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Deficiência Intelectual APRESENTAÇÃO A deficiência intelectual acomete mais de 2 milhões de brasileiros, segundo dados do último censo demográfico. Apesar de haver um alto número de atingidos no Brasil, ela é a deficiência que menos tem incidência em solo nacional. Podendo apresentar graves dificuldades cognitivas, locomotoras, sociais e emocionais, a pessoa com deficiência intelectual não possui uma característica única. Inúmeros são os graus (do leve ao profundo) que revelam, assim, a heteregeneidade desse público. Para o aluno que possui essa deficiência, a aula de Educação Física é muito relevante, pois é uma grande oportunidade de desenvolver habilidade motoras envolvendo manipulação, equilibrio e locomoção. Também permite que o aluno vivencie o conhecimento conceitualmente e seja desafiado resolvendo problemas, além de estimular a integração, a afetividade, os valores e a socialização. O professor de Educação Física precisa estar a par da situação dos alunos para que possa aplicar uma aula que estimule o desenvolvimento e a potencialidade. Nesta Unidade de Aprendizagem, você vai entender o conceito de deficiência intelectual, bem como seus diferentes graus. Ainda, você verá atividades físicas inclusivas para alunos com essa deficiência. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Avaliar os conceitos de deficiência intelectual.• Reconhecer os diferentes graus de deficiência intelectual.• Programar atividades físicas inclusivas para pessoas com deficiência intelectual.• DESAFIO Os processos mais significativos na aprendizagem são a leitura e a escrita. A população com deficiência intelectual apresenta um grau maior de dificuldade na aquisição da leitura e da escrita, devido à menor capacidade para entender a lógica de funcionamento das línguas ou por apresentar maiores dificuldades para compreender a representação escrita. Nesse projeto multidisciplinar, como o professor de Educação Física pode colaborar com a leitura e com a escrita da criança? INFOGRÁFICO Uma das causas da deficiência intelectual é a desnutrição. Apesar da alimentação ser fundamental em todos os momentos da vida, a sua falta pode ser danosa quando o assunto é deficiência intelectual, tanto no período embrionário – quando a mãe não se alimenta devidamente ou quando o alimento não chega ao feto – quanto nos primeiros meses de vida, devido à carência econômica. Veja, no Infográfico a seguir, a importância da alimentação nesses momentos e como a sua falta implica em deficiência. CONTEÚDO DO LIVRO Assim como os direitos, o termo deficiência intelectual também é recente, tendo sido implantado no século XXI. Esse termo foi introduzido e utilizado na Declaração de Montreal sobre a Deficiência Intelectual, no ano de 2001, no Canadá. No capítulo Deficiência intelectual, do livro Educação Física adaptada, você verá uma breve história da deficiência intelectual no Brasil, bem como seus conceitos e suas causas. Ainda, você vai entender os graus de classificação e atividades relacionadas à Educação Física. Boa leitura. EDUCAÇÃO FÍSICA ADAPTADA Juliano Vieira da Silva Deficiência intelectual Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Avaliar os conceitos de deficiência intelectual. Reconhecer os diferentes graus de deficiência intelectual. Programar atividades físicas inclusivas para pessoas com deficiência intelectual. Introdução A deficiência intelectual é um comprometimento cognitivo que pode trazer inúmeros prejuízos a quem é acometido por ela. Esses problemas podem estar relacionados a inúmeras atividades cotidianas, como a comunicação, a socialização e, até mesmo, hábitos diários de higiene ou de lazer. As aulas de educação física são espaços que trazem inúmeros be- nefícios cognitivos, afetivos e sociais para os alunos. Para os indivíduos com deficiência intelectual, elas podem representar um grande desafio na sua integração e na exploração de suas capacidades. Neste capítulo, você vai compreender os conceitos de deficiên- cia intelectual, bem como reconhecer seus diferentes graus e, ainda, programar atividades físicas inclusivas para pessoas com esse tipo de deficiência. Conceitos de deficiência intelectual A defi ciência intelectual é a que apresenta menor incidência entre a população brasileira, embora apareça representada em todas as faixas etárias. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografi a e Estatística (IBGE), em seu último Censo Demográfi co, realizado em 2010, mais de 2,6 milhões de brasileiros possuem defi ciência intelectual. Na história do Brasil, as pessoas com esse tipo de deficiência sofre- ram preconceito e segregação. No Período Imperial, por exemplo, poucas ou quase nulas foram as ações relacionadas às pessoas com deficiência intelectual. A responsabilidade de cuidar dessas pessoas era da Igreja e realizada em hospitais, asilos e escolas (LOBO, 2008). Ainda nesse perí- odo, Giordano (2000) confirma essa questão destacando a construção de hospitais psiquiátricos. O Código Civil de 1916 trata as pessoas com deficiência intelectual como “incapazes” de exercerem sua vida civil por não conseguirem expressar sua vontade individual. Lobo (2008) afirma que, até meados do século XX, a pessoa com deficiência intelectual no Brasil era associada e tratada como alguém que tinha doença mental, ou seja, eram indivíduos considerados “loucos de todo o gênero”. Nos anos 1950, a responsabilidade de cuidar dessas pessoas passa a ser das instituições filantrópicas. Destacam-se a Sociedades Pestalozzi e as Associações de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE), criadas, respectivamente, em 1935, em Belo Horizonte/MG, e em 1954, na cidade do Rio de Janeiro, tornando-se as pioneiras nos trabalhos pedagógicos e de habilitação e reabilitação de pessoas com deficiência intelectual. Durantes as décadas subsequentes, essas sociedades e associações foram sendo estabelecidas em todo o Brasil (ASSUMPÇÃO; SPROVIERI, 2000 apud GIORDANO, 2000). A Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Figura 1) segue prestando serviços à comunidade brasileira até os dias atuais. Seu campo de atuação é o cuidado e o ensino a pessoas com deficiência intelectual e múltipla. Ao todo, são 2178 unidades em mais de 2 mil municípios de todo o país atendendo 250 mil pessoas com essas deficiências. Deficiência intelectual2 Figura 1. A APAE nos seus primeiros anos em Campinas/SP. Fonte: Correio (2016, documento on-line). Assim como os direitos, o termo deficiência intelectual também é recente, sendo implantado no século XXI. Esse termo foi introduzido e utilizado na Declaração de Montreal sobre a Deficiência Intelectual, no ano de 2001, em Montreal, no Canadá. Segundo Sassaki (2002), a denominação “deficiência intelectual” veio para substituir a denominação “deficiência mental”, que ainda pode ser encontrada na legislação brasileira que trata das pessoas com deficiência relacionada à cognição, associada ao intelecto e à adaptação social. A partir de agora, vamos apresentar alguns conceitos e características referentes à deficiência intelectual. Segundo o Decreto nº. 5296/2004, são consideradas pessoas com deficiência intelectual aquelas que apresentam: Funcionamento intelectual significativamente inferior à média, com manifes- tação antes dos dezoito anos e limitações associadas a duas ou mais áreas de habilidades adaptativas, tais como: comunicação; cuidado pessoal; habilidades sociais; utilização dos recursos da comunidade; saúde e segurança; habilidades acadêmicas; lazer; e trabalho (BRASIL, 2004, documento on-line). 3Deficiência intelectual A pessoa com deficiência intelectual apresenta alterações significativas tanto no desenvolvimento intelectual quanto nas habilidades práticas, sociais e conceituais. Ampudia (2011, documento on-line) caracteriza os indivíduos com deficiência intelectualda seguinte forma: Pessoas com deficiência intelectual ou cognitiva costumam apresentar di- ficuldades para resolver problemas, compreender ideias abstratas (como as metáforas, a noção de tempo e os valores monetários), estabelecer relações sociais, compreender e obedecer a regras e realizar atividades cotidianas, por exemplo, as ações de autocuidado. Confira um pouco mais sobre o que é a deficiência intelectual, suas limitações e estratégias possíveis acessando o vídeo do Canal “Neuro Saber”, com a fala do médico neurologista infantil Clay Brites. https://goo.gl/FriSjX De acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (apud DIEHL, 2006, p. 76), “[...] deficiência mental é o estado intelectual significativamente inferior à média”. A mesma autora ainda afirma que a Organização Mundial de Saúde considera como pessoa com deficiência in- telectual a pessoa que apresenta o desenvolvimento intelectual abaixo da média da população, isto é, QI (quociente de inteligência) menor que 70, tendo limitações no aspecto de desenvolvimento motor e social. Sobre a deficiência intelectual, Honora e Frizanco (2008) apontam que ela não é considerada uma doença ou um transtorno psiquiátrico, e sim um ou mais fatores que causam prejuízo das funções cognitivas que acompanham o desenvolvimento diferente do cérebro. Segundo dados do Instituto Inclusão Brasil, 87% das crianças com essa deficiência apresentam maiores dificuldades de aprendizagem se comparadas às crianças sem deficiência. No entanto, a grande maioria, quando estimulada, alcança autonomia ao longo da vida. Apenas 13% com comprometimentos mais severos vai depender de atendimento especializado por toda vida (AM- PUDIA, 2011). Gimenez (2008) aponta que as causas da deficiência intelectual podem ser divididas em três níveis diferentes: Deficiência intelectual4 Causas pré-natais: ■ infecções como rubéola, malária, toxoplasmose, caxumba, herpes e sífilis; ■ álcool, drogas, intoxicação e radiações; ■ hidrocefalia (Figura 2) ou macrocefalia; ■ microcefalia; ■ desnutrição materna; ■ alterações na distribuição cromossômica: X frágil e síndrome de Down; ■ anormalidades genéticas que afetam o metabolismo. Causas perinatais: ■ anóxia (ausência de oxigênio) ou hipóxia (carência de oxigênio) no parto ou algum tipo de trauma que resulte em lesão cerebral; ■ prematuridade. Causas pós-natais: ■ moléstias desmielinizantes: sarampo e caxumba; ■ radiações e medicamentos; ■ privação econômica (influenciando na nutrição); ■ privação familiar e cultural (estimulação motora e pedagógica, in- fluências emocionais resultantes da estrutura familiar). Figura 2. Cérebro de criança com hidrocefalia. Fonte: Beltrame (2018, documento on-line). Um dos fatores mais alarmantes nessas causas é o da desnutrição. Embora o número tenha diminuído, 3,4 milhões de brasileiros são considerados des- nutridos segundo a Organização das Nações Unidas. Além de ser responsável por inúmeras mortes, a falta de alimentação pode acarretar deficiência intelec- 5Deficiência intelectual tual e trazer prejuízos no crescimento e no desenvolvimento. A desnutrição, no período embrionário e nos primeiros meses de vida, pode prejudicar o surgimento de células, sendo, assim, causadora da deficiência intelectual (MATURANA; MENDES, 2017). Nesta seção, você conferiu o conceito de deficiência intelectual, um breve histórico dessa deficiência no Brasil e suas causas, que se dividem em pré- -natais, perinatais e pós-natais. Na sequência, acompanhe as diferentes clas- sificações da deficiência intelectual. Diferentes graus de deficiência intelectual A defi ciência intelectual pode ser classifi cada a partir de seus diferentes graus. Winnick (2004) aponta que esse tipo de defi ciência pode ser classifi cado conforme a dependência, a gravidade ou a capacidade funcional e adaptativa. Veja, a seguir, as características e as classificações relacionadas a esses indivíduos. Dependência A defi ciência intelectual, de acordo com a dependência, seria o grau de apoio que o indivíduo necessita em um ambiente particular. Winnick (2004) aponta que esse comprometimento pode ser classifi cado como: Intermitente: apoios de curto prazo se fazem necessários durante as tran- sições da vida, como, por exemplo, na perda do emprego ou fase aguda de uma doença — esse apoio pode ser de alta ou de baixa intensidade. Limitado: apoio regular durante um período curto. Nesse caso, incluem- -se pessoas com deficiência que necessitam de um apoio mais intensivo e limitado, como, por exemplo, o treinamento da pessoa com deficiência para o trabalho por tempo limitado ou apoios transitórios durante o período entre a escola, a instituição e a vida adulta. Extensivo: apoio constante, com comprometimento regular, sem limite de tempo. Nesse caso, não existe uma limitação temporal para o apoio, que, normalmente, ocorre em longo prazo. Generalizado: apoio constante e de alta intensidade; possível necessi- dade de apoio para a manutenção da vida. Esses apoios generalizados exigem mais pessoal e maior intromissão que os apoios extensivos ou os de tempo limitado. Deficiência intelectual6 Capacidade funcional e adaptativa Essa classifi cação se refere aos ambientes em que os indivíduos se adaptam e também às funções que conseguem desempenhar. Freitas, Soares e Pereira (2010) a dividem em: Educáveis: crianças que conseguem educar-se em classes comuns (ainda que com muitas dificuldades, visto o sistema de ensino atual), embora necessitem de acompanhamento psicopedagógico especial. Têm uma inte- ligência conhecida como “lenta ou limítrofe”, sendo seu QI entre 76 e 89. Treináveis: crianças que, se colocadas em classes especiais, poderão treinar várias funções, como disciplina, hábitos higiênicos, etc. Poderão aprender a ler e escrever em ambiente sem hostilidade, recebendo muita compreensão, afeto e com metodologia de ensino adequada. Possuem QI entre 25 e 75. Dependentes: são os casos mais graves, sendo necessário o atendimento por instituições. Há poucas, pequenas, mas contínuas melhoras quando a criança e a família estão bem assistidas. Geralmente, apresentam QI abaixo de 25. Gravidade da dependência Essa classifi cação é proposta pela Classifi cação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID) e é determinada conforme a gravidade e avaliada por testes psicométricos, sendo dividida em quatro níveis. Leve Esses indivíduos possuem QI entre 55 e 69 e apresentam uma aprendiza- gem lenta; porém, têm plena capacidade para realizar tarefas escolares e da vida cotidiana (GIMENEZ, 2008). Nascimento e Szmanski (2013) apontam que esse grupo representa o maior segmento — em torno de 85% das pessoas com defi ciência intelectual — e desenvolve habilidades sociais e de comunicação. Moderada Gimenez (2008) sublinha que as pessoas com defi ciência intelectual moderada têm considerável atraso, o que acarreta, na maioria dos casos, problemas 7Deficiência intelectual motores visíveis. O mesmo autor destaca que, por outro lado, esses indivíduos têm facilidade na inserção social na família, em hábitos higiênicos, na escola e na comunidade. Esse grupo consiste em 10% da população das pessoas com defi ciência intelectual, que, quando orientadas na infância, encontram menos difi culdades (NASCIMENTO; SZMANSKI, 2013), podendo, assim, ter atitudes mais elaboradas. O QI dessas pessoas varia entre 40 e 54. Grave ou severa As pessoas com defi ciência intelectual grave ou severa, geralmente, apresentam distúrbios ortopédicos e sensoriais. Também possuem grandes difi culdades na comunicação e na mobilidade. Podem alcançar resultados ao exercer atividades condicionadas e repetitivas, desde que supervisionadas (GIMENEZ, 2008). O QI desse grupo varia entre 25 e 39, e esses indivíduos constituem em torno de 3% a 4% das pessoas com defi ciência intelectual. Nascimento e Szmanski afi rmamque esses indivíduos apresentam: [...] nenhuma fala comunicativa durante os primeiros anos da infância. Porém, na idade escolar, aprendem a falar e, se treinados, adquirem habilidades de higiene. Quanto à aprendizagem, familiarizam-se com o alfabeto, contagem simples e podem, também, reconhecer algumas palavras fundamentais à sobrevivência; sentadas, sem cair (NASCIMENTO; SZMANSKI, 2013, p. 5). Profunda Essas pessoas apresentam QI abaixo de 24 e, frequentemente, apresentam problemas físicos aliados à defi ciência intelectual, além de graves problemas sensoriais, como fala e audição, e ortopédicos (deformação da estrutura corpo- ral). Indivíduos com defi ciência intelectual profunda apresentam dependência completa e grandes limitações referentes à aprendizagem, segundo Gimenez (2008). Nascimento e Szmanski (2013) destacam a necessidade de que outra pessoa assuma os cuidados e supervisione essas pessoas para a execução de tarefas simples, como higiene e comunicação. Esse grupo consiste em torno de 1% a 2% dos indivíduos com defi ciência intelectual. Deficiência intelectual8 A palavra psicométrico é uma junção dos termos “psique” (mente) e “metro” (medida). Assim, testes psicométricos são avaliações que medem as características psicológicas de uma pessoa. Como exemplos, temos o quociente de inteligência, os traços de personalidade e os estilos de comportamento. Silva (2016, p. 6) aponta que uma considerável parcela de pessoas com defi- ciência intelectual ainda apresenta síndromes. A autora aponta que síndromes são “sinais e sintomas que, juntos, evidenciam uma condição particular”. Entre as síndromes, a mais conhecida é a síndrome de Down (Figura 3), que consiste em um problema genético durante a formação na divisão celular do embrião. Em pessoas sem deficiência, a célula se constitui em 46 cromossomos divididos em 23 pares. A pessoa que tem síndrome de Down possui 47 cromossomos, sendo que o cromossomo extra é ligado ao par 21 (MORAES, 2018). Sendo assim, a síndrome de Down se caracteriza por ser uma: Alteração genética que ocorre na formação do bebê, no início da gravidez. O grau de deficiência intelectual provocado pela síndrome é variável, e o quociente de inteligência (QI) pode variar e chegar a valores inferiores a 40. A linguagem fica mais comprometida, mas a visão é relativamente preservada. As interações sociais podem se desenvolver bem, no entanto, podem aparecer distúrbios como hiperatividade, depressão, entre outros (APAE..., 2018, documento on-line). Figura 3. Criança com síndrome de Down. Fonte: Vida Mais Livre (2011, documento on-line). 9Deficiência intelectual Além da síndrome de Down, existem outras síndromes que têm a deficiência intelectual como característica: a síndrome do X frágil (alteração genética que provoca atraso mental e comprometimento ocular), a síndrome de Prader-Willi (além dos problemas intelectuais, também apresenta hipotonia muscular e pequena estatura) e a síndrome de Angelman (comprometimento intelectual associado a fala, atraso psicomotor e dificuldade de andar). Nesta seção, você viu os graus de classificação da deficiência intelectual, que se divide em dependência, capacidade funcional e adaptativa e gravidade. Também foi apresentada a síndrome de Down, que possui relação com a deficiência intelectual. Na sequência, você conhecerá atividades físicas para pessoas com deficiência motora que podem ser aplicadas em aula e colaborar com o desenvolvimento desse alunos. Atividades físicas para pessoas com deficiência intelectual Existem diversas abordagens e atividades físicas que podem ser realizadas para pessoas com defi ciência intelectual. Gimenez (2008) aponta que, devido à heterogeneidade desse público, torna-se difícil, para o professor, estabelecer uma estratégia comum que se aplique a todos. Assim, o autor destaca, entre as adaptações e os cuidados que o professor precisa ter na hora de se dirigir a esses discentes na aula de educação física, as seguintes: Concisão e clareza nas informações: como a pessoa com deficiência intelectual apresenta maiores dificuldades para compreender, é impor- tante que as explicações sejam objetivas. Também é necessário que o professor mude o tom de voz, ressaltando o mais importante, e que se posicione adequadamente. Uso de diferentes canais sensoriais para a transmissão da informação: usar o auditivo, o visual, como figuras, e também o tato. Associação de informações com a realidade do aluno: realizar associa- ções que favoreçam o processo de ensino-aprendizagem. Deficiência intelectual10 Segundo o Ministério da Educação, também são necessárias adaptações em três níveis: Adaptações no nível do projeto pedagógico (currículo escolar) que devem focalizar, principalmente, a organização escolar e os serviços de apoio, propiciando condi- ções estruturais que possam ocorrer no nível de sala de aula e no nível individual. Adaptações relativas ao currículo da classe, que se referem, principalmente, à programação das atividades elaboradas para sala de aula. Adaptações individualizadas do currículo, que focalizam a atuação do profes- sor na avaliação e no atendimento a cada aluno (BRASIL, 1998 apud REIS; ROSS, 2018, p. 16). Freitas, Soares e Pereira (2010) apontam que o grau de comprometimento da pessoa com deficiência intelectual depende muito do estímulo, da história de vida do paciente, do apoio familiar e do suporte necessário para a apren- dizagem. Sobre isso, a Associação Americana de Retardo Mental (AAMR) (AMERICAN..., 2002) propôs um modelo envolvendo uma relação dinâmica entre o funcionamento do indivíduo, os apoios de que esse dispõe e cinco dimensões a serem consideradas em seu desenvolvimento: Dimensão I — habilidades intelectuais; Dimensão II — comportamento adaptativo (habilidades conceituais, sociais e práticas de vida diária); Dimensão III — participação, interações e papéis sociais; Dimensão IV — saúde (saúde física, saúde mental, etiologia); Dimensão V — contexto (inserção ambiental e cultural). A seguir, veja algumas atividades que podem ser realizadas nas aulas de educação física com o objetivo de incluir a pessoa com deficiência intelectual (Figura 4), trabalhando habilidades motoras manipulativas e locomotoras, e que podem ser vivenciadas pelos alunos sem essa deficiência. Passa João Número de participantes: livre. Descrição do jogo: com os alunos sentados em círculo, o professor inicia pegando uma bola e cantando a canção “Passa João”: “O João vai passar, ele ainda não chegou, ele ainda não chegou, ele acaba de chegaaar!”. Enquanto isso, os participantes passam a bola de mão em mão para os colegas, até que 11Deficiência intelectual todos os componentes do círculo a tenham tocado. Ao parar a música, a bola para de ser passada e aquele que estiver com a bola deverá imitar um bicho. Variação: em vez de cantar “Passa João”, trocar pelo nome dos alunos consecutivamente, até citar o nome de todos. Exemplo: “A Maria vai passar, ela ainda não chegou, ela ainda não chegou, ela acaba de chega- aar!”. Nesse tipo de brincadeira, deve-se estimular a criança a participar do jogo cantando (DIEHL, 2006). Jogo dos balões Número de participantes: livre. Material: balões. Descrição do jogo: cada aluno segurará um balão. Todos deverão estar em pé e agrupados. Ao sinal do professor, todos deverão jogar os balões para cima, procurando mantê-los no ar a partir de pequenos toques, sem deixar cair no chão — não importa de quem será o balão. O balão que cair no chão deverá permanecer no chão. O professor determinará o tempo de duração do jogo; após esse tempo, os alunos contarão quantos balões conseguiram salvar. A cada jogo, o professor incentivará aos alunos a salvar mais balões (DIEHL, 2006). Figura 4. Atividades lúdicas com pessoas com deficiência intelectual. Fonte: São Paulo (2018, documento on-line). Deficiência intelectual12 Dança do chapéu Número de participantes: livre. Material:som, chapéu (ou algo para simbolizar um chapéu). Descrição do jogo: em dupla, os alunos dançarão livremente. Um aluno estará sozinho segurando o chapéu. Em determinado momento, o pro- fessor desligará a música, e o aluno que estiver segurando o chapéu colocará o chapéu na cabeça de outro aluno, que ocupará seu lugar, sendo o próximo bailarino do chapéu (DIEHL, 2006). Pega-pega corrente Número de participantes: livre. Descrição do jogo: os alunos estarão dispersos pela quadra; um deles será escolhido para ser o pegador. Os alunos que forem pegos deverão unir-se ao pegador dando as mãos e formando uma corrente. O jogo termina quando todos os alunos forem pegos, formando uma grande corrente. Nesta seção, vimos um pouco da trajetória da deficiência intelectual no Brasil e seus conceitos. A pessoa com essa deficiência apresenta funcionamento intelectual significativamente inferior à média, com manifestação antes dos dezoito anos e limitações associadas a duas ou mais áreas de habilidades adaptativas. Esses comprometimentos podem ser resultado de inúmeros fatores, como pré-natais, perinatais e pós-natais. Ainda foram apresentadas as classificações da deficiência intelectual, que pode ser feita por dependência (intermitente, limitado, extensivo e generali- zado), capacidade funcional e adaptativa (educáveis, treináveis e dependentes) e pela gravidade (leve, moderada, grave ou profunda). Por fim, vimos estratégias para que o aluno com deficiência intelectual tenha um melhor aproveitamento da aula, como o uso de materiais concretos, associações e uma explicação concisa e clara. Também foram apresentadas atividades adaptadas para esses indivíduos. A partir deste capítulo, você já adquiriu conhecimentos relativos à deficiência intelectual que irão colaborar no seu cotidiano de professor, reconhecendo as diferenças no discente e ela- borando estratégias de aula. 13Deficiência intelectual AMERICAN ASSOCIATION ON MENTAL RETARDATION. Mental Retardation: definition, classification, and systems of support. 10. ed. Washington: AAMR, 2002. AMPUDIA, R. O que é Deficiência Intelectual? 2011. 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Atividade física adaptada: qualidade devida para pessoas com necessidades especiais. 2. ed. Barueri: Manole, 2008. 15Deficiência intelectual Conteúdo: DICA DO PROFESSOR A microceflia é uma das causas da deficiência intelectual. Nos últimos anos, no Brasil, seu número aumentou de maneira considerável devido à infecções do zika vírus. Veja, nesta Dica do Professor, um pouco mais sobre a microcefalia e como a Educação Física pode ajudar a combatê-la ou a tratá-la. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! EXERCÍCIOS 1) Segundo o Decreto n.º 5.296/2004, a pessoa com deficiência intelectual apresenta um funcionamento mental significativamente inferior à média, com manifestação antes dos 18 anos e limitações associadas a duas ou mais áreas de habilidades adaptativas, tais como: A) comunicação, cuidado pessoal e capacidade de leitura. B) habilidades sociais, comunicação e capacidade de escrita. C) saúde, segurança e capacidade de aprender. D) capacidade de ler e de escrever. E) habilidades acadêmicas, lazer e trabalho. 2) Uma das causas da deficiência intelectual é a hidrocefalia. Ela ocorre ainda no periodo pré-natal, ou seja, na formação do embrião. No que consiste a hidrocefalia? A) Em uma infecção craniana. B) No aumento do tamanho do cérebro. C) Na diminuição do tamanho do cérebro. D) No acúmulo anormal de líquido no crânio. E) Em um traumatismo craniano. 3) Uma das classificações para a deficiência intelectual é a capacidade funcional e adaptativa. Essa classificação se refere aos ambientes em que o deficiente se adapta e às funções que consegue desempenhar. Como é classificada a criança que, se colocada em classes especiais, poderá treinar diversas funções, como disciplina e hábitos higiênicos? A) Educável. B) Dependente. C) Treinável. D) Limitada. E) Intermitente. A classificação da deficiência intelectual por gravidade da dependência é realizada 4) por meio de testes psicométricos,como o Quociente Intelectual (QI), e é dividida em quatro níveis. O aluno com um laudo de deficiência intelectual profunda vai apresentar quais características? A) Aprendizagem lenta; entretanto, apresenta plena capacidade para realizar tarefas escolares e da vida cotidiana. B) Considerável atraso, o que acarreta, na maioria dos casos, problemas motores visíveis. C) Graves problemas sensoriais, como fala e audição, ortopédicos (deformação da estrutura corporal) e grandes limitações referentes à aprendizagem. D) Mesmo com dificuldades sensoriais, desenvolvem habilidades sociais e de comunicação. E) O QI desse grupo varia entre 25-39. 5) A aula para a pessoa com deficiência intelectual precisa de adaptações. Com a Educação Física não é diferente, pois o professor deve pensar em alternativas para melhor desenvolver esse aluno. Sobre adaptações, é correto afirmar que: A) o professor deve passar as informações lentamente, para que o aluno compreenda. B) deve-se fazer uso dos diversos canais sensoriais para a transmissão da informação. C) adaptações no nível do projeto pedagógico focam, principalmente, no trabalho do professor. D) as adaptações relativas ao currículo da classe se referem aos serviços de apoio. E) adaptações individualizadas do currículo se referem, exclusivamente, às disciplinas. NA PRÁTICA Uma das propostas a ser abordada com pessoas com defiiciência intelectual pelo Ministério da Educação (2006) são as atividades rítmicas, como a dança e a expressão corporal, que podem trazer inúmeros benefícios a esses indivíduos. Confira, Na Prática, os benefícios e as propostas de atividades com dança. SAIBA MAIS Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: Balé ajuda desenvolvimento de garoto com síndrome de Down Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Sobre a Deficiência Intelectual Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! 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