Prévia do material em texto
72 Unidade II Unidade II 5 AS PRODUÇÕES AGRÁRIAS E INDUSTRIAIS DO BRASIL E SEUS DESTINOS: AS EXPORTAÇÕES Segundo dados do Portal da Indústria (Exportação…, [s.d.]), os 10 produtos mais exportados pelo Brasil em 2020 foram: • soja; • óleos brutos de petróleo ou de minerais betuminosos; • minério de ferro e seus concentrados; • óleos combustíveis de petróleo ou de minerais betuminosos; • carne bovina fresca, refrigerada ou congelada; • celulose; • carnes de aves e suas miudezas comestíveis, frescas, refrigeradas ou congeladas; • farelos de soja e outros alimentos para animais (excluídos cereais não moídos), farinhas de carnes e outros animais; • produtos para a indústria da transformação; • açúcares e melaços. Na década de 2010, o país perdeu cinco posições no ranking de exportações: em 2008, ocupava o 22º lugar; atualmente, o 27º. De acordo com dados da OMC, em 2019 o Brasil exportou 7% a menos, a maior redução entre os grandes emergentes, como os demais países do Brics. Segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI), o Brasil também perdeu relevância quando avaliamos a produção industrial: se em 1994 o país contribuiu com 2,69% do valor adicionado da indústria de transformação mundial, essa participação foi reduzida para 1,19% em 2019. Devemos recordar que a perda de exportações industriais é preocupante para o país, pois as vendas desse setor são as que mais beneficiam a economia brasileira, com impacto positivo em empregos, salários e tributos. De acordo com a Agenda Internacional da Indústria (CNI, 2020), houve uma queda 73 GEOGRAFIA ECONÔMICA DA INDÚSTRIA E AGRONEGÓCIOS generalizada nos fluxos de comércio do Brasil, com destaque para as exportações (−6,6%, enquanto as importações caíram 2,1%). O saldo comercial reduziu cerca de US$ 12 bilhões. As exportações foram particularmente impactadas pelos embarques destinados à Argentina, que foram reduzidos de forma significativa (US$ 5,2 bilhões), principalmente em veículos leves, mas também em outros produtos, tais como máquinas, tratores e veículos de carga. A China aparece também como destaque negativo, sobretudo pela queda pronunciada das vendas de soja após um período de “bônus” decorrente da guerra comercial. Os EUA são um dos únicos, entre os principais destinos, com aumento de exportações (2,7% ou US$ 786 milhões), explicado pela ampliação das vendas de combustíveis. Os embarques de bens industrializados no Brasil foram menores que os de bens básicos: 48% e 52%, respectivamente, sobretudo em razão da queda das vendas para a Argentina. Esse cenário pode ser explicado pela falta de competitividade das empresas exportadoras brasileiras, que precisam superar diversos desafios para vender seus produtos no mercado internacional, a maioria deles associada ao chamado Custo Brasil. Relacionam‑se aos impostos sobre os produtos, à carga tributária, à alta dos combustíveis, à alta do dólar e à desvalorização da moeda nacional. Assim, podemos apontar como entraves, ou o que definimos como Custo Brasil: • a burocracia; • o sistema tributário atual; • excesso de leis e tarifas; • infraestrutura precária; • demora na liberação de mercadorias; • dificuldade de escoamento. Esses fatores tornam o processo de exportação caro e lento, o que aumenta o preço dos produtos e ao mesmo tempo reduz a competitividade brasileira no comércio internacional. O país precisa aumentar sua participação no mercado mundial. Para isso, é importante intensificar as negociações de acordos comerciais e ampliar os esforços para eliminar barreiras às exportações e aos investimentos. Paralelamente, é necessário facilitar e desburocratizar o comércio exterior, promovendo reformas nos processos aduaneiros e simplificando as normas legais e administrativas (Keedi, 2015a, 2015b). 74 Unidade II Figura 32 Disponível em: https://cutt.ly/n6zMB82. Acesso em: 11 maio 2023. A China é um dos principais parceiros comerciais do Brasil, e em 2019 contribuiu 29,67% ao valor adicionado da indústria de transformação mundial – um aumento de 0,82 ponto percentual em relação a 2018, sendo o único resultado positivo entre os países avaliados. Em 2020, o Brasil incrementou suas importações de vacinas e insumos para sua fabricação devido à pandemia da covid‑19. Nas exportações mundiais da indústria de transformação, a China também ocupa a primeira posição. Em seguida, vêm Alemanha, EUA, Japão e Coreia do Sul. Juntos, esses cinco países representaram 41% das exportações mundiais da indústria de transformação em 2018. Lembrete A crise de desabastecimento de matérias‑primas e componentes para a indústria de montagem em vários setores foi afetada pela redução das exportações advindas da China. O reflexo negativo ocorreu em termos mundiais. Em decorrência, houve a queda de 7,2% nas exportações da indústria de transformação brasileira, em 2019, interrompeu uma sequência de três anos de avanço. O recuo registrado em 2019 reverteu cerca de metade do crescimento acumulado entre 2015 e 2018, de 15%. Para fortalecer as exportações no país, é necessário identificar tanto as mudanças necessárias na política comercial brasileira para melhorar o ambiente de negócios quanto os serviços pedidos pela indústria para sua internacionalização (Exportação…, [s.d.]). 75 GEOGRAFIA ECONÔMICA DA INDÚSTRIA E AGRONEGÓCIOS Destaque Propostas da CNI para fortalecer a exportação […] A Agenda Internacional da Indústria 2020 apresentou as prioridades da atuação da CNI para a inserção internacional das empresas brasileiras. A quinta edição, lançada em 25 de março de 2020, foi elaborada por meio de consulta a toda a base empresarial, incluindo federações de indústrias, associações setoriais, sindicatos patronais, e empresas exportadoras e investidoras no exterior. Neste ano, o documento lista 109 ações, distribuídas em quatro eixos de atuação: defesa de interesses em política comercial; serviços de apoio à internacionalização; ações em mercados estratégicos; e cooperação internacional. Conheça as 10 ações prioritárias: 1. TARIFA EXTERNA COMUM (TEC): Manter a defesa da abertura comercial via acordos comerciais; e, de forma alternativa, defender consulta pública prévia para a revisão da TEC e uso de metodologia que leve em conta os diferenciais de custo entre o Brasil e os seus principais concorrentes e a tarifa aplicada real, que seja sincronizada com uma agenda de reformas para a competitividade. 2. MERCOSUL: Defender a importância econômica do Mercosul para a indústria e o Brasil; defender as propostas para o bom funcionamento do livre comércio no Mercosul; defender as propostas para o aprofundamento da agenda econômica e comercial do bloco presentes na Agenda para o Mercosul 2019; defender o aperfeiçoamento da governança técnica e administrativa do bloco; e defender a internalização dos protocolos de Contratações Públicas e de Facilitação de Comércio do Mercosul. 3. OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico): Elaborar, apresentar e defender propostas que contribuam para a acessão do Brasil à OCDE nos temas de relevância para a indústria; sensibilizar o setor privado para a importância da agenda da OCDE; monitorar a adesão a novos instrumentos e analisar seus impactos e relevância para a indústria; e defender, junto às congêneres da CNI no exterior, o apoio dos seus respectivos governos para o processo de acessão do Brasil. 4. OMC: Defender a importância da manutenção do sistema multilateral de comércio, sobretudo do funcionamento do Órgão de Solução de Controvérsias e de seu Órgão de Apelação; monitorar as negociações de novos acordos no âmbito da OMC; aprofundar as posições da indústria, em particular nos temas de facilitação de investimentos e comércio 76 Unidade II eletrônico; e avaliar, junto ao setor privado, a possibilidade de adesão do Brasil ao Acordo de Compras Governamentais (ACG). 5. LEI DE LUCROS NO EXTERIOR: Defender a revisão da Lei n. 12.973/2014 para eliminar a tributação dolucro das empresas no exterior ou, de forma alternativa, ampliar a concessão de crédito presumido de 9% para todos os setores e defender a prorrogação desse crédito e da consolidação dos resultados das empresas, de 2022 para 2030; e defender a alteração de critérios para o enquadramento de um país como regime de subtributação. 6. PORTAL ÚNICO DE COMÉRCIO EXTERIOR: Defender a importância do programa, a alocação de recursos financeiros para sua execução, a implantação dos novos módulos de importação e de coleta única, e a total integração dos órgãos anuentes e dos seus respectivos controles e regulamentações; e acompanhar a implantação do catálogo de produtos. 7. REFORMA TRIBUTÁRIA PARA O COMÉRCIO EXTERIOR: Monitorar as discussões e avaliar os impactos das propostas de Reforma Tributária para o comércio exterior; e defender a manutenção da isonomia tributária das exportações, a eliminação da cumulatividade, a melhoria na compensação de créditos tributários federais e estaduais, e a manutenção dos regimes aduaneiros especiais de Drawback, Regime Aduaneiro Especial de Entreposto Industrial sob Controle Aduaneiro Informatizado (Recof) e Regime Aduaneiro Especial de Entreposto Industrial sob Controle Informatizado do Sistema Público de Escrituração Digital (Recof‑Sped). 8. GOVERNANÇA DO SISTEMA PÚBLICO DE FINANCIAMENTO E GARANTIAS ÀS EXPORTAÇÕES: Defender o aprimoramento da estrutura do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), responsável pelas atividades de financiamento às exportações, maior autonomia para o Banco do Brasil (BB) nas operações do Programa de Financiamento às Exportações (Proex) e realização de reuniões regulares do Comitê de Financiamento e Garantia das Exportações (Cofig) da Camex. 9. SUBSÍDIOS E MEDIDAS COMPENSATÓRIAS: Defender a publicação e a entrada em vigor do novo decreto de medidas compensatórias, contendo os principais pontos apresentados pela indústria, sobretudo a adequação da definição de subsídios, previsão de adoção de metodologias alternativas em casos de condições anormais de comércio e mudança da definição de indústria doméstica; e sensibilizar o setor privado e o governo brasileiro sobre a importância de compreender subsídios que afetam a indústria e podem ser alvos de medidas compensatórias. 10. ROTA GLOBAL: Defender e apoiar a implementação da metodologia Rota Global em até 18 estados por meio do Plano Nacional da Cultura Exportadora (PNCE); automatizar o plano de internacionalização e a matriz de serviços; e assegurar a aplicação da metodologia nas parcerias estabelecidas pela CNI. Fonte: Exportação… (s.d.). 77 GEOGRAFIA ECONÔMICA DA INDÚSTRIA E AGRONEGÓCIOS Para simplificar as exportações, a desburocratização dos processos de comércio exterior é vital para reduzir o tempo e os custos das operações de exportação e importação e, consequentemente, aumentar a competitividade das empresas. No Brasil, mais de 20 órgãos intervêm na exportação/importação de produtos. Além disso, falta padronização na cobrança de impostos, taxas e contribuições – até mesmo operadores especializados têm dificuldade para entender a complexa rede de procedimentos –, e algumas taxas cobradas hoje excedem limites previstos em normas jurídicas internas e compromissos internacionais. A articulação e a integração dos diversos órgãos da administração pública e a cooperação entre o governo e o setor privado no desenvolvimento de soluções, como o programa Portal Único de Comércio Exterior, são fatores‑chave para reduzir a burocracia. É preciso observar ainda que, além disso, a pandemia causada pelo novo coronavírus afetou o comércio exterior brasileiro. Figura 33 Disponível em: https://cutt.ly/46z2HgR. Acesso em: 11 maio 2023. Figura 34 Disponível em: https://cutt.ly/D6z2pgn. Acesso em: 11 maio 2023. 78 Unidade II Figura 35 Disponível em: https://bit.ly/3xEHEf1. Acesso em: 20 jun. 2022. 5.1 Exportações de produtos brasileiros para os países asiáticos O volume das exportações de produtos brasileiros para os países asiáticos aumentou de forma considerável, em torno de 60% até 2019 – ou seja, antes da crise gerada pela pandemia da covid‑19 –, com destino à China, Hong Kong, Japão, além de países do Oriente Médio. Na pauta desse comércio encontram‑se os produtos do setor rural e indústria alimentícia. Contudo, os investidores apontam a falta de investimentos em ferrovias e portos, que aprimorariam a logística e permitiriam a expansão produtiva e as vendas no mercado interno e para as exportações. Esse tipo de produto exige uma infraestrutura específica, no que se refere a armazenamento, frigorificação e transporte, uma vez que se trata de artigos perecíveis. As grandes distâncias a serem vencidas para o escoamento dos produtos, seja para o mercado interno ou para as exportações, exigem transportes adequados. Também se fazem necessárias negociações e estabelecimento de parcerias para atender ao mercado externo. 79 GEOGRAFIA ECONÔMICA DA INDÚSTRIA E AGRONEGÓCIOS Xinjianag (Sinkiang) Tibete Planícies Taiwan Manchúria Rio Am are lo Rio Az ul Rio das Pérolas CHINA DO SUL CHINA DO OESTE MongóMongólia Interiorlia Interior CHINA DO NORTE Figura 36 – Mapa da China: divisão territorial. Em virtude de sua grande extensão territorial, a China é administrada regionalmente Fonte: UNIP/Objetivo. Urumqi Deserto de Taklamakan Deserto de Gobi FushunFushun Bacia vermelha Kunming Xangai Vales da China do Sul Taipé CaohsiungCaohsiung Chengdu Mo nte s H ing an Chongqing Changsha Hefei Taoyuan Changzhou Planície da China do Norte Sian Jinan TsingtaoTsingtao LudaLuda TangshanTangshan Anshan Shenyang Manchúria Harbin Tsitsihar ChangchunChangchun Pequim (Beijing) Planalto do Tibete CHINA DO LESTERegiões quase desabitadas (de 0 a 2 hab./km2) Regiões medianamente povoadas (2 a 100 hab./km2) Regiões muito povoadas (mais de 100 hab./km2) XinjianaXinjianag g (Sinkiang)(Sinkiang) TIBETE Wuhan CantãoCantão Hong Kong Lanzhou Baotou NanquimNanquim Figura 37 – China: distribuição populacional. As concentrações ocorrem no leste, ao longo do litoral Fonte: UNIP/Objetivo. 80 Unidade II 5.2 A China torna‑se fábrica do mundo O crescimento da China nas últimas décadas não foi somente demográfico. Como afirma Marco Antonio da Silva (2013, p. 89), “a globalização cria oportunidades ímpares, que podem ser observadas mesmo em tempo de crises”. A China se apropriou de um amplo mercado internacional que está em constante mudança, e o país acompanha as necessidades em termos de consumo. Silva (2013, p. 89) continua: “A negociação exige preparo e uma dose de habilidade, porque frequentemente detalhes podem provocar revisão dos objetivos e alterações nas negociações”. Observemos algumas medidas que impulsionaram esse desempenho do país asiático: • em 1971, a China ingressa na ONU; • em 1976 morre o líder político Mao Tsé‑Tung (que promoveu a revolução chinesa e a parceria com a URSS, que depois rompeu); • em 1978 assume a liderança do Partido Comunista Chinês Deng Xiaoping, com a proposta política das quatro modernizações: indústria, agricultura, ciência e tecnologia, e forças armadas; • em 1995 crescem os investimentos estrangeiros nas Zonas Econômicas Especiais (ZEE); • em 1997 morre Deng Xiaoping, que estabeleceu maior abertura econômica e política do país, aproximando‑se de um modelo mais liberal e mundializado; • nos anos 2000, a economia se consolida; • em 2001, a China é admitida na OMC e o projeto demográfico de apenas um filho por casal é implementado. A cooperação comercial entre Brasil e China se acentuou a partir dos primórdios do século XXI, quando em 2002 foi assinado um acordo para estreitar as relações no setor industrial para um trabalho conjunto de transmissão tecnológica no projeto de produção de álcool combustível e fabricação de medicamentos genéricos. Também nos anos 2000 a Embraer se instalou na China, assinando um acordo com a empresa –controlada pelo Estado chinês – Aviation Industry Corporation of China através de uma joint venture com as subsidiárias Harbin Aircraft Industry Group e Hafei Aviation Industry, sendo que na negociação a Embraer passa a controlar 51% das ações. A fábrica estava sediada em Harbin, capital da província Heilongjiang. 81 GEOGRAFIA ECONÔMICA DA INDÚSTRIA E AGRONEGÓCIOS Lembrete A China, essa gigante em todos os sentidos – com quase 1,5 bilhão de habitantes, dispondo de grandes quantidades de recursos minerais, variedade de produção econômica agrária e industrial –, é uma grande importadora de produtos brasileiros, como os agropecuários (especialmente a soja), minério de ferro, entre outros. Mas não é que o país não produza – sua agricultura contribui com quase a metade da renda nacional e ocupa uma boa porcentagem da população ativa com obras de irrigação e barragens –, porém enfrenta sérios problemas em termos de insumos, emprego de maquinários, erosão e baixo rendimento do solo. Por essa razão, somada às necessidades alimentares da numerosa população, a China é uma grande compradora de alimentos. Entre outras parcerias com o Brasil, destaca‑se ainda a produção em 2021 com o Instituto Butantã de vacinas para combater o coronavírus. Podemos fazer algumas considerações sobre a economia chinesa e sua evolução. A industrialização do país teve sua arrancada após 1984, quando foram realizadas reformas econômicas, tais como: • restabelecimento parcial da propriedade privada; • controle do conceito de lucro nas empresas; • adoção do sistema de produtividade (o anterior era o de metas); • salário diferenciado por mérito e função; • permissão para investimentos de capitais estrangeiros; • estímulo aos trabalhadores mais eficientes; • flutuação de preços de acordo com as necessidades do mercado. O governo também passou a permitir parcerias, com a instalação de empresas nas áreas litorâneas (as ZEE), além de privatizações de suas estatais a partir de 1997. Um exemplo dessa abertura ao capitalismo pode ser observado pelo fato de a fábrica brasileira da Volkswagen exportar peças de veículos para montagem na China, além da atuação da Embraer e a fabricação de aviões. A maior transformação do país está no campo, sendo que a maioria das fazendas é administrada obedecendo as regras do capital privado. 82 Unidade II O crescimento econômico foi rápido e desordenado, provocando consequências negativas, como disparidades regionais, desigualdades sociais e problemas de desemprego, haja vista os movimentos de êxodo rural. Sua dinâmica de desempenho econômico está relacionada às exportações, principalmente de produtos eletrônicos e bens de tecnologia na área de informática, além de outros produtos encontrados no mercado global. Muitas empresas optaram por investir nas ZEE chinesas, instalando‑se mediante incentivos, o que favoreceu a tecnologia, permitindo aumento na lucratividade. 5.2.1 Curiosidades sobre a China A numerosa população chinesa, sob o ponto de vista étnico, apresenta‑se homogênea: apenas cerca de 6% correspondem a outras etnias, como os uigures e outros, que vivem principalmente na porção noroeste do país, região conhecida como Xinjiang, onde ocorrem conflitos, assim como a sudoeste, no Tibete. Mais de 60% da população vive em zonas rurais, coincidindo com os vales fluviais dos rios Yang‑Tsé (rio Azul) e Hoang Hô (rio Amarelo), coincidindo com terras férteis de solos profundos e porosos (aluvional e loess). O país ainda é proporcionalmente pouco urbanizado, quando avaliamos sua grande extensão – em torno de 9,6 milhões de quilômetros quadrados –, dada a ocorrência de montanhas a sudoeste e regiões áridas ao norte, nos limites com a Mongólia (deserto de Gobi). Também a densidade demográfica é relativamente baixa, cerca de 134,7 hab/km2. Considerando‑se as dimensões territorial e populacional, apresenta ainda irregular distribuição entre as porções oriental e ocidental. A população esteve sob controle demográfico através da política do filho único imposta pelo governo. Essa política durou várias décadas, porém, mais recentemente, em meados dos anos 2000, deram‑se conta do déficit na população feminina, uma vez que priorizavam o filho do sexo masculino, e realizaram mudanças permitindo mais de um filho. Em 1989, a China ficou conhecida internacionalmente pelos noticiários que apresentaram as manifestações ocorridas na Praça da Paz Celestial, em Pequim, em prol da democratização do país em relação aos direitos humanos, que não acompanhavam a abertura econômica. 83 GEOGRAFIA ECONÔMICA DA INDÚSTRIA E AGRONEGÓCIOS 5.3 Os Tigres Asiáticos, suas características e relações com o Brasil TaiwanTaiwan Oceano Pacífico Trópico de Câncer Hong KongHong Kong TailândiaTailândia BruneiBrunei MalásiaMalásia SingapuraSingapura IndonésiaIndonésia Equador Coreia Coreia do Suldo Sul Tigres Asiáticos Novos Tigres Asiáticos Figura 38 – Tigres Asiáticos Fonte: UNIP/Objetivo. A denominação “Tigres Asiáticos” refere‑se a um grupo de países e áreas políticas assim chamados devido ao dinamismo do seu desempenho econômico no contexto da Ordem Mundial. Eles também são conhecidos como países‑oficina – plataformas de produção para exportação em um mundo capitalista concorrencial. Ressaltamos que o Brasil mantém amplas relações comerciais e parcerias industriais com esses lugares. São eles a Coreia do Sul, Taiwan (Ilha Formosa), Singapura e Hong Kong (região administrativa especial do território chinês até 2047). Vejamos quais são os elementos mais marcantes que os caracterizam: • governos centralizados e de condutas rígidas; • economias voltadas predominantemente ao mercado externo; • abertura aos investimentos de capitais externos, com Zonas de Processamento de Exportação (ZPE); • restrições ao sindicalismo; • superexploração da mão de obra relativamente barata, com jornadas elevadas; • disciplina baseada na ética do confucionismo (equilíbrio social, disciplina, nacionalismo); 84 Unidade II • importante papel do Estado no planejamento econômico; • concentração do capital através de grandes corporações e leis antitruste; • distribuição mais equilibrada da renda comparativamente a outros países; • distribuição da mão de obra instruída, eficiente, com produtividade elevada para a indústria. A partir deste ponto descrevemos quais são as características mais marcantes de cada um dos Tigres Asiáticos. 5.3.1 Coreia do Sul Figura 39 – Seul, capital da Coreia do Sul Disponível em: https://cutt.ly/o6z3dR2. Acesso em: 23 maio 2022. País localizado em uma península, apresenta áreas florestadas, planícies (utilizadas para agricultura) e vastas montanhas. Desenvolveu seus setores industriais investindo na indústria têxtil e petroquímica, na construção naval e produção de aço, partindo depois para máquinas e equipamentos elétricos, eletrônicos, microeletrônicos e computadores, além de automóveis. Recebeu investimentos japoneses e de corporações estrangeiras que se somaram a empresas sul‑coreanas formando joint ventures, além de empréstimos do Banco Mundial e de instituições privadas. Uma particularidade econômica da Coreia do Sul em termos empresariais foi a formação das chaebol, redes empresariais controladas por uma instituição central (holding) pertencente a um empresário ou uma família. Baseadas na cooperação e reciprocidade, dependem do governo, o qual direciona os mercados. As redes mais importantes que se destacam são: Samsung, LG, Daewoo e Hyundai. O Brasil tem amplas relações e parcerias com empresas sul‑coreanas. 85 GEOGRAFIA ECONÔMICA DA INDÚSTRIA E AGRONEGÓCIOS 5.3.2 Taiwan Figura 40 – Cidade de Taipei Disponível em: https://bit.ly/3aMqsLy. Acesso em: 22 jun. 2022. Ilha também conhecida como Formosa – denominação atribuída pelos portugueses –, situa‑se em um arquipélago de origem vulcânica, apresentando florestas em sua parte central. Tem clima quente e úmido por encontrar‑se na latitude do Trópico de Câncer;portanto, suas culturas são de produtos tropicais, como arroz, cana‑de‑açúcar, chá, banana e tabaco. Seu setor industrial começou a se estabelecer na década de 1960, com investimentos do Banco Mundial e dos EUA, além de capital advindo da produção agrícola, a qual também liberou mão de obra rural para a indústria. Desenvolveu um modelo de produção voltado à exportação, criando uma das pioneiras ZPE. Entre os fatores que permitiram seu sucesso econômico no setor industrial, podemos citar: • a instalação de empresas japonesas, favorecidas por mão de obra barata, com salários baixos, educação de qualidade e tranquilidade social; • a falta de legislação ambiental controladora de emissões; • a presença de um parque tecnológico em Taipei; • a formação de redes centralizadas de grupos familiares, que atuam com subcontrato para empresas estrangeiras; • os investimentos estatais para promover melhorias e ampliar as vendas de produtos, aprimorando sua qualidade (produtos Made in Taiwan que se encontram em vários países do mundo). 86 Unidade II Ainda persiste um impasse entre Taiwan e China sobre a possibilidade de uma unificação, embora seja descartada. A maior parte de sua população, calculada em mais de 23 milhões de habitantes, é de chineses. A religião predominante é o budismo e os seus indicadores sociais são bastante satisfatórios. 5.3.3 Hong Kong Figura 41 – Hong Kong Disponível em: https://bit.ly/3O2eCLE. Acesso em: 22 jun. 2022. Foi protetorado britânico desde o final da Primeira Guerra do Ópio, quando foi cedida aos ingleses em 1842. Em 1984, China e Reino Unido assinaram um acordo que estabeleceu o retorno da região à soberania da China em julho de 1997, adotando o lema “um país, dois sistemas”, devido à rigidez do governo chinês e à ideia de abertura política e econômica de Hong Kong. A região tem autonomia administrativa, mas a China coordena a política externa e protege a área, a qual se tornou um dos principais polos do modelo capitalista no continente asiático, transformando‑se em uma zona especial e atraindo milhares de turistas. No comércio amplo e até nas indústrias ocorreram inovações a preços competitivos proporcionados pelos baixos custos de produção. Algumas iniciativas que justificariam o bom desempenho do território podem ser mencionadas: • o fato de desempenhar o papel de centro internacional de negócios, com vantagens como flexibilização financeira, infraestrutura em comunicações e posição geográfica que permite muitas conexões, o que favorece a organização empresarial e os negócios; • a China tem em Hong Kong um ponto de apoio para a aproximação de uma economia globalizante, além de ter ali grande parte dos seus investimentos; 87 GEOGRAFIA ECONÔMICA DA INDÚSTRIA E AGRONEGÓCIOS • embora trabalhem muitas horas e os salários não sejam elevados, os trabalhadores não são submetidos a tantas pressões e vivem em um sistema de habitação popular em um modelo de Estado de bem‑estar social; • o porto de Hong Kong, na baía de Kowloon, se encontra entre os maiores do mundo, o que favorece as exportações a partir dessa região do Pacífico; • a atividade turística é intensa, o que a transforma em uma importante indústria sem poluentes. 5.3.4 Singapura Figura 42 – Singapura Fonte: UNIP/Objetivo. Localizada no Sudeste da Ásia, com vários idiomas oficiais – mandarim (falado na China), malaio, tâmil e inglês –, apresenta um Índice de Desenvolvimento Humano elevado, ocupando uma posição de destaque no âmbito mundial. Localizada em um arquipélago, ocupa a maior ilha, em que prevalecem áreas urbanas. A sua composição étnica é multirracial, com chineses (predominantes), malaios, indianos e outros grupos que convivem de modo pacífico, dada a rigidez e o controle na cidade‑Estado pelo Poder Público. Apresentando um clima tropical úmido devido à maritimidade, sua posição geográfica lhe permite ser um ponto de convergência comercial de rotas marítimas. Dessa forma, prevalece em suas atividades econômicas a atuação portuária, além de indústrias de alta tecnologia, turismo e refinação de petróleo, o que a torna um centro de concentração financeira. Outras vantagens que lhe atribuem uma economia estável e lucrativa podem ser mencionadas: • melhorias na educação dos trabalhadores; • obrigatoriedade do ensino do inglês nas escolas e treinamento profissional; • imigração controlada e reprimida duramente; 88 Unidade II • ambiente favorável para investimentos em negócios; • legislações ambientais e sociais favoráveis aos negócios; • vantagens oferecidas pelo governo para instalações em terrenos industriais; • política fiscal e monetária estáveis; • facilidade em logística de transportes e comunicações; • cuidados especiais com a higiene e limpeza pública. Atualmente, a montagem de produtos eletrônicos é o seu forte, fabricando lâminas para a microeletrônica, com investimentos em pesquisa e desenvolvimento. Como pudemos observar, a industrialização desses Tigres Asiáticos apoia‑se na exploração de uma força de trabalho disciplinada, especializada, embora cumpra jornadas prolongadas de trabalho que excedem as tradicionais 44 horas por semana, chegando até mesmo a 63 horas. O descanso semanal é restrito aos domingos, com poucos feriados, e o período de férias é em geral de 14 dias. Em contrapartida, o nível educacional é elevado, a renda é mais bem repartida e a média salarial é alta quando os comparamos a países emergentes ou subdesenvolvidos. Saiba mais Na obra Blocos internacionais de poder, Rogério Haesbaert analisa a situação dos Tigres Asiáticos, afirmando que são exemplos de economias agressivas que deram certo e que, por sua vez, demonstraram que mesmo lugares considerados subdesenvolvidos, quando devidamente administrados pelo Poder Público, podem galgar posições comparadas às de países desenvolvidos. O autor também destaca que houve esforço de grupos políticos hegemônicos do Ocidente para a capacitação capitalista dessas regiões. A leitura do livro complementa a temática, abordando a questão geopolítica e econômica mundial e as contradições da globalização ou mundialização da economia. HAESBAERT, R. Blocos internacionais de poder. 4. ed. São Paulo: Contexto, 1994. 89 GEOGRAFIA ECONÔMICA DA INDÚSTRIA E AGRONEGÓCIOS 5.4 “A (des)ordem mundial, os novos blocos de poder e o sentido da crise” Estado Distância cultutal Sociedade-mundo Economia-mundo Rede chinesa Difusão do Islã Rede mundial Potencia mundial RedesTerritórios Semiperiferia Área de influéncia da rede mundial Estado com forte identidade cultural OligopólioOligopólio Figura 43 – A nova “desordem” geográfica mundial: uma proposta de regionalização Fonte: UNIP/Objetivo. 90 Unidade II Destaque A (des)ordem mundial, os novos blocos de poder e o sentido da crise “Estamos diante de um novo ciclo do capitalismo como sistema mundial. […] Surge uma nova distribuição de poder no mundo” (Francisco Weffort, Lua Nova n. 18, 1989). “A Nova Desordem Mundial” (título de suplemento publicado em jornais de 14 países no final de 1990). “Guerra do Golfo é a primeira crise da nova ordem internacional” (Emir Sader, Jornal do Brasil, 20.01.91). “A lógica da Guerra Fria ainda impera” (W. Mead, Jornal do Brasil, 24.2.91). “Para Chomski, ‘nova ordem’ é igual à velha” (Folha de São Paulo, 3.3.91). “França tenta articular cúpula para a ‘nova ordem mundial’” (Folha de São Paulo, 16.03.91). “Galbraith questiona ‘nova ordem’ mundial” (Folha de São Paulo, 24.03.91). Quem está com a razão? Instaurou‑se de fato uma nova ordem internacional? Estamos numa fase indefinida, de crise e “desordem” mais do que de uma ordem mundial com novos blocos de poder já estruturados? Ou a propalada nova ordem é simplesmente uma nova versão da “velha” ordem? Tentarei neste artigo levantar empiricamente o que de fato é “novo” na ordem mundial que se estabelece neste final de século e o que é “velho”, e que regionalização do mundo é possível conceber tomandocomo referência o conceito de bloco de poder. Não questiono o fato de que tanta dúvida se deve fundamentalmente à situação de CRISE vivenciada no mundo contemporâneo, e nortearei estas reflexões tanto pela idéia [sic] de Gramsci, que vê a crise como um momento em que “o velho está morrendo e o novo ainda não conseguiu nascer” (mas qual velho está morrendo e, portanto, onde o novo pode estar surgindo?). Fonte: Haesbaert (1991, p. 103‑104, grifos do autor). 91 GEOGRAFIA ECONÔMICA DA INDÚSTRIA E AGRONEGÓCIOS Como podemos observar, o texto perpassa pelo pensamento de importantes analistas políticos, sociais e econômicos não só do Brasil, como também internacionais, que mostram as várias facetas do modelo capitalista, questionando se houve ou ainda há uma mesma Ordem Mundial, ou se o que ocorre é uma Desordem Mundial, ou ainda uma nova versão da antiga Ordem. Surgem novos blocos do poder sob a égide da produção econômica e manutenção dos sistemas – são novos arranjos de um mesmo modelo, o da produção e reprodução do capital, que encontra novas formas e mecanismos para sobreviver. Analisemos agora um outro parceiro do Brasil, grande investidor e ao mesmo tempo importador de nossos produtos: o Japão. 5.5 O Extremo Oriente e o modelo econômico japonês Hokkaido Honshu ShikokuShikoku KyushuKyushu Estreito de Bungo Estreito de Tsugaru Figura 44 – Japão: divisão regional Fonte: UNIP/Objetivo. Antes de falarmos sobre a economia do Japão, cabem aqui algumas considerações sobre seu histórico e aspectos do seu quadro natural bastante interessantes. 92 Unidade II 50° 40° 30° 20° Trópico de Câncer Co rre nt e Ts us hi m a Co rre nt e d as Cu rila s (O ya Sh ivo ) 120° 130° 140° 150° Co rre nt e d o J apã o (Ku ro Shi vo) Corrente quente Corrente fria Figura 45 – Correntes marítimas que atuam no Japão Fonte: UNIP/Objetivo. 5.5.1 O quadro natural Marcado pela sua posição geográfica insular, o Japão constitui‑se em um arquipélago com mais de 3 mil ilhas de formação vulcânica, sendo as maiores: ao norte, Hokkaido; ao centro, Honshu; a sudeste, Shikoku; e ao sul, Kyushu. Suas condições climáticas variam entre o predomínio do clima temperado, por se encontrar na zona temperada norte, e o subtropical ao sul, influenciadas inclusive pelo mecanismo das monções, além das correntes marítimas – ao norte, a Oyashio, e ao centro‑sul, a Kuroshio –, contribuindo para a formação de plâncton marinho, a farta pesca e elevada pluviosidade. O país também apresenta baixas térmicas durante o inverno, com a ocorrência de neve. 93 GEOGRAFIA ECONÔMICA DA INDÚSTRIA E AGRONEGÓCIOS Tsoushima HO NS HU Tóquio MonteMonte FujiFuji Lago BiwaLago Biwa HOKKAIDO Oy a S hiv o Wakkanai Kagoshima Kur o Sh ivo Oceano Pacífico Mar do Japão ou do Leste SHIKOKU KYUSHU De 500 a 1.500m Mais de 1.500m Costas rochosas De 0 a 500m Principais vulcões Figura 46 – Relevo do Japão. De origem vulcânica, o Japão contém mais de 67 vulcões ativos ou latentes Fonte: UNIP/Objetivo. Seu relevo é predominantemente montanhoso, com elevadas altitudes e muitos vulcões, inclusive ativos. A população se concentra nas planícies costeiras, principalmente na ilha central, onde estão situadas as cidades de Tóquio, Osaka, Quioto, Hiroshima, entre outras. A sua formação geológica é recente, com instabilidades sísmicas e a ocorrência de terremotos e tsunamis. Devido a essa formação mais jovem de sua estrutura geológica, não apresenta disponíveis recursos minerais significativos, importando‑os em larga escala para abastecer seu parque industrial. Com reduzido território, em torno de 377.748 km2, mesmo com suas 3.400 ilhas, representa, quando comparado ao imenso território brasileiro, um espaço um pouco maior do que o estado de São Paulo. Porém, sob o ponto de vista ambiental, o Japão ainda mantém mais de 60% de seu território florestado, destacando‑se internacionalmente por esta característica de manter o verde – mas ainda importa madeira, um dos aspectos que o relaciona ao Brasil. Na hidrografia, apresenta rios de curso acidentado, encachoeirados e pouco extensos, bastante aproveitados para a geração de energia de fonte hidráulica, complementada com muitas outras fontes energéticas, incluindo a nuclear. 94 Unidade II Hokkaido Honshu Tóquio Nagoya Yokohama Shikoku Osaka Kyushu Mais de 250 hab./km2 100 a 200 hab./km2 Menos de 100 hab./km2 Figura 47 – Japão: densidade demográfica Fonte: UNIP/Objetivo. 5.5.2 Aspectos históricos e demográficos O império japonês remonta, em termos de contato com o Ocidente, ao século XVI, quando os portugueses aportaram no arquipélago e verificaram ali existir uma organização social no estilo feudal que era liderada por comandantes militares, denominados “xoguns”, que se mantiveram no poder até o século XIX. Suas administrações foram marcadas por severos problemas sociais. No século XIX, verifica‑se a queda do xogunato, assumindo o poder o jovem imperador Mitsuhito, que empreendeu muitas mudanças no país nessa que ficou conhecida como a Era Meiji. Vejamos quais foram as modernizações realizadas nesse período: • implantação de uma verdadeira revolução industrial, com crescente progresso; • criação de províncias; • estabelecimento do ensino obrigatório; • transferência da capital de Quioto para Yedo, que passa a receber o nome de Tóquio; • criação de uma constituição, sendo o imperador o chefe supremo; • aumento populacional e redução da taxa de mortalidade. 95 GEOGRAFIA ECONÔMICA DA INDÚSTRIA E AGRONEGÓCIOS Após a Segunda Guerra Mundial, o país adotou uma política antinatalista (1948), com a legalização do aborto, esterilizações e demais meios anticonceptivos, resultando em queda da taxa de natalidade. Houve redução também da mortalidade infantil, considerada hoje uma das mais baixas do mundo. A longevidade é acentuada e a porcentagem de idosos aumenta. O Japão é um país populoso, bastante urbanizado. Mais de 50% da população é ativa, ou seja, exerce algum tipo de trabalho. 5.5.3 Aspectos econômicos do Japão Embora tenha área reduzida, o país aproveita o espaço de modo racional para a prática da agricultura e atividades criatórias. No entanto, não atinge autossuficiência, o que o torna um grande importador de alimentos e parceiro comercial do Brasil. Sua produtividade é elevada, com boas safras de arroz, legumes e frutas; porém, a atividade mais importante para alimentação e exportação, com seus navios e indústrias, é a pesca, além da criação de ostras e produção de algas marinhas em suas “fazendas do mar”. No entanto, o país enfrenta problemas ambientais pelo despejo de resíduos e esgotos industriais e outros poluentes, comprometendo as águas e as atividades. Participante dos encontros para discussões ambientais, o Japão trata de administrar esse e outros problemas, inclusive a emissão de poluentes industriais. Suas indústrias são diversificadas, apoiadas em novas tecnologias e no uso de variadas fontes energéticas. Desde o período de modernização da Era Meiji, o país viu‑se estruturado industrialmente com a formação de grupos familiares que passaram a controlar os setores industriais, os denominados Zaibatsus, os quais se desestruturam durante a Segunda Guerra Mundial. São características que mostram as razões do satisfatório desempenho da economia industrial do Japão, associada à tecnologia e diversidade de setores: • mão de obra numerosa, relativamente barata, com capacitação técnica e disciplinada; • aperfeiçoamento tecnológico, mecanizado e robotizado; • produção destinada predominantemente à exportação; • setores dinâmicos, como: — têxtil, principalmente com a sericicultura (produção da seda, associada à criação de bichos‑da‑seda, alimentados com folhas da amoreira); — automobilístico (Toyota, Mitsubishi, Honda), incluindo motocicletas e caminhões; — de materiais ferroviários, construção naval e construção civil; — de produtos eletroeletrônicos, computadores, aparelhos celularese outros da telefonia; • maiores investimentos nas indústrias de alta tecnologia, como telecomunicações, aeronáutica, biotecnologia e informática; 96 Unidade II • produção de aço competitiva, embora dependa da importação do minério de ferro e do manganês (parceria com o Brasil); e • sistema financeiro bancado pelo governo, que também deu grande impulso à economia, com créditos oferecidos às empresas. Além desses fatores, os anos 1960 marcam um novo sistema produtivo industrial, o modelo just in time, conhecido também como toyotismo ou ohnoísmo, com produção flexível, robotização, maior rigor na qualidade, sem estoques e com novas relações trabalhistas. Também foi intensificada a transferência de setores menos dinâmicos e que apresentavam custos de produção maiores para outros países – no caso, os Tigres Asiáticos e outros, como Brasil, México e Chile –, com vantagens para a produção. Devemos considerar que mesmo uma economia forte e bem organizada também sofre os impactos de questões internacionais – como queda nas negociações causada por problemas de ordem natural ou acidental (vazamento de usina nuclear, por exemplo), crises de saúde internacionais, oscilações financeiras e de bolsas de valores –, tendo que vencer as adversidades como os demais países. Observação O Japão passou por diversas fases do seu processo de industrialização, porém firmou‑se após os anos 1970, tendo como base a alta tecnologia, denominada “tecnologia de ponta” (high‑tech). Com isso, passou a exigir maior qualificação e especialização da mão de obra; o método adotado pela Toyota japonesa aboliu a função dos trabalhadores especializados, tornando‑os multifuncionais. O Japão, devido ao seu desempenho e organização, compõe o grupo dos sete países mais ricos do mundo, o G7. Em nossas análises sobre a indústria e os agronegócios, temos que destacar a relação existente entre a produção econômica e as questões ambientais, que se configuram como de extrema importância para a sobrevivência no planeta Terra. 6 PRODUÇÃO E NATUREZA: UMA QUESTÃO AMBIENTAL Falamos até agora em indústria e agronegócios, e exemplificamos modelos de desenvolvimento do modo capitalista de produção, mas ainda não destacamos a importância de um pensamento ecológico nesse contexto produtivo e para a satisfação das necessidades futuras. A natureza e seus recursos são infinitos ou devemos agir para que eles sigam existindo? Assim pensando, quando nos referimos aos biomas, em termos de Brasil e todo o mundo, referimo‑nos também ao preservacionismo e conservacionismo e, mais do que isso, ao conceito de desenvolvimento sustentável. O importante é entendermos que esses conceitos não se restringem a um modelo exclusivo de consumo, mas envolvem um contexto mais amplo, que pressupõe a racionalidade da produção e a salubridade do meio ambiente, assim como a qualidade de vida dos grupos humanos e a preocupação 97 GEOGRAFIA ECONÔMICA DA INDÚSTRIA E AGRONEGÓCIOS com a sobrevivência das sociedades no presente e para um futuro supostamente satisfatório. Portanto, devemos pensar em um meio ambiente que resulte da interação entre os grupos humanos e a natureza em determinado espaço e em um certo tempo, sem esquecer as dimensões históricas e culturais, além dos hábitos, das atividades econômicas desempenhadas e das personagens envolvidas. Temos, enquanto habitantes do planeta Terra, que pensar em um contexto mais amplo, que configure uma proposta de desenvolvimento econômico relacionado ao plano material, que objetive o sucesso dos lucros e negócios mas, acima de tudo, que contemple simultaneamente as dimensões social e ambiental. Trata‑se de uma temática que apresenta posições diversas e muita polêmica: progredir, diríamos, sem agredir o meio ambiente. Para tanto, nos deparamos com o conceito conhecido como “desenvolvimento sustentável” – ou, como preferem alguns ambientalistas, ecodesenvolvimento –, termo proposto pela Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento em 1983, organizada pela ONU. Nessa oportunidade, a Comissão empenhou‑se em compatibilizar duas visões diferentes do desenvolvimento econômico que estavam sendo apresentadas na época: aquela dos conservacionistas, relacionada à postura adotada pelos países ricos; e a dos desenvolvimentistas, defendida pelos países pobres ou menos desenvolvidos. Devemos salientar que o conceito de desenvolvimento sustentável não é limitado – ao contrário, é amplo e engloba os tipos de consumo além da racionalidade ou não dos processos produtivos. Podemos citar aqui a posição apresentada na obra denominada Energia, meio ambiente e desenvolvimento, na qual o professor José Goldemberg (1996, p. 67, tradução nossa) afirma que: A elite tenta imitar os estilos de vida dos países industrializados e tem padrões similares de energia, orientados para o luxo, o que contrasta com os hábitos das pessoas pobres, preocupadas em obter energia para cozinhar e para suas atividades essenciais. Este seria um dos exemplos que podemos citar acerca da relação seres humanos‑natureza. O texto mencionado pode representar o ponto de partida para justificar o que podemos considerar como sendo um consumismo sem limites. O modelo econômico adotado no contexto da globalização não beneficia todos os países de modo homogêneo. De acordo com alguns autores como Keedi (2010), as exportações e importações dependem de uma série de documentos, algo bastante burocrático. No caso do comércio de alimentos, devem ser apresentados certificados sanitários e fitossanitários, documentos emitidos mediante acordos prévios. As mercadorias deverão ser autorizadas, o que significa que o país deverá preencher os requisitos solicitados em âmbito mundial – aí está uma desigualdade econômica em jogo. Certos países seriam beneficiados por padrões de crescimento econômico e a globalização enfraqueceria as alavancas governamentais reguladoras da economia e os fluxos de capitais, gerando instabilidade econômica. Dessa forma, poderíamos questionar como estabelecer a relação entre o capital construído e o capital natural (recursos naturais). Os analistas econômicos que apresentam uma visão ambiental afirmam que ambos são complementares; assim, nesse contexto, pensaríamos em sustentabilidade e eficiência da utilização dos recursos naturais dentro de uma racionalidade. A economia ecológica, então, tenta 98 Unidade II contribuir para que os grupos humanos trilhem um caminho mais sustentável de desenvolvimento, que não comprometa de maneira demasiada a natureza. Aponta‑se nesse campo de estudos que os discursos sobre sustentabilidade do sistema econômico não seriam possíveis sem a estabilização dos níveis de consumo per capita de acordo com a capacidade de carga do planeta (Romeiro, 2005). Caberia à sociedade como um todo, seja por meio do Estado ou outra forma de organização coletiva, decidir sobre o uso desses recursos de modo a evitar perdas irreversíveis potencialmente catastróficas. O capital natural “crítico” seria avaliado por um trabalho que contemplasse os aspectos ecológicos (capacidade de carga) e também os socioeconômicos (como os padrões mínimos de segurança). Nesse ponto, vamos questionar: o consumo é demasiado ou irracional? O consumo atual praticado pela humanidade comprometeria as futuras gerações? Responderemos a essas indagações nos apoiando nos argumentos de Arrow et al. (2004) ao afirmarem que as possibilidades econômicas indicam que a conservação da biodiversidade não é um critério‑chave para determinar se estamos consumindo demais. A solução para o consumo excessivo atual seria aumentar o investimento e também a produção, e em decorrência disso a utilidade (os ganhos) para o futuro. Quem determina a utilidade é o mercado. Na economia ecológica, a sustentabilidade se associa ao conceito de escala, no que se refere aos montantes dos recursos ambientais que usamos. Outro aspecto implícito é a distribuição, e ambos estão relacionados, pois a escala se refereà quantidade de recursos que usamos, devendo esta ser compatível com o suporte do planeta Terra. Entendemos aqui que o suporte corresponderia à capacidade de produção associada aos mecanismos para aumento da produtividade (rentabilidade). Dessa forma, podemos dizer que para uma população ser feliz, no sentido de satisfazer suas necessidades, deve haver uma conciliação entre consumo simples e desenvolvimento econômico, permitindo uma boa distribuição de renda e a manutenção do conceito de sustentabilidade. 6.1 O conceito de pegada ecológica: como se aplica? Como justificar a posição de economistas ambientais? Os autores Mathis Wackernagel e William Rees (1998) buscaram um modo de quantificar os impactos dos hábitos de consumo da humanidade no planeta Terra, identificando que marcas poderiam ser mensuradas, as quais denominaram de “pegadas” resultantes do consumo humano. Assim surge um novo conceito: a pegada ecológica – título do livro desses autores publicado pela primeira vez em 1996. A intenção de Wackernagel e Rees (1998) era reduzir o impacto que os grupos humanos deixavam na natureza ao se apropriar dos recursos – estariam preocupados com a sustentabilidade. A pegada ecológica considera a área de energia fóssil, terra arável, pastagens, área de floresta e área urbanizada. Para calculá‑la, os autores investigaram os distintos tipos de lugar – no caso, os territórios e suas áreas com possibilidade de aproveitamento. Observaram como ocorria o consumo energético, habitacional e de mobilidade em termos de transportes, entre outros, além das tecnologias empregadas e informações demográficas. Os dados são utilizados para elaborar tabelas, levando em conta também o descarte de resíduos e os recursos hídricos que seriam necessários para preservar a biodiversidade. 99 GEOGRAFIA ECONÔMICA DA INDÚSTRIA E AGRONEGÓCIOS Os autores consideraram ainda as diferenças de hábitos de consumo entre sociedades ricas e pobres. Saiba mais Leia a obra sugerida para ampliar seus conhecimentos sobre a temática: WACKERNAGEL, M.; REES, W. Our ecological footprint: reducing human impact on the Earth. Gabriola Island: New Society, 1998. 6.2 Você perguntaria: quais são os indicadores de uma pegada ecológica? Não importa o lugar, se é uma cidade ou um país, assim como sua extensão. A pegada é referenciada pela dimensão das áreas produtivas, sejam elas continentais (em terra) ou marítimas. Essa foi a forma encontrada por Wackernagel e Rees (1998) para expressar em hectares a extensão territorial que um indivíduo ou toda a sociedade utiliza, em média, para se sustentar. Desde que iniciou suas atividades no nosso país, em 1996, o Fundo Mundial para a Natureza (WWF‑Brasil) utiliza o conceito de pegada ecológica como uma ferramenta para interpretar algo além do simples consumo. Isso é feito no sentido de dimensionar quais questões estão implícitas quando realizamos uma leitura dos hábitos de consumo e suas consequências, como a questão das desigualdades e das injustiças, com o intuito de buscar soluções para melhor distribuir a renda e os recursos naturais. Observação Como é composta a pegada ecológica? São considerados a terra bioprodutiva (disponível para plantio, pastagem e uso da madeira), o mar bioprodutivo (usado para pesca e extrativismo), a terra de energia (florestas e paisagens vegetais – em geral, algas marinhas –, necessárias para a absorção de emissões de carbono), a terra construída (onde se encontram as edificações, vias de transporte etc.) e a terra de biodiversidade (solo e água que devem ser usados e preservados, bem como a própria biodiversidade). A pegada ecológica permite medir o consumo, se ele se configura como sustentável ou não, e quanta terra produtiva e recursos naturais são necessários para suprir as carências de uma população, de acordo com seu padrão de vida atual e as tecnologias disponíveis. Alier (2007) evidenciou que a apropriação de recursos pela humanidade aumenta em função do crescimento populacional, do nível de urbanização e das atividades agrárias e extrativas vegetais, animais e minerais, uma vez que essa apropriação consiste não só em colher, mas também em reduzir a produção da biomassa mediante ações como a impermeabilização do solo em áreas urbanas (pela 100 Unidade II pavimentação em ruas e avenidas, por exemplo) e também o desmatamento, dificultando a infiltração de água e promovendo enchentes e inundações. Para complementar a noção de pegada, afirmamos: para que uma economia possa vir a ser considerada sustentável, se faz necessário que a produtividade energética do trabalho humano supere ou se iguale à eficiência da transformação da energia dos alimentos convertida em trabalho humano, de acordo com o pensamento de Wackernagel e Rees (1998) ao criar o conceito de pegada ecológica. Podemos assim concluir que o conceito de sustentabilidade deve ser incorporado à análise metodológica, levando‑se em conta um conjunto de variáveis, não só de caráter ambiental ou econômico, mas social, histórico, geográfico, tecnológico e legal regulatório (leis ambientais). De modo sucinto, podemos dizer que devemos repensar os hábitos de consumo tendo em vista assegurar uma existência futura digna, bem como uma satisfatória sobrevivência, não permitindo o esgotamento da capacidade do planeta, de forma que viver não implique grandes sacrifícios em relação à natureza ou aos recursos que ela possa vir a nos oferecer. O consumo deve ser racional. Infelizmente, no entanto, desde a década de 1980 a demanda da população mundial pelo consumo de recursos naturais é maior do que a capacidade que o planeta Terra apresenta de renová‑los. Já utilizamos 25% a mais dos recursos naturais disponíveis, ou seja, precisaríamos de pelo menos ¼ a mais de planeta para sustentar o estilo de vida atual. Por isso, o comprometimento também é muito acentuado em termos de biodiversidade. Com isso, constatamos que há necessidade não só de ampliação de uma consciência ambiental, mas de redução e reposicionamento quanto aos hábitos de consumo. Deixemos claro que a qualidade de vida dos grupos humanos e dos biomas está em jogo no que se refere à sobrevivência. Aqui, o termo qualidade de vida deve ser entendido a partir de três eixos principais: • satisfação e acesso a bens básicos, como educação, transporte, alimentação, serviço de saúde, saneamento adequado e ganhos aceitáveis; • acesso a bens complementares, tais como lazer, relações afetivas, familiares, com a natureza e de trabalho; e • acesso a bens ético‑políticos, assim denominados por se referirem à vida do cidadão, com participação política e envolvimento em causas coletivas, por exemplo. A qualidade de vida depende de fatores combinados associados pela questão ambiental. 101 GEOGRAFIA ECONÔMICA DA INDÚSTRIA E AGRONEGÓCIOS Saiba mais Leia a tese de doutorado da professora Sonia Regina da Cal Seixas Barbosa. Nela, a perspectiva socioambiental é avaliada a partir de uma nova ótica, um olhar diferente, envolvendo inclusive a parte emocional, que se deprime diante das mudanças socioambientais: BARBOSA, S. R. C. S. Qualidade de vida e suas metáforas. 1996. Tese (Doutorado em Ciências Sociais) – Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 1996. Além disso, para saber mais sobre o tema da pegada ecológica, acesse o site do WWF‑Brasil: Disponível em: http://www.wwf.org.br/. Acesso em: 7 jun. 2022. 6.3 Em complementação à temática Complementando o tema aqui discutido e sua relação com nossa disciplina no contexto brasileiro e mundial, apresentamos o comentário de uma matéria publicada por Belén Kayser (2017) na revista Cambio 16, em espanhol, intitulada, em tradução livre, “O futuro será circular… ou não será” (“El futuro será circular… o no será”). A economia linear em que vivemos tem, de acordo com especialistas, os dias contados. A União Europeia estabeleceu uma meta para a transição a um tipo de produção que reduza a energia e a matéria necessária para fabricarobjetos de consumo [mercadorias] e amplie sua durabilidade. Conseguiremos? Apresentamos nesta matéria alguns exemplos de empresas e fundações que vão seguir esse caminho e que convidam a consumir e viver de outra forma. […] O modelo econômico linear de usar, fazer e descartar está baseado em produzir grandes quantidades de energia e recursos baratos, porém está chegando ao limite de sua capacidade física. [A ideia da economia circular é] utilizar os materiais que se encontram nos resíduos em vez de descartá‑los e aproveitar energeticamente os resíduos que não se pode reciclar (Kayser, 2017, tradução nossa). A proposta da economia linear não especifica produtos, componentes e materiais para obter a máxima utilidade em todos os momentos, tanto nos ciclos técnicos quanto nos biológicos (“reciclar ou descartar”). 102 Unidade II É preciso reutilizar certos resíduos que ainda podem servir para elaborar novos produtos e, dessa forma, dar uma “segunda vida” àqueles quebrados ou que estavam descartados (“reparar ou desperdiçar”). Por sua vez, o descarte inadequado dos recursos acentua o uso incorreto do terreno e promove a contaminação atmosférica, as mudanças climáticas e a emissão de substâncias tóxicas (“reutilizar ou não contaminar”). Ademais, “reutilizar os recursos tem como resultado maior rentabilidade do que criá‑los do nada. Todo material biodegradável volta à natureza, e aquele que não o é, se reutiliza” (Kayser, 2017, tradução nossa). Podemos resumir as medidas propostas pela economia circular – que têm o potencial de trazer vantagens financeiras consideráveis – da seguinte maneira: • não desperdiçar alimentos para atingir a meta até 2030; • melhorar a qualidade das matérias‑primas para conquistar a confiança dos consumidores; • tomar medidas para um plano de trabalho que promova a propaganda ecológica no sentido de consertar equipamentos, ampliar sua durabilidade e reciclá‑los; • melhorar a eficiência energética da produção; • facilitar o uso de adubos orgânicos, baseado nos resíduos, e reforçar o papel dos bionutrientes; • adotar uma nova estratégia para o plástico, principalmente para diminuir o lixo marinho; e • efetuar ações para reutilização das águas. Em resumo, Kayser (2017, tradução nossa) afirma: Nossa economia linear está com os dias contados. O planeta pede aos gritos que tenhamos uma forma de consumo sustentável e que avancemos além da filosofia ecologista dos três erres (reduzir, reutilizar e reciclar), reduzindo o uso de energia e recursos. Sem dúvida isto parece utópico no mundo no qual vivemos, porque quantas vezes advertimos que os utensílios domésticos, como aparelhos telefônicos, torradeiras, entre outros, foram desenhados e produzidos para quebrar quando termina sua garantia? Esse fenômeno é conhecido como obsolescência programada e deixou de ser um mito. Nos últimos anos, o movimento para visibilizar este problema tem visto nascer associações em defesa dos consumidores com certo poder de divulgar os problemas nos meios midiáticos, além de propor punições às empresas. A autora menciona a pouca durabilidade de produtos, mas para tanto existem os órgãos de fiscalização e controle de qualidade e validade. No Brasil existem normas de qualidade que devem ser seguidas e 103 GEOGRAFIA ECONÔMICA DA INDÚSTRIA E AGRONEGÓCIOS garantias para trocas e reposições, além do Procon em cada estado, para atendimento das reclamações, e órgãos de ouvidoria das empresas. Existem leis que protegem o consumidor. O que fizemos até o momento implicou associar a produção econômica, a globalização dos negócios e as relações de comércio, exemplificando com as condições apresentadas pelo Brasil e alguns dos seus parceiros compradores ou fornecedores de produtos, commodities, entre outros. Agora mencionaremos uma modalidade de indústria e negócios que afeta diretamente os grupos humanos e sua relação com a sobrevivência: a saúde. 7 UMA INDÚSTRIA SEM POLUIÇÃO: O TURISMO DE SAÚDE O mundo contemporâneo nos surpreende com uma série de paradoxos desafiadores no modo de pensar e agir social e politicamente. Estamos diante de um contexto espaçotemporal que contrasta o global e o local. A atividade turística constitui importante fonte geradora de recursos financeiros, de empregos e serviços, e o Brasil apresenta grande atrativo para esse tipo de atividade econômica, haja vista sua diversidade de espaços regionais e belezas naturais, oferecendo variedades de opções. Existe uma interdisciplinaridade para explicitar os fatos e suprir a necessidade de uma satisfatória formação profissional em quaisquer campos de trabalho e de estudos: trata‑se de uma postura transdisciplinar e contextualizada no caminho para um conhecimento total. Balastreri (1997) afirma que devemos privilegiar temas de relevância social que consigam dar à sociedade respostas para seus anseios e necessidades mais prementes. Assim, já falamos sobre indústria, agronegócios, relações comerciais do Brasil, questões ambientais, e agora nos reportamos a uma modalidade de atividade econômica diferente, um turismo diferente. Encontramos, no mundo globalizado, uma atividade considerada relevante no que se refere à economia, uma vez que movimenta milhares de dólares, contribui para o PIB local e mundial, além de gerar empregos diretos e indiretos relacionando‑se à movimentação de pessoas em distintas partes do planeta, além de impactar a logística de transportes e serviços diversos, impondo‑se na área educacional para formar profissionais que possam atuar no setor. Afirmamos aqui as razões distintas que levam as pessoas ao deslocamento – descanso, curiosidade, estudo, conhecimento, aventura –; no entanto, existe uma modalidade que implica na busca por qualidade de vida e melhores condições de saúde, combate ao estresse ou cura para enfermidades. Essa é a atividade turística vinculada ao sentido do nosso texto. 7.1 Texto complementar: a indústria do turismo de saúde O turismo de saúde apresenta‑se de maneira peculiar em termos de deslocamentos, com viagens de pessoas originárias tanto de nações menos desenvolvidas quanto desenvolvidas para os principais centros médicos em países que ofereçam determinados tratamentos que não estejam disponíveis em seus locais de origem (Horowitz; Rosensweig, 2007). Podemos apontar outras razões para esse tipo de migração, considerando os custos operacionais ou, ainda, a busca por algum tratamento que seja ilegal no país de origem – como procedimentos de fertilidade, certas cirurgias plásticas ou de mudança de sexo –, que não possa ser realizado ou que apresente custos muito elevados. Ainda pode ser mencionada a questão das especialidades dos profissionais médicos que irão realizar os procedimentos. A modernidade 104 Unidade II impõe sua lógica para o viajante em relação aos lugares e aos não lugares, sob a ótica de Marc Augé (2014), bem como as razões que o levam até eles. Contribuem para a captação dos pacientes técnicas de marketing e tecnologias, como estruturas de apoio. No caso do Brasil, as condições científicas, tecnológicas e informacionais apresentadas surgem como peças de engrenagem que se articulam para fortalecer o setor terciário da economia, como definiria o geógrafo Milton Santos (2013), como meio “técnico‑científico‑informacional” no contexto da globalização excludente. As razões são diversas para tratamentos médicos ou estéticos, embora não haja garantia de sucesso dos procedimentos – as pessoas estão sujeitas a riscos e são exigidos cuidados pós‑operatórios adequados. Os termos “turismo de saúde” ou “turismo médico” são amplos e relativos aos lugares disponibilizados no Brasil e no exterior. Essa indústria estende‑se por áreas voltadas para atendimentos preventivos, métodos de reabilitação, tratamentos curativos, além de cirurgias reparadoras. Existe também o chamado “turismo de bem‑estar”, compreendendo os spas, as termas, as estações de águas e os tratamentos alternativos com materiais diversos.7.2 Histórico: sobre a evolução do turismo de saúde O primeiro caso registrado de pessoas que viajaram para obter tratamento médico data de milhares de anos atrás, quando os peregrinos gregos viajaram de diferentes partes do Mediterrâneo para o pequeno território no golfo Sarônico chamado Epidauro, onde ficava foi o santuário de Asclépio, deus da cura. O turismo médico também foi descrito nas civilizações dos egípcios, romanos e japoneses (Weisz, 2011). Em 4 mil a.C. os sumérios já construíam instalações ao redor de nascentes de água mineral quente. Os gregos expandiram sua “indústria” de resorts médicos em cerca de 300 a.C., estabelecendo templos terapêuticos baseados no original em Epidauro. Os egípcios praticavam uma forma minuciosa de medicina, e em 1248 d.C. o hospital Mansuri foi aberto no Cairo. Foi o mais avançado e maior hospital já construído, e a obra teve como objetivo servir a todos, independentemente da sua raça, religião ou status. Os viajantes chegavam de várias partes do mundo para buscar tratamento médico em Mansuri. Na Ásia também encontramos registros do turismo de saúde. Na Índia, a tradição de ioga e medicina aiurvédica atrai viajantes há cerca de 5 mil anos, sendo um dos grandes centros mundiais de medicina alternativa. As ricas fontes minerais no Japão, conhecidas como onsen, também têm oferecido retiros de saúde por suas propriedades terapêuticas há séculos. Na Europa, o turismo médico surgiu no século XVI, quando a elite redescobriu os antigos banhos romanos. Os destinos turísticos cresceram em torno desses spas em locais como Bath, Baden‑Baden, St. Moritz e as ville d’eaux. Bath, em particular, tornou‑se mundialmente popular, uma vez que contava com o patrocínio da coroa inglesa. Spas e sanatórios podem ser considerados uma forma primitiva de turismo médico. Na Inglaterra do século XVIII, por exemplo, os pacientes visitavam spas porque eles 105 GEOGRAFIA ECONÔMICA DA INDÚSTRIA E AGRONEGÓCIOS eram lugares com águas minerais com propriedades supostamente curativas, auxiliando no tratamento de diversas doenças, de gota a distúrbios do fígado e bronquite (Gahlinger, 2008). 7.3 Os destinos procurados Podemos mencionar Argentina, Bolívia, Brasil, Colômbia, Costa Rica, Cuba, Equador, México, Turquia, Tailândia e Ucrânia como destinos populares para cirurgia estética. Outros países de destino incluem a Bélgica, a Polônia, a Eslováquia e a África do Sul. Algumas pessoas viajam em busca de uma gravidez assistida, com procedimentos como a fertilização in vitro (JONES; KEITH, 2006). No entanto, a percepção do turismo de saúde nem sempre é positiva. Em algumas partes do mundo, questões políticas mais amplas podem influenciar a opção dos turistas. Prestadores de serviço em turismo de saúde têm se desenvolvido como intermediários que unem potenciais turistas médicos com os hospitais e outras organizações. As empresas que se concentram em oferecer viagens médicas normalmente fornecem profissionais para acompanhamento. Outra modalidade é o turismo de evasão, com objetivo de acessar serviços médicos considerados ilegais no país de origem, incluindo tratamentos de fertilidade e aborto, além do suicídio assistido. O Brasil desponta em opções para turistas‑pacientes, ofertando baixos preços, excelência médica e boa infraestrutura hospitalar, mas o setor ainda prescinde de investimentos maiores e divulgação em promoções para concorrer com outros “paraísos médicos”. 7.4 Procedimentos procurados Entre os procedimentos mais procurados pelos turistas estão as cirurgias plásticas, cardiológicas, oftalmológicas e bariátricas. Também há demanda por tratamentos em áreas como oncologia, cardiologia e reprodução assistida, check‑ups e tratamentos variados. A maioria dos pacientes‑turistas no Brasil são procedentes de países da América Latina, EUA, Angola e também da Europa, principalmente Alemanha, Itália, França, Portugal, Holanda e Inglaterra. Contudo, são apontadas barreiras que dificultam o crescimento do setor. Destacamos que, no caso brasileiro, o turismo médico‑hospitalar não é prioridade dos órgãos nacionais de turismo. O setor poderia evoluir tanto na geração de políticas públicas quanto na iniciativa privada para ocupar uma posição mais favorável no mercado internacional. 106 Unidade II Saiba mais Para saber mais, leia os artigos: CAULYT, F. Brasil surge como opção no mercado de turismo médico. DW, Bonn, 19 nov. 2014. Disponível em: https://bit.ly/3GXQmrG. Acesso em: 7 jun. 2022. JAKITAS, R. Turismo médico, um mercado de R$ 3 bilhões, atrai os pequenos empreendedores brasileiros. Estadão, São Paulo, 1º nov. 2013. Disponível em: https://bit.ly/3xtDkPR. Acesso em: 7 jun. 2022. NEUMAN, W. Reatamento abre porta para “turismo médico” de americanos em Cuba. UOL Notícias, [s. l.], 23 fev. 2015. Disponível em: https://bit.ly/3zjgADn. Acesso em: 7 jun. 2022. TESTA, F. Pacientes do Norte e Nordeste vão ao interior de SP para tratar câncer. G1, [s. l.], 23 maio 2013. Disponível em: http://glo.bo/3GYtx7g. Acesso em: 7 jun. 2022. RÊGO, C. S. et al. O termalismo como segmento turístico. Reuna, Belo Horizonte, v. 13, n. 3, p. 11‑25, 2008. Disponível em: https://bit.ly/3NwV4zl. Acesso em: 7 jun. 2022. Os agendamentos resumem‑se a uma facilidade proporcionada pelo prestador de turismo médico, que faz o contato inicial para o tratamento e, quando o destino exige visto, apresenta carta de recomendação na embaixada em questão. O paciente viaja para o país de destino e o prestador pode recomendar um executivo que cuida da parte burocrática, incluindo alojamento, organização de cuidados pós‑operatórios e serviço de intérprete. Existe ainda uma certificação internacional de saúde que atribui um nível de qualidade para os serviços dessa área em vários países. As organizações de certificação internacional de saúde garantem uma ampla gama de programas, como hospitais, centros de cuidados primários, transporte e serviços ambulatoriais. O mais antigo organismo de certificação internacional é o Accreditation Canada, anteriormente conhecido como Canadian Council on Health Services Accreditation. Nos EUA, o grupo de certificação da Joint Commission International foi formado em 1994 para oferecer educação e serviços de consultoria a clientes de todo o mundo. Muitos hospitais veem hoje a obtenção de certificação internacional como forma de atrair pacientes americanos. A Joint Commission International é um órgão sem fins lucrativos e independente do setor privado que desenvolve procedimentos e padrões reconhecidos nacional e internacionalmente para ajudar a melhorar o cuidado e segurança do paciente e o cumprimento das normas técnicas. 107 GEOGRAFIA ECONÔMICA DA INDÚSTRIA E AGRONEGÓCIOS O turismo de saúde médico pode apresentar riscos, entre eles a qualidade dos cuidados pós‑operatórios e as distâncias geográficas entre os locais de origem e destino. As diferenças nos padrões de provedores de cuidados de saúde ao redor do mundo têm sido reconhecidas pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que lançou em 2004 a Aliança Mundial para a Segurança do Paciente, órgão que auxilia hospitais e governos de todo o mundo a definir políticas de segurança do paciente e práticas que podem se tornar particularmente relevantes na prestação de serviços de turismo médico. Saiba mais Para mais detalhes sobre as iniciativas de proteção ao paciente, visite o site da OMS: Disponível em: https://bit.ly/3aHc5IB. Acesso em: 8 jun. 2022. No Brasil, foi criada pelo Ministério do Turismo uma cartilha em que são dispostas recomendações sobre o turismo de saúde: BRASIL. Ministério do Turismo. Turismo de saúde: orientações básicas. Brasília: Ministério do Turismo, 2010. Disponível em: https://bit.ly/3xm1cng. Acesso em: 8 jun. 2022. É preciso observar que, caso surjam problemas, os pacientes não estão cobertos por um seguro individual adequado ou não podem buscar compensação através de ações contra práticas irregulares. 8 COMO PODEMOS AVALIARO MODELO CAPITALISTA EM SUA FASE CONTEMPORÂNEA? Na fase atual, o capitalismo extrapolou fronteiras e distâncias foram vencidas mediante acordos comerciais e terceirização produtiva. A proposta foi unificar os mercados, estabelecendo uma rede de dominação/subordinação via hierarquização dos espaços. A geógrafa Ana Fani Alessandri Carlos (1998) aborda a temática da natureza do espaço fragmentado e uma divisão espacial do trabalho compatível com a ampliação do mercado mundial, eliminando as fronteiras entre os Estados e multiplicando as opções do mundo das mercadorias. São realidades diferentes que não se restringem a um lugar, mas se ramificam em contextos supranacionais, mediados pelos fluxos informacionais, além da difusão cada vez maior dos processos científicos e tecnológicos. Em sentido de hierarquização do espaço, as categorias de metrópole mundial e metrópoles nacionais articulam o processo, mas também se abrem, afirma a geógrafa, em tentáculos que irão se irradiar por todas as partes do país e do mundo. Para Carlos (1998), as metrópoles mantêm uma centralidade não só em um determinado lugar do território, mas se espalham por ele e se articulam com outras áreas do mundo. No mundo globalizado, a metrópole é vista como um símbolo do mundo moderno. 108 Unidade II Figura 48 – Milton Santos. “O sonho obriga o homem a pensar” Fonte: UNIP/Objetivo. Quando menciona o conceito de território, o geógrafo Milton Santos (1998) se permite uma consideração muito interessante: diz que antes o território era estatizado e que hoje ele é transnacionalizado, interligado por redes de informatização que encurtaram as distâncias. Também ocorreram transformações em termos de organização do espaço urbano. Como exemplo, podemos citar as modificações em países europeus, onde houve revitalização de regiões como unidade geográfica, como afirma Joaquín Bosque Maurel (1998), com subespaços regionais superando os tradicionais espaços que existiam desde o Renascimento. Para o autor, a União Europeia constitui um dos exemplos da globalização do espaço terrestre. Atualmente, podemos dizer que essa integração é limitada por normas e barreiras econômicas e sociais hoje restritivas, como a discussão da saída do Reino Unido da União Europeia (Brexit) e do fim do Espaço Schengen, a questão da xenofobia em relação aos imigrantes, somadas ao elevado nível de desemprego, além dos entraves alfandegários e medidas restritivas a produtos importados, como as já mencionadas barreiras fitossanitárias impostas aos produtos brasileiros. A industrialização na realidade atua como fim comum à proposta de globalização ou mundialização produtiva, mas também apresenta tendências desagregadoras, regionalizadoras, como afirma Milton Santos (1990) – mas ainda se pode corrigir os excessos da universalização perversa existente na sociedade‑espaço. Aliás, Milton Santos sempre se refere ao lado perverso da globalização, representado pelas diferenças existentes entre países e grupos humanos: 109 GEOGRAFIA ECONÔMICA DA INDÚSTRIA E AGRONEGÓCIOS Destaque A grande mutação contemporânea Diante do que é o mundo atual, como disponibilidade e como possibilidade, acreditamos que as condições materiais já estão dadas para que se imponha a desejada grande mutação, mas seu destino vai depender de como disponibilidades e possibilidades serão aproveitadas pela política. Na sua forma material, unicamente corpórea, as técnicas talvez sejam irreversíveis, porque aderem ao território e ao cotidiano. De um ponto de vista existencial, elas podem obter um outro uso e uma outra significação. A globalização atual não é irreversível. Agora que estamos descobrindo o sentido de nossa presença no planeta, pode‑se dizer que uma história universal verdadeiramente humana está, finalmente, começando. A mesma materialidade, atualmente utilizada para construir um mundo confuso e perverso, pode vir a ser uma condição da construção de um mundo mais humano. Basta que se completem as duas grandes mutações ora em gestação: a mutação tecnológica e a mutação filosófica da espécie humana. A grande mutação tecnológica é dada com a emergência das técnicas da informação, as quais – ao contrário das técnicas das máquinas – são constitucionalmente divisíveis, flexíveis e dóceis, adaptáveis a todos os meios e culturas, ainda que seu uso perverso atual seja subordinado aos interesses dos grandes capitais. Mas, quando sua utilização for democratizada, essas técnicas doces estarão ao serviço do homem. Muito falamos hoje nos progressos e nas promessas da engenharia genética, que conduziriam a uma mutação do homem biológico, algo que ainda é do domínio da história da ciência e da técnica. Pouco, no entanto, se fala das condições, também hoje presentes, que podem assegurar uma mutação filosófica do homem, capaz de atribuir um novo sentido à existência de cada pessoa e, também, do planeta. Fonte: Santos (2003, p. 85). Sob o ponto de vista financeiro, a organização das grandes instituições não apresenta princípio democrático estabelecido. As decisões tomadas não são submetidas à opinião popular, o que seria próprio de um regime político democrático, assegurando um regramento tributário e financeiro satisfatórios. Na reunião de cúpula realizada em junho de 2019 em Osaka, no Japão, o G20 (grupo que reunia os oito países mais ricos – Alemanha, Canadá, EUA, França, Itália, Japão, Reino Unido e Rússia – e 11 países emergentes – África do Sul, Arábia Saudita, Argentina, Austrália, Brasil, China, Coreia do Sul, Índia, Indonésia, México e Turquia – mais a União Europeia) discutiu a “intensificação de tensões comerciais e geopolíticas no mundo” (FERNANDES, 2019), a guerra comercial entre EUA e China, a ratificação do Acordo de Paris sobre a redução da emissão dos gases estufa por todos os países‑membros com exceção dos EUA, a importância de os países se comprometerem com os aspectos relativos às mudanças climáticas e políticas ambientais, além das críticas ao Brasil quanto a estes aspectos (CUÉ, 2019; MENDONÇA, 2019). 110 Unidade II Outro aspecto que se destacou no contexto da Nova Ordem Mundial e das temáticas debatidas na reunião foi o fato de o então presidente dos EUA, Donald Trump, e o dirigente chinês Xi Jinping decidirem abrir negociações comerciais, além do comprometimento do presidente estadunidense de não elevar tarifas sobre produtos chineses – a taxa anterior, datada do mês de maio daquele ano, era de 25% sobre o valor bruto das importações anuais vindas da China. No entanto, não houve avanço quanto às questões ambientais por parte dos EUA. Os principais temas debatidos durante a cúpula foram relativos às divergências comerciais e preocupações ambientais, como o aquecimento global e os índices de emissões de gases. Outra questão debatida, embora não incluída no documento firmado pelos representantes, foi a dos subsídios agrícolas. Os participantes reafirmaram o comprometimento com a possibilidade de reforma da OMC. Não mencionaram o termo “protecionismo”, mas reforçaram a intenção de manter um mercado livre, justo, não discriminatório e mais transparente. O Japão, por sua vez, apresentou as problemáticas referentes ao descarte de lixo plástico no mar e ao envelhecimento da população. O empoderamento feminino e problemas migratórios também foram objetos de discussão (FERNANDES, 2019). Temos, em relação às atuais mudanças na ordem global, no contexto da multipolaridade, a polêmica que envolveu as relações diplomáticas entre o governo dos EUA e a Rússia (ou seja, entre Trump e Putin), sobre a questão relativa à possível interferência da inteligência russa nas eleições estadunidenses de 2016. O então presidente dos EUA disse acreditar nas palavras de Putin ao afirmar que não houve intervenção e que isso bastava. Putin disse: “O governo russo nunca interferiu e não planeja interferir nos assuntos internos dos Estados Unidos, incluindo o processo eleitoral” (BONET, 2018). Com referência ao desenvolvimentoeconômico, o FMI prognosticou em 2019 um crescimento menor na América Latina, com desaceleração das economias da Argentina, do Brasil e do México sob os efeitos de greves, condições financeiras desajustadas e necessidade de consolidação na política. Quanto ao crescimento global, as tensões comerciais representariam a maior ameaça em curto prazo (DONCEL, 2019). Existia incerteza em relação à União Europeia, na época, sobre a polêmica saída ou não do Reino Unido (o que efetivamente ocorreu posteriormente). Outro tema muito discutido ainda é o movimento migratório internacional, forçado pelas condições precárias de países africanos, asiáticos e latino‑americanos relativos a problemas de ordem tanto econômica como social. Quanto à globalização, Santos afirmou (1996) que ela se intensificaria nos países da América Latina, adequando‑se ao modelo das relações econômicas, políticas e sociais e aos processos de transformação no âmbito da mundialização econômica, de acordo com os meios técnico‑científico‑informacionais, isto é, modernizando‑se e se adequando às mais recentes novidades. Diferentemente do que afirmam alguns pesquisadores, que acreditam no estabelecimento de uma homogeneização da cultura e do sistema de valores a partir da globalização, Milton Santos (1996, p. 273) concebe que “cada lugar é, ao mesmo tempo, objeto de uma razão global e de uma razão local, convivendo dialeticamente”. Para ele, a importância de estudar os lugares reside na oportunidade de captar seus elementos centrais, suas virtudes locacionais, de modo a compreender suas possibilidades de interação com as ações solidárias hierárquicas (SANTOS, 1996). 111 GEOGRAFIA ECONÔMICA DA INDÚSTRIA E AGRONEGÓCIOS Remontando ao passado, chegamos à obra clássica publicada pela primeira vez em 1971 pelo escritor e jornalista uruguaio Eduardo Galeano (1979), As veias abertas da América Latina. Seu conteúdo faz referência aos temas antiglobalização, aderindo à opinião dos críticos quanto a seus aspectos excludentes e de dependência e submissão dos países latino‑americanos às grandes potências. Concluímos que a ordem econômica promoveu também mudanças na organização social, no campo, na cidade e no ordenamento territorial, com exclusão social e intensificação dos movimentos migratórios em busca de melhores condições de vida e da própria sobrevivência dos grupos, embora se constate na atual conjuntura internacional que os problemas sociais de desemprego, saúde e qualidade ambiental são mundiais e extrapolam as fronteiras de países ricos e pobres. 8.1 Sociedade, modernidade e mudanças ambientais globais: aproximação teórica Ao tratarmos de questões ambientais e sua relação com a subjetividade, não podemos ignorar que existe um entrelaçamento entre a historicidade das ações humanas e seu desempenho nas atividades produtivas, assim como a trajetória das alterações e transformações promovidas no planeta Terra – nos referimos aqui ao que concerne à geosfera, assim como à biosfera, ao longo dos tempos. Em outras palavras, as atividades humanas geram transformações regionalizadas, em termos de escala, questão tratada pela economia ambiental. É importante lembrar que existem interesses econômicos e sociais na apropriação de recursos e na organização do espaço, que surgem no contexto da modernidade e se acentuam na pós‑modernidade. Falamos das questões ambientais globais, dos riscos que passaram a ser observados aos ecossistemas e grupos humanos, motivados pelas atividades econômicas – como a indústria e os agronegócios que abordamos nesta disciplina – e pelas alterações no modo de organizar o espaço, tanto rural quanto urbano. Destas forma, a economia ecológica tenta contribuir para que os grupos humanos tenham um caminho mais sustentável de desenvolvimento, acreditando na capacidade de renovação. Todas as transformações estabelecidas nas sociedades modernas, como o avanço da ciência e da tecnologia, vão se entrelaçar com a vida individual (o eu) e com os outros, a sociedade. Encontramos apoio teórico a essas afirmações nas considerações de Giddens (1991 apud Ramirez; Garcia, 2020, p. 10‑11): A modernidade é um conjunto que abrange estilo, costume de vida ou organização social, relacionando‑os a um determinado momento histórico em uma associação entre espaço e tempo. Viver na modernização configura‑se como uma cultura de riscos, na qual a subjetividade é influenciada por aspectos globais inclusive ambientais. A subjetividade vai ser influenciada por aspectos ambientais globais, de cujo dimensionamento os grupos humanos perdem o domínio. Castoriadis (1987) afirma que a globalização, o risco de degradação ambiental, o desemprego, as oscilações econômicas etc. têm um sentido social e histórico, pensamento este compartilhado por outras leituras. Fica claro, que existem pelo menos duas posturas quanto à 112 Unidade II sociedade de risco: a econômica, corporativa, e aquela defendida pelos agentes sociais. A insegurança e o risco não são contraditórios à lógica da inovação, e à medida que se reconstrói a tecnologia é necessário abrir‑se à contingência do aleatório e do imprevisível. Os grupos humanos são vulneráveis às variações da natureza, mas também contribuem para o seu agravamento, assim como mudam suas relações interpessoais e afetivas. Existe quem ganha e quem perde com as mudanças climáticas e a globalização – entendendo‑se aqui a globalização como excludente e comprometedora da paisagem, dos recursos e da subjetividade. Surgem também nesse contexto problemas de saúde e psicológicos, decorrentes do contágio com produtos nocivos contidos no ar, na água, na alimentação ou em áreas de trabalho, notadamente na atividade mineradora. Temos um sentido com nós mesmos e um sentido com o outro, a coletividade. O simbolismo é interior e exterior. Devemos ter em conta que a qualidade ambiental é um fenômeno tanto pessoal quanto coletivo, considerando também os interesses e as motivações desse processo, que variam entre os agentes. Estamos nos referindo à saúde e aos riscos pessoais e familiares, além dos problemas que podem afetar a saúde pública, decorrentes, entre outros, de epidemias, endemias, poluição atmosférica, descarte de lixo e resíduos de modo geral, derramamento de produtos tóxicos, poluição das águas dos rios, mares e oceanos e acidentes ambientais – relembrando aqui os casos de Mariana e Brumadinho (considerada mais grave), em Minas Gerais. Em todos esses problemas e casos mencionados, não só a natureza fica comprometida, mas infelizmente os danos aos grupos humanos são enormes, com perdas materiais e muitas mortes. 8.2 Comentários sobre sustentabilidade A sustentabilidade é aspecto muito importante a ser considerado, abrangendo várias dimensões – social, econômica, ecológica ou do meio ambiente, geográfica, cultural e política. Essas dimensões não podem ser isoladas, pensando‑se tanto no meio rural quanto urbano, nos quais as ações humanas interferem em aspectos climáticos, balanço de energia, balanço hídrico, uso do solo, queimadas e desmatamentos, interferindo na qualidade de vida e ocupação em ambos os espaços. A sustentabilidade enquanto conceito surge para propor um novo modo de vida, uma busca da sociedade para satisfazer suas necessidades e expressar o seu potencial – muito embora saibamos que construir uma sociedade ambientalmente sustentável não é tarefa fácil (Comissão Mundial Sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, 1991). O princípio da sustentabilidade, quando aplicado, deve ser: • ecologicamente correto; • economicamente viável; • socialmente justo; • culturalmente diverso. 113 GEOGRAFIA ECONÔMICA DA INDÚSTRIA E AGRONEGÓCIOS O termo “sustentabilidade” advém do latim sustentare e significa defender, apoiar, conservar, cuidar. Na prática, para os defensores ambientais significa suprir as necessidades do presente sem, no entanto, afetar as do futuro. A sustentabilidade apresenta um conjunto de dimensões que se completam quando aplicadas:a ambiental, a econômica, a social e a socioeconômica. Deve haver harmonia entre todas as dimensões, e ao mesmo tempo deve‑se valorizar as culturas, locais e nacionais, e sem dúvida respeitar as diversidades mundiais. No que se refere às propostas do milênio implementadas em discussões ambientais internacionais, o Brasil assumiu alguns compromissos: • acabar com a fome e a miséria; • oferecer educação básica de qualidade; • apoiar a igualdade de gênero; • reduzir a mortalidade infantil; • melhorar a saúde das gestantes; • combater a aids, a malária, a dengue e doenças crônicas; • manter os ecossistemas. Para apoiar esses objetivos, entre outros que deverão ser atingidos nos propósitos da ONU, temos no artigo 225 da Constituição Brasileira de 1988 os seguintes termos: Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo‑se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê‑lo e preservá‑lo para as presentes e futuras gerações. Observação Foi com a promulgação da Constituição de 1988 que a proteção ao meio ambiente se tornou matéria constitucional, passando a usar noções de sustentabilidade. Anteriormente, a preocupação ambiental estava prevista na Lei n. 6.938/1981. 114 Unidade II 8.3 Problemas ambientais, desenvolvimento sustentável e suas implicações A dinâmica da globalização impôs uma nova dimensão à produção econômica e à distribuição populacional. A concepção de tais arranjos organizacionais, a sua concentração em certos espaços ou a descentralização dos núcleos científicos e tecnológicos favoreceu as interações, bem como o estabelecimento de redes informacionais e fluxos de ideias, configurando ambientes que facilitam a produção de conhecimentos e as inovações tecnológicas, inclusive com a formação de tecnopolos, grandes parques científicos tanto em países do Norte rico quanto em emergentes países do Sul. Criam‑se assim vantagens competitivas sob a égide da inovação tecnológica e do maior aproveitamento da mão de obra e dos recursos disponíveis. Assim, temos um outro aspecto da ordem global: o consumo cada vez maior de recursos, notadamente os naturais não renováveis (os combustíveis fósseis), bem como os renováveis degradados (o solo, a água, a atmosfera, os vegetais). A atividade econômica por si só impõe um ritmo e um consumo cada vez mais acentuados e acelerados, causando grandes impactos ambientais e extinguindo recursos. Outro aspecto preocupante pode ser observado no relatório publicado pelo Worldwatch Institute, uma das principais organizações ambientais do planeta, denominado The anatomy of resource wars (Renner, 2002), que constata que a exploração de recursos naturais – tais como petróleo, madeira, cobalto, coltan (mistura de columbita e tantalita usada para produzir capacitores para telefones celulares), diamantes, ervas e plantas medicinais – rendeu vários bilhões de dólares a grupos rebeldes, governos e empresas transnacionais, evidenciando não só um descaso para com a natureza, mas também a usurpação aos grupos humanos de áreas e países envolvidos. A demanda mundial por telefones celulares, diamantes e móveis feitos com madeira tropical tem alimentado guerras que matam milhares de pessoas e liquidam espécies da biodiversidade local, especialmente em nações africanas, não só piorando a situação ambiental como deteriorando a qualidade de vida dos povos envolvidos. Sabemos que apenas 17 entre as cerca de 200 nações do mundo reúnem 70% da diversidade biológica do planeta. Países como Brasil, Colômbia, Venezuela, Peru, República Democrática do Congo, Malásia e Indonésia, por conterem grandes porções de florestas tropicais em seus territórios, concentram a maior parte da biodiversidade terrestre. Mas será que tal honraria se reverte em uma melhor condição econômica para os países ou seus habitantes? A grande questão está fundamentada nos riscos do crescimento econômico e das inovações tecnológicas. Como adequar esses componentes às sociedades e seus ambientes é o grande foco de discussão. Essa visão fatalista e trágica, no entanto, tende a mudar. Segundo a teoria da modernização ecológica, a atividade tecnológica deve ser discutida de forma contextual em suas interfaces socioeconômicas, culturais e ambientais, e não tratada como variável independente e determinante. Além disso, os desenvolvimentos tecnológicos e as tecnologias ambientais tendem a ser reorganizados para atender às demandas de sustentabilidade ambiental. 115 GEOGRAFIA ECONÔMICA DA INDÚSTRIA E AGRONEGÓCIOS Mol, de acordo com Thales de Andrade (2002), representa uma das vozes mais destacadas da modernização ecológica, afirmando que em diversos países ocidentais é possível alcançar objetivos ambientais sem abrir mão dos mecanismos da economia de mercado e da indústria, e que o estabelecimento de novas formas de produção e consumo responsáveis representa um caminho seguro para a conquista de uma sociedade ambientalmente sustentável. Para isso, são necessárias inovações em tecnologias ambientais, como combustíveis alternativos, novas formas de cultivo e mudanças nos hábitos e padrões de consumo, reciclagem, entre outros. O consumo depende do organismo e de seu estilo de vida, bem como da criatividade dos grupos humanos, da sua organização espacial, dos seus valores, da tecnologia e da ética. O desenvolvimento sustentável implica uma mudança em termos evolutivos, uma adaptação constante. Ignacy Sachs (1993) considera a sustentabilidade como um conceito dinâmico que engloba um processo de mudança com cinco dimensões: a social, a econômica, a ecológica, a geográfica e a cultural. Ele afirma que a sustentabilidade social se refere a um processo de desenvolvimento que permite um crescimento estável com distribuição equitativa de renda, diminuindo as atuais diferenças sociais em diversos níveis e melhorando as condições de vida. Saiba mais Para entender melhor as considerações de Sachs, leia: LAMIM‑GUEDES, V. As cinco dimensões do ecodesenvolvimento (Ignacy Sachs). Na Raiz, [s. l.], 5 jul. 2011. Disponível em: https://bit.ly/3OaFKc0. Acesso em: 21 jun. 2022. Devemos ainda ampliar a capacidade de utilização do potencial encontrado nos ecossistemas, substituindo recursos, viabilizando usos mais racionais e aumentando a eficiência dos elementos. Além disso, é preciso distribuir melhor a população e as atividades rurais e urbanas, protegendo a diversidade biológica e satisfazendo de forma mais adequada as necessidades básicas dos grupos humanos, melhorando sua qualidade de vida. Uma coisa fica bem clara: só poderemos atingir tal estágio se optarmos por isso, ou seja, depende do livre arbítrio, da conscientização e do nível educacional das populações. Dessa forma, os objetivos do desenvolvimento sustentável desafiam as instituições contemporâneas, geram controvérsias e agridem a noção tradicional de progresso. A sociologia em geral e sua vertente ambiental não vislumbram em curto prazo a construção de uma sociedade sustentável globalizada que prescinda da intervenção tecnológica ou da pesquisa científica. Busca‑se, em vez disso, uma articulação entre o coletivo e o tecnológico para atingir a sustentabilidade. 116 Unidade II A qualidade de vida e a questão ambiental constituem temas de discussão relativamente recentes: surgem da preocupação com a degradação ambiental a partir do final da década de 1980. A suposta qualidade de vida estaria comprometida por determinantes oriundos da industrialização e da urbanização, dadas as suas condições. 8.4 Exploração de recursos naturais e seus reflexos no meio ambiente e na natureza humana: comprometimento da sustentabilidade Sempre destacamos que o Brasil é um país privilegiado por não apresentar grandes catástrofes naturais como ocorre em outros países, tais como vulcanismo ativo, tremores de terra e terremotos de grande magnitude, tsunamis, nevascas, ciclones, entre outros. No entanto, o paíscarece de uma legislação mais eficaz no controle e prevenção de grandes desastres decorrentes de atividades econômicas e de negligência ou descaso humano. Entre outros setores apresentados, como a indústria de transformação e os agronegócios, podemos citar a atividade mineradora, que constitui um dos pontos fortes de nossa economia, notadamente a já mencionada extração do minério de ferro, exportado para China, Japão etc. No estado de Minas Gerais encontra‑se o famoso Quadrilátero Ferrífero, englobando, entre outras áreas, a região de Brumadinho, o vale do rio Paraopeba e o Córrego do Feijão. Também há reservas desse minério na Serra dos Carajás, no estado do Pará, e no Maciço ou Morro do Urucum, no Mato Grosso do Sul. Mas destacamos que, no que concerne ao armazenamento dos rejeitos resultantes da extração, a metodologia utilizada é antiga e inadequada, expondo a riscos à natureza e aos seres vivos inseridos em sua área de influência, sejam eles animais ou vegetais de vários tipos, assim como os indivíduos humanos que habitam ou trabalham nesse espaço e seu entorno. Conjecturas à parte, a viabilidade de ocorrências que colocariam esses lugares e pessoas em risco não foi devidamente avaliada no caso de Mariana e Brumadinho, em Minas Gerais, causando o que se pode classificar como genocídio, uma vez que, além de prejuízos ambientais, perderam‑se muitas vidas humanas, gerando consequências irreparáveis e indescritíveis àqueles que tiveram seus bens e entes queridos perdidos na lama dos rejeitos. Questionamos: como prevenir essas ocorrências? Planejando de modo adequado, prevendo os riscos, tomando medidas para evitá‑los, utilizando tecnologias mais aprimoradas e compatíveis com a sustentabilidade ambiental e social, investindo mais e se preparando para não ter que, depois de desastres, indenizar as pessoas ou procurar aqueles que sucumbiram à lama de rejeitos. A geografia estuda os recursos naturais e as fontes de energia, assim como os biomas terrestres, a biogeografia e a sociobiogeografia, e em todos os conteúdos trabalhados exaltamos a necessidade de cuidar de nossos mananciais, de toda a rede hidrográfica, dos animais, do solo e subsolo e acima de tudo dos seres humanos de maneira digna e segura. Essas práticas devem ser legitimadas pelas empresas que exploram os recursos enquanto empreendimentos, além de também serem garantidas pelo Poder Público em respeito às leis, evitando crimes ambientais e sociais. O geógrafo pode e deve se preocupar com o tema da sustentabilidade e preservação dos recursos naturais e seres vivos que deles dependem. 117 GEOGRAFIA ECONÔMICA DA INDÚSTRIA E AGRONEGÓCIOS Para concluirmos a temática ambiental e a ajustarmos à proposta inicial da disciplina, apresentamos trechos traduzidos de obra clássica em economia ambiental e perguntamos: estamos consumindo demais para a conservação da biodiversidade? Destaque Estamos consumindo demais… pelo quê? Em uma nota provocativa publicada no Journal of Economic Perpectives, onze coautores, todos famosos economistas e ecologistas (Arrow et al., 2004), faziam no título do artigo a seguinte pergunta: “estamos consumindo demais?” A relevância da questão no campo da conservação foi logo realçada em um resumo na Conservation in Practice (Christensen, 2005), que em troca motivou uma resposta vinda de vários leitores (Conservation in Practice, v. 6, n. 3). Sem dúvidas que o artigo original provocou respostas, mas fazia parte da política do Journal of Economic Perspectives não publicar comentários. Não importa; quando onze líderes intelectuais conjuntamente publicam qualquer coisa, adquire um ar de “manifesto”, sendo solicitado que a comunidade científica verifique mais de perto esses argumentos – eles não merecem menos que isso, é uma consideração aos seus pensamentos. […] Em sua primeira frase, Arrow et al. (2004, p. 147) revisaram a questão “estamos consumindo demais?” para o mais claramente antropocêntrico “o uso que a humanidade faz dos recursos da Terra está pondo em perigo as possibilidades econômicas disponíveis para os nossos descendentes?” “Possibilidades econômicas” indicam que a conservação da biodiversidade não é o critério‑chave para determinar se nós estamos consumindo demais. […] Arrow et al. (2004, p. 148) decidiram considerar o que acontece com o “bem‑estar social intertemporal”. Especificamente, o valor descontado de utilidade do presente para o infinito e agregado em relação às pessoas é maximizado ou pelo menos sustentável no sentido de não se deteriorar no decorrer das gerações? Houve pouca consideração sobre o papel da biodiversidade em manter o bem‑estar social intertemporal, o que foi surpreendente, dado o grupo de ecologistas proeminentes entre os autores. Na realidade, Arrow et al. (2004, p. 161) só recorreram uma vez à biodiversidade: “Entre os recursos naturais não incluídos no estudo de Hamilton e Clemens [que abordaram os padrões de investimento das nações] estão os recursos da água, florestas como agentes de sequestro de carbono, pesca, poluentes do ar e da água, solo e biodiversidade”. Aí surge o questionamento: estamos consumindo demais para a conservação da biodiversidade? A biodiversidade não foi esclarecida, tanto para propósitos de investimento quanto para propósitos de consumo futuro. Que investimentos seriam necessários para facilitar as respostas e as conservações? 118 Unidade II Os autores não desenvolveram uma função de produção sólida e ecológica. Ao contrário, eles fundaram a análise em uma função de utilidade, declarando que aquela utilidade no agregado seria uma função de consumo em qualquer determinado momento. Nós concordamos que a economia se refere à utilidade, ou à satisfação de desejos humanos; porém, utilidade não é só determinada por consumo de bens e serviços. Muitos fatores além do consumo contribuem com a utilidade, incluindo comunidade, companhia e até mesmo ecossistemas saudáveis. […] Utilidade é uma experiência, não uma coisa material. Não tem uma taxa de crescimento natural como árvores em uma floresta, cervos em uma população, ou até dinheiro no banco […]. Nem pode a utilidade, um fenômeno psíquico, […] ser deixada de uma geração a outra. […] Por outro lado, recursos naturais são coisas, não experiências. Alguns deles têm taxas de crescimento naturais e todos eles podem ser deixados para outras gerações. […] Definir consumo excessivo em termos de processamento de recurso relativo às capacidades ambientais e definir igualdade intergeracional (de gerações) em termos de deixar uma base de recurso intacta são fórmulas mais operacionais que enigmáticas para calcular utilidade agregada descontada como se fosse mensurável e crescesse como dinheiro no banco. Os aspectos biológicos e físicos do mundo em que vivemos limitam a satisfação de desejos humanos. Parece‑nos que, na tradição da economia neoclássica, Arrow et al. (2004) deixaram estas limitações biofísicas longe, ao fundo, como “exterioridades” econômicas para serem enfrentadas pelo “shadow pricing” (“preço sombra”, a tarifa arbitrária dos valores do dólar para bens não comercializados). Claro que nenhuma teoria é perfeitamente completa e sempre haverá exterioridades. Quando tantas realidades, incluindo a biodiversidade e a capacidade da Terra de suportar vida, são classificadas como exterioridades para aplicar a teoria neoclássica, nós pensamos que está na hora de reestruturar a teoria. Como os cosmólogos ptolemaicos antigos, nossos onze autores estão postulando muitos epiciclos (círculo imaginário que cada planeta descreve) para salvar muitos fenômenos que são muito irregulares. Perguntamo‑nos por que os ecologistas entre eles não forneceram mais considerações quanto às limitações biofísicas ao bem‑estar social intertemporal. […] Precisamente como eles decidiram se o consumo era excessivo ou deficiente? Eles usaram dois critérios: o “critério máximo de valor presente” e o “critério de sustentabilidade” (ARROW et al. 2004,p. 149‑150). O critério máximo de valor presente é o padrão em economia neoclássica e é atendido se o fluxo de valores futuros, descontado e somado ao valor presente equivalente, é maximizado. O critério de sustentabilidade deles é ligeiramente mais progressivo em termos ecológicos e é alcançado se o nível de consumo resulta em um fluxo sem quedas de utilidade. Porém, o consumo excessivo não significou para eles depleção da biodiversidade ou uso descomedido de recursos provendo resultados observáveis como a perda de serviços ecológicos ou poluição aumentada, nem significou a compra difundida de tranqueira falsa. Significou só que o consumo atual é muito grande relativo ao investimento se a pessoa quer maximizar ou 119 GEOGRAFIA ECONÔMICA DA INDÚSTRIA E AGRONEGÓCIOS pelo menos manter a utilidade não observável e subjetiva de indivíduos ainda por vir e teoricamente agregados em sociedade desde hoje até o infinito. A igualdade intergeracional é uma das bases da sustentabilidade, e descontar o futuro, embora possa ser uma tendência humana natural e tenha alguma base quando houver taxas de crescimento naturais, é uma prática duvidosa para facilitar a igualdade intergeracional. Além disso, é duvidoso que as pessoas devam relacionar ou já relacionem presente e futuro (especialmente o futuro distante) por uma função exponencial. Por que não uma função logística característica de populações que estão realmente crescendo? Em qualquer caso, como nós podemos averiguar até que ponto a manutenção da biodiversidade seria valiosa para gerações futuras, especialmente quando nós só estamos começando a reconhecer os serviços ecológicos providenciados pela biodiversidade? Nós não podemos saber com precisão, mas Edward O. Wilson (1984, p. 121) pensou que a perda da biodiversidade será “a loucura que é menos provável que nossos descendentes perdoarão”. […] De acordo com Arrow et al. (2004), a solução para o consumo excessivo atual é aumentar o investimento e assim aumentar o consumo e a utilidade no futuro. […] Eles não nos dão nenhuma pista sobre isso que o critério do “bem‑estar social intertemporal” insinua para a conservação da biodiversidade. A avaliação deles acontece no mundo etéreo de experiência psíquica descontada das pessoas do porvir, não no mundo concreto de processamento de matéria e energia, entropia, biodiversidade e capacidades regenerativas de ecossistemas. Tal abstração é conveniente para evitar um confronto com a segunda lei da termodinâmica. Também qualifica a avaliação deles como um exemplo esplendente de Alfred North Whitehead (1925, p. 51) – “o engano da solidez extraviada” –, que Nicholas Georgescu‑Roegen (1971, p. 320) chamou de “o pecado cardeal da economia”. […] Felizmente, com base nas realidades concretas da biologia de conservação, nós temos mais que uma pista sobre a relação de produção e consumo para a conservação da biodiversidade. As causas do risco de extinção das espécies nos EUA, por exemplo, são como um “quem é quem” da economia americana, quanto ao investimento e comportamento de consumo daquela economia. É por isso que um grupo diferente de ecologistas e economistas propôs recentemente usar o PIB como um indicador negativo para conservação de biodiversidade, notando a poderosa e causal correlação de PIB com o número de espécies federalmente listadas como ameaçadas e em risco (Czech et al., 2005). […] Abordando o assunto de complementaridade entre os fluxos de recursos naturais por um lado e capital e fundos de trabalho por outro, Arrow et al. (2004) erraram o alvo. […] O conceito do Banco Mundial de “investimento genuíno” (Arrow et al., 2004, p. 159) contou todas as formas de capital […] como substitutas de dólar para dólar perfeitamente fungíveis. Em outras palavras, não se preocupe se você pegar todo o peixe, cortar todas 120 Unidade II as florestas ou “dessequestrar” todo o carbono; contanto que você invista uma “quantia igual” em educação, sua capacidade de gerar utilidade futura permanece intacta. […] Nós os fazemos lembrar do óbvio: produção é a transformação de recursos (causa material) em produto pelos agentes de transformação, trabalho e capital (causa eficiente). Causa material e causa eficiente são complementos, não substitutos; o que está com fornecimento insuficiente é limitador. […] A ausência deste reconhecimento vindo da análise leva os autores a oferecerem agricultura moderna como um caso de substituição próspera de capital para recursos naturais. “Está correto que nós consideramos o conhecimento e o capital como substituíveis dos recursos naturais; eles o são, como testemunhado pelo crescimento extraordinário em produtividade agrícola que fez confusão com a profecia de Malthus” (Arrow, comunicação pessoal). Nós, pelo contrário, consideramos que a agricultura moderna é um caso de substituir uma base de recurso (combustíveis fósseis e fertilizantes não renováveis) por outro (luz solar e solo renováveis) – não é um caso de substituir “capital” por recursos. Embora entendamos o impasse que conduziu à industrialização da agricultura, nós não ofereceríamos isto como evidência de sustentabilidade, nem temos muita confiança no achado “empírico” (uma consequência direta da sua hipótese de possibilidade de substituição) de Arrow et al. (2004) de que a China é a economia mais sustentável do mundo. Arrow et al. (2004) pelo menos advertiram que sua análise não deduziu a depreciação do conhecimento devido a morte e obsolescência. Porém, eles não notaram que uma parte significante da despesa em educação é consumo, não investimento. Nem reconheceram que o conhecimento humano se acumula em uma função de realocar capital natural para instalações de educação e pesquisa que deslocam espécies não humanas e os serviços ecológicos que elas proveem (Czech, 2001). Eles também não notaram que conhecimento novo às vezes é restritivo, em lugar de permissivo, de consumo adicional (por exemplo, mudança climática, diminuição do ozônio). […] Em seu núcleo, o artigo de Arrow et al. (2004) pertence à economia neoclássica abstrata, ainda que com uma quantia modesta de valor agregado pelos ecologistas colaboradores. […] Muito suavizado em nossa visão foi o “conflito fundamental entre o crescimento econômico e a conservação de vida selvagem” (Trauger et al., 2003, p. 1). Isso ajuda a explicar por que, com a economia global em seu auge histórico e ainda crescendo, estamos de frente com a “sexta extinção em massa”. Parece‑nos claro que estamos realmente consumindo demais para a conservação de biodiversidade. Consensos genuínos entre economistas e ecologistas estão aquém do desejado, e nós admiramos os autores por fazerem um esforço. Mas pensamos que seu consenso foi bastante unilateral […]. Adaptado de: Daly (2007, tradução nossa). 121 GEOGRAFIA ECONÔMICA DA INDÚSTRIA E AGRONEGÓCIOS Resumo Mencionamos as produções agrárias e sua relação com a industrialização do Brasil, bem como o volume de exportações brasileiras e suas parcerias econômicas, destacando as relações comerciais com países da Ásia como a China, os Tigres Asiáticos – Coreia do Sul, Singapura, Taiwan e Hong Kong – e o Japão. Essas parcerias abrangem tanto importações quanto exportações de diferenciados produtos. Abordamos ainda as relações entre produção e natureza, uma questão importante no campo ambiental. Para explicitar a interação entre produção e consumo, a disponibilidade e o uso da terra ou do espaço aproveitável, definimos o conceito de pegada ecológica e sua aplicação, associando essa definição à posição dos economistas ambientais. Propusemos a leitura de um texto complementar à temática e falamos sobre uma indústria sem poluentes, mas geradora de trabalho e de serviços diversos, que é a indústria do turismo, dando destaque ao turismo de saúde. Também avaliamos o modelo capitalista em sua fase contemporânea e a relação entre modernidade, mudanças ambientais globais e uma aproximação teórica sobre sustentabilidade,abordando problemas como a extração de recursos naturais e seus reflexos no ambiente e na natureza humana. Encerramos nossa unidade citando as implicações da problemática ambiental nas atividades econômicas através da análise de um texto sobre a exploração indiscriminada de recursos naturais. Utilizamo‑nos ainda de exemplos da indústria de mineração, no caso do minério de ferro em Minas Gerais, e os problemas deixados pelo rompimento de barragens de acumulação de rejeitos em Mariana e Brumadinho, com perdas humanas, materiais e ambientais irreparáveis. Finalizamos com um texto de economia ambiental e com a pergunta: estamos consumindo demais para a conservação da biodiversidade? 122 Unidade II Exercícios Questão 1. (Enade 2017) A economia financeira atual fez com que algumas cidades se tornassem centros de poder. Elas coordenam e centralizam atividades terciárias (bancos, publicidade, consultorias etc.) e são promotoras da integração das economias nacionais com os mercados mundiais. Conhecidas como cidades globais, constituem espaços essenciais de gestão, coordenação e planejamento da economia capitalista nessa época de globalização. Na figura a seguir, pode‑se observar a distribuição da rede de cidades globais: Santiago Buenos Aires Johannesburgo Caracas AtlantaMiami Houston Dallas Cidade do México São Francisco MinneapolisMinneapolis Chicago Washington Nova YorkNova York BostonBoston MontrealMontreal TorontoToronto Oceano AtlânticoTrópico de CapricórnioTrópico de Capricórnio Círculo Polar Antártico Trópico de Trópico de CâncerCâncer Circulo Polar ÁrticoCirculo Polar Ártico EquadorEquador Oceano Índico Oceano Pacífico Oceano Pacífico Singapura Kuala Lumpur Sydney Melboume BangkokBangkok Hong Kong Xangai PequimPequim SeulSeul Tóquio Taipé Manila São Paulo N km (no Equador) 0 2500 5000 Cidades globais Alfa Beta Gama Planisfério: distribuição das cidades globais MoscouMoscou EstocolmoEstocolmo CopenhagueCopenhague BudapesteBudapeste IstambulIstambul 00 11301130 kmkm RomaRoma MilãoMilão ZuriqueZurique BarcelonaBarcelona BruxelasBruxelas LondresLondres AmsterdãAmsterdã FrankfurtFrankfurt HamburgoHamburgo GenebraGenebra MadriMadri ParisParis BerlimBerlim VarsóviaVarsóviaPragaPraga NN Los Angeles Jacarta Osaka Figura 49 Adaptada de: https://cutt.ly/i6bzqaQ. Acesso em: 12 jul. 2017. Considerando a figura apresentada e a atual configuração das redes de cidades globais, avalie as afirmativas a seguir. 123 GEOGRAFIA ECONÔMICA DA INDÚSTRIA E AGRONEGÓCIOS I – As cidades globais localizam‑se nos países centrais, pois estes são os responsáveis pela integração da economia financeira internacional, pela irradiação dos progressos tecnológicos e pela polarização dos fluxos das redes planetárias. II – Singapura, Cidade do México e São Paulo são consideradas cidades globais, pois são importantes centros financeiros e bancários e concentram sedes de organizações internacionais. III – As cidades globais, independentemente do tamanho da sua população, exercem importante papel econômico‑financeiro e técnico, pois são grandes prestadoras de serviços especializados e centros vitais da dinâmica capitalista atual. É correto o que se afirma em: A) I, apenas. B) II, apenas. C) I e III, apenas. D) II e III, apenas. E) I, II e III. Resposta correta: alternativa D. Análise das afirmativas I – Afirmativa incorreta. Justificativa: conforme pode ser observado na figura da questão, as cidades globais localizam‑se na América, Europa, Ásia, África e Oceania, sendo classificadas de acordo com seu nível de importância de infraestrutura e desenvolvimento, ou seja, níveis alfa, beta ou gama. II – Afirmativa correta. Justificativa: Singapura, Cidade do México e São Paulo têm grande influência nas regiões onde estão localizadas, uma vez que concentram importantes estruturas de negócios e serviços. Em decorrência disso, tais cidades são classificadas como cidades nível alfa. III – Afirmativa correta. Justificativa: as cidades globais são dessa forma denominadas por apresentarem alto grau de infraestrutura e desenvolvimento, além serem consideradas importantes centros políticos e econômicos. 124 Unidade II Questão 2. Leia o texto a seguir: Existe consumo com sustentabilidade ambiental? Figura 50 O modelo econômico “extrair, transformar, descartar” parece estar atingindo seus limites e as organizações têm de encarar essa questão. O consumo é um conceito que vai muito além do “consumismo” ou do consumo de produtos tangíveis, em especial os encontrados no varejo. Consumimos produtos, serviços, informações e símbolos diariamente, consciente ou inconscientemente. O próprio conceito de sustentabilidade tem sido “consumido” exaustivamente nas últimas décadas. Consumir não é necessariamente negativo e seríamos incapazes de renunciar a essa prática. Porém, o crescimento do número de pessoas e da capacidade de produção impõe uma responsabilização individual e coletiva sobre o seu impacto. A sustentabilidade, que costumava ser uma bandeira de especialistas e um assunto visto como importante, mas de certa forma distante das urgências cotidianas, hoje está no centro do debate social e econômico. E, no World Economic Forum (WEF), que se realizou em janeiro de 2020, em Davos, na Suíça, não foi diferente. O evento é um dos mais importantes encontros do mundo entre líderes de diferentes setores e países e serve de palco para governos e empresas apresentarem suas propostas no equacionamento dessa problemática. Pela primeira vez, seu relatório anual de riscos globais aponta que aqueles relacionados ao meio ambiente ocupam agora as primeiras posições, tanto em termos de probabilidade como impacto. Deixou de ser um problema setorizado ou regionalizado e, dessa forma, nenhuma organização, pública ou privada, pode prescindir desta questão. Dentre as temáticas debatidas, uma economia livre de lixo (waste‑free economy) atinge diretamente as estratégias das empresas. Em geral, convivemos com um desconforto relacionado à questão, mas 125 GEOGRAFIA ECONÔMICA DA INDÚSTRIA E AGRONEGÓCIOS não temos a real dimensão das marcas que causamos ao meio ambiente. Quantos quilos de lixo um indivíduo produz anualmente? Estudos apontam que um brasileiro está perto de superar a geração de 300 quilos de lixo ao ano. […] E o que gera todo esse lixo? Quanto mais renda, mais consumo. O desperdício de plástico, por exemplo, está sufocando os oceanos, mas o nosso consumo dessa onipresente substância está apenas aumentando. E, para agravar a situação, cidades crescem rapidamente, sem sistemas adequados para gerenciar o volume e a composição de resíduos dos seus cidadãos. […] Alguns fatores têm a capacidade de alterar o que desejamos e necessitamos consumir. O primeiro deles é a própria sociedade, que é causa e consequência dessas complexas mudanças, geradas por suas experiências cotidianas e pela evolução de seus valores. Outro fator são as demandas por novos padrões de produtos e serviços que gerem menor (ou zero) impacto negativo ao meio ambiente e às comunidades, assim como mudanças de hábitos que contribuam positivamente nessa equação. […] Apesar da dimensão do desafio, temos que começar com o que está imediatamente diante de nós. Não há mais tempo a perder. Adaptado de: https://bit.ly/3LTKvbi. Acesso em: 16 mar. 2021. Com base no exposto e nos seus conhecimentos, avalie as afirmativas: I – Se considerarmos que o peso médio do brasileiro é de aproximadamente 70 kg, podemos dizer que cada pessoa lança no meio ambiente o equivalente a quatro vezes o seu peso em resíduos anualmente. II – O texto mostra que um dos resultados positivos do World Economic Forum (WEF) foi a instituição da economia livre de lixo (waste free economy), que deverá ser adotada pelas empresas de imediato. III – De acordo com o texto, o consumo é o único causador de todas as formas de poluição do meio ambiente, visto que a prática do “extrair, transformare descartar” já ultrapassou os limites do razoável. É correto apenas o que se afirma em: A) I. B) II. C) III. D) I e III. E) I e II. Resposta correta: alternativa A. 126 Unidade II Análise das afirmativas I – Afirmativa correta. Justificativa: conforme o texto, se um brasileiro está perto de superar a geração de 300 kg de lixo anuais, é possível constatar que cada pessoa lança, ao ano, no meio ambiente, o equivalente a quatro vezes o seu peso em resíduos, considerando que o peso médio do brasileiro é de 70 kg. II – Afirmativa incorreta. Justificativa: o texto menciona que a questão da economia livre de lixo foi um dos temas debatidos no fórum, mas não menciona conclusivamente a adoção dessa prática pelas empresas, tampouco estabelece prazo para isso. III – Afirmativa incorreta. Justificativa: o texto alerta para o fato de que o consumo não é necessariamente negativo, contudo, seus excessos colaboram para a degradação ambiental, sendo que o crescente aumento da capacidade de produção e o respectivo aumento do consumo estão no centro do debate social e econômico. REFERÊNCIAS Audiovisuais A CORPORAÇÃO. Direção: Mark Achbar; Jennifer Abbott. Canadá: Big Picture Media, 2003. 145 min. ENCONTRO com Milton Santos ou o mundo global visto do lado de cá. Direção: Silvio Tendler. Brasil: Caliban, 2006. 90 min. O JARDINEIRO fiel. Direção: Fernando Meirelles. EUA: Focus Features, 2005. 129 min. TEMPOS modernos. Direção: Charles Chaplin. Los Angeles: United Artists, 1936. 86 min. Textuais AGRICULTURA assume protagonismo frente ao aquecimento global. Folha de S.Paulo, São Paulo, 16 dez. 2020. AGUIAR, L. Características do feudalismo. Brasil Escola, [s. l.], [s.d.]. Disponível em: https://bit.ly/2yTPeU0. Acesso em: 9 fev. 2021. ALIER, J. M. O ecologismo dos pobres. São Paulo: Contexto, 2007. ANDRADE, T. H. N. A questão tecnológica na sociologia ambiental: a necessidade de incorporar a dimensão da inovação. Humanitas, Campinas, v. 5, n. 1‑2, p. 79‑90, 2002. ANFAVEA. Anuário da indústria automobilística brasileira 2020. São Paulo: Anfavea, 2020. Disponível em: https://tinyurl.com/2f62d3ff. Acesso em: 24 ago. 2023. ANFAVEA. Anuário da indústria automobilística brasileira 2023. São Paulo: Anfavea, 2023. Disponível em: https://tinyurl.com/27nte3x9. Acesso em: 24 ago. 2023. ANTUNES, V. L. C. A geografia geral. São Paulo: Objetivo, 1998. ARROW, K. et al. Are we consuming too much? Journal of Economic Perspectives, Nashville, v. 18, n. 3, p. 147‑172, 2004. ASSAD, E. D. (coord.). Impacto das variações do ciclo hidrológico no zoneamento agroclimático brasileiro, em função do aquecimento global. Campinas: Embrapa: Unicamp, 2004. AUGÉ, M. Não lugares: introdução a uma antropologia da supermodernidade. 9. ed. Campinas: Papirus, 2014. BALASTRERI, A. R. Turismo e espaço. São Paulo: Hucitec, 1997. 128 BARBOSA, S. R. C. S. Qualidade de vida e suas metáforas. 1996. Tese (Doutorado em Ciências Sociais) – Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 1996. BARROS, A. Desemprego recua para 13,9% no 4º tri, mas taxa média do ano é a maior desde 2012. Agência IBGE, Rio de Janeiro, 26 fev. 2021. Disponível em: https://bit.ly/3y1TEYe. Acesso em: 20 jun. 2022. BECKER, L. Os novos hábitos de consumo. Globo Rural, São Paulo, n. 422, p. 54, jan. 2021. BENKO, G. Organização econômica do território: algumas reflexões sobre a evolução no século XX. In: SANTOS, M.; SOUZA, M. A. A.; SILVEIRA, M. L. (org.). Território, globalização e fragmentação. 4. ed. São Paulo: Hucitec: Anpur, 1998. p. 51‑71. BONET, P. Trump evita criticar Putin e anuncia um novo relacionamento com a Rússia. El País, Helsinque, 16 jul. 2018. BOSQUE MAUREL, J. Globalização e regionalização da Europa dos Estados à Europa das regiões: o caso da Espanha. In: SANTOS, M.; SOUZA, M. A. A.; SILVEIRA, M. L. (org.). Território, globalização e fragmentação. 4. ed. São Paulo: Hucitec: Anpur, 1998. p. 29‑41. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, 1988. BRASIL. Decreto‑Lei n. 5.452, de 1º de maio de 1943. Brasília, 1943. BRASIL. Lei n. 6.938, de 31 de agosto de 1981. Brasília, 1981. BRASIL. Ministério do Turismo. Turismo de saúde: orientações básicas. Brasília: Ministério do Turismo, 2010. Disponível em: https://bit.ly/3xm1cng. Acesso em: 8 jun. 2022. CARLOS, A. F. A. A natureza do espaço fragmentado. In: SANTOS, M.; SOUZA, M. A. A.; SILVEIRA, M. L. (org.). Território, globalização e fragmentação. 4. ed. São Paulo: Hucitec: Anpur, 1998. p. 191‑197. CARVALHO, D. R. P.; VELOSO FILHO, F. A. Geografia econômica: origem, perspectivas e temas relevantes. Caderno de Geografia, Belo Horizonte, v. 27, n. 50, p. 573‑588, 2017. CARVALHO, L. M. Demanda interna por bens industriais avançou 5,9% no mês. Carta de Conjuntura, Brasília, n. 49, 6 out. 2020. CASTELLS, M. O poder da identidade. São Paulo: Paz e Terra, 1999. CASTELLS, M. A sociedade em rede. 7. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2003. v. 1. CASTORIADIS, C. As encruzilhadas do labirinto: os domínios do homem. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987. v. 2. CASTORIADIS, C. O mundo fragmentado. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1990. 129 CASTRO, A. B. 7 ensaios sobre a economia brasileira. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1972. CAULYT, F. Brasil surge como opção no mercado de turismo médico. DW, Bonn, 19 nov. 2014. Disponível em: https://bit.ly/3GXQmrG. Acesso em: 7 jun. 2022. CHOPRA, A. Organ‑transplant black market thrives in India. SFGate, San Francisco, 9 fev. 2008. Disponível em: https://bit.ly/38Dhkbm. Acesso em: 20 maio 2022. CLAVAL, P. A diversidade das geografias econômicas. Geographia, Niterói, v. 14, n. 27, p. 7‑20, 2012. CLAVAL, P. Geografia econômica e economia. GeoTextos, Salvador, v. 1, n. 1, p. 11‑27, 2005. CLAVAL, P. Marxismo e geografia econômica na obra de David Harvey. Espaço e Economia, Rio de Janeiro, ano 2, n. 3, 2013. COHEN, G. Circumvention tourism. Cornell Law Review, New York, v. 97, n. 6, p. 1309‑1398, 2012. COMISSÃO MUNDIAL SOBRE MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO. Nosso futuro comum. 2. ed. Rio de Janeiro: Editora FGV, 1991. Disponível em: https://bit.ly/3NTmtLA. Acesso em: 20 jun. 2022. COMUNIDADE Sul‑Americana de Nações: documentos. Brasília: Fundação Alexandre de Gusmão, 2005. CONFEDERAÇÃO NACIONAL DA INDÚSTRIA. Agenda internacional da indústria. Brasília: CNI, 2020. COSTA, F. R. O conceito de espaço em Milton Santos e David Harvey: uma primeira aproximação. Revista Percurso Nemo, Maringá, v. 6, n. 1, p. 63‑79, 2014. CUÉ, C. E. Todos os países do G20 com exceção dos EUA ratificam seu apoio ao Acordo de Paris sobre o clima de 2015. El País, Osaka, 29 jun. 2019. DALY, H. E. et al. Are we consuming too much: for what? Conservation Biology, Malden, v. 21, n. 5, p. 1359‑1362, 2007. Disponível em: https://bit.ly/3xj3Rhh. Acesso em: 9 jun. 2022. DAY, M. Polish women encouraged to come to UK for “free abortions” on NHS. The Telegraph, London, 15 mar. 2010. Disponível em: https://bit.ly/3yQVMmq. Acesso em: 28 abr. 2015. DO CAMPO à mesa, o perigo dos agrotóxicos. Carta Capital, São Paulo, 29 ago. 2018. Sociedade. Disponível em: https://bit.ly/3x7Fpk7. Acesso em: 1º jun. 2022. DONCEL, L. FMI alerta que o mundo crescerá este ano no ritmo mais lento desde a Grande Recessão. El País, Washington, 15 out. 2019. DOWBOR, L.; IANNI, O.; RESENDE, P. E. (org.). Desafios da globalização. Petrópolis: Vozes, 2002. 130 EINHORN, B. Outsourcing the patients. BusinessWeek, New York, 13 mar. 2008. ENGELS, F. A origem da família, da propriedade privada e do Estado. São Paulo: Escala, 2005. EXPORTAÇÃO no Brasil: presença no mercado global. Portal da Indústria, Brasília, [s.d.]. Indústria de A‑Z. Disponível em: https://bit.ly/3an80sE. Acesso em: 3 jun. 2022. FERNANDES, T. Cúpula do G20 termina com anúncio de trégua comercial entre EUA e China. Folha de S.Paulo, São Paulo, 29 jun. 2019. FÓRUM DE DIÁLOGO ÍNDIA‑BRASIL‑ÁFRICA DO SUL. Declaração de Brasília, de 6 de junho de 2003. Brasília: Ibas, 2003.FURTADO, C. A formação econômica da América Latina. 2. ed. Rio de Janeiro: Lia, 1970. FURTADO, C. O capitalismo global. São Paulo: Paz & Terra, 2008. GAHLINGER, P. M. The medical tourism travel guide: your complete reference to top‑quality, low‑cost dental, cosmetic, medical care & surgery overseas. Forest Lake: Sunrise River Press, 2008. GALEANO, E. As veias abertas da América Latina. 8. ed. São Paulo: Paz e Terra, 1979. GALERA, V. Atraso causado por corte de verbas atingiu todas as áreas, diz presidente da Embrapa. Globo Rural, São Paulo, n. 422, jan. 2021. GIANSANTI, R. O desafio do desenvolvimento sustentável. 6. ed. São Paulo: Atual, 1998. GIDDENS, A. As consequências da modernidade. São Paulo: Unesp, 1991. GIDDENS, A. Modernidade e identidade. Rio de Janeiro: Zahar, 2005. GLOBO RURAL. São Paulo: Globo, n. 437, maio 2022. GOLDEMBERG, J. Energy, environment & development. London: Earthscan, 1996. v. 1. GOOD FOOD INSTITUTE BRAZIL; INSTITUTO BRASILEIRO DE OPINIÃO PÚBLICA E ESTATÍSTICA. O consumidor brasileiro e o mercado plant‑based. São Paulo: GFI; Rio de Janeiro: Ibope, 2021. GREENPEACE. Mudanças do clima, mudanças de vidas. São Paulo: Greenpeace, 2006. GREIDER, W. O mundo na corda bamba: como entender o crash global. São Paulo: Geração, 1998. GRILLI, M. Integração lavoura‑pecuária‑floresta pode aumentar rentabilidade em 30%. Globo Rural, São Paulo, n. 437, maio 2022. 131 HAESBAERT, R. Blocos internacionais de poder. 4. ed. São Paulo: Contexto, 1994. HAESBAERT, R. A (des)ordem mundial, os novos blocos de poder e o sentido da crise. Terra Livre, São Paulo, n. 9, p. 103‑128, 1991. Disponível em: https://bit.ly/3Ms7OG1. Acesso em: 25 fev. 2021. HALL, S. A identidade cultural na pós‑modernidade. 11. ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2006. HAMILTON, J. Medical tourism creates Thai doctor shortage. NPR, Washington, DC, 29 nov. 2007. Disponível em: https://n.pr/3MAIOgv. Acesso em: 20 maio 2022. HARVEY, D. A condição pós‑moderna. São Paulo: Loyola, 1992. HARVEY, D. O espaço como palavra‑chave. GEOgraphia, Niterói, v. 14, n. 28, p. 8‑39, 2012. Disponível em: https://cutt.ly/e6Sus7g. Acesso em: 16 maio 2023. HARVEY, D. Espaços de esperança. São Paulo: Loyola, 2004. HARVEY, D. The limits to capital. Oxford: Blackwell, 1982. HARVEY, D. A produção capitalista do espaço. São Paulo: Annablume, 2005. HERRERO, M. et al. Innovation can accelerate the transition towards a sustainable food system. Nature Food, London, v. 1, p. 266‑272, 2020. HOROWITZ, M. D.; ROSENSWEIG, J. A. Medical tourism: health care in the global economy. Physician Executive, Tampa, v. 33, n. 6, p. 24‑30, 2007. HUGON, P. História das doutrinas econômicas. São Paulo: Atlas, 1970. IANNI, O. Nação: província da sociedade global. In: SANTOS, M.; SOUZA, M. A. A.; SILVEIRA, M. L. (org.). Território, globalização e fragmentação. 4. ed. São Paulo: Hucitec: Anpur, 1998. p. 77‑84. JAKITAS, R. Turismo médico, um mercado de R$ 3 bilhões, atrai os pequenos empreendedores brasileiros. Estadão, São Paulo, 1º nov. 2013. Disponível em: https://bit.ly/3xtDkPR. Acesso em: 7 jun. 2022. JOHNSON, L. A. Americans look abroad to save on health care. SFGate, San Francisco, 3 ago. 2008. Disponível em: https://bit.ly/39C2m5F. Acesso em: 20 maio 2022. JONES, C. A.; KEITH, L. G. Medical tourism and reproductive outsourcing: the dawning of a new paradigm for healthcare. International Journal of Fertility and Women’s Medicine, Port Washington, v. 51, n. 6, p. 251‑255, 2006. JUNIOR, J. Impacto da TI nas organizações. Administradores.com, João Pessoa, 31 maio 2013. Disponível em: https://bit.ly/3x3impB. Acesso em: 1º abr. 2021. 132 KAYSER, B. El futuro será circular… o no será. Cambio 16, Madrid, n. 2235, 2017. KEEDI, S. Abc do comércio exterior. São Paulo: Aduaneiras, 2013. KEEDI, S. Documentos no comércio exterior, a carta de crédito e a publicação 600 da CCI. São Paulo: Aduaneiras, 2010. KEEDI, S. Logística de transporte internacional. 5. ed. São Paulo: Aduaneiras, 2015a. KEEDI, S. Transportes, unitização e seguros internacionais de carga. São Paulo: Aduaneiras, 2015b. LAMIM‑GUEDES, V. As cinco dimensões do ecodesenvolvimento (Ignacy Sachs). Na Raiz, [s. l.], 5 jul. 2011. Disponível em: https://bit.ly/3OaFKc0. Acesso em: 21 jun. 2022. LANCASTER J. Surgeries, side trips for “medical tourists”. The Washington Post, Washington, DC, 21 out. 2004. LIMA, M. A. Mudanças de temperatura e concentração de CO2. In: NÚCLEO DE ASSUNTOS ESTRATÉGICOS DA PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA. Mudança do clima. Brasília: NAE, 2005. v. 1, p. 171‑174. (Cadernos NAE, n. 3). LINDVALL, O.; HYUN, I. Medical innovation versus stem cell tourism. Science, Washington, DC, v. 324, n. 5935, p. 1664‑1665, 2009. Disponível em: https://bit.ly/3PKU5NB. Acesso em: 20 maio 2022. MARX, K.; ENGELS, F. Manifesto comunista. São Paulo: Boitempo, 1998. MATAS, D. Organ transplant abuse in China: what is Korea to do? International Coalition to End Transplant Abuse in China, [s. l.], 22 out. 2015. Disponível em: https://bit.ly/39Blocq. Acesso em: 20 maio 2022. MAZZUCCHELLI, F. Os anos de chumbo: economia e política internacional no entreguerras. São Paulo: Unesp, 2009. MCGINLEY, L. Health matters. The Wall Street Journal, New York, 16 fev. 2008. Disponível em: https://on.wsj.com/3a28owy. Acesso em: 20 maio 2022. MENDONÇA, H. Políticas ambientais de Bolsonaro põem Brasil sob ataque no G20. El País, São Paulo, 27 jun. 2019. MENDOZA, R. L. Colombia’s organ trade: evidence from Bogotá and Medellín. Journal of Public Health, Cham, v. 18, n. 4, p. 375‑384, 2010. MENDOZA, R. L. Price deflation and the underground organ economy in the Philippines. Journal of Public Health, Oxford, v. 33, n. 1, p. 101‑107, 2011. 133 MONTESANTI, B. “Máfia” de Joinville transforma cidade em polo de startups. Folha de S.Paulo, São Paulo, 16 dez. 2020. Mercado, p. A22. NEUMAN, W. Reatamento abre porta para “turismo médico” de americanos em Cuba. UOL Notícias, [s. l.], 23 fev. 2015. Disponível em: https://bit.ly/3zjgADn. Acesso em: 7 jun. 2022. A NEW brand of tech cities. Newsweek, New York, 29 abr. 2001. Disponível em: https://bit.ly/3nlu8qV. Acesso em: 20 jun. 2022. OLIVEIRA, L. O. F.; ROSA, A. N. F. Carta ao produtor de bovinos de corte: estratégias para a redução de danos pelo frio: inverno de 2021. Brasília: Embrapa Gado de Corte, 2021. PARTICIPANTS IN THE INTERNATIONAL SUMMIT ON TRANSPLANT TOURISM AND ORGAN TRAFFICKING. The declaration of Istanbul on organ trafficking and transplant tourism. Experimental and Clinical Transplantation, Ankara, v. 6, n. 3, p. 171‑179, 2008. PERRY, L. New releases. Blue Shield of California, Oakland, 7 jun. 2000. PENA, R. A. Divisão Internacional do Trabalho: DIT. Brasil Escola, [s. l.], [s.d.]. Disponível em: https://bit.ly/3LNc8iN. Acesso em: 25 maio 2022. PERFIL da indústria brasileira: indústria total. Portal da Indústria, Brasília, 2017. RAMIREZ, I. M. S. R. Análise do texto de Gilson Schwartz, relacionando‑o com a dimensão comercial da globalização. São Paulo: UNIP, 2015. RAMIREZ, I. M. S. R. Recursos naturais e as catástrofes de Mariana e Brumadinho. São Paulo: UNIP, 2021. RAMIREZ, I. M. S. R.; GARCIA, J. M. Os vínculos socioespaciais e comportamentais veiculados por meios midiáticos em momentos de crise na pandemia da covid‑19. In: SIMPÓSIO NACIONAL DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PESQUISADORES EM CIBERCULTURA, 13., 2020, Rio de Janeiro. Anais […]. Rio de Janeiro: UFRJ, 2020. RATTNER, H. Globalização e projeto nacional. In: SANTOS, M.; SOUZA, M. A. A.; SILVEIRA, M. L. (org.). Território, globalização e fragmentação. 4. ed. São Paulo: Hucitec: Anpur, 1998. p. 102‑107. RÊGO, C. S. et al. O termalismo como segmento turístico. Reuna, Belo Horizonte, v. 13, n. 3, p. 11‑25, 2008. Disponível em: https://bit.ly/3NwV4zl. Acesso em: 7 jun. 2022. RENNER, M. The anatomy of resource wars. Washington: Worldwatch Institute, 2002. ROMEIRO, A. Economia ambiental [disciplina de doutorado]. Campinas: Instituto deEconomia da Unicamp, 2005. 134 ROUGH, G. Globe‑trotting to cut down on medical costs. The Arizona Republic, Phoenix, 7 jun. 2009. SACHS, I. Estratégias de transição para o século XXI. In: BURSZTYN, M. Para pensar o desenvolvimento sustentável. São Paulo: Brasiliense, 1993. p. 29‑56. SANTOS, M. Los espacios de la globalización. Anales de Geografía de la Universidad Complutense, Madrid, v. 13, p. 69‑77, 1993. SANTOS, M. A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção. São Paulo: Hucitec, 1996. SANTOS, M. Por una geografía nueva. Madrid: Espasa‑Calpe, 1990. SANTOS, M. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal. 10. ed. Rio de Janeiro: Record, 2003. SANTOS, M. O retorno do território. In: SANTOS, M.; SOUZA, M. A. A.; SILVEIRA, M. L. (org.). Território, globalização e fragmentação. 4. ed. São Paulo: Hucitec: Anpur, 1998. p. 15‑20. SANTOS, M. Técnica, espaço, tempo: globalização e meio técnico‑científico‑informacional. 5. ed. São Paulo: Edusp, 2013. SANTOS, M.; SOUZA, M. A. A.; SILVEIRA, M. L. (org.). Território, globalização e fragmentação. 4. ed. São Paulo: Hucitec: Anpur, 1998. SAPPER, K. Economic geography. In: SELIGMAN, E. R. A.; JOHNSON, A. S. (ed.). Encyclopedia of the social sciences. New York: Macmillan, 1931. v. 5, p. 626‑629. SENNETT, R. A corrosão do caráter: consequências pessoais do trabalho no novo capitalismo. Rio de Janeiro: Record, 1999. SILVA, A. C. A geografia econômica segundo Karl Sapper. São Paulo: Instituto de Geografia, 1970. SILVA, M. A. Estratégias para atuação em comércio exterior. São Paulo: Senac, 2013. SINGER, P. Desenvolvimento econômico e evolução urbana. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1977. SOUSA, R. Pensando as novas tecnologias. Brasil Escola, [s. l.], [s.d.]. Disponível em: https://bit.ly/3lwNuZb. Acesso em: 1º abr. 2021. SPRENG, J. Abortion and divorce law in Ireland. Jefferson: McFarland & Company, 2004. 135 TESTA, F. Pacientes do Norte e Nordeste vão ao interior de SP para tratar câncer. G1, [s. l.], 23 maio 2013. Disponível em: http://glo.bo/3GYtx7g. Acesso em: 7 jun. 2022. TIMMS, O. Challenges in medical ethics. Indian Journal of Medical Ethics, Mumbai, v. 10, n. 2, p. 133, 2013. TUNG, S. Is Taiwan Asia’s next one‑stop plastic‑surgery shop? Time, New York, 16 jul. 2010. Disponível em: https://bit.ly/3wYYFiH. Acesso em: 20 maio 2022. VEIGA, J. E. (org.). Economia socioambiental. São Paulo: Senac, 2009. WACKERNAGEL, M.; REES, W. Our ecological footprint: reducing human impact on the Earth. Gabriola Island: New Society, 1998. WEISZ, G. Historical reflections on medical travel. Anthropology and Medicine, London, v. 18, n. 1, p. 137‑144, 2011. 136 Informações: www.sepi.unip.br ou 0800 010 9000