Buscar

PSICOTERAPIA VIVENCIAL E FORMAcaO DO TERAPEUTA pt 3

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 13 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 13 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 13 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

PSICOTERAPIA VIVENCIAL E FORMAÇÃO 
DO TERAPEUTA 
Parte III 
 
Conteudista 
Prof.ª Me. Laura Ferreira Crovador 
 
 
 
 
 
 
2 
 
Aspectos do manejo do processo terapêutico na Terapia Existencial-
Humanista – Inconsciente, Sonhos e a Relação entre Terapeuta e Cliente 
A Terapia Vivencial, também chamada de Terapia Existencial-Humanista, 
é uma modalidade clínica relativamente recente no campo da Psicologia. 
Inserida na chamada Terceira Força da Psicologia, corrente caracterizada por 
abordagens que se contrapunham aos modelos hegemônicos propostos pelas 
teorias psicanalíticas e comportamentais. A Terapia Vivencial tem entre suas 
principais obras de referência livros como A Descoberta do Ser, de Rollo May 
(1988) e Terapia Vivencial – Uma abordagem existencial em Psicoterapia, de 
Tereza Cristina Saldanha Erthal (1989). 
Uma das principais características da Terapia Existencial-Humanista, que 
a diferencia de demais modalidades clínicas por sua fundamentação teórica. 
Enquanto outras abordagens orientam suas práticas baseadas em teorias que 
versam a respeito do funcionamento da mente e da descrição dos quadros 
psicopatológicos ou de teorias que buscam explicar o comportamento humano, 
a Terapia Existencial-Humanista baseia toda sua prática e seu entendimento 
do cliente em premissas a respeito do humano encontradas na Filosofia, 
articulando conceitos descritos no Existencialismo a uma perspectiva presente 
no Humanismo. 
Outro aspecto que diferencia a Terapia Vivencial das demais modalidades 
clínicas se refere ao método. Enquanto outras abordagens possuem técnicas 
específicas definidas a priori a serem aplicadas para todos os pacientes, a 
Terapia Existencial-Humanista trabalha com grande flexibilidade no emprego 
de diferentes técnicas, desde que seja mantida a postura característica do 
método de investigação baseado nos preceitos do referencial filosófico. 
Tanto por seu arcabouço teórico como por sua possibilidade de emprego 
de técnicas variadas na promoção do desenvolvimento do cliente, 
frequentemente a Terapia Vivencial suscita dúvidas a respeito de questões 
relativas ao cotidiano da prática clínica. Entre tais questionamentos é possível 
destacar os seguintes: Como se dá o entendimento do inconsciente, tão 
importante para a maioria das modalidades clínicas em psicoterapia, em uma 
abordagem que não trabalha com tais construtos psicológicos? Como uma 
abordagem baseada na filosofia entende e trabalha com os sonhos do cliente? 
 
3 
 
Como se dá a relação entre terapeuta e cliente numa abordagem sem uma 
técnica fixa? A proposta do presente capítulo é responder a esses 
questionamentos e explicitar de que maneira tais temáticas se situam dentro da 
perspectiva da Terapia Existencial-Humanista. 
 
A respeito da questão do inconsciente 
A atuação do psicólogo na prática clínica foi influenciada de maneira 
muito significativa pelo conceito de inconsciente postulado pela psicanálise. 
Inicialmente descrito por Freud, o inconsciente é um construto teórico que se 
tornou a base para a explicação do comportamento humano e para a 
identificação dos quadros psicopatológicos. 
Ainda que o entendimento freudiano a respeito da estrutura e do 
funcionamento do inconsciente tenha sido modificado e desenvolvido por 
outros autores em períodos posteriores, o mesmo tem sido fundamental para 
grande parte das modalidades clínicas em psicoterapia. Assim, a ideia de uma 
perspectiva teórica e prática em psicoterapia que não trabalhe com o construto 
do inconsciente gera estranhamento em muitos estudantes e profissionais 
(ERTHAL, 1989). 
Para entender a perspectiva da Terapia Vivencial, é importante ressaltar 
que não há um consenso no que se refere ao conceito do inconsciente. É 
possível entender o inconsciente de maneira diferente daquela proposta pela 
psicanálise, assim, há muitas maneiras de compreender a questão do 
inconsciente, que pode variar de acordo com os autores, sejam estes 
psicanalistas ou não. 
De acordo com Erthal (1989), existem duas maneiras básicas de se 
conceber o inconsciente: uma temporal, que se refere à impossibilidade do 
indivíduo manter todas as suas percepções, experiências e emoções 
conscientes ao mesmo tempo, e outra abissal, que se refere a concepção de 
inconsciente como centro da vida psíquica, por sua capacidade de atuar sobre 
a vida consciente, influenciando o comportamento do indivíduo. A segunda 
noção é mais valorizada pelos psicanalistas, e portanto a que exerceu maior 
influência sobre a prática clínica da Psicologia. 
 
4 
 
Dentro do contexto da Terapia Vivencial, as ideias de consciente e 
inconsciente serão concebidas a partir do referencial teórico proposto por 
Sartre. Apesar de se apropriar de conceitos de diversos autores 
existencialistas, tais como Heidegger e Kierkegaard, foi Sartre, devido 
característica de sua obra de promover uma aproximação entre Existencialismo 
e Humanismo, o filósofo de maior influência sobre essa abordagem. Assim, 
para esclarecer a maneira como a Terapia Existencial-Humanista se situa 
diante do conceito de inconsciente, é necessário fazer um contraponto entre as 
perspectivas freudianas e sartreanas não apenas do termo, mas também de 
seu impacto na vida do indivíduo e sua importância para o conhecimento do 
mesmo. 
Segundo Erthal (1989), o conceito de inconsciente foi desenvolvido por 
Freud devido aos seus trabalhos com a hipnose, que lhe sugeriram que existia 
algo que atuava sobre a permanência ou remissão dos sintomas de seus 
pacientes, sem que estes tivessem consciência dessa atuação. A partir dessas 
observações, Freud elaborou teorias de compreensão do homem a partir da 
construção de um aparelho psíquico no qual o consciente e o inconsciente são 
representações que exercem forças na vida do indivíduo, e a relação 
estabelecida entre os mesmos explica os conflitos que acometem o ser 
humano. 
Assim, dentro do arcabouço teórico organizado por Freud, o inconsciente 
é inferido a partir de evidências de sua interferência sobre a vida do indivíduo, 
e a ênfase a respeito dessa interferência acarretou na característica 
determinista, baseada em relações de causalidade entre inconsciente e 
consciente presente no modelo psicanalítico (ERTHAL, 1989). A partir dessa 
premissa, o trabalho do terapeuta nessa abordagem é possibilitar que os 
conteúdos inconscientes possam se tornar conscientes, de maneira que seja 
possível encadear uma cadeia causal que explique os desejos, emoções e 
sintomas do paciente. 
Uma vez que dentro da perspectiva existencialista o homem não pode ser 
determinado, quer por forças interiores quer por forçar exteriores, já que o 
mesmo é visto como um ser em construção que carrega a possibilidade e a 
responsabilidade de escolher a si mesmo, a ideia do inconsciente freudiano 
 
5 
 
não poderia se sustentar na prática da Terapia Vivencial. Ao examinarmos o 
referencial teórico dessa abordagem, é possível perceber que as ideias de 
Sartre e Freud não diferem apenas no que se refere ao conceito de 
inconsciente, mas também apresentam divergências essenciais a respeito do 
conceito de consciência. 
Sartre (1943) parte da ideia de que a consciência é inicialmente um nada 
ou um vazio, que somente pode se estabelecer através da relação com um 
objeto para o qual a mesma se dirige intencionalmente. De acordo com o 
arcabouço teórico desenvolvido por Sartre, a consciência deve ser 
compreendida como um ato em relação com o mundo, e por isso não pode ser 
definida como depósito de representações, ou como órgão psíquico 
encapsulado em uma interioridade do indivíduo. 
Na abordagem da Terapia Existencial-Humanista, ato e consciência não 
podem ser entendidos separadamente, e por isso a ideia de atos motivados por 
conteúdos inconscientes é rejeitada. Na teoria de Sartre, o homem é 
essencialmente livre, e a responsabilidade por suas escolhas dentro dessaliberdade é fundamental para a compreensão da condição humana. 
Assim qualquer referência a uma determinação inconsciente das ações 
do pode ser considerada como uma fuga da liberdade e da responsabilidade 
existenciais, ou, na perspectiva sartreana, como um ato de má-fé. De acordo 
com Sartre (1943) o agir de má-fé é uma possibilidade humana diante de sua 
necessidade de se posicionar frente ao mundo, caracterizada pela busca 
intencional do indivíduo de se esquivar de sua necessidade de escolher, 
fugindo de sua condição de ser livre. 
É necessário ressaltar a diferença entre o ato de má-fé e o ato de mentir, 
para que não se confunda sinceridade com ausência de má-fé. De acordo com 
Erthal (1989) a mentira é definida pela negação ou ocultação de uma verdade 
conhecida a um interlocutor que não a conhece, enquanto a má-fé não 
necessita de um interlocutor, a medida que se trata de uma escolha do 
indivíduo em sua relação consigo mesmo e com sua própria vida. Já a má-fé é 
definida pela atitude de busca de ocultação de algo verdadeiro, no caso deste 
despertar angústia e desprazer ou ainda a atitude de defender uma inverdade 
que proporcione conforto e prazer. Essa atitude se articula à possibilidade do 
 
6 
 
indivíduo de agir com o objetivo de evitar o contato com aspectos da vida 
concreta que o coloquem diante da necessidade de tomar uma decisão. 
A partir dessa perspectiva, podemos refletir que um cliente que justifica 
suas ações a partir de uma força interna - como o inconsciente - sobre a qual 
ele não tem consciência nem controle pode ser compreendido pelo terapeuta 
vivencial como alguém que está agindo com má-fé. Nesse sentido, a direção 
da Terapia Existencial-Humanista seria a de promover a aproximação do 
cliente com suas ações, ressaltando sua condição de liberdade de escolha, e 
consequentemente, de responsabilidade por suas escolhas e pela criação de 
se mesmo. 
Diante dessa premissa, o foco da Terapia Vivencial se realiza no sentido 
de promover a possibilidade do cliente vivenciar sua liberdade existencial, 
fazendo escolhas e assumindo a inteira responsabilidade sobre as mesmas. 
Devido a influência dos ideais humanistas nessa abordagem, o terapeuta 
vivencial busca orientar o cliente sempre no sentido de uma maior 
autenticidade em sua vida, e tal autenticidade só pode se dar quando o 
indivíduo assume suas escolhas, inclusive quando estas se referem a seu 
desejo de não escolher,e de deixar que outras pessoas escolham por ele. 
Essas divergências fundamentais em relação a conceituação de 
consciente e inconsciente tem desdobramentos que se estendem para além do 
propósito da prática clínica. Em diversas modalidades clínicas analíticas, o 
construto do inconsciente é a base para o entendimento de diversos 
fenômenos, tais os sonhos, o que leva muitos estudantes e profissionais a 
considerarem, erroneamente, que a Terapia Existencial-Humanista não 
considera tais fenômenos importantes e não se ocupa dos mesmos. Dentro da 
perspectiva da Terapia Vivencial esses fenômenos são reconhecidos como 
muito importantes, mas a maneira de explicar os mesmos se constrói sem o 
uso de uma ideia de aparelho psíquico. 
 
A respeito do trabalho com sonhos 
Devido a ausência do conceito de inconsciente no referencial teórico da 
Terapia Existencial-Humanista, frequentemente conclui-se que o trabalho com 
os sonhos não é uma possibilidade presente nessa abordagem clínica. 
 
7 
 
Entretanto, essa conclusão se mostra equivocada, pois a importância dos 
sonhos é reconhecida por muitas modalidades clínicas em psicoterapia. 
O trabalho com os sonhos do cliente é utilizado como recurso terapêutico 
de maneira diferente por cada abordagem, de acordo com a explicação que 
cada referencial teórico produz sobre este fenômeno. Para Freud (1972) o 
sonho é produto da realização de desejos inconscientes, enquanto para Jung 
(1977) o sonho é uma forma do inconsciente se comunicar com o consciente, e 
para Perls (1977), que não trabalha com o conceito psicanalítico de 
inconsciente, o sonho apresenta aspectos da personalidade do indivíduo não 
estão integradas. 
A Terapia Vivencial abriga a possibilidade do trabalho com sonhos dentro 
do processo terapêutico e apresenta uma nova proposta de entendimento e de 
análise dos mesmos, condizente com a visão de homem descrita pelo 
referencial do Existencialismo. Partindo do pressuposto que o homem existe 
em sua relação com o mundo, caracterizada por uma consciência intencional, 
assim, o sonho também é visto como produto da consciência (ERTHAL, 1989). 
Assim, a maneira de explicar como o sonho se forma é descrita, nas palavras 
de Erthal (1989): 
Se considerarmos que existe um paralelismo, um 
princípio isomórfico de identidade (conceito extraído da 
matemática), entre os traços existenciais expressos pelas 
presenças sensoriais do sonhar e as significações percebidas 
dos entes sonhados pelo indivíduo que sonha em toda a sua 
ampla significação nos fornecerá o modo particular (imageante) 
de ser-no-mundo que ocorre durante o sono que, através da 
consciência reflexiva, nos fornece um cabedal de explicações 
ao que ocorre agora no seu real estar-no-mundo. (p128) 
 
No trecho destacado acima, a autora descreve a maneira como o sonho é 
concebido entre os psicoterapeutas existenciais. É possível observar que, 
dentro dessa perspectiva, o conteúdo do sonho não é entendido como algo 
disfarçado, que necessite de um trabalho interpretativo para ser compreendido. 
Pelo contrário, os sonhos podem ser entendidos através de um princípio 
 
8 
 
isomórfico, ou seja, a maneira do cliente de estar-no-mundo representada no 
sonho reflete sua maneira de ser-no-mundo quando acordado. 
Os significados atribuídos aos entes no ato de sonhar também podem ser 
entendidos como parte de uma consciência intencional. Assim, dentro da 
perspectiva da Terapia Vivencial, o sonho é um recurso valioso dentro do 
trabalho clínico, não para acessar algum conteúdo inconsciente ou disfarçado, 
mas para acessar partes da personalidade do cliente que podem aparecer no 
sonho e serem entendidas através do paralelismo. 
Dessa maneira, o trabalho com os sonhos pode ser considerado como 
uma das técnicas que pode ser empregada na prática da Terapia Existencial-
Humanista, mesmo não sendo um recurso exclusivo dessa prática. Entretanto, 
a maneira como os sonhos são trabalhados, sem necessidade de 
interpretação, é que são característicos desta abordagem. A orientação de 
trabalho com os sonhos da Terapia Vivencial é a de conservação do sonho da 
maneira como exposto pelo cliente, de maneira a favorecer que o mesmo 
perceba seu significado. 
Uma vez que os sonhos apontam para possibilidades existenciais do 
cliente, o trabalho com os sonhos se mostra de grande ajuda pra concretizar o 
propósito da Terapia Existencial-Humanista, de favorecer que o cliente 
descubra e realize suas potencialidades de maneira autêntica. O terapeuta 
deve se centrar no objetivo de proporcionar ao cliente a construção de relações 
entre seus sonhos e sua vida quando desperto. 
É importante perceber a diferença fundamental entre a análise dos 
sonhos realizada pela Terapia Vivencial e a interpretação dos sonhos proposta 
pela psicanálise. Dentro da perspectiva psicanalítica, a interpretação é guiada 
pelo conteúdo, ou seja, pelas imagens presentes no sonho, de maneira que o 
significado da interpretação está contido na imagem (ERTHAL, 1989). Já na 
abordagem da Terapia Existencial-Humanista os sonhos são considerados 
como mais uma forma do cliente ser e de apresentar no mundo, cujo 
significado reside na existência concreta e situada do cliente, e não e uma 
teoria desenvolvida a priori a ser aplicada para a interpretação de todos os 
sonhos e todos os sonhadores. 
 
9 
 
Por ser influenciada pela Fenomenologia, a Terapia Vivencial trabalha 
com o conceito de intencionalidadeda consciência, e por isso o sonho é 
considerado como portador de muitas interpretações diferentes. Nesse sentido, 
o terapeuta vivencial busca basear sua análise dos sonhos nos significados 
atribuídos pelo cliente ao seu próprio sonho. 
Erthal (1989) afirma que todos os sonhos têm o potencial de ajudar a 
conhecer o momento existencial do cliente está vivendo. Por isso, a autora 
alerta para o risco do terapeuta contaminar os conteúdos dos sonhos com suas 
expectativas teóricas, ressaltando a importância da interpretação emergir do 
cliente. 
Dessa forma, é possível perceber que a ausência do conceito de 
inconsciente não impede o trabalho com os sonhos na perspectiva da Terapia 
Vivencial. Tal abordagem oferece uma compreensão particular do ato de 
sonhar e dos significados dos conteúdos dos sonhos, além de uma proposta de 
análise dos mesmos condizente com seu referencial teórico. 
 
Relação Terapeuta-Cliente 
Na Terapia Vivencial, tanto o papel do terapeuta quanto a relação entre 
este e seu cliente é permeada pelos ideais do Humanismo. Essa escola 
filosófica influenciou significativamente a Terapia Existencial-Humanista com 
seus conceitos de tendência à realização e ao desenvolvimento do homem, e 
ainda com a premissa de que o homem é essencialmente bom, mas pode ser 
afetado negativamente por fatores externos (ERTHAL, 1989). 
É possível observar tais valores na prática clínica dessa abordagem e nos 
atributos esperados do terapeuta vivencial. Uma vez que o humanismo afirma 
que, caso o indivíduo não esteja se desenvolvendo plenamente isso se deve à 
ausência de um ambiente acolhedor e favorável à promoção do crescimento 
pessoal do mesmo, uma das atribuições do terapeuta vivencial será a de 
construir, em sua relação com o cliente, este ambiente capaz de reintegrar os 
aspectos da vivência do cliente e de sua auto-imagem. O terapeuta vivencial 
deve compartilhar dos valores humanistas, tais como acreditar na condição de 
liberdade do indivíduo, confiar em sua tendência ao crescimento e em sua 
potencialidades essenciais de autorrealização. 
 
10 
 
Nesse sentido, são fundamentais para a prática da Terapia Existencial-
Humanista que o terapeuta assuma uma atitude de respeito pelo cliente 
enquanto pessoa, aceitação incondicional e compreensão empática (ERTHAL, 
1989). A partir dessas características é possível concluir que os ideais do 
terapeuta vivencial se aproximam muito das qualidades desejáveis em um 
terapeuta que atua na Abordagem Centrada na Pessoa proposta por Rogers. 
Em seu livro, Erthal (1989), frequentemente recorre a ideias propostas por 
Rogers para descrever o encontro terapêutico esperado dentro da perspectiva 
da Terapia Existencial-Humanista. 
A aceitação incondicional é considerada pela Terapia Vivencial como 
condição básica para a realização do processo terapêutico. Ao partir da 
premissa de que todo ser humano busca aceitação em sua ambiente, essa 
abordagem defende que ao se sentir em um ambiente no qual não precisa se 
esforçar para receber essa aceitação, o cliente se sentirá livre para se 
conscientizar de si mesmo e fazer escolhas no sentido de seu desenvolvimento 
pleno. 
A compreensão empática, ou empatia, deve ser entendida como “uma 
compreensão do que ocorre co o cliente como se fosse ele, sem deixar de ser 
uma pessoa diferente” (ERTHAL, 1989 p 79). A autora afirma que o terapeuta 
vivencial deve buscar essa experiência para alcançar a essência de seu cliente 
e para que o mesmo possa ter a sensação de ouvir a si mesmo através de seu 
terapeuta. 
De acordo com Erthal (1989), na Terapia Vivencial espera-se que o 
terapeuta desenvolva sua sensibilidade diante das relações humanas, para que 
através dela possa compreender seu cliente em suas potencialidades e limites. 
A autora afirma ainda que o terapeuta dessa abordagem deve ser autêntico e 
transparente, para estabelecer uma relação como pessoa em sua totalidade 
com o cliente, para assim poder ajudá-lo a perceber a si mesmo e a sua 
maneira de viver. 
Dentro da perspectiva da Terapia Existencial-Humanista, o terapeuta 
deve ser autêntico, pois considera-se que ele serve de modelo ao cliente, a 
medida que o orienta no sentido de tomar atitudes que o levam a 
autorrealização de si mesmo. Na abordagem da Terapia Vivencial, entende-se 
 
11 
 
que a autenticidade do terapeuta promove a autenticidade do cliente. Erthal 
(1989) salienta que esse modelo que o terapeuta deve ser não pode ser 
entendido como o ato de moldar intencionalmente o cliente, pois sempre 
caberá ao último o desenvolvimento de seus valores e suas tomadas de 
decisão diante de seus conflitos. 
Um aspecto que diferencia o terapeuta vivencial do terapeuta rogeriano e 
o aproxima das demais modalidades clínicas baseadas no Existencialismo é o 
trabalho com o conceito de epoché. O manejo clínico através desse conceito se 
refere à necessidade do terapeuta suspender suas opiniões, emoções e 
conhecimentos prévios a respeito do fenômeno durante o processo terapêutico, 
para dessa forma possibilitar a compreensão do cliente a partir de sua 
singularidade e dos significados que o mesmo atribui às suas experiências. 
Assim, é possível perceber que os atributos desejáveis no terapeuta 
vivencial são definidos por uma composição entre atributos de terapeutas 
humanistas, tais como os rogerianos, e de atitudes de analistas existenciais. 
Tal composição é coerente com a construção do arcabouço teórico da Terapia 
Existencial-Humanista, uma vez que seu referencial se define pela articulação 
de conceitos e perspectivas provenientes de escolas filosóficas diferentes. 
 
Conclusão 
Diante dos tópicos apresentados acima, é possível perceber que a 
Terapia Existencial-Humanista possui um referencial teórico vasto, capaz de 
abarcar a complexidade do ser humano em uma série de fenômenos, inclusive 
naqueles usualmente relacionados ao inconsciente. É importante que se 
perceba que a causalidade inconsciente presente em inúmeras abordagens 
analíticas é apenas uma construção teórica feita na tentativa de buscar 
explicações para os conflitos humanos, seus sintomas e comportamentos. 
Porém, a determinação inconsciente está distante de ser a única explicação 
possível para tais fenômenos, pois não apenas a Terapia Vivencial, assim 
como outras modalidades clínicas, é capaz de promover uma compreensão e 
um cuidado para o indivíduo sem necessariamente utilizar esse tipo de recurso 
teórico. 
 
12 
 
Ao retomar os aspectos da Terapia Vivencial abordados acima, é possível 
concluir que o referencial Filosófico não oferece um limite para a prática clínica 
do psicólogo, uma vez que este oferece elementos capazes de orientar não 
apenas a compreensão, mas também o manejo do processo terapêutico. 
Todavia, a Terapia Existencial-Humanista ainda é uma modalidade clínica 
recente, pouco conhecida em sua singularidade, e muitos equívocos ainda 
acontecem a respeito da essência de sua proposta. 
Uma vez que se compreenda a noção de homem que embasa a Terapia 
Vivencial, pode-se perceber que a ideia de que esta é uma abordagem pouco 
profunda, ou que seu referencial não fundamenta a prática clínica não passa de 
um equívoco, causado por preconceito e falta de conhecimento sobre o tema. 
Apesar dessa abordagem não ter articulado seu arcabouço teórico a partir do 
questionamento sobre determinados comportamentos ou sintomas, isso não 
significa que tais temáticas sejam negligenciadas em sua importância para a 
prática clínica. 
Com um conhecimento aprofundando da Filosofia, é possível perceber 
que a mesma tem muito a oferecer para a prática do psicólogo, na interminável 
tarefa de buscar compreender o humano em sua multiplicidade e 
complexidade. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
13 
 
Referências Bibliográficas 
 
ERTHAL, T. C. S. Terapia Vivencial – Uma abordagem existencial em 
psicoterapia. Petrópolis: Vozes, 1989. 
 
FREUD, S. Obras Completas. Rio de Janeiro: Imago, 1972. 
 
JUNG, C. G. O homem e seus símbolos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 
1977. 
 
MAY, R. A Descoberta do Ser. São Paulo: Rocco, 1988. 
 
PERLS, F. S. Gestalt-terapia explicada. São Paulo: Summus, 1977. 
 
SARTRE, J.P. L’être et le néant. Paris: Gallimard, 1943.

Continue navegando