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1 Teoria Geral do Direito Privado I Sala XI 1º semestre/2010 2 Interpretação da lei: processo hermenêutico e seus cânones INTERPRETAÇÃO: ação cujo resultado útil é entender algo, buscar extrair seu sentido ou significado. (Betti) COMPREENDER X EXPLICAR “Mundos fundamentais”: As ciências naturais devem ser explicadas, enquanto que as ciências humanas devem ser compreendidas. O ato de explicar consiste em descrever as relações de causa e efeito para descrever algo que já existe. Por outro lado, compreender consiste em inserir algo em outro contexto, estabelecendo conexões de sentido. O direito, como ciência humana, não pode ser meramente explicado, mas sim compreendido, uma vez que as normas jurídicas são juízos de valor. Na compreensão, é necessária tanto a objetividade (letra da lei deve ser respeitada) quanto a subjetividade, há uma contribuição inerente ao interpretador. 4 CÂNONES DA INTERPRETAÇÃO (HERMENÊUTICA): a) Autonomia do objeto: a interpretação deve extrair a essência do texto e, portanto, a intenção do legislador b) Totalidade e coerência: deve-se explicar o todo pelas partes e as partes pelo todo, sendo um todo coerente. c) Atualidade do entendimento: transposição do objeto do passado para a realidade atual. d) Adequação do entendimento: o intérprete deve adotar uma posição adequada frente ao objeto, despindo-se de preconceitos e colocando-se em um ponto de vista adequado (abertura mental) Os critérios A e B são critérios objetivos, enquanto que o C e o D são subjetivos. Na interpretação, a compreensão e a explicação aparecem como dois estágios diferentes de um “arco hermenêutico”. O “arco” possui os dois primeiros critérios. Na junção dos quatro critérios, forma-se o “círculo hermenêutico”. Alguns autores adotaram a expressão “espiral hermenêutica”, pois quando dá a volta, não retorna ao ponto de partida, uma vez que já evoluiu. É necessário partir de uma pré-compreensão acerca do objeto, que consiste no conhecimento da matéria que é regulada e da linguagem do legislador. Essa pré- compreensão leva a uma conjectura de sentido, uma hipótese de trabalho que pode ser confirmada ou não ao longo da interpretação. MEIOS INTERPRETATIVOS a) Sentido literal da linguagem: sentido que as palavras adquirem em um código lingüístico; sentido que prescinde das demais circunstâncias e do objeto. Esse meio 3 funciona como ponto de partida necessário e delimita o quadro de sentidos possíveis, fixando as margens de atuação. b) Contexto normativo: consiste em inserir a palavra na frase e a frase no contexto da norma a ser interpretada. Não interpretar uma norma isoladamente, mas no conjunto em que foi inserida. c) Elemento histórico: analisar o contexto em que a norma foi criada. É fundamental destacar que o que importa não é o que o legislador quis exprimir por meio da lei, mas sim o que está expressamente dito, declarado. d) Elemento teleológico/ finalístico: consiste em definir o objetivo do legislador; qual interesse desejava tutelar. Não há uma relação hierárquica fixa entre esses meios interpretativos e não é possível entendê-los como auto-suficientes. O sentido literal e o contexto normativo devem sempre ser levados em consideração. Além disso, o intérprete deve utilizar os meios mais adequados a cada caso concreto, e deve fundamentar essa escolha. INTERPRETAÇÃO EXTENSIVA OU RESTRITIVA: Extensiva: amplia o sentido da norma durante a interpretação. Restritiva: restringe o sentido da norma se essa for muito ampla. 4 Coerência no ordenamento jurídico e as antinomias QUATRO PROBLEMAS CENTRAIS NO ORDENAMENTO JURÍDICO: 1. Unidade 2. Pluralidade (vários ordenamentos) 3. Coerência: envolve as antinomias jurídicas - há, no ordenamento jurídico, uma exigência de compatibilidade entre as normas jurídicas (Bobbio) 4. Completude TRÊS SENTIDOS DO SISTEMA JURÍDICO (BOBBIO): a) Sistema lógico-dedutivo (sistema jusnaturalista): baseado em postulados dos quais são extraídas as demais normas. As normas desse sistema têm umas às outras uma relação de conteúdo e implicação mútua b) Sistema dinâmico (Kelsen): conjunto de normas postas pela mesma autoridade competente. A relação entre as normas é formal, é pelo modo que são postas que se relacionam. c) Sistema moderno (Bobbio): É um meio termo entre o sistema lógico-dedutivo e o sistema dinâmico. ANTINOMIA: Como as normas jurídicas têm caráter de permitir, obrigar ou proibir, as antinomias ocorrem quando dois ou mais são simultâneos. Para ocorrer antinomias, as normas devem pertencer, necessariamente, a um mesmo ordenamento e podem ter sido emanadas por fontes distintas. CONDIÇÕES PARA AS ANTINOMIAS: a) Normas pertencentes a um mesmo ordenamento. Lei × costume: prevalece a lei Lei × contrato: depende da natureza da lei (cogente ou dispositiva). Direito natural × direito positivo (podem ocorrer antinomias em ordenamentos jurídicos distintos, quando há entre eles uma relação de subordinação ou coordenação) Ordenamento internacional × nacional (não constituem ordenamentos diferentes, uma vez que o internacional é internalizado) Quando os ordenamentos são independentes, não existem antinomias. b) Normas devem ter o mesmo âmbito de validade. Material Pessoal 5 Espacial Temporal Nova definição de antinomias: incompatibilidade entre normas pertencentes a um mesmo ordenamento e que possuem os mesmos âmbitos de validade. TIPOS DE ANTINOMIAS: I. Total – Total: Exemplo: É proibido fumar X É permitido fumar Nesse caso, para solucionar a antinomia é possível eliminar as duas normas ou apenas uma. II. Parcial – Parcial: Exemplo: É permitido fumar cigarro e charuto X É proibido fumar cachimbo e charuto. Nesse caso, deve-se optar pela norma 1 ou 2 no aspecto que tange seu conflito. III. Total – Parcial: Exemplo: É proibido fumar X É permitido fumar cigarro A solução nesse caso consiste em escolher entre a norma 1 ou 2. Há antinomias propriamente ditas (as que estão citadas acima) e as antinomias impróprias (principiológicas, valorativas ou teleológicas.) CRITÉRIOS PARA A SOLUÇÃO DE ANTINOMIAS: 1. Cronológico: Lex posteriori derogat priori. a. O direito evolui e pode tanto derrogar tacitamente (mais comum) e expressamente (menos comum). 2. Hierárquico: Lex superiori derogat inferiori. a. A lei complementar e a lei ordinária não possuem diferença hierárquica (decisão do STF + STJ). No topo da pirâmide hierárquica, estão as normas da Constituição Federal de 1988, as emendas constitucionais e os Tratados Internacionais de Direito Humanos aprovados com quorum de emenda constitucional, isto é, 3/5 da aprovação do Congresso. Em segundo plano na pirâmide, estão os Tratados Internacionais de Direitos Humanos anteriores à emenda que determina o status de tratados para a mesma hierarquia, ou seja, anteriores a 2004. Em terceiro plano estão as leis ordinárias, as leis complementares e os Tratados que não são de Direitos Humanos. Por fim, na base da pirâmide estão dos decretos do poder executivo. 3. Especialidade: Lex specialis derrogati generali. a. A lei especial derroga a lei geral (“tratar desigualmente o desigual”) Ao deparar-se com uma antinomia solúvel, é possível afastar uma norma, duas normas ou optar por considerar uma antinomia falsa, fazendo apenas uma interpretação corretiva e conservando-se o máximo possível. 6 ANTINOMIAS INSOLÚVEIS: os critérios são insuficientes 1. Nenhum critério é aplicável. A solução está nas mãos do intérprete com base na sua discricionariedade. a. O intérprete pode afastar uma das normas (interpretaçãoab-rogante); b. Pode afastar as duas normas (dupla ab-rogação), mesmo não sendo stricto sensu, pois as normas permanecem no Ordenamento Jurídico; c. Pode conservar ambas, considerar que se esta diante de uma falsa antinomia e faz uma pequena correção em uma das normas (interpretação corretiva). Conflitos de segundo grau: 1. Cronológico X Hierárquico: ocorre quando uma norma superior e anterior entra em conflito com uma norma inferior e posterior. Nesse caso, decide-se em favor da norma superior, sendo o critério hierárquico mais forte que o cronológico. Essa decisão consiste em um metacritério, isto é, um critério absoluto. 2. Cronológico X Especialidade: ocorre quando uma norma anterior e especial entra em conflito com uma norma posterior e geral. Nesse caso prevalece a norma anterior e especial, sendo que, mais uma vez, o critério especialidade é mais forte que o cronológico. Essa decisão não constitui metacritério, pois não é um critério absoluto, é necessária a ponderação. Deve-se levar em consideração que a norma posterior pode ter a finalidade de derrogar a especial, que pode nem mais fazer sentido 3. Hierárquico X Especialidade: em tese, prevalece o critério hierárquico, mas a norma especial inferior pode também prevalecer. Assim, deve-se levar em conta se a norma especial é apenas uma adaptação da superior ou a contraria. 7 Lacunas DEFINIÇÃO: quebra de continuidade de uma série, conjunto ou sistema. “Incompletude insatisfatória num seio de um todo.” (Engisch) Quando há completude no ordenamento, há solução para todo caso concreto. REGRAS GERAIS: 1. O juiz é obrigado a resolver todo e qualquer conflito que chegar a ele. Ele não pode declarar “non liquet”, isto é, que o caso não está claro. 2. O juiz deve sempre decidir baseando-se em uma norma do ordenamento jurídico vigente. Quando não houver norma legal, o juiz deve recorrer à analogia, aos princípios gerais do direito e aos costumes, decidindo sempre com equidade. TIPOS DE LACUNAS: Reais, próprias ou autênticas: são aquelas que se verificam efetivamente quanto um sistema jurídico tal como ele é não contempla determinado conteúdo. Ideológicas, impróprias ou não-autênticas: surgem da comparação entre um sistema ideal e um real. Não constituem lacunas verdadeiras. Voluntárias ou intencionais: o legislador deixa a lacuna conscientemente quando o tema é complexo, deixando a resolução para o juiz ou para as doutrinas (portanto, pelos juristas). As lacunas nem sempre são deficiências, muitas vezes constituem técnicas legislativas. Norma programática sem legislação específica que a regule não constitui lacuna, mas sim um plano. Involuntárias e não-intencionais: lacunas resultantes da imperícia do legislador ou de alterações nas circunstâncias. Originárias ou primárias: a norma já nasce com a lacuna. Supervenientes ou secundárias: resultante de mudança nas circunstâncias e nos fatores sócias (avanços tecnológicos) Patentes ou aparentes: são visíveis, percebe-se de antemão que a norma não possui solução para o caso. Latentes ou ocultas: não é evidente, mas ao aprofundar a interpretação (confrontar com a razão teleológica) percebe-se que não há solução para o caso concreto e é necessário reduzi-la. A redução teleológica consiste, portanto, na restrição inesperada na finalidade da norma. 8 MÉTODO DE PREENCHIMENTO DE LACUNAS (LARENZ) 1. Costumes: fonte subsidiária. 2. Analogia: transposição de uma regra legal prevista para uma hipótese específica para outra hipótese que não foi expressamente regulada, mas é semelhante à hipótese prevista. As hipóteses concordam em alguns pontos, mas não em todos. Para integrar por analogia deve-se, em um primeiro momento, identificar a “ratio legis” (razão da norma) e em seguida é preciso fazer uma dupla constatação. Uma constatação positiva, demonstrando se os aspectos principais estão previstos em ambas as hipóteses. E, por fim, uma constatação negativa, que consiste em verificar se os pontos de distinção entre as hipóteses não são decisivos. Assim, o método analógico configura um juízo valorativo. A analogia é fundamental no campo do direito dos contratos, pois há contratos não previstos em lei e que são, geralmente, estendidos. Existem dois tipos de analogia, a legis ou particular, citada anteriormente e a júris ou geral, de caráter inferior, baseadas nos princípios gerais de direito. 3. Princípios gerais de direito: não são claramente expressos e são muito mais abertos e flexíveis que uma regra jurídica, comportando inúmeras interpretações. Vão além da mera indução, pois há análise valorativa. 4. Redução Teleológica: se dá quando a norma é carente de restrição, e essa carência vem a tona quando a letra da lei está em desacordo com sua finalidade. Assim, deve- se reduzir a norma para que esteja de acordo com sua teleologia. Ocorre em lacunas latentes/ ocultas. 5. Outros: Correção teleológica (norma contraditória) É possível afirmar, portanto, que a analogia está para a interpretação extensiva, assim como a redução teleológica está para a interpretação restritiva. A analogia, a redução teleológica e os princípios gerais de direito vão além da interpretação e do que está expressamente escrito. Assim, os três estão no campo do desenvolvimento do direito, indo além da letra da lei, mas sempre imanentes a ela. 9 Cláusulas Gerais A cláusula geral consiste em uma espécie de técnica legislativa, isto é, técnica de elaboração de normas jurídicas. Além disso, pode ser entendida como norma jurídica elaborada por técnica legislativa, que possui cláusula geral. As cláusulas gerais nasceram no Código Civil Alemão (BGB) e eram usadas com consciência e aplicação jurisprudencial. A cláusula paradigmática é a do parágrafo 242, a respeito princípio da boa fé (art. 422 do Código Civil Brasileiro). O Código Civil Francês só passou a ter cláusulas gerais posteriormente. O termo “cláusula” não é aqui usado de forma técnica, como termo contratual negocial. O que necessariamente caracteriza as cláusulas gerais é a sua imprecisão ou vagueza. A generalidade não constitui uma característica necessária, nem tão pouco exclusiva. TÉCNICA LEGISLATIVA: 1. Casuística: a descrição normativa é feita de modo preciso, rigoroso e fechado seguida de uma conseqüência jurídica. Ex.: Crimes previstos no Código Penal brasileiro 2. Da Cláusula Geral: a descrição normativa é composta de um ou mais termos vagos/ imprecisos, o que confere à norma uma amplitude semântica muito maior do que na técnica casuística. Portanto, a técnica demanda um desenvolvimento jurisprudencial muito mais intenso. A atividade do juiz e seu papel criativo são mais ativos. É comum, também, que devido à imprecisão as cláusulas gerais careçam de parâmetros, conceitos e conseqüências jurídicas. A vagueza semântica é intencional, por um lado, e necessária, por outro lado. Além disso, a vagueza possibilita circunscrever uma ampla variedade de casos. Exemplos de cláusulas gerais: Art. 186 do C.C.: responsabilidade civil subjetiva - aquele que dolosa ou culposamente causar dano moral a outrem (danos morais) Art. 187 do C.C.: fim econômico social / princípio da boa fé / princípios dos bons costumes – abuso do direito. Art. 884 do C.C.: vedação ao enriquecimento sem causa. Art. 1277 do C.C.: do uso anormal ou inadequado da propriedade vizinha. Art. 422 do C.C.: a boa fé do direito privado. 10 Princípio Jurídico Os princípios jurídicos são normas fundamentais de uma organização jurídica como um todo ou de uma área deste que possuem uma função diretiva. Os princípios podem ser expressos ou não. Não estão claramenteexpressos os princípios gerais de direito. Ex.: Separação dos poderes, irretroatividade das leis penais, preservação do negócio jurídico, moralidade administrativa, etc. DIFERENÇAS ENTRE PRINCÍPIOS E CLÁUSULAS GERAIS: 1. Os princípios podem ser expressos ou não; a cláusula geral enquanto técnica jurídica deve ser, necessariamente, expressa. 2. Os princípios que são expressos não possuem necessariamente vagos ou imprecisos. As cláusulas têm como característica essencial vagueza ou imprecisão. 3. A cláusula geral remete a um princípio ou princípios em certo campo de atuação, mas pode não utilizar-se deles. A aplicação dos princípios deve ser feita de acordo com as cláusulas gerais. Conceitos jurídicos indeterminados São termos ou expressões indeterminada presentes nas leis. Podem ser valorativos (Ex.: Justa causa, mau uso.) ou podem remeter a realidades fáticas (Ex.: Deterioração natural da coisa, coisa necessária a economia doméstica.). DIFERENÇAS ENTRE CONCEITOS JURÍDICOS INDETERMINADOS E CLÁUSULAS GERAIS: 1. As cláusulas gerais sempre remetem a um valor e pode ou não remeter a um princípio. O conceito jurídico indeterminado nem sempre remete a valor. 2. Há normas casuísticas que são construídas a partir de conceitos jurídicos indeterminados. Logo, os conceitos indeterminados são compatíveis tanto com a técnica casuísta, como a de cláusula geral. É necessária apenas a observação do juiz no caso concreto, que é valorativa em ambas as situações, mas possui um grau muito mais elevado nas cláusulas gerais, devido a sua estrutura aberta (valoração em vários momentos). Ex.: Art. 603 – demissão do prestador de serviços sem justa causa – trata-se de uma norma de conceito jurídico indeterminado, visto que a atividade valorativa do juiz é limitada; art. 1217 – o possuidor de boa fé não responde pela deterioração - possui o conceito jurídico indeterminado da boa fé, mas não constitui uma cláusula geral. 11 Relação Jurídica A relação jurídica consiste na relação intersubjetiva disciplinada e regulada por normas jurídicas. Uma relação juridicamente relevante. A relação jurídica não é exclusiva do Direito Privado e não existe relação entre coisas ou entre pessoa e coisa. As partes da RJ consistem em centros de interesses (comunhão de interesses), ou seja, quando na relação as pessoas possuem os mesmos interesses, elas se unem em uma parte (ou pólo) da relação. As partes podem ser unissubjetivas ou plurissubjetivas. A RJ pode, ainda, ser temporária, em que há permanência de responsabilidade ou instantânea. Exemplos: 1. Contrato de compra e venda: As partes da relação jurídica são comprador e vendedor. A relação jurídica é obrigacional contratual, ou seja, ambas as partes possuem obrigações jurídicas. A fonte de obrigação é o contrato. 2. Relação Jurídica credor – devedor: A atropela B e como punição tem que indenizá-lo. Essa relação é classificada como relação jurídica obrigacional de indenizar e é extracontratual gerada por um ato ilícito, ou seja, delitual. Assim, sua fonte de obrigação é o ato ilícito. As Relações Jurídicas do Direito Privado e Direito Civil: 1. Direito das Sucessões 2. Direito Obrigacional (paradigmática): Contratual ou Delitual 3. Direito das Coisas (Prof. Ascensão): Vizinhança, Condominal (co-titulares) e de Propriedade (titular de direito real de coisa alheia) 4. Direito de Família: Filiação, Tutela, Curatela, Relação matrimonial, Relação de companheirismo, Relação de parentesco e União estável Relações Jurídicas (dentro do Direito Privado, mas fora do Direito Civil): 1. Direito Societário (Contrato entre sócios): convergência (comunhão) de interesses e esforços com um fim comum – Relação Jurídica obrigacional do tipo associativa. SITUAÇÃO JURÍDICA - A situação jurídica inclui a relação jurídica, a posição jurídica e outras situações jurídicas não integradas em relação jurídica (Ex.: direitos da personalidade). FONTE DA RELAÇÃO JURÍDICA: é um fato jurídico, categoria que alberga negócio jurídico (Ex.: casamento, contrato) e outros (Ex.: ato ilícito). P.S.: categoria dogmática de grande importância (2º semestre) ELEMENTOS DA RELAÇÃO JURÍDICA: Sujeitos: pólos ou partes subjetivas da relação. Na relação jurídica obrigacional sempre existe um sujeito classificado como ativo e outro como passivo (Nos 12 contratos bilaterais, como na compra e venda, as partes são simultaneamente ativa e passiva, mas há como analisar individualmente.). Objeto: é o termo de referência exterior da relação jurídica, aquilo sobre o qual ela recai. 1. Coisas: bens materiais ou corpóreos 2. Prestações (Direitos obrigacionais): a) Dar: transmitir a posse de algo, transmitir a propriedade de algo ou restituir (Ex.: Contrato de compra e venda em que comprador e vendedor “dão”.). b) Fazer: tudo aquilo que, por exclusão, não for dar (Ex.: Empreitada, em que o empreiteiro “faz” e o dono da obra “dá”) c) Não fazer (Ex.: contrato de confidencialidade ou em cláusulas de concorrência, em que há um acordo de “não fazer”.) Em alguns casos, há prestações de apenas uma das partes (Ex.: doação). 3. Outras condutas: casamento Conteúdo: conjunto das posições jurídicas subjetivas, ou seja, das partes das relações jurídicas. Posições jurídicas subjetivas: 1. a) de vantagem ou ativa b) de desvantagem ou passiva 2. a) simples ou elementar: unidade mínima b) complexa: agrupamentos de posições simples Quatro pares dicotômicos de posição jurídica subjetiva: Pessoa Jurídica Ativa Pessoa Jurídica Passiva 1. Pretensão: possibilidade de exigir de alguém o cumprimento de um dever específico. Ex.: Pretensão de cobrar/ de posse Obrigação ou dever em sentido estrito: estar vinculado a assumir um dever específico Ex.: Obrigação de pagar/ de ceder posse 2. Faculdade: liberdade de realizar ou não certo comportamento Ex.: Pagar antes da data determinada no contrato de compra e venda; faculdade de usar no contrato de locação. Falta de pretensão: não possibilidade de exigir o cumprimento de um dever específico. 3. Poder: possibilidade de criar, modificar ou extinguir situações jurídicas. Não é pretensão, pois não há obrigação prévia. Ex.: direito de preferência que cabe ao Sujeição: estar vinculado ao poder alheio, podendo sofrer uma mudança na sua esfera jurídica, sem que o sujeito possa se contrapor. Pode sofrer uma mudança em 13 condômino em caso de venda de uma das partes; divórcio, caráter extintivo, anulação do contrato sua esfera jurídica sem possibilidade de contrapor-se. 4. Imunidade: desvinculação ou não subordinação aos efeitos de um ato praticado por terceiros. Ex.: Venda de imóvel alugado. A venda foi executada por locatário. Para que exista imunidade, geralmente se exige prazo determinado, cláusula de vigência e publicidade (levado ao registro de imóveis) Falta de poder: ausência de possibilidade e criar, modificar ou extinguir situações jurídicas. Posição jurídica complexa: direito subjetivo (ex.: direito de propriedade) Pretensão: cessar ameaças e insultos Faculdade: uso Poder: dispor (alienando, destruindo ou abandonando) Imunidade: imune a compra e venda Titularidade: pertinência ou atribuição de uma posição jurídica ativa a alguém. Posição jurídica neutra: 1. Ônus: posição jurídica que advém de certa norma que prescreve uma modalidade de ato a ser praticado por alguém, se esse alguém quiser obter um resultado favorável. Segundo Lumia, ônus representa de certa forma o encontro de uma faculdade com uma sujeição. (Ex.: ônus da prova, ônus do locatário.) 2. Status (estado): feixe de posições jurídicas ativas epassivas que caracterizam uma relação duradoura e que é oriundo de negócio jurídico especial (negócio jurídico estatutário). Ex.: status socii (do sócio), status familiae (casamento) 3. Poder-dever (munus): é um conjunto de prerrogativas e deveres usados no interesse alheio, muitas vezes, no interesse público. Possui certos limites e prestações de contas. Existem 2 tipos de perda de posição jurídica: Prescrição e Decadência. A prescrição não se refere ao direito, visto que este não prescreve. O que prescreve é a pretensão. Já a decadência está ligada ao poder. 14 Direito Subjetivo Direito de propriedade Direito de crédito Direitos autorais Direito de propriedade industrial Direito de personalidade 1. Teoria da Vontade (Savigny e Windscheid): o direito subjetivo é um poder de vontade. Windscheid: concedido pela ordem jurídica Savigny: como reconhecimento/esfera de atuação livre da vontade alheia. A essa teoria, Jhering faz duas críticas relevantes. A primeira é que o direito subjetivo é reconhecido até a aqueles considerados sem vontade, isto é, incapazes de demonstrá-la (loucos e menores de idade). A segunda crítica é a de que existem titulares de direito subjetivo mesmo sem consciência disso (Ex.: “O herdeiro torna-se titular da herança no momento da morte do de cujus.”). Ainda, para Larenz, a teoria da vontade baseia-se substancialmente no direito de propriedade, deixando de lado os outros direitos subjetivos. 2. Teoria do Interesse (Jhering): o direito subjetivo é o interesse juridicamente tutelado e protegido. Do ponto de vista objetivo, o interesse constitui o objeto apto a satisfazer a necessidade de alguém (característica/qualidade do). Já do ponto de vista subjetivo,o interesse é relação de apetência, de um sujeito carente e uma realidade de satisfazer a necessidade desse sujeito. Críticas: Critica-se primeiramente a excessiva amplitude da definição, visto que existem direitos juridicamente tutelados que não consistem em direitos subjetivos, mas são interesses reflexamente protegidos (Ex.: regras de condomínio são interesses coletivos – e não individuais – que, portanto, não são subjetivos.). A segunda crítica diz que direito não pode ser entendido como sinônimo de interesse e que interesse não é conteúdo do direito, mas aquilo que o direito almeja. Assim, o direito é finalidade e o direito subjetivo continua a existir mesmo quando não há ou deixou de haver o interesse. (Ex.: Propriedade de “coisa inútil”, em que o sujeito continua sendo dono, mesmo não havendo interesse. 3. Teoria Negativista (Duguit): Não há direito subjetivo, mas situações jurídicas subjetivas. 4. Thon: O direito subjetivo está sempre, necessariamente, ligado a tutela. É uma espécie de direito de garantia. Assim, quando há violação de um direito subjetivo tutelado, o indivíduo tem direito à sanção. 15 5. Menezes Cordeiro: O direito subjetivo é uma permissão normativa específica de aproveitamento de um bem (em sentido amplo, não apenas coisas) ou tutela de interesse. 16 Direito Adquirido A aquisição de direito pode se dar de diferentes modos: 1. Aquisição instantânea (Ex.: sucessão após morte, deveres e obrigações pós delitos) 2. Aquisição contínua ou duradoura: necessita de um lapso temporal pra ocorrer (Ex.: usucapião, aposentadoria) 3. Aquisição procedimental: requer uma série de atos concatenados (Ex.: transferência de propriedade intervivos) O direito adquirido é aquele que já foi adquirido completamente, podendo ser exercido ou não (o motivo que impossibilita que seja exercido não deve envolver sua aquisição, como exemplo, os termos contratuais, que nada tem a ver com o procedimento de aquisição). Há, ainda, um problema ao direito adquirido intertemporal, que ocorre quando uma lei entra em vigor e choca-se com o processo de aquisição de direito. Daí surge a necessidade de saber se a lei deve ser atendida ou preservar o direito adquirido. O fato de não haver um direito adquirido, não significa que não há qualquer tutela do ordenamento. Nesse caso, o que existe é uma expectativa de direito. As expectativas de direito pode m ser expectativas de fato, como no caso da herança, e os direitos condicionais, em que o futuro incerto subordina a eficácia. 17 Pessoa Em sentido jurídico, corresponde ao destinatário (ou centro de imputação) das normas jurídicas; é o ente potencialmente apto a ser sujeito de direitos e deveres. A personalidade, por sua vez, corresponde a uma qualidade do sujeito pessoa, é o atributo ou aptidão a ser sujeito de direitos e deveres. São pessoas: pessoa natural (física) e pessoa jurídica. As pessoas jurídicas se dividem em Direito Privado (Sociedades, Associações, Fundações) e Direito Público Interno (União, Estado, Município) e Externo (Estado estrangeiro). Não há coincidência necessária entre pessoa e sujeito de direitos e deveres. Além disso, existem sujeitos de direitos e deveres sem personalidade. Fala-se então que há um conjunto que abrange todos os sujeitos de direitos e deveres e parte determinada desse conjunto é, também, pessoa. Exemplos: 1. Condomínios em edificações: não possui personalidade jurídica, mas é sujeito de direitos e deveres na pessoa do síndico. 2. Massa falida 3. Espólio (conjunto de bem, direitos e obrigações da pessoa falecida ainda não entregues aos herdeiros): sujeito de direitos e deveres na pessoa do inventariante. 4. Herança jacente (a herança daqueles que falece sem deixar testamento ou herdeiros conhecidos): nomeia-se como representante um curador, que pode declarar herança vacante. 5. Consórcio de empresas: é um ente não personificado, mas sujeito de direitos e deveres, uma vez que pode disputar licitações. 6. Sociedade de fato: quando não há registro do contrato ou estatuto celebrado em órgão competente. Uma sociedade ganha personalidade jurídica a partir de tal registro. 7. Animas: Os animais superiores, mais parecidos com o homem são considerados portadores e direitos. (Ex.: chimpanzé, orangotango, gorila e bonobo). Não há, ainda, artigo sobre tal matéria no Código Civil brasileiro. PERSONALIDADE X CAPACIDADE Personalidade: aptidão genérica para ser sujeito de direitos e deveres. Dependendo da área do direito, ela apresenta-se de diferentes maneiras. Capacidade: consiste na medida concreta dos direitos e deveres de uma pessoa a determinada esfera do direito. É uma fração da personalidade e, portanto, pode ser qualificada. (Ex.: Capacidade política, penal, civil, etc.). 18 Dentro da Capacidade civil, existem: Capacidade Contratual, Matrimonial, Testamentária e Delitual (não tem ligação com a capacidade penal). As três primeiras encontram-se dentro do campo dos negócios jurídicos. CAPACIDADE CIVIL: CAPACIDADE JURÍDICA X CAPACIDADE DE FATO a) Capacidade jurídica, de aquisição ou de gozo: ser titular de direitos e deveres b) Capacidade de fato, de agir ou de exercício: exercer por si só, praticar pessoalmente, posições jurídicas nos atos da vida civil. Quem não possui capacidade de fato necessita de um representante, este fala em nome dos direitos e dos interesses do representado. Do ponto de vista do direito, não necessariamente há convergência entre o sujeito de direito que realiza a relação jurídica e o sujeito de interesses. Existe uma separação na representação de parte em sentido formal e parte em sentido material. O sujeito que assina o contrato é a parte formal, enquanto que o representado, sujeito de interesses é a parte material. A capacidade jurídica é graduável pela sua extensão. A capacidade de fato, por sua vez, é graduável quanto a sua intensidade (plena, limitada ou ausente.). GRADAÇÕES DE CAPACIDADEDE FATO: a) Capacidade plena: maiores de 18 anos b) Capacidade limitada: de 16 a 18 anos. Nesses casos, no estabelecimento de relação jurídica há necessidade de assistência. – Incapacidade relativa ou semi-imputáveis. c) Capacidade ausente: menores de 16 anos. Necessária a existência de um representante na relação jurídica. – Incapacidade absoluta ou imputável. A capacidade matrimonial e jurídica não surge com o nascimento. A capacidade matrimonial surge aos 16 anos, idade núbil. A capacidade jurídica também aos 16 anos, contudo, a capacidade de fato surge apenas aos 18 anos. INCAPACIDADE X ILEGITIMIDADE a) Incapacidade: qualidade pessoal – ausência de uma qualidade pessoal exigida por lei. b) Ilegitimidade (ou impedimento): relação jurídica ou fática (Ex.: art. 497 – legitimidade referente a compra e venda; art. 1501 – impedimentos matrimoniais; art.1801 – impedimentos testamentários. Em todos os casos a sanção é a nulidade do ato jurídico. NASCITURO É aquele que está programado a nascer; realidade humana entre a concepção e o nascimento. Nascituro, já concebido, é diferente de concepturo (prole eventual) que, por sua vez, consiste naquele que ainda será concebido (art.1800). 19 O art. 2º do Código Civil estabelece que a personalidade civil da pessoa começa com seu nascimento com vida. Contudo, a lei também põe a salvo os direitos do nascituro. É reconhecido o conflito entre a 1ª e a 2ª parte a lei, uma vez que a 2ª parte nega a 1ª. Correntes: a) Corrente concepcionista: “O nascituro é pessoa” (profª Silmara Chinelato e profº Francisco Amaral) Argumentos: O nascituro não se confunde com a mãe, já possui seu material genético próprio, constituindo um ente único, assim, o direito não pode desvincular-se do nascituro; o nascituro possui direitos previstos pela lei, independente do nascimento com vida (direito a vida e a integridade física; direitos sucessórios) e direitos projetados, isto é, condicionados a um nascimento com vida (direito a um curador; direito a doação). b) Corrente natalista: “O nascituro não é pessoa jurídica” (profº Junqueira) Argumentos: a lei fala expressamente que a personalidade civil começa com o nascimento com vida e, portanto, assim deve ser interpretada, não há qualquer equívoco; não há uma coincidência necessária entre sujeito de direitos e pessoa, é possível atribuir direitos ao nascituro sem considerá-lo pessoa. c) 3ª corrente (Profº Caio Mário): O nascituro não é pessoa, nem sujeito de direitos. Teria apenas uma expectativa de sujeito (direitos condicionados) Critérios para atribuição de personalidade: o direito define como momento claro e específico para se atribuir personalidade o nascimento (respirou fora do corpo da mãe) e a vida (não pode ser natimorto). EMBRIÃO PRÉ – IMPLANTATÓRIO (ESTATUTO DO EMBRIÃO) Condições impostas pelo STF para o uso de células-tronco (concomitantes e cumulativas): a) A finalidade deve ser de pesquisa ou terapêutica. b) Uso apenas de embriões excedentários (embriões que sobraram da reprodução assistida) c) Os embriões devem estar congelados a mais de 3 anos ou ser inviáveis (alterações morfológicas, alterações genéticas ou ausência de clivagem em um período superior a 24 horas após a fertilização) d) Consentimento dos genitores INCAPACIDADE A incapacidade pode ser de fato ou de agir. A incapacidade de fato, por sua vez, pode ser absoluta (art. 3º) ou relativa (art. 4º). 20 1. Incapacidade Absoluta (Representação): a) Menores de 16 anos (Tutela): o menor é incapaz até atingir um estado de “auto- suficiência”. Trata-se de uma preocupação histórica, uma vez que os romanos já classificavam os impúberes. A fixação da idade é arbitrária, trata-se da necessidade do direito de estabelecer um momento claro. Os menores de 16 anos, portanto, de representação na aquisição de posições jurídicas na via civil. Os pais são os representantes legais, contudo, o poder de família não se esgota na representação. Além disso, a representação deve ser feita em conjunto. Em ausência ou incapacidade dos pais, nomeia-se um tutor substituto para representação ou assistência (maiores de 16 anos). O tutor pode ser nomeado de forma testamentária ou por ordem judicial com base na ordem estabelecida pelo Código Civil (ascendentes mais próximos; colaterais mais próximos; terceiros). Na representação, o menos figurará no ato jurídico, mas não expressará intenção. Assim, é possível dividir a representação em parte formal (representante) e parte material (representado). A parte formal, ainda, pode ser legal ou voluntária (mandados ou procurações) O Estatuto da Criança (até os 12 anos) e do Adolescente (dos 12 aos 18 anos) na lei 8069/90 estabelece diferenças e peculiaridades dos menores: - Os atos praticados pelo menor sem representação ou tutela são considerados nulos. Há de se atentar para as diferenças entre as espécies de invalidade: nulidade e nulabilidade. No primeiro caso, o ato é nulo e a nulidade não prescreve. Já no segundo caso, o ato é anulável e em 4 anos prescreve a possibilidade de ser anulado. - Há ainda regras específicas para determinados casos de contratos: doações e dívidas. - Além disso, há ainda uma crítica ao art. 3º: na prática, há realização de alguns atos jurídicos exercidos pessoalmente pelos menores absolutamente incapazes sem que haja a nulidade. Visto que, são consideradas relações contratuais diferente dos contratos com conseqüências aceitos os “comportamentos sociais típicos” (sem verdadeira manifestação de vontade). Não é um verdadeiro negócio jurídico. Ex.: Compra de baixo valor, transporte público. Obs.: No código civil de 1916, a maioridade civil se dava aos 21 anos. Com a aprovação o código de 2002, houve uma diminuição da idade pra os 18 anos. Segundo Menezes Cordeiro, a diminuição tem como principais motivos o alargamento dos estudos e a posterior autonomia patrimonial, que aumentaram a intenção de captação do jovem para a vida política. b) Enfermidade ou deficiência mental e falta de discernimento (Curatela): - No Código Civil de 1916, entendia-se incapaz os “loucos de todo o gênero”. No entanto, há diferenças entre louco de hospício e louco de jardim, assim como atentava o Prof.º Junqueira. Quanto a enfermidade, o Código não especificava se a incapacidade estava ligada àquelas permanentes ou transitórias, o que era entendido tendencialmente como permanentes. - O procedimento de interdição se dava com a nomeação de um curador (curatela interdito) para a representação do incapaz. Os atos praticados pelos interditos são 21 considerados nulo. Além disso, a nulidade pode ser considerada antes do processo de interdição, sendo assim, a interdição tem eficácia declaratória. - Nos intervalos lúcidos do incapaz, se já houve interdição todos os atos são nulos; se, durante tais intervalos, não havia ainda interdição, os atos podem ser considerados nulos ou não. c) Incapacidade de exprimir a vontade, mesmo por causa transitória (Curatela): como causas transitórias entendem-se (pela doutrina): o coma, sob efeito de entorpecentes, hipnose (sono hipnótico) e transe mediúnico. Quando a causa é transitória, existem medidas processualmente adequadas, como medidas cautelares inanimadas (não-interdição). O juiz permite que determinado indivíduo tome decisões em nome do incapaz. Tutela X Curatela Ambos compatíveis com a incapacidade absoluta (representação) e relativa (assistência) TUTELA CURATELA Incapaz protegido Menores de idade. Instituto de substituição do poder familiar. Todos os incapazes absoluta ou relativamente maiores de idade. Determinação Estabelecido por sentença/ decisão judicial ou testamento. Estabelecido somente por sentença/decisão judicial.Efeitos envolvidos Patrimoniais e pessoais. Somente efeitos patrimoniais, podendo ser restringidos a alguns apenas. 2. Incapacidade relativa (Assistência): Obs.: Na assistência não há diferença entre representante (formal) e representado (material). Na parte formal, há assistente e assistido. Na parte material, há apenas assistido. Além disso, o ato é considerado anulável quando praticado pelo relativamente incapaz sem assistência (Art. 171 do Código Civil) a) Menores entre 16 e 18 anos: Os pais possuem o poder-dever de assistir seus filhos. Na ausência de ambos, nomeia-se um tutor (testamentário ou sentencial). A conseqüência para os atos praticados sem assistência é a nulabilidade. Com exceção dos seguintes atos, que permitem a ausência de assistentes: testemunhar; tornar-se procurador com a responsabilidade atribuída ao mandatário; fazer testamentos, realizar contrato de trabalho, desde que não seja noturno, perigoso ou insalubre; votar; prestar serviços militares (os dois últimos referem-se ao âmbito dos direitos políticos e não aos atos da vida civil como os outros). A segunda exceção ocorre se o menor vem a praticar um ato que a lei requer assistência, mas dolosamente oculta a sua menoridade. 22 b) Ébrios habituais ou toxicômanos: são os viciados sem discernimento pleno ou aqueles em que há absoluta falta de discernimento. Nesses casos, o ato jurídico celebrado é inválido. Para que o viciado seja classificado como relativamente incapaz, deve haver perícia e interrogatório. Quando comprovada a incapacidade, o indivíduo deve ser interditado e adquirir curatela, sendo que os limites do curador devem ser determinados pelo juiz. c) Excepcionais (sem desenvolvimento mental completo) ou enfermos mentis com discernimento reduzido: As conseqüências são interdição com nomeação de curador com limites determinados judicialmente. d) Pródigos: sujeito que dilapida seu patrimônio sem finalidade/ utilidade plausível. Nem todos os códigos modernos consideram o pródigo como relativamente incapaz. O objetivo da interdição é proteger, além da família, o próprio pródigo. Além disso, a doação universal é vedada por lei (o indivíduo tem de reservar uma parcela de seu patrimônio para a sua sobrevivência.). É possível pleitear a nulidade dos atos cometidos pelo pródigo antes de ser considerado como tal. e) Índios: Os atos praticados entre índios não devem sofrer anulação. O ato praticado entre um índio não integrado e um não-índio requer a assistência da FUNAI. Sem a assistência da FUNAI, o ato é válido somente quando o índio possuir consciência da conseqüência, não for prejudicado e manifestar vontade. EMANCIPAÇÃO Aquisição da plena capacidade de agir antes do advento da idade mínima exigida por lei. Existem três espécies: a) Voluntária: é feita por escritura pública celebrada exclusivamente pelos pais. Constitui, portanto, um negócio jurídico de direito de família solene irrevogável, unilateral e de competência exclusiva dos pais (ambos os pais ou apenas um na falta do outro). A responsabilidade dos pais não acaba com a emancipação voluntária. A idade mínima é de 16 anos. b) Judicial: é a emancipação do menor representado ou assistido por tutela. Nesse caso, cabe ação judicial para que possa ocorrer a emancipação. É de iniciativa do emancipando e de avaliação do juiz. c) Legal: Se dá automaticamente por conta de certos atos previstos em lei. São eles: Casamento (idade núbil 16 anos): excepcionalmente permite-se casamento para menores de 16 anos em caso de gravidez com a autorização dos pais. A separação ou o divórcio não retroagem os efeitos. No caso da união estável, há correntes divergentes sobre sua consideração ou não. Exercício de emprego público efetivo Colação de grau em curso de ensino superior Sujeito com economia própria (conceito jurídico indeterminado) por vínculo empregatício ou por empresa. A emancipação legal é automática, não precisa de registros na grande maioria dos casos. Nenhum dos casos citados acima tem idade mínima. 23 FIM DA PESSOA NATURAL: MORTE “Mors omnia solvit” Real: A existência da pessoa natural termina com a morte (art. 6) Presumida: 1. Morte encefálica/ morte cerebral (lei 9434/97) = fato jurídico em sentido estrito 2. Desaparecido (não encontra o corpo) 3. Ausência: a) Sujeito saiu de casa b) Não há noticias c) Não deixou procurador para os bens 4. Tipos: a) Com declaração de ausência (art.22 →): Não precisa dos requisitos do sem declaração Extremamente provável e em perigo de vida (conceito jurídico indeterminado) – acidente aéreo, incêndio, etc. Guerra (conflito) e prisioneiro de guerra Em caso de retorno, a lei não responde especificamente o Casamento não volta e bens são revistos (10 anos após o fim do processo) A lei busca proteger o patrimônio do desaparecido (ausente) b) Sem declaração de ausência (art. 7): 5. Sucessão possessória provisória: a) A partir do mapa temporal (3 anos) – não definitiva b) A posse (não a propriedade) é transmitida aos parentes, caso o herdeiro não seja cônjuge, ascendente ou descendente, com necessidade de hipoteca ou penhor no mesmo valor c) Rendimentos dos bens (frutos) são dos ascendentes, descendentes ou cônjuges. No caso de outros herdeiros, deve-se capitalizar metade dos frutos, para agregar ao patrimônio do ausente Se o ausente retorna nessa etapa, ele recupera os bens. No caso dos frutos, ele perde a capitalização caso a ausência seja voluntária e injustificada 6. Sucessão possessória definitiva (art. 37) a) Após 10 anos contados a partir da decisão judicial do trânsito julgado (não há como recorrer) da posse provisória ou quando o ausente faria 80 anos e não há notícias há 5 anos b) Se o ausente retornar nesse período, retoma os bens Em caso de venda, recebe o dinheiro Em caso de doação, o ausente fica sem nada 24 Comoriência 1. Dois indivíduos falecem na mesma ocasião, sem que se possa afirmar quem morreu antes 2. Não há transmissão de herança de um para o outro 3. Exemplo: pai e filho morrem a) Cada um segue sua linha sucessória independentemente (bens do pai ficam para seus herdeiros e os bens do filho, para os seus respectivos herdeiros) PESSOA JURÍDICA (PS: Menezes Cordeiro) A. Direito da Empresa (art. 981) B. Todo ente dotado de personalidade e não recondutível ao ser humano 1. Pessoas que tem objetivos comuns, incompatíveis com a vida humana e, por vezes, necessidade de grande capital, requerendo uma coletividade 2. Objetivos que transcendem o ser humano (grande responsabilidade, capital, responsabilidade limitada por parte dos sócios, etc.) C. Direito romano: não tinham o conceito abstrato de pessoa jurídica, mas ela existia 1. A visão abstrata foi construída principalmente no jusnaturalismo 2. SAVIGNY (1840) – ponto de partida para os estudos modernos sobre o tema a) Pessoa jurídica é todo sujeito de relações jurídicas que tecnicamente não é pessoa natural, mas que é tratado como pessoa por meio de uma ficção teórica, justificada pela necessidade de buscar um certo escopo humano (objetivo humano) D. Pessoas jurídicas = pessoas morais = pessoas coletivas (varia de acordo com o país) 1. Pessoas morais: expressão consagrada pelos jusnaturalistas (1662) – anterior às pessoas jurídicas a) É criticada por Savigny, pois pode indicar que as pessoas naturais são imorais b) Menezes Cordeiro justifica a expressão dizendo que moris indica “comportamento humano”, ou seja, deriva do engenho humano, e não da natureza 2. Pessoa jurídica: só existe no mundo do direito, por isso o nome 3. Pessoa coletiva: expressão da doutrina portuguesa (1907 – Guilherme Moreira) a) Critica: nem sempre há uma coletividade por trás da pessoa jurídicaE. Teorias sobre a natureza das pessoas jurídicas 1. Teoria da ficção (Savigny) a) É uma criação artificial da lei, não existindo de fato b) Atribuir personalidade a um acervo de bens (fundação) ou não confundir com as pessoas naturais a empresa c) Para Savigny, elas só tem capacidade patrimonial d) É uma leitura do Savigny feita por Flume e) Jhering: pessoa jurídica é o expediente técnico para tutelar certos interesses gerais ou determinados 2. Teorias negativistas 25 a) Pessoa jurídica é algo dispensável, é possível que elas não existam b) Pessoa jurídica = conjunto de bens, é um patrimônio (bens + relações jurídicas) c) BRINZ: pessoa jurídica, no fundo, é um patrimônio de afetação (teoria do patrimônio de afetação) Patrimônios são titulados por finalidades (afetados), não estando vinculados a uma pessoa Há patrimônios que não são de uma pessoa, mas sim vinculados a uma finalidade. O patrimônio de afetação não precisa ser tratado como pessoa Idéia pode ser atribuída à fundação, atualmente. Em outros casos, a teoria de Brinz não pode ser aplicada puramente. d) DUGUIT: pessoa jurídica é um conjunto de bens direcionado de acordo com a vontade de seus representantes e) HANIOL: Pessoa jurídica é o conjunto de bens coletivos 3. Teorias realistas a) Buscam enfatizar que as pessoas jurídicas existem efetivamente, antes de serem reconhecidas pelo legislador. Não são criadas “do nada” (ex novo). b) Há um substrato real, realidade sócio-econômica que precede o reconhecimento das pessoas jurídicas por parte dos ordenamentos jurídicos. c) Idéia de organização d) HAURIOU: instituição (grupo social organizado) É uma realidade social Instituição é a organização por trás das pessoas jurídicas e) OTTO VON GIERKE (realismo orgânico = organicismo) A pessoa jurídica existe, sendo comprovada por um estudo histórico Não é possível reduzi-la a pessoa natural A pessoa jurídica é um organismo social Atribuição de uma vontade, que não se confunde com a vontade de seus membros 4. Não há uma teoria mais adequada atualmente 5. As teorias ficcionistas e as realistas são posições exageradas hoje, não são posições que se deva acolher ou rejeitar integralmente. São parâmetros teóricos a) Teorias realistas tem mérito ao enfatizar que as pessoas jurídicas são um ente histórico, corresponde a uma realidade histórica e sociológica b) Teorias da ficção são verdadeiras na medida em que as pessoas jurídicas adquirem uma dimensão técnica muito forte. O direito existe certas condições que nos levam à perspectiva da técnica (ex: registro) Há realidades orgânicas que não são pessoas jurídicas por falta de registro, mesmo havendo todos os outros entes necessários Há pessoas jurídicas sem nenhum substrato (ex: contrato de gaveta, pessoa jurídica de prateleira – pedaço de papel) c) O mais adequado é procurar a verdade em cada teoria e “juntá-las” 26 Classificação das pessoas jurídicas A. Direito público 1. Interno: união, estados, municípios, autarquias, sociedades de economia mista, empresas públicas, etc. 2. Externo: estados estrangeiros, ONU, MERCOSUL, etc. B. Direito privado (art. 44) 1. Parte geral a) Sociedades (art. 40 a 52) → (art. 981 a 1141) Societário (LTDA e S/A) b) Associações (art. 53 a 61) c) Fundações (art. 62 a 69) d) Aquisição da personalidade jurídica: ATO CONSTITUTIVO + REGISTRO Negócio jurídico No caso das fundações, quem celebra o ato constitutivo é só uma parte (unilateral) e admitem mortis causa No caso das associações e sociedades, é plurilateral 2. Organizações religiosas 3. Partidos políticos 4. Sindicatos (não estão no art. 44) XI. Negócios jurídicos A. Negocio jurídico estatutário: criam certos estatutos pessoais duradouros 1. Feixe complexo de posições jurídicas ativas e passivas 2. Cria um centro autônomo de imputação B. Fundação: negócio unilateral C. Sociedades e associações: negócio plurilateral 1. Linha contratualista: a sociedade é um contrato, tendo sua origem no acordo de vontades entre os sócios a) Contrato: união de interesses opostos. No caso do associativo, os interesses são convergentes. O que importa mais é a busca de um fim comum, não bastando para afastar de contrato 2. Linha institucionalista: o mais importante é o ente criado por força do acordo de vontades, a pessoa jurídica a) Buscam enfatizar as relações com terceiros, não dos sócios entre si. b) É uma instituição (grupo social organizado) 3. Algumas questões são mais bem resolvidas pela perspectiva contratual, outras, pela institucionalista (em especial nas S/As) D. Registro: 1. Cartório de registro civil das pessoas jurídicas: fundação, associação e sociedade sem fins lucrativos 24 2. Junta comercial da sede da pessoa jurídica: sociedade empresarial (ex: JUCESP, JUCERJA) a) Produção ou distribuição de bens ou serviços para o mercado = empresa 27 Direito de personalidade I. A personalidade é a suscetibilidade a titularidade de direitos e obrigações A. Os direitos da personalidade dão conteúdo à personalidade B. São natos à pessoa C. Pessoa é titular e objeto do direito de personalidade II. Direitos humanos ≠ direitos de personalidade ≠ direitos fundamentais A. Direitos fundamentais: descritos na constituição (art. 5 e 6) 1. Ex: direito à propriedade B. Direitos de personalidade: definidos no código civil C. Direitos humanos: protegidos por convenções internacionais, ligados à dignidade da Pessoa humana (vida, liberdade) III. Espécies de direito de personalidade A. Corpo, honra, intelecto, etc. B. A separação é confusa, visto que os conceitos se confundem IV. Definição: A. É uma categoria autônoma, no campo do direito privado 1. São patrimoniais (dano = indenização) – art. 12 B. Bens absolutos (erga omnes) V. Características: A. Intransmissíveis B. Irrenunciáveis 1. Há concessões: a) Pode-se renunciar da integridade física quando se regenera ou não Há danos à vida (doação de órgãos, etc.) – art. 13 (transplantes) e Art. 14 (após a morte) b) Direito à imagem: pessoas famosas “renunciam” C. Indisponível – não pode ser alienado D. Não pode ser forçado E. Imprescritíveis: não podem ter um prazo fixado (ex: vilipêndio do cadáver) VI. Pessoas jurídicas ou coletivas: A. É protegida efetivamente B. Art. 52: proteção ao direito de personalidade da pessoa jurídica VII. Direito geral de personalidade A. Conceito jurídico indeterminado B. Todos têm direito ao respeito a sua esfera privada C. Tudo o que violasse tal esfera privada, violaria o direito de personalidade D. Ligado a privacidade, esfera privada, honra da pessoa E. Protege o nascituro até após a morte F. Teoria monista: direito de personalidade visa proteger a dignidade da pessoa humana
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