa Comum, ou seja, todos habitam o Planeta Terra); • Cuidado com os espaços comuns da Casa Comum; • Importância da justiça intergeneracional (a geração atual precisa deixar um legado digno às gerações futuras); • Diálogo inter-religioso e fraterno; • Ecologia cultural e a prática dos princípios do “bem comum”. O clima recebe influência de fatores naturais e do impacto provocado por algu- mas atividades humanas. As grandes cidades, como São Paulo e Rio de Janeiro, apresentam o chamado clima urbano, resultante da poluição industrial e da emissão de monóxido de carbono (CO) dos automóveis. Os gases formam nuvens que per- manecem perto da superfície, retendo parte da radiação infravermelha, responsá- vel pelo aumento da temperatura, e formando “ilhas de calor”. O problema não se restringe às grandes cidades e atinge até mesmo ecossistemas intactos. As cidades também são mais sujeitas a enchentes, já que o solo impermeabi- lizado não absorve com rapidez a água da chuva. Outra característica do clima dos centros urbanos são as inversões térmicas, que resultam no agravamento da poluição do ar. O fenômeno ocorre no inverno, quando as camadas atmosféricas próximas da superfície estão mais frias do que as camadas superiores, o que difi- culta a dispersão dos gases. Alterações climáticas graves são provocadas ainda pelo desmatamento. A derru- bada e a queima das florestas aumentam a temperatura do ar e deixam a superfície devastada sem condições de reter a energia do sol nem de gerar fluxos ascendentes de ar. Assim, as nuvens não se formam e não chove, o que prejudica a agricultura e ameaça a vegetação restante. 21 UNIDADE Mudanças na Gestão no Terceiro Setor O excesso de gases, como o gás carbônico (CO2), o metano, o óxido nitroso e os clorofluorcarbonos, além do vapor d’água, e sua concentração na atmosfera pro- vocam o fenômeno conhecido como efeito estufa. Os gases acumulados formam uma espécie de carapaça de proteção que impede a saída e a troca de calor com a atmosfera, aumentando a temperatura média da Terra. Especialistas calculam que, nos próximos 100 anos, a temperatura média da superfície terrestre poderá aumentar até 3,5 °C. Além disso, há outros efeitos já percebidos: elevação do nível do mar, tempestades e chuvas mais frequentes e ressecamento do solo. Para evitar que as mudanças climáticas causadas pela ação do homem prejudiquem todo o planeta, o Brasil e outros 154 países assinaram, durante a ECO-92, a Convenção Climática, em vigor desde maio de 1994. Um inventário nacional sobre a emissão de gases poluentes, coordenado pelo Ministério da Ciência e Tecnologia, estima a participação brasileira em 3% das emissões mun- diais de CO2, sendo 1% referente ao setor energético e 2% a outros fatores, como florestas, queimadas e rebanhos bovinos. O setor energético brasileiro emite cerca de 70 milhões de toneladas de carbono por ano, o que faz do país o 17º produtor mundial da substância. No entanto, esse cálculo ainda não é definitivo, pois não se sabe exatamente quanto de CO2 é provocado pelas queimadas e o efeito da emissão de gás metano pelo rebanho bovino – o gás, produzido pelo gado durante a digestão, é um dos causadores do efeito estufa. Quando tais valores forem agregados ao cálculo, o Brasil estará entre os dez maiores poluidores do mundo. Em julho de 1999, o governo brasileiro criou a Comissão Interministerial de Mudança Climática, com o objetivo de articular as ações decorrentes da Convenção da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre o tema. Ela assessora também as decisões brasileiras nas negociações internacionais. Em 1997, como dito, foi realizada, em Kyoto, no Japão, a terceira conferência das Nações Unidas sobre mudança do clima, com a presença de representantes de mais de 160 países. Nela foram estabelecidos metas e prazos para que as nações desenvolvidas promovessem a redução das emissões de CO2. As disputas e diver- gências entre as nações desenvolvidas, no entanto, têm impedido que essas metas sejam cumpridas. Mesmo assim, o senado brasileiro ratificou, por unanimidade, em junho de 2002, o Protocolo de Kyoto, com sua previsão de redução de 5% na emissão de dióxido de carbono e de outros gases responsáveis pelo efeito estufa progressivamente, entre os anos de 2008, 2012 e 2016, em comparação ao nível de 1990; no mês seguinte, a ratificação entrou em vigor. Em julho de 2001, em Bonn, na Alemanha, um acordo envolvendo 178 países, entre eles o Brasil, definiu as regras para a implementação do Protocolo de Kyoto. Entre as principais decisões, estava a adoção dos “sumidouros”, um mecanismo pelo qual os países que não cumprirem as metas de emissão de poluentes do pro- tocolo devem investir na preservação de florestas, as quais absorvem CO2. A pro- posta dossumidouros é criticada por parte dos ambientalistas, pois eles consideram que as potências econômicas não vão esforçar-se para atingir a meta de reduzir em 5,2% as emissões, por considerarem mais fácil investir em proteção florestal. 22 23 Desde 1999, está em curso na Amazônia um megaprojeto internacional de 80 milhões de dólares envolvendo mais de 300 pesquisadores do mundo inteiro para estudar, principalmente, a relação entre o ecossistema tropical e o efeito estufa. Denominado Experimento de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia (LBA, em inglês), ainda está em fase de cálculo, mas o último congresso, realizado em agosto, em Manaus, concluiu que a absorção de gás carbônico pela floresta tro- pical é menor do que se pensava anteriormente. Esse estudo em florestas tropicais é pioneiro no mundo, pois só existem trabalhos semelhantes em ecossistemas tem- perados. Mesmo sem encerrar as pesquisas, o estudo já esclareceu uma polêmica científica: se o balanço entre o gás carbônico absorvido pela floresta Amazônica e aquele produzido pela fotossíntese seria negativo ou positivo. Atualmente, sabe-se que a floresta absorve mais do que produz CO2. Outra novidade da reunião em Bonn, na Alemanha, é a criação de um fundo de 530 milhões de dólares anuais para auxiliar os países menos desenvolvidos a se adaptarem às mudanças. Os Estados Unidos, responsáveis por 25% das emissões mundiais de gases estufa, não assinaram o acordo acertado em Bonn, o que deverá diminuir seu alcance. O Brasil tem quase a metade de seu território coberta pela floresta Amazônica, a principal reserva biológica do planeta. Maior país tropical do mundo, apresenta grande variedade de paisagens, como a caatinga, o cerrado e a mata Atlântica. O litoral possui manguezais, restingas, serras e dunas. O relevo brasileiro é de baixa altitude, seu ponto mais alto é o pico da Neblina, no Amazonas, com 3.014 metros. O país tem também uma das maiores reservas hidrográficas do mundo. Toda essa diversidade biológica, no entanto, vem sendo ameaçada pela ocupação desordenada do solo e pelo mau gerenciamento dos recursos naturais. No período colonial, o país teve grande parte da mata Atlântica devastada por causa da extração de pau-brasil e da agricultura canavieira no Nordeste. Atual- mente, a derrubada de florestas, as queimadas, a destruição dos ecossistemas e a poluição dos rios estão entre os fatores que ameaçam a biodiversidade brasileira. Os sistemas urbanos também vêm apresentando problemas ambientais em virtude, principalmente, da grande densidade populacional e da ocupação desorde- nada do solo. Organizações Não Governamentais (ONGs) têm criado mecanismos para combater os avanços desses problemas. A ONG Fundação S.O.S. Mata Atlântica e o Projeto de Apoio ao Manejo Florestal Sustentável na Amazônia (PROMANEJO), do governo federal, são exemplos de iniciativas que atuam na conservação do patrimônio natural, histórico e cultural de uma região, buscando seu desenvolvimento sustentável. A extensão territorial faz do Brasil o quinto maior país do mundo. Com 8.514.205 quilômetros quadrados, que representam 1,6% da superfície do globo terrestre, o Brasil está localizado na porção centro-oriental do continente sul-americano. Banhado a leste pelo oceano Atlântico, o país possui 23.102 quilômetros de fronteiras, sendo 7.367 quilômetros marítimas e 15.735 quilômetros terrestres. Com exceção do Chile e do Equador, todos os países da América do Sul fazem 23 UNIDADE Mudanças na Gestão no Terceiro Setor fronteira com o Brasil. Tendo todo esse tamanho em vista para administrar, as geotecnologias são de fundamental importância para servir estrategicamente na ajuda para a preservação ambiental do Brasil. Elas podem monitorar todo o ter- ritório nacional, visando fomentar o triple botton line (tripé da sustentabilidade). Importante! A globalização/mundialização da economia consiste no fenômeno contemporâneo no qual os bens, serviços, as pessoas, habilidades e ideias se movimentam através das fron- teiras geográficas. Em outras palavras, tal conceito consiste na interdependência entre os atores econômicos globais – governos, empresas e movimentos sociais (ONGs e enti- dades filantrópicas etc.). A partir da década de 1970, a questão ambiental sob enfoque econômico se tornou cada vez mais criticada e analisada pelos atores do mundo globalizado: governos, empresas e entidades ligadas ao meio ambiente. Essa questão se remete à necessidade do estabele- cimento de uma gestão ambiental adequada aos novos paradigmas, portanto, constitui- -se em um processo irreversível estimulado pela crescente preocupação da sociedade como um todo, dos governos e das organizações contemporâneas com o meio ambiente. Assim sendo, há uma crescente necessidade de o gestor contemporâneo compreender e aplicar os conceitos ligados ao triple bottom line (tripé da sustentabilidade), o qual es- tipula ações concretas, visando ao “bem comum”, para os seguintes fatores: economia, meio ambiente e desenvolvimento sustentável. Em Síntese 24 25 Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Sites The World Bank Site Institucional Banco Mundial (World Bank). http://bit.ly/32XhjrP A Situação do Meio Ambiente no Brasil Site Institucional da Organização Pensamento Verde. http://bit.ly/2x5ffSp A ONU e o meio ambiente Site Institucional da Organização das Nações Unidas (ONU) no Brasil. http://bit.ly/32QuaMn Rio+20 Site do Governo Brasileiro sobre a Conferência Rio+20 da Organização das Nações Unidas (ONU). http://www.rio20.gov.br IBGE Site do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) que apresenta os indicadores de desenvolvimento sustentável. http://bit.ly/39nryIj Acordo de Paris http://bit.ly/2VLVJVh 25 UNIDADE Mudanças na Gestão no Terceiro Setor Referências ALVES, A.; BONHO, F. T. Contabilidade do Terceiro Setor. São Paulo: Sagah, 2019. [e-book] ANDRADE, R. Serviço Social, gestão e Terceiro Setor. São Paulo: Saraiva, 2015. [e-book] CABRAL, E. H. de S. Terceiro setor: gestão e controle social. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2015. [e-book] OLIVEIRA, A. de; ROMÃO, V. Manual do Terceiro Setor e instituições religio- sas. São Paulo: Atlas, 2014. [e-book] PAES, J. E. S. (Coord.). Terceiro Setor e tributação. Rio de Janeiro: Forense, 2011. [e-book] SCHEUNEMANN, A. V.; RHEINHEIMER, I. Administração do Terceiro Setor. Curitiba: Intersaberes, 2013. [e-book] SLOMSKI, V.; REZENDE, A. J.; CRUZ, C. V. O. A.; OLAK, P. A. Contabilida- de do Terceiro Setor. São Paulo: Atlas, 2012. [e-book] TACHIZAWA, T. Organizações Não Governamentais e Terceiro Setor. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2019. [e-book] 26
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