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Fenomenologia e Existencialismo na Clínica ( EbooK )

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Diretor-presidente Jânyo Diniz 
Diretoria Executiva de Ensino Adriano Azevedo 
Diretoria Executiva de Serviços Corporativos Joaldo Diniz 
Diretoria de Ensino a Distância Enzo Moreira 
Autoria Francisca Ed inete Nogueira de Sousa 
Maynara Priscila Pereira da SIiva 
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Análise de Qualidade, Edição de Texto, Design lnstrucional, 
Edição de Arte, Diagramação, Design Gráfico e Revisão. 
© Ser Educacional 2021 
Rua Treze de Maio, nº 254, Santo Amaro 
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*Todos os gráficos, tabelas e esquemas são creditados à autoria, salvo quando indicada a referência. 
Informamos que é de inteira responsabilidade da autoria a emissão de conceitos. 
Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio 
ou forma sem autorização. 
A violação dos direitos autorais é crime estabelecido pela Lei n.º 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do 
Código Penal. 
Imagens de ícones/capa: © Shutterstock 
1 
ASSISTA 
Indicação de filmes, vídeos ou similares que trazem informações comple-
mentares ou aprofundadas sobre o conteúdo estudado. 
1 
CITANDO 
Dados essenciais e pertinentes sobre a vida de uma determinada pessoa 
relevante para o estudo do conteúdo abordado. 
1 
CONTEXTUALIZANDO 
Dados que retratam onde e quando aconteceu determinado fato; 
demonstra-se a situação histórica do assunto. 
\ 1 tratado. , -...... -
' 
" 1 
DICA 
Um detalhe específico da informação, um breve conselho, um alerta, uma 
informação privilegiada sobre o conteúdo trabalhado. 
1 
EXEMPLIFICANDO 
Informação que retrata de forma objetiva determinado assunto. 
1 
EXPLICANDO 
Explicação, elucidação sobre uma palavra ou expressão específica da 
área de conhecimento trabalhada. 
Unidade 1 - Introdução à psicologia fenomenológica existencial na clínica 
Objetivos da unidade ........................................................................................................... 13 
Temas fundamentais da Fenomenologia e Existencialismo ........................................ 14 
A existência humana dentro da perspectiva fenomenológica ................................ 16 
O ser humano e o aspecto transcendental ................................................................. 18 
O ser humano dentro de uma visão integradora ........................................................ 20 
Aspectos conceituais sobre a Clínica Psicológica ....................................................... 21 
A fenomenologia e a psicoterapia ................................................................................ 22 
O conceito de saúde e doença e a questão do normal versus patológico ............ .... 24 
A relação entre a saúde e a doença na fenomenologia ........................................... 25 
O sofrimento psicológico ............................................................................................... 27 
Sintetizando ........................................................................................................................... 30 
Referências bibliográficas ............................................................................................. .... 31 
Unidade 2 - Diagnóstico na perspectiva fenomenológica-existencial e intervenções 
clínicas 
Objetivos da unidade ........................................................................................................... 34 
O diagnóstico na perspectiva fenomenológica-existencial ........................................ 35 
O que é o diagnóstico psicológico? ............................................................................. 37 
Etapas do diagnóstico psicológico ............................................................................... 42 
O olhar do psicólogo existencialista na compreensão do diagnóstico ................. 43 
Intervenções clínicas ................. .................................................... ..................................... 45 
A psicoterapia e a prática fenomenológica ................................................................ 46 
A relação entre psicoterapeuta e o cliente ................................................................ 48 
Resultados da atuação fenomenológica-existencial ................................................ 50 
Sintetizando ........................................................................................................................... 53 
Referências bibliográficas ................................................................................................. 55 
Unidade 3 - A psicologia fenomenológica-existencial na clínica 
Objetivos da unidade ........................................................................................................... 58 
A clínica e o cuidar .............................................................................................................. 59 
O que é o cuidar dentro da prática fenomenológica-existencial. ........................... 60 
Quais as principais características da clínica fenomenológica-existencial ........ 62 
A situação existencial ......................................................................................................... 64 
O conflito existencial ...................................................................................................... 65 
A visão dimensional do ser ............................................................................................ 65 
O tempo e o espaço .............................................................................................................. 67 
O contexto de desenvolvimento .................................................................................... 68 
A existência humana e o seu tempo ............................................................................ 70 
O outro e a fala ...................................................................................................................... 71 
A escuta sem julgamento ............................................................................................... 72 
O dilema em ser o outro ............... .................................................................................. 73 
Sintetizando ........................................................................................................................... 74 
Referências bibliográficas ................................................................................................. 75 
Unidade 4- O plantão psicológico sob a perspectiva fenomenológica-existencial 
Objetivos da unidade ....................................................................................................... .... 78 
Noções básicas sobre o aconselhamento psicológico em instituições ................... 79 
Aconselhamento na saúde ............................................................................................ 83 
Aconselhamento psicológico durante a pandemia de Covid-19 ............................. 87 
Definição do plantão psicológico ................................................................................. .... 89 
Objetivos e desenvolvimento da prática no plantão psicológico ............................ 91 
f"\ aLuayau uu a1..ou11~c;;111auu1 IIU tJIOIILQU ..,~l\.oUIU~l\.oU ................................................. .J,J 
Plantão psicológico no ambiente hospitalar .............................................................. 96 
Sintetizando ........................................................................................................................... 99 
Referências bibliográficas ............................................................................................. .. 100 
A Fenomenologia Existencial na clínica é uma das abordagens dentro do 
grande e amplo campo de atuação da psicologia, tratando-se de uma linha que,como o próprio nome "existencial" aponta, se refere a uma atitude em relação 
aos seres humanos que se apresentam como um conjunto de pressupostos 
que definem sua existência como "ser". 
Essa perspectiva começa a ser entendida dentro do âmbito da filosofia, in-
fluenciando diversas correntes sobre a existência humana e a origem de seus 
comportamentos. Portanto, dentro de uma perspectiva teórica que aponta 
como o homem vive e estabelece as relações consigo próprio e com seus pares, 
é uma obrigação conhecer, analisar e ter uma visão ampla da disciplina, sem 
contar que as principais questões apontadas servem de base para a prática 
clínica dentro do contexto da Psicologia. 
Compreender como a Fenomenologia auxilia na compreensão do conceito 
de saúde e doença, além da atuação profissional dentro de uma visão huma-
nista do sofrimento humano, traz um entendimento prático referente ao lugar 
de psicoterapeuta e cliente. Assim, a ideia de normal e patológico é tratada na 
perspectiva de quebra dos estigmas e estereótipos que cercam o papel do psi-
cólogo na prática clínica. Tal abordagem contribui para a formulação de como 
é possível que um ser se relacione com outro, entendendo a comunicação a 
partir da concepção do aspecto consciente. 
FENOMENOLOGIA E EXISTENCIALISMO NA CLÍNICA • 
A professora Francisca Edinete 
Nogueira de Sousa é mestre em 
Ciências Humanas pela UNISA - Uni-
versidade de Santo Amaro (2020), 
especialista em Neuropsicologia pela 
UNIPAR - Universidade do Paraná, 
em Parceria com a UNIFESP - Univer-
sidade Federal de São Paulo (2016), e 
graduada em Psicologia pela UNISA-
Universidade de Santo Amaro (2004). 
Currículo Lattes: 
http://lattes.cnpq.br/0014542991364943 
Dedico este trabalho a Deus, em primeiro lugar, por ter me proporcionado 
esta possibilidade, aos meus professores, que sempre motivaram a passar 
meu conhecimento adiante, aos meus filhos, fonte de toda a minha 
inspiração para a vida pessoal e profissional e que me impulsionam a ser 
um bom ser humano. 
FENOMENOLOGIA E EXISTENCIALISMO NA CLÍNICA • 
.. r·-------- ----.,----- - ------- - ----
ra da Silva é mestre em Psicologia pela 
Universidade São Francisco - USF (2021). 
Graduada em Psicologia pela Universi-
dade Paulista - UNIP (2018). Trabalha na 
linha de pesquisa de construção, valida-
ção e padronização de instrumentos de 
medida. Membro do Núcleo de Estudos 
e Pesquisa em Psicologia do Esporte e do 
Exercício (NuEPPEE). Possui conhecimen-
tos voltados para as seguintes áreas: ava-
liação psicológica, psicometria e psicolo-
gia do esporte. 
Currículo Lattes: 
http://lattes.cnpq.br/2101004737875827 
Dedico este trabalho a todos que valorizam o conhecimento e a aprendizagem, 
aos meus professores e aos meus alunos, que me incentivaram e ainda são 
motivos para eu permanecer no mundo acadêmico. 
FENOMENOLOGIA E EXISTENCIALISMO NA CLÍNICA . 
UNIDADE 
ser 
educacional 
Objetivos da unidade 
Apresentar os pressupostos da abordagem fenomenológica existencial; 
Contextualizar o aspecto histórico dos conceitos de saúde e doença; 
Contribuir para a prática clínica da abordagem fenomenológica existencial. 
Tópicos de estudo 
Temas fundamentais da Feno-
menologia e Existencialismo 
A existência humana dentro da 
perspectiva fenomenológica 
O ser humano e o aspecto 
transcendental 
O ser humano dentro de uma 
visão integradora 
Aspectos conceituais sobre a 
Clínica Psicológica 
A fenomenologia e a psicoterapia 
O conceito de saúde e doença e a 
questão do normal versus patológico 
A relação entre a saúde e a 
doença na fenomenologia 
O sofrimento psicológico 
FENOMENOLOGIA E EXISTENCIALISMO NA ClÍNICA • 
•• 
Temas fundamentais de Fenomenologia e Existencialismo 
A relação entre Psicologia e Fenomenologia é um tema relevante dentro 
dos estudos da Filosofia. O primeiro filósofo a se interessar por estaques-
tão, o alemão Edmund Husserl (1859-1938), concebe a fenomenologia como 
uma nova disciplina, composta por um método rigoroso, passando a ser 
considerada uma nova ciência dentro do campo da Psicologia. Husserl tam-
bém fundamenta, ainda na segunda metade do século XIX, a compreensão 
do homem por meio de uma nova abordagem. A palavra Fenomenologia 
tem origem grega, representada por duas partes: 
• FENÔMENO: Tudo aquilo que se apresenta e é percebido através dos 
sentidos; 
· LOGIA: Estudo de uma determinada situação por meio de uma teoria. 
Dessa forma, é possível pensar que o grande interesse é explicar que o 
ser humano possui uma capacidade intrínseca para refletir sobre determi-
nado fenômeno, procurando uma explicação para sua existência, se tratan-
do de uma nova corrente dentro da Psicologia. Essa é uma das questões que 
se pretende responder, já que a fenomenologia se fundamenta em rigor me-
todológico, rejeitando todo o cient ificismo naturalista presente na filosofia 
e estudando a subjetividade de uma forma racionalista e não experimental. 
O método fenomenológico passa a fazer parte dos estudos da cons-
ciência e, nessa perspectiva, todo conhecimento se dá a partir de como 
a consciência interpreta os fenômenos, traduzindo o seu sentido na ótica 
fenomenológica e relacionando-o com o conceito de "objeto". No tocante 
ao método fenomenológico, são levantados 
aspectos ligados a uma das linhas de aten-
dimento dentro da psicologia, porém, é 
importante salientar que este método 
de investigação garante uma constru-
ção sólida dentro do campo que estuda as 
transformações de um campo de atuação, o 
que requer técnica e domínio profissional, em 
especial a respeito do entendimento do fenômeno na expe-
riência humana. 
FENOMENOLOGIA E EXISTENCIALISMO NA CLINICA • 
O método fenomenológico é empregado de modo a fazer o profissional 
compreender o fenômeno da forma 1 
como ele se apresenta para além do tr::\ 
entendimento do senso comum, que 
entende como fenômeno qualquer 
coisa que aparece. Com vistas a essa 
compreensão, a fenomenologia exis-
tencial impõe a ideia da subjetividade 
e de contexto, ou seja, a subjetivida-
de só é analisada num determinado 
contexto e necessita ser interpreta-
da de forma muto particular. 
Figura 1. llustraçJo representando Edmund Husserl, 1lósofo 
alemão. Fonte: Shunerstock. Acesso em: 06/08/2021 
Quando se pensa na questão do indivíduo num contexto, ele é respon-
sável por atribuir significado a tudo que acontece a sua volta e, em razão 
disso, se fala da interpretação dos fatos. Toda a relação com o mundo co-
meça pela percepção, ou seja, pelos sentidos. O ser humano interpreta os 
acontecimentos ao seu redor e procura dar sentido a cada um deles, numa 
dinâmica de dar sentido aos eventos do cotidiano que não é "pura", mas que 
produz interpretações a partir de um contexto específico, fazendo sentido 
a quem se insere nele. 
Para Husserl, o mundo só pode ser compreendido a partir da forma 
como se manifesta, isto é, como aparece para a consciência humana. Não 
há um mundo em si e nem uma consciência em si, embora a consciência seja 
responsável por dar sentido às coisas. Quando se pensa numa nova aborda-
gem, denominada Fenomenologia Existencial, surge a necessidade de com-
preender que tal abordagem traz a concepção de que os atos 
psíquicos têm início dentro das indagações filosóficas pois, 
uma vez que se mostra uma técnica eficiente 
dentro do campo da Filosofia, cresce a de-
manda desse tipo de fundamento dentro 
da ciência psicológica, como lembrado 
por Goto, na página 13 de Introdução à 
Psicologia fenomenológica: a nova psicologia 
de Edmund Husserl, editado em 2008. 
FENOMENOLOGIA E EXISTENCIALISMO NA CLÍNICA . 
Nessa relação, o trabalho do psicólogo na perspectiva fenomenológica 
existencial deriva da relação entre a psicologia e fenomenologia transcen-
dental, abordando o problema da distinção entre subjetividade psicológica 
e subjetividade transcendental. O método não alude apenas a um conjunto 
de ferramentas eprocedimentos de análise de uma situação trazida num 
campo terapêutico, mas faz com que o profissional tenha um cuidado para 
desvendar o que lhe é trazido, cabendo uma interpretação para além do que 
é mostrado e o significado que lhe é atribuído. 
A psicologia fenomenológica existencial surge no cenário brasileiro como 
uma perspectiva humanista na década de 1970, mesma época em que a 
própria psicologia em si, com outras linhas teóricas, busca espaço. Yolanda 
Cintrão Forghieri, uma das primeiras psicólogas a trazer a prática da pers-
pectiva humanista rogeriana (de Carl Rogers), ao se deparar com os Estudos 
de Edmund Husserl, citando a Filosofia Existencial, passa de uma atuação 
rlinir;:, rnm;:, 1/Í<:.:Ín h, ,m;:,nic:t;:, n;:,r;:,, 1m;:, rlínir;:, f,:,nnm,:,nnlnoir;:, ,:,vic:ti:>nri;:,I 
Na visão de Forghieri, o elo com o mundo pode não ser um lugar ou o 
tempo, mas uma pessoa. A angústia mediante a perda dessa pessoa ou pela 
falta de compreensão aponta que a re lação de "Ser-no-mundo" só pode ser 
ressignificada na relação com outro ser. Nesse ponto, devido ao modo como 
se enxerga o mundo, a Psicologia Humanista e a Fenomenologia se aproxi-
mam em suas práticas, pois elas analisam o indivíduo e sua relação com a 
própria existência. 
•• 
A existência humana dentro da perspectiva fenomenológica 
Evangelista, em Psicologia fenomenológica existencial: a prática psicológica à 
luz de Heidegger, de 2016, afirma que homem e mundo não se separam. Qual-
quer tentativa de separação faz com que se perca a possibilidade de conhecer 
de fato o humano, uma vez que não é possível conhecer o outro sem 
conhecer o seu mundo. Com base nesse entendimento, a 
fenomenologia faz uso da projeção, um termo da psica-
nálise. O que o indivíduo projeta no mundo está ligado 
ao significado que ele representa, externalizado a par-
tir de uma concepção interna. 
FENOMENOLOGIA E EXISTENCIALISMO NA CLÍNICA . 
O mesmo autor cita Van Den Berg, importante teórico do método fenome-
nológico e que traz essa discussão sobre a projeção (mecanismo de defesa da 
psicanálise}, declarando que, se o paciente está doente, tudo que corresponde 
ao seu mundo também está doente e, por consequência, seus objetos. Além 
disso, a abordagem fenomenológica existencial prega que o ser humano é um 
ser com toda a responsabilidade por meio de suas ações. Assim, ao longo da 
vida, ele cria um sentido para sua própria existência. 
A partir desse pressuposto de autonomia moral e existencial, o indivíduo 
faz escolhas na vida, traçando caminhos e planos. Nesse sentido, toda escolha 
implica numa perda ou em várias, de acordo com as várias possibilidades im-
postas ao indivíduo. Logo, essa é a interpretação realizada por psicoterapeutas 
numa visão fenomenológica existencialista, indicando que o ser humano é res-
ponsável por suas escolhas, haja vista o livre arbítrio. 
A 
l 
Figura 2. O ser aprisionado por suas crenças. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 06/08/2021. 
A avaliação subjetiva que o indivíduo realiza sobre um determinado evento 
pode acontecer devido a crenças irracionais. A Figura 2 demonstra que as cren-
ças e os valores interferem na forma como uma pessoa se comporta, assim, a 
subjetividade muda o conceito das pessoas conforme um acontecimento. 
Portanto, a perspectiva de acreditar ou não em um fato é gerada pela expe-
riência, dando margem a um sentimento de angústia, o que revela uma fragili-
dade humana. O ser humano é o único responsável sobre seus atos, mas vale 
ressaltar que há uma necessidade de orientar a sua existência para um projeto 
individual ou social de forma livre, o que permite fazer escolhas mais conscien-
tes e de acordo com a essência. 
FENOMENOLOGIA E EXISTENCIALISMO NA CLÍNICA . 
Nesse sentido, está presente na discussão o livre arbítrio, referente à liber-
dade do indivíduo fazer escolhas nem sempre positivas ou marcantes. Jean-
-Paul Sartre, um dos grandes percursores dentro da Fenomenologia Existen-
cial, se torna alvo de muitas críticas devido à ideia do livre arbítrio, que ignora 
os princípios de uma sociedade e faz uma análise de ocorrências consideradas 
fora dos padrões de moralidade, que se devem ao fato de haver um consenti-
mento embutido no que o autor chama de escolha existencial. 
Uma das obras mais importantes dentro da perspectiva fenomenológica 
existencial, o livro Ser e tempo, escrito por Heidegger, faz uma análise da exis-
tência humana, sendo essa a principal tarefa do "ser psicólogo", termo que 
também define o profissional atuante numa proposta que leva a uma análise 
mais apurada e realista do fenômeno. 
EXPLICANDO 
A escolha existencial, vista como um dos pressupostos básicos da 
Fenomenologia Existencial descrita por Jean-Paul Sartre, é aquela 
na qual o homem se vê diante de um dos seus maiores dilemas pois, 
mesmo com uma normatização imposta por crenças e valores, há a 
consciência intencional que impulsiona escolhas e traz responsabilida-
de pelas consequências. 
•• 
O ser humano e o aspecto transcendental 
De acordo com o Dicionário de Filosofia de Abbagnano (1998), a transcen-
dência é um termo que se vincula à concepção de divindade, indo para além 
do ser em sua existência e ultrapassando os limites da consciência. Essa com-
preensão parte do pressuposto de que o corpo é uma substância física e que 
a transcendência está ligada à alma, à natureza inteligível, sendo um aspecto 
incapaz de ser explicado pela ciência psicológica, que só pode observar acon-
tecimentos que não tem explicação e que fazem parte da existência humana. 
Portanto, esse termo traz a ideia de que Deus está além de todas as deter-
minações concebíveis, até mesmo do ser, da possibilidade de existência, nunca 
se resolvendo no possível e com o qual a única relação que o homem pode ter 
consiste na impossibi lidade de alcançá-lo. Nesse sentido, o tema transcendên-
cia do ego é entendido como a superação da identificação com uma defensiva 
FENOMENOLOGIA E EXISTENCIALISMO NA CLÍNICA . 
e socialmente imposta imagem de si, em seu sentido mais amplo, caracteri-
zando antes uma temática transpessoal e motivando a necessidade de uma 
compreensão além da explicação humana, acrescentando uma característica 
humana para além de uma mera justificativa do existir. 
Para Nietzsche, a transcendência é a busca da perplexidade, denominada 
dentro de uma concepção comparada ao termo alienação, ou seja, a pessoa 
tem uma visão dualista do mundo (real e ideal), do erro, de engano e que deve 
ser deixado de lado em relação ao superior e completo mundo ideal, em que 
o humano está sempre a perseguir e se projeta nesse ideal. Nesse sentido, o 
ser humano é responsável pelas escolhas e consequências, algo explicitado no 
conceito de livre arbítrio. 
Os objetos do mundo são seres 
em si e transcendentes, ao passo que 
o ego (sujeito), por sua vez, é um ser 
transcendente e em si mesmo. Quan-
do a consciência diz "eu penso", ela 
reconhece a existência e, de algum 
modo, deposita no ego a sua própria 
espontaneidade. Por isso, cabe recor-
dar que o ego transcendental de Hus-
serl coloca em risco toda a teoria da 
intencionalidade. 
Figura 3, Ilustração representando Fnednch Nietzsche, filósofo 
alemão. Fonte Shutterstock. Acesso em: 06/08/2021 
Sartre, como exposto no livro A Transcendência do Ego, editado em 2013, 
propõe que o Ego muda através do estímulo de habilidades existentes, ou de 
um conjunto dessas habilidades, sendo suscetível a captar e agregar para si 
tudo ao redor. Portanto, desde que essa escolha seja compatível com a sua 
realidade, o ser humano escolhe quem ele quer ser. 
Quando o autor se propõe a investigar a relação de consciência intencional, 
ele se refere ao fato do ser humano ser livre para fazer suas escolhas. Dentro 
dessa visão, há algum tempo, existe uma preocupação sobre a compreensão 
da existência humana e o aspecto transcendental, que se apesenta como uma 
das explicações, posto queestá além de uma explicação concreta, uma vez que 
se associa de maneira direta à subjetividade, o que explica a consciência inten-
cional presente nas escolhas. 
FENOMENOLOGIA E EXISTENCIALISMO NA CLÍNICA • 
•• 
O ser humano dentro de uma visão integradora 
A Fenomenologia Existencial tem como pressuposto básico apontar para 
uma visão integradora do ser humano, rejeitando ideias de que o ser huma-
no nasce bom e que as relações estabelecidas o moldam e o desviam dessa 
bondade original. Dentro dessa visão fenomenológica existencial, não há como 
não destacar que o homem procura dar sentido às suas vivências, que nem 
sempre são vividas no presente, uma vez que é possível dirigir o pensamento 
para algo já vivenciado ou que se tem a expectativa de vivenciar. 
L.Jt:lllllllUU U llUlllt:111 Ut:llllU Ut: Ullld v1::,au llllt:~ldUUld, JUl~d-::,t: rtt:Lt:::,::,artu 
expor à condição humana, permeada por eventos internos e externos, a inter-
pretação mediante os objetos que demonstram certa implicação no mundo. 
Ser livre, ter reponsabilidade e intencionalidade são características inerentes 
ao humano que podem e derivam de interpretações do comportamento, le-
vando em consideração a subjetividade. 
Nesse mesmo sentido de compreensão, a psicologia fenomenológica salien-
ta a ideia de Carl Rogers, um grande teórico que fundamenta a visão integrado-
ra do ser humano a partir de um método centrado na pessoa, compreendendo 
o homem como detentor de potenciais que necessitam de desenvolvimento e 
de qualidades que as facilitem, como congruência, aceitação positiva e capaci-
dade de empatia. 
A visão humanista é apontada como uma das perspectivas que mais se apro-
ximam da fenomenologia, passando a 
entender o homem e a relação esta-
belecida com o mundo, além do en-
tendimento da forma como o homem 
se relaciona com seus semelhantes. 
Essa nova força surge numa época em 
que o método fenomenológico é visto 
como essencial e validado na tentativa 
de trazer uma outra concepção, dando 
significado e conceituando com feno-
menologia existencial a compreensão 
do fenômeno e a existência humana. 
,. 
FENOMENOLOGIA E EXISTENCIALISMO NA CLiNICA . 
A partir de uma concepção sólida e de outras correntes, a Psicologia Huma-
nista aparece como uma perspectiva que alcança seu lugar de respeito a nível 
mundial no campo da Psicologia referente à teoria, prática e pesquisa. O méto-
do humanista se aproxima da perspectiva fenomenológica e dá grande ênfase 
a ela pelo fato de que seu precursor, Carl Rogers, ao responder seus pacientes, 
facilitava a compreensão do discurso, repetindo de forma que o indivíduo pu-
desse se conectar ao terapeuta. 
Tal método, ao facilitar uma fluência livre de sentimentos e pensamentos, 
pode levar esse indivíduo a uma elaboração por meio de lembranças de forma 
empática, pois o paciente se sente seguro na relação com o psicoterapeuta. 
Dentro desse entendimento do livre fluir dos sentimentos, é possível pensar 
nos objetivos de olhar o homem como um todo dentro do aspecto 
da evolução, levando ao autodesenvolvimento e à autorrealização. 
Um outro teórico nessa linha de pensamento é Abraham 
Maslow, que explicita a ideia da influência do existen-
cialismo na forma de compreender a personalidade e 
as escolhas de indivíduo para alcançar seus objetivos e 
desenvolver seu bem-estar. 
Aspectos conceituais sobre a Clínica Psicolónica 
•• 
May, em A Psicologia e o dilema humano (2009), afirma que a fenomenologia 
existencialista se desenvolve na Europa, dentro da Psicologia e da Psiquiatria. Sob 
diversas ênfases, o autor ressalta que, nesse movimento de desenvolvimento da 
perspectiva fenomenológica, três pontos de vista se sobressaem. 
O primeiro olha de outra maneira para realidade do paciente por meio do méto-
do fenomenológico em si, algo abordado por Edmund Husserl. A segunda questão 
apontada é a de que a psicoterapia baseada na fenomenologia existencial se propõe 
a compreender, dentro de uma visão holística, o homem em sua totalidade. 
A terceira ênfase faz uma junção das duas primeiras e tem como definição como 
um termo referente à Ontologia, mas ainda pouco conhecido dentro da Psicologia. 
Segundo o aristotelismo, parte da filosofia tem por objeto o estudo das proprieda-
des mais gerais do ser, a partir da infinidade de determinações que, ao qualificá-lo 
particularmente, ocultam sua natureza plena e integral. 
FENOMENOLOGIA E EXISTENCIALISMO NA CLÍNICA . 
A atuação do profissional do psicó-
logo numa perspectiva fenomenológi-
ca existencial traz a proposta de que 
o paciente é compreendido na relação 
particular e concreta, ou seja, na re-
lação paciente e terapeuta, diante de 
uma relação estabelecida no encontro 
do terapeuta-paciente. Nesse sentido, 
o atendimento do paciente acontece a 
partir dele mesmo e da maneira como 
Figura 3. Ilustração representando Martin Heidegger. filósofo 
ele vive, num encontro existencial. alemào. Fonte Shutterstock. Acesso em: 06/09/2021 
Heidegger é um dos teóricos que apontam que a Ontologia permite a elu-
cidação da vivência do paciente na situação e na sua relação particular e con-
creta que se estabelece a cada encontro. A atitude do terapeuta permite que 
o paciente compreenda sua situação dentro de uma posição de interrelação . 
•• 
A fenomenologia e a psicoterapia 
A fenomenologia é descrita como a forma de olhar o ser humano no mundo 
a partir de como ele próprio interpreta determinados fenômenos de sua exis-
tência. Dessa forma, fazer uma relação da fenomenologia dentro da atuação 
psicoterápica é importante para criar um elo entre a prática e o indivíduo, possi-
bilitando que ele se beneficie do trabalho psicológico. 
Conforme descrito por Holanda (2007), o campo fenomenológico está sem-
pre em encontro com outro campo, estabelecendo uma relação dualista, em 
que há a partilha de experiências e sentimentos mútuos. Contudo, deve-se ficar 
claro que não há a troca de lugar, mas, sim, uma projeção em campos diferentes. 
Nesse sentido, entende-se que a psicopatologia necessita de uma análise 
em sua totalidade e, diante dessa realidade, a abordagem fenomenológica se 
mostra como uma revolução de paradigma. Isso porque, a partir da adoção des-
sa metodologia, a doença passa a ser entendida dentro de pres-
supostos inerentes à concepção humana, buscando-se a com- • 
preensao aa aoença mental ae maneira gerai, o que ressalta a 
importância do terapeuta e do setting terapêutico. 
FENOMENOLOGIA E EXISTENCIALISMO NA CLÍNICA . 
Assim, quando aplicada à psicoterapia, a fenomenologia subentende a postura 
do indivíduo, analisando sua atitude no encontro com o fenômeno e revelando, as-
sim, a dificuldade pessoal em entender sua subjetividade quando esta entra em con-
tato com a subjetividade do outro - uma relação intersubjetiva e de ser-no-mundo. 
Os psicólogos que atuam com a perspectiva fenomenologia devem expressar 
uma atitude que leve o paciente, de acordo com o que ele pensa e sente, a t rilhar 
um percurso para o alcance da autorrealização. Logo, o papel do terapeuta envolve 
aceitar o que é trazido pelo paciente, sem que haja qualquer tipo de julgamento, 
uma vez que o conteúdo expresso equivale ao que o indivíduo vivencia. De acordo 
com Heidegger: 
O campo por onde passamos lá fora, mostra-se como o campo que 
pertence a alguém, que é por ele mantido em ordem; o livro usado foi 
comprado em tal livreiro, [ .. .] o barco ancorado na praia refere-se a um 
conhecido que nele viaja ou então um barco desconhecido mostra ou-
tros (HEIDEGGER, 1998, p. 169, adaptado). 
Com essa afirmação, enfatiza-se que os encontros entre os seres acontecem de 
forma diferente em um mesmo mundo, sendo importante compreender o contexto 
em que cada um está inserido e como o ambiente influencia suas decisões. Logo, 
busca-se um profissional do encontro que assuma uma postura de compartilha-
mento da existência. Ele deve se considerar comoum ser limitado também, mas que 
busca desvendar os obstáculos que impedem aquele que o procura de encontrar 
seu verdadeiro sentido para a existência. 
O encontro terapêutico possibilita ao indivíduo analisar suas decisões e refletir 
sobre valores e crenças responsáveis por quaisquer escolhas que venha a ter. Assim, 
partindo da premissa de não julgar, tende-se a compreender as influências existen-
tes, com base na subjetividade, a qual pode ser descrita como a percepção do eu. 
Portanto, nessa abordagem, o campo terapêutico tem 
um papel essencial devido à relação estabelecida, uma 
vez que o aspecto do vínculo é abordado de maneira 
particular. Com isso, objetiva-se levar o paciente a vi-
ver de forma livre e plena, havendo resposta positiva 
frente ao processo terapêutico e permitindo a ele o au-
toconhecimento em consequência do desenvolvimento 
de suas potencialidades. 
FENOMENOLOGIA E EXISTENCIALISMO NA CLÍNICA • 
O conceito de saúde e doença e a questão do normal 
versus patológico 
•• 
O conceito de saúde se modifica conforme o contexto em que o indivíduo 
está inserido, sendo preciso analisar o tempo, a cultura e os valores aos quais 
ele está relacionado. Scliar (2007) reforça tal ideia, afirmando que a concei-
tuação de saúde carrega a ligação diret a com alguns aspectos, como fatores 
econômicos e políticos. Logo, diversos fatores devem ser considerados para 
que haja uma definição adequada. 
No que concerne à época, por exemplo, saúde e doença foram vistas como 
situações de grande interferência de concepções divinas. Diante desse pa-
norama histórico, apareciam como uma espécie de desobediência frente às 
regras impostas pela igreja. O entendimento sobre saúde foi descrito ainda 
como ausência de doença. Porém, com os avanços em estudos, houve uma 
reformulação conceituai, passando-se a entender a saúde como a capacidade 
de lidar de forma satisfatória com as adversidades do dia a dia das pessoas. 
Dessa forma, ela pode causar prejuízos de acordo com as possíveis reações a 
situações e até mesmo restabelecer bem-estar físico e mental. 
Na visão fenomenológica, doença e saúde, mais especificamente a primeira, 
são concebidas como tentativas de preservação do ser por parte do indivíduo. 
A exemplo dos acometidos por uma doença mental, há uma dificuldade de fa-
lar sobre o assunto, uma vez que os quadros podem resultar em sofrimento e, 
muitas vezes, são frutos de preconceito na sociedade. Entretanto, sendo uma 
condição como qualquer outra doença que venha a atingir um indivíduo, ela 
possui tratamento e, por isso, necessita de uma cons-
tante compreensão, fato este que se expande para o 
estudo do funcionamento cerebral (PAREKH, 2018). 
Permeada por valores e crenças responsáveis por 
decisões, ressalta-se que a relação entre saúde, doen-
ça e concepção do dilema humano é influenciada 
e influencia a percepção do indivíduo. Por isso, 
dentro da abordagem fenomenológica, o termo 
responsabilidade se apresenta com um fator de-
terminante a ser analisado. 
FENOMENOLOGIA E EXISTENCIALISMO NA CLÍNICA • 
•• 
A relação entre a saúde e a doença na fenomenologia 
Os conceitos de saúde e doença devem ser analisados de acordo com a evo-
lução histórica e a partir de um contexto cultural, social, político e econômico. 
Isso porque houve uma mudança das ideias, diretamente ligadas à experiência 
humana. A exemplo de tal evolução, tem-se a Lei Antimanicomial, que se tor-
nou um marco para o campo da Psicologia. Segundo a Organização Mundial da 
Saúde (OMS, 1978), a saúde não é ausência da doença, e, sim, um conjunto de 
habilidades específicas que determinam como uma pessoa lida com situações 
adversas a seu cotidiano. 
CONTEXTUALIZANDO 
A Lei Antimanicomial n. 10.216 (BRASIL, 2001) dispõe so-
bre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de 
transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial 
em saúde mental, criando as bases legais para um cuidado 
4ut:: 11:::,µt::llt:: u:, Ullt::llU::. IIUllldllU::. t:: uu:,4ut:: lldldl t::111 IIUt::l-
dade, com prioridade para a rede ambulatorial de serviços. 
Com relação aos hospitais psiquiátricos antes permitidos, 
Antonin Artaud, escreveu em 1925 uma carta relatando o 
sofrimento dos pacientes. Para ler o conteúdo dela, acesse 
o site da Rede Humaniza SUS. 
De acordo com Frayze-Pereira (1984, p. 22), "se o normal se define mediante 
a execução de um projeto normativo, este, ao mesmo tempo que engendra o 
anormal (o anormal é condicionado pelo normal), é acionado por ele (o anor-
mal é condição do normal)". Nesse sentido, a relação estabelecida entre os con-
ceitos de normalidade e anormalidade é concebida diante de um cenário que 
depende da análise da conjuntura em que foi desenvolvida em uma determina-
da sociedade. Assim, considera-se o que é valorizado e qual é o entendimento 
do conceito de doença que leva um ser a ser normal ou anormal. 
Dentro da fenomenologia, o conceito de doença está diretamente ligado 
ao fato de o ser humano ser visto pelos papéis que exerce na sociedade, a qual 
é criadora de padrões. Quem foge a esses padrões se apresenta como um ser 
anormal e, com isso, não é possível distinguir o normal do patológico, uma vez 
que a estrutura de saúde está relacionada aos dois conceitos. 
FENOMENOLOGIA E EXISTENCIALISMO NA CLÍNICA . 
ASSISTA 
O filme Nise: o coração da loucura (2016), dirigido por Roberto Berliner, 
retrata a história de Nise da Silveira, na década de 1950, que revolucionou 
o tratamento psiquiátrico, contrariando seus colegas. Essa profissional 
inicia uma nova forma de lidar com os pacientes por meio da arte e ressig-
nifica a doença de seus pacientes. 
Nesse sentido, a doença mental deve ser entendida como um produto da 
interação entre as condições de vida socia l, a trajetória específica do indiví-
duo e sua estrutura psíquica. Ela pode ser justificada de duas formas: por 
meio de um processo orgânico; ou consequência de processo psicofuncional. 
Ao se questionarem sobre a origem das doenças mentais, os profissio-
nais podem se deparar com uma questão difícil de ser respondida. Uma das 
possíveis respostas é a crise de identidade vivenciada pelos homens nos 
tempos atuais. Ela pode desencadear o fenômeno da ansiedade, que pode 
levar à destruição da capacidade de um ser interpretar de forma positiva suas 
experiências, havendo uma despersonalização e, por consequência, o adoe-
cimento mental. 
FENOMENOLOGIA E EXISTENCIALISMO NA CLÍNICA . 
Por conseguinte, compreender o significado da doença mental é, em mui-
tos casos, como montar um quebra-cabeça. Para tal, faz-se necessário for-
mular pressupostos ontológicos, uma vez que o terapeuta não conhece muito 
sobre o paciente, além da busca por uma centralidade perdida, que pode ter 
acontecido devido à angústia ou à ansiedade, por exemplo. 
Atenta-se ainda à concepção sobre a corporeidade, especificamente hu-
mana, que designa o corpo vívido ou existencial, sendo uma noção criada por 
alguns teóricos da Psicologia. Também descrita como conflito existencial, 
quando se compreende a ideia de corporeidade, pode-se perceber a enfer-
midade como uma ruptura da unidade do corpo, que, para a fenomenologia, 
não pertence ao ser humano. 
Essa ruptura representa a perda de funcionalidade e controle que o indiví-
duo tem sobre seu corpo, fazendo com que a doença ou enfermidade se reve-
le como um desgaste na capacidade raciona l diante da existência. A perda da 
familiaridade com seu próprio corpo representa também a falta de liberdade, 
uma vez que, geralmente, há a submissão a tratamentos que levam a uma 
cisão com a realidade. A liberdade, dessa forma, é entendida como se fosse 
direcionada por outros. 
Nesse sentido, a fenomenologia pode ser de grande contribuição para a 
situação de adoecimento. Dentro da prática clínica, ela permite que o ser hu-
mano na vivência de um dilema, caracterizado por um sentimento dúbio, 
enfrente o que ele é, o mundo e comoele se apresenta, ou seja, a relação com 
o objeto e consigo próprio. 
•• 
O sofrimento psicológico 
O sofrimento é uma questão que permeia a humanidade, sendo observado 
de diversas maneiras, com várias terminologias e formas de ser compreendido. 
Uma dessas formas baseia-se em explicar a existência humana diante da veri-
ficação de que o humano possui um vazio existencial que causa solidão. Esse 
vazio pode ser caracterizado como uma marca de como as pessoas são e tem 
sido frequentemente uma das principais queixas presentes nos consultórios, 
aliada às crescentes dificuldades de estabelecer relacionamentos duradouros 
e amorosos verdadeiros. 
FENOMENOLOGIA E EXISTENCIALISMO NA CLÍNICA . 
O sofrimento nasce de uma relação de causa e efeito e da interpretação que 
o indivíduo faz diante de uma determinada vivência. Nesse sentido, a atuação 
frente ao sofrimento precisa ser construída por meio de uma dialética que pos-
sa ser investigada a partir da compreensão da subjetividade. 
Figura 5 Demonstração do sofrimento em diversos contextos. Fonte Shunerstock. Acesso em: 06/08/202'. 
A problemática do sofrimento psíquico está no fato de que ele pode se tor-
nar patológico. Isso ocorre pois ele pode levar a uma adaptação do indivíduo 
com relação a uma determinada situação, impedindo o desenvolvimento de 
sua potencialidade de maneira positiva e o estabelecimento de relações inter-
pessoais de forma assertiva. 
Perante o sofrimento de uma pessoa que procura ajuda, existe uma pers-
pectiva de que isso ocorre devido a um desequilíbrio. Os sintomas apresenta-
dos estão, assim, diretamente associados à maneira como o indivíduo mantém 
sua existência, aspecto que está em desequilíbrio e pode levar a um desajus-
tamento. Nesse sentido, o ajustamento é necessário para que a centralidade 
seja mantida. 
Pode-se dizer que a noção de ser-no-mundo, levantada pela fenomenolo-
gia, não se dá apenas nas relações que se estabelece consigo mesmo e com os 
outros; está na abertura do ente em sua totalidade. A perspectiva de totalidade 
está determinada pelo cuidado e também pelo fato de que o próprio ser é ex-
perimentado como um ser no mundo. 
FENOMENOLOGIA E EXISTENCIALISMO NA CLÍNICA . 
Conforme descrito por May (2009), diante da realidade de pacientes que 
precisam de auxílio para o ajustamento, a psicoterapia necessita da fenomeno-
logia para tecer uma análise diante da relação entre terapeuta e paciente, que 
tem origem na clássica transferência. A transferência, assim como outros con-
ceitos trazidos por Freud (1976), designa uma ampliação da influência da per-
sonalidade, ou seja, a compreensão de que vivemos nos outros e eles, em nós. 
o 
Autoconceito Autoimagem Autoestima 
Figura 6. Conceito de s, mesmo, como a pessoa se vê e na relação com o outro. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 
06/08/2021. 
Dessa forma, a abordagem fenomenológica auxilia a responder algumas 
questões formuladas, a exemplo de como o ser humano pode se relacionar 
com outro sem que haja interferências. Essa resposta é possível, em muitos 
casos, porque se entende que a transferência acaba por contribuir para uma 
distorção na relação terapeuta e paciente. 
FENOMENOLOGIA E EXISTENCIALISMO NA CLÍNICA . 
Sintetizando • 
O objetivo dessa unidade foi apresentar um panorama geral da Psicologia 
Fenomenológica como uma abordagem que tem como principal fundamento a 
compreensão do ser humano a partir da relação que este estabelece consigo 
próprio e com o mundo. A fenomenologia tem suas raízes na Filosofia, bus-
cando tornar racionais e científicas questões que permeiam a subjetividade 
humana. 
Para compreender a doença com auxílio dessa perspectiva, é preciso en-
tender o conceito de normalidade, partindo do pressuposto de que o normal é 
uma construção social. Ademais, existe a necessidade de contextualizar cada 
uma das questões que levam o indivíduo a desenvolver um quadro de doença 
que o leve a sofrimento psíquico. Dessa forma, indica-se uma atuação mais 
humanizada para que sejam criadas estratégias de enfrentamento frente a de-
terminados problemas. 
Assim, para auxiliar sua trajetória como psicoterapeuta, cabe ressaltar que 
a relação que se estabelece com o paciente, apesar de necessária, depende da 
capacidade de separar o que é seu e o que é do outro e de ser empático. Assim, 
ao considerar o uso da fenomenologia, busca-se não somente experimentar o 
sofrimento do outro, mas também compreender o que o fez ter essa percepção 
diante de um fenômeno, possibilitando a ele a mudança necessária. 
FENOMENOLOGIA E EXISTENCIALISMO NA ClÍNICA . 
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FENOMENOLOGIA E EXISTENCIALISMO NA CLINICA . 
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-manicomios-1925/>. Acesso em: 06 ago. 2021. 
FENOMENOLOGIA E EXISTENCIALISMO NA CLINICA • 
UNIDADE 
~ 
ser 
educacional 
Objetivos da unidade 
Mostrar o diagnóstico psicológico sob a perspectiva fenomenológica 
existencial; 
Expor linhas de intervenções clínicas na perspectiva fenomenológica. 
Tópicos de estudo 
O diagnóstico na perspectiva 
fenomenológica-existencial 
O que é o diagnóstico psicológico? 
Etapas do diagnóstico psicológico 
O olhar do psicólogo exis-
tencialista na compreensão do 
diagnóstico 
Intervenções clínicas 
A psicoterapia e a prática fenome-
nológica 
A relação entre psicoterapeuta 
e o cliente 
Resultados da atuação fenome-
nológica-existencial 
FENOMENOLOGIA E EXISTENCIALISMO NA ClÍNICA • 
•• 
O diagnóstico na perspectiva fenomenológica existencial 
Dentro da atuação psicológica, em especial de quem atua dentro da clíni-
ca, o diagnóstico é um dos principais passos para estabelecer o plano tera-
pêutico para uma pessoa submetida a processo de avaliação física ou mental. 
Entender o diagnóstico auxi lia na compreensão daenfermidade, da etiologia 
e de quais os fatores inseridos no contexto individual. Nesse sentido, muito 
mais do que apenas classificar uma doença, diagnosticar é um auxílio à pró-
pria atuação profissional. 
Delimitar os pressupostos de um diagnóstico não é uma tarefa tão sim-
ples, pois requer domínio de técnicas e habilidades específicas, de modo a 
garantir uma visão realista das condições de alteração física e mental. Numa 
abordagem fenomenológica que estuda a manifestação e a essência das coi-
sas tais como elas aparecem, em se tratando do diagnóstico, é necessário ter 
atenção ao que o paciente manifesta, analisando e interpretando a forma 
como esse ser enxerga os diversos fenômenos que aparecem e influenciam 
sua existência. 
Visão Audição Olfato Paladar Tato 
Figura 1 As percepções. em geral, se dão pelos sentidos. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 10/09/2021. 
O método fenomenológico pressupõe que o indivíduo avalia de forma sen-
sorial, logo, os sentidos revelam como cada pessoa avalia sua vivência. Esse 
método se contrapõe ao que as ciências positivistas até agora veem como aná-
lise de comportamento, porque a ideia é chegar a uma perspectiva mais huma-
nista, olhando as vivências, mas sem esquecer o rigor científico, aspecto que se 
faz presente em qualquer metodologia de estudo da mente humana. 
FENOMENOLOGIA E EXISTENCIALISMO NA CLÍNICA • 
A avaliação de uma condição de fragilidade vai além da compreensão 
de algo objetivo, pois entender a subjetividade e a construção de uma ex-
periência traz explicações sobre o comportamento das pessoas e como elas 
constroem suas realidades, que, às vezes, podem se apresentar distorcidas. 
Vários autores contribuem para a perspectiva de que a fenomenologia ex-
plica a essência e a manifestação de determinados fenômenos, porém, tal 
manifestação nem sempre se relaciona à interpretação que a pessoa tem da 
realidade, uma vez que o significado da existência humana se dá pela inter-
pretação pura e única da própria experiência. 
Como essas questões levantadas são muito complexas e merecem ser 
abordadas de uma maneira mais objetiva, para entender como a fenome-
nologia chega ao diagnóstico, é importante traçar uma linha mais clara e 
objetiva do que é o diagnóstico psicológico de uma visão tradicional para, 
em seguida, chegar à perspectiva do método fenomenológico. O processo de 
diagnóstico pode estar ligado a eventos situacionais vivenciados pelas pes-
soas em certas fases de sua vida. Por isso, avaliar significa olhar para o ciclo 
vital e compreender o que é esperado para cada momento. 
Um exemplo disso se dá quando um adolescente chega ao consultório e 
apresenta crises relativas ao momento de vida, que podem ser decorrentes 
da própria fase de desenvolvimento. Ou seja, a adolescência é por si só uma 
fase crítica, em que muitas questões estão em processo de definição e o psi-
cólogo que se depara com esse caso tem pela frente um grande desafio, dife-
renciando o que é patológico daquilo que é esperado para essa fase. 
Nesse sentido, o método de investigação fenomenológico identifica quais 
os pressupostos do contexto, na tentativa de estabelecer um 
parecer realista e útil para traçar uma intervenção. Todavia, 
dada a necessidade de olhar para as questões 
citadas, é importante uma análise numa pers-
pectiva existencialista sobre qual o nível de 
sofrimento em que o adolescente se en-
contra e até que ponto isso influencia, de 
maneira negativa, a forma como ele enxer-
ga a realidade a sua volta, promovendo uma 
visão realista do evento. 
FENOMENOLOGIA E EXISTENCIALISMO NA CLÍNICA • 
O método fenomenológico como forma de investigação traz uma dimen-
são explicativa que vai além do que o senso comum apresenta, isto é, o fenô-
meno pode ser uma construção social e, a partir disso, é possível pensar que 
a adolescência também é algo construído e, nesse construto, estão presentes 
questões muito peculiares e que merecem ser investigadas de uma maneira 
mais efetiva e realista da situação. 
Um dos pressupostos da existência humana consist e em se deparar com 
o dilema de ser sujeito e objeto ao mesmo tempo. Isso se nota pela observa-
ção dos pacientes nas vivências, com alguns se transformando em pacien-
tes psiquiátricos. Contudo, dentro dos termos de um diagnóstico, existe 
um organismo em situação de desajustamento e há uma busca desse orga-
nismo para tentar se organizar em maior ou menor extensão. Por isso, se 
faz necessário exercer a empatia na re lação com o paciente, independente 
do diagnóstico. 
' 
,, 
DICA 
No livro O paciente psiquiátrico - esboço de uma psicopatologia feno-
menológica, Jan Hendrik Van Den Berg, um importante teórico holandês, 
aponta uma perspectiva que trata uma questão importante na compre-
ensão de um fenômeno como ele aparece, fazendo uma retomada da 
filosofia e da contribuição dela para o entendimento de que mente e corpo 
não se separam. Tal leitura possibilita uma compreensão do processo de 
adoecimento de uma pessoa e como a percepção é responsável por esse 
adoecimento. 
•• 
O que é o diagnóstico psicológico? 
O diagnóstico psicológico aborda uma questão presente no campo da psico-
logia, procurando, por meio de uma série de ferramentas, direcionar o melhor 
caminho para uma questão, como uma doença que pode ter causa mental ou 
emocional. Esse conceito de diagnóstico não representa algo novo 
dentro do campo da psicologia, uma vez que ele provém de 
outras áreas de conhecimento, como a medicina. Men-
surar questões que justificam determinados tipos de 
comportamento é um desafio, pois exige a compreen-
são da etiologia em situações específicas. 
FENOMENOLOGIA E EXISTENCIALISMO NA CLÍNICA . 
Um primeiro ponto alude ao fato do diagnóstico psicológico se pautar por 
uma série de técnicas específicas, de modo a garantir uma avaliação fidedigna 
e válida, no tocante ao que é apresentado, para melhor interpretar as questões 
relacionadas ao diagnóstico de algo que se denota como patologia. Entender o 
conceito e sua função são passos importantes, pois eles se relacionam, ou seja, 
diagnosticar é identificar o estado em que um indivíduo se encont ra e descrever 
os principais sintomas apresentados. 
Outra questão que merece destaque é o delineamento do que é definido 
como quadro clín ico do sujeito para, de acordo com a percepção e observação 
do terapeuta, abordar de forma mais realista e útil dentro da intervenção. A 
grande diferença para os outros métodos, posto que o método fenomenológico 
propõe outros pontos de vista para a compreensão da questão exposta, está no 
principal objetivo da fenomenologia, que consiste em olhar para o processo de 
saúde para além de uma mera classificação que conceitua uma doença. 
Em algumas abordagens, há preferência por um processo de transparência 
entre o terapeuta e o cliente. Na abordagem fenomenológica não é diferente, já 
que a primeira forma de tratamento e de intervenção e tarefa primordial do pro-
fissional, é garantir a informação ao paciente. Com todo esse direcionamento, é 
possível traçar os benefícios de estabelecer o diagnóstico, em especial se a pes-
soa estiver ciente, e o melhor alinhamento da intervenção clínica. A fim de evitar 
confusões entre os significados, o Quadro 1 traz a diferenciação do diagnóstico 
e do quadro clínico. 
QUADRO 1. DIFERENÇA ENTRE DIAGNÓSTICO E QUADRO CLÍNICO 
~ 
Quadro clinico Diagnóstico 
Situação em que o paciente se encontra Classificação dos sintomas 
Sintomas apresentados Definição da intervenção clínica 
Estado mental Definição do estado mental 
Estado físico Definição do processo físico 
FENOMENOLOGIA E EXISTENCIALISMO NA CLÍNICA . 
Fixar uma diferença entre quadro clínico e diagnóstico é vital numa inter-
venção clínica eficaz e útil para a realidade do paciente, pois o quadro clínico 
nem sempre reflete o diagnóstico, que abrange questões mais amplas. Ou seja, a 
queixa nem sempre reflete o que acontecede fato ou está relacionada à questão 
existencial, pois é nesse aspecto que a fenomenologia existencial se fundamen-
ta. O diagnóstico psicológico também tem como premissa deliberar as diferen-
ças entre sintomas físicos e psicológicos presentes num quadro de adoecimento. 
A Figura 2, por exemplo, ilustra um quadro de ansiedade, uma das doenças que 
se manifestam de forma que causa desequilíbrio, levando a pessoa a desenvol-
ver sintomas físicos e psíquicos. 
Fatores de 
risco 
o 
Medo de 
falhar 
Más 
notícias 
• 
Dificuldades 
financeiras 
~ 
Timidez 
Evtntos 
dramáticos 
Oq111f ·--· ...... 
~ 
- Sintomas físicos Probl•mas de sono 
• S.m Aumtnto da 
conc,ntraçJo fr,qublda cardíaca 
~ ~ 
Medo suor 
Tratamentos 
Comunica1Jo Psicoterapia Atividades ffslcas 
Figura 2. Quadro de ansiedade. Fonte· Shutterstock Acesso em: 10/09/2021 (Adaptado). 
Um quadro de ansiedade precisa ser avaliado de forma com-
preensiva e ampliada, pois o que parece ser uma questão física 
pode trazer uma concepção muito maior do que é, uma 
vez que a doença pode ser impactante para quem a 
desenvolve, porém, em muitos casos, ela é inter-
pretada somente como uma questão física, o que 
dificulta o diagnóstico real. 
FENOMENOLOGIA E EXISTENCIALISMO NA CLÍNICA . 
EXPLICANDO 
A ansiedade é uma das enfermidades mais incapacitantes e que, nas 
últimas décadas, tem sido apontada como a maior causa de afastamentos 
de profissionais em diversas áreas. Várias pesquisas (GANDRA, 2020) 
apontam que a população brasileira é uma das mais ansiosas do mundo, o 
que se deve a fatores como o contexto social de intensa competição e as 
autoexigências desenvolvidas pelas pessoas. 
Nessa perspectiva, é possível identificar a forma como o indivíduo convive 
com essa doença e qual a relação estabelecida, isto é, a relação de ganho nessa 
situação. Quando um paciente chega ao consultório em busca de um olhar para 
a questão patológica que interfere na sua existência, causa um certo desajusta-
mento diante de uma situação muito particular, que tem como conceito direto o 
modo de comportamento no mundo. 
O diagnóstico também é uma possibilidade de oportunizar o paciente a se 
conciliar com a sua existência, resolvendo conflitos que não se tinha ideia da 
existência. Um exemplo dessa questão é o entendimento de que o diagnóstico 
pode levar o indivíduo ao autoconhecimento e ao desenvolvimento de formas de 
lidar com sua situação de uma maneira mais positiva, trazendo uma melhoria no 
relacionamento consigo e com os outros. 
No concernente ao diagnóstico na perspectiva fenomenológica existencial, o 
método fenomenológico se baseia na descrição da realidade como ela se apre-
senta. Antes de descrever como essa investigação acontece, no entanto, é preci-
so compreender o que se define como "atitude fenomenológica". Logo, a etapa 
seguinte ao diagnóstico traça a melhor abordagem para uma intervenção clínica 
adequada a cada necessidade. 
Quando se investiga o fenômeno a partir da 
compreensão da atitude fenomenológica, se 
tem como prerrogativa trazer respostas a 
situações de inquietação. Nesse sentido, a 
atitude fenomenológica pode ser traduzida 
como aquilo que se acumula como experiência 
até o presente momento e que causa, por conta 
de algum evento, influências na maneira como um indivíduo 
avalia suas ações e seu futuro. 
FENOMENOLOGIA E EXISTENCIALISMO NA CLÍNICA . 
Figura 3. O indivíduo é responsável por aquilo que constrói. Fonte Shutterstock. Acesso em: 10/09/2021. 
O que o indivíduo traz como pressuposto está ligado ao que é construído por 
ele até então, por isso, a fenomenologia tem como objetivo auxiliar na interpreta-
ção da imagem dessa construção por meio das atitudes que baseiam a realidade 
vivenciada. Compreender um fenômeno e classificá-lo como uma psicopatologia é o 
primeiro passo, na perspectiva da Psicologia, quando se pensa num diagnóstico que 
revela questões da existência humana, que é recheada de momentos e escolhas 
que podem gerar dúvidas e levar o indivíduo a sofrer por conta de uma exigência 
interna e externa. 
Durante muitos anos, os estudos de psicologia compreendiam que as reações 
humanas eram instintivas e, com a presença de uma perspectiva de humanização, 
novos elementos se tornavam parte do cotidiano, trazendo novas formas de inter-
pretação. Aqui não se pretende tirar a importância da percepção humana e de como 
ela reage às situações instintivas, mas, sim, contribuir para a compreensão de rea-
ções que acontecem porque há uma ligação direta de como o ser interpreta o fato, 
algo ligado à sua experiência. 
Com isso, se chega à ideia de que o comportamento humano, numa situação 
aqui descrita como fenômeno, é maior que uma mera reação motivada por um as-
pecto sensorial diante de determinados estímulos, o que aponta para a investigação 
de uma situação, que só ocorre quando há a compreensão de quem é esta pessoa 
que se apresenta e a forma como ela lida com situações ligadas à sua existência. 
FENOMENOLOGIA E EXISTENCIALISMO NA CLÍNICA . 
Outro ponto importante se refere ao fato de levantar o conhecimento de um 
evento em que sujeito e objeto se relacionam, obtendo uma hipótese do que 
pode acontecer nessa interrelação que se estabelece, uma vez que conhecer um 
objeto só é possível pelo reconhecimento das condições dessa questão, como 
os objetos envolvidos - se são conhecidos pelo indivíduo ou se referem a uma 
•• 
Etapas do diagnóstico psicológico 
O diagnóstico psicológico, na perspectiva fenomenológica, exige a com-
preensão de que "ser doente" se está falando, além do sentido de sua existên-
cia. Dentro da Psicologia tradicional, 
uma das primeiras etapas para chegar 
ao diagnóstico de uma enfermidade 
compreende até que ponto a enfer-
midade interfere na capacidade do 
indivíduo de lidar com situações coti-
dianas, identificando os sintomas e a 
evolução deles na vida do paciente. 
Quando há a presença de uma si-
tuação que causa uma desorganização 
de personalidade, o indivíduo pode 
desenvolver um quadro de angústia 
perante aquela situação, causando uma tensão que, além de questões emo-
cionais, leva a alterações físicas que submetem o restabelecimento do estado 
de saúde do indivíduo a uma avaliação, o que requer um método investigativo 
para garantir uma indicação segura e eficaz. 
Ao procurar a psicoterapia, o paciente possui uma necessidade existencial 
de compreensão, questão que aponta para uma conexão a ser esclarecida 
numa realidade referente ao próprio paciente, dada a situação de sofrimen-
to observada. Na atualidade, o método fenomenológico é descrito como um 
recurso que se aprimora diante das limitações das demais visões dentro da 
Psicologia, no sentido de apresentar técnicas e procedimentos que aliviam as 
causas das aflições humanas. 
FENOMENOLOGIA E EXISTENCIALISMO NA CLÍNICA . 
Figura 4. Método de compreensão de forma ma,s empática. Fonte: Shutterstock Acesso em: 10/09/2021 
Vale lembrar que o diagnóstico vai além de um método avaliativo com apli-
cação de ferramentas e procedimentos, pois cada paciente é um ser único e, 
por isso, deve ser olhado dentro de suas particularidades e pecul iaridades. Ter 
conhecimento das etapas de um diagnóstico é importante para assegurar, por 
parte do profissional, uma efetividade na forma de levantamento de uma hipó-
tese, o que envolve um processo pelo qual o indivíduo é colocado numa con-
dição de avaliação que por si só causa uma fragilidade, posto que a avaliação 
mexe com estruturas intactas ou emergentes. 
•• 
O olhar do psicólogo existencialista na compreensão 
do diagnóstico 
A personalidade é o ponto central dos estudos da psicologia, seja qual a 
linha de abordagem. Assim, entender seu funcionamento ajuda a determinar 
os pontos interpretados e levados em consideração numa intervenção sobre 
o que leva o indivíduo a adoecer. Ao profissional que atua numa perspectiva 
fenomenológica, se faz necessário compreenderque tipo de funcionamento 
o paciente tem ao procurar um tratamento. O método fenomenológico é em-
pregado na tentativa de fazer com que o profissional compreenda o fenômeno 
para além do entendimento do senso comum, que entende como fenômeno 
qualquer coisa que aparece. 
FENOMENOLOGIA E EXISTENCIALISMO NA CLÍNICA . 
O método fenomenológico, após um processo de transposição, sai da filo-
sofia e passa a fazer parte do escopo da Psicologia, tendo como fundamento 
investigar o objeto por meio de uma concepção de que, até então, só seria pos-
sível chegar a uma composição de classificação do que o indivíduo tem como 
justificativa para aquilo que ele tem através de uma parte da ciência objetiva. 
A fenomenologia existencialista surge com a tarefa de prover uma com-
preensão mais aprofundada e fundamentada para investigações mais lógicas 
e com base na observação de como os indivíduos interpretam os fenômenos 
presentes em sua existência, o que se denomina como diagnóstico dentro da 
psicologia. Conforme descrito por Goto (2008), o despertar da fenomenologia 
se inicia com a refutação do psicologismo e com a plena diferenciação entre a 
filosofia e a psicologia. O autor cita Husserl, precursor da fenomenologia, e a 
impossibilidade da Psicologia em fundamentar certas questões de forma que o 
método fenomenológico não perca o rigor das intervenções. 
A ideia central da Fenomenologia Existencial não é a de se distanciar da Psi-
cologia tradicional, mas de desenvolver um olhar diferenciado para o mesmo 
aspecto que, no caso, é a consciência. O método investigativo na perspectiva 
fenomenológica é designado como uma maneira de investigar e denominar a 
subjetividade presente num fenômeno e suas estruturas presentes na existên-
cia humana. 
Ainda de acordo com Goto (2008), para o cumprimento da Fenomenologia 
como método investigativo, Husserl 
teve que impor questões relacionadas 
"às coisas e a si mesmas", estabelecen-
do uma explicação muito relacionada à 
origem das coisas. Compreender a re-
lação entre terapeuta e cliente é uma 
das premissas do método fenomeno-
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história do terapeuta, aspectos pre-
sentes na sua existência e que servem 
de exemplo do que o cliente produz 
com outras pessoas, embora esses aspectos sejam considerados na relação de 
modo a não gerar atitudes equivocadas. 
FENOMENOLOGIA E EXISTENCIALISMO NA CLÍNICA • 
•• 
Intervenções clínicas 
A intervenção clínica na Psicologia consiste em tratar o sofrimento e a dor 
presente nos quadros de adoecimento. O sofrimento decorrente de quadros 
de desordens psicológicas ou psiquiátricas necessita de uma intervenção psi-
cológica e, dessa forma, um trabalho terapêutico tem como princípio básico 
diminuir o sofrimento de uma pessoa que busca mudança frente a uma si-
tuação. A intervenção clínica requer a capacidade de exercer a empatia, de 
forma subjetiva, mesmo que a pessoa traga algo que foge de uma realidade 
concebida. Não cabe ao terapeuta julgar o sofrimento ou a realidade apre-
sentada, pois seu papel é livre, uma vez que o diálogo com o outro acontece 
o tempo todo. 
No desenvolvimento do método fenomenológico existencial, seja no âm-
bito da psicologia ou da psiquiatria, os profissionais fogem de padrões cons-
truídos, apenas explicando as coisas pelas suas causas. Algo presente nesse 
campo é a busca das causas das coisas, estabelecendo causa e efeito nas 
situações. A afetividade é um componente da relação terapêutica que leva ao 
sucesso ou não. Na maioria dos casos, o processo terapêutico traz benefícios 
ao paciente que se motiva com esse processo, que oferece um espaço de es-
cuta de modo a possibilitar ao indivíduo ressignificar sua existência. 
A escuta na abordagem fenomenológica existencial tem um papel pri-
mordial ao auxiliar o terapeuta na compreensão da expressão do sofrimento 
humano, sendo a mais importante ferramenta do 
terapeuta, que precisa desenvolver uma habilida-
de específica para facilitar essa questão, o que 
exige treino e tempo para aprimorar essa habi li-
dade. Tal atitude garante o alcance de bons resulta-
dos dentro de um processo terapêutico, tendo em 
vista que ouvir é o primeiro ponto de interven-
ção e escutar vai além de avaliar somente o 
que é dito. Quem fala, elabora o seu conteú-
do por meio de uma linguagem desorganiza-
da, mas que traz conteúdos que se organizam 
de maneira muito singular. 
FENOMENOLOGIA E EXISTENCIALISMO NA CLÍNICA . 
Em muitos casos, a presença do sofrimento acarreta dor, por isso, é im-
portante ter em mente que a aproximação de um indivíduo em ta l situação, 
ou que se encontra nessa condição, requer um aprimoramento da escuta, de 
forma a traçar uma estratégia muito mais efetiva no alívio desse sofrimento. 
Vale ressaltar que a ideia não é dar uma resposta, mas promover um mo-
mento de acolhimento para um sofrimento que precisa ser ouvido dentro 
da realidade da pessoa, posto que a dor nem sempre é percebida da mesma 
forma por quem está a seu lado. Desenvolver um método cujo pressuposto 
é a capacidade de compreensão do homem e da forma como ele se relaciona 
com outras pessoas e ao mesmo tempo se relaciona com o objeto que está 
dentro de si é muito importante, além de seguir alguns passos nesse proces-
so, elementos essenciais para a investigação. 
•• 
A psicoterapia e a prática fenomenológica 
Ao abordar a psicoterapia e a prática fenomenológica, se faz necessário pen-
sar sobre pontos importantes, em especial no que diz respeito às eventuais di-
ferenças entre a psicoterapia em outras perspectivas e linhas de abordagem da 
prática fenomenológica Tal questão é complexa, assim como a prática fenome-
nológica, no sentido de abordar um dos principais aspectos levantados pela psi-
cologia tradicional, visto que a neutralidade na relação com o outro deve existir 
como principal característica de efetividade num trabalho psicológico. Na práti-
ca fenomenológica existencial não existe neutralidade, uma vez que o encontro 
existencial de terapeuta e paciente se trata de um momento de troca e de víncu-
lo que se estabelece e, como na própria psicanálise, isso não consiste em atuar 
na contratransferência, pois esse aspecto se relaciona à empatia. 
FENOMENOLOGIA E EXISTENCIALISMO NA CLÍNICA . 
O método fenomenológico compreende o ser humano dentro de sua pers-
pectiva, fugindo de padrões estabelecidos de maneira objetiva. Isso se dá em 
razão da disputa entre as abordagens no que tange à construção da imagem 
humana. Com isso, antes de tudo, a fenomenologia traz essas compreensões 
dentro de uma visão humanista, dando sentido ao que o paciente expõe como 
realidade, olhando para essa pessoa e entendendo qual seu sofrimento diante 
de uma situação. Desse modo, a abordagem fenomenológica existencial afirma 
que se deve olhar para o ser humano e sua natureza de homem dentro de uma 
visão ontológica. 
do ser, numa perspectiva em que ele pode ter outras existências, não sen-
do algo limitado e se opondo a uma questão física que limita a existência 
humana. Um dos precursores desse termo dentro da filosofia foi o filósofo 
alemão Martin Heidegger. 
Essa visão também é importante para compreender a responsabilidade do 
cliente no processo terapêutico, uma vez que o estabelecimento de uma relação 
terapêutica saudável se dá por meio de uma atitude primordial do indivíduo, 
dando margem à importância de identificar sua postura frente ao processo in-
terventivo. A fenomenologia existencial não 
descarta questões relacionadas ao proces-
so de resistência que é apresentado por 
um indivíduo. 
Em muitas abordagens, há uma ten-
tativa de imposição do ponto de vista, po-
rém, a fenomenologia existencial não traça 
seus objetivos a partir dessa postura.Assim, 
o indivíduo requer um olhar acolhedor frente à 
intervenção clínica proposta. A percepção do 
paciente com relação ao evento sobre o fenô-
meno faz com que a esfera do inconsciente 
seja aumentada, logo, é importante olhar para 
o que emerge no primeiro encontro para terapia. 
FENOMENOLOGIA E EXISTENCIALISMO NA CLÍNICA . 
Figura 5. A ontolog,a surge da perspectiva de que nào há uma explicaçào ún,ca. Fonte. ISOTANI; BITTENCOURT, 2015 . 
•• 
A relação entre psicoterapeuta e o cliente 
Um ponto importante a se pensar é que tal relação acontece numa pers-
pectiva interpessoal e que muitas intervenções só têm êxito de acordo com 
a qualidade da relação. A primeira questão levantada na intervenção está 
em compreender o que motiva a pessoa, descrita como paciente ou cliente, 
na busca por um profissional que possa direcioná-lo para um caminho de 
descobertas rumo à mudança esperada. A segunda questão diz respeito ao 
conhecimento do método que o profissional tem como premissa, já que as ex-
pectativas da linha de abordagem são diferenciais, assim como o profissional, 
que deve ter domínio da linha de atuação, a fim de que o paciente se dê conta 
de que estar ali representa um encontro existencial entre terapeuta e cliente. 
Com base nesses aspectos, o que se pretende abordar é que a 
relação terapêutica tem um caráter fundamental para o resulta-
do de todo o processo psicoterápico. Em muitos ca-
sos, há uma negligência por parte do profissional 
em não compreender o que o paciente traz como 
sofrimento e tal atitude impacta na relação, que 
é essencial para desfechos positivos dentro do 
método fenomenológico. 
FENOMENOLOGIA E EXISTENCIALISMO NA CLÍNICA . 
A relação entre terapeuta e paciente, descrita como encontro, se estabe-
lece antes da ida ao consultório, logo, o encontro existe antes da sua concre-
tização, dada a expectativa que permeia todo o processo. O estudo dessa 
relação na abordagem fenomenológica existencial compõe a busca por uma 
ajuda, descrita como um evento que causa, a princípio, uma certa curiosida-
de em compreender a presença da pessoa, algo que pode te r um significado 
muito particular. 
Figura 6. O papel do terapeuta é interpretar e traduzir o que o paciente traz. Fonte. Shutterstock. Acesso em: 10/09/2021. 
Essa relação é o resultado de uma troca de saberes entre o profissional e 
quem traz uma história carregada de emoção e, em muitos casos, uma carga 
de sofrimento que interfere no modo de vida. Em muitos casos, a situação 
trazida na psicoterapia reflete um conflito existencial que leva o indivíduo 
a um desajustamento e desorganização diante da vida, que o impede de agir 
com naturalidade e equilíbrio. 
ASSISTA 
O filme Um homem sério, lançado em 2009 e dirigido por Joel e Ethan 
Coen, traz questões que apontam para os conflitos existenciais. O filme 
traz a história de um homem que enfrenta muitas angústias, vive em crise 
por diversos fatores que acompanham a sua vida - como o relacionamen-
to com os filhos, a esposa e o trabalho - e, na busca da resolução de seu 
conflito existencial, procura várias explicações. 
FENOMENOLOGIA E EXISTENCIALISMO NA CLÍNICA . 
O comportamento do terapeuta é um fator determinante na relação com 
o cliente, visto que a atitude frente ao outro é um aspecto que determina a 
atitude do outro. Conforme colocado, a atitude fenomenológica explicita que, 
numa postura filosófica, é compreender que a fenomenologia de Edmund 
Husserl é, em primeiro lugar, uma atitude ou postura filosófica e, em segundo 
lugar, um movimento de ideias com método próprio, visando ao rigor radica l 
do conhecimento. Assim sendo, Husserl acompanha o sonho de Descartes, 
de fundamentar a filosofia e as ciências numa verdade única, embasada sob 
diferentes perspectivas. 
•• 
Resultados da atuação fenomenológica-existencial 
Os resultados da atuação fenomenológica-existencial não são fáceis de se-
rem mensurados, mas é preciso compreendê-los, uma vez que o profissional 
precisa se dar conta do seu papel na atuação com o outro. Além disso, a ques-
tão é complexa em virtude da subjetividade presente no processo, pois o re-
sultado é interpretado de formas diferentes, visto que a tarefa de avaliar não 
cabe somente ao terapeuta, uma vez que se faz necessária uma interpretação 
de ambas as partes dentro da perspectiva teórica. 
• • ,, 
1 
• • 
Figura 7. Acolhimento do sofrimento. Fonte: Shutterstock. Acesso em: 10/09/202' 
FENOMENOLOGIA E EXISTENCIALISMO NA CLÍNICA . 
A escuta é apontada como um dos grandes ganhos da humanidade, em es-
pecial quando há a possibilidade de uma escuta acompanhada do acolhimento, 
pontos importantes do trabalho profissional. Essa atuação fenomenológica é 
descrita como um encontro existencial e se concebe dentro de uma relação 
intersubjetiva, de realidades diferentes, mas de vivências muito próximas, de 
forma que o encontro possibilita o exercício da empatia, algo que também não 
t: 1 dLII Ut: :::>t:I t:At:I LIUU. 
A fenomenologia existencial pressupõe entrar em contato com a realidade 
do outro, por meio da denominada consciência que, dentro do método feno-
menológico, é substituída pela palavra percepção, uma vez que se entende que 
a interpretação de um determinado fenômeno parte do pressuposto de que 
é pela percepção que ela acontece. Quando se aborda a questão do incons-
ciente, termo muito abordado dentro da psicologia, é possível imaginar que, 
na abordagem fenomenológica, o inconsciente passa por uma perspectiva na 
qual o sujeito busca uma compreensão profunda do que se é, além de uma 
explicação das suas escolhas. 
O método fenomenológico descrito por Martin Heidegger traça a questão 
Hermenêutica, que se refere à compreensão do ser no mundo, em que o ser 
se relaciona à existência do que se é e das escolhas que se faz, porém, é im-
portante lembrar que a abertura para uma vivência só é possível mediante um 
sentido estabelecido em dado momento. Pensar em um método terapêutico é 
pensar no cuidado, e o cuidar, nesse sentido, representa uma atitude de olhar 
para o outro, o que envolve impressões e ideias acerca de um fenômeno. 
Ao falar sobre as impressões, está se referindo a algo direcionado pela ma-
neira como cada pessoa enxerga a própria existência de sua forma, conheci-
mento construído de forma imediata pela realidade ligada à experiência atual, 
mas que tem relação com o construído pelos sentidos. O método 
fenomenológico parte de um pressuposto em que o conhecimen-
to é denominado como transcendental, através da fi-
losofia transcendental e seus estudos sobre a sub-
jetividade, que só é compreendida graças a uma 
escuta apurada que, conforme exposto, requer 
habilidade de manejo das situações demonstradas 
pela pessoa em processo de adoecimento mental. 
FENOMENOLOGIA E EXISTENCIALISMO NA CLÍNICA . 
Com base nessa informação, a subjetividade dentro de um processo de ava-
liação é difícil de ser delimitada, todavia, se trata de um fator importante, pois ela 
garante a compreensão de uma real situação. Dentro da perspectiva fenomeno-
lógica existencial, esse é o principal aspecto, visto que o profissional tem o gran-
de desafio de trazer à tona elementos subjetivos que precisam ser investigados. 
Com essa concepção de transcendental, o método de atuação fenomenológico 
traz uma explicação de como o fenômeno aparece para uma pessoa. 
No entanto, antes de compreender o que é um problema mental e como o 
profissional auxilia uma pessoa que necessita de tratamento específico, se faz 
necessário conceituar que mente e corpo não se separam e, sendo assim, é im-
portante saber como um evento afeta o corpo de tal maneira que, em alguns 
momentos, seja impossível para o profissional detectar sua origem. Para expli-
car os resultados de um método fenomenológico, é preciso compreender que a 
abordagem trata sobre uma questão de existência e aponta para questões de 
mudança diante da visão e interpretação das diversas

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