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CONZATTI 2021 -O IMPACTO DA POLÍTICA SONGUN

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UNIVERSIDADE DO VALE DO TAQUARI – UNIVATES 
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS 
CURSO DE HISTÓRIA 
 
 
 
 
 
 
 
O IMPACTO DA POLÍTICA SONGUN NO PERFIL ECONÔMICO E 
NO PAPEL INTERNACIONAL DA COREIA DO NORTE A PARTIR 
DA DÉCADA DE 1990 
 
 
 
 
 
 
Rafael Vinicius Spies Conzatti 
 
 
 
 
 
 
Lajeado, junho de 2021. 
 
 
 
Rafael Vinicius Spies Conzatti 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O IMPACTO DA POLÍTICA SONGUN NO PERFIL ECONÔMICO E 
NO PAPEL INTERNACIONAL DA COREIA DO NORTE A PARTIR 
DA DÉCADA DE 1990 
 
 
 
 
 
Trabalho de Conclusão de Curso II 
apresentado à disciplina de TCC II do 
curso de História da Univates. 
 
Orientador: Prof. Dr. Mateus Dalmáz 
 
 
 
 
Lajeado, junho de 2021. 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
 Agradeço aos meus pais, Rangel e Fabiane por tudo que fizeram por mim e 
pelas oportunidades que me oportunizaram através de seus trabalhos e também 
por serem os responsáveis por eu ser o que sou hoje. 
 Agradeço a minha namorada, Nedisele, por todo o apoio proporcionado no 
decorrer da graduação, na construção desse trabalho e por tudo na vida. 
 Agradeço ao meu Mestre Luís Fernando Krause, ou melhor, Nandinho, uma 
pessoa que eu sempre segui seus ensinamentos, principalmente o de estudar 
História, obrigado por me acolher em seu lar em diversos momentos e me 
oportunizar diversas experiências. 
 Também agradeço a Carol por ter feito a revisão desse trabalho e as 
inúmeras dicas que enriqueceram a monografia. 
 Agradeço ao meu orientador, Mateus Dalmáz, por toda orientação e 
conversas que tivemos desde o início da graduação até esse momento, sou grato 
por você ter botado fé nesse trabalho e seguir junto comigo nesse trabalho. 
 E por fim, agradecer aos amigos que mesmo distantes estão no meu 
coração. 
 Esse trabalho é para todos vocês. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
"A única garantia de democracia é o fuzil 
ao ombro do trabalhador." 
(Vladimir Lênin) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
RESUMO 
 
Nesse estudo buscou-se abordar a adoção da política Songun na Coreia do Norte 
na década de 1990, assim dando ênfase ao impacto no perfil econômico e no papel 
internacional da Coreia do Norte nesse contexto. O objetivo geral dessa pesquisa 
é analisar o impacto da política Songun no perfil econômico e no papel internacional 
da Coreia do Norte na década de 1990. A problematização consiste em identificar 
qual foi o impacto que a adoção da política Songun proporcionou, especificamente 
na economia e no papel internacional do país. A metodologia adotada foi a 
qualitativa, privilegiando o contexto das fontes através da pesquisa bibliográfica, 
essa que dificilmente encontra-se em língua portuguesa. As hipóteses apontadas 
são que a adoção da política Songun serviu ao propósito de manter a sobrevivência 
do regime socialista na parte norte da península coreana, além disso a 
nuclearização que está intrinsicamente ligada política Songun é vista como 
fundamental para tal sobrevivência, servindo a propósitos tantos internos quanto 
externos. 
 
 
Palavras-chave: Coreia do Norte; Zuche; Política Songun; História 
contemporânea. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 8 
2.1 REFERENCIAL TEÓRICO .......................................................................................11 
2.2 METODOLOGIA .........................................................................................................21 
2.3 CONSIDERAÇÕES FINAIS DO CAPÍTULO .........................................................24 
3. A COREIA DO NORTE NA GUERRA FRIA ............................................................27 
3.1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................27 
3.2 A BIPOLARIDADE DA GUERRA FRIA E SUAS FASES ....................................28 
3.3 A RPDC DURANTE A GUERRA FRIA ...................................................................34 
3.3.1 GUERRA DA COREIA ...........................................................................................39 
3.3.2 IDEOLOGIA ZUCHE E A RPDC DURANTE A GUERRA FRIA......................44 
3.3.3 RPDC NA GUERRA FRIA E A RIVALIDADE SINO-SOVIÉTICA ...................47 
 
 
3.4 CONSIDERAÇÕES FINAIS DO CAPÍTULO .........................................................53 
4. A COREIA DO NORTE NO PÓS-GUERRA FRIA ..................................................56 
4.1 INTRODUÇÃO E CONTEXTO DA DÉCADA DE 1990........................................56 
4.2 O QUE É A POLÍTICA SONGUN? ..........................................................................57 
4.2.1 POLÍTICA SONGUN NA ORDEM MULTIPOLAR .............................................59 
4.3 EXECUÇÃO DA POLÍTICA SONGUN....................................................................65 
4.3 POLÍTICA SONGUN NO ÂMBITO DOMÉSTICO .................................................74 
4.4 CONSIDERAÇÕES FINAIS DO CAPÍTULO .........................................................78 
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................83 
6. REFERÊNCIAS: ...........................................................................................................88 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
8 
 
 
 
1. INTRODUÇÃO 
 
 O objetivo geral da monografia é analisar o impacto da política Songun no 
perfil econômico e no papel internacional da República Popular Democrática da 
Coreia (RPDC) a partir da década de 1990. Dessa forma, busca-se compreender 
como foi possível a sobrevivência da Coreia do Norte como ator internacional no 
cenário pós-Guerra Fria, uma vez que muitas experiências do socialismo real1 
chegaram ao fim com a fragmentação da União das Repúblicas Socialistas 
Soviéticas (URSS). 
 A RPDC passou por uma situação caótica e específica no ambiente 
doméstico e externo a partir da década de 1990, sofrendo com o fim da URSS, 
principal aliado até então e com a Marcha Penosa que inclui a morte do líder Kim Il 
Sung e as catástrofes naturais, secas e enchentes, que resultaram na falta de 
alimentos. Como veremos, em consequência disso houve a adoção da política 
Songun, que é a adoção de uma postura e mudanças políticas e econômicas 
voltadas para a sobrevivência do Estado norte-coreano nesse contexto de crise. O 
processo de nuclearização da parte norte da península é uma das consequências 
dessa política. 
 A problematização aqui proposta é: qual o impacto da política Songun na 
reconfiguração do perfil econômico e na inserção internacional da Coreia do Norte 
nos anos pós-1990? Nesse sentido, busca-se compreender, também, qual foi o 
papel da nuclearização norte-coreana nesse período. 
 Considera-se como hipótese que a adoção da política Songun e a 
nuclearização da RPDC fizeram parte de uma estratégia de sobrevivência da 
Coreia do Norte nas Relações Internacionais a partir da década de 1990. Derivado 
disso, percebe-se mais dois aspectos: 1º) que a nuclearização seria uma forma de 
 
1 O socialismo real é compreendido com base em Hobsbawn (1995), autor que aponta que o 
socialismo real é a prática da teoria, ou seja, a teoria marxista do século XIX toma forma no século 
XX, principalmente com a criação da URSS, além disso o socialismo realmente existente implica 
que pode haver outros tipos de socialismo, todav ia somente esse socialismo se concretizou no 
século XX. 
 
9 
 
 
defesa do regime norte-coreano a uma imaginada agressão externa, especialmente 
após o desmantelamento da URSS; 2º) que a nuclearização geraria um impulso 
econômico através da independência e autossuficiência energética, assim 
garantindoque a indústria e a sociedade norte-coreana fossem suficientemente 
abastecidas. 
 A justificativa para a escolha do tema é a atualidade das questões 
envolvendo a RPDC, que quase sempre aparece nos noticiários internacionais, 
principalmente quando ocorre lançamento de novos mísseis balísticos. Dessa 
forma, buscar compreender como a RPDC desenvolveu-se e conseguiu sobreviver 
ao ponto de ser considerada uma potência militar faz parte das motivações que 
levaram ao desenvolvimento desta pesquisa. 
 Como referencial teórico, adotou-se a escola Realista das Relações 
Internacionais, em específico o Realismo Ofensivo proposto por John Mearsheimer 
(1990). Essa escolha se deu pelas premissas defendidas por Mearsheimer, a 
principal delas é a de que um sistema bipolar (Guerra Fria) seria mais seguro do 
que um sistema multipolar (pós-Guerra Fria). Já a metodologia utilizada nessa 
pesquisa é a análise qualitativa, assim privilegiando o conteúdo e não a questão 
estatística. O objetivo ao se utilizar a análise qualitativa é dar ênfase ao contexto 
do objeto de estudo. 
 Além da introdução e das considerações finais, a monografia está 
organizada em três capítulos. No primeiro, é tratado sobre o referencial teórico e a 
metodologia adotadas para a realização do trabalho, assim é realizada uma análise 
sobre como o Realismo Ofensivo e como a pesquisa qualitativa foram utilizadas 
nessa pesquisa. 
No segundo, aborda-se a RPDC na Guerra Fria, evidenciando fatos 
históricos que desencadearam o desenvolvimento do pensamento Zuche, neste 
capítulo também é tratado sobre a barganha nacionalista que o Zuche utiliza ao 
explorar a rivalidade sino-soviética no decorrer da Guerra Fria. 
No terceiro capítulo é abordado a RPDC no pós-Guerra Fria e a adoção da 
política Songun substituindo o defasado Zuche, uma vez que o fim da URSS 
demarca o encerramento de um sistema bipolar e início de um multipolar. A RPDC 
10 
 
 
sofrerá com o fim da Guerra Fria e desmantelamento da URSS, somados a isso há 
uma crise interna, chamada de Marcha Penosa, quando o líder Kim Il Sung falece, 
seguida por uma série de catástrofes naturais, especialmente enchentes e secas, 
resultando crise alimentar e consequente fome. 
Além disso, no último capítulo é abordado como a RPDC conseguiu 
sobreviver a esse contexto catastrófico, apontando a aliança entre Kim Jong Il com 
o setor militar norte-coreano e o processo de nuclearização que a política Songun 
traz como um dos responsáveis, tanto externamente com a dissuasão nuclear, 
como internamente com a substituição da matriz energética, adotando a energia 
nuclear e hidrelétrica como meios de se assegurar a independência e 
autossuficiência energética. 
 
11 
 
 
2.1 REFERENCIAL TEÓRICO 
 
 O impacto da política Songun no perfil econômico e no papel internacional 
da República Popular Democrática da Coreia (RPDC) na década de 1990 foi 
analisado sob a ótica da escola Realista das Relações Internacionais, utilizando 
seus conceitos e premissas fundamentais, especificadamente a abordagem do 
Realismo Ofensivo (MEARSHEIMER, 1990), utilizado para o entendimento da 
questão. 
 Antes de tratar dos conceitos e premissas realistas, e da própria abordagem 
do Realismo Ofensivo, torna-se necessário esclarecer aspectos essenciais da 
escola teórica Realista e realizar uma pequena síntese sobre sua ideia central: 
 
No f inal da Segunda Guerra Mundial impunha-se uma nova abordagem 
das Relações Internacionais, mais próxima dos fatos e como reação ao 
Idealismo. Assim, surge o realismo, que atribui à Segunda Guerra Mundial 
a ingenuidade da diplomacia de apaziguamento que prevaleceu no 
decurso do período entre as duas guerras. Para o realismo, o Estado é o 
único ator do sistema internacional; é um ator unitário; racional; e a 
segurança nacional ocupa o topo da hierarquia dos assuntos 
internacionais (SOUSA, 2005, p. 156). 
 
 Dessa forma, o Estado ganha destaque na análise realista e, junto a isso, a 
questão sobre segurança nacional de cada Estado assume notoriedade nos 
assuntos internacionais. Santos (2016, p. 85) traz que o Realismo trata o “[...] 
Estado sendo cerne das Relações Internacionais, de tal modo a ser um ator unitário 
– representando uma totalidade – e racional – maximizando ganhos e minimizando 
perdas”. Assim, desconsidera-se o que é gerado dentro do Estado, para então 
analisar o Estado em sua totalidade. 
 Há uma diversidade dentro da escola do Realismo e também entre os seus 
autores. Contudo, é possível identificar algumas características comuns: 
Existem duas características comuns a vários realistas, mas que não são 
propriamente conceitos: a primeira é a ênfase no que acontece no sistema 
internacional, o que se traduz por considerar que o que ocorre dentro dos 
Estados não é relevante para a análise das relações internacionais. É o 
que alguns chamam da imagem do Estado como uma caixa preta A 
segunda é um pessimismo pronunciado e def initivo em relação à natureza 
humana (NOGUEIRA; MESSARI, 2005, p. 23-24). 
12 
 
 
 Nesse sentido, enfatiza-se a distribuição do poder entre os atores 
internacionais, que são os Estados, buscando visualizar os ganhos relativos. 
Compara-se os Estados para perceber quanto cada um ganha dos demais, 
excluindo-se da análise o que acontece dentro dos mesmos (NOGUEIRA; 
MESSARI, 2005). 
 A partir dessas características comuns, é possível adentrar nos conceitos 
fundamentais da escola Realista e utilizá-los com a finalidade de compreender de 
que maneira foi possível a nuclearização da RPDC a partir da década de 1990 e 
seus desdobramentos. 
 Nogueira e Messari (2005) conseguem sintetizar em poucas linhas os 
conceitos do Realismo, destacando a: 
 
[...] centralidade do Estado que tem por objetivo central sua sobrevivência, 
a função do poder para garantir essa sobrevivência, seja de maneira 
independente — no que seria caracterizado auto-ajuda —, seja por meio 
de alianças, e a resultante anarquia internacional (NOGUEIRA; MESSARI, 
2005, p. 23). 
 
 
 Os conceitos entrelaçados entre si servem para facilitar a nossa 
compreensão. Partindo desse ponto, examinaremos cada conceito visto 
anteriormente com mais minúcia. 
Iniciaremos a análise com o conceito de Estado, que é o ponto chave da 
escola Realista, já que considera o Estado como único autor, como evidenciado 
anteriormente. Nesse sentido, utilizaremos o conceito de Estado apresentado por 
Nogueira e Messari (2005, p. 24), os quais afirmam que “[...] o Estado é o ator 
central das relações internacionais.”, dessa forma, assumindo um grande foco na 
perspectiva realista. 
 Nogueira e Messari (2005) dizem que o Estado possui duas funções precisas 
ao exercer seu papel nas relações internacionais: manter a ordem dentro do seu 
território e garantir a segurança de seus cidadãos em relação a agressões externas. 
Sendo assim, os Estados são parecidos, considerando este ponto de vista. 
13 
 
 
 Nogueira e Messari (2005, p. 25) apontam que os realistas tomam o Estado 
como uma “caixa preta”, encaixando-o dentro do que chamam de “bola de bilhar” 
(billiard-ball), tratando-o como ator unitário e racional, que age conforme a defesa 
do seu interesse nacional, a qual resume-se ao menor custo e maior benefício para 
o Estado. 
 O Estado como ator convive em uma dupla realidade: uma interna, na qual 
é soberano e tem autoridade e legitimidade para se impor, e outra realidade 
externa, em um contexto de anarquia internacional, onde está ausente qualquer 
autoridade soberana internacionalmente. Na realidade externa, a função do Estado 
é principalmente a defesa do interesse nacional, que nada é além da su a 
preservação e permanência como ator nas relações internacionais (NOGUEIRA; 
MESSARI, 2005, p. 25). 
 Ao tratarmos sobre a RPDC, visualizamos um Estado cercado por grandes 
potências, desde aliados (China e Rússia) até rivais (Japão, Coreia do Sul e EUA, 
este comsuas tropas estacionadas na Coreia do Sul). 
 Dessa maneira, o conceito de Estado da escola Realista pode ser bem útil, 
já que, com o fim da URSS na década de 1990, a RPDC perde seu maior parceiro 
econômico e, além disso, inúmeras experiências socialistas do leste europeu 
deixam de existir, causando uma incerteza sobre o destino da RPDC. 
 O temor pelo fim da experiência socialista norte-coreana é um dos pontos 
centrais para o desenvolvimento da política Songun, que acaba por se relacionar 
com o papel principal do Estado, que é garantir seu interesse nacional, 
assegurando a sobrevivência do Estado como ator internacional e no caso da 
RPDC, a sobrevida da experiência socialista no país. 
 Depois do conceito de Estado, é o momento de trabalharmos o conceito de 
interesse nacional e sobrevivência. Vimos anteriormente que a prioridade do 
Estado é manter sua sobrevivência como ator internacional, sendo assim o conceito 
de interesse nacional está estritamente ligado com o conceito de sobrevivência, já 
que o primeiro implica no segundo. 
14 
 
 
 Opta-se pelos conceitos descritos por Nogueira e Messari (2005), sendo 
importante citar que “esse interesse nacional é a sobrevivência do Estado e sua 
permanência como ator. Essa sobrevivência é o interesse nacional supremo e 
fundamental que deve levar à mobilização de todas as capacidades nacionais.” 
(NOGUEIRA; MESSARI, 2005, p. 27). Nesse sentido, cada Estado possui seu 
interesse nacional, que é igual para todos, já que sua sobrevivência garante que 
continue atuando como um ator internacional. 
 O interesse nacional do Estado é resultado da configuração do sistema 
internacional, no qual tem-se “[...] a sobrevivência como o maior desejo do Estado. 
Ela deriva do conceito de anarquia, onde há ausência de Governo mundial, que 
engendra a busca pela sobrevivência no cenário internacional, visando sua 
permanência no sistema” (SANTOS, 2016, p. 86). A anarquia do sistema 
internacional leva os Estados a desconfiarem uns dos outros, o que incentiva os 
Estados a garantirem sua sobrevivência e propriamente seus interesses. 
 Nogueira e Messari (2005, p. 28) dizem que “ao se garantir a sobrevivência 
do Estado, se garante também a sobrevivência do indivíduo.” Ao se tratar da RPDC, 
essa frase recebe uma atenuante, em que não é só a vida de cada indivíduo que 
está em jogo. Na luta ideológica global entre o capitalismo e o socialismo, a 
manutenção do Estado norte-coreano, além de preservar o regime socialista e seu 
interesse nacional, defende seus cidadãos do capitalismo. Isso decorre devido ao 
passado da península coreana, ao sofrer com o imperialismo japonês durante a II 
Guerra Mundial (1939-1945) e, posteriormente, com uma guerra traumática em seu 
próprio território, a Guerra da Coreia (1950-1953), contra os norte-americanos, já 
no âmbito da Guerra Fria. 
 A sobrevivência do Estado norte-coreano na década de 1990 passa a ser a 
prioridade de seus dirigentes, neste período de grandes turbulências: queda da 
URSS, morte do grande líder Kim Il Sung, enchentes, secas e fome. A manutenção 
do regime e da experiência socialistas tornam-se fundamentais, levando a RPDC a 
buscar alternativas para sua sobrevivência. 
 Posteriormente aos conceitos de interesse nacional e sobrevivência, 
trazemos o conceito de Poder, que Nogueira e Messari (2005, p. 28-29) abordam: 
15 
 
 
Enquanto alguns autores def inem o poder como a soma das capacidades 
do Estado em termos políticos, militares, econômicos e tecnológicos, 
outros estabelecem uma def inição de poder em termos relativos, ao 
def inirem o poder de um Estado não em relação as suas capacidades 
intrínsecas, mas sim em comparação com os demais Estados com os 
quais compete (NOGUEIRA; MESSARI, 2005, p. 28-29). 
 
 Ao compreender o poder do Estado como relativo, Nogueira e Messari 
(2005) vão ao encontro de Santos (2016), que nos traz que: 
[...] o poder do Estado não é def inido por suas próprias capacidades, mas 
sim pela comparação com os demais Estados rivais [...] ao falarmos sobre 
a teoria neorrealista veremos que Waltz def ine o poder como um meio de 
garantir a segurança e a sobrevivência. Derivada do conceito de poder 
surge a balança/equilíbrio de poder, onde um Estado se une a uma grande 
potência para assegurar melhor seu interesse nacional. Desse modo, 
constata-se uma atitude política que é extrínseca ao poder, a garantia do 
interesse nacional, que a busca por esse interesse não garante que a 
balança f ique equilibrada entre os vários e que inexiste um sistema 
unipolar no cenário internacional (SANTOS, 2016, p. 86). 
 
 Ligado ao conceito de poder, encontra-se o conceito de balança/equilíbrio 
de poder, no qual pode existir uma distribuição de poder bipolar ou multipolar que 
será abordada mais adiante ao tratarmos sobre o Realismo Ofensivo de 
Mearsheimer. Há autores que consideram que a distribuição “[...] bipolar é mais 
estável devido ao congelamento do poder, ou distribuição multipolar é mais estável 
por introduzir um grau maior de flexibilidade na condução da política internacional” 
(NOGUEIRA; MESSARI, 2005, p. 30). Cabe ainda destacar que o Estado pode se 
aliar com outro Estado, no caso, a uma superpotência, para garantir seu interesse 
nacional. 
 Sobre o poder há uma diferença de pensamento entre dois autores clássicos 
da escola realista. Nogueira e Messari (2005, p. 29) trazem que: 
“[...] Morgenthau af irma que os Estados procuram o poder visando à 
manutenção do status quo, à expansão ou ao prestígio, Waltz def ine o 
poder como um meio para garantir a sobrevivência e a segurança” 
(NOGUEIRA; MESSARI, 2005, p. 29). 
 
 O que nos interessa a partir dessas duas ideias de autores clássicos do 
realismo é de como o poder é utilizado pela RPDC, que está na busca por aumentar 
seu poder através do seu prestígio como potência nuclear, ao mesmo tempo em 
16 
 
 
que busca com isso sua sobrevivência e segurança, sendo esse o grande trunfo da 
política Songun. Ao mesmo tempo em que a RPDC se transforma em um estado 
com capacidade nuclear, ela passa a ser mais respeitada, da mesma maneira que 
afasta a possibilidade de agressões externas, assim garantindo sua sobrevivência. 
 O conceito de autoajuda adotado nesta análise é a definido por Nogueira e 
Messari (2005, p. 31), compreendido pelo fato de que “[...] nenhum Estado pode 
contar com outro para defender seus interesses e sua sobrevivência”. Desse modo, 
cada Estado é responsável por seus interesses e sobrevivência, contando com sua 
própria capacidade para garantir isso, o que caracteriza a autoajuda. 
 Seguindo nesse sentido, Santos (2016) explora o contexto, identificando que 
esse comportamento dos Estado, de realizar autoajuda, ocorre devido ao cenário 
internacional, no qual há anarquia, onde os Estados desconfiam-se uns dos outros, 
mesmo sendo aliados: 
A forma como os Estados interagem é tida como um sistema de autoajuda. 
Signif icando que como não há um Governo mundial, ou qualquer outra 
autoridade supranacional, para que seja assegurado o cumprimento de 
regras e a segurança dos Estados, os mesmos agem de forma 
autointeressada. Comportando-se, assim, de forma egoísta. É notável que 
tudo isso se deve à anarquia internacional, pois todos têm que lutar por 
sua sobrevivência e utilizar de todos os meios que lhes são disponíveis, 
pois nenhum Estado pode contar com outro para lhe ajudar, mesmo que 
essa ajuda seja apenas parcial (SANTOS, 2016, p. 86-87). 
 
 Nogueira e Mesari (2005, p. 31) falam que os espaços para as alianças em 
um sistema de autoajuda podem até parecer reduzidos, entretanto não são, em 
razão de que os mecanismos da balança de poder acabam por estabelecer alianças 
militares que contemplam o interesse nacional. 
 Importante salientar que a RPDC desenvolveu uma filosofia na década de 
1950, a ideologia Zuche, que teve um papel essencial nas relações exteriores com 
seus aliados,em especial a URSS e a RPC (República Popular da China), não se 
curvando a nenhum dos dois e explorando a divergência entre ambos para garantir 
as melhores condições para a Coreia Popular em acordos realizados com essas 
potências. 
17 
 
 
 Por fim, o último conceito é a anarquia internacional. Como comentado 
anteriormente, o cenário internacional é marcado pela anarquia, visto que não há 
nenhum Estado supranacional para ditar as regras que todos os demais Estados 
devem seguir. Entende-se por anarquia “[...] a ausência de uma autoridade 
suprema, legítima e indiscutível que posa ditar as regras, interpretá-las, 
implementá-las e castigar quem não as obedece” (NOGUEIRA; MESSARI, 2005, 
p. 26). 
 O cenário internacional, marcado pela anarquia, transforma-se em um 
ambiente no qual os Estados vão buscar garantir seus interesses nacionais, 
mantendo sua sobrevivência: 
O cenário anárquico propõe um ambiente altamente competitivo, onde há 
enorme desconf iança por parte do Estado, que todos visam sua 
sobrevivência [...] e têm a segurança como um bem de soma zero, pois a 
segurança de um Estado só pode ser atingida quando os outros Estados 
estão sem segurança (SANTOS, 2016, p. 85-86). 
 
 Não há um único soberano responsável pelo monopólio do uso legítimo da 
força no sistema internacional, todavia o que existe é uma coexistência entre 
múltiplos soberanos que são responsáveis pelo uso legítimo da força em seu 
próprio território (NOGUEIRA; MESSARI, 2005, p. 26). 
 Nesse cenário internacional anárquico, o Estado busca sempre manter seu 
interesse nacional, que não é nada além da sua preservação e permanência como 
ator nas relações internacionais. 
 O Realismo Ofensivo de Mearsheimer (1990) consiste em apontar que a 
multipolarização do poder (pós-Guerra Fria) seja o ambiente mais provável para se 
desenvolver uma guerra, enquanto que a bipolarização (Guerra Fria) teria um efeito 
pacificador, baseado na dissuasão nuclear. 
 O mundo durante a Guerra Fria, segundo Mearsheimer (1990), era mais 
seguro do que um mundo pós-Guerra Fria e multipolar, visto que a bipolarização, o 
poder militar em equidade e a própria posse de armamento nuclear geravam uma 
dissuasão mais poderosa, inclusive impedindo que Estados menores entrassem 
em conflito com outros: 
18 
 
 
A tranquilidade da era pós-guerra surgiu por três razões principais: a 
bipolaridade da distribuição de poder no Continente, a igualdade 
aproximada em poder militar entre os dois polos estados, e o 
aparecimento de armas nucleares, que expandiu enormemente a violência 
da guerra, tornando a dissuasão muito mais robusta (MEARSHEIMER, 
1990, p. 11). 
 
 Para justificar, Mearsheimer (1990) aponta que, em um sistema bipolar, os 
números de díades de conflito são menores, deixando a guerra menos provável, 
sendo que também há uma dissuasão nuclear para impedir uma provável guerra. 
Por fim essa mesma dissuasão tem mais chance de dar certo, pois no sistema 
bipolar não há muito espaço para erros de cálculo, o que acaba impedindo que 
algum Estado se aventure em uma guerra a outro: 
Um sistema bipolar é mais pacíf ico por três razões principais. Primeiro o 
número de díades de conf lito é menor, deixando menos possibilidades de 
guerra. Em segundo lugar, dissuasão é mais fácil, porque os 
desequilíbrios de poder são menores e mais facilmente evitado. Terceiro, 
as perspectivas de dissuasão são maiores porque os erros de cálculo de 
poder relativo e de resolução dos oponentes são menores e menos 
prováveis (MEARSHEIMER, 1990, p. 14). 
 
 No sistema bipolar, há somente uma díade que é justamente entre as duas 
potências principais, não abrindo espaço para que outras potências com poderes 
menores se ataquem entre si, já que não teriam uma posição tão avantajada para 
isso. Por outro lado, em um sistema multipolar há muitas situações em que os 
conflitos são potenciais, visto que as díades são mais numerosas, tanto em poderes 
maiores quanto em menores, fazendo com que a guerra seja mais provável em um 
sistema multipolar do que bipolar (MEARSHEIMER, 1990, p. 14). 
 Ainda sobre o sistema bipolar, é interessante observar como os Estados 
menores se comportam perante as potências: 
Em um sistema bipolar, duas grandes potências dominam. As potências 
menores têm dif iculdade em permanecer desvinculadas de uma das 
potências principais, porque as grandes potências geralmente exigem 
lealdade de estados menores. (Isso é especialmente verdadeiro em áreas 
geográf icas centrais, menos nas áreas periféricas). Além disso, os 
estados menores têm poucas oportunidades de jogar as grandes 
potências contra as outras, porque quando as grandes potências são 
menos numerosas, o sistema é mais rígido. Como resultado, os estados 
menores são pressionados para preservar sua autonomia 
(MEARSHEIMER, 1990, p. 14). 
19 
 
 
 
 
 A RPDC, preocupando-se em preservar sua autonomia, desenvolve a 
política Songun, que possui como um dos objetivos escalonar as tensões entre EUA 
e RPDC, forçando seu principal aliado, a RPC, a agir em favor dos interesses norte-
coreanos, o que somente é possível pela configuração multipolar do sistema 
internacional. 
 Dessa forma, uma potência menor, como a RPDC, é capaz de jogar duas 
grandes potências uma contra a outra, no caso a China intervindo na situação para 
amenizar a escalada da tensão e assim preservar seu interesse, e os EUA 
buscando de alguma forma desempenhar um papel mais forte no nordeste asiático, 
o que esbarra na política Songun. 
 Mearsheimer (1990, p. 8) aponta três contra-argumentos que poderão ser 
utilizados para contrapor as suas previsões pessimistas sobre a multipolarização 
no próprio futuro da Europa. O primeiro argumento é que a paz será preservada 
pela ordem econômica internacional liberal. O segundo argumento aponta que as 
democracias liberais não lutam em guerras umas contra as outras. Por fim, o 
terceiro argumento sustenta que os europeus tiveram algumas péssimas 
experiências neste século relacionadas a guerra, não sendo esta, convencional ou 
nuclear, uma opção sensata para os estados e suas sociedades. 
 A teoria da interdependência econômica, argumento utilizado pelos liberais, 
é falha na visão de Mearsheimer pois se baseia no pressuposto de que os Estados 
são motivados a alcançar a prosperidade econômica. Todavia, Mearsheimer 
aponta que há um sistema internacional anárquico, no qual a prioridade dos 
Estados é garantir a própria sobrevivência, não havendo objetivo maior que isso, 
ou seja, não havendo espaço para se buscar a tal prosperidade econômica 
(MEARSHEIMER, 1990, p. 44). 
 Mearsheimer (1990, p. 46) ainda diz que nessa interdependência econômica 
também pode haver chantagem e agressividade, visto que os níveis de 
dependência podem não ser iguais, fazendo com que os estados menos 
20 
 
 
vulneráveis tenham maior poder de barganha sobre os estados mais dependentes, 
forçando-os a fazerem concessões. 
 Segundo Mearsheimer (1990) a teoria das democracias amantes da paz 
baseia-se no argumento de que a presença de democracias liberais no sistema 
internacional ajudará a criar uma ordem mais estável. Dois pontos são essenciais 
para essa teoria. O primeiro, que os líderes autoritários são mais propensos a 
buscarem uma guerra do que os líderes das democracias, já que os autoritários 
não são responsáveis com sua população. 
 O segundo ponto é que os indivíduos que vivem em uma democracia liberal 
respeitam os direitos democráticos de indivíduos de outros Estados, isso resulta 
em uma aversão a guerra. 
 Porém, Mearsheimer (1990, p. 49) contradiz essa teoria afirmando que não 
é possível sustentar a afirmação de que os indivíduos em uma democracia são 
especialmente sensíveis a guerra e, portanto, menos dispostos do que os líderes 
autoritários para lutar em guerras, apontando que, no registro histórico as 
democracias têm a mesma probabilidade de fazer guerras queos estados 
autoritários. 
 Por fim, a última teoria que poderia ser utilizada contra o cenário multipolar 
pessimista de Mearsheimer a respeito do futuro da Europa é da obsolescência da 
guerra, dizendo que os europeus tiveram uma experiência traumática com as 
guerras (I e II Guerras Mundiais), resultando em uma aversão aos conflitos. 
 Mearsheimer (1990, p. 30) diz que essa teoria é falha porque já bastaria a I 
Guerra Mundial para a rejeição da guerra convencional, em razão do grande 
número de baixas que houve no conflito. A teoria ainda afirma que foram os 
horrores dos conflitos que resultaram em paz durante o período da Guerra Fria, 
enquanto que Mearsheimer (1990) já aponta para o armamento nuclear como 
pacificador, enfatizando uma divisão entre a guerra convencional e a nuclear. 
 Sendo assim o Realismo Ofensivo proposto por Mearsheimer (1990) é uma 
das principais ideias a respeito do pós-Guerra Fria, em específico na Europa, 
afirmando que um cenário multipolar poderia ser mais conflitante do que o período 
21 
 
 
de bipolarização durante a Guerra Fria, porém mais pacífico do que os primeiros 
45 anos do século XX. 
 Nessa pesquisa o Realismo Ofensivo será utilizado para compreender o 
contexto do desenvolvimento da política Songun, na RPDC no pós-Guerra Fria, 
utilizando as premissas que Mearsheimer (1990) aponta em seu estudo para 
compreender como um pequeno Estado foi capaz de jogar duas grandes potências 
uma contra a outra, ao mesmo tempo em que aposta no desenvolvimento 
econômico, sem a necessidade de modernizar um exército convencional para isso, 
já que o domínio sobre a tecnologia nuclear permite a utilização de uma dissuasão 
mais eficaz durante a escalada de tensões. 
 
2.2 METODOLOGIA 
 
 Ao tratarmos sobre metodologia devemos levar em consideração o tipo de 
pesquisa que iremos realizar, sendo necessário “escolher criteriosamente um 
método para levar a cabo a sua opção de trabalho, cuidando para que o mesmo 
seja compatível com a sua formação de historiador” (CARDOSO; VAINFAS, 1997, 
p. 542). 
 Cardoso e Vainfas (1997) dizem que é necessário adotar certa flexibilidade 
no uso do método escolhido, para não ficar refém de “[...] procedimentos que 
prejudiquem as interpretações históricas de fundo e a verificação das hipóteses de 
trabalho” (CARDOSO; VAINFAS, 1997, p. 542). 
 Nesse estudo optou-se por uma abordagem qualitativa de pesquisa, dando 
ênfase ao contexto no qual nosso objeto de estudo está inserido, este que é a 
política Songun, que se desenvolve na República Democrática Norte Coreana em 
um período conturbado (Fim da URSS, pós-Guerra Fria, morte de Kim Il Sung e 
catástrofes naturais). Essa abordagem qualitativa é essencial para a compreensão 
de determinado contexto, especialmente esse da adoção da política Songun: 
O pressuposto essencial das metodologias propostas para a análise de 
textos em pesquisa histórica é o de que um documento é sempre portador 
22 
 
 
de um discurso que, assim considerado, não pode ser visto como algo 
transparente (CARDOSO; VAINFAS, 1997 p. 539). 
 
 Desse modo, a bibliografia utilizada para a construção da pesquisa também 
foi abordada segundo a metodologia qualitativa, buscando compreender o contexto 
do que estava escrito, para além do discurso, não apenas citando trechos por 
condizer sobre o assunto abordado. 
 A metodologia de análise do texto será qualitativa, segundo Chemin (2015, 
p. 56). A pesquisa qualitativa busca tratar sobre a investigação de valores, as 
atitudes, as percepções e as motivações do que está sendo pesquisado, possuindo 
como principal objetivo compreender a questão em sua profundidade, sem haver 
uma preocupação com a estatística. 
 Devemos lembrar que “o desenvolvimento de um estudo de pesquisa 
qualitativa supõe um corte temporal-espacial de determinado fenômeno por parte 
do pesquisador (NEVES, 1996, p. 1). Nosso corte temporal-espacial é a RPDC na 
década de 1990, na qual desenvolve-se a política Songun, objeto do nosso estudo. 
 A pesquisa qualitativa pode ser compreendia através da seguinte citação de 
Neves (1996): 
Enquanto estudos quantitativos geralmente procuram seguir com rigor um 
plano previamente estabelecido (baseado em hipóteses claramente 
indicadas e variáveis que são objeto de definição operacional), a pesquisa 
qualitativa costuma ser direcionada, ao longo de seu desenvolvimento; 
além disso, não busca enumerar ou medir eventos e, geralmente, não 
emprega instrumental estatístico para análise dos dados; seu foco de 
interesse é amplo e parte de uma perspectiva diferenciada da adotada 
pelos métodos quantitativos. Dela faz parte a obtenção de dados 
descritivos mediante contato direto e interativo do pesquisador com a 
situação objeto de estudo. Nas pesquisas qualitativas, é f req uente que o 
pesquisador procure entender os fenômenos, segundo a perspectiva dos 
participantes da situação estudada e, a partir daí, situe sua interpretação 
dos fenômenos estudados (NEVES, 1996, p. 1). 
 
 Uma das características da pesquisa qualitativa é que a compreensão das 
informações recolhidas é feita de um modo amplo, com a interrelação de diversos 
fatores. Dessa forma, é dada preferência aos contextos em que estão inseridas 
essas informações, que podem resultar em um conteúdo descritivo e até mesmo 
23 
 
 
na utilização de dados quantitativos, assim incorporados nas análises realizadas 
(CHEMIN, 2015, p. 56). 
 Neves (1996, p. 1) ao citar Godoy (1995a, p. 62), aponta que há uma grande 
diversidade de trabalhos que possuem um conjunto de características essenciais 
para identificar uma pesquisa qualitativa, tais quais: o ambiente natural como fonte 
direta de dados e o pesquisador como instrumento fundamental; caráter descritivo 
da pesquisa; o significado que as coisas recebem; enfoque indutivo. 
 Destaca-se o papel do significado, uma vez que o pesquisador, partindo de 
seu referencial, irá interpretar o fenômeno e dará determinado significado, o que 
servirá de base para a pesquisa qualitativa: 
O vínculo entre signo e signif icado, conhecimento e fenômeno, sempre 
depende do arcabouço de interpretação empregado pelo pesquisador, 
que lhe serve de visão de mundo e de referencial. Esse arcabouço pode 
servir como base para estabelecer caminhos de pesquisa quantitativa e 
delimitação do tema, de forma tal que os esforços de cunho qualitativo e 
quantitativo podem se complementar. Embora possam estar presentes, 
tais vínculos nem sempre são explicitados de forma clara nos relatórios de 
pesquisa (NEVES, 1996, p. 2). 
 
 Chemin (2015, p. 56), ao citar Malhotra (2006), diz que a “pesquisa 
qualitativa tem como objetivo alcançar uma compreensão qualitativa das razões, 
das motivações do contexto do problema; [...]”, assim como foi dito anteriormente, 
a pesquisa qualitativa não se importa só com o que está explicitamente escrito, mas 
também com o contexto daquilo que está escrito, sendo possível compreender para 
além das palavras escritas, identificando determinados discursos. Com relação ao 
contexto: 
Nas ciências sociais, os pesquisadores, ao empregarem métodos 
qualitativos estão mais preocupados com o processo social do que com a 
estrutura social; buscam visualizar o contexto e, se possível, ter uma 
integração empática com o processo objeto de estudo que implique 
melhor compreensão do fenômeno (NEVES, 1996, p. 2). 
 
 
Dessa maneira, Cardoso e Vainfas (1997, p. 547) destacam que: 
[...] a unidade de contexto diz respeito à totalidade, ao “contexto histórico”, 
às estruturas sociais e/ou ao universo simbólico no qual se insere(m) o(s) 
discurso(s) analisado(s). Trata-se de uma unidade “arbitrária”, posto que 
extratextual, que somente o historiador pode determinar, conforme suas 
24 
 
 
opções teóricas, suas escolhas temáticas e suas hipóteses de 
investigação (CARDOSO; VAINFAS, 1997, p. 547). 
 
 As referências utilizadas nesse estudo passaram por essaabordagem 
qualitativa, com o objetivo principal de se compreender o contexto do nosso tema 
de estudo e também do discurso que está por trás do que está escrito. 
 As fontes utilizadas para esse estudo foram artigos científicos, livros, notícias 
em sites. Deu-se prioridade para os artigos científicos e livros disponíveis em língua 
portuguesa, entretanto destaca-se a pequena quantidade de tais materiais, 
havendo uma quantidade mais dinâmica disponível em língua inglesa, espanhola e 
coreana. 
 Chama a atenção a quantidade e a qualidade das notícias sobre a RPDC e 
a própria política Songun disponíveis em sites, que se deve ao papel realizado pelo 
CEPS-BR (Centro de Estudo da Política Songun Brasil), o qual, através de 
parcerias, realiza traduções do coreano e inglês para o português, além de contar 
com informações privilegiadas diretamente da Coreia do Norte. 
 Foi possível aplicar uma metodologia qualitativa neste estudo, em razão do 
nosso objetivo ser compreender o contexto da política Songun, resultado direto do 
pós-Guerra Fria, na RPDC na década de 1990. O Realismo Ofensivo será muito 
útil para a nossa compreensão, visto que é uma das vertentes teóricas que mais 
ganhou força no pós-Guerra Fria. 
 
2.3 CONSIDERAÇÕES FINAIS DO CAPÍTULO 
 
 Nesse capítulo abordamos o referencial teórico e a metodologia adotadas 
para a construção deste trabalho. O referencial teórico adotado foi o da escola 
Realista das Relações Internacionais, especificadamente o Realismo Ofensivo 
proposto por Mearsheimer (1990), utilizando seus conceitos e premissas. Por outro 
lado, a metodologia adotada foi qualitativa, privilegiando o conteúdo e o seu 
contexto sobre a estatística. 
25 
 
 
 A partir do referencial teórico buscamos compreender de que forma e que 
fatores estavam envolvidos para que houvesse uma nuclearização na RPDC n o 
decorrer da década de 1990, levando em conta a adoção da política Songun. Dessa 
maneira a compreensão de conceitos da escola Realista foi fundamental para 
nosso melhor entendimento. 
 Os conceitos de Estado, interesse nacional, poder, sobrevivência, auto-
ajuda e anarquia do sistema internacional foram de extrema importância para a 
compreensão da política Songun na RPDC na década de 1990, pois a adoção 
dessa política corresponde as premissas do Realismo Ofensivo propostas por 
Mearsheimer (1990). 
 Mearsheimer (1990) busca através do Realismo Ofensivo apontar que a 
multipolarização (pós-Guerra Fria) era mais propícia para o desenvolvimento de 
conflitos do que a bipolaridade (Guerra Fria), uma vez que essa última contava com 
um elemento pacificador que era a dissuasão nuclear. 
 Para justificar sua opinião, Mearsheimer (1990) aponta que em um sistema 
bipolar conta somente com uma díade, com as superpotências controlando os 
Estados menores, por outro lado, isso não ocorreria na multipolarização, havendo 
muitas situações de conflitos em potenciais. 
 O Realismo Ofensivo proposto por Mearsheimer (1990) caracteriza-se por 
afirmar que um cenário multipolar pode ser mais conflitante do que o cenário bipolar 
que houve com a Guerra Fria. Nessa pesquisa a utilização do Realismo Ofensivo 
serviu para a compreensão da política Songun, assim buscou-se também 
compreender como um pequeno Estado foi capaz de sobreviver ao fim da Guerra 
Fria, mesmo seu lado saindo “derrotado” do conflito. 
 A metodologia adotada nesse estudo, como dito anteriormente, foi a 
qualitativa, com o objetivo de dar ênfase ao contexto sob o qual nosso objeto de 
estudo está inserido, ou seja, a política Songun na RPDC na década de 1990. 
 A partir dessa metodologia qualitativa, buscou-se abordar a bibliografia 
utilizada seguindo essa metodologia, dessa maneira buscamos compreender o que 
estava escrito e também o contexto disso que está escrito, analisando os discursos 
26 
 
 
que as fontes apresentam, por isso o principal objetivo dessa metodologia é 
compreender a questão em profundidade, ignorando a estatística. 
 A adoção do referencial teórico baseado no Realismo Ofensivo relacionou-
se bem com a adoção da metodologia qualitativa, em razão da política Songun 
poder ser compreendia por essa abordagem qualitativa, assim como o Realismo 
Ofensivo, servindo para a compreensão do contexto do pós-Guerra Fria. 
 
27 
 
 
3. A COREIA DO NORTE NA GUERRA FRIA 
3.1 INTRODUÇÃO 
 A Guerra Fria inicia-se logo após o fim da II Guerra Mundial, visto que os 
EUA e a URSS saem do conflito como os grandes vencedores e, dessa forma, 
passam a competir por poder no cenário internacional, resultando em um sistema 
bipolar, no qual são vistos como duas superpotências. 
 A Europa, um dos palcos do conflito, chega ao final da II Guerra Mundial 
destruída, já que as potências do Eixo e dos Aliados se combateram por um longo 
período. A destruição na Europa afeta o cenário internacional, uma vez que a ordem 
era multipolar até mesmo antes da I Guerra Mundial, porém agora a ordem 
estabelecida é bipolar, na qual as duas superpotências não são europeias. 
 A Guerra Fria possui esta característica única que é a bipolaridade, dessa 
maneira, cabe a nós interpretar essa bipolaridade e além disso, compreender as 
fases da Guerra Fria. Mas, antes, é necessário discutir a respeito da bipolaridade 
e da multipolaridade no Sistema Internacional. 
 Há uma divergência entre os autores realistas sobre a estabilidade da 
balança de poder, alguns afirmam que a ordem bipolar é mais estável, apontando 
o congelamento de poder como um dos motivos para isso, enquanto que outros 
apontam a ordem multipolar como mais estável, em razão de um grau maior de 
flexibilização na condução da política internacional, contando com mais atores 
(NOGUEIRA; MESSARI, 2005). 
 Como já apresentado anteriormente, utilizaremos a abordagem do Realismo 
Ofensivo, descrita por Mearsheimer (1990), o qual considera a ordem bipolar mais 
estável em relação à multipolar. Nesse sentido, buscamos interpretar a postura 
adotada pela RPDC durante a Guerra Fria, com a adoção da Ideologia Zuche, e no 
pós-Guerra Fria, com a introdução da Política Songun. 
 
28 
 
 
3.2 A BIPOLARIDADE DA GUERRA FRIA E SUAS FASES 
 A Guerra Fria é resultado direto das ações que levaram ao fim a II Guerra 
Mundial, já havendo acordos sobre a divisão de influência no mundo por parte das 
potências mesmo antes da guerra ser finalizada, como ocorrido na Conferência de 
Ialta, realizada na Crimeia em fevereiro de 1945. 
 Com o final da II Guerra Mundial, inicia-se o período conhecido como a 
ordem internacional da Guerra Fria (1947-1955), no qual a ordem bipolar é 
estabelecida e o mundo dividido conforme as influências das superpotências: 
[...] os governos das duas superpotências aceitaram a distribuição global 
de forças no f im da Segunda Guerra Mundial, que equivalia a um equilíbrio 
de poder desigual mas não contestado em sua essência. A URSS 
controlava uma parte do globo, ou sobre ela exercia predominante 
inf luência — a zona ocupada pelo Exército Vermelho e/ou outras Forças 
Armadas comunistas no término da guerra — e não tentava ampliá-la com 
o uso de força militar. Os EUA exerciam controle e predominância sobre 
o resto do mundo capitalista, além do hemisfério norte e oceanos, 
assumindo o que restava da velha hegemonia imperial das antigas 
potências coloniais. Em troca, não intervinha na zona aceita de hegemonia 
soviética (HOBSBAWN, 1995, p. 224). 
 
 Assim, as duas superpotências passaram a competir para manter e ampliar 
sua influência em diversas regiões do globo, porém mantinham uma certa 
coexistência pacífica, que nesse período pode ser percebida através dessa 
aceitação de distribuição global desigual: 
[...] as duas superpotências aceitavam a divisão desigual do mundo, 
faziam todo esforço para resolver disputas de demarcação sem um 
choque aberto entre suas Forças Armadas que pudesse levar a uma 
guerra e, ao contrário da ideologia e da retóricada Guerra Fria, 
trabalhavam com base na suposição de que a coexistência pacíf ica entre 
elas era possível a longo prazo. Na verdade, na hora da decisão, ambas 
conf iavam na moderação uma da outra, mesmo nos momentos em que se 
achavam of icialmente à beira da guerra, ou mesmo já nela (HOBSBAWN, 
1995, p. 225-226). 
 
 Nesse período os soviéticos adotaram o “[...] reinício do processo de 
militarização das fronteiras, o recrudescimento da política de espaços na Europa 
Oriental e o aceleramento do projeto de desenvolvimento da bomba atômica 
(SARAIVA, 2008, p. 204). Percebe-se nesse momento uma movimentação 
soviética para manter sua influência, principalmente na Europa Oriental , e também 
29 
 
 
a busca pelo desenvolvimento da bomba atômica que os EUA já possuíam. Dessa 
maneira, Saraiva (2008, p. 204) ainda traz que “[...] esses três fatores alimentariam 
a disputa entre as superpotências ao longo de toda a Guerra Fria”. 
 A competição por influência entre EUA e URSS fez com que se 
desenvolvesse uma corrida, tanto armamentista quanto espacial, dessa forma não 
só o armamento nuclear era importante, mas também a capacidade tecnológica de 
cada superpotência para se desenvolver: 
O controle da energia atômica e o desenvolvimento da pesquisa espacial 
elevaram os soviéticos à condição de igualdade com os norte-americanos 
nesses dois campos, já nos anos 1950. O Pacto de Varsóvia viria, mais 
tarde, estender o guarda-chuva de proteção nuclear de Moscou sobre a 
Europa Oriental. O equilíbrio atômico entre as duas superpotências se 
tornaria, assim, um dos eixos “quentes” da Guerra Fria até a segunda 
metade dos anos 1950 (SARAIVA, 2008, p. 205). 
 
 O balanceamento entre as superpotências nessa ordem bipolar se deu 
através do equilíbrio atômico, pois ambas possuíam uma grande capacidade 
destrutiva em seus arsenais. Com cada superpotência possuindo a capacidade de 
destruir não somente a outra superpotência, mas o mundo em si, houve a 
necessidade de afastar a guerra como instrumento de política, em razão da 
possibilidade de destruição mútua no caso de uma guerra nuclear: 
Assim que a URSS adquiriu armas nucleares — quatro anos depois de 
Hiroxima no caso da bomba atômica (1949), nove meses depois dos EUA 
no caso da bomba de hidrogênio (1953) — as duas superpotências 
claramente abandonaram a guerra como instrumento de política, pois isso 
equivalia a um pacto suicida. Não está muito claro se chegaram a 
considerar seriamente a possibilidade de uma ação nuclear contra 
terceiros — os EUA na Coréia em 1951, e para salvar os f ranceses no 
Vietnã em 1954; a URSS contra a China em 1969 —, mas de todo modo 
as armas não foram usadas. Contudo, ambos usaram a ameaça nuclear, 
quase com certeza sem intenção de cumpri-la, em algumas ocasiões: os 
EUA para acelerar as negociações de paz na Coréia e no Vietnã (1953, 
1954), a URSS para forçar a Grã-Bretanha e a França a retirar-se de Suez 
em 1956. Infelizmente, a própria certeza de que nenhuma das 
superpotências iria de fato querer apertar o botão nuclear tentava os dois 
lados a usar gestos nucleares para f ins de negociação, ou (nos EUA) para 
f ins de política interna, conf iantes em que o outro tampouco queria a 
guerra (HOBSBAWN, 1995, p. 227). 
 
30 
 
 
 A ameaça nuclear serviria melhor como barganha, já que a real utilização 
desse tipo de armamento poderia resultar em uma mútua destruição, o que parece 
não ter sido o objetivo de nenhuma das duas superpotências, assim: 
Os dois lados viram-se assim comprometidos com uma insana corrida 
armamentista para a mútua destruição, e com o tipo de generais e 
intelectuais nucleares cuja prof issão exigia que não percebessem essa 
insanidade [...] como era de se esperar, os dois complexos industrial -
militares eram estimulados por seus governos a usar sua capacidade 
excedente para atrair e armar aliados e clientes, e, ao mesmo tempo, 
conquistar lucrativos mercados de exportação, enquanto reservavam 
apenas para si os armamentos mais atualizados e, claro, suas armas 
nucleares. Pois na prática as superpotências mantiveram seu monopólio 
nuclear (HOBSBAWN, 1995, p. 233). 
 
 Manter o monopólio nuclear era manter a estabilidade como superpotência 
e consequentemente a bipolaridade do sistema, pois uma terceira superpotência 
quebraria esse cenário bipolar, transformando-o em multipolar. Se essa terceira 
superpotência também fosse dotada de capacidade nuclear bélica poderia 
desiquilibrar a distribuição de influência entre as superpotências, levando 
provavelmente ao conflito. 
 Podemos pensar nessa distribuição de influência bipolar analisando o 
nordeste asiático. Saraiva (2008) diz que desde Ialta havia um acordo de equilíbrio 
na Ásia, no qual o nordeste asiático faria parte da influência soviética, enquanto o 
Pacífico estaria sob influência norte-americana. Todavia, problemas nas definições 
dessas áreas de influência fizeram com que “[...]sobre a Coréia viesse incidir um 
choque condominial de proporções dramáticas para o curso das relações 
internacionais contemporâneas” (SARAIVA, 2008, p. 210). 
 É nesse período de estabelecimento da influência bipolar que ocorre a 
ascensão comunista na China (1949) e a Guerra da Coreia (1950-1953), mostrando 
a importância do domínio no nordeste asiático por parte das superpotências. A 
respeito da Guerra da Coreia, ela será abordada em breve, cabendo aqui somente 
uma menção em relação a fase da Guerra Fria em que ela está inserida. 
 A segunda fase da Guerra Fria conhecida como coexistência pacífica (1955-
1968), é o resultado da fase anterior de quando se incentivou uma corrida 
31 
 
 
armamentista, sobretudo nuclear, ficando eviden te a capacidade destrutiva de 
ambas as superpotências: 
A f lexibilização da ordem bipolar foi a característica mais marcante das 
relações internacionais no período que vai de 1955 a 1968. [...] A 
coabitação pacíf ica, alimentada pela percepção da capacidade destrutiva 
que carregavam com seus armamentos atômicos, e as forças profundas 
que vieram alimentar os novos movimentos nas relações evidenciaram a 
imperfeição do modelo bipolar (SARAIVA, 2008, p. 212). 
 
 A coexistência pacífica é o período no qual ambas superpotências entram 
em acordo, em que reconhecem a capacidade destrutiva da outra e, assim, evitam 
criar tensões que realmente as levem para um conflito direto: 
Na verdade, o resultado líquido dessa fase de ameaças e provocações 
mútuas foi um sistema internacional relativamente estabilizado, e um 
acordo tácito das duas superpotências para não assustar uma à outra e 
ao mundo, simbolizado pela instalação da “linha quente” telefônica que 
então (1963) passou a ligar a Casa Branca com o Kremlin. O Muro d e 
Berlim (1961) fechou a última f ronteira indef inida entre Oriente e Ocidente 
na Europa. Os EUA aceitaram uma Cuba comunista em sua soleira 
(HOBSBAWN, 1995, p. 240). 
 
 Conforme Saraiva (2008, p. 213) a coexistência pacífica é o resultado de 
seis grandes movimentos nas relações internacionais: aggiornamento (atualização) 
econômico e político da Europa Ocidental; flexibilização intraimperial no sistema de 
poder das duas superpotências; desintegração do bloco comunista; descolonização 
dos povos e nações afro-asiáticas; articulação própria de alguns países latino-
americanos visando inserção internacional e declínio gradual das armas nucleares 
na barganha de poder mundial. 
 A partir desses movimentos percebe-se uma mudança de perspectiva 
durante a Guerra Fria, em que a bipolaridade do sistema internacional mostra-se 
imperfeita. Assim, abriu-se espaço para que novos mecanismos fossem 
implementados e atenuassem a incerteza da Guerra Fria: 
Os seis fatores juntos, interligados, tendiam a atenuar o peso da Guerra 
Fria, animando mecanismos mais dinâmicos e menos dicotômicos da vida 
internacional. A coexistência pacíf ica foi, portanto, o resultado de uma re-
acomodação das forças profundasque vinham alimentando as mudanças 
da ordem bipolar típica e do sistema de f inalidades, dos novos cálculos e 
estratégias, que tornaram a vida internacional dos tardios anos 1950 e 
32 
 
 
grande parte da década de 1960 menos insegura que os incertos anos da 
Guerra Fria (SARAIVA, 2008, p. 214). 
 
 A terceira fase da Guerra Fria é conhecida como deténte, ou relaxamento, 
ocorrendo de 1969 a 1979, período em que há um relaxamento nas tensões entre 
os EUA e a URSS. As superpotências se tornam mais próximas e parceiras uma 
da outra, todavia, ainda ocorrem conflitos localizados na periferia do sistema 
internacional: 
O conceito de détente está vinculado umbilicalmente aos novos arranjos 
dos tardios anos 1960 e à década de 1970. A erosão do monolitismo 
ideológico dos dois blocos atribuiu uma nova conotação às relações 
internacionais. Além de adversários, os Estados Unidos e a União 
Soviética apresentaram-se como parceiros. Esse foi o ineditismo histórico 
que permite separar a década de 1970 dos anos rígidos da Guerra Fria e 
do período da coexistência pacíf ica. A confrontação deixaria de ser direta 
para ser transportada para conf litos localizados na Ásia, na África e no 
Oriente Próximo (SARAIVA, 2008, p. 233). 
 
 Segundo Hobsbawn (1995, p. 241), na década de 1970 o mundo entrou na 
Segunda Guerra Fria, havendo uma grande mudança na economia mundial, com 
crise a longo prazo, que serão características das duas décadas a partir de 1973, 
chegando ao auge no começo da década de 1980. 
 Saraiva (2008, p. 231) aponta que “a deténte, consubstanciada no concerto 
americano-soviético, foi a característica mais nítida daqueles anos”, resultando na 
flexibilização das relações entre as superpotências. Segundo o mesmo autor, há 
quatro fenômenos que são característicos desse período de deténte: o concerto 
americano-soviético; tomada de consciência da Europa, Ásia e América Latina 
quanto a diversidade de interesses; proposta dos países do Terceiro Mundo em 
construir uma nova ordem econômica internacional e crises econômicas geradas 
pelas intranquilidades das crises energética e financeira. 
 Percebe-se, a partir desses fenômenos, que a bipolaridade no cenário 
internacional, exercida pelas superpotências, já enfrentavam alguns problemas, em 
especial porque seus aliados cresciam economicamente. No caso dos EUA, temos 
o Japão e a UE em ascensão econômica e, no caso da URSS, temos a RPC em 
33 
 
 
crescimento econômico, e também questionando algumas decisões tomadas pela 
URSS: 
Os quatro fenômenos formaram o conjunto de transformações observadas 
na essência do sistema internacional e modif icaram suas causalidades. 
Não houve, nos anos 1970, mudança substancial na hierarquia das 
potências, mas vários fatores abalaram a ordem bipolar e af irmaram a 
diversidade, bem como a multipolaridade econômica e ideológica 
(SARAIVA, 2008, p. 232). 
 
 Assim, no período da deténte, as superpotências passaram a buscar um 
relacionamento mais próximo, como parceiros, visto que os aliados de ambas 
cresciam econômicamente, o que poderia ser percebido como uma ameaça a 
estabilidade bipolar do Sistema Internacional. Desse modo, nenhuma das 
superpotências queria perder seu poder hegemônico para algum de seus aliados. 
 A última fase da Guerra Fria corresponde às últimas décadas do século XX, 
décadas de 80 e 90 (1980-1999). Esse período é marcado pelo desmantelamento 
da URSS, havendo um breve período de predominância de uma única 
superpotência, os EUA, seguida pela multipolarização do sistema internacional. 
 A Guerra Fria chega ao fim com o desmantelamento da URSS em diversos 
países. Dessa maneira, cabe destacar que a experiência do socialismo real foi 
derrotada por causa da corrida armamentista com os EUA, ao tentar competir com 
o programa “Guerra nas Estrelas”, e também pelas reformas políticas e econômicas 
(Glasnot e Perestroika), que fracassaram e conseguiram levar ao fim a URSS: 
A agonia f inal do modo de produção socialista teve início quando a 
superpotência americana adotou o programa armamentista conhecido 
como “Guerra nas Estrelas”, forçando a superpotência soviética a tentar 
reproduzir o “keynesianismo militar” da administração Reagan, numa 
corrida tecnológica e militar, que, a seu termo, revelará custosa demais 
para a União Soviética. O f inal político relativamente rápido dessa “era dos 
extremos” da competição hegemônica global, para seguir o título do livro 
de Eric Hobsbawn sobre o breve século XX, pode, no entanto, ser 
contraposto, do ponto de vista econômico, ao longo século XX de Giovanni 
Arrighi, isto é, a continuidade cíclica do século americano e o lento 
deslocamento de hegemonias econômicas (Japão, União Europeia), sem 
claras alternativas ao capitalismo triunfante de um fin-de-siéde pouco 
complacente com os perdedores (ex-socialistas, países da África, partes 
da América Latina e do Oriente Médio) (SARAIVA, 2008, p. 256). 
 
 
34 
 
 
 Hobsbawn (1995, p. 234) destaca que, apesar da corrida armamentista entre 
as superpotências, “[...] as armas nucleares não foram usadas”. Assim, percebe-se 
uma característica mais estável na bipolaridade durante a Guerra Fria do que no 
cenário multipolar anterior, visto que, apesar do avanço tecnológico-militar, 
exemplificado na confecção de armas de destruição em massa, elas não foram 
utilizadas para tal fim, mas sim para barganhar com a outra superpotência. 
 Para finalizar essas fases da Guerra Fria, é necessário ressaltar que 
segundo Mearsheimer (1990) a bipolaridade, mesmo com seus defeitos, mostrou-
se mais estável que os períodos anteriores, no qual a multipolarização resultou em 
duas guerras mundiais. 
 
3.3 A RPDC DURANTE A GUERRA FRIA 
 
 Ao tratarmos da RPDC durante a Guerra Fria, é preciso voltar nosso foco 
para a II Guerra Mundial, período em que a dominação imperialista japonesa na 
península coreana resultou em uma grande exploração das matérias-primas e mão-
de-obra coreana, ao mesmo tempo em que instituiu uma niponização da península: 
 
Os colonizadores buscavam erradicar a identidade nacional coreana, 
inclusive com a obrigação de adoção de nomes próprios e uso da língua 
japonesa, enquanto construíam uma inf raestrutura moderna e indústrias 
para aproveitar os recursos minerais do país (VISENTINI; PEREIRA; 
MELCHIONNA, 2015, p. 19). 
 
 Dessa forma, percebe-se o caráter preconceituoso que o nacionalismo 
japonês possuía ao tratar as regiões dominadas através de sua expansão territorial, 
que tinha como objetivo garantir as matérias-primas para sua indústria, ao mesmo 
tempo em que forçava novos mercados a se abrirem aos produtos gerados pelas 
indústrias, fomentando a máquina de guerra japonesa: 
 
35 
 
 
O colonialismo japonês na Coreia foi controverso, pois pode ser visto tanto 
como elemento modernizador e desenvolvimentista, como também um 
sistema brutal e repressor. Na verdade, trata-se de uma contradição 
dialética, porque foi ambas as coisas e, como em todos os casos de 
colonialismo, a modernização é estruturada em benef ício da metrópole 
(VISENTINI; PEREIRA; MELCHIONNA, 2015, p. 33). 
 
 O investimento japonês na infraestrutura da península coreana deve ser 
percebido como mais um meio de ampliar a dominação do imperialismo e não como 
uma dádiva dos imperialistas aos povos dominados, visto que a única razão para o 
investimento são os benefícios que a potência imperialista receberá, enquanto o 
povo dominado ainda estará subordinado a outros interesses alheios ao seu. 
 Ademais, o investimento japonês na infraestrutura coreana foi uma forma de 
aumentar a exploração da península coreana. Consequentemente a isso, e para 
preservar esses investimentos, os japoneses criaram um sistema repressor contra 
os coreanos, buscando impedir uma revolta contra a dominação do Império 
Japonês. 
 A península coreana já sofria com a intervenção japonesa em seu território 
desde 1910.Todavia, com os esforços de guerra japonês antes e durante a II 
Guerra Mundial, a situação na península se complicou, uma vez que o império 
japonês precisava de mais matérias-primas, mão-de-obra e soldados, além de 
evitar uma possível rebelião nessa região dominada: 
Com a Guerra do Pacíf ico (1937-1945), os coreanos sofreram ainda mais 
os efeitos da dominação japonesa, com exploração eco nômica, 
recrutamento e emigração forçados de mão de obra, perseguição política, 
obrigação de servir no exército como força auxiliar e o fenômeno das 
Mulheres de Prazer (Comfort Women), obrigadas a se prostituir e 
acompanhar os of iciais japoneses (VISENTINI; PEREIRA; MELCHIONNA, 
2015, p. 20). 
 
 Outro efeito da dominação japonesa na península coreana foi o esboço de 
uma divisão entre o norte e o sul: o norte concentrando a indústria pesada e os 
principais recursos minerais, enquanto o sul era responsável pela produção 
agrícola e materiais têxteis: 
Os japoneses estabeleceram uma divisão de trabalho regional que 
impactou fortemente no desenvolvimento das duas Coreias, quando foram 
36 
 
 
divididas pelo Paralelo 38°. O norte concentrava a indústria pesada e as 
atividades de mineração, enquanto o sul produzia os alimentos (65% em 
1945) e os bens de consumo (sobretudo têxteis). Essa divisão do trabalho 
era f ruto das diferenças geográf icas e da disposição de recursos naturais 
no território coreano: a porção setentrional era, predominantemente, uma 
zona de montanhas, rica em recursos minerais e com grande potencial 
hidrelétrico, mas com apenas 16% de terras férteis; na região meridional 
predominavam planícies, com grande quantidade de terras férteis e uma 
população duas vezes maior. (VISENTINI; PEREIRA; MELCHIONNA, 
2015, p. 39) 
 
 Ainda sobre esse período de domínio japonês na península coreana, 
ressalta-se o papel desempenhado pelos guerrilheiros comunistas na luta 
antiimperialista, que possuíam contatos com guerrilheiros da China, visto que a 
fronteira entre a península coreana com o restante do continente nesse período era 
bastante porosa (VISENTINI; PEREIRA; MELCHIONNA, 2015). 
 O domínio japonês na península coreana chega ao fim com a ação do 
Exército Vermelho da URSS, ao libertar o nordeste asiático do domínio japonês, 
seguindo o que já tinha sido brevemente combinado com outras potências aliadas: 
A Coreia e o nordeste da China, ao longo da Segunda Guerra Mundial, 
tornaram-se uma praça de armas, reservas militares e centros industriais, 
por se encontrarem protegidas dos bombardeios norte-americanos. 
Durante a Conferência de Ialta, foi demandado à URSS atacar os 
japoneses pela retaguarda, noventa dias após o f im das hostilidades na 
Europa (8 de maio), o que se deu em agosto de 1945, simultaneamente 
ao bombardeio nuclear das cidades de Hiroshima e Nagasaki. Este último 
evento estava mais vinculado à nascente Guerra Fria que à Segunda 
Guerra Mundial, que se encerrava. Mas, ao mesmo tempo que a URSS 
era introduzida na balança de poder da Ásia oriental, por força dos acordos 
de Ialta, o presidente Truman (que substituía o recentemente falecido 
Roosevelt) procurava limitar o impacto desse novo fator regional, bem 
como a emergência dos movimentos nacionalistas e revolucionário s 
asiáticos (VISENTINI; PEREIRA; MELCHIONNA, 2015, p. 47) 
 
 Com o estabelecimento da URSS na balança de poder na Ásia Oriental, há 
uma divisão da península coreana, seguida pelo estabelecimento de dois Estados, 
cada um deles aliando-se com uma superpotência hegemônica, passando a ser 
protegido por sua respectiva aliada. 
 Cada Estado estabelecido vai seguir as diretrizes encaminhadas pela 
superpotência. O norte adotará o modelo de economia soviética, apostando nos 
37 
 
 
planos quinquenais, e o sul adotará uma política de extrema repressão aos líderes 
e movimentos pela reunificação da península, atendendo aos anseios norte-
americanos (VISENTINI; PEREIRA; MELCHIONNA, 2015): 
O estabelecimento de dois Estados coreanos, com regimes políticos 
opostos e estreitamente ligados às potências líderes dos dois blocos, viria 
a torná-lo ainda mais complicado, com a criação de um regime socialista 
na China. A nova conf iguração geopolítica da Ásia oriental estabelecia, a 
partir de então, uma massa continental sob o controle comunista, e uma 
periferia oceânica insular (Japão, Taiwan e Filipinas) e peninsular (Coreia 
do sul e Vietnã do Sul), sob o domínio norte-americano. (VISENTINI; 
PEREIRA; MELCHIONNA, 2015, p. 56-57) 
 
 Cabe ressaltar que, logo após a libertação da península e sua divisão em 
áreas de influência no paralelo 38, o norte foi beneficiado com uma grande 
assistência soviética que tinha o intuito de desenvolver a indústria norte-coreana, 
aproveitando-se da infraestrutura que já havia, aquela que anteriormen te havia 
recebido investimentos dos imperialistas japoneses, com o objetivo de sustentar 
seu crescimento econômico: 
Além disso, a industrialização norte-coreana foi facilitada pelo grande 
volume de assistência soviética durante a ocupação, tanto em termos de 
formação e importação de técnicos, escassos naquele momento, quanto 
de auxílio f inanceiro e comercial. Desde 1946, a URSS forneceu à Coreia 
do Norte maquinário industrial, equipamentos, matérias-primas e 
combustível para a reconstrução econômica do país. De acordo com as 
estatísticas da RPDC, a produção industrial, em geral, mais que triplicou 
entre 1946 e 1949, com os setores de maior crescimento abarcando a 
construção civil, os têxteis, a metalurgia, o maquinário, a mineração e o 
carvão. Além disso, o desenvolvimento industrial norte-coreano foi 
fortemente favorecido pela abundância de recursos energéticos e o 
grande potencial hidrelétrico do país. (VISENTINI; PEREIRA; 
MELCHIONNA, 2015, p. 61) 
 
 Ainda nesse período de pós-II Guerra Mundial e pré-Guerra da Coreia, 
ocorrem reformas profundas na parte norte da península, idealizadas por Kim Il 
Sung, buscando estabelecer uma economia socialista sólida e baseada no modelo 
soviético: 
Concomitantemente à reforma agrária e à nacionalização das indústrias, 
estabeleceu-se, na RPDC, uma economia socialista semelhante ao 
modelo soviético, dirigida pelo Estado, com base em planos de longo 
prazo e alto grau de centralização da indústria e da agricultura. Assim, o 
governo estabelece metas de produção, determina os preços, redistribui 
38 
 
 
renda e aloca investimentos. (VISENTINI; PEREIRA; MELCHIONNA, 
2015, p. 61). 
 
 A RPDC, desde o seu início no pós-II Guerra Mundial, seguirá o exemplo de 
quem a ajudou a ser libertada, no caso a URSS. Dessa maneira, a RPDC adotará 
o mesmo modelo econômico soviético, no qual o dirigismo estatal, a grande 
centralização das indústrias e também os grandes investimentos na indústria 
pesada serão características de ambos. Essa semelhança será marcante no 
relacionamento entre os países, visto que, no decorrer da Guerra Fria, a URSS irá 
conceder diversos empréstimos e outros auxílios para fortalecer o desenvolvimento 
da parte norte da península. 
 Um fato marcante entre o final da II Guerra Mundial e a Guerra da Coreia 
(1950-1953) é a Revolução Chinesa, consumada em 1º de outubro de 1949, 
alterando a configuração política do nordeste asiático, visto que agora a maior parte 
da massa territorial continental pertencia aos comunistas, causando um certo temor 
para a parte sul da península e ao próprio Estados Unidos: 
 
Esse evento foi particularmente importante por forjar, inevitavelmente, 
novos vínculos entre a Coreia do Norte e a China, o que ampliou 
consideravelmente a capacidade de negociação de Kim Il Sung no pós -
Guerra da Coreia, permitindo-lhe barganhar com os dois gigantes 
comunistas. A iniciativa da RPDC de prover auxílio, ainda que limitado a 
suas possibilidades, para o sucesso da Revolução Chinesa demonstra, 
por sua vez, que as elites norte-coreanas não eram mero fantoche da 
URSS e que já vislumbravamuma forma de garantir a autonomia do país 
(VISENTINI; PEREIRA; MELCHIONNA, 2015, p. 58). 
 
 A URSS ficará em um primeiro momento responsável pela maior parte da 
ajuda econômica e militar destinada a parte norte da península, em razão da 
atuação política no encaminhamento do fim da II Guerra Mundial. Mas, por 
questões de maior proximidade, a China passará a também se preocupar com o 
regime do norte, visto que a manutenção desse regime impediria ela de fazer 
fronteira com um aliado em potencial dos EUA. 
39 
 
 
 Essa nova configuração no nordeste asiático influenciará a política externa 
da RPDC durante o decorrer da Guerra Fria, em razão da busca por autonomia do 
norte da península. Essa autonomia é em relação aos seus aliados, URSS e RPC, 
o que ficará mais marcante com a disputa sino-soviética pela hegemonia do bloco 
comunista. 
 A premissa do realismo que aponta que nenhum Estado pode confiar em 
outro Estado, imigo ou aliado, encontra fundamento nessa questão de rivalidade 
sino-soviética, uma vez que há disputado de poder dentro do próprio bloco, essa 
disputa que será bem explorada pela barganha nacionalista promovida pelo Zuche 
de Kim Il Sung. 
 
3.3.1 GUERRA DA COREIA 
 
 A Guerra da Coreia (1950-1953) é o resultado direto da clivagem política 
entre as superpotências da Guerra Fria, visto que cada uma sustentava seu aliado 
e, por se tratar de uma região estratégica no nordeste asiático, nenhuma das 
superpotências queria ceder espaço para a outra, deixando a possibilidade de uma 
reunificação da península cada vez mais distante. 
 Ao tratarmos da Guerra da Coreia, nosso objetivo é abordar o contexto do 
conflito e não tanto o conflito em si, ou seja, queremos identificar a participação dos 
aliados de cada lado, URSS e RPC apoiando o norte da península e EUA apoiando 
o sul da península. Dessa forma trataremos dos aspectos mais impactantes do 
conflito. 
 Na literatura referente ao assunto, muito se fala sobre o que levou ao conflito, 
ora acusando um lado, ora o outro lado. O mais interessante não é culpabilizar 
somente um lado pelo conflito, já que muitos fatores, desde o final da II Guerra 
Mundial, desencadearam o contexto na península coreana: 
A discussão sobre a responsabilidade pelo desencadeamento da guerra 
em 25 de junho de 1950 é pouco importante, porque ambos os lados 
desejavam a unif icação pela força e, a partir de determinado momento, os 
EUA, a China e a URSS estavam dispostos a apoiá-la, embora sem 
40 
 
 
esperar que se tornasse um conf lito mundializado. Além disso, a Coreia 
do Sul já se encontrava em guerra civil havia quase três anos, com o 
governo tentando esmagar as guerrilhas e com frequentes choques 
armados na f ronteira intercoreana. Mas a guerra se revelou uma 
traumática experiência, com um nível inédito de violência e destruição e 
de dimensão internacional, com os EUA e algumas outras nações sob a 
bandeira da ONU, de um lado, e os chineses, de outro. Encerrada num 
impasse, a divisão se perpetuou. Os coreanos, comunistas e 
anticomunistas, não foram peões das potências, mas os protagonistas, e 
Rhee não desejava aceitar o armistício. (VISENTINI; PEREIRA; 
MELCHIONNA, 2015, p. 21) 
 
 Torna-se difícil apontar os responsáveis pelo início do conflito em razão de 
haver muitas atenuantes e a própria questão do envolvimento de ambas 
superpotências. Podemos apontar o principal fator que desencadeou o conflito, que 
foi a ideia de reunificação da península pelo uso da força, que era o desejo de 
ambos os lados, mas que teve suas primeiras ações pela parte norte da península: 
Não há consenso entre os historiadores acerca de quem deu início a 
Guerra da Coreia e quais foram suas causas. A historiograf ia norte-
americana e a sul-coreana tradicionais sustentam que o conf lito teria sido 
def lagrado por Kim Il Sung, com apoio da URSS, com o objetivo de 
dominar toda a península. A historiograf ia of icial norte-coreana, por sua 
vez, defende que o norte estava respondendo a provocações sul-coreanas 
na f ronteira e que o objetivo do ataque teria sido a libertação da metade 
sul da península. Em uma análise mais acadêmica, autores como 
Cumings (2004), French (2005) e Lee (1996) questionam ambas as 
versões, alegando que a guerra teria se originado de causas múltiplas, 
com responsabilidades imputáveis a todos os atores envolvidos, não 
apenas os internos, mas também os externos, como os EUA e a URSS. 
Todavia, nenhuma das duas superpotências tinha interesse prévio de 
entrar em conf lito direto. (VISENTINI; PEREIRA; MELCHIONNA, 2015, p. 
64-65) 
 
 O que podemos considerar a respeito dos motivos do conflito é a 
necessidade dos ambos os lados em liderarem o processo de reunificação, ou seja, 
cada lado queria prevalecer sobre o outro e, desse modo, expandindo sua ideologia 
no território alheio. 
 Já que as causas do conflito são múltiplas e há um objetivo comum para 
ambos, que é a reunificação, podemos buscar o ponto de partida para o 
desencadeamento das ações, como uma forma de identificar os principais fatores: 
41 
 
 
O ponto de partida foi a proclamação da República Popular Democrática 
da Coréia pelos revolucionários comunistas que haviam lutado contra os 
japoneses (SARAIVA, 2008, p. 210). 
 
 Saraiva (2008) aponta a proclamação da RPDC como ponto de partida para 
o conflito, todavia, essa proclamação ocorreu em 9 de setembro de 1948 e foi uma 
resposta da parte norte da península à proclamação da parte sul da península, 
realizada em 15 de agosto de 1948. 
 Percebe-se então que há uma escalada nas tensões entre o norte e o sul da 
península coreana a partir de suas respectivas proclamações, porém não cabe aqui 
identificar a RPDC como a responsável, visto que sua proclamação foi uma 
resposta a um fato anterior. Por isso, cabe a República da Coreia a 
responsabilidade pelo aumento das tensões que desencadearam o conflito. 
 Além das proclamações, salientamos que há outros motivos para esse 
aumento das tensões e que, antes da Guerra da Coreia, já havia uma guerra civil 
na parte sul da península, marcada pelas “[...] revoltas antiamericanas no sul e 
assassinatos de líderes pró-unificação [...]” (SARAIVA, 2008, p. 210): 
Na realidade, desde 1948, já existia uma guerra civil na península, que 
apenas se internacionalizou. Stalin não ordenou, e sim aceitou os planos 
de Kim, para compensar a evolução desfavorável da situação europeia 
(criação da Alemanha Ocidental e da OTAN), pois a Coreia era pouco 
relevante para a estratégia soviética. Na perspectiva da URSS, a 
conjuntura parecia propícia, pois em agosto de 1949 o país se tornou uma 
potência nuclear e, em outubro, os comunistas chegavam ao poder na 
China. (VISENTINI; PEREIRA; MELCHIONNA, 2015, p. 65) 
 
 O início da guerra é marcado pela atuação do Exército Popular Coreano 
(EPC), alcançando várias vitórias em uma rápida expansão em direção ao sul, 
encurralando as tropas da ONU (Organização das Nações Unidas) em Pusan. Além 
disso, houve o apoio da população, que acolheu o EPC como libertador, 
reconstituindo os Comitês Populares e realizando a reforma agrária nas terras 
libertadas (VISENTINI; PEREIRA; MELCHIONNA, 2015, p. 68). 
 Hobsbawn (1995) diz que os EUA estavam abalados com a ascensão 
comunista na China em 1949 e assim preocupados com a situação na península 
coreana, dessa forma: “[...] os EUA e seus aliados (disfarçados como Nações 
42 
 
 
Unidas) intervieram na Coréia em 1950 para impedir que o regime comunista do 
Norte daquele país se estendesse ao Sul.” (HOBSBAWN, 1995, p. 234). 
 A rápida expansão do EPC teve uma resposta imediata dos EUA, que 
acabou intervindo no conflito para impedir uma derrota de seu aliado, essa que 
consolidada impactaria o contexto geopolítico do nordeste asiático e do pacífico: 
A crise foi avolumada com o desembarque dos mariners ao lado de Seul 
e o recuo das tropas norte-coreanas. No início de outubro, o general Mac

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