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Aristóteles - Política Aristóteles: (384 a.C. - 322 a. C.) foi um pensador, aluno de Platão e professor de Alexandre Magno. Seus escritos abrangem diversos assuntos, como a física, a metafísica, poesia, a música, a lógica, a retórica, a astronomia, a política, a ética, a biologia, a psicologia, e a zoologia. Juntamente com Platão e Sócrates, Aristóteles é visto como um dos pilares da filosofia ocidental. Fundou uma escola, o Liceu, também conhecida como Peripatos. A filosofia aristotélica constitui uma visão sistemática e integrada do conhecimento, com a valorização da ciência empírica, da ética e da política. Aristóteles divide o conhecimento da seguinte forma: prático (práxis), produtivo (poiesis) e teórico. O conhecimento prático abrange principalmente o estudo da ética e da política. Política é um texto de Aristóteles composto por oito livros, não existindo dúvidas acerca da autenticidade da obra. Acredita-se que as reflexões aristotélicas sobre a política originam-se da época em que ele era preceptor de Alexandre o Grande. Aristóteles, apesar de discípulo, critica o autoritarismo de Platão, considerando sua utopia impraticável e inumana. Recusa a sofocracia platónica que atribui poder ilimitado a apenas uma parte do corpo social, os mais sábios, o que torna a sociedade muito hierarquizada. Não aceita a proposta de dissolução da família nem considera que a justiça, virtude por excelência do cidadão, possa vir separada da amizade. A reflexão aristotélica sobre a política não se separa da ética, pois a vida individual está imbricada na vida comunitária. Se Aristóteles conclui que a finalidade da ação moral é a felicidade do indivíduo, também a política tem por fim organizar a cidade feliz. Por isso, diante da noção fria de justiça proposta por Platão, Aristóteles considera que a justiça não pode vir separada da philia (amizade). Ou seja, a concordância entre as pessoas que têm ideias semelhantes e interesses comuns, donde resulta a camaradagem, o companheirismo. A amizade não se separa da justiça. Essas duas virtudes se relacionam e se complementam, fundamentando a unidade que deve existir na cidade. Se a cidade é a associação de homens iguais, a justiça é o que garante o princípio da igualdade. Justo é o que se apodera de parte que lhe cabe, é o que distribui o que é devido a cada um. O conceito de justiça se reporta à distribuição justa, que leva em conta o mérito das pessoas. Isso significa que não se pode dar o igual para desiguais, já que as pessoas são diferentes. A justiça está intimamente ligada ao império da lei, pela qual se faz prevalecer a razão sobre as paixões cegas. Retomando a tradição grega, a lei é para Aristóteles o princípio que rege a ação dos cidadãos, é a expressão política da ordem natural. A cidadania O fato de se morar na mesma cidade não torna seus habitantes igualmente cidadãos. São excluídos da cidadania os escravos, os estrangeiros, as mulheres. Porém, nem todo homem livre, nascido na pólis, poderá participar da administração da justiça ou ser membro da assembleia governante. Será necessário ter qualidades que variam conforme as exigências da constituição aceita pela cidade. Estão excluídos da cidadania também a classe dos artesãos, comerciantes e trabalhadores braçais em geral, em primeiro lugar porque a ocupação não lhes permite o tempo de ócio necessário para participar do governo e em segundo lugar porque, reforçando o desprezo que os antigos tinham pelo trabalho manual. Aristóteles julga que esse tipo de atividade embrutece a alma e torna o indivíduo incapaz da prática de uma virtude esclarecida. Escravidão Em seu livro “Política”, Aristóteles justifica a escravidão. Para ele, os homens livres e concidadãos aprisionados em guerras não deveriam ser escravizados, mas o mesmo não acontece com os "bárbaros", nome genérico atribuído aos não-gregos, por serem estes considerados inferiores e, portanto, possuírem uma disposição natural para a escravidão. Seria legítimo o controle que o senhor exerce sobre o escravo. Aristóteles recomenda apenas que o tratamento não seja cruel, devendo mesmo ser estabelecidos laços afetivos, como nas antigas famílias dos tempos homéricos, quando os escravos pertenciam ao lar. Entretanto, em meados do século IV a.C. a escravidão não se restringia apenas às atividades domésticas, mas se estendia ao comércio e à manufatura, em condições bastante adversas de trabalho. As formas de governo Aristóteles estabelece uma tipologia das formas de governo que se tornou clássica. Usa o critério do número, ou quantidade, para distinguir a monarquia (ou governo de um só), a aristocracia (ou governo de um pequeno grupo) e a politéia (ou governo da maioria). Aristóteles também utiliza o critério axiológico (de valor), ponderando que as três formas podem ser consideradas boas, quando visam o interesse comum, e más, corrompidas, degeneradas, quando têm como objetivo o interesse particular. Portanto, a cada uma das três formas boas descritas correspondem respectivamente três formas degeneradas: a tirania se refere ao governo de um só quando visa o interesse próprio; a oligarquia prevalece quando vence o interesse dos mais ricos ou nobres; e a democracia quando a maioria pobre governa em detrimento da minoria rica. Embora considere a monarquia, a aristocracia ou a politéia formas corretas e adequadas ao exercício do poder, Aristóteles prefere a última. Talvez isso se deva à constatação feita de que a tensão política sempre deriva da luta entre ricos e pobres; se um regime conseguir conciliar esses antagonismos, torna-se mais propício para assegurar a paz social. Aristóteles retoma o critério já usado na ética, o de que a virtude sempre está no meio-termo. Aplicando-se o critério da mediania ás classes que compõem a sociedade, descobre na classe média - constituída pelos indivíduos que não são nem muito ricos nem muito pobres - as condições de virtude para criar uma política estável: "Onde a classe média é numerosa raramente ocorrem conspirações e revoltas entre os cidadãos". O Bom Governo Aristóteles, mesmo recusando a utopia platônica, aspira também a uma cidade justa e feliz. Assim, elabora uma teoria política de natureza descritiva, já que a reflexão parte da análise da política de fato, mas é também de natureza normativa e prescritiva, porque pretende indicar quais são as boas formas de governo. A ligação entre ética e política é evidente, na medida em que a questão do bom governo, do regime justo, da cidade boa, depende da virtude do bom governante. Referências ARANHA, M., MARTINS, M. Filosofando: Introdução à Filosofia. São Paulo, Moderna; 2013. ARISTÓTELES. Política. São Paulo: Martins Fontes, 1998. REALE, G, ANTISERI, D. História da Filosofia Vol. 1 - Antiguidade e Idade Média. São Paulo: Paulus, 1990.
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