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Alessandra Gomensoro
Alina Miyake
Ana Carolina Monguilod
Ana Cláudia Akie Utumi
Ana Paula Saunders
Anne Caroline M. Alves
Betina Treiger Grupenmacher
Camille Foligno
Carla de Lourdes Gonçalves
Carol P Tello
Carolina Damasceno C. Barretto
Carolina Santos do Nascimento Colão
Catarina de Lima e Silva Borzino
Cecilia Delgado Ratto
Chloe Burnett
Cristiane Miranda Botelho
Daniela Duque Estrada
Doris Canen
Ana Paula Saunders
Flávia Cavalcanti Pepe
Ana Cláudia Akie Utumi
Organizadoras
Eorrone LurtarN Juzus
Rro op JnNrtno
2019
Flávia Cavalcanti Pepe
Gisele Barra Bossa
Juliana Melo Ribeiro
Juliana Rosa
Karem Jureidini Dias
Luciana Rosanova Galhardo
Margaret R. Pope
Mariana de Figueiredo Corrêa da Veiga
Mariana Jatahy Rizzo Soares
Mariana Monte Alegre de Paiva
Mariane de Sousa Assis Resende
Marina Tokunova
Marta Villar Ezcurra
Paloma Amorim da Cruz Rosa
Patrícia Varela
Raquel Novais
Renata Emery
Tarsilla Silva Loureiro
:*rn.br
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Estudos de Tributação
lnternacional
Ed¡ção Especial
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Criptomoedas: um Novo Paraíso Fiscal?
Uma Análise do Desenvolvimento
do Mercado de Criptomoedas na
Era da Conformidade Tiibutária à
Luz da Legislação Brasileira
Raquel Novais36e
Alina Miyake3?o
1. Introduçáo
Em tempos de especulações em torno daBírcoirf7l, as transações com cripto.
moedas estáo se tomando cada dia mais populares, inclusive com o varejo uúine acev
tando-as como meio de pagamento3?z. Nesse contexto, o anonimato das transações
traz diversas preocupaçöes políticas, especialmente com relação à sonegação fiscal,
lavagem de dinheiro, financiamento de atentados terroristas, fraudes, entre outros.
Esse artigo tem o intuito de expor alguns conceitos relacionados ao tema'
analisar algumas questões tributárias decorrentes da natureza jurídica dos crip-
toativos e explorar os desafios trazidos pela Bitcoin e outras criptomoedas em
um cenário no qual os fomentadores de políticas públicas buscam combater as
práticas de sonegaçáo e evasão fiscal - por meio do projeto Base Erosion and
Profit Shifttng (Projeto BEPS), conduzido pela Organizaçáo para Cooperação e
Desenvolvimento Econômico (OCDE) e pelo Grupo dos 20 (G20), dos Acordos
369 Mestra em Direito Tiibutário pela Pontifícia Universidade Católica de Sáo Paulo. Advogada em São Paulo.
3?0 Bacharela em Direito pela Universidade de São Paulo Advogada em São Paulo.
371 Cl. INFOMONEY. Quais as perspectivas de recuperação do preço do bitcoin?. 27 nov. 2018.
Disponível em: https://www.infomoney.com.br/mercados/noticíal?780847lquais-as-perspectivas.de-
recuperacao-do-preco-do-bitcoin-. Acesso em 27 dez. 2018.
3?2. CI MICROSOFT. Como usar Bitcoin Þdrd. adicionar crédito a sud conta. Microsoft. Disponível em;
https://support.microsoft.com/pt-bilhelpll3942lmicrosofÞaccounphow-to-use-bitcoin-to-add-money-
to-your-account. Acesso em: 18 jan. 2019.
259
Ann Paula snunders, Fláaía Cnaarcnnti pepe, Ann Cráucriø Akie UttLnn
Intergovernamenrais (lGA) para implementação do Foreign Account Tax com-
þIi anc e Ac r (FATCA), do c ommon Reþ or ting stand ar d. (cRS), dos progr amas de
declaração voluntária de ativos mantidos no exterior, dentre outros.
o presente trabalho apresentará: (i) os conceitos introdurórios do mer-
cado de criptoarivos; (ii) urn panorama hisrórico da conformidade tributária
i'ter'acional e da preocupação das organizações internacionais com o uso de
criptoativos; (iii) os desafios trazidos pelo mercado de criptoarivos: diagnóstico
à luz das ma'ifèstações dos governos e orga'izações internacionais e (v) apon-
talìlentos de alguns aspectos relevantes do tratainento tributário das operações
envolvendo criptoativos.
2. conceitos Introdutórios do Mercado de criptoativos
O mercado de criptoativos tem seus jargões próprios: mineração, fork, air_
drops, ICOs, P2P, blockchain, tokens, etc., os quais, à primeira vista parecem um
mundo novo de conceitos. o presente tópico se dedicará desmistifica-los.
' Airdroþs: definiclos como a distribuição de criptoativos, frequenreme¡re
de for'-ra gratuira (bonificação), para uma seleçao aleatória i.
"rd.r.ço,de carteiras ou para uma lista específica de enãereços de carteiras, geral-
lnente coulo um modo de divulgar esse ativol?1.
' Arbitrage'r: no contexto do mercado de criptoativos, é a operação por
'reio
da qual um indivíduo ou entidade, negociando cripto'roedas, as
adquire ern exchønges nas quals o valor negociado ern fi'at é inferior e
as vende em exchanges nas quais o varor negociado é mais erevado. A
difere.ça entre o valor de cornpra e o valor de venda da criptomoeda é
o rendimento da operação.
' Blockchaini tanbén1 conhecida conìo protocolo de confiança. Colsiste
elr uln ripo de tecnologia de registro de informações que fur-rciona por
meio de uma rede de dados púbiica, coln blocos encadeadc,s que carre-
galn u'-'-'a informação e uma impressão digital. Não há a necessidade de
u'r servidor central,_a inte'nediação de terceiros ou de um ,,dono,' para
garanrir a integridade dessa base de dados. pode rer várias utilizaiões,
con'o ser a plataforma tecnológica de criptoativos. As inforrnações que
transiram pelablockchaln são operadas sob pseudônimos que ocultam a
373 C( REIFF, Nathan. "Cryptocurrency Forks Vs. Airdrops: What's the Diiferer-rce/,, lnuesroperlia, Nova
Iorque, 3 jun. 2018. Disponível em: htrps://rvww.ir-rvestopedia,con/tech/cryprocurrency-forks_vs-
airdrops-rvhats-cliffèrcnce/. Acesso em: 23 jan. 7019.
260
'cie Utumi
'reign AccountTaxCom-
CRS), dos programas de
lentre outros.
,s introdutórios do mer.
:onformidade tributária
nacionais com o uso de
:riptoativos: diagnóstico
ternacionais e (v) apon-
tributário das operações
e Criptoativos
.os: mineraçáo, fork, air-
meira vista parecem um
:á desmistifica-los.
rtoativos, frequentemente
;ão aleatória de endereços
lereços de carteiras, geral.
3
:oativos, é a operaçáo por
ociando criptomoedas, as
ciado em /rat é inferior e
rciado é mais elevado. A
: venda da criptomoeda é
lo de confiança. Consiste
mações que funciona por
os encadeados que carre.
Náo há a necessidade de
ros ou de um "dono" para
¡de ter várias utilizações,
ivos. As informações que
:udônimos que ocultam a
Difference?" lnuesropedia, Nova
n/tech/cryptocurrency-forks-vs-
Estudos de Tributação Internøcional
real identidade do usuário, de forma que os usuários podem rastrear as
operações. Essa é a tecnologia por trás daBítcoin, outras criptomoedas
podem operar com vistas ao anonimato das operações.
. Criptoativos ou Tokens: podem ser divididos em: (i) PaymentlExchangel
Ctnrency Tokens são sinônimo de criptomoedas; (ii) Investment Tokens,
que conêrem direitos de propriedade ao,seu detentor ou direito de receber
ràndimentos semelhantes a dividendos. É uma forma de se levantar capital
para um determinado empreendimento, semelhante a uma oferta pública
de ações (OPA); e (iii) Utilùy Tokens, que geralmenre permitem o acesso a
um produto ou serviço específico utilizando uma plataforma DLT. Náo é
aceito comomeio de pagamento para outros produtos ou serviços.
. Criptomoeda: também conhecida como moeda digital, é uma espécie de
criptoativo. Dentre as diversas definiçoes de criptomoeda, um conceito
que nos parece adequado é de representaçáo digital de valor emitido por
criadores privados, cujo valor é representado em unidade própriar?a' As
criptomoedas são obtidas, depositadas, acessadas (por meio de taxa flu'
tuantel?5) e transacionadas por meio eletrônico. A sua função principal
é a de meio de trocal?6, podendo inclusive ser trocada por moedas cor'
rentes. Em razão de as criptomoedas serem meios de pagamento aceitos
em transaçóes de aquisição de bens, serviços, direitos ou outros cripto'
ativos, assemelhando.se, por este atributo, às moedas correntes' tem se
discutido se as criptomoedas representam uma ruptura com o modelo de
soberania da moeda nacional, por estarem fora da regulaçáo e interme-
diação de autoridades governamentais monetárias (bancos centrais)' A
sua emissão é descentralizada e regida por atores privados, sem o ante-
374 Cf. HE, Dong; et al. iMF Sca/f Discussion Note - MrtualCurrencies andBepnd: InitialConsiderations.
SDN 16103. Jan. 2016. p. 7.8. Disponível em: https://www.imf.orglexternal/pubVftisdn/2016/sdn1603.
pdf Acesso em 7 fev. 2019; MARIAN, Omri Y. 'Are Cryprocurrencies super Tax Heavens?". ll2
Michigan Lau Reuiew First lmpressíons 38; 2013. Disponível em: https://scholarship.law.ufl.edu/cgil
viewconlent.cgi?refere¡:&.httpsredir=1&article:1365&context=facultypub. Acesso em 10 fev.
2019; BAL, Aleksandra. "stateless Vrtual Money". EuroþeanTaxation, jul. 2010. Disponível em:
hrtp://online.ibfd.org/collections/et/printversion/pdf/et071307.pdf. Acesso em: 8 fev. 2019'
375 CÍ. MARIAN, Omri Y. "Are Cryptocurrencies Super Tax Heavens?". 112 Míchigan Law Rettiew First
Impressions 38;201j. Disponível em: https://scholarship.lawufl.edu/cgilviewcontent.cgi?referer=&ht
tpsredir=1&article:1365&.context:facultypub' Acesso em 10 fev. 2019.
3i6 Cf. EUROPEAN BANK AUTHORITY. "Report with advice for the European Commission on crvpto-
assets". EBA Reþorts.9 jan. 2019. Disponível em, https,//eba.europa.eu/docume¡ts110180125455471
EBA*Report*on+crypto+assets'pdf' Acesso em 2'6 ian. 2019.
267
Ana Pauln Snttnders, Fláaia CnztøIcnrúi Pc¡tc, Ana Cláudin Akie Llttuni
paro de unr marco regulatório lbrlÌ1aPi?-3i8. As criptomoeclas, em geral,
não representalìl ullt clireito (diferenteltìente dos Inues¿menr Tokens e dos
IJtilit"t Tokens). São exemplos de criptomoedas: a Bitcoin, Ethereum, Rip-
ple, Bitcoin Cash, EOS, Litecoin, Monero, dentre ourros n-rilhares de tipos.
. DistribtredLedger Technologl (DLT): tecnologia que permite o arlìta:e-
namento, atualização e valiclação de inforn.rações de rraneira clescen.
tralizada, sen a necessidade de urn scrvidor central ou un1 "dono". Llnr
exer.nplo de DLf é a blockchain.
. Exchange ou Broker: elltidades que negociarn e/ou intermediam as opera-
ções de cotÌlpra e venda de criptoativos.
. e-Wallet (ou carteira virtual): softwares de arr.nazenancr-rto de criptomo-
edas. Perr.l.rire a realização de envios/¡ecebirncntos desse tipo de ativo
para/de terceiros.
' Fiat: moedas formais emitidas por Estaclos e reguladas por bancos centrais.
. Fork: na linguagem de programaçá.o, "fork" é uma r.nodificação do có-
digo de fonte, de fo.rma qr-re as duas versões desse código coexistern de
forma harmônica. Às vezes, o fork é utllizaclo para resrar uur processo.
Porérn, no caso específico dos criptoativos, esse mecanismo é utilizado
para implementar uma mudança funclamer-rtal ou para criar um novo
recurso collt características similares (n.ras não iclênticas) ao original.
A expressão "hard fork" é utilizada para se referi¡ a uma clivisão no re.
gistro compartilhado da lede e1n que o criproarivo opera ("þrklng rhe
blockclwin"))1e. Esse fbi o caso da Bitcoin: aqueles que detinh:rn1 ulna
Bitcoin passaralìì a também deter una Bitcoin Cøshrs0.
377 Cf. BANK FOR INTERNATIONAL SETTLEMENTS. Conrmi¡tcc on Pa,^nents antl Ma¡ker
Irtftastrucnnes: Dígitul Currancies. nor,. 2015. p, 7. Disponír,el en: hrtp://rvu,u,.l¡is.org/cpmi/publ/d137.
pdf. Acesso em 9 jan. 2019.
178 Cl BANK FOR INTERNATIONAL SETTLEMENTS. Conrnrlrtcc (n Pa,-lnents Ln¿ Mto'l<et
Infrashuctures: Digital CLrrencies. nov. 2015. p. 7. Disponír,cl cn: httpr://s,1yq'.[¡is.or.g/cpni/publ/r1137.
pdf. Acesso em 9 jan. 20i9; ORGANIZAÇÁO MUNDIAL DO COMÉRCIO. Spcciai SrrrJtcs: Elcctronic
Comtnercc andtheRole of the WTO. Srvitzerland: \ü/orlcl Trade Orga¡i:ation, 1998, p. 11-42. Dispr¡11i1,c1
etn: https://wrvw.wto.org/cnglish/res_e/booksp_e/special_srudy_2_c.pclf. Acesso em 31 jan. 2.019.
379 Cf ACHESON, Noclle "Hard FoLk Vs Soft Fork". Coûrdesk, Nov:r York, 16 cle n.rarço de 2018.
Dispor-rível em: (https://wrvw.ctrinclesk.con/infbrmation/hard-fork-vs-soft-fork>. Accsso em, Z3
jan. 2019 e \ALKENBURGH, Peter Van. "\ù/hat are Foi-ks, Alt-coins, Mera-coins, and SiclechainsJ"
Cohrcenter, Washington D.C., 8 de dezenL¡ro dc 2015. Disponível crl: <https,//coìrìccrìrer.org/enrr)'/
rvhat-are-forks-alt-coins,meta-coins-ancl-sidechains). ,{6g5s. ern: 23 jan. 2019.
380 Cl IRRERA, Anna; CHAVEZ-DREYI'-USS, Gcrtude. "Bircoin splits, but clonc off ro slow srarr".
Rcutc¡s. 1. Ago. 2017. Disponível em: hrrps,//rvrvrv.reurers.com/article/us-bitcoin-split/bircoin-splirs-
bur-clone-ofi-to-slorv-starr-idUSKBNlAH5FL Accsso em l1 fev. 2019.
262
\kieUtumi
As criptomoedas, em geral,
doslnuestment Tokens e dos
las: a Bitcoin, Etherewn, Rip-
tre outros milhares de tipos.
ogia que permite o armaze-
nações de maneira descen-
'central ou um "dono". fjm
. e/ou intermediam as opera.
'mazenamento de criptomo.
mentos desse tipo de ativo
:guladas por bancos centrais.
é uma modificação do có-
i desse código coexistem de
Jo para testar um processo.
esse mecanismo é utilizado
rtal ou para criar um novo
não idênticas) ao original.
referir a uma divisão no re-
ptoativo operu ("forking the
rqueles que detinham uma
n Cashrso.
mittee on Payments and Market
rttp ://www.bis.orglcpmi/publ/d I 37.
míttee on Payments and Market
http://www.bis.orglcpmi/publ/d137.
úÉRCIO. SÞec¿d L Studies: Electroníc
rization, 1998. p. 4l-42. Disponível
pdf. Acesso em 3I jan.7019.
fova York, 16 de março de 2018.
rþvs-soft-fork>. Acesso em: 23
ins, Meta-coins, and Sidechains?"
em: <https://coincenter.org/entry/
L3 jar. ?.019.
;plits, buc clone off to slow srart".
:icle/us-bitcoin-split/bitcoin-splits-
119.
Estudos de Tributøçõo Internacional
. Initialcoínoffering (ICo): operação de captação de recursos na ven-
da de criptoativos de um novo projeto deblockchain Essa operação de
compra e venda tem como contraprestaçâo fiat ou outro criptoativo já
existente no mercado.
. Mineração vide þroof-of-work.
. Peer-to-Peer (P2P): estrutura de redes que compartilha tarefas, trabalho,
ou arquivos entre pares (Þeers). Em estrutura P2P, cada usuário é de-
nominado "nó" e, conjuntamente, todos os usuários são denominados
"rede PZP". Nablockchain, a rede PZP é composta por computadores e
servidores (cada um é um nó).
. Proof-of-stake (PoS): tipo de algoritmo de consenso alternativo ao PoST que
depende da participação econômica do usuário para a validação das opera-
çóes. Os usuários se revezam propondo e votando na validação do próximo
bloco. O peso do voto de cada usuário depende do tamanho do seu depósito
(s¿øk¿) em determinado criptoativo. Nesse caso, não há remuneração pela
validação da operação e a enlrada de novos usuários se dará apenas com a
venda dos criptoativos existentes. Planeja-se a implementação gradual desse
tipo de protocolo para o Etfureunr,primeitanente por meio de um mecanis-
mo híbrido de Po'!ü e PoS (Ethereum Casþer) e, posteriormente, transicio'
nando para um mecanismo somente de PoS (Ethereum Serenity).
' Proof-of-work (Po\Ø): forma de validação das transações com um deter'
minado criptoativo. Esse é o caso da mineração, operação por meio da
qual usuários (denominados mineradores) realizam cálculos computa'
cionais para validar operaçóesde alguns tipos de criptomoedas, incluin'
do as Bi¿coins. Os mineradores são recompensados por novas criptomoe-
das. Atualmente, essas operações demandam elevado gasto energético e
equipamentos sofisticados.
' White ÞaÞer: rrc mercado de criptoativos' trata'se de um documento de'
senvolvido como etapa anterior ao lançamento de um criptoativo, po-
dendo anteceder um ICO. Detalha aspectos comerciais, tecnológicos e
econômicos de um novo projeto deblockchain.
À lu, dos conceitos acima expostos, o escopo do presente artigo é analisar
os aspectos tributários do mercado de criptomoedas, considerando os relevantes
desenvolvimentos da era da conformidade tributária a seguir analisados'
263
Ana Paukt Saunders, Fláaia Caaalcanti Pepe, Ana Cláudia Akie lltumi
3. Panorama Histórico: a Conformidade Tributária
Internacional e o Uso de Criptoativos
Em abril de 2009, no conrexro da Gise do Subprime e da crise mundial, a
ocDE e o G20 se comprometeram a adotar medidas de reação à recessão econô-
mica. Essas medidas visaram ao fortalecimento de sistemas mundiais financeiros
e dos bancos. Para tanto, o G20 determinou o fim da era do sigilo bancáriol8r,
reivindicando às instituiçöes financeiras tradicionais - muiras delas localizadas
em paraísos fiscais - a revelação de informações financeiras de seus clientes.
Naquele momenro, a dererminação do fim do sigilo bancário foi uma
quebra de paradigma3'2. A sua implementação ocorreu após 2009 por meio da
assinatura de Tax rnformation Exchange Agreements (TIEA) ou da emenda de
Acordos de Bitributaçáo, os quais proporcionaram a troca de informações entre
governos mediante solicitaçãor8l.
Ao longo do tempo, percebeu-se que a instituição da troca de informações
mediante solicitação levou à üansferência de riqueza para paraísos fiscais que não
haviam celebrado esses acordos3sa. Assim, como enfatizado por Johannsen ezuc-
381 Cf. ONCNNIZAçAO PARA COOPENNçÁO E DESENVOLVIMENTO ECONÔVICO.
OECD and the London G20 summit ir-r 2009. Disponível em: hrtp://www.oecd.org/economy/
oecdandthelondong2OsummitinZOO9.htm. Acesso em 31 jan. 2019 e GRUPO DOS 20. London
Summit - Leaders Statement 2 April 2009. Disponível em: https://www.imf.org/external/np/sec/
prl20a9þdf1g20 040209.pdf. Acesso em: 31 jan. 2019. e SCHoUERI, Luís Eduardo; BARBOSA,
Matheus Calicchio. "Transparency: From Tax Secrecy ro the Simplicity and Reliability of the Tax
System". BririshTaxReview. T0I3.5a ed., p. 666-6BL
382 É importante tessalta¡ que a OCDE apoiou medidas de ampliaçáo dos mecanismos de troca de
informaçóes desde os anos de 1990, mas somente após 2009 ocorreram mudanças significativas
nesse sentido' (cf. ROCHA, Sergio Ar-rdré. Troca Internacional de Informações þara Fíns Flsc¿is. São
Paulo: Quartier Latin; 2015. p.7733 e JOHANNSESSEN, Niels; zucMAN, Gabriel. "The End of
Bank Secrecy? An Evaluation of the G20 Tax Haven C¡ackdown". American Economic Journal:
Economic Policy. Pittsburgh: 2014, vol. 6 n. 1, p. 65-91. Disponível em: http://gab¡iel-zucman.eu/files/
JohannesenZucman20i4. Acesso em 31 jan. 2019.
383 O Brasil celebrou TIEAs com algumas jurisdições, quais sejam: Esrados Unidos da América (EUA,
2007), Uruguai (2012), Reino Unido (2012), Bermudas (2012), Jersey (2013), Cayman (2013),
Guernsey (2013), Suíça (2015) e San Marino (2016). Apenas o acordo com os EUA foi ratificado pelo
Congresso Nacional.
384 Cf. JOHANNSESSEN, Niels; ZUCMAN, Cabriel. "The End of Bank Secrecy? An Evaluation of rhe
C20 Tax Haven Crackdown". American Economic Journal: Economic Policy. Pittsburgh: 2014, vol. 6 n.
1, p. 65. Disponível em: http://gabriel-zucman.eu/files4ohannesenZucrnanZ0l4. Acesso em j1 jan. 2019.
264
kieUtumi
Tributária
me e da crise mundial, a
reação à recessão econô-
nas mundiais financeiros
era do sigilo bancário381,
muitas delas localizadas
iras de seus clientes.
sigilo bancário foi uma
L após 2009 por meio da
'IEA) ou da emenda de
,ca de informações entre
da troca de informações
a paraísos fiscais que não
do porJohannsen eZtc.
)LVIMENTO ECONÔMICO.
http://www.oecd.orgleconomy/
) e GRUPO DOS 20. London
s://www.imf.org/external/np/sec/
iRI, Luís Eduardo; BARBOSA,
licity and Reliabiliry of the Tax
o dos mecanismos de troca de
rreram mudanças significativas
rþrmações þara Fins Fiscais. São
UCMAN, Gabriel. "The End of
'. American Economic Journal:
n: http://gabriel-zucman.eu/files/
rdos Unidos da América (EUA,
)ersey (20i3), Cayman (2013),
) com os EUA foi ratificado pelo
k Secrecy? An Evaluation of the
Policy. Pitrsburgh: 2014, vol. 6 n.
ran2014. Acesso em 31 jan. 2019.
Estudos de Tributøção InternøcionøI
man385, oS paraísos fiscais menos conformes atraíram novos clientes e aqueles que
caminhavam para a conformidade viram suas carteiras de clientes se esvaziando'
Como consequência, o montante de ativos náo declarados não se alterou.
Nesse contexto, a conclusáo foi que, enquanto os palaísos fiscais não ade-
rissem à troca de informações, sempre haveria espaço pala a ocultação de rique'
zas. Essa efa uma lacuna para evasáo fiscal e para a manutenção de ativos não
declarados em paraísos fiscais386.
Os gestores públicos precisavam fechar essa brecha. Com esse objetivo, os
EUA, a OECD e o G20 endossaram mecanismos de ffoca automática e mul-
tilateral de informações financeira que não exigiria um requerimento ou uma
inspeção tributária pré-existente. Buscava-se um mecanismo mais abrangente
- o chamad o "big bang aþþroach3l? - para rastrear riquezas não declaradas e
ilegais ao redor do mundo.
Em março de 2010, os EUA promulgaram o FATCA, uma lei doméstica
americana com efeito sobre todas as instituições financeiras estrangeiras que
operam nos EUA. O FATCA visou a combater a evasáo de divisas de cidadãos
americanos e residentes fiscais amedcanos que detêm contas bancárias, ativos
financeiros, seguros e investimentos no exteriot'88. Essa lei fornece uma medida
de coerção que inclui a retenção e tributação na fonte à alíquota de 30olo das
remessas de recursos provenientes de fontes pagadoras americanas para institui-
ções financeiras estrangeiras em estado de não conformidade3se. Para facilitar a
385 Cl JOHANNSESSEN, Niels; ZUCMAN, Gabriel. "The End of Bank Secrecy? An Evaluation of the
G20 Tax Haven Crackdown'Ì American Economic Journal: Economic Policy. Pittsburgh: 2014, vol. 6 n.
1, p. 89. Disponível em: http://gabriel-zucman.eu/files/JohannesenZucmanZ014. Acesso em 31 jan. 2019.
386 Cf. OFFERMANNS, René. "symposium on Cross-Border Information". Joumals IBFD. Amsterdam,
2015; vol.55, n. 1.
38? Cl. ELSAYYAD, May; KONRAD, Kai A. "Fighting mukiple tax havens". Journal of InternationaL
Economics,n. 86, 2012. P. 295i05.
388 Cf. INTERNAL REVENUE SERVICE. Foreigt AccotntTatComplionce Act. jul' 2015. Disponível em:
hrtps://www.irs.gov/Businesses/Corporations/Foreign-Account-Tax-Compliance-Act'FAlCA. Acesso
em l0 jan. 2019 OFFERMANNS, René. "symposium on Cross-Borde¡ Informatiorf'' loumøls IBFD
Amsterdam: 2015; vol. 55, n. 1; DUBUT, Thomas; et al. "BraziVColombia/South AfricaflJganda/
Uruguay/International/OECD - Comprehensive Tax Tieaties and Täx Information Exchange Agreements:
Assessing Exchange of Information Mechanisms to Ensure Tiansparency in a Globalized World from the
Perspective of Developing countries".BulletinforlntematinnalTosatio¿.2018, vol.72, n. 1.
389 Cf INTERNAL REVENUE SERVICE. FATCA Infonruttian for IJ.S. Filtnncitl Itstiwtirms dn¿ Entjtizs.
2019. Disponível em: https://www.irs.gov/Businesses/CorporationsÆATCA-Information-for-United-States-
265
Anø Pauln Sawtders, Fláaiø Caaalcanti Pe¡te, Anø Cláudiø Akie Lltumi
implementação do FATCA, os EUA celebraram vários IGAs que estabelecerarn
que a troca de inforrnação ocorreria em nível governamentai.
Mais tarde, em2014, a OECD, no conrexro do Fórum Globalde Tianspa-
rência, endossou o CRSleo, um padrão de Íoca de inforrnações financeiras a ser
utilizado globalmente. Aré 29 de outubro de 2019, cenro e quarro jurisdições,
incluindo o Brasil e também diversos paraísos fiscais conhecidos, aderiramao
cRS por meio do Acordo Multilateral de Autoridade competente (MCAA-
'cRs¡'nt, As trocas de informações no escopo do cRS se iniciaram em 2017re?.
Nesse cenário, corno medida antecedente à irnplementação do cRS, di-
versos governos introduziram programas de declaração voluntária, com Íìe-
didas de anistia fiscal e/ou criminal, a firn de terem conhecimenro e acesso
aos ativos mantidos por contribuintes no exterior até então não revelados. A
ocDElel monitorou vários desses programas que aparentanÌ ser a última etapa
antes da era de troca autollìática de informaçõesle+.
No contexto em que a maioria dos paraísos fiscais aderiram ao cRS, o espaço
para se manter ativos não declarados e ilegais no exterior está se estreitando. Entre-
tanto, é importante apontar que o CRS não tem urn rnecanismo de coerção como a
retenção na fonre do FÄTCA e essa diferença pode dificultar o seu sucesso.
Entities Acesso em 10 fr:v 2019; MARSOUL K. "FATCA ancl Bel,ond' Clobal hrfo¡mation Rcporrilg a¡d
witlrlrolding Tàx Relief". Denïdrifes andFínanciallnsrn¿menrs. Ansrerdam: IBFD, zor4. p.7.
390 cl ORGANIZAÇÁO PARA cooPERAÇÃo E DESENVoLVTMENTO ECoNoMtco. Stanctard
for Antomatic Exchdnge of Fínancial Accouttt Information in Tax Nlatters. Paris: OECD Publishi¡g,
2014. Disponír,el em: irttp://wrvu,.oecd-ilit¡rar)'.org/clocse¡ver/dorvnload/Z3141J1c.pclflexpires-14g0
498593&id-id&accname:guesttircLrecksum:EACC93B255ó4CDB68484934D61168771. Acesso
en: 6 fev. 2019.
391 Como t.nedida antecedente ao MCAA-CRS, o Blasil acieriu à Convcnção sobre Assis¡ência Múrua
Administrativa ell. Matéria Tributária cmendac{a pelo Protocolo de 1e de junho rJe 2010, i¡tcrralizatla
pelo Decreto lf 8.842/201ó.
392 Cl COOPER, Craeme; STE\7ART, Miranda. "The Road Home? Finalizing ancl ImplcmcntiLrg rhe BEpS
Agenda".BttlletinforlntcrntLtionalTaxatiott.Amsrcrdam:IBFD,jur./jul.Z015vol.69,rr.617.p.3Il.
393 Cf . ORGANIZAÇÃO PARA COOPERAÇAO E DESENVOLVIMENTO ECONOMICO. U1;CIATC
on Yoluntarl Disclosure Programtnes: a þathual to tdx comÞlidllc¿. paris: OECD publishing, ago.
2015 Disponír'e1 etn: https://wrvu'.oecd.org/ctp/exchange-of-rax-information/VoIunrarv-Disclc¡sure-
Programmes-2O15.pdf Acesso en 20 jan. 2019.
394 Ct. URINOV Vokl-ridjon "Tax Amnesties as a Transitional Briclge ro Aurornatic Excha¡ge of
Info¡matior-r". Bulletinforlnte.rnationalTaxatio*. Amsrerda'r, IBFD. ma¡. 2015
266
^.
kie Utumi
IGAs que estabeleceram
mental.
irum Global de Tianspa-
:mações financeiras a ser
nto e quatro jurisdições,
conhecidos, aderiram ao
: Competenre (MCAA.
se iniciaram em 20I73e2.
lementação do CRS, di-
ão voluntária, com me-
conhecimento e acesso
então não revelados. A
lntam ser a última etapa
leriram ao CRS, o espaço
:stá se estreitando. Entre-
nismo de coerçáo como a
ltar o seu sucesso.
ilobal Informarion Repordng and
n: IBFD,2014.p.7.
INTO ECONOMICO. Standard
Ttrers. Paris: OECD Publishing,
oad l2.3I4l31e.pðf Ìexpires = 1480
58A84934D61168773. Acesso
ençáo sobre Assistência Mútua
rde junho de 2010, inteinalizada
zing and Implemendng the BEPS
2015 vol. 69, r.617. p.3ll.
ENTO ECONOMICO. IJpdate
Paris: OECD Publishing, ago.
>rmation/Voluntary.Disclosure-
ge to Automatic Exchange of
oar. 2015
Estudos de Tributøção Internøcional
Paralelamente, a OCDE e o G20 também endossaram o Projeto BEPS, que
decorreu do desejo de se desenvolverem mecanismos multilaterais de controle
ao chamado planejamento tributário internacional, promovido por organizações
empresariais multinacionais ou globais (MNEs), amparado na heterogeneidade
do sistema tributário das diversas jurisdições em que têm presença econômica.
A heterogeneidade de normas promove lacunas e antinomias que favorecem o
planejamento tributário pela alocação seletiva de lucros. A conclusão de que
os mecanismos bilaterais vinham se mostrando insuficientes se deu em amplo
debate promovido pelos países membros da OCDE e do G20.
A opinião pública também tem tido uma contribuição importante nesse mo-
vimento3e5 para o estado de conformidade tributária. O fenômeno do ú4x shmning
está em crescimento, expondo aqueles que náo estáo em conformidade com Suas
obrigações ributárias. Protestos públicos contra a "evasão fiscal" são hoje uma
realidade3eó, como se viu, por exemplo noPanamaPapers3eT e no Scriss l-eaks3e}.
Todo esse contexto é chamado de "era da conformidade tributária", mar-
cada pela tendência internacional de combate à evasão e elisão fiscal, com as
iniciativas de caráter multilateral acima mencionadas.
Nessa conjuntura, insere-se o debate sobre as chamadas criptomoedas, que
se apresentaram como unidades de troca digitais, atualmente não alcançadas
395 Cf. HOULDER, Vanessa. "Public opinion brings shift in business attitudes to tax planning".
FinoncíalTimes.29 ago.7016. Disponível em: https://www.ft.com/content/bca9bb20.6aca-11e6-ae5b-
a7cc5dd5a28c Acesso em: 6lev.7019; HUBBARD, And¡ew. "Tax and the court of public opinion".
Fþancial Times Adviser. 16 abr. 2015' Disponível em: https://www'ftadviser'com/20l5l04ll6llfa'
indusrry/tax-planning/tax-and-the- court-of-public-opinion-aU5n0KvdcgNmOiuflbkcfO/article.
html Acesso em: ó dev. 2019; PEREZ:TRUGLIA, Ricatdo; TROIANO' Ugo. "Shaming Those
Who Skip Our on Taxes". The Nec, YorkTimes. 15 abr. 2015. Disponível em: http://www.nytimes'
comll}l1l04ll5/opinion/shaming-those-who-skip'out-on-taxes.html. Acesso em 6 fev. 2019'
396 Cf. BARDFORD, Vanessa; HOLT, Gerry. "Google, Amazon, Starbucks: The rise of 'tax shaming"'.
BBC News. Disponível em: http://www.bbc.com/news/magazíne-20560359. Acesso em 6 fev. 2019.
397 Cl. THE NE\l YORK TIMES EDITORIAL BOARD. "Panama Papers Points to Tax Evasiorf'. The
New York Times. 6 jun. 2016. Disponível em: http://www.nytimes.com/2016/06/07/opinion/panama-
papers-point-to-tax-evasion.hcml?-r=0. Acesso em: 6 fev' 2019.
398 Cf. THE INTERNATIONAL CONSORTIUM OF INVESTIGATIVE JOURNALISTS. Swiss
Leaks: Murþ Cash Sheheredby Bank Secrecy. Disponível em: https://www.icij.orglproject/swiss-leaks'
Acesso em 6 fev. 2019.
267
Ann Paula saunders, Fláoia Caualcanti pepe, Ana Cltiudia Akie Utumi
por qualquer tipo de regulação por parte de Estados ou bancos centraislee-40o.
com a criaçáo daBitcoin, em 2009, por satoshi Nakamoto - provavelmente sob
um pseudônimo, e a popularidade alçada nos anos subsequentes com intensas
ondas especulativasaol, as organizações internacionais e os governos começaram
a se preocupar com a possibiiidade de uso desse tipo de criptoativo como meio
para ocultação de patrimônios não declarados, lavagem de dinheiro e financia-
mento de ataques terroristas.
Essa preocupação se mostra relevante em diversos grupos de trabalho
de organismos internacionais, tais como o projeto BEps, o Fórum Global de
Tiansparência, a Financial Auion Task Force GAIF), a organização Mundial
do comércio (oMC), o Bank for International Settlemencs (BIS), denrre ourros.
Esses trabalhos, nesse primeiro morrÌento, se dedicam a diagnosticar os
tipos de transações em que os criptoativos são utilizados e os eventuais riscos e
desafios relacionados a sua utilização.
399 Cf. ORCANIZAçÁO PARA COOPENEçÁO E DESENVOLVIMENTO PCONOII,IICO.
Addresslng the Tax CløLlenges of rhe Digital Economl: Action l:2015 Final Reporr. paris: OECD
Publishing' p' 43'44. Disponír'eI em:http://wwwoecdilibrary.org/docserve¡/downlo adl23I52B1e.pd
f lexpires:1479224505&id: id&.accname:guesr&checksum:86 7Fl,F51ZB5O7ZZ4E6361A595BB
4E930. Acesso em 6 fev. 2019.
400 Em 1976, o economista venccc{or clo Prêmio Nobel Friedrich Hayek publicou seu primeiro rrabalho
sobre dinhciro descentralizado c desnacionalizado, regido tão sornente p"1", fo.çu, do mercado.
Hayek apontou que a tradicional moeda apoiada pelo Estado é suscetível à inflação e a instabilidades
políticas (como a corrupção), sustentando a criaçáo de uma moeda privaia que quebraria os
tnonopólios governanentais dos Estados no segu¡o de dinhei¡o e garantiria um nível de preço estável
(cf. HAYEK, Fried¡ich. Denationalisation of Money - Trrc Argument Refíned:An An¿hsis of tieTheorl
and Practice ofConcurrent Currencies.3a Ed. Londres: Institute of Economic Affairs, 1990).
Em 1983, David Chaum desettvolveu urn c¡iptossistema de assinatura cega, que permitiu um dinheiro digital
não rastreável por bancos ou outras pessoas (cf. CHAUM, David. "Blind Signatures for Untraceable
Pavnrents". ln: GHAUM, David, RIVEST R L, she¡man A T (Ed.). AdvanceJn crlprologl: proceed.ing
of Cryþto 82. New York: Springer US, 1993. p. 199-203.).
401 Cf KRUGMAN, Paul. "Cuidado com a bolha do bitcoin". Exame. 6 fev 2OlB. Disponível em: https://
exame.abril.com.br/blog/paul-krugmar-r/cuidado-con-a-bolha-do_bitcoin/. Acesso em l1 fev. 2019.
268
cie Utumi
)u bancos aatr¡tuir3ee'4Oo.
oto - provavelmente sob
)sequentes com intensas
os governos começaram
: criptoativo como meio
L de dinheiro e financia-
sos grupos de trabalho
PS, o Fórum Global de
a Organização Mundial
rcs (BIS), dentre ourros.
licam a diagnosticar os
)s e os eventuais riscos e
)LVIMENTO ECONOMICO.
015 Final Report. Paris: OECD
locserver/downlo ad I 23I 578le.pd
I F IF 53ZBs 07 /24E63 6 1 A595 BB
: publicou seu primeiro rrabalho
nente pelas forças do mercado.
tível à inflação e a insrabilidades
ceda privada que quebraria os
antiria um nível de preço estável
iefined: An Anaþsís of the Theort
onomic Affairs, 1990).
que permiriu umdinheiro digiral
ilind Signatures for Untraceable
7u anc e s ín Cry þtology : Proceeding
:v. 2018. Disponível em; hrtps;//
:inl. Acesso em û fev.2019.
Estudos de Tributação Internacional
4. Desafios Trazidos pelo Mercado de Criptoativos:
Diagnóstico à Luz das Manifestações dos Governos e
O r ganizaçõe s Internacionais
A ampliação da utilização de criptoativos é uma realidade. Nesse cenário,
as preocupações dos formuladores de políticas fiscais são semelhantes às preo-
cupações relativas ao uso de paraísos fiscais: a não uibutaçáo de rendimentos'
a ocultaçáo de recursos e o anonimato das transações. Além disso, a desneces-
sidade de instituiçóes financeiras atuando como intermediárias das operações
pode fazer com que evasores fiscais migrem suas riquezas dos paraísos fiscais
tradicionais para os criptoativos, principalmente em um contexto em que o
FATCA e o CRS estão sendo implementadosao2.
Em 1998, um relatório da OMCIo3 qualifrcou o "dinheiro virtual" como uma
preocupação, citando pontos de atenção de um relatório do BISaoa, quais sejam:
(a) transparência; (ü) integridade fìnanceira; (ü) tecnologia financeira e (iv) vul-
nerabilidade para atividades criminosas. A OMC também levantou a ausência de
regulação e iliquidez dos pagamentos como questões importantes a serem avaliadas.
No contexto da Ação 1 (Economia Digital) do Projeto BEPS405, entendeu-
-se que a principal preocupação relacionada ao uso de criptomoedas é o ano-
nimato das operações. Além dessa manifestação, há grupos de trabalho dentro
da OCDE que produziram outras análises sobre o uso de criptomoedas. Em
402 Cf. MARIAN, Omri Y. 'A¡e Cryptocurrencies Super Tax Heavens?". 112 MichiganLaw Review Fírst
Impressions 38; 2013. Disponível em: hctps://scholarship.law.ufl.edu/cgilviewcontent.cgi?referer: &.ht
tpsredir=1&.article:13ó5&context=facultypub. Acesso em 10 fev. 2019.
403 Cl, ORGANIZAÇÁO MUNDIAL DO COMÉRCIO. Specíal Studies: Electroníc Commerce and the
RoIeof the\YTO. Switzerland: \ío¡ldTradeOrganization, 1998.p.41-42. Disponívelem: https://www
wto.org/english/res_e/booksp-e/special-study-2-e.pdf. Acesso em 31 jan. 2019'
404 Cf. GROUP OF 10. Eleoroníc Money: Consumer þrotection, Law enforcement, suÞeïi)isorJ and. cross
border issues. BasLe: Bank for International Settlements and Internatíonal Monetary Fund. p. 78-79.
Disponível em: http://wwwbis.org/publ/gtenO1.pdf. Acesso em 6 fev. 2019.
405 Açáo 1 do Projeto BEPS (cf. OCDE. Addresing the Tax ChaLlenges of the Digítal Econonry: Action
1: 2015 Final Report. 2015. p. 43-44. Disponível em: http://www.oecd-ilibrary.orgldocserver/
download/2315281e.pdf?expires:1479224505&id:id&.accname:guest&.checksum=867F1F532850
727486361A59588,4'E930. Acesso em: 31 jan. 2019).
269
Ana Pøula Saunders, Fláaia Caztnlcønti Pepe, Ann Cláudiø Akie lltumi
uma delasaoó, foi feita uma avaliaçáo daBitcoin que sugeriu as seguintes medi-
das para combate da lavagern de dinheiro e da evasão fiscal: (i) retorrìo a um
sistema controlado por bancos centrais com o banimento das criptomoedas;
(ii) reconhecimenro da utilidade da recnologia dablockchain; (nt) identificação
de procedimenros que prorejam os consumidores,; (iv) publicação mandatória
de balanços e demonsrrações de resultado para as exchanges; (v) fixação capiral
rnínimo para as exchanges; (vi) obrigaroriedade de lastro para as criptomoedas
(i.e., ouro) e (vii) banimenro de cripromoedas em estado de não conformiclade
às normas regulatórias e tributárias aplicáveis.
Essas "soluçöes" propostas pelo grupo de trabalho nitidamente não lidam
com a realidade. Essas conclusões mostram que os formuladores de políticas
públicas sempre esrão a alguns passos atrás do desenvolvimento tecnológico.
Nao é praticável banir milhares de criptomoedas e converte-las emfiat. Ainda
mais, considerando a natureza descentralizada dos criptoativos em geral, seria
necessária uma intensa cooperação internacional para tal banirnento, que lÌa
prática poderia migrar para a darkweba'T, onde os governos e a regulação têm
um mínimo espectro de eficácia.
Em 2015, o BIS preparou um relatório sobre criptomoedasa's que focou
em duas das principais características desses ativos: (i) o seu valor intrínseco
equivalente a zero e (ii) a falta de subrnissão das criptomoedas a um nÌarco re-
gulatório. Além disso, o BIS, como banco de diversos bancos centrais, também
406 Cf. BLUNDELL-\VIGNALL, Adrian. "Cur¡eucy Versus Trusr-Less Transfer Technology". OECD
WorLing Paþers on Finance, Insurance and Priuate Perrslons. Paris: OECD Publishi¡g, 2014, ¡. 37. p,
17. Available from: https://www.occd.org/daflfin/financial-markets/The-Bitcoin-Questior-r-ZO14.prli
Acesso em 10 fev. 2019.
4A7 A deeþ web cousiste em uma parcela do conteúdo onllne que não é iclentificada (inc.lexada) pelos
mecanismos de busca usuais (¿.e., Google, Yahoo, Bing, etc.). Para acessar os epdereços cletrôLricos
da deeþ web é nccessário que o usuário saiba de antemão o endcreço que queira acessar. O fato
de um endereço náo ser alcançado por um mecanismo dc busca náo ó necessa¡ianÌente um fator
negativo haja vista a an.rplitude do conteútlo que a interne[ compreencle. A dark ueb, no entanro,
é uma parcela da deep web, a qual compreende uma porçáo de sítios eletrônicos que exrsrcrn em
redes criptogtafadas, cuja identidade e arividades não podem ser rasrreadas. Pode have¡ a necessidade
de um software específico para acesso à dark web. Um uso comum da dark cueb é para a troca de
ntensagens criptografadas e não rastreáveis utilizadas para ativiclacles criminosas.
408 Cl BANK FOR INTERNATIONAL SETTLEMENTS. Committee on Paymenrs and Markct
Infrasrrucrures: Digital Currencies. Nov. 2015. Disponível en: lrttp://wrvrv.bis.org/cpmi/publ/dl3Z.
pdl Acesso em 31 jan. 2019.
270
cie Utumi
geriu as seguintes medi-
fiscal: (i) retorno a um
.ento das criptomoedas;
'thain; (iii) identificação
publicação mandatória
rnges; (v) fixação capital
ro para as criptomoedas
lo de não conformidade
,nitidamente não lidam
rmuladores de políticas
¿olvimento tecnológico.
verte-las em fiat. Ainda
)toativos em geral, seria
L tal banimento, que na
lrnosearegulaçãotêm
rtomoedasaos que focou
) o seu valor intrínseco
moedas a um marco re.
ancos centrais, também
Transfer Technology". OECD
:CD Publishing,7014, n. 37. p.
f he-Bitcoin- Question-20 14.pdf.
é identificada (indexada) pelos
.cessar os endereços eletrônicos
eço que queira acessar. O fato
ão é necessariamente um fator
ende. A dark web, no entanto,
ios eletrônicos que existem em
eadas. Pode haver a necessidade
da dark web é para a t¡oca de
c¡iminosas.
tee on Payments and Market
:://www.bis.orglcpmi/publ/d 137.
Estudos de Tributøção Internacional
faz a sugestão de que as criptomoedas devem ser emitidaspor bancos centrais,
aproveitando a tecnologia por trás daBitcoin (i.e., ablockchain),por exemplo.
Especificamente com relação às preocupações de combate à lavagem de
dinheiro, a FATF4oe elaborou diversos relatórios desde 2013 nos quais foram
analisados os conceitos chave do mercado de criptomoedas, como as criptomo-
edas são utilizadas como meios de pagamento e os principais riscos relacionados
ao uso desses ativos nas atividades de lavagem de dinheiro e de financiamento
ao terrorismo, bem como recomendações a esse respeito.
Essas manifestações dos fomentadores de política fiscais são ainda inci-
pientes e criticáveis. Nenhuma ideia concreta foi apresentada para se evitar a
utilização dos criptoativos como forma de ocultação de patrimônios e evasão
fiscal ou para a prática de atividades ilícitas. Além disso, algumas das críticas
levantadas com relação aos criptoativos também sáo aplicáveis às moedas mo-
dernas. O valor intrínseco das moedas correntes é basicamente a confiança do
mercado. Isso é exatamente igual para as criptomoedas. Verificações dessa na-
tureza revelam que os estudos sobre a matéria ainda estão nos estágios iniciais.
Nesse contexto, os governos adotaram diferentes abotdagens com relação ao
uso de criptomoedas. Alguns países baniram o uso, de forma explicita4ro ou implíci-
taal1; outros adotaram regras de tributação e/ou regras para combater o uso de crip-
toativos como mecanismo de lavagem de dinheiro e financiamento do terrorismo.
409 Cf. FINANCIAL ACTION TASK FORCE. Guidance for a Risk-based, Approach: Viraal Currencíes.
Paris: jun. 2015. Disponível em: http://www.fatf-gaff.orglmedia/fatfldocuments/reports/Guidance-RBA-
Virtual.Currencies.pdf. Acesso em 31 jan. 2019. e FINANCIAL ACTIONT ASK FORCE. EATF
Report:VirtualCurrenciesKeyDefinitions anà.PotentialAML|CFT Rlsks. Paris: jun. 2014. Disponível em:
http://www.fatf-g afi.orglmeðialfarf/documents/reports/Virtual-currency-key-definitions-and-potential-
aml-cft-risks.pdf. Acesso em 31 jan. 2019.
410 Esse é o caso da Argélia, Bolívia, Egito, Iraque, Marrocos, Nepal, Emirados Árabes Unidos e Vietnã
(cf THE LAW LIBRARY OF CONGRESS: GLOBAL LEGAL RESEARCH CENTER. Regulation
of Cryþtoctnrencl Arround the VJorld,. Jun. 2018. Disponível em: https://www.loc.gov/ladhelp/
cryptocurrency/cryptocurrency-world-survey.pdf. Acesso em 10 fev. 2019).
41 1 Esse é o caso da Arábia Saudita, Bahrein, Bangladesh, Catar, China, Colômbia, Indonésia, Irã, Kuwait,
Lesoto, Lituânia, Macau, Omá, República Dominicana, Taiwan e Tailândia (cf. THE LA\Ø LIBRARY
OF CONGRESS; GLOBAL LEGAL RESEARCH CENTER. Regulatíon of Cryþtocurrency Arround
the World. Jun. 2018. Disponível em: https://www.loc.gov/law/help/cryptocurrency/cryptocurrency-
world-survey.pdf. Acesso em 10 fev. 2019).
27L
Ë.
Attø Paulø Saunders, Fláuia Caaalcnnti Pepe, Ana Cláudia Akie l.ltumi
3.1 A Perspectiva Brasileira
No Brasil, o mercado de criptoativos está em constante ascensão. Por rer
um apelo especulativo significativo, recentemente, principalmente no ano de
2017, muitas pessoas optaram pelo mercado de criptoativos, que passou a ter
mais investidores que a própria bolsa de valores brasileiraalZ. Pela mecânica das
operações com criptomoedas, o seu detentor pode realizar as suas operações
tanto por meio de uma e-Wallet mantida junto a uma exchange brasileira quanto
por uma exchange no exterior. Além disso, o fato de essas operações serem re-
alizadas online agrega considerável dificuldade para se determinarem os exatos
pontos geográficos nos quais elas ocorrem.
Em qualquer das hipóteses, a manutenção de ativos no exterior por pessoa
residente ou domiciliada no Brasil deve ser devidamente declarada à Receita
Federal do Brasil (RFB), por meio da Escriruração Contábil Fiscal (ECF), se
pessoa jurídica, ou pela Declaração do Imposto sobre a Renda da Pessoa Física
(DIRPF), se pessoa física. Alérn disso, se os arivos forem realmente manridos no
exterior e excederem cem mil dólares americanos (ou o equivalente em outra
moeda corrente), há a obrigação de preenchimento da Declaração de Capitais
Brasileiros no Exterior (CBE) junto ao Banco Cenrral do Brasil (BACEN).
Caso algumas dessas obrigaçóes de declaração sejam inadimplidas, além
das eventuais sanções de natureza tributária ou regulatória, o ordenamento ju-
rídico brasileiro também prevê ripos penais aplicáveis à hipótese de manuren-
ção de recursos no exterior (crimes contra a ordem tributária)atl bem como
a dos tipos penais antecedentes, de lavagem de dinheiro ou remessa ilegal de
recursos para o exterior4l4.
412 Cf.BRANT.Dar-rielle;PORTINARI,Natália."MoedaVirtualsuperaBolsaemnúmerodeinvestidores".
Folha de São Paulo. Disponível em: https:/þwwl.folha.uol.com.brlmercadol}OlTllZllg44lT5.moeda-
virtual-supera-bolsa-em-numero-de-invesridores.shtml. Acesso em 1O fev. 2019.
413 Os crimes contra a ordcur tributária sáo descritos pelo seguinre; (i) fazer declaraçáo falsa ou
omitir declaraçáo sobre rendas, bens ou fatos, ou enìpregar outra fraude, para exirnir-se, total ou
parcialmente, de pagamento de tributo (Lei 8.137l1990, artigo 24, inciso i); (ii) omitir informaçáo,
ou prestar declaração falsa às autoridades fazendárias (Lei 8.13711990, artigo 1e, inciso I) e (iii) fazer
declaração falsa ou omitir declaração sobre rendas, bens ou faros, ou empregar outra fraude, para
exirlir-se, total ou parcialmenre, de paganento de rributo (Lei 8.13711990, artigo 2e, inciso I).
414 Os crimes de "lavagem" ou ocultação de bens, direitos e valores, descritos naLet9.6l3ll998.Artigo lq,
corresponde ao seguinte tipo penal: ocultar ou dissimular a natureza, origem, localizaçáo, disposição,
movitnentação ou propriedadc de bens, direitos ou valores provenientes, direta ou indiretamente,
272
kieUtumi
rstante ascensão. Por ter
incipalmente no ano de
,ativos, que passou a ter
iraa12. Pela mecânica das
alizar as suas operações
cchange brasileira quanto
ssas operações serem re-
determinarem os exatos
rs no exterior por pessoa
nte declarada à Receita
ontábil Fiscal (ECF), se
r Renda da Pessoa Física
r realmente mantidos no
o equivalente em outra
Declaração de Capitais
lo Brasil (BACEN).
:jam inadimplidas, além
tória, o ordenamento ju-
à hipótese de manuten.
tributária)ar3 bem como
iro ou remessa ilegal de
Jolsa emnúmero de investidores".
'ercado I Z0l7 I 77 I 19 4 4ll5.moeda-
0 fev. 2019.
:: (i) fazer declaração falsa ou
fraude, para eximir-se, total ou
.nciso I); (ii) omitir informação,
0, artigo 1e, inciso I) e (iii) fazer
ou empregar outra fraude, para
/1990, artigo 2e, inciso I).
itos na Lei 9.613/1998. Artigo le,
, origem, Iocalização, disposiçáo,
ientes, direta ou indiretamente,
Estudos de Tributøção InternacionøI
A introdução de mecanismos de troca automática de informações finan'
ceiras entre administrações tributárias e cooperação internacional em âmbito
pena1415 reduziu a possibilidade dessas prálicas. A título de exemplo, em 2015, o
governo brasileiro recebeu informações a respeito de mais de vinte e cinco mil
contas mantidas por brasileiros nos EUA416. Entretanto, tais mecanismos de troca
de informações não são aplicáveis ou não atingem as operações de criptoativos.
Assim, o uso de criptoativos que permitem transações anônimas se revela
uma preocupaçáo não só das organizações internacionais. Como medida de
reação ao anonimato das operações, a RFB publicou em 30 de outubro de 2018,
uma Consulta Pública em seu sítio eletrônicoal7, cujo objetivo é a criação de
uma obrigação acessória para que as exchanges brasileiras ou as pessoas físicas e
jurídicas que negociem criptoativos sejam obrigadas a declarar toda e qualquer
operação de compra e venda desses ativos.
Essa Consulta Pública aceitou colaborações até 19 de novembro de 2018,
porém a Instrução Normativa introduzindo essa obrigaçáo acessória ainda não
foi publicada. O objetivo da ediçao dessa norma é retirar o anonimato das ope-
rações com criptoativos.
Além disso, o BACEN alertou para os riscos associados às operaçöes com
criptomoedas, manifestandoo entendimenlo de que as operações de câmbio
de infraçáo penal. O c¡ime de evasáo de divisas (violaçáo do Sistema Financeiro Nacional) previsto
pela Lei 7.49/11986, artigo lZ, parágrafo único, por sua vez, é descrito pelo seguinte: promover,
sem autorização legal, a saída de moeda ou divisa para o exterior, ou nele mantiver depósitos não
declarados à repartiçáo federal competente.
415 Esse é o caso, por exemplo, da cooperaçáo jurídica intetnacional em matéria penal dos governos do
Brasil e da Suíça amplarnente utilizada em recentes investigações federais de crimes de corrupçáo.
Essa cooperação é amparada pelo Tratado de Coopetaçáo Jurídica em Matéria Penal celebrado entre
o Brasil e a Suíça (internalizado pelo Decreto ne 6.97417009), pela Convençáo das Naçóes Unidas
Contra o Crime Organizado Transnacional (Convenção de Palermo) (internalizada pelo Decreto
¡'5.0151?-004, pela Convençáo das Naçöes Unidas Contra a Corrupção (Convenção de Mé¡ida)
(internalizada pelo Decreto n'5.68712006) e pela Convenção contra o táfico Ilícito de Entorpecentes
e Substâncias Psicotrópicas (Convenção de Viena) (internalizadd pelo Decreto ri 15411991).
4rc Cf. LIMA, Daniel. 'Autuaçóes da Receita até agosto chegam a R$ 73,23 bilhOes". Agência Brasil.
Disponível em: http://agenciabrasil.ebc.com.br/economia/noticia/2016-09heceita-recupe¡a.ate-
agosto -r-7 373 -bîlhoes-em-creditos-t¡ibutarios' Acesso em 9 fev. 2019.
4n Cf. RECEITA FEDERAL DO BRASIL. Consulta Pública RFB ne 0612018. Disponível em: http://
receita.economia.gov.br/sobre/consultas-publicas-e-editoriais/consulta-publica/a¡quivos-e-imagens/
consulta-publica-rfb-no-06-2018.pdf. Acesso em 10 fev. 2019.
2/3
Ana Paula saunders, Fláaia Caaarcønti pepe, Ana Cláudia Akie Utumi
devem ser realizadas pelos canais supervisionados pela entidade, não sendo ad-
mitida a realização de transferências internacionais de criptomoedasars.
5. Aspectos Tlibutários Relevantes
das Operações com Criptomoedas
considerando que não há lei específica que defina o rratamenro tributário
das criptomoedas, a nosso ver, a elucidação desse terna deve levar ern conta no
mínimo rrês elemenros essenciais: (i) a definição da narureza jurídica da cripto-
moeda na legislação doméstica; (ii) a natureza jurídica e arividade desenvolvida
pelo detentor desse tipo de criptoativo e (iii) o tipo de operação ou atividade
econômica desenvolvida com criptomoedas.
A definiçao da natureza jurídica das criptomoedas é basrante relevante
principalmenre para fins da definiçao da tributação das pessoas jurídicas que
realizam operações com criptomoedas, notadamente aqueras que desenvolvem
atividade de compra e venda de criptomoedas e/ou operações de troca de crip-
tomoedas com outras criptomoedas, bens ou serviços. A próxima seção se de-
dicará à análise do tema.
5.1 Análise da Natureza Jurídica
Atribuída às Criptomoedas
5. I. l.Tendências Internacionais
Diversos países têm se posicionado expressamente sobre o tema de crip-
toativos. Algumas jurisdições regulamentaram o uso e a natureza das cripto-
moedas bem como a atividade das exchange.s. outras se restringem a qualificar
casuisticamente a natureza desses ativos, para fins tributários ou regulatórios
específicos. Em linhas gerais, as categorias jurídicas ou econômicas atribuídas a
418 Cf. Comunicado BACEN rP 31.37912017 e BANCO CENTRAL Do BRASIL. perguntas frequentes.
nov. 20i7. Disponível em: h¡tps://www.bcb.gov.br/acessoinformacao/legado?url:htrps:o/o ZFo/ol1www.
bcb'gov.br%2Fpreo/oZFbc-atend eo/olFporro/oZFmoedasvirtuais.asp%3FidpaiTo3DFAeCIDADAO.
Acesso em ll fev.2019.
274
I
láudia Akie Utumi
los pela entidade, não sendo ad-
rnais de criptomoedasals.
e defina o tratamento tributário
se tema deve levar em conta no
o da natureza jurídica da cripto-
urídica e atividade desenvolvida
r tipo de operação ou atividade
ltomoedas é bastante relevante
tação das pessoas jurídicas que
nente aquelas que desenvolvem
:/ou operações de troca de crip-
:rviços. A próxima seção se de-
:a
ssamente sobre o tema de crip-
o uso e a natureza das cripto-
)utras se restringem a qualificar
fins tributários ou regulatórios
icas ou econômicas atribuídas a
TRAL DO BRASIL. Perguntas frequentes.
.formacao/legado?url:https:o/o2Folo2Fwww.
tuais. asp%3 FidpaiTo3DFAQCI DADAO.
Estudos de Tributøção lnternacionøl
esse tipo de criptoativo podem ser as seguintes: (i) investimento financeiro; (ii)
ativo intangível; (iii) commodity; (rÐ bem para os propósitos do direito civil; (v)
dinheiro digital; (vi) valor mobiliário; (vii) moeda, entre outros.
O Internal Reuenue Serc,)ice (IRS) - a administração tributária dos EUA
- foi um dos primeiros a emitir orientações para o tratamento tributário de
criptomoedas. Em 2014, o IRS editou a Nota ne Z0I4-Zl4e por meio da qual en-
dereçou que as criptomoedas devem ser tratadas como propriedade, em senddo
amplo, para os propósitos das regras tributárias federais dos EUA. Para tanto, se
um contribuinte recebe um pagamento em criptomoedas, ele deve computar o
custo de aquisição delas pelo seu valor justo de mercado converddo para dólares
americanos na data do recebimento.
Para esse propósito, o IRS definiu que o valor juslo de mercado é aquele
estabelecido por um agente de mercado e demonstrado por documentação que
atenda aos critérios da razoabilidade e da consistência. Todos os pagamentos fei-
tos em criptomoedas devem ser informados ao IRS da mesma forma que qualquer
outro pagamento feito com propriedades. Além disso, o IRS entendeu que a for'
ma de tributação depende da atividade desenvolvida e do uso da criptomoedaa2o.
Na União Europeia, no caso Skattec)erket us. Dauid Hedqvistaz\, a Corte
Europeia de Justiça (ECJ) decidiu que as operações de conversão de Bircoins de-
vem receber o mesmo tratamento fiscal de troca de moedas para os propósitos
de aplicação das regras de cralue-added taxes (VAT). AEuroþeanBank Authority
(EBA) emitiu recentemente um parecer com recomendações à Comissão Eu-
ropeiaa22. Nesse trabalho, a EBA definiu as criptomoedas como uma represen-
+9 C|.INTERNAL REVENUE SERVICE.Notice2014-21.25 mar 2014. Disponível em: https://www.i¡s.
gov/pub/irs-drop/n-lf-l.pdf' Acesso em: 10 fev. 2019
420 Cf BAL, Aleksandra. "US Regulatory Framework for Cryptocurrency Transactions". Deriuatives €l
Financiallnstrumenrs, 2018, vol. 20, n. 5.
4A CT, INFOCURIA - JURISPRUDÊNCIA DO TRIBUNAL DE JUSTIçA. Jugement of the couTt
(fifth chønbe'r) Case C-264114: Skatteqterket c). David Hedqotist. 72 our. 7015. Disponível em: http,//
curia.europa.eu/juris/document/document.jsf?docid:170305&doclang:E¡ Acesso em 10 fev. 2019;
BAL, Aleksandra. "Bitcoin Transactions: Recenc Tax Developments and Regulatory Responses".
Deriuatíues I Fínancial Instrwnents. Amsterdam:vol. 17 n. 5, 1015. Disponível em: http://www.ibfd.
org/sites/ibfd.org/files/contenc/pdÍldfi-2015_05-int_Z.pdf. Acesso em 9 jan. 2019.
422 Cf. EUROPEAN BANK AUTHORITY. 'Report with advice for the European Commission on crypto-
assers". EBA Reports.9 jan.2019. Disponível em: https://eba.europa.eu/documentsl10I80l2545547l
EBA*Report*on+crypto+assets.pdf. Acesso em 26 jar.. 7019.
275
Anø PøuIø Saunders, Fláaia Cøoalcanti Pepe, Anø Cláudia Akie LLtumi
tação digital de valor, as quais não são emitidas por um banco central ou uma
autoridade pública, não necessariamente ligada a uma moeda corrente (far),
sendo aceita por pessoas físicas e jurídicas como meio pagamento.
Algumas administrações tributárias adotam orientações específicas para fins
de tributação da renda. A autoridade regulatória da Alemanha (Btmdesanstalt f,ln
Finmtzdierutleisnmgsaufsichr - BaFin), por exemplo, qualifica as cripromoedas como
unidades de valor e, portanto, como instrumentos financeirosa2l. Essa posição é
compartilhada pelo fisco alemão, o qual entende que o tratamento tributário de-
pende da atividade econômica desenvolvida pelo detentor das criptomoedasa2a.
No Reino unido, a administração tributária (Her MdjestJ's Rec,)enues and
Customs - HMRC) não considera as criptomoedas como moedascorrentes. A
tributação nesse caso dependeria da atividade desenvolvida pelo detentor das
criptomoedas e do uso dado a elasazs.
No Japão, desde 2017, o mercado exchanges é regulado pelo Payment Ser-
uices Act, o qual reconhece as criptomoedas como meio de pagamento. Por
meio dessas regras, as exchanges devem ser registradas, manter registro de suas
operações, tomar medidas de segurança e de proteção de seus clientes, estando
sujeitas às regras de prevenção à lavagem de dinheiroa2ó. Essas medidas foram
tomadas após o escândalo no qual as reservas da exchange japonesa Mc. Gox
(uma das maiores do mundo na época) desapareceram em circunstâncias ainda
não explicadas e a exchange faliua27,
423 Cf. BUNDESANSTALT PÜN FINANZDIENSTLEiSTUNGSAUFSICHT. BiTCO'NS;
Aufsichtliche Bewerturg und Risiken für NutTer. Disponível em: https://www.bafin.de/sharedDocs/
Ve¡oeffentlichur-rgen/DE/Facharttkell?.)l4lfa-bi_1401_bircoins.html. Acesso em 11 fev. 2019.
4/4 Cf DEUTSCHE BUNDENSTAG. Deutscher BundestagDrucksache - 19. Wahlperiode: Drucksache
191370 - Schriftliche Fragen mit den in der Woche c)om 2. Januar 2018 eingegangenen Antwo1ten der
Bundesregíerung 5 jan. 2018. Dispor.rível em: https://dipbt.bundestag.de/do clbtðl19lOO3lI9OO370.pdf.
Acesso em Il fev.2019.
475 Cf HER MAJESTY'S REVENUE &. CUSTOMS. Polícy þaper: CrlÞúo¿rssets for indiuíduals. 19 dez.
2018. Disponível em: https://www.gov.uk/governme.t/publications/tax-on-cryptoassets/cryptoassets-
for-individuals. Acesso em 10 fev. 2019.
426 cf. THE L,{w LIBRARY oF CONGRESS: GLoBAL LEGAL RESEARCH CENTER. Resulatim of
Cnþtoa.Lrmq.Disporível em: https://www.loc.govlaw,/heþ/cryptocurrency/japan.php. Acesso em l0 fev 2019.
427 Ct. GREENBERG, Andy. "Hackers hit Mt Gox exchanges CEO claim to publish evidence of fraud".
Forbes. 9 mar. 2014. Disponível em: hrtps://www.forbes.com/sires/andygreenberg/2OI4lO3l)glhackers-
hit-mt-gox-exchanges-ceo-claim-to-publish-evidence-of-[raudl#4655938474fd. Acesso em 8 fev.
2019; GREGO, Maurício. "Roubo de US$ 388 milhões em Bitcoins leva Mt. Gox a fechar". Exame. ?5
276
Akie Utumi
um banco central ou uma
ma moeda corrente (før),
) pagamento.
rtações específicas para fi.ns
lemanha (BtmÅesonstah ftn
ifica as criptomoedas como
Lanceiros423. Essa posição é
) tratamento tributário de-
:or das criptomoedasaza.
Ier Majesty's Rec)enues and
omo moedas correntes. A
volvida pelo detentor das
:gulado pelo Payment Ser-
meio de pagamento. Por
s, manter registro de suas
r de seus clientes, estando
oa26. Essas medidas foram
:change japonesa M¿. Gox
n em circunstâncias ainda
TUNGSAUFSICHT. Bitcoíns:
https ://www.bafin.de/SharedDocs/
nl. Acesso em 11 fev. 2019.
:he - 19. \Xlahlperiode: Drucksache
2018 eingegangenen Antworten der
ag.de I doc I brdl 19 I 003/1 900370.pdf.
lryp¿odsseús for individuals. 79 dez.
;/tax-on- cryptoassets/cryptoassets-
JSEARCH CENTER. ReslaÌ)rn of
rcffapan.php. Acesso em 10 fev. 2019.
aim to publish evidence of fraud".
ndygreenberg/20 14 103 I 09 /hackers.
55938474fd. Acesso em I fev.
leva Mt. Gox a fechar". Exame.25
Estudos de Tributação InternacionøI
5.1.2 ,\nálise daNaturezaJurídica das Criptomoedas àluz
da Legislação Brasileira
Dentro do marco regulatório atual não há qualquer qualificação jurídica
específica atribuída às criptomoedasa2s.
O BACEN42e se manifestou no sentido de que as criptomoedas não cor'
respondem a moedas correntes por não se tratarem de meio de troca com curso
forçado tampouco podem ser equiparadas à moeda eletrônica de que tratam
os artigos 6e e 7e da Lei ne 17.86517013. Além disso, o BACEN esclareceu que
as exchanges não são reguladas, autorizadas ou supervisionadas no âmbito do
Sistema Financeiro Nacional.
O Colegiado da CVM, por sua vez, quando da análise do Caso do ICO
daNiobium Coin (um Utility Token), entendeu que a Mobløm não poderia ser
qualificada como um valor mobiliário, "em razáo de não haver remuneração,
participação ou parceria oferecidas aos investidores'43o'43l.
Além disso, o Ofício Circular ne 1/2018, também emitido pela CVM, proi.
biu os fundos de investimento de investirem em criptomoedas, por essas não se'
rem qualificadas como ativos financeiros para os propósitos do artigo 2q, inciso
V da Instrução CVM ne 55517014ß2.
fev.2014. Disponível em: http://exame.abril.com.br/tecnologia/roubo-de-usJ88-milhoes-em-bitcoins-
leva-mt-gox-a-fechar/. Acesso em 6 fev.2019.
428 Cumpre desracar que o Projeto de Lei ne 2.30312015 tentou qualificar as criptomoedas como um
tipo de "arranjo de pagamento" sujeito à supervisão do BACEN. Esse projeto foi arquivado em 31 de
janeiro de 2019. Além disso, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e o BACEN se manifestâtam
sobre o tema, sem, contudo, defini¡ a natureza do ativo.
429 Ci. Comunicado BACEN ne 31.37917017 e BANCO CENTRAL DO BRASIL. Perguntas frequentes.
nov. 2017. Disponível em: https://www.bcb.gov.br/acessoinformacao/legadolurl=https:%ZF%ZFwww
bcb.gov.brTo2FpreTo2Fbc_atendeTo2Fport%2Fmoedasvirtuais.aspTo3Fidpaio/o3DFAQCIDADAO.
Acesso em 11 fev. 2019.
430 Cf. COMISSÁO DE VALORES MOBILIÁRIOS. Caracterí7ação de ICO como oferta de qtalor
mobíliário - PROC. SEI 19957.01093812017-1i.30. Jan. 2018. Disponível em: http://www.cvm.gov.brl
decisoeV2018/20180130_R1.html. Acesso em 11 fev. 2019.
431 Naquela ocasião, a CVM consignou que a eventual qualificação de um criptoativo como valor
mobiliário dependerá das caracrerísticas desse ativo (i.e., se há oferta pública e a sua propriedade gera
direitos de participaçáo, parceria ou remuneração).
432 Esse documento rambém pontua pela possibilidade de esses fundos de investimento investirem
indiretamente em criptoativos através de derivativos ou investimentos em fundos estrangeiros e
também alerta para os riscos relacionados a esse tipo de investimento.
277
Anø Paulø Saunders, Fláaia Caoalcanti Pepe, Anø Cláudia Akie l,ltumi
De fato, apesar de no passado haver certa controvérsia quanto à defini-
ção de valor mobiliárioal3, atualmente prevalece a posição de que somente os
instrumentos que (i) unem economicamente um poupador (credor) e ufir em-
preendedor (devedor) eln um investimenro comum e (ii) sejarn expressamenre
reconhecidos pela lei podem se qualificar como valor mobiliárioala.
A Lei na 6.39511976, em seu arrigo 2q, define as espécies de valores mobiliá-
rios, quais sejam: (i) ações, debênrures e bônus de subscrição; (ii) cupons, direitos,
recibos de subscrição e certificados de desdobramento relativos aos valores mo-
biliárlos mencionados em (i); (iii) certificados de depósito de valores mobiliários;
(iv) cédulas de debêntures; (v) cotas de fundos de investimenro em valores mo-
biliários ou de clubes de investimenro em quaisquer ativos; (vi) notas comerciais;
(vii) os contratos futuros, de opções e outros derivativos, cujos ativos subjacentes
sejam valores mobiliários; (viii) outros contratos derivativos, independentemente
dos ativos subjacentes e (ix) vaiores ofertados publicamente, quaisquer outros tí
tulos ou contratos de investimento coletivo, que gerem direito de participação, de
parceria ou de remuneração, inclusive resultante de prestação de serviços, cujos
rendimentos advêm do esforço do empreendedor ou de terceiros.
A tentativa de enquadramento da criptomoeda no artigo 2e da Lei nq
6.38511976, obriga que se descarrem as espécies previsras e nos irens (i) a (viii),
em razão de as criptomoedas não serem reguladas ou supervisionadas pela
Q!y+:s. Assim, a análise da sua possível qualificação como um valor mobi-
liário deve levar em consideração tão somente a categoria residual menciona-
433 Antes da edição da Lei nq 6.38511976 não havia uma definição expressa de valor mobiliário, enbora
a Lei na 4.728/1965, promulgada cotn vistas ao BACEN desenvolver o mercado cle capitais brasileiro,
seguindo política do Conselho Monetário Nacional (CMN). Somente con a Lei na 6.385/1976 criou-
se uma definição legal de valor mobiliário, contudo, oprou-se por discrirninar r-ros incisos do arrigo
2e apenas os tipos de valores mobiliários então existentes no mercado. Elìtretanto,csse conceiro
se mostrou insuficieute para abarcar novos produtos financei¡os que estavan em crescente criaçáo.
Pa¡a sanar essa conrrovérsia, foi editada a Medida provisória na 163711998, cujo objerivo ftri ampliar
o conceito de valo¡ mobiliário, incluindo mais formas de captação pública cle recursos. A partir c{e
entáo, os valores nlobiliários passaram a compreender "quaisquer títulos ou contratos de invcstimento
coletivo que gerem direito de participação, de parceria ou remuneração, inclusive resultante da
prestação de serviços, cujos rendimentos advém do esforço do enpreendedor ou de rerceiros". A Lei
na 10.303/2001 incorporou esse conceiro no artigo Zq, inciso iX da Lei ne 6.38511916.
434 Cf MATTOS FILHO, Ary Oswaldo. Direito àos ualores mobiliários. vol. 1, tomo 1. Sáo Paulo: FGV
2015. p. 51.
435 Nos rermos do parágrafo 3q do artigo 2e da Lei ne 6.38511976.
278
AkieUtumi
trovérsia quanro à defni
osição de que somente os
rpador (credor) e um em-
: (ii) sejam expressamenre
mobiliário4r+.
spécies de valores mobiliá-
:rição; (ii) cupons, direitos,
r relativos aos valores mo-
;ito de valores mobiliários;
estimento em valores mo-
vos; (vi) notas comerciais;
ls, cujos ativos subjacentes
,tivos, independentemente
rente, quaisquer outros tí
direito de participação, de
'estação de serviços, cujos
terceiros.
r no artigo 2e da Lei nq
;tas e nos itens (i) a (viii),
ou supervisionadas pela
io como um valor mobi.
rgoria residual menciona-
,ressa de valor mobiliário, embora
r o mercado de capitais brasileiro,
ite com a Lei ne 6.385/1976 criou-
discrimina¡ nos incisos do artigo
rcado. Entretanto, esse conceito
ie estavam em crescente criação.
1711998, cujo objetivo foi ampliar
pública de recursos. A partir de
ulos ou contratos de investimento
neraçáo, inclusive resultante da
reendedor ou de tercei¡os". A Lei
-eine 6.385/1976.
, vol. 1, tomo 1. São Paulo: FGV,
Estudos de Tributação Internacional
da no item (ix), destacada no parágrafo anterior, ou seja, "títulos ou contratos
de investimento coletivo que gerem direito de participação, de parceria ou de
remuneraçáo, inclusive resulmnte de prestação de serviços, cujos rendimentos
advêm do esforço do empreendedor ou de terceiros".
As criptomoedas, no entanto, não decorem de direito de participação, par-
ceria ou remuneração. Os possíveis ganhos auferidos pelos seus detentores de-
correm da flutuação do valor de mercado dos referidos ativos. Além disso, não
há qualquer prestação de serviço ou esforço do empreendedor ou de terceiros.
Esse pode ser inclusive o caso dos Investment Tokens, os quais não podem ser
confundidos com as criptomoedas.
A tentativa de buscar a qualificação jurídica das criptomoedas recomen-
da o seu exame, ainda, à luz do conceito de commoditles, adotado em algumas
jurisdições, em razão da sua relativa homogeneidade no mercado internacional.
Na legislação brasileira, não há uma qualificação jurídica de contmodíty.
Analisando as categorias jurídicas previstas nos direitos civil e comercial bra-
sileiro, as conrmodities não deixam de ser um tipo de bem móvel (como será
analisado no tópico a seguir).
A caracterização de tmacontmodíúy, em especial para os fins da lei tributária
brasileira, ocorre apenas para os propósitos da legislação de Preços de Tiansferên-
cia (Regras de TP). Ainda assim, as Regras de TP não trazem um conceito fixo
do que seria uma contmodity, mas se limitam a conferir competência à RFB para
editar uma lista exaustiva de produtos que devem ser tratados como commodities
e quais bolsas e índices de preços são aplicáveis para fins dos ajustes de preçosa36.
O termo co'firmodíty foi inicialmente utilizado para designar matérias pri-
mas negociadas em bolsas de mercadorias (innatura, vegetais ou minerais), sem
processo relevante que incremente o seu valor agregadoa3T. Atualmente, após
a inclusão de alguns produtos industrializados na lista de commodíties (como o
etanol), há alguma controvérsia sobre a relevância da ausência de valor agrega-
do no produto para a definição desse conceito.
436 Tratam-se dos anexos I, II e III da Instrução Normativa RFB na 1.31212012.
43? Cf. MINISTÉRIO DA INDÚSTRIA, COMÉRCIO EXTERIOR E SERVIÇOS. COMMOhíI1.
Disponível em: http://www.mdic.gov.br/balanca/metodologia/COM.txt. Acesso em 10 fev. 2019.
279
Ana Paulø saunders, Fláaia Cøaarcanti pepe, Ana Cráudia Akie llt,mi
uma definição empregada para o conceito de commodities ê a seguinte:
"(...) produtos homogêneos em qualquer lugar do mundo, que podem ser ven-
didos em lotes padrão, com preços internacionais semelhantes e cotados em
bolsas de valores'43'. Na prática, contratos específicos podem estabelecer con-
dições de pagamento, quantidades e preços mínimos.
A quaiificação como commodity não nos parece totalmente adequada às
criptomoedas em razão de não haver similaridade entre as criptomoedas e as
commodities existentes (soja, rnilho, ouro, petróleo, etc.) e tampouco haver ne-
gociação desses ativos em bolsas de mercadorias. A alta volatilidade, a ausência
de um valor intrínseco e a grande possibilidade de arbitragens decorrentes das
transações em difere'tes paries do mundo também dificultam a opção por esta
qualificação. Por outro lado, as características de ser bem resulrante de uma
atividade de mineração, ainda que digital, e negociável em larga escala, podem
favorecer essa qualificação.
Encontrar uma qualificação jurídica para as criptomoedas, imune à con-
trovérsia, em um cenário de completa ausência de regulação para essa utilidade,
é um enorme desafio. um carninho seguro, ainda que conduza a resurtado pou-
co específico é a sua qualificação como "bem" de natureza ',r'óvel,,.
Bens móveis sao definidos pelo artigo 82 da Lei ¡e 10.40612002, que insti-
tuiu o código civil, como aqueles que são "suscetíveis de movimento próprio,
ou de remoção por força alheia, sen alteração da substância ou da destinação
econômico-social". A doutrina, por sua vez, define bem móvel por exclusão ao
conceito de bem imóvel: "coisas que não se podem transportar, sem destruição,
de um para outro lugar (...)", em razão de sua natureza4re. Assim, os bens móveis
podem ser entendidos como aqueles que, "sem alteração da substância, podem
ser removidos' por movimento próprio, ou força estranha, bem como aqueles
que tem sua qualidade jurídica por disposição legal, por exemplo, as energias
(elétrica, etc.), desde que tenham valor econômico"44o.
438 Cf . FECOMERCIO . As commodities e o Brasil.4 abr. 2011. Disponível em: hrtp://fecomerciosp.blogspot.
conlZ011l04/as'comtnodities-e-o-brasil.html. Acesso em lO fev. 2019. e SCHOUERI, Luis Eduardo.
Preços de transferência no direíto tríbutário brasileíro.3a ed. Sáo Paulo: Dialética, ZOI3. p. 193,194.
439 Cf PEREIRA, Caio Mário rla Silva. Instituições d.e d.ireito civil: Introdttçd.o ao di¡eito ciuil. Teoría geral de
direito civil. Vol. I. 23q cd. Rio de Janeiro: Forcnse, 2010. p. 355.
440 cr. GOMES, o¡lando. Introdução ao Direito ciutl.20? ed. Rio de Janeiro: Forense, 2010. p. 121.
280
AkieUtumi
cortmodítíes é a seguinte:
rndo, que podem ser ven-
emelhantes e cotados em
rs podem estabelecer con-
: totalmente adequada às
ltre as criptomoedas e as
:c.) e tampouco haver ne-
ta volatilidade, a ausência
'bitragens decorrentes das
ificultam a opção por esta
r bem resultante de uma
el em larga escala, podem
ptomoedas, imune à con-
rlação para essa utilidade,
conduza a resultado pou-
lreza "móveltt.
f 10.40612002, que insti-
is de movimento próprio,
rstância ou da destinação
:m móvel por exclusão ao
nsportar, sem destruição,
tle. Assim, os bens móveis
:áo da substância, podem
anha, bem como aqueles
por exemplo, as energias
I em: http://fecomerciosp.blogspor.
19. e SCHOUERI, Luis Eduardo.
Dialética, 2013. p. 193.194.
ução ao díreito ciuil. Teoria geral de
Estudos de Tributação Internacional
Na doutrina do direito civil, os bens móveis podem ser qualificados como
corpóreos ou incorpóreos, sendo que os primeiros não têm uma exis[ência física
e os segundos são físicos em sua naturez#at. Apesardo fato de os bens incor-
póreos não terem existência fisica, aquele que os detêm, tem os seus direitos
de propriedade devidamente reconhecidos: "são direitos das pessoas sobre as
coisas'44z. Isso ocorre principalmente porque os bens incorpóreos podem ter
valor econômico a ser reconhecidos por um terceiro.
A transferência de um bem móvel ocorre por meio de um contrato (contrato
de cessáo de direitos), celebrado pelo vendedor e pelo comprador, por meio do
qual se dá a transferência do bem (manciþatio). Essa transação pode estar sujeita a
registro do emitente a depender da natureza do bem incorpóreo. Isso é diferente
para o bem corpóreo cuja compra e venda se aperfeiçoa pela transferência físicaaa3.
Tendo em vista as definições acima, muito embora esses conceitos náo
sejam contemporâneos à era da informação e ao advento da interner, a quali.
ficação jurídica de bem móvel e incorpóreo nos parece ser a mais apropriada
para as criptomoedas, pois (i) as criptomoedas não têm características de bens
imóveis, sendo, portanto, qualificada como bem móvel; (ii) as criptomoedas não
tem qualquer existência material (são incorpóreaÐ; (iii) os direitos de proprie-
dade das criptomoedas são devidamente reconhecidos dentro do protocolo de
blockchain; (iv) as criptomoedas têm um valor econômico reconhecível, sendo
inclusive apreciável em moeda corrente e (v) as operações de compra e venda
de criptomoedas são formalizadas por meio de plataformas virtuais (e-Wallets),
com o aceite da contraparte da operaçáo.
A consequência da opção pelo enquadramento na modalidade de bem,
ao mesmo tempo em que se exclui a qualificação de moeda corrente, é o reco-
nhecimento de que as operações em que as criptomoedas sáo utilizadas como
meio de pagamento de outros bens, serviços ou direitos qualifica-se como uma
441 Cf . PEREIRA, Caio Mário da S rlva. Insrituições ð,e díreito ciuil: Introdução ao direito civil. Teoria geral de
direito civil. Vol. I. 23e ed. Rio de Janeiro: Forense, 7010. p.347ð50.
447 Cf. VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil: Parte Gerat. 6a ed. Sáo Paulo: Atlas, 2006. p. 305 e 306.
443 Cf . PEREIRA, Caio Mário da Silva. lnstituições de díreito ciuil: Introdução ao direíto ciuil. Teoria geral de
direito cívil Vol. I. 23ê ed. Rio de Janeiro, Forense, 2010. p. 347350.:eiro: Forense, 2010. p. 171
287
t
Ann Paula Saunders, Fláaiø Caoalcanti Pepe, Anø Cláudia Akie lltumi
operação de permuta ou troca. A permuta ou troca se caracteriza pelo contrato
em que as partes se obrigam a dar uma coisa por outra que não seja dinheiroaaa.
5.2 Aspectos Tributários Relevantes
das Operaçóes com Criptomoedas
A presente seção se dedicará a analisar o tratamento tributário a ser con-
ferido às pessoas físicas e jurídicas, ern diferentes operações com criptomoedas.
Em todas eias, a dificuldade enfrentada pelo contribuinre esrá relacionada à
valoração dessas operações. Considerando que não há uma cotação oficial, os
preços negociados por diferentes exchanges oscila muito e há grande flutuação
do valor desse ativo. A alta volatilidade e o caráter especulativo desse bem in-
troduzem uma a dificuldade adicional de se estabelecer um valor em reais por
meio do qual a operação deve ser valorada.
Essa dificuldade é exacerbada nos cenários em que não há efetiva troca
(conversão) de moedas correntes por criptomoedas e vice-versa mas a aquisição
de outros bens, serviços, direitos ou até mesrno ourros criptoativos utilizando-se
as criptomoedas. Existem diversas operações nas quais o usuário do sisten-La de
criptomoedas simplesmente a recebe (como é o caso da mineração, do airdrop e
do fork) ou troca a criptomoeda por outro ativo (seja criptomoeda, criptoativo,
bem ou serviço). Nesses casos, não há urna relação imediata enrre a cripro-
moeda e uma moeda corrente, de forma que o detentor da criptomoeda pode
enfrentar dificuldades em imputar um valor de mercado para tal ativo.
Nessas situações, imputar um valor de cotação de uma determinada exchan-
ge pode trazer distorções, haja vista que cada uma delas negocia as criptomoedas
em valores diferentes, os quais levam em consideração, inclusive, eventuais ta-
xas cobradas. Como mencionado acima, essa foi a solução adotada pelo IRS nos
EUA, mas cumpre mencionar que essa não é uma hipótese livre de distorções.
Com relação a essa questão, a RFB se limita a afirmar que a criptomoeda
não tem cotação oficial e que não há regra legal para a sua conversão para fins
444 "Troca é o contrato pelo qual as partes se obrigam a dar uma coisa por Õurra que não seja dinheiro
(Clóvis Bcviláqua) (...)" (cf. DL .rlZ, Maria Hc\ena,Dicionárío lurídico. vol.3. São Paulo, Saraiva. p. 579).
282
lkie Utumi
caracteriza pelo contrato
. que não seja dinheiroaaa.
ento tributário a ser con-
ações com criptomoedas.
ruinte está relacionada à
á uma cotação oficial, os
to e há grande flutuação
;peculativo desse bem in-
.er um valor em reais por
que não há efetiva troca
.ice-versa mas a aquisição
criptoativos utilizando-se
s o usuário do sistema de
a mineração, do airdroþ e
criptomoeda, criptoativo,
imediata entre a cripto-
tor da criptomoeda pode
do para tal ativo.
uma determi nada exchan-
s negocia as criptomoedas
o, inclusive, eventuais la-
ção adotada pelo iRS nos
tese livre de distorções.
iirmar que a criptomoeda
a sua conversão para fins
;a por outra que não seja dinheiro
r. vol.3. Sáo Paulo: Saraiva. p. 579).
Estudos de Tributøção Internøcionøl
tributários. A obrigação do contribuinte, nesse caso, é comprovar a operação
com documentação hábil e idôneaaa5.
5.2.1 Pessoas Físicas
Conversão de fiat em criptomoedas e vice-versa
A mera conversão de moeda corrente (fíat) em criptoativo não enseja um
fato gerador da tributação sobre a renda. Entretanto, a propriedade de cripto-
moedas - como qualquer outro bem móvel - deve ser informada na DIRPF.
Segundo as orientaçöes da RFB em manifestação informal nas Perguntas e
Respostas do Imposto sobre a Renda da Pessoa Física (IRPF), na qual se esclarece
que as criptomoedas, tal como a Bitcoin, "muito embora não sejam consideradas
como moeda nos termos do marco regulatório atual, devem ser declaradas na Fi-
cha Bens e Direitos como butros bens', uma vez que podem ser equiparadas a um
ativo financeiro. Elas devem ser declaradas pelo valor de aquisição'aa6.
Considerando a natureza de bem móvel da criptomoeda, a nosso ver, a
conversáo desse tipo de ativo parafiat pode ser tributada pelo IRPF na hipótese
de o valor obtido em fiats na revenda, exceder o custo de aquisição registrado
inicialmente na DIRPF. Nesse caso, o IRPF incidiria sobre essa diferença posi-
tiva (ganho de capital)aa? às alíquotas progressivas de 15% a77,5o/oaa8, devendo
ser pago até o último dia do mês subsequente ao da operação. Se o valor do
445 Cf. RECEITA FEDERAL DO BRASIL. Perguntas E Resposras: Irnposto sobre a Renda da Pessoa Físíca
- iRPF 2018. Disponível em: http://receita.economia.gov.br/interface/cidadao/irpf/Z018/perguntao/
perguntas-e-respostas-irpË2018 -v-l-0.pdf l@@download/file/Pe rgunraso/oL)eo/o?ORespostas%20
IRPFo/o2020187o20 -o/o70vo/o20l.l.pdf. Acesso em 31 jan. 2019.
446 C[ RECEITA FEDERAL DO BRASIL. Perguntl"s E Respostas; Imposto sobre a Renda da Pessoa Física
- IRPF 2018. Disponível em: http://receita.economia.gov.br/interface/cida daolirpll20l9lperguntao/
perguntas-e-respostas-irpf-2018 -v-l-0.pdÍl@@download/file/Pergtnraso/oI)eo/oTORespostas%20
IRPF%2020187oZ0 -o/oZ0vo/o20l.L.pdf. Acesso em 3 i j an. 20 i9.
447 Cumpre destacar que náo há possibilidade de compensaçáo de ganhos e perdas de operaçóes com
criptomoedas.
448 Cfl artigo 21 da Lei ne 8.98111995. As alíquotas progressivas sáo aplicáveis da seguinte maneira: (i)
15olo sobre a parcela dos ganhos que não ultrapassar R$ 5.000.000,00; (fi) 17,5o/o sobre a parcela dos
ganhos que exceder R$ 5.000.000,00 e náo ultrapassar R$10.000.000,00; (iii) 207o sobre a patcela
dos ganhos que exceder R$ 10.000.000,00 e náo ultrapassar R$ 30.000.000,00 e (iv) 22,5o/o para
283
Anø Paula Snunders, FláaiaCacnlcnnti Pepe, Ana Clóudia Akie Lltuntí
bem alienado for inferior a R$ 35.000,00 a cada mês, a operação será isenra do
IRPF44e. Esse tratamento tributário está em linha com a manifestacão da RFB
no Perguntas e Respostas45o.
Tioca de criptomoedas por outras
criptomoedas, bens ou serviços
Em princípio, a única hipótese prevista na legislação tributária brasileira
de não tributação de ganhos em operações de permuta se refere a operações
com bens imóveis sem o recebimento de tornaa51. Todas as outras operações en-
volvendo a pennuta de bens são tributáveis, nos terlnos do artigo 3q, parágrafo
3e da Lei ne 7.71311988.
Dessa forma, a nosso ver, os eventuais ganhos auferidos nas operações
de troca de criptomoedas por outras criptomoedas, bens ou serviços devem
ser submetidos à tributação pelo IRPF de acordo com as alíquotas progressivas
de 15% a 22,5o/o acima mencionadas, corn a isenção aplicável. Como já men-
cionado, o tema da valoração da criptomoeda no nìomento do seu etnprego
para aquisição de outros bens, serviços ou direitos ou criptoativos é a principal
controvérsia nessas operações, pois dessa valoração decorrerá a apuração do
valor de ganho de capital e aré mesmo o cusro de aquisição do bern direito ou
criptoativo recebido em troca.
Operação de fork
Como mencionado, a operação delwrdfork ê a divisão de una criptomoeda
em duas. A qualificação jurídica dessa "nova" criptonoeda recebida após o hmd fork
a parcela dos ganhos quc ultral.assa¡ R$ 30.000.000,00. Se o rncsmo arivo é vendido elÌl partes, a
progressivirlade é aplicávcl para transações para o período tle até dois anos,
449 Cl. arrigo 72, ir.rciso Il da Lei rf 9.25AA995.
450 C1. RECEITA FEDERAL DO BRASIL. Perguntas I Resposras; lnrposto soöre a Renda da Pcssoa Fisica
- IRPF 20J8. Disponír.el cm: http://reccita.economia.gov.br./interface/cidadao/irpf/2018/pergur-rtao/
pcrguntas-c-rùspos ras-irpf-2018 -v- 1- 0. ptlf/@ @download/file/Perguntas%2Oeo/o2ORcspostas%ZO
IRPF%202018yo20-o¡ó20v%201.1.pdf. Acesso em 3I jan. 2019.
451 Cf. artigo 132, inciso II, parágrafo 2a do Decreto rf 9.580/2018 que aprovou o Rcgulamento do
lmposto sobre a Renda (RlR/2018).
284
\kieUtumi
a operação será isenta do
m a manifestação da RFB
;1ação tributária brasileira
ruta se refere a operações
as as outras operações en-
ros do artigo 3q, parágrafo
; auferidos nas operaçóes
bens ou serviços devem
r as alíquotas progressivas
' aplicável. Como já men-
nomento do seu emprego
L criptoativos é a principal
decorrerá a apuração do
¡uisição do bem direito ou
ivisão de uma criptomoeda
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þosto sobre a Renda da Pessoa Física
rface/cid ad aolirp f I 20IB I p eryuntao I
)ergunta
so/o 2 0 e% Z0Re spos t a s7o20
Estudos de Tributação Internøcionøl
náo é clara. Entretanto, considerando que na legislação tributária brasileira não há
tributaçáo de ganhos não realizados pala a pessoa Íïsica, entendemos que não haveria
incidência de IRPF até a efetiva alienação da criptomoeda recebida nohmdfarkast.
Atividade de mineração
Em ruzáo do alto custo energético e da necessidade de equipamentos so'
fisticados para desenvolver as atividades de mineração, a queda dos valores ne.
gociados em fiat tende a tolnar essa atividade náo rentável em certas regiões
do mundo. Hoje, a Rússia parece ser o único lugar em que essa atividade é eco-
nomicamente viávela5l. Essa inviabilidade técnica torna as eventuais discussões
sobre a natureza jurídica e a forma de tributação de uma operação de mineração
no Brasil meramente teóricas.
Há uma controvérsia relacionada à qualificação da atividade de mineração
como (i) um serviço prestado pelo minerador à plataforma da criptomoeda ou
(ii) um trabalho autônomo visando a criação de uma nova criptomoeda (novo
ativo) não exislente anteriormente. Se a primeira qualificação jurídica fosse a
apropriada, o valor do criptoativo representaria rendimento do trabalho (tribu-
tável de acordo com as alíquotas progressivas de zero a27,5o/o). A dificuldade
dessa qualificação está relacionada à descentralizaçáo da rede de blockchain,
que não possui um tomador ou contratante desse serviço, que é um contrato
tipicamente bilateral, necessariamente com tomador e prestador'
Dessa forma, a segunda qualificação parece ser a mais adequada. Nes-
Se caso, entendemos que aS criptomoedas devem ser registradas como "outros
bens" na Ficha Bens e Direitos da DIRPF com custo de aquisição zero. Na hipó-
tese de alienação das criptomoedas recebidas em razão do desenvolvimento da
atividade de mineração, o valor dessa operação será integralmente considerado
como ganho de capital, tributado às alíquotas de I5o/o a 22,5o/o acima detalha'
das, com a isenção aplicável.
457 Essa opiniáo é compartill-rada por RUBINSTEIN, Flavio; VETTORI, Gustavo G. "Taxation of
lnvesrimenrs in Bitcoins and Other Virtual Currencies: International Trends and the Brazilian
Approach". Derivatiues €l FinanciallnstÍuments.2018, vol. 20, n. 3.
453 Cf. \øALLEN, Joe. "Meer The Russian Company Trying To Solve Europe's Crypto Mining Crisis".
Forbes. 14 dez. 2018. Disponível em: https://www.forbes.com/sites/joewalleneurope l70l8ll?'l14lmeevrhe'
russian-company-trying.to-solve-europes-crypto-mining-crisis/#38763af45I7a. Acesso em: l1 fev. 2018.
3 que aprovou o Regulamento do
285
Anø Paula Saunders, Fláaia Cøoalcanti Pepe, Ana Cláudiø Akie lltumi
Recebimento de airdroþs
Considerando que um airdroþ geralmente consiste em um determinado
montante de criptomoedas recebido a título gratuito, entendemos que esses ati-
vos devem ser registrados como "outros bens" na Ficha Bens e Direitos da DIR.
PF com custo de aquisição zero. Na hipótese de alienação dessa criptomoeda,
o valor dessa operação será integralmente considerado como ganho de capital,
tributado às alíquotas de I5o/o az2,5o/o acima detalhadas, com a isenção aplicá-
vel quando for o caso.
5.2.2 Pessoas Jurídicas
A definição do regime tributário aplicável a uma pessoa jurídica que
transaciona criptomoedas pode também depender da forma de contabilização
dos criptoativos. Até o presente momento454, o Comitê de Pronunciamentos
Contábeis (CPC) não emitiu qualquer orientação quanto aos procedimentos
aplicáveis aos criptoativos, tampouco às criptomoedas. Esse é um ponto de de-
senvolvimento necessário.
A eventual qualificação das criptomoedas, para fins contábeis, como mo-
eda corrente (far), instrumento financeiro, ativo circulante ou náo circuiante
ou ativo intangível pode ter diferentes consequências em relação à mensuração
do custo de aquisição e à necessidade de reconhecimento de valor justo ou de
marcação a mercado. Para determinação se o resultado das operações com crip-
tomoedas é uma receita operacional ou não operacional, também importa que
sejam estabelecidos alguns critérios conrábeis.
À lu, dessas considerações, o que nos parece adequado afirmar é que
para os simples investidores, que não tenham atividade operacional vinculada
à compra e venda ou troca de criptomoedas por bens ou serviços, o tratamento
como resultado não operacional parece ser adequado, com todas as consequên-
cias decorrentes desta qualificação.
Além disso, entendemos apropriado afirmar que independentemente de
a contabilização ser feita pelo custo de aquisição da criptomoeda ou marcada
a mercado, os impactos tributários deverão ocorrer no momento da realização
454 Meados de feve¡eiro de 2019.
286
4kieUtumi
iiste em um determinado
entendemos que esses ati-
a Bens e Direitos da DIR-
ração dessa criptomoeda,
o como ganho de capital,
las, com a isenção aplicá,
uma pessoa jurídica que
L forma de contabilização
ritê de Pronunciamentos
ranto aos procedimentos
;. Esse é um ponto de de-
fïns contábeis, como mo-
,ulante ou não circulante
em relação à mensuraçáo
ento de valor justo ou de
r das operações com crip-
ral, também importa que
adequado afirmar é que
Je operacional vinculada
ru serviços, o tratamento
com todas as consequên-
: independentemente de
:riptomoeda oumarcada
) momento da realização
Estudos de Tributação Internacional
da renda advinda da criptomoeda, seja pela venda ou seja pela troca por outros
bens, serviços ou direitos. A elevada voladlidade desse bem, portanto, deve ser
resguardada dos efeitos tributários até o momento em que se materialize a aqui-
sição de riqueza, i.e., a realízaçáo da renda advinda da criptomoeda.
Também para as pessoas jurídicas, o tema da valoração das criptomoedas
traz complexidade, seja pela perspectiva do contribuinte, que deve se munir de
documentação hábil e idônea para suportar o valor das transações, seja para as
autoridades fiscais competentes, na fiscalização dessas operaçöes.
A identificação da natureza jurídica das criptomoedas acarreta também
a interessante discussão a respeito do percentual de presunçáo, na hipótese de
aplicação do lucro presumido. A qualificação como cornmodity poderia ensejar a
aplicação dos percentuais aplicáveis à venda de mercadorias, ao passo que a qua-
lificação como bem incorpóreo ou até direito poderia ensejar outro tratamento.
5.2.3 Outros Tributos
À luz da natureza jurídica de bem móvel e incorpóreo, entendemos que
não haveria a incidência de Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), Im-
posto sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISS) ou Imposto sobre Circulação
de Mercadorias e Prestação de Serviços de Tiansporte Interestadual e Intermu-
nicipal e de Comunicação (ICMS) sobre as operações com criptomoedas.
Especificamente com relação às exchanges, a depender do tipo da ativida-
de econômica desenvolvida, pode haver incidência de ISS. Esse é o caso, por
exemplo, da atividade de intermediação remunerada por uma comissáo.
Com relação ao Imposto sobre Tiansmissáo Causa Mortis e Doação
(ITCMD), a legislação náo faz qualquer diferença quanto ao tipo de ativo trans-
mitido. Dessa forma, criptomoedas recebidas na forma de doações e heranças
estão sujeitas à incidência de ITCMD à alíryota máxima de 8% estabelecida pelo
Senado Federal. No Estado de São Paulo, a alíquota aplicável é 4o/o para (i) todas
as transmissões de herança e (ü) as doações que excederem R$ 66.325,00a55.
455 O que corresponde, no ano de 2019, a 2.500 Unidades Fiscais do Estado de São Paulo (UFESPÐ que
são isentas do ITCMD no período de um ano. Esse valor é reajustado anualmente.
287
Ann Paula Saunders, Fláaia Caoalcantí pepe, Ana Cláudia Akie Utumi
Conclusão
Em tempos de grande popularidade dos criptoarivos e, em especial das
criptomoedas, mostra-se claro o descompasso entre a regulação e a evolução
tecnológica. o tema da substituição das moedas correntes pelas criptomoedas,
como meio de pagamento não formal, mas crescentemente aceito, traz uma sé-
rie de desafios, que vão desde a dificuldade de se manrer um ambiente desejado
de transparência fiscal como a necessidade de se dar proteção institucional e
inforrnação ao núrnero crescente de i'vestidores nesses ativos.
Pela perspectiva das administrações tributarias, a lacuna na regulação dos
criptoativos aumenta as preocupações relacionadas à possibilidade de ocultação
desses ativos, o que se desdobra na possibilidade de sua utilização collLo meca-
nismo de lavagem de dinheiro e de evasão fiscal.
os criptoativos, como produto da rápida inovação tecnológica, não podem
ser facilmente enquadrados nas "velhas" qualificações jurídícas estabelecidas
pelo direito posto. Nesse cenário, entendemos que apesar de a qualificação ju-
rídica das criptomoedas como bem móvel e incorpóreo parecer uma solução
possível, a ausência de uma clara definição quanto a natureza jurídica e, prin-
cipalmente, quanto ao tratafirento contábil a ser empregado causa certa inse.
gurança jurídica em relação ao tratamenro tributário das diferentes operaçÕes
que podem ser realizadas com esses ativos. Ressalte-se que a qualificação desses
ativos como bens importa reconhecer que, na sua utilização como meio de pa-
gamento, a qualificação jurídica da operação é a de permuta.
Não obstante a ausência de regras e a incerteza quanto à qualificação pre-
cisa das criptomoedas, parece-nos fora do campo de dúvida que as transações
com estes ativos estão alcançadas pelas normas tributarias, pois podem ensejar
ganhos e perdas com alterações patrimoniais.
Neste sentido, as pessoas físicas detentoras de criptomoedas se sujeitam às
regras de informação sobre bens e direiros, bem como ao IRpF e ao ITCMD,
quando for o caso.
No caso das pessoas jurídicas, a contabilidade ainda deve endereçar a maréria
com mais clareza. Sob o ponto de vista tributário os ganhos e perdas com as transa-
ções com esses ativos devem se sujeitar aos efeitos pertinentes, como virnos. Restam
desafios quanto à caracterização das receitas ou das operações como operacionais
288
lkie Utumi
ìtivos e, em especial das
aregulaçãoeaevolução
:ntes pelas criptomoedas,
rente aceito, traz uma sé-
:er um ambiente desejado
: proteção institucional e
rs ativos.
a lacuna na regulação dos
rossibilidade de ocultação
ua utilização como meca-
,o tecnológica, não podem
,es jurídicas estabelecidas
resar de a qualificação ju-
ireo parecer uma solução
natureza jurídica e, prin-
pregado causa certa inse-
r das diferentes operações
) que a qualificação desses
lização como meio de pa-
ermuta.
quanto à qualificação pre-
dúvida que as transações
tarias, pois podem ensejar
'iptomoedas se sujeitam às
ro ao IRPF e ao ITCMD,
la deve endereçar a matéria
hos e perdas com as transa-
rentes, como vimos. Restam
rerações como operacionais
Estudo s de Trib utøção Internacionnl
ou não operacionais para todos os efeitos tributários e também uma orientação
sobre o critério de determinação dos valores envolvidos, tendo em vista a alta vola-
dlidade e a ausência de precificação uniforme característica desses ativos.
Em suma, desenvolver em soluções que compatibilizem o direito e a imple-
mentação de medidas de conformidade tributária com a digitalizaçãto da econo-
mia são os principais desafios relacionados ao mercado de criptoativos a serem
enfrentados nos próximos anos.
289
parte a
parte b