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PLANEJAMENTO GOVERNAMENTAL E CONTROLE Autor: Heraldo da Costa Reis Dados Pessoais Nome: _________________________________________________________ Turma:____________ Matrícula:__________ Curso: __________________ Endereço: _____________________________________________________ Cidade: _____________________________________ UF: _______________ CEP: ________________ Telefone: _________________________________ E-mail: ________________________________________________________ CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito - Cx. P. 191 - 89.130-000 INDAIAL/SC - Fone Fax: (47) 3281-9000/3281- 9090 - www.uniasselvipos.com.br Programa de Pós-Graduação EAD CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090 Reitor: Prof. Dr. Malcon Tafner Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol Coordenador da Pós-Graduação EAD: Prof. Norberto Siegel Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD: Prof.ª Hiandra B. Götzinger Montibeller Prof.ª Izilene Conceição Amaro Ewald Prof.ª Jociane Stolf Revisão de Conteúdo: Prof. Nelson Chalfun Homy Revisão Gramatical: Marli Helena Faust Diagramação e Capa: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI 552.008 R375p Reis, Heraldo da Costa Planejamento governamental e controle / Heraldo da Costa Reis. Indaial : Uniasselvi, 2012. 146. p.: il Inclui bibliografia. ISBN 978-85-7830-620-5 1. Administração municipal. I. Centro Universitário Leonardo da Vinci II. Núcleo de Ensino a Distância III. Título Copyright © UNIASSELVI 2010 Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Heraldo da Costa Reis É contador formado pela UFRJ, Mestre em Ciências Contábeis pelo Instituto Superior de Estudos Contábeis, da Fundação Getúlio Vargas (ISEC/FGV), com área de Concentração em Contabilidade Gerencial. • Ex-Professor da disciplina Gestão Governamental e Controle, do Curso de Mestrado em Ciências Contábeis, da Faculdade de Administração e Ciências Contábeis da Universidade Federal do Rio de Janeiro. • Professor de Contabilidade Governamental e de Auditoria Governamental e de outras disciplinas, da Faculdade de Administração e Ciências Contábeis- FACC da UFRJ, dos cursos de Graduação e de Pós-Graduação Latu Sensu. • Professor das disciplinas de Contabilidade Pública, Auditoria Governamental, Orçamento Público e Administração Financeira dos cursos de Pós-Graduação das UFPE, UFPR, UFCE, UFRN, PUC-MG, PUC-GO, CESUPA e outras; • Professor dos cursos da área de Finanças, Contabilidade e Orçamento, de EAD da ENSUR/IBAM. • Consultor Técnico e parecerista do Instituto Brasileiro de Administração Municipal – IBAM, nas áreas de Orçamento, Contabilidade, Administração Financeira, Auditoria e Finanças Públicas. • Coordenador de Ensino, da Escola Nacional de Serviços Urbanos do IBAM, nas áreas de Orçamento, Contabilidade, Administração Financeira, Auditoria e Finanças Públicas; Coordenador do Centro de Estudos Interdisciplinares em Finanças Públicas - CEIF - da ENSUR/IBAM. • Consultor em vários projetos internacionais. • Coordenador técnico dos projetos da parceria IBAM/BNDES sobre a LC No. 101/2000 (Lei de Responsabilidade Fiscal) que envolveram assuntos de Orçamento, Contabilidade Pública e Administração Financeira governamentais. • Autor e coautor de livros e artigos sobre finanças, orçamento, contabilidade e auditoria, dentre os quais os seguintes livros: O que os Gestores Municipais devem saber, 2ª Ed. IBAM, 2007. Contabilidade e Gestão Governamental, Estudos Especiais, 1ª Ed. IBAM, 2004. A Lei 4.320 Comentada, na 33a. Ed. Lúmen Juris-IBAM, com a introdução de comentários à Lei de Responsabilidade Fiscal, 2010. • Organizador, Coordenador e Revisor Técnico do livro Leituras em Administração Financeira Municipal, 2ª. Ed. IBAM, 2003 – Patrocínio Banco do Brasil. • Membro da Comissão de Contas Públicas do Conselho Federal de Contabilidade. • Responsável pela Editoria Técnica da revista de Administração Municipal (IBAM). Sumário APRESENTAÇÃO ......................................................................7 CAPÍTULO 1 Sistema de Planejamento Governamental .........................11 CAPÍTULO 2 Instrumentos de Gestão Fiscal e Financeira ....................29 CAPÍTULO 3 Legislação Aplicada à Gestão Fiscal e Financeira ............65 CAPÍTULO 4 Sistemas de Controle Interno e Externo .......................101 CAPÍTULO 5 Prestação de Contas ..........................................................123 APRESENTAÇÃO Caro(a) pós-graduando(a): A necessidade de dispor sobre recursos, obtendo-os de forma econômica, e aplicá-los com eficiência, a fim de alcançar os resultados que satisfaçam as necessidades da população e das atividades administrativas, leva a Administração Pública a estabelecer, previamente, diretrizes e a organizar ações próprias e adequadas às metas e objetivos pretendidos. Com esta visão, a Constituição da República de 1988, por meio de dispositivos próprios, Art. 165, parágrafos e incisos respectivos, estabeleceu a obrigatoriedade de as entidades federativas adotarem o sistema de planejamento, conquanto esta ideia já viesse sendo posta em prática desde a promulgação da Lei nº 4320 de 17 de março de 1964, que introduziu a técnica do orçamento por programas, conforme se constata pelos dispositivos, cuja base, relacionada às despesas de Capital, estava assentada no conteúdo do Quadro de Recursos e de Aplicação de Capital, como se verifica do seu art. 23 e parágrafo único, a seguir transcritos: Art. 23 – As receitas e despesas de capital serão objeto de um Quadro de Recursos e de Aplicação de Capital, aprovado por decreto do Poder Executivo, abrangendo, no mínimo, um triênio. Parágrafo único – O Quadro de Recursos e de aplicação de Capital será anualmente reajustado, acrescentando-se-lhe as previsões de mais um ano, de modo a assegurar a projeção contínua dos períodos. Como o desenvolvimento social e econômico do país era evidente, o Quadro de Recursos e de Aplicação de Capital que compunha o Sistema de Planejamento, iniciado pela Lei 4320/64, evoluiu para o Orçamento Plurianual de Investimentos, que não obteve o sucesso esperado, sendo substituído, então, pelo Plano Plurianual, mais conhecido por PPA, introduzido pela atual Constituição. A Carta Magna vigente é pródiga em modificações e inovações no campo do planejamento e do controle, com a introdução de novos instrumentos nessas áreas da Administração, que permitem uma visualização mais ampla e melhor das ações governamentais, bem como dá ao cidadão a oportunidade de fiscalizar e de exigir o cumprimento dos objetivos e metas predelineados pela Administração. Assim, o sistema de planejamento governamental evoluiu com a adoção de um plano de ações mais sofisticado, no qual se consideram, dentre outros, os grandes objetivos, as metas, as ações e os respectivos prazos e insumos que permitirão alcançar os resultados que contribuirão para o crescimento e desenvolvimento da sociedade. O Sistema de Planejamento governamental compreende as seguintes peças: o plano plurianual, as diretrizes orçamentárias e o orçamento anual. Evidentemente, a execução exige da Administração, de acordo com a legislação pertinente, que se organize um sistema de controle, de análise e de avaliação de resultados, bem como o da elaboração e da apresentação da prestação de contas. Essas são, pois, as características da disciplina Planejamento e Controle, que ora se apresenta, e que procurará, por meio dos capítulos que a compõem, levar ao participante o instrumental teórico e prático necessário para aperfeiçoar o seu conhecimento e facilitar o exercício dos seus direitos de cidadão. Para facilitar a compreensão, o conteúdo é apresentado nos seguintes capítulos: Capítulo I – O Sistema de Planejamento Governamental, cujo objetivoé descrever o sistema de planejamento introduzido pela Constituição da República de 1988 e os seus componentes. Capítulo 2 – Instrumentos de Gestão Fiscal e Financeira, que apresenta as formas de gestão fiscal e financeira, em realidade um novo enfoque dado pela Lei de Responsabilidade Fiscal, que pressupõe a necessidade de ação planejada e que permite uma ampla visão da Administração pública. Capítulo 3 – Legislação Aplicada à Gestão Fiscal e Financeira, cujo objetivo é apresentar a legislação que regulamenta os atos de gestão pública, da qual se salientam a Lei de Licitações e Contratos, o Código Tributário Nacional, a Lei de Responsabilidade Fiscal e a Lei 4320 de 17 de março de 1964. Capítulo 4 – Sistemas de Controle Interno e Externo, que têm por finalidade apresentar os sistemas de controle interno e externo, que devem ser organizados e mantidos pelas esferas governamentais nos âmbitos dos respectivos Poderes Constitucionais, cujo objetivo é manter a integridade do Patrimônio da entidade governamental. Capítulo 5 – Prestação de Contas, cuja finalidade é apresentar e discutir a elaboração e apresentação da prestação de contas, bem como dos seus componentes. Este capítulo, tendo em vista que no presente ano se realizarão as eleições para Prefeitos e Vereadores, apresenta os componentes da prestação de contas de encerramento dos mandatos dos atuais Prefeitos. No sentido de auxiliar o participante nas suas pesquisas, procurou-se indicar, em cada capítulo, as referências bibliográficas e a legislação pertinente ao assunto nele tratado. Espera-se, pois, que esta disciplina possibilite ao seu público alvo os conhecimentos necessários na atuação como administrador e como cidadão. Boa sorte!!! CAPÍTULO 1 Sistema de Planejamento Governamenta A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: � Entender o instrumental teórico necessário ao planejamento como um processo permanente de gestão, que envolve ações, decisões, metas e estabelecimento de macro-objetivos. � Elaborar um planejamento. 12 Planejamento governamental e controle 13 Sistema de Planejamento Governamental Capítulo 1 Contextualização Este capítulo apresenta e discute o planejamento como um processo de gestão continuada, no qual se identificam ações destinadas a garantir a utilização eficiente dos recursos da entidade e a obter os resultados mais eficazes e, assim, concretizar os objetivos previamente delineados e relacionados com a satisfação da coletividade e da administração. De forma bem simples, planejamento significa a definição de meios e recursos para se atingir objetivos, determinados em função do estudo de uma situação que se pretende mudar. Planejamento como Base para Ações Governamentais Desde que o homem sentiu a necessidade de administrar, começou a planejar. Não da forma que o faz hoje, pois aumentaram os recursos à sua disposição e ampliou-se o seu âmbito de ação. Quando as necessidades da comunidade eram simples, a Administração não tinha muito a fazer. Era natural que não houvesse consciência do planejamento. Essa consciência surgiu quando as exigências da coletividade provocaram o aumento da complexidade da Administração, ampliando extensamente o seu campo de atuação. A Administração foi forçada, então, a adquirir consciência de planejamento. Às vezes, mesmo sem querer, as “coisas” se complicavam tanto que o planejamento passou a configurar processos muito complexos, somente ao alcance de técnicos especializadíssimos. a) O Planejamento Um planejamento bem estruturado impõe necessariamente uma definição de objetivos da Administração, visando a: • atender às necessidades da população, através do estabelecimento de prioridades; • selecionar instrumentos para as realizações pretendidas. O mecanismo básico do planejamento é de fácil compreensão: a primeira tarefa consiste na definição de objetivos, empreendendo- se, em seguida, a formulação da programação, que vai fornecer o cenário no qual os objetivos deverão ser atingidos e os instrumentos que serão utilizados. 14 Planejamento governamental e controle b) A Programação Em função desses objetivos e instrumentos, definem-se as metas, que são as realizações concretas a serem alcançadas, dentro de um determinado período de tempo, mas com a consciência de que os gastos públicos devem ser efetivamente vinculados a uma programação, definida pelo planejamento. c) O Orçamento O dinheiro público tem a sua aplicação vinculada a uma lei: o orçamento. Nessa Lei Orçamentária são previstas receita e despesa, com o rigor necessário, pois as respectivas aplicações exigem a observância a uma série de requisitos legais. Quando, entretanto, essas aplicações não se vinculam a uma programação cuidadosa, há o risco de distorções, em prejuízo da eficácia da ação administrativa. O orçamento, portanto, deixa de ser apenas um documento formal para se tornar um instrumento básico do planejamento, tornando-se, por conseguinte, o mecanismo mais importante para a implementação do planejamento. Observe que no orçamento são vinculadas aos programas as dotações provisionadas aos recursos que dão a esses programas o indispensável suporte financeiro. Dotação provisionada é uma previsão de valor destinado a um recurso. A Administração, assim, não perde de vista as suas finalidades, os objetivos que deve atingir. Não se gasta dinheiro de maneira irracional, mas com claras metas a alcançar. Como o planejamento, a programação e o orçamento constituem um sistema, a Administração moderna institucionaliza essas três atividades num só Sistema Administrativo, em que o Órgão Central executa exclusivamente as atividades que lhes são pertinentes: planejar, programar e orçamentar, seja centralizadamente, seja descentralizadamente. A principal função desse conjunto de atividades é formular políticas e objetivos para a esfera de Governo a que serve, programar e acompanhar a execução desses objetivos e proporcionar os meios concretos para a sua consecução. O planejamento, a programação e o orçamento constituem um sistema, cujas partes não podem ser entendidas separadamente. 15 Sistema de Planejamento Governamental Capítulo 1 Assim, preliminarmente ao conceito de Planejamento Governamental, entendamos o planejamento como referencial básico para o desenvolvimento das ações governamentais de médio e longo prazos. É o planejamento, com seu caráter instrumental e suas especificidades na esfera da Administração Pública, que vai fornecer as condições para a formulação, a execução, a avaliação de planos, programas e ações municipais, de forma contínua e integrada. Planejamento traduz um conjunto de ações que envolve a análise de problemas e perspectivas, a previsão de medidas com vistas à consecução de determinados fins, face aos recursos disponíveis; a avaliação e a correção permanentes dessas ações, na busca de resultados mais amplos e de maior alcance, voltados para a melhoria das condições de vida. “[...] já nos aproxima da ideia de Planejamento Governamental, do qual sempre nos lembramos como a formulação das políticas e ações públicas, a partir da escolha; entre opções possíveis, dos objetivos, diretrizes, programas e meios mais adequados à sua realização”. (CAMPOS; PULLIG; OLIVEIRA,1997, p. 64). Atividade de Estudos: 1) Por que o orçamento é um instrumento básico do planejamento? ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ________________________________________________________________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 16 Planejamento governamental e controle Planejamento Governamental O planejamento deve ser visto como um conjunto de ações interligadas e complementares, realizadas nas diferentes instâncias da organização governamental, visando a alcançar um determinado objetivo. Envolve uma série de atividades que vão manter e alimentar esse ciclo, que é contínuo. Atividades que se configuram em estudos, decisões estratégicas e táticas sobre prioridades, formulação de planos e programas, acompanhamento e controle de sua execução. Pressupõe, ainda, a possibilidade de novos fatos e situações que podem influir no desenvolvimento desse processo, revertendo e alterando os rumos e os conteúdos dos trabalhos que realiza. O planejamento deve ser concebido como processo contínuo, permanente e sistemático da administração pública, que requer: • envolvimento de todos os órgãos e níveis de governo; • atuação em nível estratégico, tático e operacional; • base de informações, estudos e diagnósticos; • participação popular na definição de prioridades e metas; • sistema de monitoramento e avaliação. Assim, o planejamento tem por objetivo fazer com que as atividades governamentais aconteçam de forma ordenada, mediante uma estrutura em planos e programas que são postos em prática por meio de ações para as quais se designam objetivos, metas e recursos, tendo por fim único e exclusivo o estreitamento da relação entre administração governamental e sociedade. A concretização dos objetivos e metas programados para as ações governamentais, no período para os quais o sistema de planejamento foi organizado, dependerá, pois, daquele estreitamento, no qual se evidenciarão o apoio financeiro e a confiança da sociedade na administração da entidade governamental. Podemos conceituar o planejamento como o processo que se desenvolve para alcançar uma situação desejada do modo mais eficiente, eficaz e efetivo, que reflita a melhor concentração de esforços e recursos pela organização. A participação popular na definição de prioridades e metas é decisiva para o sucesso do Planejamento do Governo. 17 Sistema de Planejamento Governamental Capítulo 1 a) A estrutura do sistema de planejamento governamental A estrutura do sistema de planejamento governamental vigora para todas as esferas de governo, quais sejam a União, o Estado, os Municípios e o Distrito Federal. Essa estrutura consiste em conceitos, instrumentos e classificações para elaborar e dar forma aos planos e orçamentos dessas organizações governamentais. Ela é estabelecida mediante normas gerais, em legislação federal, na qual se destacam: • a Constituição Federal, pelo seu art. 165, parágrafos e incisos, que introduzem o Plano Plurianual, as Diretrizes Orçamentárias e o Orçamento Anual; • a Lei Complementar nº 101/2000 (Lei de Responsabilidade Fiscal), pelos seus arts. 4º a 7º; • a Lei Federal nº 4320/1964, que trata da composição da proposta orçamentária e da Lei Orçamentária; • as Portarias da STN/MF e do Ministério do Planejamento (BRASIL, 1988; BRASIL, 2000; BRASIL, 1964). O emprego de tal estrutura deverá se adequar às peculiaridades da Unidade Federativa refletidas no detalhamento dos processos de planejamento e de orçamento, ajustados por leis próprias que observam e complementam as normas gerais estabelecidas na legislação federal. Características do Planejamento Governamental O êxito na execução das ações governamentais depende do entendimento das funções do planejamento, como indicamos a seguir. a) Planejamento como função gerencial Para compreendermos o Planejamento como função gerencial, baseamo-nos nas ideias de Villaça e Campos (2001, p. 20), que afirmam: As organizações, entendidas como entidades sociais que visam atingir determinados objetivos, são gerenciadas a partir de quatro funções básicas: planejamento, organização, direção e controle. Estas funções, de natureza administrativa, são interdependentes e se integram dinamicamente, em um ciclo permanente, que forma o processo administrativo e caracteriza a vida e o próprio funcionamento da organização. 18 Planejamento governamental e controle Por outro lado, todas as organizações (inclusive as Administrações Municipais) como entidades sociais que visam a determinados fins, são dotadas de missões e objetivos específicos, e nessa perspectiva, consideradas sistemas sociais abertos. Ou seja, estão inseridas em um contexto social mais amplo, do qual fazem parte outros entes sociais, representados por instituições, empresas públicas e privadas, além da própria população e seus movimentos organizados. Assim entendidas, as organizações comportam dois ambientes ou planos de atuação: • ambiente interno, que é representado por sua estrutura administrativa, seus recursos, inclusive os humanos, suas técnicas e seus métodos de trabalho, e • ambiente externo, em que operam suas relações e articulações com os demais entes sociais, captando demandas, apoios, críticas e recursos necessários ao seu desempenho. Figura 1 – Gerenciamento das organizações Fonte: O autor. A dinâmica desse processo envolve a produção permanente de benefícios para a satisfação da sociedade e da própria Administração. Em apoio a esta afirmação Villaça e Campos (2001, p. 21) dizem: Resulta desse processo uma atividade permanente de produção ou desenvolvimento de ações, no plano interno da organização, o que constitui a própria dinâmica do seu funcionamento. Os produtos ou resultados dessa atuação, por sua vez, são lançados no ambiente externo, onde serão mais uma vez processados, assimilados e avaliados. Em organizações como as Administrações Municipais, esses produtos ou resultados se referem, em geral, aos serviços que prestam e aos bens que produzem, em razão de suas finalidades como entes públicos. As organizações comportam dois ambientes ou planos de atuação: • ambiente interno, que é representado por sua estrutura administrativa. • ambiente externo, em que operam suas relações e articulações com os demais entes sociais. file:///E:/EDITORA%20CLASSI%20MOTORS/IBAM/-%20Planejamento%20Governamental%20e%20Controle/Arquivos%20Recebidos/../../Downloads/DOCUME~1/Configurações locais/DOCUME~1/Configurações locais/Temporary Internet Files/AppData/Local/Microsoft/ssim 19 Sistema de Planejamento Governamental Capítulo 1 O funcionamento satisfatório desse sistema pressupõe a existência das quatro funções básicas - planejamento, organização, direção e controle - que, na condição de elementos ou componentes da organização, devem ser integradas e articuladas, manifestando-se em suas dimensões institucional ou estratégica, tática e operacional, cujas definições são dadas por Villaça e Campos (2001, p. 21), que a seguir se transcreve: A dimensão institucional ou estratégica é aquela que considera a organização em seu sentido mais amplo, incorporando, assim, tanto seu ambiente interno como o externo. É nessa dimensão que se procede a definição de estratégica e diretrizes gerais de ação de longo prazo, com relação às áreas específicas de atuação da organização. Na dimensão tática, ou intermediária, opera-se o detalhamento dessas estratégias, com a definição de prioridades e metas de longo e médio prazos, adequadas aos recursos disponíveis, à formulação de projetos, à previsão e à alocação dos meios necessários à sua execução e à avaliação de seus resultados. A dimensão operacional refere-se às ações e decisões de curto prazo, que devem ser adotadas para garantir o desenvolvimento efetivo dos planos e programas. Figura 2 – Dimensão institucional Fonte: O autor. Continuamos refletindo e discutindo sobre o planejamento comoum processo de gestão continuada. b) Planejamento como processo Para compreender o planejamento como processo, utilizamos as ideias de Villaça e Campos (2001, p. 22), que afirmam o seguinte: 20 Planejamento governamental e controle [...] o planejamento é visto como um conjunto de ações interligadas e complementares, realizadas nas diferentes instâncias da organização, visando alcançar um determinado objetivo. Envolve uma série de atividades que vão manter e alimentar esse ciclo, que é contínuo, entre as quais figuram estudos, decisões estratégicas e táticas sobre prioridades, a formulação de planos e programas, o acompanhamento e o controle de sua execução. Pressupõe, ainda, a possibilidade de novos fatos e situações que podem influir no desenvolvimento desse processo, revertendo e alterando os rumos e os conteúdos dos trabalhos que realiza. Como tal, vai envolver todos os órgãos de diferentes níveis de poder que fazem parte da estrutura administrativa do órgão, conforme o estágio ou tipo de ação que esteja em andamento. E, assim, vai incorporar o caráter de função gerencial visto anteriormente, compreendendo ações no nível estratégico ou institucional, tático e operacional da organização. Figura 3 – Planejamento como processo Fonte: O autor. As ideias que até aqui foram tratadas dizem respeito ao planejamento como função gerencial e como processo. Recorremos a Villaça e Campos (2001, p. 24) para apresentar o planejamento como função governamental. c) Planejamento como função governamental Sobre o planejamento como função governamental, apresentamos as ideias de Villaça e Campos (2001, p. 24-25), que dizem: O planejamento é visto como um conjunto de ações interligadas e complementares, realizadas nas diferentes instâncias da organização, visando alcançar um determinado objetivo. 21 Sistema de Planejamento Governamental Capítulo 1 Nesta perspectiva, as características do planejamento são definidas pelas peculiaridades do setor público e de suas organizações. [...] Ao contrário das instituições privadas, as entidades públicas contam com uma clientela ampla e diversificada. Por isso, [...] suas missões ou finalidades são maiores e não tão específicas como as empresas privadas. Tais finalidades vão se traduzir na produção de serviços, bens e mudanças sociais, em prol da melhoria das condições de vida. [...] O planejamento governamental apresenta algumas características que se complementam e se correlacionam, coexistindo com as dimensões técnica e política. [...] Sob o aspecto técnico, o planejamento governamental pode ser considerado como uma modalidade de ação administrativa a ser desenvolvida com metodologias específicas, pessoal capacitado ou com conhecimento especializado, informações adequadas para decisões e para as ações de acompanhamento, controle e avaliação de sua execução. Estas são, portanto, as condições materiais ou instrumentais para sua realização. Ao mesmo tempo, coexiste com essa dimensão uma vertente política que diz respeito aos interesses e às aspirações de diferentes grupos sociais que convivem no ambiente externo da organização, aqui entendida como a Administração Municipal, e que vão tentar se representar na colocação de suas necessidades. Tais interesses decorrem, também, de compromissos e pactos assumidos pelos governantes. Figura 4 – Planejamento Governamental Fonte: Equipe Multidisciplinar da UNIASSELVI-PÓS. O planejamento governamental apresenta algumas características que se complementam e se correlacionam, coexistindo com as dimensões técnica e política. 22 Planejamento governamental e controle O que se observa é que a Administração Governamental, conquanto para o atingimento dos seus objetivos tem de se planejar, é necessário que esta atividade se exteriorize para que satisfaça completamente os anseios da sociedade. Esta é a intenção da legislação pertinente, conforme mencionam Villaça e Campos (2001, p. 25) como a seguir se transcreve: Mais que um instrumento da ação pública o planejamento governamental é hoje uma imposição constitucional. A Constituição Federal de 1988, por meio de vários dispositivos, confere-lhe caráter imperativo, ao estabelecer a obrigatoriedade de formulação de planos, de forma ordenada e sequencial, para o atingimento de objetivos previamente estabelecidos e que dizem respeito ao processo econômico e social de modo geral. Atividade de Estudos: 1) Complete o quadro a seguir, explicando as dimensões dos sistemas sociais abertos. DIMENSÕES O QUE É • Institucional ou estra- tégica • Tática ou intermediária • Operacional A Racionalidade no Planejamento A Administração Pública, em última análise, visa à consecução de objetivos concretos, definidos em função dos problemas coletivos que lhe cabe enfrentar e solucionar. Dessa maneira, os órgãos da Administração têm finalidade institucional, ou seja, são criados para o cumprimento de atividades específicas. Mais que um instrumento da ação pública o planejamento governamental é hoje uma imposição constitucional. 23 Sistema de Planejamento Governamental Capítulo 1 O desempenho dessas atividades requer uma série extremamente complexa de decisões, que já definem sua natureza a partir da concepção e criação de cada órgão. A ação da Administração Pública se caracteriza por abranger um extenso mecanismo decisório, cuja eficácia, na concretização dos objetivos desejados, depende da racionalidade do funcionamento desse mecanismo. E tal racionalidade pode ser entendida como a máxima adequação dos recursos utilizados às atividades e fins a serem alcançados. Para que o administrador possa conferir racionalidade à sua ação, deve utilizar determinados instrumentos que lhe possibilitem avaliar os recursos à sua disposição, definir claramente os seus objetivos e prever as modificações que a sua interferência na realidade irá causar. Essas atividades são, em seu conjunto, o processo de planejamento. Somente o processo de planejamento permite que o administrador, através do uso de técnicas e métodos diversos - desde a estatística, até a pesquisa socioeconômica mais ampla -, aproxime- se da objetividade necessária à formulação de um conjunto harmônico de decisões eficazes. Durante o processo não se deve perder de vista que cabe ao Sistema de Planejamento Governamental, por exemplo, promover a racionalização das decisões e a coordenação das ações na esfera de Governo em que se localiza. Muito mais do que antes, nos dias de hoje, a consecução desse objetivo maior impõe outras funções intrínsecas ao Sistema de Planejamento Governamental, tais como: o planejamento, a programação, o acompanhamento de sua execução e avaliação de seus resultados; • o orçamento e o acompanhamento da execução orçamentária; • a modernização administrativa e a capacitação dos servidores; • a promoção das atividades de coordenação e articulação entre os órgãos da Administração; • o controle interno dos dispêndios da Administração e o acompanhamento dos contratos e convênios firmados pelo ente governamental; • a captação de recursos, junto a outras esferas de Governo, como impulso ao desenvolvimento socioeconômico do ente governamental. O planejamento deve ser necessariamente um esforço de incorporação à perspectiva do administrador de todas as variáveis que possam interferir na consecução de seus objetivos. O planejamento é um processo globalizante e integrado. 24 Planejamento governamental e controle Figura 5 - Funções intrínsecas ao Sistema de Planejamento Governamental Fonte: Equipe Multidisciplinar da UNIASSELVI-PÓS. Sem uma efetividade na execução dessas ações, são desperdiçados recursos e esforços, principalmente num momento em que os mesmos são escassos no setor público. Planejando de forma correta e racional, não somente é possível atingir mais rapidamenteas metas governamentais de desenvolvimento econômico e de ampliação da oferta de melhores serviços sociais como também se torna mais fácil conjugar esforços locais para um desempenho mais efetivo dos entes federativos. O Planejamento, a Programação e o Orçamento A trilogia planejamento, programação e orçamento não funciona separadamente. A própria Lei de Responsabilidade Fiscal dispõe sobre regras de programação dos recursos provisionados aos setores que compreendem a estrutura da Administração, fazendo com que sejam programados para utilização bimestral. Para o planejamento tornar-se operacional devemos traçar diretrizes gerais, avaliando o contexto, procurando correlações entre fenômenos com o objetivo de auxiliar a ação administrativa. 25 Sistema de Planejamento Governamental Capítulo 1 O planejamento se operacionaliza através da programação. A programação consiste num detalhamento das proposições genéricas do planejamento; na sua concretização. O planejamento, para atingir seus objetivos, deve cumprir as etapas que são definidas pela programação. Enquanto que o objetivo de um processo de planejamento na área educacional pode ser - Melhorar a qualidade da alimentação distribuída nas escolas públicas de um determinado Município - a programação estabelece as etapas realistas da consecução desse objetivo. Por exemplo: no ano 2012, o programa de assistência e educação alimentar alcançará 100% (cem por cento) das escolas municipais de educação infantil e de ensino fundamental através de medidas que serão tomadas em fases e tempos descritos na programação do planejamento. Desse modo, há uma quantificação dos objetivos, em razão das imposições da realidade e há o estabelecimento de metas concretas e detalhadas. O planejamento tem, assim, para usar uma analogia, um caráter estratégico, enquanto que a programação é de natureza tática. Para a Administração Pública a alocação de recursos financeiros para o suporte de sua programação é uma função vital. O orçamento é um instrumento básico de programação. Não pode mais ser entendido como uma simples lei disciplinadora da utilização dos dinheiros públicos. Transcedendo essa conceituação estreita, o orçamento passa a ser compreendido como efetivo instrumento de programação. Definidos os objetivos, visualizadas as metas, vincula-se a eles o orçamento. A Administração realiza seus objetivos por meio de recursos financeiros alocados em função de seus programas. Se são teoricamente inseparáveis as funções de planejamento, programação e orçamento, a sua estrutura organizacional na Administração Pública deve sempre refletir essa integração. Portanto, integração é o primeiro passo para que a Administração possa valer-se eficientemente dos recursos que são fornecidos pela Sociedade. A Administração deve compreender o caráter integrado das funções de planejar, programar e orçamentar para poder desempenhar em um nível de excelência as suas atividades. Caso não aja dessa forma, poderá se ressentir de falta de coordenação e homogeneidade, bem como sofrer de uma constante improvisação. A função de planejar engloba a função de programar, que se efetiva através da elaboração orçamentária. 26 Planejamento governamental e controle Assim, o caráter integrado dessas funções deve se encontrar formalizado em órgãos integrados de planejamento, programação e orçamento. Trata-se de uma prática já consagrada na Administração contemporânea, ditada pelas demandas impostas pelo crescente âmbito da Administração. Quem Planeja Ainda que todos os agentes públicos devam estar empenhados em conhecer e tratar com seriedade as atividades em seus respectivos campos de trabalho - os Parlamentares das esferas governamentais também participam do planejamento quando examinam e aprovam proposições -, cabe ao Chefe do Poder Executivo implementar suas ideias dentro de um clima político em que se busca constantemente conhecer a realidade do próprio ente governamental e do mundo que o cerca. No que diz respeito ao Município, por exemplo, o art. 30 da Constituição Federal, que trata da sua competência, bem como o art. 165, que obriga a elaboração de plano plurianual, de lei de diretrizes orçamentárias e de orçamento anual, pressupõe a preocupação com o planejamento governamental. (BRASIL, 1988). A simples apresentação desses instrumentos nem sempre significa que eles tenham passado por um processo de conhecimento e discussão da realidade local. Pelo planejamento, o administrador cumpre o compromisso ético de discutir, com objetividade, os vários cenários da vida local e cada etapa de suas grandes decisões. Algumas Considerações Vimos até aqui o sistema de planejamento governamental como um conjunto de ações administrativas governamentais com metas e objetivos a serem atingidos. Entretanto, a execução dessas ações para a concretização dos objetivos pretendidos depende de instrumentos legais de Gestão Fiscal e Financeira, denominados: Plano Plurianual - PPA, Diretriz Orçamentária e Orçamento Anual. No Capítulo 2 você terá oportunidade de estudar as finalidades e a estrutura respectiva de cada um desses instrumentos. Cabe ao Chefe do Poder Executivo implementar suas ideias dentro de um clima político em que se busca constantemente conhecer a realidade do próprio ente governamental e do mundo que o cerca. 27 Sistema de Planejamento Governamental Capítulo 1 Referências BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constitui%C3%A7ao.htm>. Acesso em: 27 set. 2011. BRASIL. Lei 4320, de 17 de março de 1964. Disponível em: <http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L4320.htm>. Acesso em: 26 set. 2011. BRASIL. Lei Complementar nº 101, maio de 2000. Disponível em: <http://www. stn.fazenda.gov.br/legislacao/download/contabilidade/lei_comp_101_00.pdf>. Acesso em: 26 set. 2011. BRASIL. Lei Complementar nº 131, maio de 2009. Disponível em: <http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/leis/LCP/Lcp131.htm>. Acesso em: 26 set. 2011. CAMPOS, Silvia Butters; PULLIG, António C Apio; OLIVEIRA, Dauraci Senna. Organização Administrativa. Série Gestão Municipal. Rio de Janeiro: IBAM: SOMMA-BDMG 1997. VILLAÇA, Sergio Paulo Vieira, CAMPOS, Silvia Butters. Coordenação Técnica de Heraldo da Costa Reis. Gestão Fiscal Responsável - Cadernos IBAM 3 – Elaboração do Plano Plurianual. Ministério do Planejamento - BNDES: Rio de Janeiro, 2001. 28 Planejamento governamental e controle CAPÍTULO 2 Instrumentos de Gestão Fiscal e Financeira A partir da concepção do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: � Conhecer as estruturas das peças que integram o atual sistema de planejamento governamental, estabelecido pela Constituição da República: Plano Plurianual (PPA) – Diretrizes Orçamentárias (LDO) e Orçamento Anual (LOA). � Avaliar o Plano Plurianual, as Diretrizes Orçamentárias e o Orçamento Anual. 30 Planejamento governamental e controle 31 Instrumentos de Gestão Fiscal e Financeira Capítulo 2 Contextualização Com a edição da Lei de Responsabilidade Fiscal - LRF, um novo enfoque foi dado à gestão dos recursos públicos, exigindo um aperfeiçoamento técnico da elaboração e execução do orçamento público, com ênfase para o planejamento, conforme determina a CF 88. Considerando o que determina a LRF, a gestão fiscal pressupõe a ação planejada e transparente, em que se previnem riscos e corrigem desvios capazes de afetar o equilíbrio das contas públicas, mediante o cumprimento de metas de resultados entre receitas e despesas e a obediência a limites e condições no que tange a renúncia de receita, geração de despesas com pessoal, da seguridade social e outras, dívidas consolidada e mobiliária, operações de crédito, inclusive por antecipação de receita, concessãode garantia e inscrição em Restos a Pagar. Neste capítulo estudaremos os instrumentos que compõem o sistema de planejamento governamental introduzido pela Constituição da República, e que disciplinam a execução das ações governamentais, que incluem as ações da Administração Municipal. O Plano Plurianual O Plano Plurianual - PPA é um instrumento integrante do sistema de planejamento cujo conteúdo é composto de diretrizes e decisões. As proposições são baseadas nas informações existentes no sistema de planejamento, atualizadas anualmente. O Plano Plurianual – PPA é um instrumento de planejamento estratégico de médio prazo, embora suas ações contemplem intervenções de curto, médio e longo prazos. Através desse instrumento procura-se ordenar as ações do governo que levem ao atendimento dos objetivos e metas fixados para um período máximo de quatro anos e mínimo de dois anos. Essas informações, apresentadas no sistema de planejamento, são de fundamental importância. Caso não existam, devemos aprofundar os contatos com a unidade e completar os estudos sobre o setor da sua organização administrativa tendo em vista os órgãos da administração direta, incluindo o Poder Legislativo, e os da administração indireta. 32 Planejamento governamental e controle Considerando o que determina a Lei de Responsabilidade Fiscal, em seu artigo 1º e parágrafos, a gestão fiscal pressupõe a ação planejada e transparente, com o objetivo de prevenir riscos e corrigir desvios capazes de afetar o equilíbrio das contas públicas, mediante: • o cumprimento de metas de resultados entre receitas e despesas e • a obediência a limites e condições no que tange a: – renúncia de receita; – geração de despesas com pessoal, da seguridade social e outras; – dívidas consolidada e mobiliária; – operações de crédito, inclusive por antecipação de receita; – concessão de garantia e – inscrição em Restos a Pagar. Os princípios e objetivos interligados são os seguintes: Quadro 1 – Princípios e objetivos do PPA Princípios do PPA Objetivos do PPA Identificação clara dos objeti- vos e prioridades do Governo Definir com clareza as metas e prioridades da administração, bem como os resultados esperados. Estabelecer a necessária relação entre as ações a serem desenvolvi- das e a orientação estratégica de governo. Integração do planejamento e do orçamento Possibilitar que a alocação de recursos no orçamento anual seja coerente com as diretrizes, objetivos e metas do Plano. Garantia da transparência Dar transparência à aplicação de recursos e aos resultados obtidos. Explicitar, quando couber, a distribuição regional das metas e gastos do governo. Estímulo às parcerias e à participação popular Estimular parcerias com entidades públicas e privadas na busca de fontes alternativas de recursos para o financiamento dos programas. Gestão orientada para resultados Facilitar o gerenciamento da administração, através de definição de responsabilidades pelos resultados, permitindo a avaliação do de- sempenho dos programas, por meio de indicadores que quantificam a situação que o programa tenha por fim modificar. 33 Instrumentos de Gestão Fiscal e Financeira Capítulo 2 Fonte: O autor. O art. 165 da Constituição Federal, que dispõe sobre o Plano Plurianual, em seu Inciso I, § 1º determina: – Art. 165 – Leis de iniciativa do Poder Executivo estabelecerão: I – o plano plurianual [...] § 1º - A lei que instituir o plano plurianual estabelecerá, de forma regionalizada, as diretrizes, objetivos e metas da administração pública federal para as despesas de Capital e outras delas decorrentes e para as relativas aos programas de duração continuada. (BRASIL, 1988, grifo meu). Forma Regionalizada - Deve ser entendido como o recorte regional que se realiza no território, podendo ou não coincidir com os limites geográficos estabelecidos oficialmente. • Na União tem-se adotado o recorte geográfico oficial. Exemplo: Um PPA abrangendo a Região Nordeste do Brasil. • Em alguns estados são estabelecidas zonas de desenvolvimento, que podem ser utilizadas também pelos municípios, ou ainda regiões político-administrativas, conforme a conveniência e prioridades estabelecidas no Planejamento Estratégico e no Plano de Desenvolvimento Sustentável. Diretrizes - orientações gerais ou princípios que norteiam a captação e o gasto público com vistas a alcançar os objetivos. Exemplo: combater a pobreza e promover a cidadania. Objetivos - discriminação dos resultados que se quer alcançar com a execução de ações governamentais. Exemplo: elevar o nível educacional da população, especialmente combatendo o analfabetismo. Metas - quantificação, física e financeira, das ações. Exemplo: construir duas unidades de saúde; investir 10 milhões na construção do aterro sanitário. Organização das ações de Governo em programas Organizar, em programas, as ações que resultem em incremento de bens ou serviços que atendam demandas da sociedade. 34 Planejamento governamental e controle Despesa de Capital - conforme conceito da Lei n° 4.320/64, refere- se a uma categoria econômica da despesa pública, implicando gastos de caráter econômico e social, que incluem investimentos, inversões financeiras e outros. Exemplo: comprar um terreno para construir um edifício onde será instalada uma Maternidade. Outras Despesas Decorrentes – as aplicações em ações e objetivos, mencionados no item Despesas de Capital, identificados como investimentos de longo prazo, provocam novas aplicações de recursos para dar condições de funcionamento contínuo a esses investimentos. Exemplo: manutenção e funcionamento das atividades da Maternidade. Programas de Duração Continuada - Despesas vinculadas a programas com duração superior a dois exercícios financeiros, englobando despesas de caráter permanente ou temporário. Exemplo: Programa de bolsa-escola. Para saber mais sobre a criação, expansão ou aperfeiçoamento de ação governamental que acarrete aumento da despesa leia os art. 16 e 17 da Lei Complementar nº 101/2000 (LRF). Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/LCP/Lcp101.htm O PPA deve conter, além das diretrizes, objetivos e metas refletidas pelas despesas de capital, conforme art. 165 da CF 88, as despesas de manutenção das despesas de capital, exceto as despesas com o serviço da dívida (amortização e encargos). a) Desenvolvimento do Plano Plurianual O desenvolvimento do PPA abrange: a caracterização geral do ente federativo como um todo, o que envolve todos os aspectos relacionados com a sua extensão geográfica, economia urbana e rural; • as informações sobre a sua população; O PPA deve conter, além das diretrizes, objetivos e metas refletidas pelas despesas de capital, conforme art. 165 da CF 88, as despesas de manutenção das despesas de capital, exceto as despesas com o serviço da dívida (amortização e encargos). 35 Instrumentos de Gestão Fiscal e Financeira Capítulo 2 • a identificação dos principais problemas de caráter social e econômico; • a definição de políticas e diretrizes gerais de Governo; • o quadro de projetos a serem realizados nos próximos exercícios com a respectiva ordem de prioridade, bem como os respectivos custos; • a definição das fontes de financiamento. (REIS, 2007, p.11). A Constituição da República estabelece regras para a inclusão de ações de execução plurianual e seu prazo de vigência, bem como o seu encaminhamento ao Poder Legislativo, como se descreve no § 1º art. 167 da CF, a seguir: a) Investimentos de execução plurianual - Nenhum investimento cuja execução ultrapasse um exercício financeiro poderá ser iniciado sem prévia inclusão no plano plurianual, ou sem lei que autorize a inclusão, sob pena de crime de responsabilidade. (BRASIL, 1988). b) Elaboração do Plano Plurianual Para elaboração do Plano Plurianual é necessário que esse plano integreo sistema de planejamento governamental, devendo representar a forma pela qual a administração pública irá realizar seus objetivos. Cabe ao Plano Plurianual (PPA) transformar em realidade os compromissos assumidos pelo Chefe do Poder Executivo e que, em geral, decorrem de promessas feitas durante a campanha eleitoral. Dessa forma, deve permitir que os orçamentos anuais sejam constituídos de programas previamente ordenados no tempo e consumam recursos também predeterminados. c) Metodologia para a elaboração do PPA A metodologia de elaboração do PPA deve respeitar prescrições técnicas e legais, claras e precisas, além de incorporar o componente político que, em última análise, irá preponderar quando da tomada de decisão do que e quando realizar, no próximo quadriênio. Cabe ao Plano Plurianual (PPA) transformar em realidade os compromissos assumidos pelo Chefe do Poder Executivo e que, em geral, decorrem de promessas feitas durante a campanha eleitoral. Dessa forma, deve permitir que os orçamentos anuais sejam constituídos de programas previamente ordenados no tempo e consumam recursos também predeterminados. 36 Planejamento governamental e controle A metodologia para a elaboração do PPA é a que se desenvolve em etapas sucessivas, decompondo-se objetivos mais gerais (macro- objetivos) em mais específicos (programas), até que seja possível identificar concretamente o que realizar (ações) sem perder o vínculo com os propósitos maiores da administração. Veja a Estrutura do PPA na figura 1, observando o exemplo do macro-objetivo 3: Figura 6 - Estrutura do PPA Fonte: Villaça (2001, p. 31). “Os objetivos estratégicos dizem respeito à promoção da cidadania e da inclusão social, à promoção do desenvolvimento local sustentável, à promoção do equilíbrio das contas públicas e outros.” (VILLAÇA, 2001, p. 31). No PPA, os macro-objetivos detalham os objetivos estratégicos através da indicação das grandes linhas da ação governamental. Essas linhas da ação governamental orientam a formulação dos programas, que terão objetivos mais específicos e, preferencialmente, relacionados com a estrutura funcional da administração, de forma a facilitar a identificação da responsabilidade para a sua execução. Nesse nível os objetivos já devem ser expressos de forma quantitativa pelo uso de indicadores. Macro Objetivo 1 Macro Objetivo 2 Macro Objetivo 3 Macro Objetivo 4 Programa 1 Programa 2 Programa 3 Ação 1 Ação 2 Ação 3 37 Instrumentos de Gestão Fiscal e Financeira Capítulo 2 É o estabelecimento das ações que constituem os programas e que contribuem para a concretização de seu macro-objetivo. As ações serão detalhadas por intermédio da indicação de metas físicas e financeiras. Considerando em todas as suas etapas a determinação das Disponibilidades Financeiras, a metodologia de elaboração do PPA segue a seguinte cronologia, baseando-se em Villaça (2001): formulação dos Macro-objetivos; formulação dos Programas; formulação das Alternativas de Ação e estabelecimento das Alternativas de Ação. • Formulação dos Macro-objetivos O primeiro passo é a formulação dos macro-objetivos, o que deve ser feito à luz dos objetivos e diretrizes expressos no plano de governo. Cada macro-objetivo deve ser acompanhado de uma justificativa, a sua relação com os objetivos estratégicos, e ser detalhado através das linhas de ação a serem priorizadas. Vale destacar que a definição de macro-objetivos deve acompanhar o planejamento setorial que via de regra é realizado nas Prefeituras por força da existência de fundos especiais, como é o caso da educação, da saúde, da assistência social e de outros. • Formulação dos programas As linhas de ação propostas para cada macro-objetivo servem como base para detalhar os programas associados, apresentando-se para cada um deles: • Objetivo - descrição sucinta dos resultados esperados do programa. • Indicadores - quantificação de uma característica crítica relativa a um fato. O uso de indicadores facilita tanto o processo de planejamento como também o de controle e análise dos resultados. Outro aspecto importante é que o uso de indicadores contribui para fundamentar uma argumentação com vistas à tomada de decisão. A escolha dos indicadores deve ser a mais criteriosa possível, procurando- se garantir principalmente a sua representatividade e disponibilidade ao longo do tempo. 38 Planejamento governamental e controle Observe o exemplo apresentado por Villaça (2001, p. 36 - 37). Usando a área da educação, apresentamos o exemplo de um programa associado ao objetivo • “ofertar ensino de qualidade para todos”. OBJETIVO ESTRATÉGICO • Promover a cidadania e a inclusão social. Conceber e implementar as políticas públicas nas áreas de serviços públicos de educação, saúde e habitação. MACRO-OBJETIVO 1 • Ofertar para todos o que é fundamental para a vida no ensino fundamental. A promoção da cidadania e a da inclusão social está diretamente ligada à capacidade do governo de garantir a oferta de um ensino fundamental de qualidade para todos os cidadãos, em particular para todas as crianças em idade escolar. As ações do governo, nesse campo, são orientadas para: • garantir ensino de qualidade para todas as crianças em idade escolar; • intensificar as ações de valorização do magistério do ensino fundamental; • valorizar a gestão escolar do ensino fundamental, com a implementação de indicadores de qualidade e de rendimento escolar; • reduzir a repetência e a evasão escolar no ensino fundamental. PROGRAMAS Programa 1 - Aceleração da aprendizagem Objetivo • Assegurar a equidade nas condições de acesso, permanência e êxito escolar do aluno no ensino fundamental. 39 Instrumentos de Gestão Fiscal e Financeira Capítulo 2 Indicadores Unidade medida índice recente índice futuro Distorção idade/série do aluno % 46,00 45,00 Taxa de evasão % 3,90 3,00 Taxa de repetência % 23,20 19,00 Programa 2 - Escola de qualidade para todos Objetivo • Contribuir para a universalização do ensino fundamental de qualidade. Indicadores: Unidade medida índice recente índice futuro Taxa de conclusão do ensino fundamental % 96,00 97,00 Taxa líquida de escolarização do ensino funda- mental % 23,20 19,00 Fonte: VILLAÇA, Sérgio Paulo Vieira; CAMPOS, Silvia Butters. Gestão Fiscal Responsável. Cadernos IBAM 3. Elaboração do Plano Plurianual. IBAM, BNDES, 2001. p. 37-38. • Formulação das Alternativas de Ação Nesta etapa, para os programas definidos, determinam-se todas as alternativas de ações possíveis. Na sua execução deve-se formular o maior número possível de alternativas, para a sua eficiência e eficácia. As alternativas são descritas apresentando-se para cada uma delas: – Tipo da ação - as ações são classificadas quanto à sua natureza, devendo seguir a definição da Portaria 9/74 do Ministério do Planejamento e Coordenação Geral, que descreve Projeto e Atividade. Os outros elementos que compõem o tipo de ação são designados pelo sistema de planejamento. Assim, cada ação é classificada em: 40 Planejamento governamental e controle projeto – o instrumento de programação para alcançar os objetivos de um programa, envolvendo um conjunto de operações limitadas no tempo e das quais decorre um produto final, que concorre para a expansão ou aperfeiçoamento da ação do governo; atividade – o instrumento de programação para alcançar os objetivos de um programa, envolvendo um conjunto de operações que se realizam de modo contínuo e permanente, necessárias à manutenção da ação do governo. Para caracterizar a ação – projeto ou atividade – a ser executada, são utilizados os seguintes elementos: unidade de medida - para quantificar fisicamentea meta e o produto da ação, é utilizada uma unidade de medida adequada à ação que se está executando; meta - o resultado final pretendido para a ação e os intermediários, obtidos ao longo do período de planejamento (cronograma físico), expressos na unidade indicada; produto - a descrição sucinta do resultado da realização da ação; custos – recursos alocados e utilizados na realização da ação, decompostos nas parcelas relativas a cada período de planejamento (cronograma financeiro). – Operação Especial – é um conjunto de ações que não gera unidades de bens e serviços diretamente à população. – Determinação das Disponibilidades - para decidir o que realizar no período que a Lei local determinar, o administrador deve conhecer com precisão as suas disponibilidades financeiras para a criação, expansão ou aperfeiçamento dos serviços públicos de competência da entidade governamental, no caso, o Município. Esse conhecimento é possível pela visualização dos fluxos monetários no período, construída a partir de duas variáveis fundamentais: valor - montante monetário relativo a uma entrada (receita) ou saída (despesa) e tempo - o instante em que ocorre a entrada ou saída. • Estabelecimento das Alternativas de Ação De posse da disponibilidade ano a ano, o administrador pode decidir sobre o que fazer. Usando o resultado da etapa de Formulação das Alternativas de Ação, são selecionadas, respeitando as prioridades do governo, aquelas que podem ser realizadas diante dos recursos disponíveis. Estabelecimento das Alternativas de Ação é a materialização das ações priorizadas. 41 Instrumentos de Gestão Fiscal e Financeira Capítulo 2 d) Montagem do Plano Plurianual Uma vez decidido o que e quando realizar no quadriênio, resta apenas dar o formato final ao Plano Plurianual. Esse documento deve conter o máximo de informações possível, tendo em vista que é o documento básico para acompanhamento da ação governamental no período. Ele é enviado ao Poder Legislativo para discussão, aprovação ou rejeição. O documento é composto de: • mensagem - texto redigido, pelo Poder Executivo, em linguagem clara e objetiva. • projeto de Lei – texto que obedece a técnicas próprias da redação legislativa. • anexos – texto que apresenta as ações que serão desenvolvidas durante o período e que serão incluídas no orçamento anual. As Diretrizes Orçamentárias O Plano de Diretrizes deve constituir-se em ponto de referência de plataformas de governo e fonte alimentadora dos planos governamentais, das diretrizes orçamentárias e dos orçamentos anuais. Deve ter uma visão crítica e prospectiva, e tratar de: • definição do papel que o ente federativo (a União, o Estado, o Município e o Distrito Federal) exerce na sua região e o que a administração pode fazer para implementar ou modificar esse papel; • realização de diagnóstico sucinto sobre a situação atual do ente federativo, incluindo a caracterização e a problemática das políticas socioeconômicas que o constituem; • elaboração de objetivos gerais ou específicos a serem alcançados, nos próximos anos, com indicação de ações e projetos a serem desenvolvidos e reivindicações a serem encaminhadas aos órgãos competentes. Um plano de diretrizes consiste em um conjunto de objetivos e linhas de ação que servem para orientar o desenvolvimento local e melhorar as condições de vida da população. 42 Planejamento governamental e controle As Diretrizes Orçamentárias são orientações para a elaboração do orçamento e respectiva execução. Vale ressaltar que essas Diretrizes não se enquadram nas regras da Lei 4320/64 e da própria Lei Complementar 101/2000 (LRF). O conteúdo das Diretrizes Orçamentárias constitui-se de 5 (cinco) diretrizes-padrão estabelecidas nos artigos 165, § 2º, e 169, inciso 2, da Constituição da República, complementadas com os Anexos Fiscais estabelecidos no art. 4º, §§ e incisos respectivos, da Lei Complementar nº 101/2000. a) Diretrizes-Padrão São as diretrizes-padrão: Metas e prioridades para a administração pública; Orientação para a elaboração do orçamento; Alterações na legislação tributária; Política de aplicação das agências financeiras oficiais de fomento; Alterações na legislação de pessoal. • Metas e prioridades para a administração pública Sob esta diretriz, a entidade governamental (União, Estado, Município, Distrito Federal) discrimina as prioridades com as respectivas metas que devem ser alcançadas no período para o qual se elabora o orçamento. Nessa diretriz- padrão deve ser relatado o que se deve fazer para que as ações descritas no PPA sejam executadas, a fim de que as respectivas metas sejam concretizadas nas várias áreas de atuação do ente federativo, neste caso o Município, tais como Educação, Saúde, Administração. • Orientação para a elaboração do orçamento Nesta diretriz são descritas as metodologias de natureza estatística para a previsão das receitas e das despesas. Por exemplo, descrever a metodologia que deve ser adotada na previsão do Imposto Predial e Territorial Urbano - IPTU ou do Imposto sobre Serviço de qualquer Natureza - ISSQN, impostos de competência do Município, ou na previsão do Imposto de Circulação de Mercadorias e Serviços – ICMS, ou Imposto de Propriedade de Veículos Automotores – IPVA, impostos de competência do Estado. Ou, ainda, como descrever a metodologia que deve ser adotada na previsão de gastos com a educação, com a saúde etc. O documento Diretrizes Orçamentárias é um dos instrumentos que integram o sistema de planejamento governamental instituído no art. 165, §§ e incisos, da Constituição Federal. 43 Instrumentos de Gestão Fiscal e Financeira Capítulo 2 De acordo com o que dispõe o art. 12 da LRF, as previsões de receita devem: – observar as normas técnicas e legais; – considerar os efeitos das alterações na legislação, da variação do índice de preços, do crescimento econômico ou de qualquer outro fator relevante; – ser acompanhadas de: demonstrativo de sua evolução nos últimos três anos, projeção para os dois anos seguintes àquele a que se referirem, e metodologia de cálculo e premissas utilizadas. A Lei Complementar 101/2000 nos art. 4º, §§ e incisos respectivos, combinado com o art. 5º, III, amplia ou complementa a função dessa diretriz, com a adoção das seguintes subdiretrizes, as quais lhe devem ser alocadas, conforme se indica: equilíbrio entre receitas e despesas (art. 4º, I, a); limitações de empenhos (art. 4º, I, b); custos e avaliação de resultados (art. 4º, I, e); condições e exigências para as transferências de recursos a entidades públicas e privadas (art. 4º, I, f); reserva de Contingência, (art. 5º, III). As ações que compõem as subdiretrizes da diretriz Orientação para a elaboração do orçamento estão a seguir descritas: • Equilíbrio entre receitas e despesas (art. 4º, I, a) – descrever as providências que devem ser adotadas no sentido de se alcançar este objetivo: aqui se descrevem as ações a serem adotadas no sentido de promover a compatibilização das despesas com as receitas. • Limitações de empenhos (art. 4º, I, b) - descrever os critérios que orientarão as restrições sobre as despesas no sentido de se manter a compatibilização com as receitas, caso estas demonstrem queda na sua arrecadação. Lembramos, contudo, que não serão objeto de limitação as despesas que constituam obrigações constitucionais e legais do ente, inclusive aquelas destinadas ao pagamento do serviço da dívida, e as ressalvadas pela lei de diretrizes orçamentárias (ver. Art. 9º, § 2º, LC 101/2000 – LRF). 44 Planejamento governamental e controle • Custos e avaliação de resultados (art. 4º, I, e) - descrever as normas e metodologias de reconhecimento e apropriações de custos, bem como de avaliação de resultados. Um sistema de custo pode ter por objetivo: I – Formação de preços paraatividades de produção de produtos para venda e/ou prestação de serviços; II – Ajudar a Administração na decisão de alocar os recursos necessários à execução de outras atividades ou serviços a serem prestados à sociedade. • Condições e exigências para as transferências de recursos a entidades públicas e privadas (art. 4º, I, f) - descrever a destinação de recursos públicos para, direta ou indiretamente, cobrir necessidades de pessoas físicas ou déficits de pessoas jurídicas, devendo ser autorizada por lei específica, atender às condições estabelecidas na lei de diretrizes orçamentárias e estar prevista no orçamento ou em créditos adicionais. Esta determinação é aplicada a toda a administração indireta, inclusive fundações públicas e empresas estatais, no caso do Município. Compreende-se incluída a concessão de empréstimos, financiamentos e refinanciamentos, inclusive as respectivas prorrogações e a composição de dívidas, a concessão de subvenções, a participação em constituição ou aumento de capital e as transferências voluntárias na forma disposta no art. 25, parágrafos e incisos respectivos da Lei Complementar nº 101/2000. • Reserva de Contingência, (art. 5º, III) - que tem a sua autorização obrigatória na Lei Orçamentária. Esta autorização fará menção à forma de utilização e montante, definido com base na receita corrente líquida, e à destinação ao atendimento de passivos contingentes e outros riscos e eventos fiscais imprevistos. A LDO poderá prever um percentual da Reserva de Contingência para o Poder Legislativo, ainda que menor que o estabelecido para o orçamento do Poder Executivo, que terá a mesma finalidade. • Alterações na legislação tributária Esta diretriz determina que toda e qualquer alteração na legislação tributária do Município deve ser precedida de autorização da Lei de Diretrizes Orçamentárias, para ser aprovada na Lei pertinente. Assim, alterações em 45 Instrumentos de Gestão Fiscal e Financeira Capítulo 2 alíquotas tributárias, institucionalização de taxa, seja por prestação de serviços, seja pelo exercício do poder de polícia, deve ser sempre autorizada previamente na Lei de Diretrizes Orçamentárias. As concessões de incentivos fiscais, as anistias, remissões e outros atos que possam caracterizar ou implicar redução discriminada de tributos ou contribuições, na forma do art. 14 e respectivos incisos e parágrafos da Lei Complementar nº 101/2000 - LRF, devem ser previamente autorizados na Lei de Diretrizes Orçamentárias. • Política de aplicação das agências financeiras oficiais de fomento Nesta diretriz algumas esferas governamentais, tais como a União e o Estado, podem ter na sua estrutura organizacional agências financeiras, mediante as quais atividades de fomento são desenvolvidas. No âmbito da administração municipal é muito difícil encontrar algum Município que tenha agência financeira com esse objetivo, o que não impede, entretanto, que haja uma diretriz no sentido de incentivar o poder público local a alocar recursos no seu orçamento para o desenvolvimento industrial ou mesmo agropecuário, voltados para o crescimento socioeconômico local. Por exemplo: constituir um Fundo Especial, por lei municipal, com a indicação de certas receitas e a elaboração de um programa especial de trabalho, mediante o qual serão desenvolvidas ações de cooperação financeira com as classes produtoras, no sentido de desenvolver a economia local. • Alterações na legislação de pessoal Esta diretriz, de acordo com art. 169, caput, da Constituição da República, dispõe que a despesa com pessoal ativo e inativo de qualquer esfera governamental não pode exceder os limites estabelecidos em lei complementar (ver arts. 18 a 24, §§ e incisos respectivos da LC 101/2000). A concessão de qualquer vantagem ou aumento de remuneração, a criação de cargos, empregos e funções ou alteração de estrutura de carreiras, bem como a admissão ou contratação de pessoal, a qualquer título, pelos órgãos e entidades de administração direta ou indireta, inclusive fundações instituídas e mantidas pelo poder público, só podem ser feitas, conforme dispõem o § 1º e seus incisos I e II, do artigo 169: – se houver prévia dotação orçamentária suficiente para atender às projeções de despesas de pessoal e aos acréscimos dela decorrentes, e 46 Planejamento governamental e controle – se houver autorização específica na lei de diretrizes orçamentárias, ressalvadas as empresas públicas e as sociedades de economia mista. b) Anexos Fiscais O documento Diretrizes Orçamentárias é acompanhado de anexos cujo conteúdo diz respeito às metas fiscais, conforme o determinado no art. 4º, §§ 1º e 2º da LC 101/2000 e respectivos incisos e alíneas. Acompanham, pois, as Diretrizes Orçamentárias as metas anuais, estabelecidas em valores correntes e constantes, relativas a receitas e despesas, resultado nominal e primário e montante da dívida pública, para o exercício a que se referirem e para os dois anos seguintes, incluindo o anexo de riscos fiscais. Anexos Fiscais: – A avaliação do cumprimento das metas relativas ao ano anterior. – A memória e a metodologia de cálculo que justifiquem os resultados pretendidos, comparando-as com as fixadas nos três exercícios anteriores, e evidenciando a consistência delas com as premissas e os objetivos da política econômica. – A evolução do patrimônio líquido, também nos últimos três exercícios, destacando a origem e a aplicação dos recursos obtidos com alienação de ativos. Chama-se a atenção para esta exigência da Lei, que é feita em razão da importância que os temas envolvidos assumem, ou seja, a avaliação do desempenho da organização começa pelo conhecimento do seu patrimônio líquido e das razões que a levaram a sacrificar os seus ativos. – A avaliação da situação financeira e atuarial que abrange o regime próprio de previdência social dos servidores públicos do ente federativo. – A estimativa e compensação da renúncia de receita e da margem de expansão das despesas obrigatórias de caráter continuado. Anexo de riscos fiscais: Nesses anexos são avaliados os passivos contingentes e outros riscos capazes de afetar contas públicas, com informações sobre medidas a serem providenciadas, caso se concretizem. 47 Instrumentos de Gestão Fiscal e Financeira Capítulo 2 Apresentamos, a seguir, os procedimentos para os cálculos dos resultados primários e nominal, e da receita corrente líquida. • Resultado Primário O Resultado Primário é calculado tomando-se, primeiramente, as chamadas receitas oriundas das atividades municipais que são denominadas de Receitas Operacionais, tais como: Receita Tributária + Receitas de Serviços + Receitas Industriais + Receitas de Contribuições + Receita Patrimonial + Receitas de Transferências + Receitas Diversas. Entre as Receitas de Transferências, incluem-se as Receitas de Transferências de Capital. Da Receita de Contribuições exclui-se a Receita de Previdência, e da Receita Patrimonial excluem-se as Receitas de Juros de Aplicações Financeiras e as Receitas de Superávit, obtido nas alienações de bens. Tem-se, então, a Receita Operacional Total. Em seguida, das Despesas Correntes excluem-se as despesas referentes aos juros pagos e encontram-se as Despesas Correntes Líquidas. Por fim, o Resultado Primário é formado pela subtração do total das Despesas Correntes Líquidas da Receita Operacional Total, ou seja: Resultado Primário = Receita Operacional menos Total Despesas Correntes Líquidas As despesas que se consideram no cálculo do Resultado Primário são as que passaram pelo processo da liquidação, ou seja, as chamadas despesas processadas ou prontas para pagamento. • Resultado Nominal O Resultado Nominal é uma medida da capacidade de assumir novas obrigações em longo prazo, classificadas no Passivo Permanente, como Dívida Fundada, Dívida Consolidada ou Dívida Mobiliária. O Resultado Primárioé parâmetro para medir a capacidade da entidade de pagar as suas obrigações a curto e a longo prazos assumidas para financiar as suas atividades. 48 Planejamento governamental e controle É calculado a partir da seguinte fórmula: I - Ativo Financeiro Caixa Geral + (Caixas Vinculados - Caixa Depósito) = Caixa Líquido (Caixa Líquido + Receitas de Privatizações) - (Restos a Pagar + Serviços da Dívida a Pagar + empréstimo por Antecipação da Receita Orçamentária (ARO) = Ativo Financeiro Líquido II - Passivo Permanente Dívida Consolidada = Soma de todas as dívidas assumidas e inscritas no Passivo Permanente III - Resultado Nominal = Ativo Financeiro Líquido menos Dívida Consolidada Se a Dívida Consolidada for maior que o Ativo Financeiro Líquido, o Resultado Nominal é negativo e, nesse caso, fica demonstrada a incapacidade da entidade de assumir novas dívidas a longo prazo. A conta Restos a Pagar é composta apenas das despesas efetivamente empenhadas e processadas, ou seja, obrigações assumidas e não pagas até o dia 31 de dezembro do exercício financeiro. • Receita Corrente Líquida É apurada de acordo com o disposto no art. 2o, IV, da Lei Complementar 101/2000 (Lei de Responsabilidade Fiscal). Toma-se o somatório das receitas classificáveis como Receitas Correntes, deduzindo-se, deste total, os valores estabelecidos em a, b e c, do inciso IV, observando-se, contudo, as disposições contidas nos parágrafos 1o, 2o e 3o do artigo 2º, da citada Lei. Para saber mais, leia a Lei Complementar 101/2000 (Lei de Responsabilidade Fiscal). 49 Instrumentos de Gestão Fiscal e Financeira Capítulo 2 Atividade de Estudos: Com base nas informações contidas nas demonstrações contábeis do exercício 2010 de seu Município, procure calcular o Resultado Nominal conforme a fórmula indicada. Observe que: Resultado Nominal = Ativo Financeiro Líquido menos Dívida Consolidada ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ c) O Encaminhamento do Projeto de Lei das Diretrizes Orçamentárias ao Legislativo De acordo com o disposto no inciso II, do § 2º, do art. 35, Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, o projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias será encaminhado até oito meses e meio antes do encerramento do exercício financeiro e devolvido para sanção até o encerramento do primeiro período da sessão legislativa. O documento Diretrizes Orçamentárias deve ser aprovado por Lei em sessão legislativa que não poderá ser interrompida sem a aprovação do respectivo projeto de Lei, conforme o disposto no § 2º do art. 57 da Constituição da República, e terá vigência anual, podendo, entretanto, durante o exercício financeiro, ser alterado por mudanças nas prioridades governamentais. 50 Planejamento governamental e controle O Orçamento Anual O orçamento reflete o planejamento de curto prazo, englobando: • o planejamento socioeconômico, porque o Governo pode influir através da despesa ou da receita, e ainda do crédito, na conjuntura econômica e na promoção do bem-estar da população; • o planejamento financeiro, porque é talvez o mais valioso instrumento de que o administrador dispõe para programar as atividades do órgão que dirige, em consonância com as entradas de dinheiro; • o planejamento administrativo, porque através do orçamento se indicam as obras e os serviços que se pretende realizar dentro do exercício financeiro; • as responsabilidades da organização e de seus agentes na obtenção e na aplicação dos meios materiais, humanos e de outras naturezas na execução dos programas de trabalho, buscando assim cumprir a missão do Município junto ao cidadão. O orçamento é um instrumento que expressa, para um período de tempo definido, denominado exercício financeiro, as políticas, os programas de operações do governo e os meios de seu financiamento. Para cumprir as funções da política governamental, o governo utiliza a técnica do orçamento-programa introduzida pela Lei 4320 de 17 de março de 1964, na qual os recursos são organizados em programas de trabalho. Com relação a essas funções, Musgrave (1973. p. 60, grifo nosso) afirma: Estado [...] tem como finalidade o bem comum da sociedade, e a sua administração o dever e a obrigação de concretizá-lo. Para isto, deve alocar os recursos de forma a dar condições de funcionamento à máquina administrativa de modo eficiente e obter os resultados mais eficazes, exercitando, dentre as funções que lhe são pertinentes, as três seguintes: 1. O fornecimento de bens públicos, ou do pro cesso pelo qual a totalidade dos recursos é di vidida para utilização no setor público e no se tor privado, e pelo qual se estabelece a compo sição do conjunto dos bens públicos. Tal for necimento pode ser considerado como a fun ção alocativa da política orçamentária. Políticas reguladoras, que também poderiam ser consideradas como parte da função alocativa, não estão aqui incluídas porque elas não são basicamente um problema orçamentário. 51 Instrumentos de Gestão Fiscal e Financeira Capítulo 2 2. Ajustes na distribuição de renda e riqueza para assegurar uma adequação àquilo que a socieda de considera como um estado “justo” ou adequado de distribuição. Este ajuste será conhe cido como a função distributiva. 3. O uso da política orçamentária visando à ma nutenção de um elevado nível de emprego, um razoável grau de estabilidade do nível de pre ços, uma taxa apropriada de crescimento eco nômico, e ainda o alcance de estabilidade na balança de pagamentos. Nós nos referiremos à tentativa de alcançar esses objetivos como a função estabilizadora da política orçamentária. O orçamento evoluiu para aliar-se ao planejamento, surgin do o orçamento-programa como especialização que deve, na prática, operar como elo entre os sistemas de planejamento e de finanças. Com isso torna-se possível a operacionalização dos planos, porque os monetariza, isto é, coloca-os em função dos recursos financeiros disponíveis, permitindo que o planeja dor tenha os pés no chão, em face das disponibilidades dos recursos financei ros. Assim, o orçamento apresenta-se fundamentalmente como um instru mento de que o administrador dispõe para equacionar o futuro em termos rea lísticos, como um curso de ação, um programa operacional. A integração planejamento/orçamento é a tônica, hoje em dia, capaz de con sertar as distorções administrativas e remover os empecilhos institucionais que dificultam a modernização dos métodos e processos administrativos no Brasil. O orçamento, portanto, é uma técnica cujo maior significado consiste em ligar os sistemas de planejamento e de finanças pela expressão quantitativa financeira e física dos programas de trabalho de todas as esferas de governo. Responsabilidade da Administração: A concepção do orçamento em base gerencial traduz os órgãos como centros de responsabilidades ou de resultados e até de informações, em que se identificam as responsabilidades decisórias dos respectivos gestores pela utilização dos recursos que lhes são confiados para possibilitar a execução das ações nas áreas de responsabilidade em que o Estado desempenha suas atribuições. Essas responsabilidades são avaliadas mediante a utilização de indicadores de qualidade adequados às áreas em que atuam. A ideia central da Lei de Responsabilidade Fiscal é a integração dos sistemas de planejamento e de finanças. 52 Planejamento governamental
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