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1 F U N D A M E N TO S D E F IS IO TE R A P IA - G R U P O P R O M IN A S 2 F U N D A M E N TO S D E F IS IO TE R A P IA - G R U P O P R O M IN A S 3 F U N D A M E N TO S D E F IS IO TE R A P IA - G R U P O P R O M IN A S Núcleo de Educação a Distância GRUPO PROMINAS DE EDUCAÇÃO Diagramação: Rhanya Vitória M. R. Cupertino PRESIDENTE: Valdir Valério, Diretor Executivo: Dr. Willian Ferreira. O Grupo Educacional Prominas é uma referência no cenário educacional e com ações voltadas para a formação de profissionais capazes de se destacar no mercado de trabalho. O Grupo Prominas investe em tecnologia, inovação e conhecimento. Tudo isso é responsável por fomentar a expansão e consolidar a responsabilidade de promover a aprendizagem. 4 F U N D A M E N TO S D E F IS IO TE R A P IA - G R U P O P R O M IN A S Prezado(a) Pós-Graduando(a), Seja muito bem-vindo(a) ao nosso Grupo Educacional! Inicialmente, gostaríamos de agradecê-lo(a) pela confiança em nós depositada. Temos a convicção absoluta que você não irá se decepcionar pela sua escolha, pois nos comprometemos a superar as suas expectativas. A educação deve ser sempre o pilar para consolidação de uma nação soberana, democrática, crítica, reflexiva, acolhedora e integra- dora. Além disso, a educação é a maneira mais nobre de promover a ascensão social e econômica da população de um país. Durante o seu curso de graduação você teve a oportunida- de de conhecer e estudar uma grande diversidade de conteúdos. Foi um momento de consolidação e amadurecimento de suas escolhas pessoais e profissionais. Agora, na Pós-Graduação, as expectativas e objetivos são outros. É o momento de você complementar a sua formação acadêmi- ca, se atualizar, incorporar novas competências e técnicas, desenvolver um novo perfil profissional, objetivando o aprimoramento para sua atu- ação no concorrido mercado do trabalho. E, certamente, será um passo importante para quem deseja ingressar como docente no ensino supe- rior e se qualificar ainda mais para o magistério nos demais níveis de ensino. E o propósito do nosso Grupo Educacional é ajudá-lo(a) nessa jornada! Conte conosco, pois nós acreditamos em seu potencial. Vamos juntos nessa maravilhosa viagem que é a construção de novos conhecimentos. Um abraço, Grupo Prominas - Educação e Tecnologia 5 F U N D A M E N TO S D E F IS IO TE R A P IA - G R U P O P R O M IN A S 6 F U N D A M E N TO S D E F IS IO TE R A P IA - G R U P O P R O M IN A S Olá, acadêmico(a) do ensino a distância do Grupo Prominas! É um prazer tê-lo em nossa instituição! Saiba que sua escolha é sinal de prestígio e consideração. Quero lhe parabenizar pela dispo- sição ao aprendizado e autodesenvolvimento. No ensino a distância é você quem administra o tempo de estudo. Por isso, ele exige perseve- rança, disciplina e organização. Este material, bem como as outras ferramentas do curso (como as aulas em vídeo, atividades, fóruns, etc.), foi projetado visando a sua preparação nessa jornada rumo ao sucesso profissional. Todo conteúdo foi elaborado para auxiliá-lo nessa tarefa, proporcionado um estudo de qualidade e com foco nas exigências do mercado de trabalho. Estude bastante e um grande abraço! Professora: Tana Flávia de Albuquerque Santos 7 F U N D A M E N TO S D E F IS IO TE R A P IA - G R U P O P R O M IN A S O texto abaixo das tags são informações de apoio para você ao longo dos seus estudos. Cada conteúdo é preprarado focando em téc- nicas de aprendizagem que contribuem no seu processo de busca pela conhecimento. Cada uma dessas tags, é focada especificadamente em partes importantes dos materiais aqui apresentados. Lembre-se que, cada in- formação obtida atráves do seu curso, será o ponto de partida rumo ao seu sucesso profisisional. 8 F U N D A M E N TO S D E F IS IO TE R A P IA - G R U P O P R O M IN A S Esta unidade abordará os princípios que fundamentaram a construção da Fisioterapia, suas bases metodológicas e derivações, com foco nos aspectos legais, conceitos e diretrizes. O objetivo desta unidade é contribuir para uma formação abrangente, esquivando dos modelos minimalistas que caracterizavam o ensino tecnicista que fez parte do passado da profissão. Por fim, as informações compiladas nesse material servem de modelo para a construção de uma visão profissional que antecipe as tendências evolutivas da profissão, corro- borando para o crescimento individual e consequentemente a valori- zação da Fisioterapia. Fisioterapia. Saúde Coletiva. Sistema Único de Saúde. 9 F U N D A M E N TO S D E F IS IO TE R A P IA - G R U P O P R O M IN A S CAPÍTULO 01 HISTÓRIA DA FISIOTERAPIA Apresentação do Módulo ______________________________________ 11 13 35 A Fisioterapia no Mundo: do Surgimento Empírico à Construção da Ciência _____________________________________________________ Bioética no Brasil ______________________________________________ CAPÍTULO 02 BIOÉTICA E ASPECTOS LEGAIS DA PROFISSÃO Bioética: Uma Breve História, Conceitos e Definição _____________ 32 28Recapitulando ________________________________________________ Habilidades e Competências do Fisioterapeuta _________________ 44 19 História da Fisioterapia no Brasil: a Epidemia de Poliomielite e o Início do Reconhecimento Profissional _______________________ 36 A Criação do COFFITO, CREFITTO e do Código de Ética e Deon- tologia da Fisioterapia e Terapia Ocupacional ___________________ Recapitulando _________________________________________________ 48 CAPÍTULO 03 ATUAÇÃO DO FISIOTERAPEUTA NO SISTEMA DE SAÚDE BRASILEIRO A Construção do Sistema Público de Saúde Brasileiro __________ 53 Legislação Aplicada à Fisioterapia – Leis e Decretos _____________ 46 10 F U N D A M E N TO S D E F IS IO TE R A P IA - G R U P O P R O M IN A S Princípios e Diretrizes do SUS ____________________________________ 56 Humanização das Práticas de Saúde Frente ao Paciente e a Po- lítica Nacional de Humanização _________________________________ 61 Equipe Multidisciplinar de Saúde e Integração Multiprofissional _ 64 Recapitulando __________________________________________________ 68 Fechando a Unidade ____________________________________________ 73 Referências _____________________________________________________ 76 11 F U N D A M E N TO S D E F IS IO TE R A P IA - G R U P O P R O M IN A S A história da Fisioterapia é marcada por diversas fases da evolu- ção sociocultural mundial, e pelos grandes fatos históricos que interferiram diretamente na saúde física do ser humano. O processo de construção da profissão seguiu uma linha evolutiva que acompanhou o desenvolvimen- to econômico, tecnológico e as novas necessidades da sociedade. O in- teresse inicial pelas terapias que envolvem recursos naturais e corporais surgiu dos médicos, e isso justifica alguns pontos de interseção entre as duas profissões, que ainda hoje é motivo de discussão e brigas judiciais. O surgimento abrupto das práticas reabilitadoras pela medicina, para atender a um grande contingente de pessoas com sequelas físicas, devido à epidemia de poliomielite, das duas grandes guerras e da indus- trialização, fez com que a Fisioterapia carregasse durante muitos anos, uma característica tecnicista, que foi se dissolvendo ao longo dos anos e da evolução técnico-científica dos profissionais. Apesar da legislação, na prática, o Fisioterapeuta ainda precisa modificar o estigma do seu passa- do e se impor perante a sociedade como um profissional independente. Ainda que, a origem da Fisioterapia venha de uma profissão paramédica, a necessidade de desenvolvimento extrapolou o controle da classe, à medida que o aprimoramento profissional do fisioterapeuta foi se mostrando necessário, para atender à crescente demanda popu-lacional frente ao aumento da taxa de urbanização e o surgimento de novas demandas de saúde. No Brasil, a luta para a independência e regulamentação da profissão ganhou força e apoio de grandes nomes da política e de pes- soas influentes que foram atingidos pela epidemia de poliomielite. A partir desses fatos deu-se início a construção dessa nova e promissora área de atuação que trouxe incontáveis benefícios para a população. A compreensão desse contexto histórico, permite ao profissional quebrar paradigmas que assolam a profissão e traçar soluções e estratégias para desviar-se de obstáculos e modificar o rumo profissional. O Fisioterapeuta deve abandonar a mentalidade focada exclusi- vamente nas questões reabilitadoras, e aderir ao modelo de saúde mais abrangente que a profissão adquiriu ao longo do processo, desde os tem- pos mais antigos até se tornar uma profissão de nível superior, indepen- dente, com autonomia profissional e em constante transformação. Para isso é preciso entender os conceitos éticos que regem a profissão, os prin- cípios bioéticos adquiridos pela sociedade, a legislação que surge para tra- zer ordem e manter a paz, além de todas as outras necessidades sociais. Diante dos fatos expostos, é imprescindível o conhecimento de conceitos, princípios e diretrizes que regulamentam o sistema de saúde nacional e as políticas nacionais sobre as práticas em saúde, da qual 12 F U N D A M E N TO S D E F IS IO TE R A P IA - G R U P O P R O M IN A S o Fisioterapeuta se tornou parte fundamental para a manutenção do direito à saúde garantido pela constituição. A Fisioterapia contemporânea não permite mais ao profissional restringir-se em aplicar métodos e técnicas com perfeição, o profissional que insiste nesse modelo retrógrado, contribui para a desvalorização da classe. Os profissionais devem incorporar as novas tendências da saúde mundial em sua prática clínica, por isso, a atualização constante se faz necessária e obrigatória a todos. Ante a importância da reformulação e envolvimento do profis- sional com outras áreas do conhecimento, visando suprir as necessida- des da sociedade e antecipar as tendências do mercado, o profissional deve adequar a atuação em face dos novos conceitos e as novas políti- cas nacionais de práticas em saúde. 13 F U N D A M E N TO S D E F IS IO TE R A P IA - G R U P O P R O M IN A S A FISIOTERAPIA NO MUNDO: DO SURGIMENTO EMPÍRICO À CONSTRUÇÃO DA CIÊNCIA O conhecimento acerca da origem da profissão e de sua cons- trução cultural é indispensável para a compreensão e representação dos valores profissionais e do seu objeto de trabalho. O entendimento da Fisioterapia contemporânea exige uma visão crítica e ampla da his- tória. Pode -se dizer que a Fisioterapia, não em sua configuração atual, porém através da utilização de recursos naturais e do próprio movimen- to do corpo humano, existe desde a antiguidade. Registros arqueológi- cos ilustram os povos antigos utilizando o sol, água e até o peixe elétrico (Electrophorus electricus) para o tratamento de enfermidades. Um nome importante na Grécia antiga, que contribuiu para a HISTÓRIA DA FISIOTERAPIA F U N D A M E N TO S D E F IS IO TE R A P IA - G R U P O P R O M IN A S 13 14 F U N D A M E N TO S D E F IS IO TE R A P IA - G R U P O P R O M IN A S evolução da terapia através do movimento e do estudo da anatomia, foi Galeno (130 a 199 d.C.). Ele distinguiu nervos motores e sensiti- vos, músculos agonistas e antagonistas e descreveu o tônus muscular. Esses conceitos primários, despertaram o interesse da medicina sobre novas possibilidades de tratamentos. Durante a Idade Média, a forte influência religiosa desacelerou o progresso científico da medicina, nesse período, o corpo era visto como um recipiente e as enfermidades e incapacidades físicas como castigo. A medicina, uma prática totalmente empírica naquela época, passou por um processo de estagnação e desvalorização. A impossibili- dade de realizar novos estudos de dissecação, prática condenada pela igreja, gerou uma lacuna na história da medicina que continuou basean- do seus tratamentos nos estudos rudimentares de Galeno: As ordens religiosas eram inimigas do corpo. Os hospitais da idade média tinham caráter eclesiástico estavam juntos dos mosteiros mais importantes e suas salas de enfermos encontravam-se imediatamente ao lado das capelas, havia, inclusive, altares nas salas dos enfermos não havendo local apropria- do para realização de exercícios (LINDMAN,1975 Apud Barros, 2008). Os egípcios e os persas continuaram os estudos durante a ida- de média e, nesse período, protagonizaram a revolução dos avanços da medicina e da descoberta de novas modalidades terapêuticas. Nessa época, os exercícios e a terapia manual ganhavam espaço na medicina do oriente, enquanto no ocidente, as influências religiosas e culturais coibiam os cuidados com a saúde física e a valorização do corpo. Filme sobre o assunto: The Physsician/ O Médico (Univer- sal, 2013) Observação: o aluno deve refletir sobre os desafios en- frentados pela ciência e pela medicina na idade média e o quanto a cultura, os dogmas e paradigmas podem ser fatores limitantes para o desenvolvimento da saúde. Após esse período, a época da história compreendida como Renascimento (séc. XV – XVI), abriu espaço para o movimento huma- nista , onde havia a valorização da arte, política e dos aspectos rela- cionados à saúde. Nessa época, a medicina começou a incorporar os aspectos preventivos e não apenas curativos, além disso, houve um 15 F U N D A M E N TO S D E F IS IO TE R A P IA - G R U P O P R O M IN A S amento da preocupação com a manutenção da saúde dos indivíduos. Em 1569, Jeronimus Mercurialis, lançou o Livro “A Arte da Ginásti- ca”, que caracterizava cinco princípios para aplicação da ginástica médica: 1) exercícios para conservar um estado saudável já existente; 2) regularida- de no exercício; 3) exercícios para indivíduos enfermos cujo estágio pode exacerbar-se; 4) exercícios individuais para convalescentes e 5) exercícios para pessoas com ocupações sedentárias (CARVALHO, 2018, p.85). Durante a transição entre o Renascimento e a Industrializa- ção (período compreendido entre os séculos XVIII e XIX) a medicina foi incorporando em sua prática novos conceitos para acompanhar a transformação social. Existem registros da utilização da eletricidade e da hidroterapia na medicina no final do século XVIII. Embora a utilização desses recursos constasse nos registros desde a antiguidade Roma- na, apenas nessa época eles foram desenvolvidos e viraram objeto de estudos para aplicação clínica na medicina (REBELATTO, 1999). Essa época foi um marco do desenvolvimento técnico-científico na área da saúde, impulsionado pelo surgimento e proliferação de novas doenças, além de doenças ocupacionais e acidente de trabalho devido à debilida- de das condições de trabalho impostas. A partir do século XX alguns fatos históricos contribuíram para a constituição e início da Fisioterapia enquanto profissão em diversos países do mundo. Nesse século, a humanidade vivenciou três importan- tes episódios que promoveram um crescimento excessivo de pessoas que necessitavam de reabilitação: a epidemia de Poliomielite , a primei- ra guerra mundial (1914-1918) e a segunda guerra Mundial (1939-1945) (BARROS, 2008). A primeira grande epidemia de Pólio nos Estados Unidos, em 1916, infectou mais de 27.000 pessoas resultando em 6.000 mortes e milhares de casos de paralisia flácida. Ao longo da epidemia, que durou cerca de 40 anos, sendo controlada em 1955, o número de pessoas in- fectadas, por ano, chegou a 38.000, sendo o pico de infecção em 1952, com uma taxa de 35 para cada 100.000 habitantes. (BARROS, 2008). A reabilitação durante a primeira guerra mundial se desenvol- veu como uma área da medicina através dos centros de reabilitação. A necessidadeda criação desses centros se deu devido à redução im- portante da mão de obra ativa de trabalho nos países participantes da guerra. A partir dessa necessidade, a reabilitação foi tomando formas e as prescrições médicas voltaram-se para a recuperação funcional do indivíduo e não mais para o tratamento curativo. 16 F U N D A M E N TO S D E F IS IO TE R A P IA - G R U P O P R O M IN A S A Fisioterapia surgiu a partir da transição epidemiológica e de novas demandas do estado de saúde dos indivíduos. As profis- sões da área da saúde precisam acompanhar a evolução tecnoló- gica bem como os profissionais precisam manter-se em constante atualização, para que seus conhecimentos não se tornem obsoletos. O surgimento de novos casos decorrentes das sequelas de poliomielite, o aumento da complexidade, da variedade de casos de distúrbios motores e as guerras fizeram com que os grupos de profissio- nais, formados para atuar na reabilitação, organizarem-se para estudar e evoluir as formas de tratamento. Um médico militar da Bavária chamado Dr. Lorenz Gleich, em 1851, publicou, pela primeira vez, um artigo em que trazia o termo “Fisio- terapia” e, posteriormente, em 1894, o médico Dr. Edward Playter sugeriu a utilização do termo “Fisioterapia” durante uma apresentação na reunião médica que acontece semestralmente em Montreal, no Canadá, para se referir aos tratamentos utilizando recursos naturais (SHAIK, 2014). Nessa reunião o Dr. Playter enfatizou a importância do uso de agentes naturais antes da prescrição de drogas e encorajou os cole- gas da medicina a realizarem pesquisas sobre esse campo de atuação. Mais tarde, no mesmo ano, esse artigo foi publicado no Montreal Medi- cal Journal e serviu de base para a formação de escolas de reabilitação que surgiram em outros países. Os primeiros cursos de Fisioterapia, no mundo, surgiram na Alemanha (1902), em Dresden, e na Inglaterra (1918). Nessa época, estudos com a colaboração entre médicos e Fisioterapeutas deram ori- gem aos métodos que são utilizados até hoje: Método Klapp para es- coliose; Cinesioterapia respiratória e o Método Bobath , para tratamento da paralisia cerebral (PETRI,2006). A consolidação da Fisioterapia ocorreu nos Estados Unidos, quando a profissão ganhou grande visibilidade, em decorrência da epi- demia de Pólio e dos amputados da primeira guerra Mundial. Uma en- tidade, denominada Mulheres Auxiliares dos Médicos ou Auxiliares de Reabilitação, que era uma subdivisão do departamento médico do exér- cito, teve uma grande representante, considerada a primeira Fisiotera- peuta americana, que trabalhou na primeira guerra Mundial. Em 1915, Mary McMillan, foi nomeada chefe dos Serviços de Assistência e Reabilitação do maior Hospital militar da época. A fisiote- 17 F U N D A M E N TO S D E F IS IO TE R A P IA - G R U P O P R O M IN A S rapeuta americana foi uma das fundadoras do curso de Formação em reabilitação de emergência, em 1917, denominado Reconstruction aide ou auxiliares da reconstrução (LOW, 1992). Imagem 1- Mary McMillan, primeira Fisioterapeuta (mãe da Fisioterapia). Fonte: (APTA, 2017). A parceria entre médicos e fisioterapeutas cresceu, o que impul- sionou o reconhecimento público da profissão. Em 1921, Mary McMillan fundou a primeira associação profissional chamada American Women’s Physical Therapeutic Association, e incluía 274 membros fundadores. Em 1922, homens foram aceitos e a associação mudou seu nome para American Physiotherapy Association (APA) (LOW,1992). A Fisioterapia, inicialmente, era executada apenas por mu- lheres. A figura feminina foi escolhida para essa prática porque re- presentava delicadeza e sutileza. Mas as mulheres, Fisioterapeutas, vislumbram-se como mulheres fortes. Elas começaram a ganhar espaço como reabilitadoras e utilizavam recursos rígidos advindos da medicina, modificando a falsa impressão de que Fisioterapia de- mandava apenas delicadeza e impuseram sua força aliada à ciência. Outro fato que marcou a história da Fisioterapia foi a infecção por pólio do presidente americano, Franklin Roosevelt , em 1921, aos 18 F U N D A M E N TO S D E F IS IO TE R A P IA - G R U P O P R O M IN A S 39 anos. Roosevelt necessitou da reabilitação e, durante o enfrenta- mento da epidemia, que durou até a década de 50, ele foi o responsável por criar a Fundação Nacional de Paralisia Infantil e investiu mais de um milhão de dólares para o avanço de pesquisas da Fisioterapia no combate à poliomielite paralítica (BARROS, 2008). Imagem 2 - FranKlin Roosevelt em sua cadeira de rodas. Fonte: Disponível em http://www.ibdd.org.br/images/franklin%20roosevelt.jpg acesso dia 24/04/2020 às 00:51 Durante a Segunda guerra mundial (1939-1945), os fisiotera- peutas eram responsáveis por toda a parte de reabilitação e os médicos se dedicavam às cirurgias e outras práticas. O fisioterapeuta assumiu as práticas de cinesioterapia para atender à grande demanda de pesso- as com incapacidades que surgiram nessa época. Como Parte do processo de desenvolvimento da profissão de fisioterapeuta a organização mundial da saúde criou a World Confede- ration Physical for Therapy (WCPT) na Dinamarca, em 1951, e registrou a adesão inicial de 13 países. A WCPT, até dezembro de 2001, contava com mais de 82 países participantes, incluindo o Brasil. O congresso da WCPT aconteceu pela primeira vez em 1953, em Londres, e reuniu mais de 1500 participantes de 25 países. Esse congresso ainda acon- tece bienalmente, sendo o último realizado em 2019, em Genebra, e o próximo acontecerá em 2021 em Dubai (WCPT, 2016). A Fisioterapia foi ganhando visibilidade, e com a epidemia de po- liomielite se espalhando pelo mundo, ela chegou ao Brasil e, nessa época, deu-se início à história da Fisioterapia no nosso país. O próximo tópico discorrer sobre o surgimento e regulamentação da profissão no Brasil. 19 F U N D A M E N TO S D E F IS IO TE R A P IA - G R U P O P R O M IN A S HISTÓRIA DA FISIOTERAPIA NO BRASIL: A EPIDEMIA DE POLIO- MIELITE E O INÍCIO DO RECONHECIMENTO PROFISSIONAL Na época da colonização, a saúde no Brasil se resume em tratamentos realizados por padres Jesuítas, pajés, curandeiros africa- nos e médicos trazidos pelos colonizadores (portugueses, holandeses e espanhóis). Com a saída da Família Real Portuguesa do Brasil, sur- giu a necessidade da formação de recursos humanos para atender as famílias dos grandes monarcas que continuam instalados aqui. Dessa forma, em 5 de novembro de 1808 surgiu o primeiro curso de Medicina, pela Escola de Anatomia, Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro, conhe- cida atualmente como Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de janeiro (REBELATTO,1999). Os primeiros médicos formados no Brasil, durante suas via- gens e contato com médicos de outros países, principalmente do conti- nente europeu, conheceram a utilização de recursos elétricos e hídricos para o tratamento de sequelas físicas. O médico Artur Silva, ainda no século XIX, participou da criação do primeiro Serviço de Fisioterapia do Hospital da Misericórdia do Rio de Janeiro, em 1884 (BARROS, 2008). Na virada no séc. XIX para o séc. XX, o interesse dos médicos pela área da fisioterapia começou a crescer muito. Nessa época surgi- ram as primeiras defesas de tese para obtenção do título de Doutor cujo assunto contextualizava o momento vivido pelos médicos e a importân- cia da utilização da fisioterapia. Já no século XX, o médico Adolpho Gomes Pereira, defendeu sua tese de doutorado cujo título era: “Physiotherapia” (como era escrito na época). Em sua defesa podemos destacar uma citação que demons- trava o grande interesse dos médicos a respeito da Fisioterapia e seu futuro promissor: O estado actual da Physiotherapia, como o demonstram recentes e impor- tantíssimos trabalhos, é o mais auspicioso possível, se levarmos em consi- deração o meticuloso estudo e extensa aplicação que lheoutorgam os paizes civilizados do velho mundo[...] Guimball em seu arrojo convencido profetiza- va-lhe (a Physiotherapia) o domínio absoluta na medicina do futuro.” (PEREI- RA, 1904 apud BARROS, 2008). Em 1919, a fisioterapia no Brasil inicia sua história com a cria- ção do departamento de eletricidade médica pelo professor Raphael de Barros, da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Isso despertou o interesse de outros médicos e, em 1929, o Dr. Waldo Rolim Moraes instalou o serviço de Fisioterapia no Hospital da Santa Casa de 20 F U N D A M E N TO S D E F IS IO TE R A P IA - G R U P O P R O M IN A S Misericórdia de São Paulo. O Dr. Rolim e o Dr. Raphael de Barros foram os grandes precursores da fisioterapia no Brasil, enquanto profissão. (MARQUES,1994) Alguns anos após a implementação dos serviços de fisiotera- pia, na década de 30 do século XX, diversas capitais brasileiras foram fortemente afetadas pela paralisia infantil, provocada pela epidemia de poliomielite. Então, luta pela implementação da Fisioterapia que já havia sido estimulada pela primeira guerra mundial, transformou-se em uma corrida contra o tempo, sendo o período de maior crescimento de estu- dos e pesquisas sobre reabilitação no país. O primeiro curso de Fisioterapia no Brasil surgiu em 1951, na Universidade de São Paulo (USP). A formação era de nível técnico, com duração de 1 ano, em período integral. Os “Fisioterapistas” como eram chamados na época, apenas aprendiam a executar técnicas e ligar e desligar aparelhos. Todas as condutas e diagnósticos eram realizadas pelos médicos responsáveis pelo setor de reabilitação. Em 1953, a poliomielite, doença mais temida do século XX, atingiu uma taxa de infecção de 21,5 pessoas por 100 mil habitantes, no Rio de janeiro. Nos Estados Unidos, nessa mesma época, o número de infectados chegou a 57.900 casos. Médicos travavam uma disputa contra políticos que negavam a epidemia, mas a sociedade já sofria com o aumento no número de casos de crianças com paralisia cerebral. Uma matéria publicada no jornal mais circulado da época, Correio da Manhã, estampava em sua capa o título: “A sombra da invalidez sobre a coletividade” (BARROS, 2008). Filme sobre o assunto: A vacina que mudou o mundo – Do- cumentário (2010) Acesse o Link: https://www.youtube.com/watch?v=4Ew- 6TybMTNs e https://www.abbr.org.br/abbr/historico/abbr_na_li- nha_do_tempo.html Observação: o documentário descreve os impactos da do- ença sobre a sociedade e os desafios da medicina para encontrar a vacina e reabilitar os milhares de infectados que sobreviveram, mas tiveram que enfrentar a paralisia. A implementação da Fisioterapia no Brasil sofreu grandes influ- ências políticas, interesses da classe médica, necessidade social e um 21 F U N D A M E N TO S D E F IS IO TE R A P IA - G R U P O P R O M IN A S fator que faz parte da essência da profissão, a Filantropia. Em 1954 um grupo da alta sociedade brasileira (classe muito atingida pela pólio, cerca de 60% dos infectados pertenciam às classes mais favorecidas) se uni- ram para criar uma associação beneficente com o objetivo de promover a recuperação das vítimas da paralisia infantil ou acidentes, em um centro especializado de reabilitação. Foi assim que surgiu a Associação Brasileira Beneficente de Reabilitação (ABBR), idealizada por dois grandes empre- sários da época e tendo como primeiro presidente Percy Charles Murray, paraplégico e presidente do The National Citibank (BARROS, 2008). Imagem 3: Matéria sobre ABBR no Jornal O GLOBO em 1956 Fonte: Acesso dia 26/04/2020 às 22:57 Disponível em: https://www.abbr.org. br/abbr/historico/abbr_na_linha_do_tempo.html Um dos membros do conselho da ABBR, Celso da Rocha Mi- randa, tinha fortes ligações com Juscelino Kubitschek e foi um dos prin- cipais responsáveis pela arrecadação de fundos para a campanha de JK à presidência. A proximidade entre Juscelino e Celso garantiram o engajamento do então candidato à Presidência, que enquanto governa- dor do Estado de Minas Gerais, juntamente de sua esposa Sarah Ku- bitschek, já eram grandes apoiadores de causas sociais e filantrópicas. Os primeiros pavilhões da ABBR eram feitos de madeira, cerca de 40 toneladas doadas pela esposa de Juscelino (BARROS, 2008). 22 F U N D A M E N TO S D E F IS IO TE R A P IA - G R U P O P R O M IN A S Sarah Kubitschek foi reconhecida como a primeira dama mais atuante da história, ela fundou em Minas Gerais, no ano de 1956, a Fundação das Pioneiras Sociais. Em 1960, quando Jusceli- no se tornou presidente, a fundação se transformou no maior com- plexo de reabilitação do país, com a primeira sede em Brasília. O Centro de Reabilitação, que leva o nome da primeira dama, até hoje é uma das grandes referências em reabilitação do país. Acesse o link : http://www.sarah.br/a-rede-sarah/nossa-historia/ Imagem 4: O presidente da República Juscelino Kubitschek e sua esposa, jun- tamente com a Sra. Malu R. Miranda, representante da ABBR na inauguração. Fonte: disponível em: http://www.abbr.org.br/relatorios/relatorio2005/historico. htm acesso dia 26/04/2020 às 23:48. O surgimento da ABBR marca um fato importante sobre o de- senvolvimento da Fisioterapia enquanto profissão independente e da au- tonomia dos futuros reabilitadores da época. Os cursos de formação de fisioterapeutas no Brasil ainda eram precários e a formação de caráter técnico dificultava a expansão profissional e, dessa forma, havia pou- cos profissionais para atender às demandas da associação. Com isso, a ABBR criou, em 1957, o primeiro curso com a finalidade de diplomar Fisioterapeutas e Terapeutas Ocupacionais. Em 1957, o curso sofreu mo- dificação e a duração foi ampliada para 3 anos (BARROS, 2008). Para que a formação atendesse aos padrões internacionais e às 23 F U N D A M E N TO S D E F IS IO TE R A P IA - G R U P O P R O M IN A S necessidades da ABBR, foi necessário trazer duas fisioterapeutas estran- geiras, a Dra. Edith MacConnel (Escócia) e a Dra. Ann Winter (Canadá), para ministrar as aulas. Como elas não falavam português, as aulas eram traduzidas pela aluna Wanda Lechowski, esse então se tornou o primeiro curso a ser ministrado por fisioterapeutas no Brasil (CARVALHO,2018). Em 1959 foi fundada a Associação Brasileira de Fisioterapeu- tas (ABF), em São Paulo, com o objetivo de unificar a classe e somar forças entre os fisioterapeutas de todo o país. Esse fato contribuiu para o início da luta para o reconhecimento da profissão. A ABF foi reconhe- cida em nível internacional pela WCPT em 1963, o que assegurou diver- sos benefícios aos fisioterapeutas da época (BARROS, 2008). A primeira conferência patrocinada pela ABF ocorreu em 1962, em uma das publicações realizadas durante a conferência, era notória a insatisfação dos fisioterapeutas com relação à intervenção de outros profissionais no processo de reabilitação e citava a importância da auto- nomia profissional. Além disso, é possível observar a movimentação da classe em prol do seu objetivo de regulamentação da profissão: [...] Verificam-se assim intromissões incompreensíveis de certos círculos so- bre outros que ainda estão em fase de desenvolvimento, negando-se-lhes assim, a capacidade de dirigirem seus assuntos de Motu Próprio, e resulta do paradoxo demais, quando isso acontece num país tão exuberante demo- crático como o Brasil. Deve-se extinguir para sempre, a falsa paternidade de constituírem-se indevidamente em advogados de terceiros. O direito à soberania individual e profissional é inviolável. Defendendo e usando desse direito, nos encontramos perfeitamente aptos e capacitados para traçar o futuro da profissão de Fisioterapeutas[...] (ABF, 1962 Apud BARROS, 2008). Após a conferência, a ABBR e a USP entraram com um pedido de implementação de um currículo mínimo para a Formação do Fisiote- rapeuta nas instituições. O conselho federal de Educação,estabeleceu o parecer 388/63 homologado através da portaria 511/64 do MEC, com as exigências mínimas para o currículo de formação universitária. Em 1969, o Brasil ainda não contava com um número de institui- ções suficiente para formar fisioterapeutas, uma das dificuldades era a falta desses profissionais com especialização para assumir as cadeiras de do- centes das instituições. A WCPT, observando a dificuldade dos países, em especial da América do sul, promoveu o primeiro curso para professores latino-americanos. Cada país enviou 2 profissionais, o Brasil enviou pro- fessores da USP, que voltaram com o título de Mestre (MARQUES, 1994). 24 F U N D A M E N TO S D E F IS IO TE R A P IA - G R U P O P R O M IN A S A Regulamentação da Profissão no Brasil Após o surgimento da ABF, a ABBR começou a empreender esforços para regulamentar a profissão de fisioterapeuta, tendo em vis- ta a expansão da reabilitação no país. Dessa forma, as associações ini- ciaram o processo apresentando dois projetos ao congresso nacional. O projeto de lei nº 4.789 de 1958, foi apresentado, inicialmen- te, por um deputado apoiador da causa. O documento elaborado era um resumo do regimento interno da EERJ e da USP, onde citavam o processo de formação profissional. A justificativa do deputado perante a comissão era que a profissão já havia sido regulamentada em países como Estados Unidos e Inglaterra, além do fato de que centros de rea- bilitação encontrava-se em pleno funcionamento. Esse projeto passou pela comissão de educação, mas não foi aprovado pela comissão de Saúde. Na ocasião, a justificativa do relator foi que os cursos de forma- ção não atendiam aos padrões internacionais para formação de profis- sionais e então o projeto foi arquivado (BARROS, 2008). Diante das dificuldades em aprovar a regulamentação da classe, após essa primeira tentativa, a ERRJ da ABBR, instituiu uma comissão para desempenhar o papel de adequar a estrutura do curso e preparar a documentação exigida. Isso ocorreu em 1961, quando uma nova tentativa, desta vez através do Conselho Nacional de Educação (CNE) foi aceita e o processo foi encaminhado para o reconhecimento em outros órgãos res- ponsáveis. Porém, por um infortúnio do destino ou uma interferência políti- ca, no final desse mesmo ano a lei de Diretrizes e Bases do sistema edu- cacional, extinguiu o CNE e fundou o Conselho Federal de Educação, que ficou responsável pela análise dos processos da CNE (MARQUES, 1994). Na ocasião, o Médico e ex-Ministro da Educação e Cultura, Clóvis Salgado , nomeado relator desse caso, apresentou um parecer de três páginas em que concluía que: “Fisioterapia, Enfermagem e ou- tras, eram atos, apenas meras ocupações”. Nesse momento da história, era nítida a preocupação da classe médica em não perder o controle sobre as demais profissões (BARROS, 2008). Em 1963, houve uma nova tentativa de aprovar a regulamen- tação da profissão no Brasil. Para isso, o deputado João Vieira, acres- centou uma cláusula no texto apresentado anteriormente pelo deputado Portugal Tavares. O novo artigo incluía a carga horária mínima de for- mação de 2500 horas, sendo 1000 horas teórico-práticas e 1500 horas de treinamento supervisionado. Porém, havia um artigo que condiciona- va o exercício da fisioterapia e terapia ocupacional à supervisão médi- ca. Em sua justificativa o deputado citou: “E quem tem a felicidade de ter 25 F U N D A M E N TO S D E F IS IO TE R A P IA - G R U P O P R O M IN A S filhos sadios, tem a obrigação de doar algo para a causa da reabilitação, esse é o lema da ABBR” (BARROS, 2008, p. 950). Nessa época iniciou-se a disputada pelo “mercado da saú- de”, que estava em franca ascensão e era dominado exclusivamen- te pela medicina. Porém, a necessidade e a luta pelo direto à saúde, abriu espaço para profissões novas e promissoras, como é o caso da Fisioterapia. Esse fato desagradou a muitos nomes importantes da História da medicina, que serão citados nos próximos parágra- fos. Essa disputa segue até os dias atuais, onde profissões bus- cam exclusividade em técnicas e práticas que são compartilhadas. A hipótese de que a classe médica havia se mobilizado para não perder o controle sobre a área da saúde se reafirma após a publica- ção do parecer 388/63, também elaborado pelo médico Clóvis Salgado, em que dizia: Insisto na caracterização desses profissionais como auxiliares médicos, que desempenham tarefas de caráter terapêutico sob a orientação e responsabi- lidade do médico. A esse, cabe dirigir, chefiar e liderar a equipe de reabilita- ção, dentro da qual são elementos básicos: o médico, o assistente social, o psicólogo, o fisioterapeuta e o terapeuta ocupacional. Acrescento ainda que não compete aos dois últimos o diagnóstico da doença ou da deficiência a ser corrigida. Cabe-lhes, executar, com perfeição, aquelas técnicas, aprendi- zagens e exercícios recomendados pelo médico (Barros 2008). Esse parecer, emitido pela comissão, que foi ao plenário do Conselho Federal de Educação, sugeriu ainda que fossem incluídos os termos “técnico em fisioterapia” e não aceitaram a proposta de currículo apresentada pela ABBR, alegando que preferiam um currículo exequível, sugerindo que a formação de um fisioterapeuta deveria ser simplória. Em 23 de julho de 1964 o ministério da educação, coordenado pelo Ministro Luís Antônio da Gama e Silva definiu, pela primeira vez, o cur- rículo mínimo dos cursos de Fisioterapia e Terapia Ocupacional. No dia 26 de novembro de 1965, o presidente Castello Branco , concedeu, por meio do decreto 57.363, à Escola de Reabilitação do Rio de janeiro (ERRJ), per- tencente à ABBR, o reconhecimento dos cursos de Fisioterapia e Terapia ocupacional, sendo assim, permitidas a emitir diplomas (BARROS, 2008). Em 1969, no auge do regime militar, por meio do decreto-lei 938 26 F U N D A M E N TO S D E F IS IO TE R A P IA - G R U P O P R O M IN A S do dia 13 de outubro desse mesmo ano, a Fisioterapia foi regulamentada enquanto profissão de nível superior. Esse mesmo decreto estabelece como privativa ao fisioterapeuta a atuação na área da Fisioterapia. Acesse o Link: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decre- to-lei/1965 1988/Del0938.htm Observação: o decreto lei 938/69 é o mais importante da história da nossa profissão, é importante que o aluno faça a leitura na íntegra. Além disso, ele está presente nas questões da maioria dos concursos públicos da nossa área. A Dra. Sônia Gusman, um grande nome da Fisioterapia no Bra- sil que, na época, era presidente da ABF, relatou algumas vezes em entrevistas que um dos fatos que contribuiu para a regulamentação da Fisioterapia foi o acidente vascular encefálico (AVE) sofrido pelo presi- dente Costa e Silva. Ele recebeu atendimento fisioterapêutico e passou a enaltecer a profissão. A junta militar que assumiu o poder após a mor- te de Costa e Silva regulamentou a profissão. Em 1970, a Universidade de São Paulo, através da portaria 1025, decretou que os certificados de conclusão dos cursos de Técnico em Fisio- terapia e Terapia Ocupacional, expedidos pelo Instituto de Reabilitação da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, nos anos de 1958- 1966, seriam considerados, para efeito de direito, equivalentes aos diplo- mas expedidos nos termos do regulamento 938/69 (MARQUES,1994). Uma tentativa frustrada da comissão de saúde do Congresso Nacional, formada por médicos, aprovou o projeto de lei nº 2090, que tinha como objetivo substituir o texto do decreto 938 e acrescentar o ter- mo técnico em fisioterapia e condicionar a atuação desses profissionais à supervisão médica. Porém, em votação no congresso ele foi derrota- do e arquivado em 1972 (BARROS, 2008). Após a regulamentação da profissão, o número de cursos de formação e alunos interessados em ingressar foi crescendo exponen- cialmente. Antes da regulamentação, no Brasil, havia apenas 6 cursos de Fisioterapia. No períodode 15 anos após o decreto surgiram 16 no- vos cursos, totalizando 22 cursos de Fisioterapia no Brasil no ano de 1984 (BISPO JR, 2009). Considerando todos os entraves enfrentados pelos profissio- nais e demais integrantes da sociedade civil interessados na evolução 27 F U N D A M E N TO S D E F IS IO TE R A P IA - G R U P O P R O M IN A S da fisioterapia, é possível compreender fatos que ainda assolam a pro- fissão na atualidade. A compreensão desse contexto ilustra a disputa entre fisioterapeutas e médicos sobre o controle do processo de reabi- litação. Por mais ultrapassado que isso pareça, ainda é uma realidade em algumas instituições. O fisioterapeuta, após 50 anos de regulamentação da profissão como uma área de atuação independente, por vezes, precisa explicar e orientar o paciente sobre sua autonomia profissional e se posicionar como um profissional de primeiro contato. Alguns médicos, principalmente os mais experientes, ainda mantêm a prática ilegal de encaminhar pacientes aos fisioterapeutas prescrevendo tratamentos, como acontecia quando a fisioterapia era ligada à medicina. Cabe aos fisioterapeutas identificarem esses atos e notificarem aos órgãos competentes para que o profissional seja notifi- cado do ato ilícito e modifique sua conduta. A Fisioterapia no Brasil, passou por diversas fases nas últimas décadas. Em alguns momentos, foi possível observar uma perda da au- tonomia profissional, desvalorização, profissionais desmotivados e que acataram as ordens de profissionais de outras áreas como se houvesse uma hierarquia. Essa realidade foi se transformando quando o fisioterapeuta conquistou seu espaço no mercado e alguns nomes importantes da fi- sioterapia no Brasil se destacaram internacionalmente, elevaram o nível técnico-científico da profissão, conquistaram o respeito de outros profis- sionais e o reconhecimento da sociedade. Com a evolução da atuação do fisioterapeuta, demonstrado atra- vés de resultados, a sua importância para a qualidade de vida da popula- ção, a profissão foi seguindo um curso de ascensão e, atualmente, vem sendo cada vez mais reconhecida e valorizada por sua complexidade e importância. Portanto, após ter conhecimento da origem e da evolução da profissão, torna-se mais fácil compreender a procedência de algumas práticas que devem ser abolidas para que se possa valorizá-la. 28 F U N D A M E N TO S D E F IS IO TE R A P IA - G R U P O P R O M IN A S QUESTÕES DE CONCURSOS QUESTÃO 1 Ano: 2019 Banca: Inst. AOCP órgão: Prefeitura de Vitória – ES Pro- va: Inst. AOCP-2019- Fisioterapeuta Nível: Superior. A fisioterapia é uma arte milenar, profissão que já vem sendo pra- ticada desde os nossos antepassados, época em que o homem pré-histórico buscava o sol, as águas frias para amenizar a sua dor, entretanto, no Brasil, seu reconhecimento ocorreu muito após essa época e foi um importante marco que reconheceu a profissão e regularizou suas atribuições. Sobre o reconhecimento da profis- são de fisioterapeuta, analise as assertivas e assinale a alternativa que aponta a(s) correta(s): I. Ocorreu por Meio de c=decreto de lei nº 938, de 13 de outubro de 1969, completando 50 anos de profissão no Brasil em 2019. II. O conselho Federal de fisioterapia (COFFITO) foi criado antes do reconhecimento da profissão. III. Antes do reconhecimento da profissão, o fisioterapeuta era defini- do como auxiliar do médico e havia cursos de técnico em fisioterapia. a) Apenas I e II. b) Apenas I e III. c) Apenas II e III. d) Apenas I. e) Apenas II. QUESTÃO 2 Ano: 2019 Banda: OPPUS órgão: Crefito-4 Prova: Agente Fiscal Fi- sioterapeuta-4 Nível: Superior. Assinale a alternativa que NÃO pertence ao Decreto-lei nº 938, de 13 de outubro de 1969, que provê sobre as profissões de Fisiotera- peuta e Terapeuta Ocupacional e dá outras providências: a) É assegurado o exercício das profissões de Fisioterapeuta e Tera- peuta Ocupacional, observado o disposto no presente Decreto-lei. b) É atividade privativa do Fisioterapeuta, executar métodos e técnicas fisioterápicos com a finalidade de restaurar, desenvolver e conservar a capacidade física do cliente. c) O livre exercício da profissão de Fisioterapeuta e Terapeuta Ocupa- cional, em todo território nacional, somente é permitido ao portador de Carteira Profissional expedida por órgão competente. d) O Grupo da Confederação Nacional das Profissões Liberais, constante do Quadro de Atividades e Profissões, anexo à Consolidação das Leis do Trabalho, aprovado pelo Decreto-lei nº 5.452, de 1 de maio de 1943, é 29 F U N D A M E N TO S D E F IS IO TE R A P IA - G R U P O P R O M IN A S acrescido das categorias profissionais de Fisioterapeuta, Terapeuta Ocu- pacional, auxiliar de fisioterapia e auxiliar de terapia ocupacional. e) O Fisioterapeuta e o Terapeuta Ocupacional, diplomados por escolas e cursos reconhecidos, são profissionais de nível superior. QUESTÃO 3: Ano: 2015 Banca: UNIUV órgão: UNIUV Prova: Fisioterapeuta-Pre- feitura de Jaguariaíva /PR Nível: Superior Sobre o Decreto Lei n. 938, de 13 de outubro de 1969, que provê sobre as profissões de Fisioterapeuta e Terapeuta Ocupacional, julgue os itens como verdadeiros (V) ou falsos (F) e depois assina- le a alternativa correta: ( ) O profissional Fisioterapeuta pode, no seu campo de atividade específica, dirigir serviços em órgão e estabelecimentos públicos ou particulares; ( ) O Fisioterapeuta pode, no seu campo de atividade específica, su- pervisionar profissionais e alunos em trabalhos técnicos e práticos; ( ) Ao fisioterapeuta é proibido, no seu campo de atividade espe- cífica, exercer o magistério nas disciplinas de formação básica ou profissional, de nível superior. a) ( ) V, V, V; b) ( ) F, F, F; c) ( ) V, F, V; d) ( ) F, V, F; e) ( ) V, V, F. QUESTÃO 4: Ano: 2015 Banca: CONPASS órgão: CONPASS Prova: Fisiotera- peuta-Prefeitura de Teixeira/PB Nível: Superior O Decreto Lei 938/69 relata em seu artigo 3º que: a) Os fisioterapeutas são “auxiliares médicos que desempenham tarefas de caráter terapêutico sob a orientação e responsabilidade do médico”. b) “Fica aprovado o Código de Ética Profissional de Fisioterapia e Tera- pia Ocupacional”. c) “O fisioterapeuta é profissional competente para buscar todas as in- formações que julgar necessárias no acompanhamento evolutivo do tra- tamento do paciente sob sua responsabilidade...”. d) “É atividade privativa do fisioterapeuta executar métodos e técnicas fisioterápicas com a finalidade de restaurar, desenvolver e conservar a capacidade física do paciente”. e) O referido Decreto Lei cria o Conselho Federal e os Conselhos Re- gionais de Fisioterapia e Terapia Ocupacional. 30 F U N D A M E N TO S D E F IS IO TE R A P IA - G R U P O P R O M IN A S QUESTÃO 5: Referente à Resolução do Conselho Nacional de Educação/Câmara de Ensino Superior nº 4, a formação do Fisioterapeuta tem por obje- tivo dotar o profissional dos conhecimentos requeridos para o exer- cício das seguintes competências e habilidades gerais, EXCETO: a) Práticas profissionais. b) Tomada de decisões. c) Atenção à saúde. d) Comunicação. e) Liderança. QUESTÃO DISSERTATIVA – DISSERTANDO A UNIDADE Conhecer a história da profissão, suas raízes e influências, é de suma importância para entender os conflitos, avanços e objetivos da formação profissional. Um dos grandes desafios enfrentados pela Fisioterapia, na atualidade, é provar para A sociedade que as bases tecnicistas foram rom- pidas. Para isso, a formação profissional precisa deixar de ser reducionista e valorizar os conhecimentos que estão além do caráter reabilitador. Co- mente acerca do trecho publicado por Clóvis Salgado enquanto relator do processo de regulamentação da profissão através do parecer 388/63. TREINO INÉDITO A morte de qual presidente precedeu e influenciou a regulamenta- ção da Fisioterapia no Brasil? a) Castello Branco b) Juscelino Kubitschek c) João Goulartd) Costa e Silva e) Jânio Quadros NA MÍDIA FISIOTERAPIA E TERAPIA OCUPACIONAL - HÁ 50 ANOS REABILI- TANDO VIDAS NO BRASIL Ao longo desses 50 anos observamos o amadurecimento, a transforma- ção e o crescimento técnico e científico dessas duas profissões de forma exponencial. O Fisioterapeuta é o profissional da área da saúde respon- sável por devolver a funcionalidade da pessoa, permitindo que ela viva com mais qualidade cada movimento, seja na infância, na vida adulta ou durante o envelhecimento. Como especialista do movimento humano ele compreende os impactos das manifestações das doenças e disfunções no corpo e ajuda a organizá-las, tratando, minimizando incapacidades, corrigindo, cuidando, fortalecendo para que o indivíduo desenvolva suas 31 F U N D A M E N TO S D E F IS IO TE R A P IA - G R U P O P R O M IN A S atividades sem dor ou dificuldades em sua melhor performance possível. Hoje o Fisioterapeuta é profissional de primeiro contato, não necessário encaminhamento de outros profissionais para buscar os seus serviços, não tendo subordinação a qualquer outra profissão da saúde. Através do seu diagnóstico ele prescreve seu próprio tratamento e define juntamente com seu paciente a sua conduta clínica. Essa é a identidade da Fisiotera- pia, seu DNA e queremos continuar evoluindo em prol de uma sociedade com mais qualidade de vida por mais 50 anos. Fonte: G1 Data: 14 de out. 2019 Leia a Notícia na íntegra: https://g1.globo.com/mt/mato-grosso/especial- -publicitario/conselho-regional-de-fisioterapia/noticia/2019/10/14/fisiotera- pia-e-terapia-ocupacional-ha-50-anos-reabilitando-vidas-no-brasil.ghtml. NA PRÁTICA O Fisioterapeuta, ao longo da sua formação profissional, enfrenta grandes desafios. Valorização e reconhecimento são lutas que a categoria enfrenta desde que os primeiros profissionais se formaram, entenderam que reabili- tar vai além de executar técnicas. Conhecer a origem dos julgamentos tec- nicistas da fisioterapia, ainda praticado por profissionais de outras áreas, possibilita ao fisioterapeuta argumentar e impor os direitos que lhe cabe. Aquele profissional que não conhece as origens da profissão, não será capaz de compreender seu objeto de trabalho, tampouco valorizar as con- quistas adquiridas ao longo do tempo. Uma formação voltada para execu- ção de técnicas, faz parte da história da profissão, uma história em que a autonomia não fazia parte do contexto vivenciado pelos profissionais. A formação do fisioterapeuta como profissional da área da saúde, não pode se limitar a tratar a doença. Para entender isso, é necessário con- frontar a realidade da profissão nos primórdios de sua existência com a complexidade na qual o profissional deve estar preparado para atuar. Contextualizar e adaptar os conhecimentos adquiridos nesta unidade, proporcionará autonomia profissional, garantida por lei, na prática. Para compreender um como um fato ocorreu é necessário utilizar os vestí- gios deixados no passado. PARA SABER MAIS Filme sobre o assunto: A Primeira Guerra Mundial foi positiva para a Medicina? Acesse os links: https://www.nato.int/docu/review/2014/war-medicine/ WWI-WW1-Health-care-medicine/PT/index.htm 32 F U N D A M E N TO S D E F IS IO TE R A P IA - G R U P O P R O M IN A S BIOÉTICA: UMA BREVE HISTÓRIA, CONCEITOS E DEFINIÇÃO Após o término da segunda Guerra Mundial, registros e relatos de crimes e atrocidades, praticadas por médicos nazistas nos campos de concentração, vieram à tona. Pesquisas e fotos com experimentos cruéis realizados nos prisioneiros, deram início a um longo e importante julgamento dos médicos que praticam esses crimes em nome da ci- ência. O Julgamento teve início em 1947 e se prolongou até 1949, foi necessário reunir uma corte formada por juízes dos Estados Unidos, na cidade de Nuremberg, na Alemanha (LOPES, 2014). Esse fato histórico conhecido como Julgamento de Nurem- berg, resultou na elaboração de um conjunto de preceitos éticos, prin- cipalmente no que tange às pesquisas clínicas envolvendo pessoas, BIOÉTICA E ASPECTOS LEGAIS DA PROFISSÃO F U N D A M E N TO S D E F IS IO TE R A P IA - G R U P O P R O M IN A S 32 33 F U N D A M E N TO S D E F IS IO TE R A P IA - G R U P O P R O M IN A S conhecido como código de Nuremberg (Nuremberg code, 1949). Um dos grandes juristas brasileiros e professor de grandes instituições de ensino de direito, descreveu a importância do julgamento e seu legado, em um estudo publicado em 2012: Nuremberg foi a base do atual Tribunal Penal Internacional, órgão capaz de julgar pessoas que cometem crimes contra a humanidade, crimes contra a paz e genocídio. Ele representou o primeiro passo na tentativa de preserva- ção dos direitos humanos (ROCHA, 2012 Apud LOPES 2014). Filme sobre o assunto: O Julgamento de Nuremberg - 2000 Acesse o Link: https://www.youtube.com/watch?v=qRw1gIp8J_s Observação: grande parte do contexto do filme demonstra o início dos questionamentos acerca dos direitos humanos e de questões éticas, quando a corte contesta os direitos dos acusa- dos. Apesar de ter sido um fato importante para a história e marcar a evolução da humanidade diante dos conceitos bioéticos, o julga- mento foi criticado por ferir o princípio da legalidade. Embora a criação do Código de Nuremberg tenha sido um mar- co histórico e importante para a garantia da ética e dos direitos huma- nos e, apesar de em suas primeiras linhas especificarem que as pes- soas envolvidas em estudos experimentais deveriam ter a autonomia e independência para consentir e compreender o processo dos estudos, experimentos perversos e abusivos foram largamente praticados nos Estados Unidos entre as décadas de 60 e 70. Esse fato ocorrido na medicina Norte-americana, levantou questionamentos sobre os textos do código de Nuremberg e, em 1966, um professor acadêmico chamado Henry Beecher, dotado de um pen- samento progressista citou: “... a ideia de que o consentimento foi obtido assume pouca importância a não ser se o sujeito ou seu responsável tenha a capacidade de compreender o que está sendo feito...” (BEE- CHER, 1966 Apud LOPES, 2014, p.267). Outro fato histórico que marca o início do surgimento da bio- ética no mundo foi a Declaração de Helsinki. Em 1964, a Associação Médica Mundial (AMM) instituiu a Declaração de Helsinki, um documen- to eximido de direitos legais, mas pelo consenso é ainda hoje uma das referências éticas mais importantes para a regulamentação das pesqui- 34 F U N D A M E N TO S D E F IS IO TE R A P IA - G R U P O P R O M IN A S sas envolvendo seres humanos. Após a constatação da insuficiência do tratado de Helsinki, no final da década de 70, o governo e o congresso norte-americanos cria- ram uma comissão encarregada de identificar os princípios éticos. Após alguns anos de pesquisa e desenvolvimento foi instituído o Relatório de Belmont, em 1978. Esse é considerado o principal relatório da história para estabelecer e disseminar os princípios da bioética. A Bioética pode ser definida através do estudo etimológico da palavra, formada por dois étimos gregos: Bio – que se refere a todos os seres vivos e ethike – que posteriormente se transformou em ethos – que significa costumes e/ou hábitos fundamentais, valores, idéias ou crenças, características de uma determinada coletividade (LOPES, 2014). Dessa forma, a Bioética foi definida pela enciclopédia de Bioé- tica, em 1995, baseada nos estudos de Van Rensselaer Potter (1970) como: “o estudo sistemático da conduta humana na área das ciências da vida e da saúde, enquanto essa conduta examinada à luz de valores e princípios morais” (PESSINI, 2013,p. 33). Grandes nomes da medicina e da educação, já baseavam seus pensamentos e condutas nos conceitos bioéticos antes mesmo deles serem definidos. Em 1927, na Alemanha, Fritz Jahr, pastor protestante, filósofo e educador citou: “Respeite todo ser vivo, comoprincípio e fim em si mesmo e trate-o, se possível enquanto tal” (JAHR, 1927 Apud PESSINI, 2013, p. 32). Carl Gustav Jung , um psicanalista suíço, também à frente do seu tempo e tendo como objeto de estudo o comportamento humano, citou algumas vezes frases que hoje são compatíveis com os conceitos bioéticos, que vieram a ser definidos cerca de 20 anos após a sua morte. A Bioética oferece contribuições para a tomada de decisão do profissional referente à questões relacionadas à saúde, vida, morte, dig- nidade, solidariedade, confidencialidade, privacidade, vulnerabilidade, responsabilidade, qualidade de vida e humanização do atendimento na saúde (KOVÁCS, 2003). Para entender o contexto da Bioética é neces- sário conhecer alguns dos conceitos principais para depois compreen- der os princípios da ideologia em que a bioética se fundamentou para nortear a conduta dos profissionais de saúde de todo o mundo. 35 F U N D A M E N TO S D E F IS IO TE R A P IA - G R U P O P R O M IN A S Os 4 princípios universais que regem a bioética são: autono- mia, beneficência, não maleficência e justiça. Após o entendimento do contexto acerca da bioética, ela pode ser conceituada como um estudo interdisciplinar no âmbito das ciências da vida e da atenção à saúde com objetivo de orientar as tomadas de decisões, formulação de juízos práticos sobre as escolhas, decisões voltadas para o juízo de valor e atos sobre princípios morais. BIOÉTICA NO BRASIL A Bioética no Brasil é marcada por um início tardio, por volta da década de 1990. Isso ocorreu porque nas décadas de 1980 e 1990 o Brasil passava pelo período do regime militar, até que se conquistou a democra- cia. A democratização do país, levantou questões éticas que influenciaram na criação da Constituição da República Federativa do Brasil, sendo um dos highlights dessa constituição a consideração dos Direitos Humanos. Como consequência à constituição de 1988, um novo código de ética da Medicina foi elaborado, dessa vez, considerando questões éticas inovadoras para o país, porém já praticadas nos países pioneiros. Foi a partir disso que houve as primeiras defesas sobre a necessidade da criação de comitês de ética em pesquisa. Em 1995 -1996, o conselho nacional, vinculado ao ministério da saúde, aprovou através da resolução 196/96, a criação dos comitês de éti- ca em pesquisa. O assunto tomou grandes proporções, em 2010 havia cer- 36 F U N D A M E N TO S D E F IS IO TE R A P IA - G R U P O P R O M IN A S ca de 600 comitês de ética e pesquisa cadastrados na Comissão Nacional de ética e pesquisa - CONEP (BRASIL, 1996). Essas diretrizes eram mar- cadas por conteúdos bioéticos que ganharam cada vez mais força, abrindo espaço para o surgimento da Sociedade Brasileira de Bioética (SBB) na década de 90, pela UNESP (Universidade Estadual Paulista). Ainda na década de 1990, foi publicada a primeira Revista de Bioética do Conselho Federal de Medicina, que tornou o assunto mais acessível a todos os profissionais de saúde, repercutindo de forma po- sitiva e permitindo questionamentos sobre a prática de saúde no país. Já no século XXI, a discussão no país sobre a necessidade de imple- mentar modelos bioéticos, no que diz respeito às questões sociais e sanitárias, ganharam cada vez mais força. A partir dessas questões, iniciaram-se os esforços para garantir a universalidade de acesso aos benefícios tecnológicos e científicos a todos. Entre os dias 6 e 8 de abril e, posteriormente, de 20 a 24 de ju- nho de 2005, em Paris, o Brasil, representado pela SBB e pela Delegação oficial do país na UNESCO, chefiada pelo Embaixador Antonio Augusto Dayrell de Lima, secundado pelo Ministro Luiz Alberto Figueiredo Macha- do e pelo Secretário Álvaro Luiz Vereda de Oliveira, apresentou contri- buições importantes que culminaram na criação da Declaração Univer- sal Sobre Bioética dos Direitos Humanos, reconhecendo a influência do contexto socioeconômico e cultural, além de tornar as questões de saúde pública como questões próprias da bioética (UNESCO, 2005). Durante muitos anos, a Fisioterapia fundamentou sua atuação no modelo deontológico, limitando a atuação profissional ao código de ética e a questões legais. As questões bioéticas relacionadas às práti- cas clínicas do fisioterapeuta ainda são rudimentares. Existem relatos do crescimento de questões bioéticas na fisioterapia, à partir de 2002, enquanto nos Estados Unidos os profissionais da área atuam em mode- los baseados na bioética desde 1970 (LORENZO, 2013). A CRIAÇÃO DO COFFITO, CREFITO E DO CÓDIGO DE ÉTICA E DEONTOLOGIA DA FISIOTERAPIA E TERAPIA OCUPACIONAL Após a regulamentação da profissão em 1969, fez-se necessá- ria a criação de autarquias fiscalizadoras para garantir as prerrogativas e regular a atuação profissional. Dessa forma, no dia 17 de dezembro de 1975, a Lei N. 6.316 decretada pelo congresso nacional e sanciona- da pelo presidente, criou os Conselhos Federal e Regional de Fisiote- rapia e Terapia Ocupacional (COFFITO e CREFITO) (BRASIL, 1975). 37 F U N D A M E N TO S D E F IS IO TE R A P IA - G R U P O P R O M IN A S Quadro 1: LEI 6.316 DE 17 DE DEZEMBRO DE 1975 QUE CRIA O COFFITO E CREFITO Fonte: Diário Oficial da república Federativa do Brasil, Brasília, 18 dez,1975. Seção 1, p 2. Deve-se destacar que a Fisioterapia e a Terapia Ocupacional estão juntas no mesmo conselho devido ao fato de haver insuficiência no número de profissionais fisioterapeutas, com formação acadêmica reconhecida, para a criação de um conselho. Sendo assim, foi neces- sário unir as duas profissões para que fosse aprovada a sua criação. A criação dos conselhos de classe das duas profissões foi uma conquis- ta decisiva para o crescimento da profissão. A primeira presidente do COFFITO foi a fisioterapeuta Sônia Gusman, que enfrentou grandes obstáculos para normatizar a fisioterapia. Outro fato que corroborou para a união e fortalecimento da Fisioterapia e Terapia Ocupacional, foi a criação da Associação Pro- fissional em 1980, após ser expedida a carta sindical do Ministério do Trabalho. Logo em seguida, a Associação se transformou no SINFITO (Sindicato dos Fisioterapeutas e Terapeutas Ocupacionais), cujo objeti- vo é garantir e defender os direitos trabalhistas da classe. Conhecer a função de cada órgão é muito importante para saber a qual deles recorrer quando for necessário. Muitos fisio- terapeutas não sabem a diferença da atuação do CREFITO e do SINFITO. O Conselho Regional, tem como função principal, fiscali- zar o fisioterapeuta e proteger a sociedade contra as más práticas relacionadas à profissão. A entidade responsável por defender os direitos trabalhistas do fisioterapeuta é o sindicato, SINFITO. 38 F U N D A M E N TO S D E F IS IO TE R A P IA - G R U P O P R O M IN A S Em 10 de julho de 1978, (todavia somente publicado no Diário Oficial da União (D.O.U) em 22 de julho de 1978), após a 1ª sessão, foi aprovado o Código de Ética e Deontologia da Fisioterapia e Terapia Ocupacional pela resolução Nº10, de 03 de julho de 1978. Os conhe- cimentos acerca da bioética eram limitados, dessa forma, o código de ética da profissão apreciava apenas a conduta profissional baseada nos conceitos deontológicos , sem considerar a abordagem humanizada su- gerida pela bioética (BRASIL, 1978). O objetivo principal do código de ética profissional é regular as relações entre os profissionais da mesma classe e entre os profissionais e a comunidade, visando solucionar conflitos éticos que surgem durante a prática profissional. É imprescindível que todo profissional em pleno gozo das suas atribuições, conheça o código de ética bem como os princípios bioéticos. O profissional fisioterapeuta deve buscar através dos conheci- mentos do código de ética e dos princípios bioéticos, estabelecer julgamen- to moral para embasar a tomada de decisão em um contexto que envolve o paciente. Cercade 30 anos após a criação do primeiro código de ética, que contemplava as profissões de Fisioterapia e Terapia Ocupacional no mesmo código, foi observada a necessidade de reformulação dos textos e separação das profissões. Dessa forma, a nova versão ganhou mais elementos de caráter bioético, conferindo mais autonomia ao pa- ciente durante o tratamento. O Código de Ética e Deontologia da Fisioterapia, é previsto em lei pela resolução 424, de 08 de julho de 2013, D.O.U Nº 147, seção 1 de 01/08/2013. Vale ressaltar que grande parte do conteúdo do novo có- digo de ética, ainda se baseou nos conselhos deontológicos, porém, as questões humanistas caracterizadas pela conduta bioética estão mais evidentes nessa atualização. Essas mudanças marcam uma nova era da profissão, além de um ganho incalculável para a sociedade. É obri- gatório ao profissional conhecer o código de ética e deontologia, para atuar em conformidade com as leis (BRASIL, 2013). O Código de Ética em Vigor, foi subdividido em onze capítulos. O primeiro capítulo trata das disposições preliminares, cujo objetivo é especificar as competências e conferir obrigações dos conselhos e do profissional. Sendo assim, foi conferido ao Conselho Federal a juris- prudência e aos Conselhos Regionais a observância das diretrizes do código de ética, além de ser o órgão julgador em primeira instância, em caso de uma audiência ético-disciplinar. Ao profissional é obrigatório o conhecimento do código de ética profissional e as infrações por este cometida estão sujeitas a penas disciplinares. 39 F U N D A M E N TO S D E F IS IO TE R A P IA - G R U P O P R O M IN A S Quadro 2: Resolução nº 424, de 08 de julho de 2013. Capítulo I - Disposições Preliminares Fonte: COFFITO, 2013. O segundo capítulo, composto por 8 artigos, trata das respon- sabilidades fundamentais e normatiza as regras para atuação profis- sional. Esse capítulo também dispõe da responsabilidade sobre a ca- pacidade técnica, garantindo o princípio da não-maleficência; indica a responsabilidade do fisioterapeuta sobre imperícia , imprudência e ne- gligência ; garante o princípio de obrigatoriedade de comunicação em caso de conhecimento de infração ética, crime ou contravenção; além de outras atribuições e proibições do profissional. Quadro 3: Resolução nº 424, de 08 de jul de 2013. Cap. II – Responsabilida- des Fundamentais. 40 F U N D A M E N TO S D E F IS IO TE R A P IA - G R U P O P R O M IN A S Fonte: COFFITO, 2013. O terceiro capítulo diz respeito à relação terapeuta-paciente. Destaca também a obrigatoriedade de realizar o diagnóstico fisiotera- pêutico; zelar pelo prontuário do paciente; deveres fundamentais do profissional relacionado à assistência e proibições ao profissional com relação ao paciente em tratamento. Quadro 4: Resolução nº 424, de 08 de jul de 2013. Cap. III- Do Relaciona- mento com o Cliente/Paciente/Usuário. 41 F U N D A M E N TO S D E F IS IO TE R A P IA - G R U P O P R O M IN A S Fonte: COFFITO, 2013. Dois artigos do quarto capítulo devem ser destacados pelo alto índice de descumprimento: o artigo 13º é hoje o responsável pelo maior número de autuações realizadas pelo CREFITO-4, e diz respeito à falta de zelo pelo prontuário. Outro que vem sendo infrin- gido por muitos fisioterapeutas é artigo 15º inciso V, onde fica de- clarado que é proibido ao profissional divulgar informações sobre o paciente e fotos com resultados de tratamento (“Antes e Depois”). O quarto capítulo discorre sobre o relacionamento em equipe, seja ela multiprofissional ou não. Além disso, esse capítulo faz referên- cia a comportamentos ofensivos a outros profissionais ou que possa ofender também a reputação moral, científica e mesmo política. Quadro 5: Resolução nº 424, de 08 de julho de 2013. Cap. IV- Do Relaciona- mento com a equipe. Fonte: COFFITO, 2013. 42 F U N D A M E N TO S D E F IS IO TE R A P IA - G R U P O P R O M IN A S O quinto capítulo faz menção às regras acerca das responsabi- lidades no exercício da fisioterapia. Neste capítulo é regulada a atuação do profissional frente ao SUS; a responsabilidade do profissional em manter e promover a valorização profissional. Além disso, ele apresenta normas muitas vezes desconhecidas e, com isso, diversos profissionais atentam contra o código de ética. Quadro 6: Resolução nº 424, de 08 de jul. de 2013. Cap. V- Das Responsabi- lidades do Exercício Da Fisioterapia. Fonte: COFFITO, 2013. No sexto capítulo, são abordadas questões do sigilo profissio- nal, pois as informações relacionadas ao paciente só podem ser cedi- das pelo fisioterapeuta a outras pessoas que não o próprio paciente ou seu responsável, através de demanda judicial ou outra demanda legal. 43 F U N D A M E N TO S D E F IS IO TE R A P IA - G R U P O P R O M IN A S Quadro 7: Resolução nº 424, de 08 de julho de 2013. Cap. VI- Do Sigilo Pro- fissional. Fonte: COFFITO, 2013. O sétimo capítulo aborda brevemente questões relativas às en- tidades de classe, e faz recomendações sobre a relação de respeito que o profissional deve ter com a entidade que o representa. O oitavo capítulo aborda questões dos honorários. Por muitos anos alguns fisioterapeutas cobravam valores ínfimos por seus servi- ços, esse fato colaborou para a desvalorização da profissão, e então, fez-se necessário estabelecer uma tabela de honorários, que indica valores mínimos a serem cobrados por procedimentos e consultas de fisioterapia em todas as áreas de atuação. O Referencial Nacional de Procedimentos - RNPF aprovado através da Resolução COFFITO nº 428 de 08 de julho de 2013, aponta o coeficiente de valoração (CV) e deve ser respeitado por todos os pro- fissionais da área, dessa forma, há um resguardo contra a concorrência desleal e contribui para a valorização profissional. Quadro 8: Resolução nº 424, de 08 de julho de 2013. Cap. VIII- Dos Honorários. Fonte: COFFITO, 2013. O nono capítulo é de interesse, principalmente, dos fisioterapeu- tas envolvidos na docência, preceptoria, pesquisas e publicações. Esse capítulo sofreu diversas alterações na nova versão do código de ética, com intuito de atender às questões bioéticas relacionadas às pesquisas. A nova versão do código de ética da fisioterapia, em seu dé- cimo capítulo, também contempla questões relativas à divulgação pro- fissional em meios digitais. Esse capítulo regulamenta a utilização da internet para essa finalidade e garante o respaldo legal ao profissional. O último capítulo aborda as disposições gerais, nele são des- critas as penalidades em caso de infração bem como o período de pres- 44 F U N D A M E N TO S D E F IS IO TE R A P IA - G R U P O P R O M IN A S crição dos atos infracionais e as regras para instauração dos processos disciplinares. Quadro 9: Resolução nº 424, de 08 de jul. de 2013. Cap. X- Da Divulgação Profissional Fonte: COFFITO,2013. HABILIDADES E COMPETÊNCIAS DO FISIOTERAPEUTA A resolução nº CNE/CES 4, de 19 de fevereiro de 2002, ins- titui as Diretrizes Curriculares Nacionais do curso de Fisioterapia. Es- sas diretrizes visam garantir ao aluno egresso das instituições de en- sino superior adquirir as habilidades e competências suficientes para o exercício da profissão. A complexidade e a autonomia conquistadas pelo fisioterapeuta, ao longo dos anos, exige que o profissional possua competência para atuar em todos os níveis de atenção à saúde, isso significa, que junto das conquistas alcançadas, o profissional adquiriu grandes responsabilidades e deve zelar por elas (BRASIL, 2002). O profissional fisioterapeuta, ao se formar, deve deter habili- dades manuais, diagnósticas e ser capaz de conduzir com empatia e de forma humanizada os atendimentos de fisioterapia. Cabe ainda, ao fisioterapeuta, desenvolver uma visão ampla e global, respeitando os princípios éticos, culturais, bioéticos, individuais e de coletividade.Ele deve ser capaz de desenvolver estudos e atuar na restauração e manu- tenção do movimento humano, repercussões orgânicas e psicossociais que venham refletir nos sistemas corporais e, consequentemente, na saúde do indivíduo (LADEIRA, 2018). Após a formação, espera-se do profissional fisioterapeuta ca- pacidades para atuar de forma transdisciplinar, avaliar e tratar o pa- ciente como um indivíduo composto por organismos indivisíveis, apesar da fragmentação didática, e considerar os aspectos biopsicossociais. 45 F U N D A M E N TO S D E F IS IO TE R A P IA - G R U P O P R O M IN A S O quarto artigo estabelece seis competências e habilidades gerais do fisioterapeuta, quais sejam: I) atenção à saúde; II) tomada de decisão; III) comunicação; IV) Liderança; V) administração e gerenciamento; VI) Educação Permanente (BRASIL, 2002). Quadro 10: Nº CNE/CES 4 de 19 de fevereiro de 2002 – Artigo 5º Fonte: Diário Oficial da União, Brasília, 4 de março de 2002. Seção 1, p. 11 O artigo 5º estabelece dezessete competências e habilidades específicas que o Fisioterapeuta deve desenvolver para ser capaz de atuar. Entre todas as habilidades estabelecidas, as principais encon- tram-se listadas no quadro 10. Conhecer a fundo essas competências de habilidades permi- te ao profissional avaliar sua capacidade de realizar algumas delas e, em caso negativo, deve buscar aprimoramento. A autocrítica deve ser praticada por todos os profissionais. Muitos fisioterapeutas sequer co- nhecem o fato de que estão habilitados a solicitar exames, elaborar pareceres, laudos e atestados, tampouco sabem fazê-los. Antes que esse fato representa prejuízos à sociedade ou ao próprio fisioterapeuta, é importante que o profissional se capacite. 46 F U N D A M E N TO S D E F IS IO TE R A P IA - G R U P O P R O M IN A S LEGISLAÇÃO APLICADA À FISIOTERAPIA – LEIS E DECRETOS O desenvolvimento profissional do fisioterapeuta abriu espaços para atuação em diversas áreas. Com o passar dos anos eles assumiram demandas e se especializaram em técnicas à medida que a necessida- de da população foi surgindo. Dessa maneira, os profissionais foram se segmentando em áreas de atuação, conforme identificação individual, e se especializando no assunto. Observando essa tendência crescente, os órgãos regulamentadores da profissão criaram as especialidades. Atualmente, existem 15 especialidades regulamentadas da fi- sioterapia. É importante lembrar que o profissional que se intitula es- pecialista em uma área não regulamentada está ferindo o código de ética, estando sujeito a ação ético-disciplinar. Essa situação atualmente é muito observada quando se trata do Pilates. A RESOLUÇÃO n° 386, de 08 de junho de 2011, regulamenta a utilização do método pelo fisio- terapeuta, porém, não como uma especialidade, portanto, não há como um profissional se intitular fisioterapeuta especialista em Pilates. Quadro 11: Especialidades da Fisioterapia reconhecidas pelo COFFITO 47 F U N D A M E N TO S D E F IS IO TE R A P IA - G R U P O P R O M IN A S Fonte: COFFITO,2020. É importante ressaltar que existem normas e procedimentos definidos pela RESOLUÇÃO COFFITO nº. 377, de 11 de junho de 2010, para concessão de títulos de especialistas. O profissional precisa cum- prir uma série de requisitos, além de se submeter a uma prova, realiza- da anualmente pelo COFFITO. Essa prova é realizada em três etapas: prova objetiva, prova discursiva e prova de títulos. Outra lei importante que se aplica ao fisioterapeuta é a LEI No 8.856, DE 1º DE MARÇO DE 1994, que fixa a jornada máxima de trabalho do profissional fisioterapeuta e terapeuta ocupacional em 30h semanais. Essa lei foi sancionada pelo presidente, na época Itamar Franco, tendo em vista a grande demanda corporal do profissional, a fim de não com- prometer a qualidade do serviço prestado, essa carga horária máxima foi estabelecida. Ainda, é comum ver os conselhos regionais entrando com ações judiciais para alterar editais de concursos públicos, principalmen- te municipais, desrespeitando essa lei. Todo profissional deve denunciar tais irregularidades para que os responsáveis sejam notificados a retificar. Para garantir a segurança do fisioterapeuta e do paciente, o CO- FFITO estabeleceu, através da RESOLUÇÃO Nº 414/2012 de 23 de maio de 2012, a obrigatoriedade do registro em prontuário de toda assistência prestada por ele ao paciente. Deve ser redigido de forma legível, com termi- nologia adequada, constando todos os dados pessoais do paciente e deve estar acessível a esse bem como a seu responsável legal. Essa resolução dispõe ainda da infração caso o prontuário não seja apresentado no mo- mento da fiscalização dentro dos parâmetros estabelecidos pelo conselho. A Inserção do fisioterapeuta como profissional integrante e in- dispensável no Sistema Único de Saúde, bem como no NASF, núcleo de apoio à saúde da família, foi regulamentada em 2002, através da LEI Nº 10.424, DE 15 DE ABRIL DE 2002, que normatiza a assistência domiciliar do fisioterapeuta no SUS. O conhecimento da legislação aplicada à profissão, permite ao profissional identificar os deveres e limites de sua atuação, além de fazer valer os direitos conquistados pela profissão ao longo dos anos. Apesar da importância dessa área, esse ainda é um grande entrave. Desde as civilizações mais antigas, o homem percebeu a necessida- de de estabelecer regras e normas para tornar pacífica a convivência em grupo. A Fisioterapia conquistou uma legislação própria, cabe ao Fisioterapeuta compreender e praticar suas ações baseadas no conhe- cimento amplo e suficiente da legislação, ética e bioética. 48 F U N D A M E N TO S D E F IS IO TE R A P IA - G R U P O P R O M IN A S QUESTÕES DE CONCURSOS QUESTÃO 1 Ano: 2018 Banca: FCC Órgão: PM-AP Prova: FCC-2018 PM-AP 2º Tenente Fisioterapeuta Nível: Superior. Com base no código de ética, é proibido ao fisioterapeuta: a) Respeitar o princípio bioético de autonomia, beneficência e não ma- leficência do cliente/paciente/usuário de decidir sobre a sua pessoa e seu bem-estar. b) Informar ao cliente/paciente/usuário quanto à consulta fisioterapêuti- ca, diagnóstico e prognóstico fisioterapêuticos, objetivos do tratamento, condutas e procedimentos a serem adotados, esclarecendo-o ou a seu responsável legal. c) Solicitar para cliente/paciente/usuário sob sua assistência os serviços especializados de colega, e não deve indicar a este, conduta profissional. d) Deixar de cobrar honorários por assistência prestada a colega ou pessoa que viva sob a dependência econômica deste, ressalvado o recebimento do valor do material porventura despendido na prestação da assistência. e) Dar consulta ou prescrever tratamento fisioterapêutico de forma não presencial, salvo em casos regulamentados pelo Conselho Federal de Fisioterapia. QUESTÃO 2 Ano: 2014 Banca: FCC Órgão: TRT – 9ª Região (PR) Prova: FCC - 2010 - TRT - 9ª REGIÃO (PR) - Analista Judiciário - Fisioterapia Nível: Superior. O artigo que NÃO pertence ao Código de Ética Profissional da Fi- sioterapia é: a) Art. 23. O fisioterapeuta e/ou terapeuta ocupacional solicitado para cooperar em diagnóstico ou orientar tratamento considera o cliente como permanecendo sob os cuidados do solicitante. b) Art. 12. O fisioterapeuta e o terapeuta ocupacional comunicam ao Conselho Regional de Fisioterapia e Terapia Ocupacional recusa ou de- missão de cargo, função ou emprego, motivada pela necessidade de preservar os legítimos interesses de suas profissões. c) Art. 9º. O fisioterapeuta e o terapeuta ocupacional fazem o diagnós- tico fisioterápico e/ou terapêutico ocupacional e elaboram o programa de tratamento. d) At. 18. É dever do fisioterapeuta e do terapeuta ocupacional: pertencer a uma entidade associativa da respectiva classe nacional, de caráter cul- tural e/ou sindical, da jurisdição onde exerce sua atividade profissional. e) Art. 15. O fisioterapeuta
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