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Geração de Potência Prof. D.Sc. Cláudio de Castro Pellegrini Prof. M.Sc. Luis Antônio Scola Departamento de Ciências Térmicas e dos Fluidos Universidade Federal de São João Del-Rei Versão 2.02 Agradecimentos Agradecemos ao professor Sérgio A. A. G. Cerqueira, do DEMEC, pelo auxílio durante a preparação deste texto. Suas numerosas sugestões, explicações e críticas nos permitiram enriquecer esta segunda versão de Geração de Potência. Agrade- cemos também pelos muitos artigos enviados que, de uma forma ou de outra, termi- naram por aumentar nosso conhecimento sobre a matéria e também contribuíram para enriquecer o texto. Algumas figuras da parte de turbinas a gás foram direta- mente copiadas de suas notas de aula. Agradecemos à GE Aircraft Engines Division, na pessoa do Engenheiro Mauro C. Pellegrini, pela permissão para utilizar as imagens das turbinas a gás de fabrica- ção da GE incluídas neste trabalho. Agradecemos também pela doação dos carta- zes, das palhetas de turbina e dos diversos encartes ilustrados utilizados nas aulas expositivas. Agradecemos ao Professor Francisco Figueiredo, do DCTEF, por ceder sua cópia digitalizada da figura 2.14. São João del-Rei, fevereiro de 2005 2 Índice Agradecimentos ___________________________________________________________ 2 Índice ___________________________________________________________________ 3 Prefácio _________________________________________________________________ 5 1. Conceitos básicos sobre geração de energia elétrica __________________________ 6 1.1. Objetivos e pré-requisitos do curso _________________________________________ 6 1.2. Motivação _____________________________________________________________ 6 1.3. Máquinas _____________________________________________________________ 15 1.4. Geração de energia elétrica ______________________________________________ 15 1.5. Classificações das fontes de energia _______________________________________ 20 1.6. Máquinas de fluido _____________________________________________________ 21 1.7. Classificações das máquinas de fluido______________________________________ 23 1.8. Elementos mecânicos essenciais das máquinas de fluxo _______________________ 24 1.9. Classificações das máquinas de fluxo ______________________________________ 29 2. Principais componentes das centrais hidroelétricas _________________________ 30 2.1. Classificações e descrições _______________________________________________ 30 2.2. Partes componentes de uma central _______________________________________ 37 2.3. Panorama do aproveitamento hidroelétrico brasileiro. _______________________ 43 3. Turbinas hidráulicas __________________________________________________ 52 3.1. Energia disponível para as turbinas hidráulicas _____________________________ 52 3.2. Classificações das turbinas hidráulicas_____________________________________ 58 3.3. Tipos de TH fabricados em série atualmente ________________________________ 61 3.4. Escolha do tipo de turbina hidráulica______________________________________ 71 3.5. Desenvolvimentos recentes_______________________________________________ 74 4. Principais componentes das centrais termoelétricas _________________________ 76 4.1. Descrição e classificações ________________________________________________ 76 4.2. Partes componentes de uma central a vapor ________________________________ 79 4.3. Partes componentes de uma central nuclear a vapor _________________________ 86 4.4. Partes componentes de uma central a gás __________________________________ 96 4.5. Partes componentes das centrais a diesel __________________________________ 103 5. Fontes inesgotáveis e renováveis de energia ______________________________ 107 5.1. Energia eólica ________________________________________________________ 107 5.2. Energia oceânica ______________________________________________________ 116 5.3. Energia solar _________________________________________________________ 125 5.4. Células de combustível _________________________________________________ 128 3 6. Aspectos ambientais da geração de energia elétrica ________________________ 129 6.1. Aspectos gerais _______________________________________________________ 129 6.2. Aspectos ambientais da geração hidroelétrica ______________________________ 133 6.3. Aspectos ambientais da geração termoelétrica _____________________________ 133 6.4. Aspectos ambientais da geração térmica nuclear ___________________________ 134 6.5. Aspectos ambientais da geração eólica ____________________________________ 134 6.6. Aspectos ambientais da geração oceânica__________________________________ 134 6.7. Aspectos ambientais da geração solar_____________________________________ 135 Bibliografia ____________________________________________________________ 136 Sitografia ______________________________________________________________ 137 4 Prefácio Este texto foi criado para atender ao curso de Geração Termo-hidraúlica, disciplina eletiva de um semestre de duração, ministrada para o curso de Engenharia Elétrica da UFSJ. Posteriormente, foi sugerido que ele fosse utilizado em uma disciplina do novo currículo do curso de engenharia Mecânica que acabou sendo batizada com o nome deste texto, Geração de Potência. Desta forma, o material contido nesta se- gunda versão digital de Geração de Potência pode ser completamente coberto em uma disciplina de 60 horas e atende as exigências curriculares de muitos cursos de Engenharia Mecânica e Elétrica. Como acontece com muitos textos técnicos na área de engenharia, este come- çou com as notas de aula dos dois autores. Estas notas foram criadas devido à ine- xistência de um único texto que cobrisse todo o material que julgávamos necessário para o curso. Com o tempo, elas foram sendo expandidas até que o material tornou- se extenso demais para ser distribuído aos estudantes através de fotocópias. Neste ponto decidiu-se criar o texto que você tem em mãos agora. Para ilustrar os conteú- dos abordados, recorreu-se a material disponível na Internet, em páginas de empre- sas, de centros de pesquisa, de sites educacionais, governamentais, etc. Uma rela- ção dos sites utilizados aparece ao final da obra. Sempre que possível, o site de on- de o material ou a figura foi obtida foi citado no próprio texto ou na chamada da figu- ra. Como também acontece com muitos textos em engenharia, este está em con- tínua evolução e provavelmente nunca será considerado acabado por seus autores. O motivo é o óbvio: a engenharia, ciência e tecnologia subentendidas, está em con- tínua evolução e um texto desta natureza nunca está, de fato, atualizado. À medida que ciência e tecnologia avançam algumas considerações têm que ser incluídas, outras retiradas e outras, ainda, revistas. Além disso, os autores gostariam de explo- rar melhor alguns assuntos. Isso ainda não foi possível devido a um problema bas- tante comum aos professores universitários: a falta de tempo e recursos. É o caso dos aspectos ambientais ligados às diversas formas de geração de potência, em particular às mais recentes, como a solar e a eólica. Por fim, e nesse ponto não respondo pelo meu colega, eu nunca escrevi um parágrafo que o tendo relido alguns anos mais tarde não me causasse a impressão de que ele não poderia ser melhorado. Em algumas ocasiões, eu sequer reconheci meu próprio estilo na primeira leitura. Pensando nisso, eu realmente duvido que eu vá resistir à tentação – grande, por sinal – de modificar o texto atual. Esperemos que ao fazê-lo eu esteja trazendo para você um texto mais claro e conciso. Cláudio C. pellegrini Fevereiro de 2005 5 1. Conceitos básicos sobre geração de energia elé- trica 1.1. Objetivos e pré-requisitos do curso O curso de Geração de Potência tem por objetivo geral mostrar os diversos tipos de centrais geradoras de energia elétrica, seus componentes principais e seu impacto sobreo meio ambi- ente. Além disso, ao final do curso espera-se que o estudante esteja apto a reconhecer as prin- cipais vantagens, desvantagens e o campo de aplicação das turbinas térmicas e hidráulicas atualmente em uso. O objetivo do curso de Geração Potência não é ensinar o estudante a projetar turbinas ou centrais geradoras, mas mostrar como funcionam, quais seus componentes típicos e, por último, mas não menos importante, quais os termos técnicos utilizados na área. O curso se concentra nos dois tipos de centrais geradoras mais utilizados no Brasil: as termoelétricas e as hidroelétricas. Os outros tipos de geração são abordados com menos detalhes. O conhecimento necessário para o acompanhamento do curso inclui assuntos normal- mente incorporados aos cursos introdutórios de Mecânica dos Fluidos, Termodinâmica e Transferência de calor. Em muitos casos, os temas necessários encontram-se concentrados em uma única disciplina denominada Fenômenos de Transferência. 1.2. Motivação Existem diversas maneiras de gerar energia elétrica, muitas das quais ainda não são econômi- ca ou tecnicamente viáveis. As figuras a seguir ilustram diversos esquemas de geração. As principais serão abordadas com mais detalhes no decorrer do curso. Fig.1.1 – Central hidroelétrica de Itaipu, Foz do iguaçu, PR (divisa Brasil-Paraguai). Potência instalada de 12.600 MW. 6 Fig.1.2 – Central hidroelétrica de Itaipu. Fig.1.3 – Central hidroelétrica de Paulo Afonso, Rio São Francisco, entre os municípios de Delmiro Gouveia (AL) e Paulo Afonso (BA). 7 Fig. 1.4 – Central hidroelétrica de Tucuruí, PA, rio Tocantins. Potência instalada total (Tucuruí I e II) de 4.001 MW. Fig. 1.5 – Central Termoelétrica de Piratininga, São Paulo, SP, movida a óleo combustível. Potência instalada de 472 MW em 4 unidades geradoras. Fig. 1.6 – Central Termoelétrica de Itacoatiara, AM a óleo Diesel (esq). Potência instalada de 11,84 MW. Central Termoelétrica CTE-II, na CSN de Volta Redonda, RJ (dir) com 230 MW. 8 Fig. 1.7 – Central Termonuclear de Three Mile Island, Pennsylvania, EUA. Fig. 1.8 – Central Termo-nuclear de Chernobyl, Ucrânia, ainda em funcionamento. Parte da central foi destruída por um acidente em abril de 1986. 9 Fig. 1.9 – Central Termonuclear de Angra II, Angra dos Reis, RJ. Capacidade instalada pre- vista de 1350 MW. Fig. 1.10 – Turbina eólica em Olinda, PE (esq), com rotor de 29 m de diâmetro e potência nominal de 300 kW. Conjunto de turbinas na Costa Rica (dir) 10 Fig. 1.11 – Central Eólica na Califórnia, EUA. Mais de 5000 turbinas instaladas, com potên- cia nominal de 50 kW por turbina Fig. 1.12 – Central Geotérmica de Miravalles, Costa Rica, parte do complexo Miravalles- Bagaces-Guanacaste 11 Fig. 1.13 – Concepção artística de um Conversor de Energia Térmica dos Oceanos (OTEC) tipo TRW. Supõe-se que a central de 50 m de altura e 100 de diâmetro fornecerá 100 MW Fig. 1.14 – OTEC de ciclo aberto localizado no Energy Laboratory of Hawaii Authority (NELHA) em Keahole Point, no Hawaii. 12 Fig. 1.15 – Central Marémotriz na foz do rio La Rance, próximo a Saint-Malo, França, com potência instalada de 240 MW (esq). Central de aproveitamento da energia das ondas em Vi- zhinjam, Índia (dir). Fig. 1.16 – Central Solar Solar I, Califórnia, EUA, com potência instalada de 10 MW. Fig. 1.17 – Painéis fotovoltaicos montados na Beverly High School, Massachusetts, EUA. Cerca de 10 % da eletricidade usada é suprida por este sistema de células solares. 13 Fig 1.18 – Esquema de célula de combustível de placas bipolares e meio gasoso (esq) e uni- dade do Energy Research Corporation em Santa Clara, EUA (dir) Fig 1.19 – Central com célula de combustível no Central Park, New York, EUA. 200 kW de potência Fig 1.20 – Automóvel movido a célula de combustível. 14 1.3. Máquinas Em geral, máquina é qualquer dispositivo construído pelo homem capaz de transformar ener- gia. Toda máquina recebe energia de um tipo e restitui energia de outro tipo ou do mesmo tipo modificada. Em diversos tipos de máquinas, a energia de entrada e/ou a de saída aparece sob a forma de trabalho mecânico. O exemplo mais simples de máquina é um motor elétrico. Motores elétricos transfor- mam energia elétrica em energia mecânica de rotação se seu eixo. Já um ventilador, recebe energia elétrica e restitui energia de pressão e/ou cinética do ar que movimenta (dependendo de como se define o contorno da máquina). Um transformador elétrico, recebe energia elétrica a uma determinada tensão e a restitui em outra. Um elevador de carga, recebe energia elétrica e restitui energia potencial gravitacional à carga que eleva. É interessante notar que, conforme forem definidas as fronteiras da máquina, pode vari- ar o tipo das energias de entrada e/ou saída. No caso do ventilador, se considerarmos como máquina apenas a hélice, a energia de entrada passa a ser mecânica, fornecida pelo eixo. No caso do elevador, acontece o mesmo, se excluirmos o motor elétrico do sistema. O Esquema 1.1 mostra a representação simplificada de uma máquina. Pode-se observar a existência de uma energia perdida na saída, pois nos processos reais sempre ocorrem perdas devidas a atrito, efeito Joule, expansão não resistida de gases, trocas de calor, deformações não elásticas de materiais, mistura e reação química de substâncias, etc. Independentemente das perdas, a Primeira Lei da Termodinâmica impõe que a energia de entrada seja a soma das energias de saída e perdida. Em geral, o meio que recebe a energia perdida não é o mesmo que recebe a energia de saída. Apesar disso, contudo, em última análise, tanto a energia per- dida quanto a de saída acabam, de uma forma ou de outra, sendo restituídas ao meio ambien- te. Este é, fundamentalmente, o impacto exercido pelo ser humano sobre o meio ambiente com a utilização de máquinas. Fonte de energia Energia de entrada Máquina Energia de saída Energia perdida Fig. 1.1 – Representação simplificada de uma máquina 1.4. Geração de energia elétrica Geração de energia elétrica é a transformação de algum tipo de energia disponível em energia elétrica. Em Engenharia Mecânica, a máquina que inicia este processo é chamada máquina geradora. É o caso, por exemplo, das turbinas hidráulicas. O conjunto da máquina geradora com os outros equipamentos necessários à sua utilização é denominado central geradora. A tabela 1 resume as principais formas de geração de energia elétrica conhecidas, classifica- das de acordo com o tipo de energia de entrada na central geradora. 15 Tabela 1.1 – Principais formas de geração de energia elétrica Fonte de Energia Energia de Entrada Tipo de fonte de energia Máquinas utilizadas na transformação Combustível Predominantemente térmica Petróleo e derivados Gás de biomassa Álcool Derivados de xisto Carvão vegetal ou mineral Nuclear Lixo Turbinas á gás (TG, fig. 1.21) ou vapor (TV, fig. 1.22), Moto- res de combustão inter- na (MCI, fig. 1.23) Planeta Térmica Gêiseres Vulcões Altas temperaturas do inte- rior do planeta TV Campo gra- vitacional Hidráulica Água dos rios Água das marés Turbinas hidráulicas (TH, fig. 1.24) Sol Solar Radiação solar Células fotovoltaicas (fig. 1.17), TV Vento Eólica Vento médio Turbina eólica (figs. 1.10-1.11) Oceano Potencial gravitacional, térmica Ondas, diferença vertical de temperaturas, correntes marítimas Turbina a ar (fig. 1.15), OTEC (figs. 1.13-1.14) Elementos químicos Química Diversas combinações de elementos químicos Bateria (pilha galvân.) Células de combustível (figs. 1.18-1.20) Ainda não existe consenso na literatura a respeito de como denominar os diversos tipos de geração de energia elétrica. Ela é geralmente tipificada de acordo com aenergia de entrada utilizada. Deste modo fala-se, por exemplo, de geração eólica e solar na literatura. Em alguns casos, porém, a denominação vem da fonte de energia utilizada. É o caso, por exemplo, da energia oceânica que, de acordo com o critério anterior, seria denominada energia potencial, um nome, de fato, nada esclarecedor. Dentro deste quadro de falta de consenso, a geração por meios químicos raramente recebe uma denominação específica. Em alguns textos produzidos no Brasil, optou-se por chamar a geração que utiliza energia de entrada térmica ou hidráulica de geração termo-hidráulica. Isso se deve ao fato de que praticamente só existiam estas duas formas de geração no país, na época em que os mencionados textos foram escritos. Vale a pena observar que, em última análise, quase toda a energia disponível na Terra é proveniente do Sol. Constituem exceções a energia das marés, proveniente do campo gravitacional e a geotérmica e a nuclear, ambas sub-produtos da formação do planeta. Desta forma, as Fontes de Energia listadas na Tabela 1 são, de fato, as fontes secundárias. As figuras a seguir ilustram algumas das máquinas mencionadas na tabela 1.1. 16 Fig. 1.21 – Turbina a gás. Fig. 1.22 – Turbina a vapor D11, fabricada pela General Eletric. 17 Fig. 1.23 – Motores Diesel usados em geração de energia elétrica. 18 Fig. 1.24 – Turbinas hidráulicas tipo Pelton (em cima), Kaplan (no meio) e Francis (em baixo). 19 1.5. Classificações das fontes de energia As fontes de energia podem ser classificadas segundo diversos critérios. As duas classificações mais comuns as dividem em renováveis e não renováveis e em convencionais e não convencionais. Estes termos não apresentam uma distinção clara em muitos dos textos consultados. Alguns associam energias não convencionais a energias renováveis. Outros consideram renovável apenas a energia hidráulica, solar e eólica. Outros ainda não fazem qualquer distinção entre os termos. íferas. tc. De todo modo, o que é considerado convencional em um país pode não ser em outro, como é o caso da energia hidráulica (contida no campo gravitacional) e da nuclear. Enquanto no Brasil a hidráulica é a fonte mais convencional de geração de energia elétrica, nos EUA e na Europa grande parte da energia é proveniente da fonte nuclear. Para os propósitos deste texto, é proposta a seguinte classificação: 1a. classificação: quanto ao tempo de esgotamento da fonte • Fontes inesgotáveis ou inexauríveis • Fontes esgotáveis ou exauríveis As fontes consideradas inesgotáveis são aquelas das quais se pode extrair durante um período de tempo muito longo sem esgotá-la, pelos padrões de consumo atuais. Exemplos são os combustíveis nucleares, as altas temperaturas do interior do planeta (fonte geotérmica), o campo gravitacional etc. As fontes esgotáveis, por outro lado, podem ser exauridas num período consideravelmente mais curto, o exemplo mais evidente sendo o petróleo, e podendo- se citar a madeira, o xisto, os carvões vegetal e mineral. Evidentemente, o período de tempo que separa as fontes esgotáveis das inesgotáveis é estritamente convencional e sujeito a redefinições futuras. No momento poder-se-ia considerar como fronteira um tempo da ordem de 100 anos, que é a expectativa de duração das reservas petrol 2a. classificação: quanto à duração do ciclo de renovação da fonte • Fontes renováveis • Fontes não renováveis As fontes renováveis são aquelas que, dependendo de providências apropriadas, podem ser repostas por um período de tempo bastante longo para os padrões de consumo atuais. Alguns exemplos são a madeira, o bagaço de cana, o álcool, o gás de biomassa, o carvão vegetal, etc. As fontes não renováveis não podem ser repostas, independentemente da ação humana. Exemplos os derivados do petróleo, do xisto, os elementos químicos, radioativos ou não, e É interessante mencionar que quanto à duração do ciclo de renovação da fonte, o Sol é uma fonte não renovável. Este aparente contra-senso explica-se pelo fato que, na classificação relativa ao tempo de esgotamento da fonte, o Sol é considerado inesgotável e, portanto, não necessita ser renovado. O mesmo acontece com a energia contida nos ventos, nos oceanos e no campo gravitacional. 20 1.6. Máquinas de fluido Define-se como máquina de fluido aquelas em que o meio operante, isto é, o meio onde se processa a transformação de energia, é um fluido. Exemplos de máquinas deste tipo são bom- bas (fig. 1.25), ventiladores (fig. 1.26), compressores (fig. 1.27), rodas d’água, turbinas a gás (fig. 1.21), a vapor (fig. 1.22), hidráulicas (fig. 1.24) ou eólicas (figs. 1.10 e 1.11), motores de combustão interna (fig. 1.23), motores de foguete, acionadores hidráulicos e pneumáticos (fig. 1.28), trocadores de calor (fig. 1.29), etc. Uma outra definição equivalente para máquinas de fluido é a seguinte: máquinas de fluidos são aquelas em que um fluido recebe a energia que a máquina fornece ou fornece a energia que a máquina recebe. Uma vez que apenas alguns tipos particulares de máquinas de fluido são o objetivo des- te texto, nenhuma classificação geral das máquinas será proposta. Como exemplos de outros tipos de máquina, citamos as máquinas transportadoras, as elevadoras e as ferramentas. Fig 1.25 – Bomba radial, de estágio simples e sucção simples (esq). Bomba radial , multi- estágio, vazão máxima 56 m3/h, pressão máxima de 28 bar (dir) Fig 1.26 – Ventilador radial (esq) e rotor de ventilador axial (dir) 21 Fig. 1.27 – Compressor radial da família Turbo Air 2000, que tem potência entre 150 e 350 HP (esq). Compressor alternativo de dois estágios (dir) Fig. 1.28 – Acionador hidráulico no braço de uma escavadeira. Fig. 1.29 - Dois modelos de trocador de calor do tipo casco e tubo 22 1.7. Classificações das máquinas de fluido As máquinas de fluido podem ser classificadas segundo diversos critérios. Aqui adotamos os critérios utilizados por Mataix (1975). Eles são: • Princípio de funcionamento; • Compressibilidade do escoamento; • Sentido da transmissão da energia. Segundo o primeiro critério, as máquinas de fluido dividem-se em máquinas de fluxo e volumétricas. De acordo com o segundo critério, dividem-se em máquinas térmicas e hidráu- licas e de acordo com o terceiro, em máquinas motoras e geradoras. Cada um destes tipos de máquina será estudado a seguir. 1.7.1. Máquinas volumétricas e de fluxo Máquinas volumétricas (MV) são aquelas em que a transformação energética se dá através de forças de pressão que agem sobre o fluido, no interior de câmaras de volume determinado. Neste tipo de máquina, uma certa quantidade de fluido é retida em uma câmara, onde sofre variações de pressão devidas à variação de volume da câmara. As máquinas volumétricas também são chamadas de máquinas de deslocamento positivo. Máquinas de fluxo (MF) são aquelas em que a transformação energética principal se dá através de forças devidas à variação da quantidade de movimento do escoamento, ao passar por um órgão rotativo dotado de pás, denominado rotor. As máquinas de fluxo também são chamadas de turbomáquinas. Ao contrario do que ocorre nas máquinas de volumétricas, nas máquinas de fluxo, o fluxo de massa é contínuo. Aplicações dos dois tipos de máquinas são bastante numerosas em engenharia. Incluem- se entre as MF, turbobombas (fig. 1.25), turbinas a gás (fig. 1.21), vapor (fig. 1.22), hidráuli- cas (fig. 1.24) e eólicas (figs. 1.10 –1.11), ventiladores (fig. 2.26) e turbocompressores (fig 1.27 esq). Dentre as MV, podemos citar todas as máquinas de êmbolo, dentre as quais desta- cam-se as bombas, os compressores (fig 1.27 dir), os MCI (fig 1.23), as máquinas a vapor, os cilindros hidráulicos (fig. 1.28) e pneumáticos, etc. São também MV as máquinas que utili- zam membranas e as máquinas rotativas, de lóbulos, de engrenagens, deparafuso ou de palhe- tas (fig. 1.30). Fig. 1.30 – Bomba de engrenagens (dir) e de diafragma (esq) 23 1.7.2. Máquinas térmicas e hidráulicas Define-se Máquinas hidráulicas (MH) como aquelas em que as variações de massa específica do fluido de trabalho são pequenas e podem ser desprezadas em seu projeto. As Máquinas térmicas (MT), por outro lado, são aquelas em que as tais variações não são desprezíveis, devendo ser levadas em conta durante o projeto. Exemplos de MH são as turbinas hidráulicas e as eólicas, as bombas e os acionadores hidráulicos de todos os tipos e a maioria dos ventiladores. Exemplos de MT são os turbocompressores e os compressores a pistão, os MCI, as turbinas a gás e a vapor e os acionadores pneumáticos. rficial. radial. a TG. 1.7.3. Máquinas motoras e geradoras Máquinas motoras (MM) são aquelas em que o fluido cede energia à máquina, saindo, portanto, com menos energia do que entra. Máquinas geradoras (MG) são aquelas em que o fluido recebe energia da máquina, saindo assim com mais energia do que entra. Exemplos de MM são todos os tipos de turbina, os MCI e os acionadores hidráulicos e pneumáticos. Entre as MG incluem-se as bombas, os ventiladores e os compressores. Os três critérios de classificação apresentados acima aplicam-se simultaneamente a todo tipo de máquina de fluido. Deste modo, um ventilador é uma MF, MH, MG, uma turbina a gás é uma MF, MT, MM, uma turbina hidráulica é uma MF, MH, MM e o MCI é uma MV, MT, MM. O presente curso de Geração Potência concentra-se no estudo das máquinas de fluxo, motrizes, hidráulicas e térmicas (as turbinas hidráulicas e as turbinas a gás ou vapor, respectivamente). Os motores Diesel e as máquinas associadas a tipos não convencionais de geração elétrica (turbinas eólicas, por exemplo) serão estudados de forma mais supe 1.8. Elementos mecânicos essenciais das máquinas de fluxo Assim como muitas máquinas, as MF’s são, em princípio, bastante simples. Existem apenas dois componentes mecânicos essenciais: o rotor e o sistema diretor. O rotor é o elemento móvel, uma roda dotada de pás, ligada ao eixo para o qual o trabalho mecânico é enviado (nas MM) ou do qual é recebido (nas MG). O sistema diretor é o elemento fixo; um conjunto de pás fixas, ajustáveis ou não, responsável por guiar o fluido de trabalho incidente no rotor (nas MM) ou proveniente dele (nas MG) da maneira desejada. Diversos exemplos particulares de rotores e de sistemas diretores já foram mostrados nas figuras apresentadas anteriormente. As figs. 1.10 e 1.11 mostram rotores de turbinas eólicas, a fig. 1.21 o de uma TG, a fig. 1.22 o de uma TV, a fig. 1.24 o de TH e a fig. 1.26 (dir) o de um ventilador axial. A fig. 1.24 mostra o sistema diretor de algumas TH, a fig. 1.25 o de duas bombas radiais, a fig. 1.26 (esq) o de um ventilador radial e a fig. 1.27 o de um compressor Outros rotores e sistemas diretores aparecem em mais detalhes nas figs. 1.31–1.35. As figs. 1.31–1.33 mostram TH radiais, axiais, tangenciais e diagonais (os detalhes desta classificação serão estudados adiante). Os sistemas diretores das TH radial, diagonal e axial são essencialmente o mesmo. O da TH Pelton consiste em seu injetor de água. A fig. 1.34 mostra uma bomba radial e a fig. 1.35 mostra detalhes do rotor de dois estágios de um 24 O rotor é o elemento das MF onde são processadas as principais transformações de energia. As pás de que é dotado, o divide em canais ou conchas por onde circula o fluido de trabalho, que o preenche total ou parcialmente. Quando o preenchimento é total, como nas TH Francis, a MF é dita de admissão total e quando é parcial, como nas TH Pelton, de admissão parcial. Muitos tipos de máquinas contam com vários estágios, compostos por um rotor e um sistema diretor que recebem o mesmo fluido de trabalho sucessivamente. É o caso das TG’s e TV’s e das bombas. As TH modernas apresentam sempre um só estágio. O sistema diretor não possui configuração definida, apresentando-se sob as mais diversas formas em diferentes MF’s. Nas TG’s, por exemplo, o sistema diretor é um conjunto de pás fixas à carcaça que, em alguns modelos, apresenta direcionamento ajustável. As TH apresentam projeto semelhante mas com pás sempre ajustáveis, destinadas ao controle do fluxo de entrada. Elas também processam parte da transformação energética sofrida pelo fluido de trabalho. Nas bombas, o sistema diretor não apresenta pás na maioria dos casos. Ele é um conduto em forma de caracol, geralmente denominado voluta ou caixa espiral, constituído pela própria carcaça do equipamento e que também processa parte da transformação energética. Nas TH, o caracol é denominado caixa espiral. tor. gua estrangeira. ntes, etc. Pelas descrições anteriores percebe-se que o sistema diretor pode apresentar outras funções além do direcionamento do fluido de trabalho. As turbinas eólicas das figs. 1.10 e 1.11 ilustram a existência de MF’s destituídas de sistema dire Dependendo do tipo de MF, rotor e sistema diretor muitas vezes recebem diversas designações diferentes. Nas turbinas a gás, por exemplo, o rotor é habitualmente chamado roda móvel e suas pás palhetas; o sistema diretor é chamado roda fixa e suas pás simplesmente pás. Nas turbinas hidráulicas, o sistema diretor é usualmente denominado sistema adutor, distribuidor ou injetor. Nas bombas, o sistema diretor é referido como difusor e o rotor como impelidor. Um grande número de nomes distintos pode ser encontrado na literatura para designar os componentes das MF, alguns inclusive decorrentes de traduções questionáveis do termo original em lín Em resumo, pode-se dizer que uma MF é essencialmente composta por um rotor que recebe fluido do sistema diretor (nas MM) ou o envia para ele (nas MG). O funcionamento destes dois componentes básicos, entretanto, só é viável com o uso de diversos outros componentes acessórios, que acabam sendo responsáveis pela grande complexidade destas máquinas. Dentre estes, estão sempre presentes eixos e mancais, vedações e carcaça. Dependendo do tipo de máquina, aparecem também acoplamentos mecânicos de eixos, caixas de redução, sistemas de lubrificação, refrigeração, injeção (ou alimentação) de combustível e controlador eletrônico associado, sistema de descarga, válvulas de controle, filtros de emissão de polue 25 Fig. 1.31 – Rotor e sistema diretor das TH Francis radiais de Itaipu Fig. 1.32 – Rotores diagonal (esq) e axial (dir) de TH Francis e Kaplan. 26 Fig. 1.33 – Rotor tangencial e esquema de uma TH Pelton Fig. 1.34 – Rotor de três camadas de bomba radial (esq) e esquema mostrando a voluta (dir). Para ver a animação de uma bomba radial em funcionamento visite www.lingolex.com/bilc/pump1.gif 27 Fig. 1.35 – Turbina de alta pressão em dois estágios, fabricada pela GE. Parte do motor aeronáutico CF34-8C1. Fig. 1.36 – Esquema de funcionamento dos vários estágios de uma TG (esq.) Rotor da TG CF6-80E1, que equipa a aeronaves A300, mostrando os canais de circulação do ar de refrigeração (dir.). 28 1.9. Classificações das máquinas de fluxo Como mencionado anteriormente, as MF podem ser classificadas quanto à compressibilidade do escoamento e quanto ao sentido de transmissão da energia em seu interior. Deste modo, as MF podem ser térmicas ou hidráulicas e motoras ou geradoras. Outra classificação possível diz respeito à direção do escoamento à entrada do rotor nas MM (ou saída nas MG) e em relação ao seu eixo. As MF dividem-se em: • Máquinas radiais; • Máquinas axiais; • Máquinas diagonais; • Máquinas tangenciais. Nas máquinas radiais, o vetor velocidade do fluido possui componentes radial e tangencial. Nas axiais, possui componentes axial e tangencial. Nas diagonais, possui componentes axial, radial e tangencial. Nas máquinas tangenciais,o vetor velocidade só possui componente tangencial. É interessante observar que em todos os tipos de máquina, o escoamento possui a componente de velocidade tangencial e as outras duas componentes é que são responsáveis pela denominação da máquina. Em resumo, ) ) ) ) lta a sua fabricação. ( 0,, θVVV r= : máquina radial; ( zVVV ,,0 θ= : máquina axial; ( zr VVVV ,, θ= : máquina diagonal; ( 0,,0 θVV = : máquina tangencial; As figs. 1.31 e 1.33 ilustram a classificação das MF quanto à direção do escoamento utilizando rotores de TH. A TH Francis da fig. 1.31 é uma máquina radial, a TH Francis da fig. 1.32 (esq) é uma máquina diagonal, a TH Kaplan da fig. 1.32 (dir.) é axial e a TH Pelton da fig. 1.33 é tangencial. As TH são as únicas MF disponíveis nos quatro tipos de projeto. As bombas e os ventiladores são sempre radiais, axiais ou diagonais, as turbinas eólicas são radiais ou axiais e a maioria das TG’s e TV’s de grande porte são axiais. A moderna tendência de se utilizar pequenas unidades para geração distribuída de energia elétrica tem sido responsável pelo uso de TG radiais. Projetos de TG de pequena potência axiais especificam o uso de palhetas muito pequenas, o que compromete a eficiência da máquina e dificu 29 2. Principais componentes das centrais hidroelétricas e energia elétrica. : Uma central geradora é composta pela máquina geradora e por um número de outros equipamentos necessários à sua utilização. Baseado nesta definição, define-se central hidroelétrica como o tipo de central geradora que utiliza uma máquina hidráulica para geração d 2.1. Classificações e descrições A transformação da energia hidráulica (potencial gravitacional, de pressão e cinética) em energia elétrica, realizada num conjunto TH—gerador, exige que se disponha de uma certa vazão de água, gerada por um desnível entre dois reservatórios conhecidos como reservatório de captação e reservatório de descarga. Nas centrais instaladas em rios, este desnível pode ser natural, devido à topografia do terreno, ou artificial, criado pelo uso de uma barragem. Nas centrais maremotrizes tradicionais, o desnível é gerado pela diferença de alturas entre a preamar e a baixa-mar. Este tipo de central é ainda bastante incomum e será estudado em um capítulo à parte. As centrais instaladas em rios representam a grande maioria das centrais em funcionamento atualmente no Brasil e serão estudadas em detalhes a seguir. Há diversos critérios segundo os quais as centrais hidroelétricas instaladas em rios podem ser classificadas. Algumas classificações encontradas na literatura são as seguintes • Quanto à finalidade da central; • Quanto ao tipo do reservatório; • Quanto à queda; • Quanto à potência; • Quanto à forma de captação da água; • Quanto ao sistema de fornecimento de energia; • Quanto à sua função na rede de distribuição de energia: Elas serão estudadas separadamente a seguir. 1a. classificação: quanto à finalidade da central: • Centrais que produzem somente trabalho mecânico • Centrais que produzem somente energia elétrica • Centrais que produzem energia elétrica e cujo reservatório se presta a outras finalidades As centrais que produzem somente trabalho mecânico são bastante incomuns no Brasil. As centrais que produzem apenas energia elétrica são as mais habituais em nosso país, mas interessantemente são consideradas economicamente pouco viáveis por alguns autores euro- peus. As outras finalidades possíveis para o reservatório são irrigação, navegação, forneci- mento de água para consumo humano, proteção contra inundações, turismo e lazer. Eviden- temente, as centrais brasileiras desempenham a maioria destas funções, ainda que não de for- 30 ma planejada como os autores europeus provavelmente supõe em sua análise. A fig. 2.1 mos- tra um reservatório destinado à proteção contra inundações, nos EUA. Fig. 2.1 – Reservatório destinado a controle de inundações, Pittsburgh, Pennsylvania, EUA. 2a. classificação: quanto ao tipo do reservatório • Centrais com reservatório de regularização (ou de acumulação). • Centrais com reservatório de captação (ou a fio d’água ou de água corrente); • Centrais de acumulação por bombeamento. Todas as centrais possuem algum tipo de reservatório, criado por uma barragem artificial. As centrais que possuem grandes reservatórios, com capacidade de regularização anual ou plurianual da vazão do rio, são chamadas centrais com reservatório de regularização. É o caso da maioria das centrais brasileiras, como a de Itaipu, a de Paulo Afonso e a de Tucuruí, figs. 1.1—1.4. As que possuem reservatórios com capacidade inferior, são chamadas centrais com reservatório de captação (fig. 2.2). âmetro. s subseqüentes períodos de falta. Nas centrais com reservatório de captação, toda água que chega ao reservatório e não é utilizada, escoa sobre vertedouros e é perdida, do ponto de vista energético, junto com a potência que seria gerada a partir dela. Nos períodos de seca, pode ser necessário tirar uma ou mais turbinas de operação em centrais deste tipo, o que resulta num fornecimento irregular de energia durante o ano. A fig. 2.2 (esq) mostra a central hidroelétrica de Calderas na Espanha, cujo reservatório, com capacidade de 330.000 m3 é suficiente para apenas aproximadamente 13 horas de operação (à vazão de 6,7 m3/h). A central opera com 2 turbinas tipo Pelton, de eixo vertical, com 6 injetores cada, velocidade de 240 rpm e potência nominal de 13 MW cada, a 152,5 m de queda média. A fig. 2.2 (dir) mostra a central de Luiz Carlos Barreto Carvalho (ex central de Estreito), perto de Franca, SP, com 60,8 m de queda nominal, potência nominal de 1.050 MW fornecida por 6 TH Francis de eixo vertical, com rotor de 5,8 m de di As centrais de acumulação por bombeamento (fig. 2.3) são um recurso utilizado para armazenar energia hidráulica em países em que geração não é predominantemente hidroelétrica. O sistema é composto de dois reservatórios, um superior e um inferior. Quando existe falta de potência na rede de distribuição, a central opera gerando energia com a água escoando do reservatório superior para o inferior. Quando existe sobra, a central opera bombeando água no sentido contrário, para armazenar energia a ser utilizada no 31 Fig. 2.2 – Centrais hidroelétricas com reservatório de captação: Calderas, Espanha (esq) e Luiz Carlos Barreto Carvalho (ex central de Estreito, dir.), perto de Franca, SP. Fig. 2.3 – Esquema de uma central hidroelétrica de acumulação por bombeamento. 3a. classificação: quanto à queda bruta (em m): • Centrais de baixíssima queda: 10≤bH • Centrais de baixa queda: 5010 ≤≤ bH • Centrais de média queda: 25050 ≤≤ bH • Centrais de alta queda: bH≤250 Antes de tudo, é preciso definir o que se entende por queda bruta, um conceito que será explicado com mais detalhes no próximo capítulo. Entende-se como queda bruta, a diferença de alturas topográficas entre os reservatórios de captação e de descarga de uma central. A figura 2.4 (esq) ilustra o conceito com um esquema de uma central de baixíssima queda. Ente as centrais de alta queda pode-se citar a de Laures, Itália, instalada em uma queda bruta de 2.030 m. No outro extremo da escala, há a central de Nagahamadi, Egito, que utiliza uma queda variando de 2,4 a 4,4 m. Um limite superior de altura para o aproveitamento hidroelétrico teoricamente não exis- te. Quedas muito altas podem ser aproveitadas, utilizando-se centrais intermediárias construí- das ao longo da queda. À medida que as quedas vão diminuindo, o percentual de energia con- sumido por atrito hidrodinâmico vai aumentando. Eventualmente, é atingido um ponto em que 32 a central torna-se economicamente inviável, devido à sua baixa eficiência. Este limite, entre- tanto, depende da tecnologia utilizada. Atualmente, não é interessante aproveitar quedas abai- xo de 2 m. É interessante, contudo,observar que os limites da classificação anterior não são rígi- dos. Eles variam com o tempo, à medida que a tecnologia avança e também (consideravel- mente) de autor para autor. Ene rgia Fig. 2.4 – Esquema de central hidroelétrica de baixíssima queda, ilustrando a diferença entre os níveis dos reservatórios de captação e de descarga. Fig 2.5 – Central hidroelétrica de Porto Colômbia (esq.), SP: baixa queda (19,30 m). Central de Henry Borden (dir.), Cubatão, SP: alta queda (720 m). A central hidroelétrica de Porto Colômbia (fig. 2.5, esq.) é do tipo de baixa queda, rara no Brasil, com queda de 19,30 m. Localizada a 50 Km de Barretos, SP. Sua potência instalada é de 320 MW, fornecida por 4 TH Kaplan de 5,5 m de diâmetro. A central hidroelétrica de Itaipu, trabalha numa queda de 118,4 m e é, portanto, considerada de média queda. O complexo Henry Borden (fig. 2.5, dir.), localizado no sopé da Serra do Mar, em Cubatão, SP, é composto por duas usinas de alta queda (720 m), denominadas Externa e Subterrânea, compostas por 14 grupos geradores acionados por TP, perfazendo uma capacidade instalada de 889 MW, para uma vazão de 157 m3/s. 33 4a. classificação: quanto à potência (em MW): • Microcentrais: 1.0≤N • Minicentrais: 11.0 ≤≤ N • Pequenas centrais: 101 ≤≤ N • Médias centrais: 10010 ≤≤ N • Grandes centrais: N≤100 Os limites deste critério também não são rígidos; variando de acordo com o autor e com a região considerada. Na Europa, por exemplo, as minicentrais da classificação acima são consideradas pequenas. Além disso, uma central que nos anos 50 seria considerada grande, hoje em dia pode ser considerada média, pois as potências cresceram mais de mil vezes ao longo do século XX. A fig. 2.6 fornece dados de potência de algumas das maiores centrais do mundo. A cen- tral de Itaipu, no rio Paraná, é a maior, com potência instalada de 12.600 MW, fornecidas por 18 turbinas Francis de 700 MW cada. A central de Três Gargantas na China, encontra-se em construção, e sua potência instalada prevista é de 18.200 MW, fornecida por 26 TH Francis de 680 MW cada. Fig.2.6 – Maiores centrais hidroelétricas do mundo em 2002 Fig. 2.7 – Chamada do PCH-COM, programa desenvolvido pela Eletrobrás (esq.). Esquema do PCH de São Gabriel da Cachoeira, AM (dir.), queda bruta média de 13,14 m. 34 A Eletrobrás vem incentivando a criação de microcentrais, denominadas pela empresa de pequenas centrais hidroelétricas, PCH’s. O programa prevê que as PCH’s operem integra- das à rede nacional de distribuição, de forma que a energia excedente (caso haja), possa ser vendida para a concessionária local. O texto a seguir foi reproduzido da página da Eletrobrás. Conceituação do Programa PCH-COM O PCH-COM é um programa criado para viabilizar a implantação ou revitalização de pequenas centrais hidrelétricas, onde a ELETROBRÁS garante a compra de energia da usina e o BNDES oferece seu financiamento para o empreendimento. ra sustentação dos financiamentos. s: a Interligado. O PCH-COM se destina a empreendedores privados interessados em construir ou revitalizar PCH’s, conectadas ao Sistema Interligado Brasileiro, que necessitem de uma garantia de compra da energia e de financiamento para implantação de seu empreendimento. O PCH-COM pretende solucionar uma das principais dificuldades encontradas pelos empreendedores de PCH’s no que se refere à obtenção de financiamento. A obtenção de crédito para os empreendimentos junto aos agentes financeiros está vinculada à existência de uma garantia de venda da energia da usina, através de contratos de longo prazo. Participando do PCH-COM o empreendedor terá sua energia* contratada pela ELETROBRÁS, garantindo dessa maneira o financiamento do BNDES. A concepção do Programa está apoiada na idéia de prover garantia de receita aos empreendedores das PCH’s pa Sob o enfoque do empreendimento o PCH-COM, oferece as seguintes vantagen • Garantia de receita para a sustentação do financiamento do BNDES; • Possibilidade de comercialização imediata da energia produzida da PCH; • Redução de custos (sic) devido a ELETROBRÁS atuar como representante do empreendedor no MAE; • Participação no rateio dos excedentes financeiros da Carteira do PCH-COM; • Implantação do Projeto com o acompanhamento da ELETROBRÁS; • Operação e manutenção da PCH com acompanhamento da ELETROBRÁS; • Garantia pela ELETROBRÁS da qualidade do projeto em relação à engenharia e meio ambiente; e • Opção de desligamento do Programa e comercialização de sua própria energia. O montante de energia da PCH a ser contratado pela ELETROBRÁS será a Energia Assegurada, calculada na forma determinada pelo Órgão Regulador e por este homologada. O preço da energia contratada da PCH leva em conta as despesas operacionais incorridas para o repasse desta energia contratada ao mercado e tem como referência o VN (Valor Normativo) da fonte de geração competitiva do Sistem 5a. classificação: quanto à forma de captação da água • Centrais em desvio e em derivação • Centrais em leito de rio 35 Fig. 2.8 – Esquema de central em desvio As centrais em desvio e em derivação caracterizam-se pelo fato que a maior parte do desnível decorre da própria declividade do leito do rio. A captação é feita num ponto de cota elevada, de onde a água é conduzida para as TH e posteriormente para a descarga no rio. Se o rio de descarga for o mesmo de captação, a central é dita em desvio. Se for outro, ela é dita em derivação. A figura 2.8 mostra o esquema de uma central em desvio. As centrais em leito de rio localizam-se, como o nome sugere, no próprio leito do rio que lhes fornece água. Podem ser centrais com reservatórios de regularização ou de captaçãoe constituem a maioria das centrais brasileiras. A central de Itaipu é o exemplo mais conhecido. 6a. classificação: quanto ao sistema de fornecimento de energia • Centrais isoladas • Centrais interligadas As centrais isoladas alimentam uma rede de consumo particular, isolada da rede geral do país. Um exemplo comum são as centrais que abastecem indústrias. O sistema tem a vantagem de reduzir os custos de distribuição de energia. A desvantagem óbvia é que toda a energia excedente é perdida, geralmente sob a forma de água não turbinada. s. As centrais interligadas alimentam a rede nacional e operam junto com as outras centrais hidroelétricas, termoelétricas, nucleares, eólicas, etc do país. Este sistema é mais econômico do ponto de vista energético, mas implica na construção e manutenção da rede de transmissão e distribuição nacional. A tendência moderna, porém, é a unificação das centrais em redes nacionais e até multinacionai 7a. classificação: quanto à sua função no sistema nacional de energia elétrica • Centrais de base • Centrais de pico ou de ponta 36 As centrais de base são utilizadas para cobrir a base do diagrama de cargas (fig. 2.9). Elas operam em sua capacidade nominal, ou o mais próximo possível dela, durante todo o tempo. A figura 2.9 mostra um diagrama de cargas, ilustrando o campo de funcionamento deste tipo de central. As centrais de pico (ou de ponta) são utilizadas principalmente para cobrir as pontas do diagrama de cargas e trabalham geralmente em tempo parcial. As centrais com reservatório de regularização apresentam máxima flexibilidade, podendo ser utilizadas como centrais de base ou de pico, de acordo com a estação do ano (seca ou chuvosa) e com a precipitação daquele ano (acima ou abaixo da média climatológica). As centrais com reservatório de captação, normalmente são utilizadas como centrais de base para evitar a perda de vazão que ocorreria se elas só fossem utilizados nos icos de demanda. Fig. 2.9 – Campo de funcionamento das centrais de base e de pico 2.2. Partes componentes de uma central tre os componentes não básicos, porém essenciais de uma central, destacam-os seguintes: de água; Condutos de restituição de água. Cada um será estudado separadamente a seguir. 2.2.1. Barragens e obras acessórias p t Demanda (MW) 0 12 24 Centrais de base Centrais de pico Carga de base Fonte de energia Uma central hidroelétrica é um grande conjunto de máquinas, equipamentos e edificações destinados a garantir o funcionamento dos grupos turbina-gerador, que são seus principais componentes. En se • Barragem; • Condutos de adução • Casa de máquinas; • As barragens são estruturas transversais ao leito do rio, destinadas fundamentalmente a repre- sar sua água, para utiliza-la em centrais diversas (em leito de rio ou não, com reservatório de regularização ou de captação). Na literatura, o termo barragem geralmente está associado a centrais em leito de rio com reservatório de regularização. Neste caso, elas são responsáveis 37 também pela elevação do nível do rio, proporcionando o maior desnível possível para o apro- veitamento hidroelétrico, levando em conta questões ambientais e econômicas. Como benefí- cios secundários das barragens sobre os rios podem ser mencionadas a melhora das condições de navegabilidade e o controle dos efeitos das secas prolongadas sobre as atividades agrope- cuária rragens podem ser encontrados nas centrais hidroelétricas existen- tes. Os mais comuns são: ade Barragens a arco-gravidade arco de dupla curv de comprimento máximo, pertencente à empresa energética Furnas (dir). taipu (fig. 2 J), com potência instal idade. Exigem meno s nas terras adjacentes. Diversos tipos de ba • Barragens a gravid • Barragens a arco • Fig. 2.10 – Corte transversal da barragem a gravidade da central de Itaipu (esq). Barragem a atura da central do Funil, Itatiaia/Resende, RJ, com 385 m Barragens a gravidade são aquelas em que o equilíbrio da construção sob a força exercida pela água se dá em virtude de seu peso próprio. Podem ser executadas em alvenaria de pedra, concreto ciclópico, concreto armado, terra ou pedras soltas (enrocamento). São sempre bastante largas e consomem muito material em sua construção. As centrais de I .10), de Paulo Afonso (fig. 1.3) e de Tucuruí (fig. 1.4) utilizam este tipo de construção. Barragens a arco são estruturas que aproveitam a propriedade que tem os arcos de transmitir a carga sobre eles aplicada para as extremidades, neste caso, as margens do rio. As condições gerais para sua utilização são margens do rio altas, feitas de rocha resistente e sadia e relação entre largura e profundidade local da barragem não maior do que 4. Elas empregam relativamente pouco material e são feitas de concreto armado. O exemplo da fig. 2.10 (dir) é a central do Funil, localizada entre os municípios de Itatiaia e Resende (R ada de 216 MW, queda nominal de 71,5 m, operando com 3 TH Francis. As barragens a arco-gravidade são um tipo intermediário entre os dois anteriores. Tem construção em forma de arco, porém bastante robusta como as barragens a grav s sanidade das margens do rio e podem ser feitas em concreto ciclópico. 38 Dentre as diversas estruturas acessórias às barragens, duas são indispensáveis para sua • Descarregadores de vazões excedentes; • T a cinética da água para evitar erosão do leito do rio. Os descarregadores de fundo são c em operação. Ele é controlado por três comportas do tipo segm rades de prote emerg jusante das comportas e destina-se a evitar que a depressão (isto é, a pressão abaixo da atmosférica) formada nos casos de fechamento de emergência colapse as tubulações. No caso de Itaipu, o tubo de aeração está localizado, estritamente falando, no conduto de adução de água. Nestes casos, ele geralmente recebe outra denominação, conforme será mencionado a seguir. utilização: omadas de água Os descarregadores de vazões excedentes, ou vertedores, destinam-se a evitar que a barragem transborde ou que as terras vizinhas sejam indevidamente alagadas. Podem ser de superfície ou de fundo, móveis ou fixos. Os vertedores fazem parte da estrutura da barragem, e permitem que a água excedente seja restituída ao leito do rio, servindo, portanto, como regulador do nível do reservatório. Podem ou não ser dotados de comportas para controle da vazão, constituindo-se nos tipos móvel e fixo, respectivamente. As figuras 1.1 e 1.2 mostram a central de Itaipu com seus vertedores em operação. A fig. 1.3 mostra o mesmo para a central de Paulo Afonso. O vertedor da fig. 2.2 (dir) encontra-se seco. Muitas vezes, a base do vertedor apresenta construções chamadas dissipadores de energia, que tem por finalidade retirar energi onstruídos na parte inferior das barragens e são sempre dotados de comportas e dissipadores de energia. Algumas barragens possuem ao mesmo tempo vertedores (ou descarregadores) de superfície e de fundo, sendo o segundo utilizado para limpeza de material acumulado na base das barragens. Outras, ainda, utilizam descarregadores de fundo primários e secundários para cumprir estas finalidades. Um exemplo é a central de Funil, fig. 2.10 (dir), onde o descarregador primário é visto ento, com descarga máxima conjunta de 4.400 m3/s. A descarga de fundo secundária é de jato cônico e tem vazão máxima de 210 m3/s. As tomadas de água são o ponto onde se inicia a captação da água levada às turbinas. A fig. 2.11 mostra a tomada d’água de Itaipu. Tomadas d’água podem ser incorporadas à barragem ou independentes. Podem operar sob pressão, como a de Itaipu, ou em regime de superfície livre, como a do esquema da fig. 2.8. O conjunto conta ainda com g ção, comportas, stop-logs, e tubos de aeração, itens que podem ser vistos na fig. 2.11. A central de Funil (fig. 2.10, dir.), utiliza três comportas do tipo lagarta em suas tomadas d’água. As grades de proteção têm a finalidade de interceptar o material sólido carregado pelo rio, como lixo, galhos, pedras e peixes grandes. A comporta da tomada d’água destina-se a isolar a TH do reservatório de captação, permitindo sua manutenção. Em centrais de pequeno porte, ela pode ser usada também para regular a admissão de água. Em centrais maiores, esta regulagem é feita através de válvulas localizadas nos condutos de adução de água, próximo à TH. Muitas comportas contam com dispositivos de fechamento rápido para casos de ência, como o desligamento de grandes seções da malha de distribuição. Para realizar serviços de manutenção na comporta, as centrais utilizam outra comporta, denominada stop- log (ver fig. 2.11), que é instalada a montante da primeira durante a manutenção e depois retirada. O tubo de aeração é usado nas tomadas de água sob pressão, imediatamente a 39 Fig. 2.11 – Tomada d’água da central de Itaipu, mostrando comportas, grades, condutos orçados e outros elementos.f escoamento intern fechado ou aberto. Este fenômeno é conhecido como golpe de aríete e será explicado a seguir. 2.2.2. Condutos de adução água Os condutos de adução destinam-se a conduzir a água da barragem até as turbinas. Podem ser de baixa ou de alta pressão, os últimos também chamados condutos forçados. Podem apresentar-se sob a forma de canais abertos, tubulações, túneis ou galerias escavadas na rocha. Os condutos de baixa pressão apresentam baixa declividade e baixa velocidade de escoamento e são do tipo galeria ou canal aberto. Quando construídos sob a forma de galeria e em rocha sã podem dispensar o revestimento interno. Os condutos de alta pressão são tubos fechados, embutidos na rocha, no concreto ou construídos a céu aberto, caso da figs. 2.1 (dir), 2.4 (dir) e 2.12, que mostra os condutos forçados da Central de Itaipu. As tubulações a céu aberto devem ser ancoradas ao terreno para resistir às forças resultantes do o. O dimensionamento dos condutos obedece a uma série de critérios. Em termos de custo, quanto maiores os diâmetros, maior o investimento inicial, mas menores as perdas de energia poratrito. Quanto à resistência mecânica, a pior solicitação é a onda de pressão formada quando o conduto é repentinamente 40 Fig. 2.12 – Condutos forçados da central de Itaipu Foi mencionado anteriormente que escoamento qualquer tem sua energia total dividida entre três formas principais: cinética, potencial gravitacional e de pressão. Quando a tubulação é repentinamente fechada, a energia cinética cai repentinamente a zero. Por exigência da Lei da Conservação da Energia, esta parcela deve reaparecer sob a forma de energia de pressão ou potencial gravitacional, criando um aumento de pressão ou de altura na superfície livre do líquido mais próxima. O processo inverso também ocorre, isto é, quando a fluxo é repentinamente aumentado e o fluido, portanto, acelerado, uma diminuição repentina em sua pressão ou altura é observada. o negativa. Nas centrais hidroelétricas, o golpe de aríete aparece sempre que uma turbina abastecida por um conduto de alta pressão tem sua vazão repentinamente diminuída, por exigência da demanda da rede. Para evitar que o aumento de pressão associado rompa as tubulações, uma superfície livre deve ser criada o mais próximo possível do órgão controlador da vazão para que sua altura possa variar correspondentemente. Isto pode ser feito ligando-se uma tubulação vertical aos condutos neste ponto, com a extremidade aberta para a atmosfera. Este equipamento recebe o nome de chaminé de equilíbrio e é encontrado nas mais variadas formas, sendo a mais comum a cilíndrica. A figura 2.11 mostra a chaminé de equilíbrio de Itaipu (denominada tomada de ar no original). A chaminé de equilíbrio também serve para evitar que o aumento repentino da vazão nas turbinas leve as tubulações ao colapso com sua onda de pressã Um outro dispositivo, denominado câmara de carga, também se presta à mesma função da chaminé de equilíbrio. Ele é instalado em centrais que possuem condutos do tipo canal aberto e é basicamente uma expansão do canal, na forma de um pequeno reservatório. Além das funções realizadas pela chaminé de equilíbrio, a câmara de carga aumenta a velocidade de resposta da água no caso de uma abertura brusca da turbina e recebe seu excesso, no caso de um fechamento. 2.2.3. Casa de máquinas É o prédio que abriga as turbinas, os geradores e o restante dos equipamentos necessários à operação da central. 41 Dentre os equipamentos usuais, alguns estão sempre presentes: os equipamentos elétri- cos de controle (abrigados na sala de controle), as válvulas de controle e seus servo- mecanismos associados. A ponte rolante, destinada ao transporte das máquinas está sempre presente em centrais de grande porte. Nas centrais com reservatório de regularização, a casa de máquinas é geralmente locali- zada ao pé da barragem. Em centrais de baixa queda, a casa de máquinas costuma estar incor- porada à barragem. As figs. 2.2 (dir), 2.4 (dir) e 2.5 mostram casas de máquinas localizadas ao pé das respectivas barragens. A fig. 2.13 mostra o esquema de uma casa de máquinas ao pé da barragem (e ao ar livre) e uma subterrânea. Fig 2.13 – Exemplos de casas de máquinas 2.2.4. Restituição de água Uma vez que a água tiver sido utilizada para a geração de energia elétrica (ou turbinada), ela deve ser restituída ao rio ou ao reservatório de descarga, através de uma estrutura geralmente denominada canal de fuga. A restituição tem início na saída das turbinas, num tubo de formato troncônico, chamado tudo de sucção ou de aspiração, que pode não estar presente econtinua pelo canal de fuga que pode ser artificial ou simplesmente o leito do rio. Um destes tubos é mostrado na fig. 2.14 e seu funcionamento será explicado no próximo capítulo. Para evitar perdas por atrito, ele deve ser o mais curto possível. Em alguns casos o canal de fuga situa-se abaixo do nível do reservatório de descarga, conforme esquema da fig. 2.4 (esq). Nestes casos, os tubos de sucção devem ser dotados de chaminés de equilíbrio, pelos motivos já explicados, e também de stop-logs, para permitir sua manutenção. 42 Fig. 2.14 – Tubo de sução de formato troncônico. 2.2.5. Resumo A figura 2.15 mostra o esquema geral de uma central hidroelétrica típica. É essencial perceber que cada local aproveitável para a construção de uma central hidroelétrica tem suas próprias características pluviais, fluviais e topográficas e que uma infinidade de soluções pode ser encontrada para aproveita-las de forma eficiente. Muitos dos elementos descritos nos itens anteriores podem ser omitidos de uma central em particular, dependendo das condições. Outros podem ser criados para atender a uma demanda específica do projeto. Certamente não existem dois aproveitamentos hidroelétricos iguais no mundo. Isso só ocorre por coincidência ou exigência de projeto. eração. ticas. 2.3. Panorama do aproveitamento hidroelétrico brasileiro. Um resumo do aproveitamento hidroelétrico brasileiro é mostrado no anexo 1. Apenas as centrais com potência superior a 10 MW foram registradas. Em agosto de 1999, existiam no Brasil 596 centrais, estando 126 em operação e 470 em fase de projeto ou de construção. As centrais em operação com potência inferior a 10 MW totalizam 263, perfazendo um total nacional de 879. Elas correspondem a um potencial hidrelétrico em torno de 1% do total nacional em op Nenhum estudo sobre geração hidroelétrica pode terminar sem um resumo das principais características das grandes centrais brasileiras. Sem pretender ser completo, esta seção apresenta a seguir um breve relato de tais caracterís 43 Fig. 2.15 – Esquema geral de uma central hidroelétrica 2.3.1. Itaipu Muito já foi dito neste capítulo acerca da central de Itaipu. Diversas vezes ela foi usada para ilustrar conceitos e definições. Isso se deve ao fato que Itaipu é, desde que foi posta em ope- ração em 1984, a maior central hidroelétrica do mundo. A central de Itaipu está localizada no Rio Paraná, no trecho de fronteira entre o Brasil e o Paraguai, 14 km ao norte da Ponte da Amizade (Fig. 2.16). A área do projeto se estende desde Foz do Iguaçu (Brasil) e Ciudad del Este (Paraguai) ao sul até Guaíra (Brasil) e Salto del Guairá (Paraguai) ao norte. Fig. 2.16 – Localização de Itaipu Itaipu é um empreendimento binacional desenvolvido pelo Brasil e pelo Paraguai. A po- tência instalada é de 12.600 MW e a produção recorde de 2.000, 93.400 GWh, supriu 95% da 44 energia elétrica consumida no Paraguai e 24% da demanda brasileira. Em 2003, o rio Paraná apresentou vazão média de 10.505 m3/s, com valores diários que variando entre 7.733 e 18.035 m3/s. O reservatório de Itaipu é bastante longo e proporcionalmente estreito: 170 km de ex- tensão por 7 km de largura média. O volume de água máximo é 29.109 m3 e o volume útil é de 19.109 m3. A queda bruta varia entre 128 e 84 m, sendo a média 118,4 m. A figura 2.17 mos- tra um esquema do reservatório. Na obra foram utilizados 12.600.000 m3 de concreto estrutu- ral com refrigeração e 478.270 ton. de aço. A barragem principal (fig. 2.10, esq.) é do tipo gravidade aliviada, tem 612 m de comprimento, 196 m de altura máxima e consumiu 4.400.000 m3 de concreto. Fig. 2.17 – Reservatório da central de Itaipu O “Lago de Itaipu”, como o reservatório ficou conhecido, tem superfície de 1.350 km2 e foi formado em 14 dias, período em que as águas subiram 100 metros, chegando às comportas do vertedouro. Durante a formação do reservatório, equipes do setor ambiental de Itaipu percorreram em barcos e lanchas a área que seria alagada, salvando espécies de animais da região, em uma operação conhecida como Mymba Kuera, que em tupi-guarani quer dizer “pega-bicho”. 00 MW. As 18 TH Francis que equipam Itaipu têm potência nominal de 715 MW e operam metade a 60 Hz, metade a 50 Hz. Sua rotação nominal é 90,9 (50 Hz) e 92,3 rpm (60 Hz). A queda de projeto das TH de Itaipu é 118,4 m a vazão 645 m3/s. A peça indivisível mais pesadadas TH é o seu rotor, cada um pesando 296 t. O conjunto soma 3.360 t. A figura 2.18 mostra fotos e um esquema de uma das TH de Itaipu. Os geradores de Itaipu são em número de 18, um para cada TH, metade operando a 60 Hz , metade a 50 Hz A potência nominal unitária é 823,6 MVA a 50 Hz e 737,0 MVA a 60 Hz, sob tensão nominal de 18 kV. Cada gerador possui 66 pólos (50 Hz) e 78 (60 Hz). O fator de potência é 0,85 (50 Hz) e 0,95 (60 Hz). A peça mais pesada da unidade, seu rotor, pesa 1.760 t. Cada unidade completa soma 3.343 t (50 Hz) e 3.242 (60 Hz). A figura 2.19 mostra fotos e um esquema de um dos geradores. O projeto original de Itaipu prevê a instalação de mais 2 unidades geradoras, a ser postas em funcionamento quando conveniente. Sua fabricação e instalação está a cargo do Consórcio Ceitaipu, que venceu uma licitação internacional e prevê a conclusão do comissionamento das unidades para maio de 2005. A capacidade instalada de Itaipu passará, então, dos atuais 12.600 para 14.0 45 Fig. 2.18 – Detalhes das TH Francis da central de Itaipu. Fig. 2.19 – Detalhes dos geradores da central de Itaipu. Itaipu é resultado de negociações iniciadas entre Brasil e Paraguai na década de 60. Algumas datas importantes na construção da central são apresentadas a seguir. 46 • 1970: o consórcio formado pelas empresas norte-americana IECO e italiana ELC vence a concorrência internacional para a realização dos estudos de viabilidade e elaboração do projeto • Fevereiro de 1971: início do projeto • Janeiro de 1975: início efetivo das obras. • 14 de outubro de 1978: aberto o canal de desvio do Rio Paraná, • 19 de outubro de 1979: assinatura do Acordo Tripartite entre Brasil, Paraguai e Argentina para o aproveitamento dos recursos hidráulicos do Rio Paraná, no trecho entre Sete Quedas e a foz do Rio da Prata. O acordo estabelece os níveis do rio e as variações permitidas para os diferentes empreendimentos hidrelétricos na bacia comum aos três • : fechamento das comportas do canal de desvio e início do • Itaipu. As 18 por ano. • Brasil e Paraguai assinam o contrato para instalação de mais duas unidades geradoras. ação Norte-Americana de Engen er mais estável em termos de vazão que o rio Yang-Tsé, onde Três Gargantas está sendo construída. 2.3.2. Complexo de Paulo Afonso lada total é de 4.279 trou em operação no final de 1955. e tomada d’água e casa de força países. 13 de outubro de 1982 enchimento do reservatório. 05 maio de 1984: entrada em operação da primeira unidade geradora de unidades geradoras foram sendo instaladas ao ritmo de duas a três • 9 de abril de 1991: entrada em operação da 18ª unidade geradora 13 de novembro de 2000: os presidentes de Em 1995, Itaipu foi apontada pela revista norte-americana “Popular Mechanics” como uma das sete maravilhas da engenharia moderna, juntamente com o Canal do Panamá e o Eurotúnel. A revista baseou-se numa pesquisa feita pela Associ heiros Civis (ASCE) entre engenheiros dos mais diversos países. Recentemente entrou em construção a hidrelétrica de Três Gargantas, destinada a ser a maior do mundo. Contudo, Itaipu continuará sendo por muitos anos ainda a maior hidrelétrica do mundo no item produção de energia. Antes mesmo de instalar as duas novas unidades geradoras, Itaipu já superou a marca de 93,4 bilhões de kWh/ano, enquanto que a previsão para Três Gargantas é de 84 bilhões de kWh/ano, produzidos por 26 máquinas de 680 MW cada – 20 MW a menos do que as máquinas de Itaipu. Responde pela superioridade brasileira o fato do Rio Paraná s O complexo de Paulo Afonso é formado pelas usinas de Paulo Afonso I, II, III, IV e Apolônio Sales (Moxotó), todas localizadas no Rio São Francisco. O complexo é administrado pela CHESF, Companhia Hidroelétrica do São Francisco, e sua capacidade insta ,4 MW, a maior parte sendo fornecida pela central de Paulo Afonso IV. A central de Paulo Afonso I localiza-se na cidade de Paulo Afonso, Bahia. O São Francisco, rio que abastece a central, é o principal rio da região nordestina, com área de drenagem de 605.171 km2 , bacia hidrográfica de 630.000 km2 e extensão de 3.200 km, desde sua nascente na Serra da Canastra, MG, até sua foz em Piaçabuçu, AL e Brejo Grande, SE. A central teve suas obras de construção iniciadas em 1948 e en Todas as outras centrais integrantes do complexo são posteriores. As centrais de Paulo Afonso I, II e III (fig. 2.18) estão instaladas em um mesmo reservatório, constituído de uma barragem do tipo gravidade, feita em concreto armado, com altura máxima de 20 m e comprimento total da crista de 4.707 m. A barragem possui um vertedouro do tipo Krieger, com descarga livre, quatro vertedouros de superfície, com comportas vagão, um descarregador de fundo, dois drenos de areia subterrâneas escavada em rocha sólida, com profundidade aproximada de 80 m. 47 A Usina Paulo Afonso I conta com 3 TH Francis, com potência unitária de 60 MW, to- talizando 180 MW. Elas operam a uma velocidade nominal de 200 rpm, com velocidade de disparo de 380 rpm e vazão de 84 m3/s. Os rotores possuem diâmetro maior de 3,37 m e me- nor de 2,94 m. A corrente nominal de cada um dos três geradores síncronos verticais de Paulo Afonso é 2.560 A, com fator de potência 0,98, freqüência de 60 Hz, tensão entre fases de 13.800 V. Sua velocidade nominal é 200 rpm e eles possuem 36 pólos. A energia gerada é transmitida por uma subestação elevadora com 9 transformadores de 22,5 MVA cada um, que elevam a tensão de 13,8 kV para 230 kV. A partir desse ponto é feita a conexão com o siste- ma de transmissão da CHESF através da Subestação Paulo Afonso de 230 kV. r de 3,0 m. A energia gerada é transmitida por uma subestação elevadora com 18 transf /s. Os rotores possu m e altura máxima de 35 Fig. 2.18 – Centrais de Paulo Afonso I, II e III. O reservatório da central de Paulo Afonso I tem 4,8 km2 de superfície, volume total de 26,0 hm3, volume útil de 9,8 hm3, queda mínima de 58,5 m e média de 81,0 m. A Usina Paulo Afonso II é constituída por 6 unidades geradoras acionadas por TH Francis, sendo 2 unidades com potência unitária de 70 MW, 1 unidade com potência unitária de 75 MW e 3 unidades com potência unitária de 76 MW, totalizando 443 MW. As TH operam à velocidade nominal de 200 rpm, como as de Paulo Afonso I, mas com velocidade de disparo de 390 rpm e vazão de 125 m3/s. Os rotores possuem diâmetro maior de 3,905 m e meno ormadores, sendo 9 de 30 MVA e 9 de 25 MVA, que elevam a tensão de 13,8 kV para 230 kV. Paulo Afonso III é constituída por 4 unidades geradoras acionadas por TH Francis com potência unitária de 198,55 MW, totalizando 794,2 MW. As TH operam à velocidade nominal de 138,46 rpm, com velocidade de disparo de 272 rpm e vazão de 266 m3 em diâmetro maior de 5,7 m e menor de 4,35 m. A energia gerada é transmitida por uma subestação elevadora (13,8 kV para 230 kV) com 12 transformadores 80 MVA. A central de Paulo Afonso IV está instalada num reservatório diferente do de Paulo Afonso I, II e II, mas também localiza-se na cidade de Paulo Afonso, BA. Esta usina recebe água do reservatório de Moxotó através de um canal de derivação. A água turbinada em Paulo Afonso IV, em conjunto com a água turbinada em Paulo Afonso I, II e III, segue pelo canyon para a Usina de Xingó. O represamento de Paulo Afonso IV é constituído por barragens e diques de seção mista terra-enrocamento, com comprimento total de 7.430 m e por estruturas de concreto compreendendo um vertedouro com 8 comportas, com capacidade de descarga de 10.000 m3/s. A casa de máquinas é subterrânea. Paulo Afonso IV (fig. 2.19, esq.) possui 6 TH Francis de eixo vertical, com potência u- nitária de 410,4 MW, totalizando 2.462,4 MW. As TH possuem queda nominal de 112,5m e operam à velocidade nominal de 120 rpm, com velocidade de disparo de 220 rpm e vazão de 48 385 m3/s. Os rotores possuem diâmetro maior de 6,55 m e menor de 5,75m. A energia gerada é transmitida por uma subestação elevadora (18 kV para 500 kV) com 18 transformadores monofásicos de 15 20 MVA. O reservatório da central de Paulo Afonso IV tem 12,9 km de super l escavado a partir de sua margem ireita, o reservatório de Apolônio Sales fornece a água necessária ao acionamento da Usina de Paulo Afonso IV, que se situa em paralelo ao primeiro. , um descarregador de fundo vatório da central de Apolônio Sales tem 98 km de superfície, volume total de 1,15.10 m , volume útil de 180.106 m3. A queda mínima é 16,5 m, áxima 24,0 m. operação comercial teve início em 1984, com 4.000 MW de potência instal fície, volume total de 127,5 hm3, volume útil de 29,5 hm3, queda mínima de 58,5 m e média de 81,0 m. Finalmente, a central de Apolônio Sales (fig. 2.19, dir.), encontra-se localizada no mu- nicípio de Delmiro Gouveia, AL, a 8 km da cidade de Paulo Afonso, cerca de 3 quilômetros a montante da barragem Delmiro Gouveia, que fornece água para Paulo Afonso I, II e III. Deste modo, a água turbinada em suas máquinas, aciona também as Usinas de Paulo Afonso I, II e III. Num segundo desnível em cascata e através de um cana d Fig. 2.19 – Central de Paulo Afonso IV (esq.) e Apolônio Sales (dir). O represamento de Apolônio Sales consta de uma barragem mista terra-enrocamento, com altura máxima de 30 m, comprimento total da crista de 2.825 m , um vertedouro com descarga controlada dotado de 20 comportas do tipo setor, com capacidade máxima de descarga de 28.000 m3/s. A central de Apolônio Sales é constituída por 4 TH Kaplan, com potência unitária de 100 MW. As TH operam a uma velocidade nominal de 80 rpm, com velocidade de disparo de 210 rpm e vazão de 550 m3/s. Os rotores possuem diâmetro de 8,832 m. A energia gerada é transmitida por uma subestação com 6 transformadores elevadores (13,8 kV para 230 kV) de 80 MVA cada. A corrente nominal de cada um dos 4 geradores síncronos verticais é 5.110 A, com fator de potência 0,9, freqüência de 60 Hz, tensão entre fases de 13.800 V, velocidade nominal de 80 rpm e 90 pólos. O reser 2 9 3 a nominal 21, 0 m e a m 2.3.3. Tucuruí 1 e 2 A central de Tucuruí 1 foi projetada para favorecer o desenvolvimento econômico da região Norte, suprindo seu consumo energético. Ela situa-se no rio Tocantins, PA, a aproximadamente 300 km em linha reta de Belém. Sua construção foi iniciada em 1976, pela Eletronorte e sua ada. A construção da 2ª etapa da central (Tucuruí 2), já em andamento, elevará a capacidade instalada para 7.960 MW. 49 A bacia hidrográfica do rio Tocantins abrange os estados de Tocantins e Goiás (58%), Mato Grosso (24%), Pará (13%), Maranhão (4%) e Distrito federal (1%) e possui uma área de drenagem total (até a foz, na baía de Marajó) de 803.250 km2. A descarga média da bacia, em Tucuruí, é estimada em 12.000 m3/s, sendo a principal contribuição devida aos rios Araguaia e Tocantins. O regime dos rios da bacia está condicionado à precipitação regional. O Tocantins, portanto, apresenta maiores vazões entre dezembro e maio e menores vazões entre agost o umbrella, com capacidade nominal contínua de 350 MVA al acumulado no nível 72 m é de 45.500 hm . , 1.190 m de estruturas de concreto e 244 m da eclusa rais, a formação do lago de Tucuruí ocasionou impor te. nto de peixes iliófagos (curimatã e jaraqui) no trecho superior da repres baixo Tocantins; (d) aumento na quantidade de peixes no médio Tocan- ns (curimatãs, jaraquis, branquinhas, pirapitinga, matrinchã, surubim ou pintado, mandubé e o e outubro. Ele apresenta também grandes variações sazonais no transporte de solídos, de 100.000 t/dia a 800.000 t/dia. O Araguaia apresenta transporte mais constante, em torno de 130.000 t/dia. A central de Tucuruí 1 opera atualmente com 14 TH Francis, 12 principais de 330 MW de potência máxima e 2 auxiliares de 20 MW, totalizando os mencionados 4.000 MW. A 2ª etapa prevê instalação de mais 12 TH de 330 MW, elevando a potência para 7 960 MW. As 12 TH do grupo principal produzem 316 MW na queda nominal da central e 250 MW com a queda mínima. A rotação e a vazão nominais são respectivamente 81,8 rpm e 576 m3/s. Os 12 geradores do grupo principal são do tip , tensão de 18 a 23 kV, rotação nominal de 81,8 rpm e fator potência 0,95. A linha de transmissão entre Presidente Dutra (MA) e Boa Esperança (PI), promove a interligação da central com a rede da região Nordeste. O reservatório de Tucuruí situa-se na região do baixo rio Tocantins, PA. O barramento completo do rio ocorreu em 06/09/84 e o enchimento do reservatório levou 6 meses. O lago formado inundou uma área total de 2.875 km2, da qual 25 % já correspondia a áreas anteriormente ocupadas pelo rio Tocantins e seus principais afluentes. O reservatório apresenta um perímetro de 7.700 km e possui aproximadamente 1.600 ilhas. Os níveis da água no reservatório de captação são os seguintes: máximo normal: 72 m, máximo registrado: 75,3 m, mínimo operacional: 51,6 m. O volume tot 3 Os níveis da água no reservatório de descarga são: máximo com 12 TH operando: 5,8 m, mínimo com 3 TH operando: 3,96 m. Com estes valores, a queda bruta máxima normal é de 65,2 m (12 TH em funcionamento). A queda nominal é de 60,8 m. A barragem da central de Tucuruí tem 8.005 m de comprimento, sendo 6.571m de barragens de terra/enrocamento e diques . As estruturas de concreto consumiram 6,2.106 m3 deste material. O vertedouro é do tipo salto de esqui, com comportas de segmento de 580 m de comprimento e altura máxima 86,5 m. A tomada d'água é incorporada à barragem. Como acontece em todas as grandes cent tantes transformações na ictiofauna do rio Tocantins. Como o resultado de tais estudos é relativamente raro na literatura consultada, um resumo será apresentado a seguir. Mais detalhes podem ser obtidos no site da EletroNor De modo geral, ocorreu uma diminuição na abundância e diversidade de espécies da foz em direção ao curso superior dos rios, relacionada à ausência de planícies de inundação e às variações de vazão do médio e alto Tocantins. No reservatório as principais modificações foram o aumento na população de peixes carnívoros (pescada branca, peixe-cachorro, tucunaré e piranha) devido à maior oferta alimentar (camarão e peixes menores), o aumento da população de peixes planctófagos (mapará) e o estabelecime a. A jusante ocorreu uma alteração nas comunidades, sem redução da diversidade de espécies: os predadores dominaram o trecho mais próximo à barragem e as espécies comerciais tiveram sua abundância reduzida. As alterações constatadas na ictiofauna da bacia do Tocantins foram: (a) interrupção da rota migratória dos grandes bagres (dourada, piraíba, pirarara e barbado) e alguns caracóides (curimatã e ubarana); (b) desaparecimento inicial de curimatã; (c) diminuição do estoque pes- queiro do mapará no ti 50 barbado) que se alimentam no reservatór odo de águas altas. io e sobem o Tocantins para desovar, durante o perí- 51 3. Turbinas hidráulicas rendimentos a elas associados. A tenção é descrever a degradação energética ocorrida desde que a água deixa o reservatório e captaç .1.1. Quedas m toda central hidroelétrica, a água é captada numa certa altura e liberada em outra, inferior, pós ter cedido energia potenci gravitacional para a turbina. O desnível topográfico, enominado queda bruta, é m tido através de uma barragem ao rio, nas centrais idroelétricas, ou ao mar, nas marémotrizes. Além da queda topográfica, o termo queda é tilizado para descrever diferença de energia por unidade de peso. A equação que permite alcular energia por unidade de peso em um escoamento é a equação de Bernoulli, revisada a guir. A equação de Bernoulli pode ser escrita de duas formas: 3.1. Energia disponível para as turbinas hidráulicas Neste capítulo será estudada a forma pela qual as TH aproveitam a energia hidráulica disponível num rio de um ponto de vista global. Em muitos textos,