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INTRODUÇÃO À SOCIOLOGIA WELLINGTON CARDOSO DE OLIVEIRA INTRODUÇÃO À SOCIOLOGIA GOIÂNIA 2019 CRÉDITOS INSTITUCIONAIS Instituição Mantenedora Organização Cultural Educacional Filantrópica (OCEF) Instituição Mantida Faculdade Assembleiana do Brasil (FASSEB) Curso de Graduação em Teologia a Distância Diretor Geral Diretor Acadêmico Coordenadora do Curso de Teologia a Distância Coordenador do programa de Pós-Graduação Coordenadora da Área de Extensão Secretária acadêmica Bibliotecário Coordenadora do Ensino a Distância Administrador e Coordenador Tecnológico Analista de Sistemas Tutoria a distância e presencial Coordenadora da equipe multidisciplinar Materiais didáticos Webdesigner e Webdiagramador Orientadora pedagógica Revisão de conteúdo Revisão pedagógica Suporte Moodle Lucas Luiz Almeida Costa Rogeh Alves Bueno Lázara Divina Coelho Eurípedes Pereira de Brito Diessyka Fernanda Monteiro Paula Rudimila de Jesus Veríssimo Dannilo Ribeiro Garcês Bueno Lázara Divina Coelho Izaque Carriço Ferreira Izaque Carriço Ferreira Corpo docente da FASSEB Lázara Divina Coelho Equipe multidisciplinar Carmelo Ardaya Equipe Pedagógica Equipe Teológica Equipe Pedagógica Alessandro Nunes da Silva Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) O482i Oliveira, Wellington Cardoso de. Introdução à sociologia / Wellington Cardoso de Oliveira – Goiânia: FASSEB, 2019. 188 p.; il.; 22 cm. ISBN 978-65-80606-01-6. 1. Sociologia. 2. Sociologia – Introduções. 3. Sociologia contemporânea. 4. Sociologia e religião. 5. Sociologia da religião. I. Título. CDU: 316 Catalogação: Dannilo Ribeiro Garcês Bueno, Bibliotecário, CRB-1: 2162 4 SUMÁRIO APRESENTAÇÃO 6 META 6 OBJETIVOS 7 ESTRUTURA DA DISCIPLINA 7 MÓDULO I: O SURGIMENTO DA SOCIOLOGIA COMO CIÊNCIA 8 UNIDADE I: O SURGIMENTO DA SOCIOLOGIA COMO CIÊNCIA 10 AULA 1: A IMPORTÂNCIA DA SOCIOLOGIA PARA SUA FORMAÇÃO COMO TEÓLOGO 10 AULA 2: A DIFÍCIL RELAÇÃO ENTRE RELIGIÃO E CIÊNCIA NO SÉCULO XIX 18 UNIDADE II: O CONTEXTO DE SURGIMENTO DA SOCIOLOGIA 31 AULA 3: O CONTEXTO DE SURGIMENTO DA SOCIOLOGIA 31 AULA 4: O DARWINISMO SOCIAL E A EUROPA DO SÉCULO XIX 42 MÓDULO II: A SOCIEDADE VISTA PELOS CLÁSSICOS DA SOCIOLOGIA 55 UNIDADE III: OS CLÁSSICOS DA SOCIOLOGIA 58 AULA 5: CLÁSSICOS DA SOCIOLOGIA – EMILE DURKHEIM E OS FATOS SOCIAIS 58 AULA 6: CLÁSSICOS DA SOCIOLOGIA – MAX WEBER E A AÇÃO SOCIAL 69 UNIDADE IV – OS CLÁSSICOS DA SOCIOLOGIA E A RELIGIÃO 80 AULA 7: CLÁSSICOS DA SOCIOLOGIA – KARL MARX E O AS LUTAS DE CLASSE 80 AULA 8: A RELIGIÃO NOS CLÁSSICOS DA SOCIOLOGIA 91 MÓDULO III: AS DIFERENTES SOCIEDADES E SUAS COMPLEXAS ORGANIZAÇÕES 103 UNIDADE V: AS SOCIEDADE E SUAS ORGANIZAÇÕES 105 AULA 9: A CONVIVÊNCIA HUMANA E AS RELAÇÕES SOCIAIS 105 AULA 10: CULTURA, SOCIEDADE E A DIVERSIDADE HUMANA 116 UNIDADE VI: AS INSTITUIÇÕES E AS MUDANÇAS SOCIAIS 124 AULA 11: AS INSTITUIÇÕES SOCIAIS E AS RELAÇÕES DE PODER 124 AULA 12: AS MUDANÇAS SOCIAIS E A IGREJA 134 file:///D:/Google%20Drive/FASSEB/Apostilas/Introdução%20à%20Sociologia/Livro%20-%20Introdução%20à%20Sociologia.docx%23_Toc27143087 file:///D:/Google%20Drive/FASSEB/Apostilas/Introdução%20à%20Sociologia/Livro%20-%20Introdução%20à%20Sociologia.docx%23_Toc27143094 file:///D:/Google%20Drive/FASSEB/Apostilas/Introdução%20à%20Sociologia/Livro%20-%20Introdução%20à%20Sociologia.docx%23_Toc27143101 file:///D:/Google%20Drive/FASSEB/Apostilas/Introdução%20à%20Sociologia/Livro%20-%20Introdução%20à%20Sociologia.docx%23_Toc27143101 5 MÓDULO IV: A SOCIOLOGIA CONTEMPORANEA E AS TRANSFORMAÇÕES SOCIAIS 144 UNIDADE VII: A SOCIOLOGIA CONTEMPORÂNEA 146 AULA 13: EDUCAÇÃO, SOCIEDADE E AS TRANSFORMAÇÕES SOCIAIS 146 AULA 14: A IGREJA NO CONTEXTO URBANO 156 UNIDADE VIII: A CONSTRUÇÃO DA CIDADANIA NO BRASIL 164 AULA 15: CIDADANIA E DIREITOS SOCIAIS NO BRASIL 164 AULA 16: REVISANDO OS CONCEITOS ESTUDADOS 178 REFERÊNCIAS 187 MINICURRÍCULO DO AUTOR 188 file:///D:/Google%20Drive/FASSEB/Apostilas/Introdução%20à%20Sociologia/Livro%20-%20Introdução%20à%20Sociologia.docx%23_Toc27143108 file:///D:/Google%20Drive/FASSEB/Apostilas/Introdução%20à%20Sociologia/Livro%20-%20Introdução%20à%20Sociologia.docx%23_Toc27143108 6 APRESENTAÇÃO A disciplina Introdução à Sociologia foi pensada para ser desenvolvida durante 4 (quatro) semanas de aulas; para cada semana de aulas foram pensados temas que se relacionam entre si, com a finalidade de discutirmos, aprendermos e, ao mesmo tempo, pensarmos que caminhos a sociedade vem tomado nas últimas décadas e o papel da igreja nesse contexto social marcado por inconstâncias. Assim, a disciplina não se limita a um único tema, mas procurará, dentro de cada aula, trazer para discussão temas correntes na sociedade atual. Isso lhe ajudará a refletir enquanto teólogo, e ao mesmo tempo lhe dará base para que saiba e compreenda a sociedade em suas diversas facetas, não ficando alheio a dinâmica social, uma vez que a sociedade passa por constantes adaptações e transformações, o que interfere diretamente na visão de mundo de cada indivíduo enquanto ser social. Os textos de cada aula foram escritos tendo diversos autores como referência, por isso proponho que, ao estudar cada lição, você se atenha ao que lhe ajude enquanto acadêmico em sua formação. E que também procure enquanto futuro teólogo refletir sobre esses temas dentro de uma visão não só científica como também cristã. Para isso, sugiro que utilize os conhecimentos que você já vem adquirindo nas outras disciplinas e ao longo de seu processo de formação. Como os textos-base da disciplina são curtos, é imprescindível que você busque alternativas como textos, artigos, revistas e dicionários que possam lhe auxiliar durante sua trajetória de estudos e que serão indicados no final de cada aula ou dentro do próprio texto. Por fim, espero que esta disciplina consiga lhe fascinar ao ponto de despertar em você interesse por estudos mais profundos sobre a sociedade de uma forma em geral. META • Analisar os principais temas da Sociologia, compreendendo sua relação com o mundo e a igreja. 7 OBJETIVOS Esperamos que, no final dessa disciplina, você seja capaz de: • Compreender as principais correntes sociológicas e sua influência no pensamento social; • Avaliar os principais temas sociais e os desdobramentos destes para a fé cristã; • Analisar os principais desafios enfrentados para a sociedade atual e o lugar da igreja nesse contexto; • Discutir e opinar sobre os diversos temas sociais a partir das reflexões que as aulas lhe possibilitarão. ESTRUTURA DA DISCIPLINA A disciplina Introdução a Sociologia está dividida em quatro Módulos e foi pensada para ser desenvolvida no decorrer de 4 (quatro) semanas de aulas. Dessa forma, seguir criteriosamente as indicações de cada aula que disponível abaixo será de suma relevância para sua formação acadêmica. 8 MÓDULO I: O SURGIMENTO DA SOCIOLOGIA COMO CIÊNCIA 9 INTRODUÇÃO Prezado aluno, neste Módulo estudaremos o contexto em que a Sociologia se desenvolveu e seus principais pensadores. A proposta é que você compreenda bem suas quatro aulas, pois são a base para os próximos Módulos e suas aulas. META • Compreender o contexto de surgimento da Sociologia e os clássicos. OBJETIVOS No final deste Módulo você deverá ser capaz de: • Explicar o contexto de surgimento da Sociologia e sua importância para a compreensão dos fenômenos sociais; • Compreenderas principais teorias desenvolvidas por Durkheim, Weber e Marx; • Relacionar a importância da Sociologia para a compreensão da sociedade. ESTRUTURA Este Módulo encontra-se organizado em duas unidades e quatro aulas, como segue: UNIDADE I: O surgimento da Sociologia como Ciência Aula 1: A importância da Sociologia para sua formação como teólogo Aula 2: A difícil relação entre Religião e Ciência no século XIX UNIDADE II: O contexto de surgimento da Sociologia Aula 3: O contexto de surgimento da Sociologia Aula 4: O darwinismo social e a Europa do século XIX. 10 UNIDADE I: O SURGIMENTO DA SOCIOLOGIA COMO CIÊNCIA AULA 1: A IMPORTÂNCIA DA SOCIOLOGIA PARA SUA FORMAÇÃO COMO TEÓLOGO META • Compreender o que é Sociologia e sua importância na formação do teólogo. OBJETIVOS • Compreender a definição do que seja a Sociologia; • Entender qual é o campo de estudo da Sociologia; • Analisar a importância desta disciplina para sua formação como teólogo; • Relacionar a Sociologia com o curso de Teologia, bem como compreender sua relevância enquanto ciência. PARA INÍCIO DE CONVERSA Provavelmente você deve ter ficado curioso ao ver a disciplina de Introdução à Sociologia em sua matriz curricular e deve ter se perguntado sobre a importância dessa disciplina para a sua formação. Ou então deve ter se perguntado o que é Sociologia? Ou o que estuda essa disciplina? Qual a relação dessa disciplina com o curso que está fazendo? Se você fez essas perguntas ou outras em relação a esta disciplina, gostaria de lhe dizer que está no caminho certo. Primeiro, porque ao se perguntar sobre a relevância dessa disciplina, você está demonstrando estar antenado com a sua formação e curioso em compreender como se dará sua formação nesse curso teológico. Esse talvez seja um dos nossos desafios no decorrer desta disciplina, que é pensar 11 justamente na importância de cada tema estudado, relacionando o mesmo com nossa prática cotidiana, seja na igreja, seja no mundo secular. Neste sentido, esta disciplina lhe será de grande relevância ao lhe oportunizar o conhecimento das principais correntes sociológicas e a compreensão de como cada uma delas compreende a sociedade. Portanto, não se esqueça: a sociedade faz parte de uma estrutura complexa que só pode ser compreendida com conceitos sistematizados a partir das ciências humanas da qual a Sociologia faz parte. Em segundo lugar, porque ao se perguntar sobre esta disciplina você está fazendo um exercício característico desta área do saber que é o de relacionar a todo o momento os diversos conceitos e temas trabalhados pela disciplina. Pensar na utilidade dos conceitos e como eles se relacionam com nossa vivência é um desafio de qualquer aluno que faça um curso superior. Seu desafio como estudante é partir de análises que saiam do senso comum e garantam uma interpretação dos fenômenos sociais que partam dos conceitos da Sociologia. Exemplo: no decorrer de sua formação, em diversos momentos, você usará instrumentos da Teologia para compreender e interpretar um texto religioso. No caso da sociedade, ao analisar um dado acontecimento social será necessário que você busque conceitos da Sociologia que lhe possibilitarão a análise ampla e cientifica de dado acontecimento. Assim, o desafio que lhe está posto, é o de sair do senso comum em suas análises sobre a sociedade. COM A PALAVRA, QUEM ENTENDE DO ASSUNTO Ora, uma das preocupações da Sociologia é justamente formar indivíduos autônomos, que se transformem em pensadores independentes, capazes de analisar o noticiário, as novelas da televisão, os programas do dia a dia e as entrevistas das autoridades, percebendo o que se oculta nos discursos e formando o próprio pensamento e julgamento sobre os fatos ou, ainda mais importante, que tenham a capacidade de fazer as próprias perguntas para alcançar um conhecimento mais preciso da sociedade à qual pertencem. (TOMAZI, 2007, p. 7) Para começarmos nossa aula, gostaria de destacar que esta disciplina, como todas as outras que você verá durante o curso, será de suma relevância 12 para a sua formação. Logo, convido você a seguir com seriedade as indicações que serão feitas no decorrer do curso, procurando ler os textos indicados, assistir os vídeos disponibilizados, pois cada um deles foi criteriosamente selecionado para que você tenha a melhor formação durante o tempo que estiver estudando esta disciplina à distância. Destaco, ainda, que os temas escolhidos para estudo nesta disciplina foram pensados a partir de uma seleção do próprio autor com base na ementa do curso e, ao mesmo tempo, tendo como critério a escolha de temas em voga na sociedade. Isso não significa que outros temas que não estejam contemplados nesta disciplina não mereçam sua atenção. Pelo contrário, como a sociedade é dinâmica, pode ser que neste exato momento você esteja estudando um tema que pareça ser desatualizado, ou então, esse mesmo tema pode estar sendo bastante discutido na mídia ou em outros meios de comunicação. Para começarmos a aula de hoje, partiremos da definição do que é Sociologia, procurando responder a pergunta feita no primeiro parágrafo deste texto. Para essa definição, recorremos à fala de Oliveira (2007), que afirma que a Sociologia se caracteriza pelo estudo sistemático do comportamento social do ser humano. Dessa forma, o objeto da Sociologia é o ser humano em suas relações sociais. Ou seja, a Sociologia tem como objeto de estudo o homem enquanto ser social. Logo, parte do princípio de que o homem, enquanto ser social, não se estabelece sozinho, mas nas relações que tem com os seus pares no espaço social. CONCEITO Sociologia – Estuda as relações sociais e as formas de associação, considerando as interações que ocorrem na vida em sociedade. A Sociologia envolve, portanto, o estudo dos grupos e dos fatos sociais, da divisão da sociedade em classes e camadas, da mobilidade social, dos processos de cooperação, competição e conflito na sociedade etc. (OLIVEIRA, 2007, p. 11) [grifo nosso] Poderíamos citar “ciência dos fatos sociais”, “ciência da ação social”, “ciência das relações sociais”, “ciência dos fenômenos sociais”, entre inúmeras outras. No entanto, a definição tem tudo a seu favor: além de ser a mais utilizada, é a que corresponde à etimologia da palavra (socio = social + logia = ciência) e é 13 a que abarca todas as outras definições, visto que as demais sempre se referem ao “social”. (VIANA, 2006, p. 7) Partindo desses dois conceitos, destacamos que a Sociologia parte das relações sociais para compreensão da sociedade. Se atentarmos para o fato de que a sociedade é um organismo complexo e que os fatos que norteiam essa mesma sociedade passam constantemente por mudanças, é preciso observar que essas transformações interferem diretamente na forma com que os seres humanos pensam e agem no contexto onde estão inseridos. Daí, afirmamos que os acontecimentos que se passam nessa sociedade se organizam a partir das dinâmicas instituídas dentro desta mesma sociedade. Assim, a Sociologia se preocupa em estudar as relações que os homens estabelecem no seu meio social. Ao mesmo tempo, procura compreender e explicar como são instituídas as relações de poder no contexto social e o lugar de cada sujeito nessas relações, uma vez que as relações sociais são engendradas por processos de legitimação social que não ocorrem de forma aleatória, antes se firmam a partir do contexto social onde as relações sociais são muito bem definidas e demarcam o lugar de cada indivíduo dentro deste contexto. Do ponto de vista prático, podemos pensar na relação entre Sociologia e Teologia de duas formas. Do ponto de vista científico, as duas se relacionam pelo fato de que ambas, enquanto ciências, buscam compreender através de métodos específicos seu objeto de estudo. Enquanto a Sociologia parte do homem e do queele produz enquanto ser social, a Teologia parte da revelação de Deus aos homens tendo como princípio norteador o texto bíblico. Assim, para o teólogo é através do texto bíblico que Deus revela sua vontade aos homens. Acontece que esse homem é um ser social que se constitui socialmente. Dessa maneira, compreender a sociedade e suas diversas formas de organização se constitui como fator importante para divulgação da revelação de Deus que é uma das preocupações do teólogo. Por outro lado, podemos destacar que enquanto a Teologia procura estudar Deus e a forma como este se relaciona com os homens, a Sociologia parte da premissa de que os homens não vivem sozinhos e que aprendem ao se socializarem com seus pares. Para o teólogo que procura transmitir a revelação de Deus, é importante conhecer esse homem à medida que a revelação é direcionada a ele. Entender sua forma de organização e como este homem se constitui enquanto ser humano é fundamental para toda e qualquer empreitada do teólogo junto à sociedade. 14 Isso fica claro ao percebermos que cada sociedade se organiza de forma diferenciada, estabelecendo regras, valores e sentimentos sociais que são construídos coletivamente. Se olharmos a forma de organização social das diferentes regiões do Brasil, com toda a sua diversidade cultural, perceberemos que esta não se constitui semelhante à organização social do país chamado Guiné Bissau, ou muito menos daquela do Canadá. Ou seja, por mais que existam traços culturais que se assemelham, é fato que as diferentes sociedades se constituem, se organizam e se estabelecem de forma autônoma e diferenciada. Pensando assim, Costa afirma que: A sociedade tem características que precisam ser conhecidas para que aqueles que nela atuam tenham sucesso. Não existe, portanto, nenhum setor da vida onde os conhecimentos sociológicos não sejam de ampla utilidade. E essa certeza perpassa hoje toda a linguagem dos meios de comunicação e toda a atuação profissional das pessoas. É por isso também que a Sociologia faz parte dos programas universitários que preparam os mais diversos profissionais, de dentistas a engenheiros, e por isso também o sociólogo hoje tem entrada nas mais diversas companhias e instituições. (1987, p. 11) Assim, para o teólogo ter noção de como as diferentes sociedades se organizam, e principalmente a sociedade na qual ele está inserido juntamente com sua comunidade religiosa, torna-se relevante, pois lhe ajudará ainda mais no seu ministério e consequentemente na divulgação da mensagem do evangelho. Além disso, conhecer a realidade em que vivemos reconhecendo suas nuanças nos ajudará a opinar sobre os diversos assuntos que envolvem os diferentes temas sociais. Ao mesmo tempo, teremos subsídios necessários para compreendermos os diversos comportamentos sociais que cotidianamente surgem em nossa realidade. 15 COM A PALAVRA, QUEM ENTENDE DO ASSUNTO A Sociologia nos ajuda a entender melhor essas e outras questões que envolvem nosso cotidiano, sejam elas de caráter pessoal, grupal, ou, ainda, relativas à sociedade à qual pertencemos ou a todas as sociedades. Mas o fundamental da Sociologia é nos fornecer conceitos e outras ferramentas para analisar as questões sociais e individuais de um modo mais sistemático e consistente, indo além do senso comum. Para Pierre Bourdieu, sociólogo francês contemporâneo, a Sociologia, quando se coloca numa posição crítica, incomoda muito, porque, como outras ciências humanas, revela aspectos da sociedade que certos indivíduos ou grupos se empenham em ocultar. Se esses indivíduos e grupos procuram impedir que determinados atos e fenômenos sejam conhecidos do público, de alguma forma o esclarecimento de tais fatos pode perturbar seus interesses ou mesmo concepções, explicações e convicções. (TOMAZI, 2007, p. 7) DICAS Estamos concluindo a nossa primeira aula. Espero que você tenha compreendido o conceito de Sociologia e sua relação com a Teologia. Lembre-se que em cada aula lhe serão apresentados diferentes conceitos que lhe serão úteis na sua caminhada acadêmica. Portanto, aproveite ao máximo as informações e sugestões das aulas buscando relacioná-las ao máximo com sua formação neste curso. Pensar a sociedade do ponto de vista sociológico será o nosso exercício a partir desta aula. Por isso, é de suma importância que, caso você tenha dúvidas, exponha isso no fórum de discussão e também retorne ao texto base desta primeira aula. 16 PARA APROFUNDAR NO ASSUNTO As tarefas que se seguem têm a finalidade de levar você a adquirir mais conhecimento e consolidá-los. Portanto, releia o texto base da aula, assista os vídeos abaixo e leia o texto indicado também abaixo; em seguida, procure elaborar um texto demonstrando a importância da disciplina Sociologia com a sua formação de teólogo, que está em andamento. ACESSE E VEJA OS VÍDEOS • Vídeo “O que é Sociologia”, de Paulo Meksenas. Fonte: UNITINS. Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=4tLRDjza0qQ>. Acesso em: 20 nov. 2018. • Vídeo “O surgimento da Sociologia”, de João Gabriel. Fonte: Brasil Escola. Disponível em: <https://youtu.be/PsXocqG9RvM>. Acesso em: 20 nov. 2018. NOTA: como surgiu a Sociologia? Em que contexto está inserida a ciência que tem por objeto de estudo as relações sociais? Confira nesta videoaula como se originou essa ciência tão importante para a compreensão da sociedade. ACESSE E LEIA O TEXTO • Livro “O que é Sociologia”, de Carlos Benedito Martins. Fonte: Biblioteca Marlene Henrique Alves, da FAMESC. Disponível em: <http://www.famesc.edu.br/famesc/biblioteca/livros_sociologia/ O_Que_e_Sociologia_Carlos_Be- nedito_Martins.pdf>. Acesso em: 20 nov. 2018. NOTA: a leitura desse material é imprescindível para a compreensão do que estamos discutindo. http://www.youtube.com/watch?v=4tLRDjza0qQ http://www.famesc.edu.br/famesc/biblioteca/livros_sociologia/O_Que_e_Sociologia_Carlos_Be-%20nedito_Martins.pdf http://www.famesc.edu.br/famesc/biblioteca/livros_sociologia/O_Que_e_Sociologia_Carlos_Be-%20nedito_Martins.pdf 17 SÍNTESE DA AULA Nesta aula você aprendeu: • Que a Sociologia se caracteriza pelo estudo sistemático do comportamento social do ser humano. Dessa forma, o objeto da Sociologia é o ser humano em suas relações sociais. Portanto, compreendê-la é importante para a compreensão da sociedade e de suas estruturas. • Que a Sociologia é uma ciência que estuda as relações sociais, logo, parte das relações que os homens estabelecem entre si. Sendo assim, não se esqueça de que a sociedade é um organismo complexo. • Que as relações de poder são instituídas no contexto social e o lugar de cada sujeito nessas relações. Uma vez que as relações sociais são engendradas por processos de legitimação social que não ocorrem de forma aleatória, antes se firmam a partir do contexto social onde as relações sociais são muito bem definidas e demarcam o lugar de cada sujeito neste contexto. • Que a Sociologia e a Teologia são duas ciências distintas, mas que se complementam, deste modo, o estudo da Sociologia é importante para formação do futuro teólogo. 18 AULA 2: A DIFÍCIL RELAÇÃO ENTRE RELIGIÃO E CIÊNCIA NO SÉCULO XIX META • Compreender a relação entre ciência e fé no século XIX e seus desdobramentos para sociedade atual. OBJETIVOS • Analisar a relação entre ciência e fé no século XIX; • Compreender o papel da igreja durante séculos e como esse papel foi questionado; • Entender a importância da ciência e do desenvolvimento científico do século XIX; • Destacar o lugar da religião no século XIX e o lugar da ciência. PARA INÍCIO DE CONVERSA Que relação havia entre ciência e religião no século XIX? Que questionamentos levaram ao enfraquecimento das explicações religiosas de mundo em meados do século XIX? Que aspectospolíticos, econômicos e sociais possibilitaram o desenvolvimento cientifico do século XIX? Talvez, em algum momento de sua vida, como estudante você tenha feito algumas dessas perguntas. Ou então, assistindo um filme histórico, ou vendo algum documentário de época, você tenha se indagado sobre a relação existente entre fé e ciência no século XIX. Pois bem, nessa aula veremos os principais fatores que contribuíram para o distanciamento entre fé e ciência no século XIX. Embora esse texto traga alguns dos principais acontecimentos anteriores e posteriores ao século XIX para lhe ajudar na compreensão da aula, sugere-se que, caso surjam dúvidas, você busque auxilio em outras fontes e bibliográficas sugeridas no decorrer do texto. Comecemos... O século XIX é conhecido como o século do desenvolvimento da ciência e consequentemente marca a crise das explicações religiosas sobre o mundo. Essa crise tem que ver, principalmente, com a tentativa da ciência de provar 19 que as relações humanas eram marcadas pela vontade humana e não pela vontade divina como as religiões ocidentais procuravam defender. Dessa forma, o desenvolvimento cientifico do século XIX e as transformações políticas, econômicas e sociais ocorridas antes e depois do século XIX ditaram o ritmo pela qual o mundo iria passar. A partir daí o processo de separação entre aspectos da vida religiosa e secular passaram a ser discussões presentes no cotidiano das academias e centros universitários pelo mundo. Assim, o século XIX ficou marcado pela ascensão da ciência e pelo enfraquecimento das explicações religiosas de mundo. Esse processo trouxe diferentes consequências para as religiões, bem como reestruturou a forma como os homens passaram a ver e compreender o mundo. Do ponto de vista cientifico, ficou marcado pelo fortalecimento das ciências humanas que passaram a dar o tom das discussões sobre as relações humanas. Já nas áreas de ciências exatas e da saúde, estudos e pesquisas que até então eram rechaçados por questões religiosas passaram a ter maior espaço e a se desenvolver. Mas o que se pode entender por ciência? Veja a definição abaixo: COM A PALAVRA, QUEM ENTENDE DO ASSUNTO Em sentido amplo, ciência (do Latim scientia, significando ‘conhecimento’) refere-se a qualquer conhecimento ou prática sistemática. Em sentido mais restrito, ciência refere-se a um sistema de adquirir conhecimento baseado no método científico, assim como ao corpo organizado de conhecimento conseguido através de tal pesquisa. (FERREIRA, apud RUIZ, 1996, p. 177) Entendemos por ciência uma sistematização de conhecimentos, um conjunto de preposições logicamente correlacionadas sobre o comportamento de certos fenômenos que se deseja estudar. (MARCONI; LAKATOS, 2010, p. 62) Assim, a ciências se configuram como o estudo sistemático de um determinado objeto e segue critérios e leis que possibilitam a compreensão do objeto estudado. Portanto, pode-se dizer que a ciência busca analisar, de forma criteriosa, as características comuns que regem certos eventos. Logo, 20 para entender as complexidades do mundo, torna-se necessário recorrer aos diferentes recortes científicos que a ciência nos oportuniza. Ressalta-se que, embora uma das características do conhecimento cientifico seja o fato de o mesmo se basear em estudos criteriosos e sistemáticos, tal situação não o torna inquestionável ou blindado de críticas e falhas. Pelo contrário, todo conhecimento é passível de questionamento, entretanto, isso deve ocorrer dentro de uma perspectiva cientifica. Não é à toa que os principais teóricos do mundo cientifico são constantemente revisitados e reinterpretados por outros pesquisadores a partir de estudos e pesquisas mais recentes sobre dado acontecimento. Pois bem, antes de prosseguirmos falando da crise das explicações religiosas de mundo, precisamos voltar um pouco no tempo para compreendermos de que forma o pensamento religioso se constituiu no ambiente social, bem como se amalgamou no cotidiano das pessoas tornando-se elemento central na organização e no ritmo de vida social. Durante muito tempo, mais precisamente desde o início da Idade Média, no século V, a igreja sempre procurou dar explicações religiosas para o cotidiano das pessoas. Essas explicações, em diversos momentos, contrariavam aquilo que a ciência explicava, principalmente porque eram explicações que se baseavam mais na fé, no senso comum e na tradição do que em observações e estudos científicos sistematizados. Isso fez com que durante muito tempo os homens desenvolvessem uma relação de medo, ante aquilo que lhe parecia inexplicável, imputando aos deuses a responsabilidade por tudo que acontecia no âmbito humano. A busca por algo que respondesse e justificasse o desconhecido encontrou sustentação no medo, na fé e nas superstições que as pessoas tinham, criando um ambiente propício para que a religião desse resposta para uma série de indagações humanas que até então eram incompreensíveis. Assim, as explicações sobre o mundo e os acontecimentos que eram inerentes a ele eram explicadas a partir do viés religioso, e aos homens restava se conformar com a realidade que lhe estava posta, visto que qualquer tentativa fora da realidade religiosa era duramente rechaçada e combatida. A ciência, encontrava-se nessa época sob forte influência da Igreja Católica. A autoridade da Igreja impunha sua doutrina como verdade que não podia ser discutida. Do mesmo modo, alguns escritores antigos, como Aristóteles, gozavam de tratamento semelhante. Por isso, muito pouco conhecimento a ciência acumulou neste período. A 21 esta ciência foi dado o nome de escolástica e sua finalidade principal era demonstrar a verdade da doutrina da igreja. (PRIMON; SIQUEIRA; BONFIM apud KOSMINSKY, 2000, p. 3) Portanto, podemos afirmar que a ciência na Idade Média servia aos interesses da igreja o que de certa forma impedia seu avanço, uma vez que, como detentora da verdade, a igreja não cedia a possibilidade para qualquer movimento científico que questionasse sua influência sobre a vida das pessoas ou que questionasse as explicações que esta apresentava para existência e problemas humanos. Para continuarmos a discussão do tema proposto para esta aula, precisamos pensar de forma mais ampla e cientifica o que entendemos por religião. Não se esqueça: toda e qualquer discussão que fazemos parte de conceitos científicos previamente estudados e explorados por outros pesquisadores no intuito de nos definir ou ajudar definir um determinado objeto. Portanto, lembre-se que, do ponto de vista cientifico, o conceito de religião pode ser bem diferente daquele conceito que você conhece, tenha lido ou que nunca ouviu falar. Para alguns cientistas a religião surgiu no momento em que os homens tiveram a necessidade de explicar os acontecimentos sobrenaturais que lhes saltavam do entendimento. O fascínio e o medo ante os fenômenos da natureza levaram os homens em busca de respostas que lhes ajudassem a explicar suas dúvidas e incertezas. COM A PALAVRA, QUEM ENTENDE DO ASSUNTO A origem da palavra religião está relacionada com o termo latim religare, que significa juntar novamente o que foi separado. Alguns autores definem a religião como crença em seres espirituais (espíritos, deuses, demônios) e no sobrenatural. O sentimento religioso nasceria, assim, da necessidade de explicar os sonhos, as visões, o inconsciente, a morte, e estaria intimamente ligado à ideia de alma. Autores relacionam a religiosidade com a experiência do sagrado e dos mistérios que o acompanham e inspiram respeito e fascinação. (COMPARATO, 2010, p. 132) Durante toda Idade Média, a Igreja sempre deu explicações religiosas para os fenômenos físicos e sociais; além disso, norteava as escolhas políticas dos reis legitimando os poderes do mesmo com o discurso de que aquele ou aquela eram escolhidos por Deus, portanto, não deveriaser questionado em 22 hipótese alguma. Por isso, podemos compreender que a influência religiosa perpassava todo âmbito da vida humana. Isso, de certa forma, impedia qualquer tentativa mais racional de compreensão da realidade, uma vez que a religião tinha as respostas para todas as incertezas humanas. Essas explicações, de certa forma, impediam toda e qualquer tentativa de se explicar o cotidiano dos homens partindo de explicações científicas. Não é sem propósito que a Idade Média é chamada, por muitos pensadores, de Idade das Trevas, numa clara alusão ao período em que a ciência não conseguia se desenvolver e que muitos intelectuais tiveram que conter suas ideias e pesquisas, pois contrariavam diretamente os interesses religiosos da igreja. Nesse período, o teocentrismo (Deus no centro) era o pensamento que predominava sobre o imaginário das pessoas e a igreja, mais do que nunca, procurava valorizar esse pensamento, pois controlava com mais facilidade o homem que se amedrontava ao imaginar que estaria contrariando os interesses da religião que se apresentava como a única representante de Deus sobre a Terra. Logo, qualquer questionamento às exigências da igreja se configurava como questionamento à vontade de Deus. Primon, Siqueira e Bonfim (2000, p. 36) apontam que: Durante a Idade Média, o homem era amparado por referências coletivas como a família, o povo e, principalmente, a religião. Esta detinha o poder de decisão sobre as ações humanas; por isso, ao mesmo tempo em que amparava o homem, também o constrangia, retirando-lhe a capacidade de construir suas próprias referências internas. Isso deixava os homens à mercê dos interesses da igreja, não lhes cabendo outra alternativa a não ser acreditar e obedecer às normas impostas pela igreja que interferia diretamente no cotidiano das pessoas. Ademais, qualquer questionamento que não se alinhasse com os modelos tradicionais defendidos pela igreja era rechaçado e passivo de punição. Em filmes como “O nome da rosa” (1986) é possível ver como o cotidiano das pessoas era marcado pela presença religiosa e, ao mesmo tempo, nos ajuda a compreender o medo da igreja em relação ao acesso das pessoas ao conhecimento. O fim da Idade Média, no século XV, e o declínio do sistema feudal, foram marcados por muitos acontecimentos; dentre eles podemos citar o surgimento do Humanismo e do Renascimento, que foram dois movimentos 23 que surgiram em regiões diferentes da Europa e que tinham como principal objetivo a valorização da ação humana e sua produção cultural. Do ponto de vista religioso, as ideias defendidas que antes se baseavam no teocentrismo (Deus no centro) cederam lugar ao antropocentrismo (o homem no centro) que logo passou a questionar a existência humana, e de que forma se deu essa existência. Os dois movimentos acima foram acompanhados por mudanças significativas que foram sentidas em vários aspectos da vida humana. Dentre esses aspectos, podemos citar a própria manifestação da arte que deixou de ser uma arte sacralizada cujos aspectos valorativos eram religiosos para valorizar os aspectos humanos e suas especificidades. Um olhar criterioso em relação às obras de artes da Idade Média e Renascentista é possível perceber essas diferentes perspectivas. PARA APROFUNDAR NO ASSUNTO Veja abaixo quadros da Idade Média: “A Anunciação” (1435), retábulo de Fra Angelico (1387-1455) Fonte: História das Artes. Disponível em: <https://www.historiadasartes.com/sala-dos-professores/a-anunciacao-fra- angelico/>. Acesso em: 07 dez. 2018. https://www.historiadasartes.com/sala-dos-professores/a-anunciacao-fra-angelico/ https://www.historiadasartes.com/sala-dos-professores/a-anunciacao-fra-angelico/ 24 “A deposição de Cristo” (1432-1434), afresco de Giotto di Bondone (1266-1337) Fonte: História das Artes. Disponível em: <https://www.historiadasartes.com/sala-dos-professores/a-lamentacao- giotto/>. Acesso em: 07 dez. 2018. Quadros Renascentistas “Lecția de anatomie a dr.Willem van der Meer” (1617), pintura de Michiel Jansz van Mierevelt (1566-1641) e Peter van Mierevelt (1596–1623) Fonte: Wikipedia. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Michiel_Jansz_van_Mierevelt_- _Anatomy_lesson_of_Dr._Willem_van_der_Meer.jpg. Acesso em: 07 dez. 2018. 25 "Nossa Senhora da Cesta" (1524), por Antonio Allegri (1489-1534) Fonte: Historianet. Disponível em: <http://www.historianet.com.br/conteudo/default.aspx?codigo=215>. Acesso em: 07 dez. 2018. Podemos ainda destacar que, do ponto de vista cientifico, teorias que até então não tinham espaço no mundo das universidades e nem faziam sucesso passaram a fazer parte do cotidiano de estudos. Explicações sobre a existência humana, sobre o universo, dentre outras, passaram a rivalizar diretamente com os aspectos religiosos de explicações do mundo. A própria religião passou a ser objeto de estudo e de crítica em diversos sentidos, marcando assim o início da rivalidade entre fé e ciência. Outro fator preponderante para o enfraquecimento do poder religioso foi o período das grandes navegações e a descoberta da América pelos europeus no final do século XIV e início do século XV. Isso se apresentou como um duro golpe aos interesses ideológicos da igreja que, durante séculos, defendeu a ideia de que a Terra era quadrada, o que gerava uma impossibilidade de se navegar até o final dos oceanos, pois um grande abismo esperava os homens que se aventurassem em tentar chegar até lá. http://www.historianet.com.br/conteudo/default.aspx?codigo=215 26 COM A PALAVRA, QUEM ENTENDE DO ASSUNTO Com o Renascimento, surgem novas formas de vida, ocasionando uma crise social que culmina com a contestação das velhas tradições e o rompimento da ciência com a religião. O homem descobre que é capaz de decidir por si, sente-se livre e coloca-se na posição de centro do Universo, buscando objetividade nas suas experiências. O mundo deixa de ser sagrado para tornar-se num objeto de uso para o próprio homem, embora a crença em Deus permanecesse. O trabalho intelectual, neste período, torna-se mais intenso e individualizado; e a religiosidade, uma decisão íntima. (PRIMON; SIQUEIRA JÚNIOR; ADAM & BONFIM, 2000, p. 36) Do século XV até início do século XIX, o mundo passou por novas configurações em diversos aspectos. Mudanças políticas, econômicas, sociais e culturais alteraram de forma real a maneira com que o homem percebia o mundo a sua volta. As Revoluções Francesa e Industrial contribuíram significativamente para essas transformações. Enquanto o Renascimento e o Humanismo alteraram os aspectos culturais, as Revoluções alteraram os aspectos políticos e econômicos da Europa mudando significativamente os polos de poder e as correlações de forças entre as grandes potencias. Já o século XIX ficou marcado pelo desenvolvimento da ciência em todos os aspectos; teorias como a do evolucionismo de Darwin foram usadas em diversos momentos para explicar a origem da espécie humana, como também para explicar a realidade social. O sucesso dessa teoria evidenciou o bom momento pela qual a ciência estava passando e a crise que estava se instaurando no campo religioso. Todos esses acontecimentos marcaram de forma sistemática a relação entre a religião e a ciência levando o homem a um distanciamento das explicações religiosas de mundo. Costa (1987, p. 34) aponta que “as ideias de progresso, racionalismo e vitória do homem sobre a natureza exerceram todo o seu encanto sobre a mentalidade da época”. Isso abria diferentes possibilidades aos homens para entenderem e compreenderem o mundo que lhes cercava. Dessa forma, “Se esse pensamento racional e científico parecia válido para explicar a natureza, intervir sobre ela e transformá-la,ele poderia também explicar a sociedade vista como um elemento da natureza. E a sociedade, da mesma forma que a natureza, poderia ser conhecida e 27 transformada.” (COSTA, 1987, p. 40) e isso contrariava diretamente as orientações da igreja e aquilo que ela validava como verdade. COM A PALAVRA, QUEM ENTENDE DO ASSUNTO Defendida por uns, repudiada por outros, a Igreja perdia, de qualquer maneira, o importante papel de explicar o mundo dos homens; passava, ao contrário, a ser por eles explicada. A religião começou a ser encarada como um dos aspectos da cultura humana, como algo criado pelos homens com a finalidade prática relativa à vida terrena, e não apenas à vida futura. Assim, a Igreja e sua doutrina atravessaram um processo de dessacralização, eliminando-se muito de seu aspecto sobrenatural e transcendente. Toda religião, em especial o catolicismo, era agora vista de maneira favorável ou desfavorável conforme sua inserção na vida concreta e material dos homens, como promotora de valores sociais importantes para a orientação da conduta humana. (COSTA, 1987, p. 37) A religião passou a ser objeto de estudo de diversos pesquisadores, que, de certa forma, procuravam descaracterizar o que durante séculos foi defendido como verdade pela igreja. A descoberta de vacinas e a invenção do para-raio foram alguns dos avanços da ciência que levaram os homens a perceberem que muito daquilo que a religião defendia como castigo de Deus eram, na verdade, reações de um mundo marcado pelos fenômenos naturais e pela ação humana. Além disso, o processo intenso de crescimento econômico pelo qual as nações europeias estavam passando levou os homens a uma interdependência de si mesmos, tornando-se mais autônomos em suas decisões em relação ao mundo religioso. Costa (1987, p. 37) explica que, a partir desse momento, a “igreja foi questionada como fonte de poder secular, político e econômico e como instituição que feria os princípios da soberania nacional, na medida em que se imiscuía em questões civis e de Estado”. Esses questionamentos levaram a religião a um processo de perda de sua autonomia frente ao homem. A crença nas instituições religiosas e a perca da influência que esta exercia sobre os homens levou a sociedade de forma geral a um processo de afastamento da religião e a um processo de questionamento da ideia de “infalibilidade eclesiástica”. Todos esses questionamentos levaram inúmeros pesquisadores da Sociologia, como Comte, Durkheim, Marx e 28 Weber, a pesquisarem a religião e a influência dela sobre a sociedade do século de sua época. Todos esses acontecimentos colocaram a religião como objeto de estudo à medida que a sociedade deixou de ver o mundo de forma sacral. Logo, a ciência passou a explicar o mundo racionalmente, criando assim uma rivalidade com o pensamento religioso de que o mundo era obra exclusiva dos deuses. Costa (1987, p. 37) salienta que, para “o pensamento científico do século XIX, são os homens que criam os deuses e não o contrário”. Nesse sentido, o século XIX é conhecido como o período mais crítico para a religião que perdeu sua autonomia e passou a ser duramente criticada pela ciência com sua busca sistemática em provar que o mundo era obra de diversas influências naturais, e não criação divina como a igreja insistia em afirmar. PARA APROFUNDAR NO ASSUNTO As tarefas que se seguem têm a finalidade de levar você a adquirir mais conhecimento e consolidá-los. Portanto, releia o texto base da aula, assista os vídeos abaixo e leia os textos listados também abaixo; em seguida, produza um texto de duas laudas relacionando o tema religião e fé. É um excelente exercício de crescimento científico. ACESSE E VEJA OS VÍDEOS • Vídeo “Charles Darwin – Evolução X Religião”. Fonte: Programa Jornal Nacional – Rede Globo. Outubro de 2009. Disponível em: <www.youtube.com/watch?v=TAl4cWg6Xeo>. Acesso em: 02 dez. 2018. • Vídeo “Ciência vs Religião (1/3) - 3a1”. Fonte: Programa 3a1 – TV Brasil. Agosto de 2011. Disponível em: <www.youtube.com/watch?v=uz1IsjLhHpc>. Acesso em: 02 dez. 2018. http://www.youtube.com/watch?v=TAl4cWg6Xeo http://www.youtube.com/watch?v=uz1IsjLhHpc 29 • Vídeo “Ciência vs Religião (2/3) - 3a1”. Fonte: Programa 3a1 – TV Brasil. Agosto de 2011. Disponível em: <https://youtu.be/P8alHoBu5t4>. Acesso em: 02 dez. 2018. • Vídeo “Ciência vs Religião (3/3) - 3a1”. Fonte: Programa 3a1 – TV Brasil. Agosto de 2011). Disponível em: <www.youtube.com/watch?v=xkvZPWsxC4M>. Acesso em: 02 dez. 2018. ACESSE E LEIA OS TEXTOS • Artigo “A ciência e religião: caminhos convergentes ou divergentes?”, de Alessandra Carlos Costa Grangeiro e Olivar Basilio da Costa. Fonte: Vox Faifae: Revista de Ciências Humanas e Letras das Faculdades Integradas da Fama Vol. 1, no. 1 (2009). Disponível em: <www.faifa.edu.br/revista/index.php/voxfaifae/article/view/4>. Acesso em: 02 dez. 2018. • Artigo “Nietzsche: o desafio do ateísmo niilista”, de Gilmar Alonso Valério. Fonte: Vox Faifae: Revista de Ciências Humanas e Letras das Faculdades Integradas da Fama Vol. 1, no. 1 (2009). Disponível em: <www.faifa.edu.br/revista/index.php/voxfaifae/article/view/5>. Acesso em: 02 dez. 2018. “Ciência” e “Religião”: Construindo os Limites* • Artigo “‘Ciência’ e ‘Religião’: construindo os limites”, de Peterson Harrison. Fonte: Revista de Estudos da Religião. Março 2007 no. 34, São Paulo, Metodista, 2007. Disponível em: www.pucsp.br/rever/rv1_2007/p_harrison.pdf. Disponível em: 02 dez. 2018. http://www.faifa.edu.br/revista/index.php/voxfaifae/article/view/4 http://www.faifa.edu.br/revista/index.php/voxfaifae/article/view/5 http://www.pucsp.br/rever/rv1_2007/p_harrison.pdf 30 SÍNTESE DA AULA Nesta aula você teve a oportunidade de crescer no conhecimento de um tema essencial para a sua formação teológica. Você deve ter compreendido um pouco sobre a difícil relação entre a igreja e a ciência durante os diferentes momentos. Logicamente poderíamos apontar diversos outros acontecimentos e fatos que contribuíram para que isso ocorresse, mas não faremos nesta aula. Portanto, é pertinente que você fique atento às próximas aulas, pois elas poderão lhe auxiliar no entendimento de alguns pontos que talvez você não tenha compreendido desta aula. Em pleno século XXI, a ciência e as religiões se enfrentam constantemente. De um lado, a ciência, tentando provar que o mundo é obra do acaso, e do outro, as religiões, buscando explicar que o mundo e os homens são o resultado de vontade sagrada. Das inúmeras religiões existentes no mundo, cada uma aponta uma explicação para o que entendemos como ser o mundo; algumas explicações são consideradas absurdas, outras um pouco mais racionais. De certa forma, você, como cristão, precisa saber e ter a convicção de que o mundo em que vivemos é obra exclusiva de um único Deus. Num mundo marcado pela racionalidade, não basta simplesmente saber disso, é preciso ter convicção e conhecimento teológico para refutar muitas das teorias que enfrentam diretamente a fé cristã. Portanto, ao conhecer as diversas teorias defendidas pela ciência, é um bom começo para você começar a exercitar sua vocação teológica. Ter o conhecimento bíblico aliado ao conhecimento científico é uma ótima sugestão para que você comece a relacionar até que ponto a ciência não interfere diretamente na maneira das religiões de pensar o mundo ou até que ponto as religiões dão explicações plausíveis para a existência humana. 31 UNIDADE II: O CONTEXTO DE SURGIMENTO DA SOCIOLOGIA AULA 3: O CONTEXTO DE SURGIMENTO DA SOCIOLOGIA META • Compreender o contexto histórico, político e social do século XIX e de que forma este contribuiu para o surgimento da Sociologia. OBJETIVOS • Analisar os acontecimentos que possibilitaram o surgimento da Sociologia enquanto ciência; • Compreender o contexto histórico,político e social em que surgiu a Sociologia; • Destacar a importância da Sociologia para a compreensão dos fenômenos sociais; • Apontar os principais objetos de estudo da Sociologia e seus métodos de estudo. PARA INÍCIO DE CONVERSA A Sociologia, enquanto ciência social, surgiu no início do século XIX em um contexto europeu marcado pela efervescência da Ciência, da Revolução Francesa e da Revolução Industrial. Juntamente com o crescimento científico, ocorreu também o crescimento econômico que marcou fortemente a Europa, impulsionada principalmente pelas Revoluções Industriais que marcaram o cenário europeu. Além disso, a Revolução Francesa no século XVIII inaugurou uma nova configuração nas relações de poder (político) frente às nações europeias. A Revolução Industrial, a Revolução Francesa e o crescimento científico alteraram profundamente a vida no mundo europeu. A paisagem social, que 32 antes era marcada pela presença maciça do homem no campo e pela presença dos pequenos artesãos nas cidades, foi trocada pela presença dos operários nas fábricas que, nesse período, passaram a trabalhar nas indústrias com longas jornadas de trabalho. Convém lembrar que, até então, a noção de trabalho constituído no mundo medieval e religioso era de que o trabalho era algo penoso, fatídico e um castigo aos homens. A partir da Revolução Industrial, a noção de trabalho é incorporada por outra perspectiva que via o mesmo como algo positivo para os homens. Portanto, a concepção de trabalho constituída dentro de um viés religioso, cede espaço para uma perspectiva capitalista e humana de trabalho. Neste sentido, convém relembrar que, na aula anterior, falamos sobre o enfraquecimento do pensamento religioso e o fortalecimento do pensamento racional sobre a vida das pessoas. Logo, para o sistema capitalista de produção, que estava em processo de evolução, o fortalecimento do pensamento racional e o enfraquecimento do pensamento religioso era de suma importância para garantir, do ponto de vista ideológico, a justificativa ideal para que o homem vendesse sua força de trabalho sem peso alguma na consciência. Ademais, podemos ainda apontar a importância da Reforma Protestante para a mudança no comportamento humano em relação ao trabalho que, de algo penoso e laboroso, passou a ser entendido como algo abençoado e divino. Dessa maneira, a ausência de trabalho era sinal de pecado ou da falta das bênçãos divinas. Tal perspectiva foi preponderante para que o sistema capitalista se estruturasse, principalmente, nos países de matrizes protestantes. As relações de produção, antes regidas pela posse e propriedade da terra, deram lugar a relações comerciais mais impessoais nas quais o homem passou a vender sua força de trabalho, além de ter horário para entrar e sair das fábricas. Estava se consolidando o sistema capitalista em sua forma mais agressiva, uma vez que as extensas jornadas de trabalho e as péssimas condições impostas aos operários lhes causavam sérios danos à saúde. Além disso, estudiosos desse período relatam situações de mortes de operários e crianças causadas, especialmente, pelas jornadas excessivas de trabalhos que levavam os operários a não terem controle sobre o cansaço, causando assim acidentes fatais para os trabalhadores. 33 Oliveira (2007, p. 6) explica que: Com o aperfeiçoamento da máquina a vapor pelo inventor inglês James Watt, em l768, as fábricas, que já não dependiam da energia hidráulica dos rios, mudaram-se para a periferia das cidades, mais próximas dos mercados consumidores e onde os trabalhadores eram contratados com mais facilidade. Eram edifícios enormes, fechados, com chaminés, apitos e grande número de operários. Todas essas mudanças no aspecto político, econômico e social marcaram profundamente a vida do homem europeu. No aspecto econômico, como dito anteriormente, a vida do homem foi marcada pela Revolução Industrial que mudou significativamente as relações de trabalho. O homem do campo, acostumado a plantar, colher e fazer o que bem entendia de sua produção, viu-se alijado dessas possibilidades à medida que o sistema econômico emergente (capitalismo) o expropriou de sua propriedade, além de levá-lo para as grandes cidades tornando-o operário nas fábricas que surgiam rapidamente nas grandes metrópoles. O pequeno artesão, acostumado a retirar a sua matéria prima, trabalhá-la e produzir seu próprio produto, viu-se forçado a vender sua força de trabalho. As pequenas oficinas cederam espaço às grandes fábricas que passaram a contratar a mão de obra vinda da zona rural. Na cidade, o homem, que antes era dono da sua força produtiva (fp) e dos meios de produção (mp), viu-se alijado de seu ambiente de trabalho e forçado a vender por um salário (pequeno) sua força produtiva. COM A PALAVRA QUEM ENTENDE DO ASSUNTO Primeiro, a casa e o local de trabalho foram separados; depois, separaram o trabalhador de seus instrumentos; por fim, tiraram dele a possibilidade de conseguir a própria matéria-prima. Tudo passou a ser dos comerciantes e industriais que haviam acumulado riquezas. Eles financiavam, organizavam e coordenavam a produção de mercadorias, definiam o que produzir e em que quantidade. (TOMAZI, 2007, p. 40) Da mesma forma, o pequeno proprietário de terra que até então produzia seu próprio alimento viu-se inserido em uma nova organização econômica e social onde a produção passou a ser fragmentada e a força de trabalho 34 vendida e assalariada. A vida pacata e organizada pelo ritmo interiorano foi sendo, aos poucos, substituído pelo processo intenso de produção nos chãos das grandes fabricas cuja busca pela produção superava a lógica humana. Outro aspecto importante para se pensar é que a transição do pequeno artesão e do homem do campo para o mundo capitalista da produção mudou consideravelmente a relação que estes estabeleciam com o tempo. No campo e nas oficinas, os homens eram donos de seu tempo e, consequentemente, conseguiam se organizar para o tempo do ócio e do lazer. Marshall Shalins (apud TOMAZI, 2007) salienta que, nas sociedades tribais, por exemplo, havia momentos propícios para o lazer e que o trabalho tomava apenas parte da vida humana. COM A PALAVRA QUEM ENTENDE DO ASSUNTO Primeiro, a casa e o local de trabalho foram separados; depois, separaram o trabalhador de seus instrumentos; por fim, tiraram dele a possibilidade de conseguir a própria matéria-prima. Tudo passou a ser dos comerciantes e industriais que haviam acumulado riquezas. Eles financiavam, organizavam e coordenavam a produção de mercadorias, definiam o que produzir e em que quantidade. (TOMAZI, 2007, p. 40) Da mesma forma, o pequeno proprietário de terra que até então produzia seu próprio alimento viu-se inserido em uma nova organização econômica e social onde a produção passou a ser fragmentada e a força de trabalho vendida e assalariada. A vida pacata e organizada pelo ritmo interiorana foi sendo, aos poucos, substituída pelo processo intenso de produção nos chãos das grandes fábricas cuja busca pela produção superava a lógica humana. Outro aspecto importante para se pensar é que a transição do pequeno artesão e do homem do campo para o mundo capitalista da produção mudou consideravelmente a relação que estes estabeleciam com o tempo. No campo e nas oficinas os homens eram donos de seu trampo e, consequentemente, conseguiam se organizar para o tempo do ócio e do lazer. Marshall Shalins (apud Tomazi) salienta que, nas sociedades tribais, por exemplo, havia momentos propícios para o lazer e que o trabalho tomava apenas parte da vida humana. 35 Marshall Sahlins, antropólogo estadunidense, chama essas sociedades de ‘sociedade de abundância’ ou ‘sociedade do lazer’, destacando que seus membros não só tinham todas as suas necessidades materiais e sociais plenamente satisfeitas, como dedicavam um mínimo de horas diárias ao quenós chamamos de trabalho. (TOMAZI, 2007, p. 37) Sua inserção no chão de fábrica expropriou-lhe dessas possibilidades à medida que, nas fabricas, o tempo de trabalho era exaustivamente longo. Ademais, nas fábricas, tanto homens como mulheres e crianças disputavam espaço e trabalho. O quadro abaixo retrata como se configurou a carga horária de trabalho dos trabalhadores ao longo dos quatro últimos séculos. Evolução das horas de trabalho semanal Inglaterra França 1650-1750 45 a 55 horas 50 a 60 horas 1750-1850 72 a 80 horas 72 a 80 horas 1850-1937 58 a 60 horas 60 a 68 horas Fonte: Newton Cunha. In: TOMAZI, Dácio Nelson. A felicidade imaginada: a negação do trabalho e do lazer. São Paulo: Brasiliense, 1987. p. 37. Para Tomazi (2007), a submissão dos trabalhadores à extensa jornada de trabalho sem condições ideais para tal refletia-se na sua qualidade de vida. A ideia de ser livre era um aspecto apenas legal, uma vez que, na realidade cotidiana, os trabalhadores se viam levados pelas necessidades de sobrevivência a aceitar as condições que lhes eram impostas. Essa era a realidade que se apresentava para os trabalhadores na segunda metade do século XVII, com o início da Revolução Industrial. Seu desenvolvimento por todo o mundo europeu constituiu-se de forma acelerada, transformando a Europa ou grande parte dela no que conhecemos como mundo capitalista. O desenvolvimento industrial e o surgimento das grandes fábricas acelerarão também a busca por matérias primas em outras partes do mundo a fim de suprir a demanda de produção. O mundo europeu, desgastado de recursos naturais, precisava de outras fontes para suprir as demandas existentes nas fábricas, o que culminou na busca desses recursos em outros 36 continentes. Tal evento ficou conhecido como neocolonialismo do século XIX, causando sérios prejuízos para diferentes povos do mundo. CONCEITO Neocolonialismo representa a dominação política, econômica, cultural e social das potências capitalistas europeias sobre algumas regiões do continente africano e asiático, principalmente. Este processo teve início no começo do século XIX e perdurou até o século XX, com a Primeira Guerra Mundial. As principais nações capitalistas da época que usufruíram do neocolonialismo foram: Reino Unido, Bélgica, Prússia, França e Itália. Com o desenvolvimento da Segunda Revolução Industrial, as nações europeias presenciavam uma intensa expansão dos setores econômicos. A partir deste cenário, as potências da Europa começaram a buscar meios de ampliar os seus mercados para buscar matérias-primas diferenciadas, mão de obra barata e novos locais para comercializar os produtos que produziam. Com o argumento falacioso de que os europeus seriam “intelectualmente mais desenvolvidos” do que os povos asiáticos e, principalmente, os africanos, as potências da Europa interferiram nessas regiões com o discurso de “levar o progresso da ciência e da tecnologia ao mundo”. Fonte: Significados. Disponível em: <https://www.significados.com.br/neocolonialismo/>. Acesso em: 25 nov. 2018. O processo de neocolonialismo que ocorreu na Ásia e na África alterou profundamente as relações e formas de organização no mundo europeu, colocando em evidência outras potências europeias. A corrida dos países europeus por recursos naturais e por mercados consumidores levou as grandes nações europeias a uma intensa exploração dos continentes africano e asiático. Essas disputas estavam intimamente ligadas à acumulação de matérias primas capazes de suprir as fábricas europeias, além de estarem ligadas à necessidade de mercados consumidores para estas matérias primas após se transformarem em produtos industrializados. Essa corrida por matérias primas e mercados consumidores deixou consequências que até hoje podem ser percebidas nestes locais. Ainda hoje, em pleno século XXI, vários países africanos e asiáticos sofrem as consequências do neocolonialismo. O discurso europeu de https://www.significados.com.br/neocolonialismo/ 37 desenvolvimento dessas regiões não prosperou por muito tempo e atualmente pode-se perceber como uma falácia ideológica que visava garantir que os interesses de dominação econômica fossem garantidos nessas regiões. O surgimento da Sociologia como ciência ocorre justamente nesse contexto social marcado por intensas transformações. O desejo de diferentes cientistas em compreender os fenômenos e as mudanças que se consolidavam na sociedade foi a base para o surgimento do pensamento sociológico. Era preciso pensar em uma ciência que fosse capaz de compreender os diferentes contextos sociais a partir das relações que os homens estabeleciam na sociedade. Um dos primeiros pensadores a pensar Sociologia enquanto ciência foi o francês Auguste Comte (1798-1857). Comte defendia que era preciso pensar uma ciência capaz de responder às diferentes complexidades das relações humanas. Sua principal ideia era criar uma ciência chamada de “física social”, uma ciência que fosse capaz de explicar a sociedade de sua época e os fenômenos sociais inerentes a ela; só em l839 Auguste Comte abandonou o termo “física social” e passou a usar o termo Sociologia para se referir ao estudo da sociedade. Considerado o pai da Sociologia, Auguste Comte defendia que a Sociologia deveria ser uma ciência assim como as outras, ou seja, ter métodos que garantissem a objetividade de seus estudos e o distanciamento do objeto estudo. Para isso, dedicou parte do seu tempo para formular conceitos que foram importantes ao longo da consolidação da Sociologia como ciência dos homens. Apesar de ser um dos primeiros pensadores a defender uma ciência capaz de compreender os fenômenos sociais, a Sociologia só se consolidou como ciência com o pensador Émile Dukheim (1858-1917), que será objeto de estudo nas próximas aulas. No entanto, não podemos desprezar a contribuição do francês Auguste Comte por ter sido ele a dar as primeiras contribuições para se pensar o contexto social. O surgimento da Sociologia foi marcado por um momento importante da sociedade europeia pelo fato de que, naquele momento, as potências europeias estavam passando por intensas transformações. Essas afetaram diretamente as relações de poder no mundo europeu, principalmente no que tange ao equilíbrio de forças entre as potências europeias. Uma das primeiras correntes de pensamento social foi o positivismo. Costa (1987, p. 42) explica que o positivismo foi a primeira corrente de 38 pensamento sociológico, ou seja, a primeira teoria a organizar alguns princípios a respeito do homem e da sociedade tentando explicá-los cientificamente. Dessa forma, torna-se importante compreender que cada corrente sociológica buscou compreender a sociedade como veremos o positivismo. COM A PALAVRA, QUEM ENTENDE DO ASSUNTO POSITIVISMO: O termo foi usado pela primeira vez por Saint-Simon para designar o método exato das ciências e sua extensão para a filosofia (“De lá religião Saint-Simonienne”, 1830, p. 3). Ele foi tomado por Auguste Comte para sua filosofia e através de seu esforço tornou-se a designação de uma grande tendência filosófica, que, na segunda metade do século XIX, teve manifestações muito numerosas e variadas em todos os países. A característica do positivismo é a romantização da ciência: a elevação da mesma para o único guia de vida individual e social do homem, isto é, a forma possível de um conhecimento, da moral e da religião. • As teses fundamentais do positivismo são as seguintes: 1. A ciência é a única forma de conhecimento possível e o método da ciência a única válida. Portanto, recorrer a busca de princípios que não são acessíveis ao método científico para o positivismo não tem valor algum. 2. O método da ciência é puramente descritivo no sentido de que se descreve os factos e mostra as relações constantes entre os fatos que são expressos por leis, as quais tornam possívela previsão dos próprios fatos (Comte); ou é puramente descritivo no sentido de que mostra a gênese evolutiva dos mais complexos fatos e de fatos mais simples (Spencer). 3. O método da ciência, uma vez que é o único método válido, deve ser estendido a todos os campos da investigação e da atividade humana, e a toda a vida humana, seja individual ou associativa; desse modo, a pesquisa deve ser guiada por ele. O positivismo presidiu a primeira participação ativa da ciência moderna na organização social e ainda constitui um conceito de filosofia que continua a ser uma das alternativas fundamentais: e isso é verdade, mesmo após as ilusões totalitárias do positivismo romântico terem sido abandonadas, ou seja, sua pretensão de absorver todas as manifestações do homem na ciência. (ABBAGNANO; FORNERO, 1992, p. 282) 39 As ideias positivistas sobre a sociedade marcaram uma nova forma de ver e entender o mundo, principalmente, porque este passou a ser compreendido como um organismo social em constante adaptação. O homem deixou de ser um mero coadjuvante, para se tornar protagonista de sua realidade social, uma vez que essa realidade não estava mais presa a formulações religiosas, nem se justificava por revelações divinas. Logo, o positivismo encontrava na ciência, com seus métodos, uma forma ideal pra explicar o homem não de forma isolada mas enquanto ser social e, nesse aspecto, qualquer explicação da realidade humana que não estivesse embasada na ciência não era aceita pelos pensadores da corrente positivista, visto que, como vimos alhures, uma das características do positivismo era justamente a valorização da ciência. Todos esses acontecimentos que permeiam a Europa no século XIX constituirão o cenário em que a Sociologia se desenvolverá no início do século XIX. A preocupação dos primeiros sociólogos de corrente positivista estava em apontar que a sociedade era constituída de um todo, por isso se assemelhava ao corpo humano que funcionava de forma coesa (COMPARATO, 2010, p. 16). Segundo Costa (1987), o primeiro princípio teórico da escola positivista foi a tentativa de constituir seu objeto, pautar seus métodos e elaborar seus conceitos à luz das ciências naturais, procurando dessa maneira chegar à mesma objetividade e ao mesmo êxito nas formas de controle sobre os fenômenos estudados. Essa escolha de princípios teóricos das ciências naturais, embora fosse necessária no primeiro momento, pelo fato desta ciência nascente não ter métodos específicos, gerou enormes transtornos de ordem interpretativa, uma vez que procurou analisar os fenômenos sociais com base em conceitos das ciências naturais. O darwinismo social, a ser estudado na próxima aula, foi um exemplo típico desta escolha. A visão de sociedade como organismo vivo, em constante adaptação, abriu margens para diversas interpretações sociais que acabaram por marginalizar algumas culturas em relação a outras. 40 PARA APROFUNDAR NO ASSUNTO As tarefas que se seguem têm a finalidade de levar você a adquirir mais conhecimento e consolidá-los. Portanto, releia o texto base da aula, assista o vídeo abaixo e leia os textos listados também abaixo, buscando reter os conteúdos. É um excelente exercício de crescimento científico. ACESSE E VEJA OS VÍDEOS • Videoaula Sociologia2Aula01 O que é Sociologia? por Gilson Xavier de Azevedo. Fevereiro de 2009. Disponível em: <www.youtube.com/watch?v=szLWFDZ4SMY>. Acesso em: 13 fev. 2018. • Videoaula “Surgimento da Sociologia”, por Marcelo Juliane Frossard de Araujo. Fonte: Info Escola. Disponível em: https://www.infoescola.com/sociologia/surgimento-da-sociologia/. Acesso em: 21 nov. 2018. • Videoaula “Como surgiu a Sociologia”. Fonte: Portal Sociologia. Disponível em: http://www.sociologia.com.br/surgimento-da- sociologia/. Acesso em: 21 nov. 2018. http://www.youtube.com/watch?v=szLWFDZ4SMY https://www.infoescola.com/sociologia/surgimento-da-sociologia/ http://www.sociologia.com.br/surgimento-da-sociologia/ http://www.sociologia.com.br/surgimento-da-sociologia/ 41 SÍNTESE DA AULA O surgimento da Sociologia enquanto ciência foi marcado por diversos acontecimentos, como você viu no texto dessa aula. Para entendermos a importância desta nova ciência, é preciso pensar em todo contexto que possibilitou sua formação. Se hoje temos métodos que nos ajudam na compreensão da sociedade é porque, em outros momentos, pensadores como Auguste Comte, Émile Durkheim e outros se debruçaram na tarefa de pensar em conceitos e métodos que nos dessem esta possibilidade. Portanto, qualquer tentativa de estudo que se preze sobre as relações sociais, deve buscar conceitos disponíveis pela sociologia. É preciso que você entenda que o contexto histórico interfere diretamente na forma com que os indivíduos pensam. Seu desafio, nessa aula, é fazer uma reflexão pensando na sociedade do século XIX com todas as suas transformações e ao mesmo tempo relacionar com a sociedade atual. No que essas duas sociedades de períodos distintos têm que as diferencia ou o que lhes aproxima? Para pensar isso, você tem a oportunidade de estudar os conceitos oferecidos por esta disciplina e relacioná-los com sua realidade. Por fim, nesta aula aprendemos sobre os principais acontecimentos políticos, econômicos e sociais que deram sustentação para o surgimento da Sociologia como ciência. Além disso, você teve a oportunidade de compreender de que forma o surgimento do sistema capitalista alterou as relações de trabalho, tanto do pequeno proprietário de terra, como do pequeno artesão. Portanto, diante de tantos conceitos e informações espera-se que você tenha tido um excelente aproveitamento. Em caso de dúvida, sugiro que volte novamente ao texto e estude com mais profundidade as bibliografias sugeridas no seu decorrer. 42 AULA 4: O DARWINISMO SOCIAL E A EUROPA DO SÉCULO XIX META • Compreender o que foi o darwinismo social e suas implicações ideológicas para os países neocolonizados. OBJETIVOS • Compreender o que é neocolonialismo e darwinismo social; • Relacionar de que forma o darwinismo social contribui ideologicamente para justificar o neocolonialismo; • Destacar os problemas causados por essa teoria; • Apontar os princípios norteadores do darwinismo social. PARA INÍCIO DE CONVERSA O que foi o neocolonialismo? E o darwinismo social? Quais as consequências desses dois movimentos para Europa e para outros povos? Um dos acontecimentos que marcam o século XIX ficou conhecido como neocolonialismo ou partilha da África. No século XIX, as potências europeias precisavam de mercados consumidores para seus produtos, além de matéria prima para confecção de mercadorias. A busca por mercados externos passou a ser uma forma encontrada por essas potências para que seus interesses fossem atendidos. O intenso processo de industrialização pela qual estava passando o continente europeu exigia das suas potências a busca por espaços onde pudessem explorar os recursos naturais e ao mesmo tempo ter a disposição mercado e consumidores para seus produtos. Uma das formas utilizadas para conseguir esse intento foi um novo processo de colonização que ficou conhecido como neocolonialismo. Esse, por sua vez, consistia em uma investida econômica nos continentes africano e asiático. Na aula anterior fizemos uma breve discussão sobre o surgimento do neocolonialismo ao discutirmos o contexto que possibilitou o surgimento do 43 mundo capitalista. Nesta aula, aprofundaremos nossos estudos na busca de compreender um pouco mais sobre o neocolonialismo e o darwinismo social e suas consequências para os povos dos continentes asiático e africano. CONCEITO O neocolonialismo representa a dominação política, econômica, cultural e social das potências capitalistas europeias sobre algumas regiões do continente africano e asiático, principalmente. Esteprocesso teve início no começo do século XIX e perdurou até o século XX, com a Primeira Guerra Mundial. As principais nações capitalistas da época que usufruíram do neocolonialismo foram: Reino Unido, Bélgica, Prússia, França e Itália. Fonte: Significados. Disponível em: <https://www.significados.com.br/neocolonialismo>. Acesso em: 25 nov. 2018. Durante o período do neocolonialismo, a África foi dividida em fronteiras artificiais de acordo com os interesses europeus. As delimitações das fronteiras dos países africanos foram sendo estabelecidas por colonizadores que não levaram em consideração a identidade e tradição tribal confrontando, assim, as etnias dentro do continente. Tribos aliadas foram separadas e tribos inimigas foram unidas. Sabe-se, hoje, que grande parte dos conflitos existentes na África é originada por problemas de território; além disso, as consequências dessa divisão são as condições de fome, guerras civis e epidemias, na qual vive grande parte da população africana. (FERREIRA; TAKAMI; SILVA; PAULA; PIMENTA, 2008, p. 1). Não é novidade que, no início do século XV, os países europeus encabeçados por Portugal e Espanha colonizaram e dominaram o continente americano. Desse processo de colonização, todos sabemos os resultados, principalmente para os países latinos americanos, são problemas seríssimos de desigualdades social, além de uma dependência extrema dos países desenvolvidos em todos os aspectos. O termo neocolonialismo é usado para explicar esse novo processo de colonização que ocorreu no século XIX, tendo como alvo o continente africano e asiático. Como dito alhures, a necessidade de matéria prima e de mercados consumidores fez como que as potências europeias passassem a explorar o continente asiático e africano com a justificativa de que esses países precisavam de ajuda para se desenvolver em todos os aspectos. https://www.significados.com.br/neocolonialismo 44 Neste sentido, a justificativa das potências europeias era de que o processo civilizatório (invasão) implementado nesses continentes era uma forma de ajudá-los a se desenvolver. Esse discurso configurava-se como uma tentativa de garantir que a invasão ao continente fosse aceita, além de justificar ante aos europeus de que o novo processo civilizatório era a melhor forma de para ajudar os menos favorecidos dos dois continentes. Segundo Boahen, Em 1914, com a única exceção da Etiópia e da Libéria, a África inteira vê-se submetida à dominação de potências europeias e dividida em colônias de dimensões diversas, mas de modo geral, muito mais extensas do que as formações políticas preexistentes e, muitas vezes, com pouca ou nenhuma relação com elas. Nessa época, aliás, a África não é assaltada apenas na sua soberania e na sua independência, mas também em seus valores culturais. (2010, p. 30) Uma das questões que não podemos esquecer é que todo processo de dominação (colonização) não ocorre de forma pacífica e civilizada, no caso do continente africano; o processo em questão foi marcado por intensos conflitos entre neocolonizados e colonizadores. Nos países envolvidos neste processo, as lutas entre os colonizares e colonizados foram marcadas em muitos lugares pelo total domínio dos povos colonizados. Boahen registra, na obra “História Geral da África” (2010), que a luta entre colonizadores e colonizados foram marcadas por lutas e resistências. Garantir sua soberania através das lutas era uma das formas que os inúmeros povos encontraram de mostrar que o processo civilizatório não seria simples ou que os povos africanos tenham observado passivamente a invasão de suas terras. Observemos suas considerações sobre essa questão: [...] não há nenhuma evidência em apoio à tese segundo a qual os africanos teriam acolhido com entusiasmo os soldados invasores e rapidamente aceitado a dominação colonial. Na realidade, as reações africanas foram exatamente o inverso. Está bem claro que os africanos só tinham duas opções: ou renunciar sem resistência à soberania e à independência, ou defendê-las a qualquer custo. É muito significativo que a maioria dos dirigentes africanos, como será amplamente demonstrada neste volume, tenha optado sem hesitar pela defesa da sua soberania e independência, a despeito das estruturas políticas e socioeconômicas de seus Estados e das múltiplas desvantagens que 45 sofriam. De um lado, a superioridade do adversário, de outro, a bravia determinação de resistir a todo preço estão traduzidas no baixo relevo reproduzido na sobrecapa desta obra [“História Geral da África, VII”]. Esse baixo relevo, pintado numa das paredes do palácio dos reis do Daomé, em Abomey, mostra um africano armado de arco e flecha, barrando desafiadoramente o caminho a um europeu armado com uma pistola. (BOAHEN, 2010, p. 38) Neste sentido, é possível perceber, na fala de Boahen, que os povos africanos não se conformaram passivamente com o processo civilizatório uma vez que a invasão europeia em suas terras significava a perca sistemática de sua autonomia como povo e nação. Portanto, o neocolonialismo era uma ameaça não apenas às riquezas naturais dos diferentes povos do continente, mas à própria soberania desses povos e o fim de sua legitimidade. Esses conflitos, ainda hoje, são responsáveis pelo processo de pobreza e miséria que impera nesses continentes. Além disso, não se pode analisá-los apenas por uma ótica isolada como muitos fazem ao assistirem pela TV situações de conflito existentes nesses países. É preciso, antes de tudo, buscar compreender que elementos sociais contribuíram para que tais situações se perpetuassem. E, mais do que isso, buscar compreender qual a responsabilidade das nações imperialistas no caos causado nessas regiões após o processo de partilha do continente. Para Boahen, As potencias europeias puderam conquistar a África com relativa facilidade porque a balança pendia a seu favor, sob todos os aspectos. Em primeiro lugar, graças às atividades dos missionários e dos exploradores, os europeus sabiam mais a respeito da África e do interior do continente – em seu aspecto físico, terreno, economia e recursos, força e debilidade de seus Estados e de suas sociedades – do que os africanos a respeito da Europa. Em segundo lugar, em função das transformações revolucionárias verificadas no domínio da tecnologia médica e, em particular, devido a descoberta do uso profilático do quinino contra a malária, os europeus temiam menos a África do que antes de meados do século XIX. Em terceiro lugar, em consequência da natureza desigual do comércio entre a Europa e a África até os anos de 1870 e mesmo mais tarde, bem como do ritmo crescente da revolução industrial, os recursos materiais e financeiros da Europa eram muitíssimo superiores aos da África. Por isso, se as potências europeias podiam gastar milhões de libras nas campanhas ultramarinas, os Estados africanos não tinham condições de sustentar um conflito armado com elas. (2010, p. 78) 46 Além da violência física que a empreitada neocolonialista causou, não podemos esquecer os sérios problemas culturais que, de uma forma geral, este processo deixou em todo o continente. Isso porque o colonizador não levou em consideração as particularidades existentes em cada região, antes, partindo de critérios geográficos, agrupou em um único espaço grupos étnicos historicamente inimigos. Sendo assim, qualquer análise que se faça dos problemas que existem no continente africano e asiático deve-se levar em consideração os impactos causados pelos colonizadores. Uma análise que parta desse princípio nos ajudará a compreender as realidades desses povos, bem como as drásticas mudanças sofridas em sua cultura. Na perspectiva de Boahen, Na história da África jamais se sucederam tantas e tão rápidas mudanças como durante o período entre 1880 e 1935. Na verdade, as mudanças mais importantes, mais espetaculares – e também
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