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DPM0111 - Teoria Geral do Direito Penal I (183)

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1 
 
CADERNO	
  DE	
  DIREITO	
  PENAL	
  
	
  
DOS	
  CRIMES	
  CONTRA	
  PESSOA	
  
MATÉRIA	
  DA	
  SEGUNDA	
  PROVA	
  	
  
25/05/10	
  –	
  CAPÍTULO	
  IV:	
  DOS	
  CRIMES	
  CONTRA	
  A	
  LIBERDADE	
  INDIVIDUAL	
  	
  Tal	
  capítulo	
  trabalhará	
  com	
  “crimes-­‐meio”,	
  ou	
  seja,	
  crimes	
  que	
  servem	
  como	
  meio	
  de	
  outras	
  figuras	
  típicas.	
  	
  Nesse	
   sentido,	
   é	
   importante,	
   primeiramente,	
   definir	
   o	
   que	
   é	
   crime	
   complexo:	
   é	
   aquele	
   que	
  possui	
   várias	
  figuras	
   típicas	
   individuais	
   na	
   sua	
   formação.	
   Primeiro	
   exemplo:	
   o	
   art.157	
   envolve	
   a	
   ideia	
   de	
   furto	
   e	
   de	
   simples	
  constrangimento/ameaça/lesão	
   corporal.	
   É	
   um	
   tipo	
   que	
   gera	
   dificuldades	
   na	
   análise,	
   por	
   exemplo,	
   da	
   tentativa.	
  Segundo	
  exemplo:	
  estupro	
  –	
  envolve	
  a	
  ideia	
  de	
  tirar	
  a	
  liberdade	
  sexual	
  +	
  constrangimento/lesão	
  corporal.	
  
	
  
SEÇÃO	
  I:	
  DOS	
  CRIMES	
  CONTRA	
  A	
  LIBERDADE	
  PESSOAL	
  	
  
I.	
  CONSTRANGIMENTO	
  ILEGAL	
  (ARTIGO	
  146)	
  Trata-­‐se	
  de	
  um	
  crime	
  de	
  baixa	
  dignidade	
  penal,	
  de	
  baixo	
  potencial	
  ofensivo	
  segundo	
  a	
  leitura	
  da	
  Lei	
  9099.	
  Viola	
  a	
  liberdade	
  física	
  ou	
  psíquica,	
  a	
  autonomia	
  da	
  vontade	
  –	
  leitura	
  do	
  art.5º,	
  II,	
  da	
  Constituição	
  Federal.	
  	
  	
  
1.	
  BEM	
  JURÍDICO	
  PROTEGIDO:	
  liberdade	
  pessoal	
  –	
  liberdade	
  de	
  autodeterminação	
  da	
  vontade	
  e	
  da	
  ação.	
  
2.	
  SUJEITO	
  ATIVO:	
  qualquer	
  pessoa	
  (crime	
  comum).	
  
3.	
  SUJEITO	
  PASSIVO:	
  qualquer	
  pessoa	
  física.	
  
4.	
  TIPICIDADE	
  OBJETIVA:	
  constranger	
  alguém,	
  mediante	
  violência	
  ou	
  grave	
  ameaça,	
  ou	
  depois	
  de	
  lhe	
  haver	
  reduzido,	
  
por	
  qualquer	
  outro	
  meio,	
  a	
  capacidade	
  de	
  resistência,	
  a	
  não	
  fazer	
  o	
  que	
  a	
  lei	
  permite,	
  ou	
  a	
  fazer	
  o	
  que	
  ela	
  não	
  manda.	
  -­‐	
  Constranger:	
  forçar,	
  compelir,	
  obrigar,	
  coagir.	
  -­‐	
  Não	
  fazer	
  o	
  que	
  a	
  lei	
  permite	
  ou	
  fazer	
  o	
  que	
  ela	
  não	
  manda:	
  ilegitimidade	
  da	
  pretensão	
  do	
  autor	
  do	
  delito.	
  
5.	
  TIPICIDADE	
  SUBJETIVA:	
  dolo.	
  
6.	
  MEIOS	
  DE	
  EXECUÇÃO:	
  
-­‐	
  Violência:	
  força	
  física	
  empregada	
  para	
  suplantar	
  a	
  resistência	
  da	
  vítima.	
  -­‐	
   Grave	
   Ameaça:	
   violência	
   moral,	
   destinada	
   a	
   perturbar	
   a	
   liberdade	
   e	
   tranquilidade	
   da	
   vítima,	
   pela	
  intimidação	
  ou	
  promessa	
  de	
  lhe	
  causar,	
  futura	
  ou	
  imediatamente,	
  mal	
  relevante.	
  O	
  mal	
  ameaçado	
  não	
  precisa	
  ser	
  injusto	
  –	
  ao	
  contrário	
  do	
  que	
  se	
  dá	
  no	
  crime	
  de	
  ameaça.	
  A	
  ameaça	
  pode	
  ser	
  feita	
  por	
  palavra,	
  escritos,	
  gestos	
  ou	
  meios	
  simbólicos,	
  desde	
  que	
  aptos	
  a	
  incutir	
  temor.	
  -­‐	
   Outros	
   meios	
   capazes	
   de	
   reduzir	
   a	
   capacidade	
   de	
   resistência	
   da	
   vítima:	
   ministração	
   fraudulenta	
   de	
  entorpecentes,	
  narcóticos	
  ou	
  bebida	
  alcoólica;	
  sugestão	
  hipnótica;	
  privação	
  de	
  alimentos.	
  
7.	
  CONSUMAÇÃO:	
  consuma-­‐se	
  com	
  a	
  efetiva	
  realização,	
  pelo	
  coagido,	
  da	
  conduta	
  visada	
  pelo	
  coacto	
  –	
  trata-­‐se,	
  pois,	
  de	
  crime	
  de	
  resultado.	
  Sem	
  que	
  o	
  agente	
  tenha	
  atingido,	
  ainda	
  que	
  parcialmente,	
  o	
  fim	
  visado,	
  tem-­‐se	
  tentativa.	
  
8.	
  CAUSAS	
  DE	
  AUMENTO	
  DE	
  PENA	
  (§§1º	
  E	
  2º):	
  §1º,	
  I	
  –	
  reunião	
  de	
  mais	
  de	
  três	
  pessoas:	
  circunstância	
  que	
  diminui	
  a	
  capacidade	
  de	
  reação	
  da	
  vítima;	
  §2º,	
  II	
  –	
  emprego	
  de	
  armas.	
  
-­‐	
  Problema:	
  como	
  definir	
  algo	
  como	
  uma	
  arma?	
  O	
  Decreto	
  3688/41	
  (Lei	
  de	
  Contravenções	
  Penais),	
  no	
  seu	
  art.19,	
  continua	
  sem	
  especificar	
  o	
  que	
  é	
  arma.	
  Seria	
  qualquer	
  instrumento	
  que	
  possa	
  incrementar	
  a	
  força	
  humana?	
  Há	
  duas	
  visões:	
  a	
  da	
  arma	
  branca	
  e	
  a	
  da	
  arma	
  própria,	
  que	
  é	
  a	
  que	
  evidencia	
  finalidade	
  de	
  agressão	
  à	
  integridade	
  física	
  de	
  alguém.	
  Arma	
  de	
  fogo	
  é	
  o	
  exemplo	
  mais	
  típico.	
   Já	
  a	
  arma	
  branca,	
  como	
  taco	
  de	
  beisebol,	
   face	
  de	
  cozinha...seria	
  tudo	
  aquilo	
  que	
  possa	
  potencializar	
   a	
   força	
   humana.	
   Nesse	
   sentido,	
   qualquer	
   instrumento	
   pode	
   ser	
   uma	
   arma	
   branca.	
   Questão:	
  então	
  toda	
  arma	
  branca,	
  pelo	
  art.19,	
  precisaria	
  de	
  autorização	
  de	
  autoridade	
  competente	
  para	
  ser	
  utilizada?	
  (Art.	
   19.	
  Trazer	
   consigo	
  arma	
   fora	
  de	
   casa	
  ou	
  de	
  dependência	
  desta,	
   sem	
   licença	
  da	
  autoridade)	
  Houve	
  uma	
  época,	
  em	
  São	
  Paulo,	
  que	
  lâminas	
  com	
  mais	
  de	
  21	
  cm	
  deveriam	
  ser	
  autorizadas	
  por	
  um	
  delegado	
  de	
  polícia.	
  Mas	
  não	
  houve	
  nenhum	
  tipo	
  de	
  regulamentação	
  nesse	
  sentido,	
  e	
  isso	
  não	
  foi	
  aceito,	
  já	
  que	
  parecia	
  bem	
  mais	
  uma	
  tentativa	
  de	
  controle	
  policial.	
  	
  
2 
 
A	
   construção	
   jurisprudencial	
   foi	
   de	
   aceitar	
   que	
   esse	
   art.19	
   só	
   fosse	
   aplicado	
   quando	
   a	
   arma	
   estivesse	
  munida.	
  Mas	
  o	
  que	
  começou	
  a	
  ser	
  observado	
  era	
  muito	
  roubo	
  com	
  arma	
  de	
  brinquedo,	
  ou	
  seja,	
  sem	
  potencial	
  ofensivo.	
  	
  	
  -­‐	
  E	
  o	
  revólver	
  de	
  brinquedo?	
  Qualifica?	
  Objetivamente,	
  ele	
  não	
  potencializa	
  a	
  força	
  humana.	
  Duas	
  correntes	
  manifestam-­‐se	
  quanto	
  ao	
  tema:	
  i)	
  TEORIAS	
  SUBJETIVAS:	
  o	
  fator	
  determinante	
  é	
  o	
  maior	
  tolhimento	
  da	
  liberdade	
  individual,	
  a	
  maior	
  capacidade	
  de	
   intimidação,	
   independente	
   da	
   idoneidade	
   do	
   meio.	
   Isso	
   pode	
   ser	
   remetido	
   ao	
   art.146	
   (tolhimento	
   da	
  autonomia	
  individual);	
  ii)	
   TEORIAS	
   OBJETIVAS:	
   determinante	
   é	
   a	
   idoneidade	
   da	
   arma,	
   ou	
   seja,	
   sua	
   aptidão	
   objetiva	
   à	
   majoração	
   da	
  capacidade	
  humana.	
  -­‐	
  Súmula	
  174,	
  STJ:	
  no	
  caso	
  do	
  crime	
  de	
  roubo,	
  a	
  utilização	
  de	
  arma	
  de	
  brinquedo	
  autoriza	
  o	
  aumento	
  da	
  pena.	
  A	
  jurisprudência	
  passa	
  a	
  interpretar	
  nesse	
  sentido	
  também	
  o	
  constrangimento	
  ilegal.	
  -­‐	
   Lei	
   9437/97:	
   artigo	
   10	
   §1º,	
   II:	
   até	
   então,	
   portar	
   arma	
   de	
   brinquedo	
   era	
   contravenção,	
   e	
   não	
   crime.	
  Agora,	
  há	
  um	
  tipo	
  penal	
  autônomoda	
  arma	
  de	
  brinquedo.	
  Problema:	
  em	
  um	
  roubo	
  com	
  uso	
  de	
  arma	
  de	
  brinquedo:	
  aplica-­‐se	
  a	
  Súmula	
  174	
  ou	
  o	
  novo	
  tipo?	
  Solução:	
  revogação	
  da	
  súmula.	
  -­‐	
  Lei	
  10826/03	
  (Estatuto	
  do	
  Desarmamento):	
   tal	
   lei	
  não	
  se	
  refere	
  à	
  arma	
  de	
  brinquedo.	
  Porém,	
  não	
  há	
  mais	
   a	
   súmula,	
   e	
   nem	
   o	
   crime	
   autônomo,	
   já	
   que	
   tal	
   lei	
   revogou	
   expressamente	
   a	
   lei	
   9437/97.	
  Descriminalização	
  da	
  utilização	
  de	
  arma	
  de	
  brinquedo?	
  O	
  Estatuto	
  criou	
  um	
  vácuo	
  jurídico,	
  o	
  que	
  levou	
  ao	
   restabelecimento	
   das	
   divergências	
   jurisprudenciais.	
   A	
   posição	
   predominante	
   quanto	
   à	
   arma	
   de	
  brinquedo	
  tem	
  sido	
  a	
  noção	
  subjetiva,	
  mas	
  em	
  tal	
  lei	
  prevalece	
  a	
  consideração	
  de	
  ordem	
  objetiva,	
  ou	
  seja,	
  utilizar	
  a	
  arma	
  de	
  brinquedo	
  não	
  “incrementa”	
  o	
  constrangimento.	
  -­‐	
  STF:	
  -­‐	
  Peluzo:	
  para	
  ser	
  considerada	
  arma,	
  tem	
  que	
  ter	
  condições	
  de	
  uso;	
  -­‐	
  Lewandowski:	
  para	
  ser	
  considerada	
  arma,	
  basta	
  o	
  potencial	
  de	
  facilitar	
  o	
  crime.	
  	
  -­‐	
  hoje	
  não	
  há	
  uma	
  posição	
  dominante.	
  
9.	
  CIRCUNSTÂNCIAS	
  EM	
  QUE	
  NÃO	
  HÁ	
  CONSTRANGIMENTO	
  (§3º):	
  -­‐	
  Há	
  relativização	
  da	
  liberdade	
  individual	
  I	
  –	
  intervenção	
  médica	
  ou	
  cirúrgica	
  sem	
  o	
  consentimento	
  da	
  vítima,	
  justificada	
  por	
  iminente	
  perigo	
  de	
  morte.	
  Exemplos:	
  testemunha	
  de	
  Jeová;	
  detento	
  que	
  faz	
  greve	
  de	
  fome;	
  II	
  –	
  coação	
  que	
  visa	
  a	
  impedir	
  o	
  suicídio.	
  	
  -­‐	
  O	
  professor	
  considera	
  que	
  o	
  §3º	
  traz	
  excludentes	
  extralegais	
  de	
  ilicitude.	
  Luiz	
  Regis	
  Prado	
  defende	
  que	
  são	
  hipóteses	
   de	
   exclusão	
   da	
   ilicitude	
   por	
   estado	
   de	
   necessidade.	
   De	
   qualquer	
   forma,	
   já	
   haveria	
   hipótese	
   de	
  exclusão	
  de	
  ilicitude.	
  Assim,	
  tal	
  parágrafo	
  se	
  apresenta	
  como	
  forma	
  de	
  excluir	
  a	
  própria	
  tipicidade.	
  
10.	
  AÇÃO	
  PENAL:	
  pública	
  incondicionada.	
  	
  
II.	
  AMEAÇA	
  (ARTIGO	
  147)	
  No	
  crime	
  de	
  ameaça,	
  há	
  uma	
  situação	
  muito	
  próxima:	
  deve	
  ser	
  analisada	
  sob	
  o	
  ponto	
  de	
  vista	
  objetivo	
  ou	
  subjetivo?	
  A	
  vítima,	
  subjetivamente,	
  tem	
  que	
  se	
  sentir	
  ameaçada?	
  Parece	
  razoável	
  a	
  resposta	
  afirmativa,	
  visto	
  que	
  o	
  parágrafo	
  único	
  do	
  artigo	
  146	
  exige	
  representação	
  para	
  o	
  procedimento	
  penal.	
  Para	
  Luiz	
  Regis	
  Prado,	
   trata-­‐se	
  de	
  crime	
  de	
  mera	
  atividade,	
  ou	
  seja,	
  a	
  consumação	
  do	
  crime	
  de	
  ameaça	
  depende	
  apenas	
  da	
  idoneidade	
  do	
  meio	
  utilizado	
  (meio	
  apto	
  a	
  atemorizar)	
  e	
  da	
  verossimilhança	
  e	
  possibilidade	
  de	
  execução	
  do	
  mal	
  ameaçado.	
  Independe-­‐se,	
  pois	
  de	
  a	
  vítima	
  sentir-­‐se	
  realmente	
  ameaçada.	
  A	
  ameaça	
  deve	
  ser	
  de	
  mal	
  injusto	
  e	
  grave.	
  Constrangimento	
   ilegal	
   e	
   ameaça	
   são	
   tipos	
   subsidiários,	
   ou	
   seja,	
   seus	
   elementos	
   objetivos	
   integram	
  diversos	
   outros	
   delitos,	
   sejam	
   como	
   elementos	
   normativos,	
   seja	
   como	
   circunstâncias	
   agravantes	
   ou	
   causas	
   de	
  aumento	
  de	
  pena.	
  A	
   autonomia	
   desses	
   dois	
   tipos	
   penais	
   tem,	
   segundo	
   o	
   professor,	
   efeitos	
   meramente	
   didáticos.	
   Tais	
  condutas,	
  autonomamente,	
  raramente	
  são	
  verificadas.	
  	
  
III.	
  SEQUESTRO	
  E	
  CÁRCERE	
  PRIVADO	
  (ARTIGO	
  148)	
  
	
  
3 
 
1.	
  BEM	
  JURÍDICO	
  PROTEGIDO:	
  liberdade	
  individual,	
  especialmente	
  a	
  liberdade	
  física	
  de	
  locomoção,	
  o	
  direito	
  de	
  ir,	
  vir	
  e	
  permanecer	
  no	
  local	
  escolhido.	
  
2.	
  SUJEITO	
  ATIVO:	
  qualquer	
  pessoa	
  (delito	
  comum).	
  
3.	
  SUJEITO	
  PASSIVO:	
  qualquer	
  pessoa.	
  
4.	
  TIPICIDADE	
  OBJETIVA:	
  privar	
  alguém	
  de	
  sua	
  liberdade,	
  mediante	
  sequestro	
  ou	
  cárcere	
  privado.	
  -­‐	
   Tanto	
   o	
   sequestro	
   como	
   o	
   cárcere	
   privado	
   implicam	
   detenção	
   ou	
   restrição	
   do	
   sujeito	
   passivo	
   em	
  determinado	
   lugar.	
  A	
  distinção	
   feita	
   pela	
   doutrina	
   é	
   a	
   seguinte:	
   enquanto	
  no	
   cárcere	
  privado	
   a	
   vítima	
   fica	
  confinada	
  em	
  recinto	
   fechado,	
  aí	
  permanecendo	
  encerada	
  e	
  enclausurada,	
  no	
  sequestro	
  aquela	
  é	
  detida	
  em	
  local	
   aberto,	
   do	
   qual,	
   porém,	
   não	
   é	
   possível	
   sair	
   (fazenda,	
   ilha,	
   etc).	
   O	
   ordenamento	
   penal	
   pátrio	
   não	
  distingue,	
  no	
  entanto,	
  as	
  duas	
  modalidades	
  de	
  delito.	
  -­‐	
   O	
   sequestro	
   consiste	
   na	
   abdução	
   (“abdutio”)	
   e	
   posterior	
   retenção	
   (“retentio”).	
   Já	
   o	
   cárcere	
   privado	
   é	
   a	
  retenção	
  imediata,	
  sem	
  abdução	
  prévia.	
  
5.	
  TIPICIDADE	
  SUBJETIVA:	
  dolo	
  (consciência	
  e	
  vontade	
  de	
  privar	
  alguém	
  de	
  sua	
  liberdade	
  de	
  locomoção).	
  
6.	
  MEIOS	
  DE	
  EXECUÇÃO:	
  quaisquer	
  meios:	
  violência	
  física,	
  fraude,	
  sugestão	
  hipnótica,	
  ministração	
  de	
  entorpecentes	
  ou	
  inebriantes.	
  
7.	
   CONSUMAÇÃO:	
   consuma-­‐se	
   quando	
   a	
   vítima	
   é	
   privada	
   de	
   sua	
   liberdade	
   de	
   locomoção.	
   Trata-­‐se	
   de	
   delito	
  
permanente	
   –	
   seu	
  momento	
   consumativo	
   estende-­‐se	
   no	
   tempo,	
   por	
   vontade	
   do	
   agente.	
   Permite-­‐se,	
   portanto,	
   a	
  autuação	
  em	
  flagrante	
  delito	
  enquanto	
  perdurar	
  a	
  retenção	
  da	
  vítima.	
  Admite-­‐se	
  a	
  tentativa.	
  -­‐	
   Tal	
   tipo	
   também	
   está	
   previsto	
   em	
   outros	
   artigos	
   com	
   outros	
   fins	
   que	
   não	
   a	
   privação	
   de	
   liberdade.	
   Por	
  exemplo,	
   se	
   a	
   restrição	
   à	
   liberdade	
   é	
  movida	
   pelo	
   desejo	
   de	
   obter	
   vantagem	
   como	
   condição	
   ou	
   preço	
   do	
  resgate,	
   não	
   há	
   sequestro	
   ou	
   cárcere	
   privado,	
   mas	
   sim	
   extorsão	
   mediante	
   sequestro	
   (artigo	
   159).	
   Outros	
  exemplos	
  são	
  o	
  art.157,	
  §2º,	
  V	
  (sequestro	
  relâmpago)	
  e	
  até	
  no	
  antigo	
  crime	
  de	
  rapto	
  (antigo	
  art.219).	
  
8.	
  FORMAS	
  QUALIFICADAS	
  (§§	
  1º	
  E	
  2º):	
  §	
  1°:	
  I	
   –	
   Vítima	
   ascendente,	
   descendente,	
   cônjuge	
   ou	
   companheiro	
   do	
   agente	
   ou	
   maior	
   de	
   sessenta	
   anos:	
  qualificado	
  que	
  se	
  justifica	
  pela	
  infração	
  dos	
  deveres	
  de	
  solidariedade	
  e	
  assistência	
  inerentesà	
  relação	
  de	
  parentesco;	
  II	
   –	
   crime	
   praticado	
   mediante	
   internação	
   da	
   vítima	
   em	
   casa	
   de	
   saúde	
   ou	
   hospital:	
   circunstância	
   que	
  dificulta	
  qualquer	
  reação	
  da	
  vítima;	
  -­‐	
  a	
  internação	
  deve	
  ser	
  desnecessária.	
  III	
  –	
  privação	
  da	
  liberdade	
  por	
  mais	
  de	
  quinze	
  dias:	
  presume-­‐se	
  maior	
  o	
  sofrimento	
  da	
  vítima;	
  IV	
  –	
  vítima	
  menor	
  de	
  dezoito	
  anos;	
  V	
  –	
  fins	
  libidinosos:	
  trata-­‐se	
  de	
  uma	
  qualificadora	
  que	
  pressupõe	
  um	
  dolo	
  específico	
  (elemento	
  subjetivo	
  do	
  injusto).	
  -­‐	
  não	
  se	
  exige,	
  para	
  incidência	
  dessa	
  qualificadora,	
  a	
  efetiva	
  realização	
  de	
  um	
  crime	
  contra	
  a	
  liberdade	
  sexual.	
  Havendo	
  posterior	
   crime	
   sexual,	
   qual	
   a	
   solução?	
  Absorção	
  do	
   sequestro	
   pelo	
   crime	
   sexual?	
  Concurso	
  material	
  de	
  crimes?	
  §	
  2º:	
  sofrimento	
  físico	
  ou	
  moral	
  decorrente	
  de	
  maus-­‐tratos	
  ou	
  da	
  natureza	
  da	
  detenção.	
  
9.	
  AÇÃO	
  PENAL:	
  pública	
  incondicionada.	
  
10.	
   CASOS	
   SEMELHANTES	
   A	
   ESTE	
   CRIME:	
   Existem	
   alguns	
   casos	
   que	
   se	
   semelham	
   ao	
   crime	
   de	
   seqüestro	
   e	
   cárcere	
  privado,	
  mas	
  não	
  se	
  confundem	
  com	
  este,	
  constituindo	
  outros	
  crimes.	
  a)	
  roubo	
  em	
  que	
  se	
  restringe	
  a	
  liberdade	
  da	
  pessoa	
  (artigo	
  157,	
  §	
  2°,	
  V).	
  -­‐	
  a	
  restrição	
  à	
  liberdade	
  é	
  apenas	
  o	
  meio	
  utilizado	
  para	
  se	
  alcançar	
  um	
  fim.	
  b)	
  extorsão	
  mediante	
  seqüestro	
  (artigo	
  159).	
  -­‐	
  o	
  seqüestro	
  é	
  usado	
  como	
  meio	
  para	
  se	
  alcançar	
  um	
  fim.	
  c)	
  “seqüestro	
  relâmpago”	
  (aplica-­‐se	
  o	
  artigo	
  158)	
  -­‐	
   não	
   é,	
   realmente,	
   um	
   seqüestro,	
   e	
   sim	
   uma	
   extorsão,	
   pois	
   a	
   intenção	
   do	
   agente	
   não	
   é	
   restringir	
   a	
  liberdade	
  individual	
  da	
  vítima,	
  mas	
  obter	
  uma	
  indevida	
  vantagem	
  econômica.	
  	
  O	
  CASO	
  DO	
  MENINO	
  PEDRINHO	
  O	
  Ministério	
  Público	
  denunciou	
  Dona	
  Vilma	
  pela	
  prática	
  de	
  sequestro	
  e	
  cárcere	
  privado,	
  e	
  não	
  pelo	
  crime	
  de	
   subtração	
   de	
   incapaz	
   –	
   tipo	
   penal	
   a	
   que	
   se	
   aperfeiçoa	
   a	
   conduta	
   de	
  Dona	
  Vilma	
   (art.249).	
   A	
   denúncia	
   nesse	
  molde	
  deve-­‐se	
  ao	
  fato	
  de	
  que	
  o	
  crime	
  de	
  subtração	
  de	
  incapaz	
  é	
  instantâneo,	
  e,	
  uma	
  vez	
  consumado,	
  teria	
  iniciada	
  
4 
 
imediatamente	
   a	
   contagem	
   de	
   seu	
   prazo	
   prescricional.	
   Ou	
   seja:	
   a	
   denúncia	
   por	
   subtração	
   de	
   incapaz	
   geraria	
  reconhecimento	
   da	
   prescrição	
   do	
   crime.	
   Logo,	
   aproveitando-­‐se	
   do	
   caráter	
  permanente	
   do	
   crime	
   de	
   sequestro	
   e	
  cárcere	
  privado	
  e,	
  consequentemente,	
  do	
  fato	
  de	
  que	
  seu	
  prazo	
  prescricional	
  tem	
  a	
  contagem	
  iniciada	
  somente	
  no	
  momento	
  da	
  cessação	
  da	
  restrição	
  à	
  liberdade	
  individual,	
  o	
  Ministério	
  Público	
  esforçou-­‐se	
  na	
  argumentação	
  de	
  que	
  houvera,	
  sim,	
  a	
  violação	
  à	
  liberdade	
  individual	
  do	
  menino	
  –	
  o	
  menino	
  tinha,	
  nos	
  dizeres	
  do	
  Promotor	
  Público,	
  uma	
  falsa	
  liberdade	
  individual,	
  o	
  que	
  caracterizaria	
  o	
  cárcere	
  privado.	
  E	
  nesses	
  termos	
  Dona	
  Vilma	
  foi	
  condenada.	
  Observação	
  sobre	
  o	
  antigo	
  crime	
  de	
  rapto	
  (“raptar	
  mulher	
  honesta	
  para	
  fim	
  libidinoso”):	
  mostrava	
  a	
  visão	
  moralista	
  do	
  código	
  de	
  1940.	
  Enquanto	
  honestidade	
  era	
  uma	
  ideia	
  vista	
  com	
  viés	
  patrimonial	
  para	
  o	
  homem,	
  para	
  a	
  mulher	
  era	
  um	
  viés	
  sexual.	
  Isso	
  deu	
  origem	
  ao	
  um	
  movimento	
  feminista	
  contra	
  essa	
  visão	
  discriminatória.	
  É	
  uma	
  questão	
  que	
  marcou	
  60	
  anos	
  de	
  discussão	
  penal,	
   até	
  o	
  dispositivo	
   ser	
   revogado	
  em	
  2005.	
  Depois,	
   foi	
   criado	
  um	
  dispositivo	
  no	
  art.148	
  de	
  sequestro	
  com	
  fins	
  sexuais.	
  	
  Pode-­‐se	
  ainda	
   falar	
  em	
  rapto?	
  Apenas	
  em	
  condenações	
  anteriores	
  pendentes	
  de	
   recurso	
  e	
  em	
  ambientes	
  não	
  jurídicos.	
  Fora	
  isso,	
  é	
  um	
  termo	
  incorreto	
  tecnicamente.	
  Nesse	
  sentido,	
  há	
  a	
  análise	
  do	
  caso	
  Liliane	
  e	
  Champinha	
  –	
  acampavam,	
  quando	
  foram	
  seqüestrados	
  durante	
  uma	
  semana.	
  Foram	
  estuprados	
  e	
  morreram.	
  À	
  época,	
  não	
   tinha	
  esse	
  dispositivo	
  no	
  art.148	
  (sequestro	
  com	
   fins	
  sexuais).	
  	
  
01/06/10	
  –	
  ARTIGO	
  149	
  E	
  CRIMES	
  CONTRA	
  A	
  INVIOLABILIDADE	
  DE	
  DOMICÍLIO	
  	
  
REDUÇÃO	
  A	
  CONDIÇÃO	
  ANÁLOGA	
  À	
  DE	
  ESCRAVO	
  (ARTIGO	
  149)	
  
BREVE	
  HISTÓRICO	
  -­‐	
  este	
  crime	
  já	
  existia	
  na	
  época	
  em	
  que	
  a	
  escravidão	
  era	
  permitida	
  no	
  Brasil.	
  Naquela	
  época,	
  o	
  crime	
  consistia	
  em	
  submeter	
  uma	
  pessoa	
  livre	
  à	
  condição	
  análoga	
  à	
  de	
  escravo.	
  -­‐	
   com	
   o	
   fim	
   da	
   escravidão,	
   este	
   crime	
   perdeu	
   importância,	
   pois	
   as	
   pessoas	
   consideravam	
   que,	
   como	
   a	
  escravidão	
  foi	
  proibida,	
  não	
  havia	
  mais	
  o	
  problema	
  da	
  escravidão	
  no	
  Brasil.	
  -­‐	
   a	
   discussão	
   ressurge	
   com	
  as	
   chamadas	
   “escravas	
  brancas”,	
   que	
   eram	
  mulheres	
  obrigadas	
   a	
   se	
  prostituir,	
  vítimas	
  do	
  tráfico	
  de	
  pessoas	
  em	
  relação	
  à	
  prostituição.	
  Esta	
  situação	
  gerou,	
  na	
  época,	
  o	
  crime	
  de	
  tráfico	
  de	
  mulheres;	
  hoje,	
  tráfico	
  de	
  pessoas.	
  	
  	
   É	
   uma	
   situação	
  que	
   ocorre	
   bem	
  mais	
   do	
   que	
   se	
   imagina:	
   bóia-­‐fria,	
   carvoarias	
   no	
   centro-­‐oeste,	
   trabalhos	
  forçados	
   na	
   cana-­‐de-­‐açúcar,	
   coreanos/bolivianos	
   encontrados	
   num	
   porão	
   em	
   São	
   Paulo	
   trabalhando	
   em	
  fábricas	
  clandestinas...não	
  é	
  só	
  um	
  problema	
  rural	
  	
  Há	
  ainda	
  a	
  questão	
  da	
  prostituição	
  internacional	
  (arts.	
  231	
  e	
  231-­‐A):	
  intenção	
  de	
  criminalizar	
  condutas	
  que	
  explorem	
  a	
  mulher.	
  Mas	
  há	
  graus	
  de	
  prostituição:	
  a	
  de	
  subsistência,	
  a	
  episódica,	
  a	
  de	
   luxo...não	
  podem	
  ser	
  comparadas	
  visto	
  que	
  o	
  grau	
  de	
  exploração	
  é	
  distinto.	
  São	
  questões	
  que	
  põe	
  em	
  xeque	
  a	
  liberdade	
  individual	
  e	
   a	
   liberdade	
   sexual.	
   Portanto,	
   é	
   possível,	
   sim,	
   observar	
   situações	
   de	
   restrição	
   de	
   liberdadeem	
   caso	
   de	
  prostituição.	
  	
  
	
  
1.	
  BEM	
  JURÍDICO	
  PROTEGIDO:	
  liberdade.	
  	
  -­‐	
  Restringe-­‐se	
  a	
  liberdade	
  no	
  local	
  e	
  na	
  maneira	
  do	
  trabalho.	
  -­‐	
  Para	
  que	
  a	
  liberdade	
  seja	
  lesada,	
  deve	
  haver	
  submissão	
  física	
  e	
  psíquica	
  do	
  ofendido.	
  -­‐	
  Questão:	
  disponibilidade	
  dos	
  bens	
   jurídicos.	
  Há	
  de	
   se	
   falar	
  em	
  disponibilidade	
  do	
  bem	
   jurídico	
  quando	
  a	
  pessoa	
  quer	
   trabalhar,	
   independentemente	
  das	
   condições?	
  Exemplo:	
   caso	
  dos	
  arremessos	
  de	
  anões.	
  Diz-­‐se	
  que	
   é	
   atentatório,	
   logo,	
   é	
   direito	
   indisponível:	
   são	
   casos	
   emblemáticos,	
   parecem	
  ofender	
   a	
   pessoa	
   de	
   qual	
  forma	
  que	
  ela	
  não	
  pode	
  se	
  submeter	
  a	
  tais	
  situações.	
  -­‐	
  de	
  modo	
  geral,	
  no	
  Brasil,	
  os	
  bens	
  jurídicos	
  são	
  tidos	
  como	
  indisponíveis.	
  -­‐	
  isto	
  tem	
  por	
  base	
  a	
  dignidade	
  da	
  pessoa	
  humana,	
  mesmo	
  que	
  haja	
  consentimento.	
  -­‐	
  exceções:	
  honra	
  (ação	
  penal	
  privada,	
  com	
  previsões	
  de	
  retratação,	
  etc.),	
  liberdade	
  sexual...	
  Na	
   visão	
   do	
   professor,	
   apenas	
   no	
  art.150	
   (violação	
   de	
   domicílio)	
   parece	
   haver	
   verdadeiramente	
   a	
  possibilidade	
  de	
  disposição	
  do	
  bem	
  jurídico.	
  	
  -­‐	
  problema:	
  como	
  isto	
  fica	
  em	
  uma	
  sociedade	
  multicultural?	
  -­‐	
   alguns	
   autores	
   dizem	
   que	
   as	
   pessoas	
   podem	
   dispor	
   dos	
   bens	
   jurídicos	
   dentro	
   de	
   um	
   limite.	
   Este	
  limite	
  de	
  tolerância	
  seria	
  a	
  própria	
  dignidade	
  da	
  pessoa	
  humana.	
  
5 
 
-­‐	
   a	
   Justiça	
   brasileira	
   considera	
   a	
   liberdade	
   um	
   bem	
   indisponível,	
   desconsiderando	
   as	
   diferenças	
  culturais	
  e	
  o	
  consentimento	
  da	
  pessoa.	
  Obs:	
  a	
  lei	
  penal	
  não	
  se	
  aplica	
  aos	
  índios	
  aculturados.	
  
2.	
  SUJEITO	
  ATIVO:	
  qualquer	
  pessoa	
  física.	
  -­‐	
  Caso	
  a	
  conduta	
  seja	
  realizada	
  por	
  um	
  funcionário	
  público,	
  praticando	
  o	
   fato	
  no	
  exercício	
  de	
  suas	
   funções,	
  pode-­‐se	
  configurar	
  o	
  crime	
  de	
  abuso	
  de	
  autoridade	
  (Lei	
  4.898/65).	
  
3.	
  SUJEITO	
  PASSIVO:	
  qualquer	
  pessoa	
  física.	
  
4.	
  TIPICIDADE	
  OBJETIVA:	
  reduzir	
  a	
  condição	
  análoga	
  à	
  de	
  escravo.	
  -­‐	
  reduzir	
  significa	
  sujeitar	
  uma	
  pessoa	
  a	
  outra,	
  privando	
  de	
  sua	
  liberdade.	
  
5.	
  TIPICIDADE	
  SUBJETIVA:	
  dolo	
  (não	
  é	
  necessário	
  qualquer	
  fim	
  especial)	
  	
  
6.	
  CAUSAS	
  DE	
  AUMENTO	
  DE	
  PENA	
  (§	
  2°):	
  I	
  –	
  contra	
  criança	
  ou	
  adolescente.	
  -­‐	
  criança	
  –	
  menor	
  de	
  12	
  anos	
  -­‐	
  adolescente	
  –	
  entre	
  12	
  e	
  18	
  anos	
  -­‐	
  motivo:	
  eles	
  têm	
  maior	
  dificuldade	
  de	
  resistir	
  à	
  exploração	
  II	
  –	
  por	
  motivo	
  de	
  preconceito	
  de	
  raça,	
  cor,	
  etnia,	
  religião	
  ou	
  origem.	
  -­‐	
  motivos:	
  1	
  –	
  impedir	
  tratamentos	
  diferenciados	
  conforme	
  a	
  origem	
  nacional	
  2	
  –	
  proteger	
  grupos	
  que	
  estão	
  em	
  zonas	
  onde	
  é	
  freqüente	
  esta	
  prática	
  de	
  crime	
  
7.	
  AÇÃO	
  PENAL:	
  pública	
  incondicionada.	
  
	
  
Seção	
  II	
  -­‐	
  Dos	
  crimes	
  contra	
  a	
  inviolabilidade	
  do	
  domicílio	
  
	
  
VIOLAÇÃO	
  DE	
  DOMICÍLIO	
  (ARTIGO	
  150)	
  
1.	
  BEM	
  JURÍDICO	
  PROTEGIDO:	
  inviolabilidade	
  de	
  domicílio	
  -­‐	
   O	
   bem	
   jurídico	
   é	
   disponível,	
   pois	
   o	
   morador	
   pode	
   permitir	
   o	
   acesso	
   de	
   qualquer	
   pessoa.	
   A	
   questão	
   do	
  consenso:	
  se	
  há	
  conflito	
  entre	
  o	
  consenso	
  de	
  moradores	
  (exemplo:	
  do	
  pai	
  versus	
  da	
  empregada),	
  prevalece	
  a	
  opinião	
   de	
   quem	
   é	
   titular.	
   A	
   questão	
   de	
   marido	
   e	
   mulher	
   é	
   mais	
   complicada:	
   havendo	
   autorização	
   por	
  qualquer	
  um	
  deles,	
  não	
  há	
  violação.	
  -­‐	
  Protege	
  a	
  intimidade	
  do	
  lar	
  contra	
  a	
  entrada	
  de	
  pessoas	
  não	
  permitidas	
  -­‐	
  Exceções	
  (artigo	
  5°,	
  XI,	
  CF	
  e	
  artigo	
  150,	
  §	
  3°,	
  CP):	
  a) flagrante	
  delito	
  ou	
  desastre	
  (excludentes	
  de	
  antijuridicidade)	
  b) prestar	
  socorro	
  (excludente	
  de	
  antijuridicidade)	
  c) durante	
   o	
   dia	
   (6:00	
   am	
   –	
   6:00	
   pm),	
   por	
   determinação	
   judicial,	
   para	
   efetuar	
   prisão	
   ou	
   outra	
  diligência	
  (excludente	
  de	
  antijuridicidade)	
  
2.	
  SUJEITO	
  ATIVO:	
  qualquer	
  pessoa	
  física.	
  
3.	
  SUJEITO	
  PASSIVO:	
  o	
  morador.	
  
4.	
   TIPICIDADE	
   OBJETIVA:	
   entrar	
   ou	
   permanecer,	
   clandestina	
   ou	
   astuciosamente,	
   ou	
   contra	
   a	
   vontade	
   de	
   quem	
   de	
  direito.	
  -­‐	
  a	
  permanência	
  pressupõe	
  uma	
  entrada	
  lícita,	
  mas	
  com	
  recusa	
  em	
  sair.	
  -­‐	
  entrar	
  ou	
  permanecer	
  em	
  casa	
  desabitada	
  ou	
  abandonada	
  (inexistência	
  de	
  moradores,	
  algo	
  diferente	
  de	
  sua	
  ausência)	
  não	
  tipifica	
  este	
  crime.	
  
5.	
  TIPICIDADE	
   SUBJETIVA:	
   dolo,	
   sendo	
  necessário	
   que	
   o	
   agente	
   conheça	
   a	
   vontade	
   contrária	
   do	
  morador	
   e	
   que	
   se	
  trata	
  de	
  uma	
  “casa	
  alheia”.	
  
6.	
  CRIME	
  QUALIFICADO	
  (§	
  1°):	
  -­‐	
  durante	
  a	
  noite	
  (entre	
  18h	
  e	
  6h)	
  ou	
  lugar	
  ermo:	
  maior	
  dificuldade	
  de	
  se	
  lidar	
  com	
  a	
  situação.	
  Observa-­‐se	
   que	
   o	
   Código	
   Penal	
   dá	
   grande	
   enfoque	
   para	
   a	
   dicotomia	
   dia	
   (horário	
   com	
   luz)	
   x	
   noite.	
   È	
  importante	
  notar	
  que	
  a	
  noite	
  prevista	
  no	
  §1º	
  não	
  se	
  confunde	
  com	
  o	
  repouso	
  noturno,	
  previsto	
  no	
  art.155,	
  §1º	
  -­‐	
  dispositivo	
  que	
  tem	
  origem	
  nos	
  anos	
  1920,	
  quando	
  o	
  ladrão	
  Meneghetti	
  passeava	
  nos	
  telhados	
  de	
  casas	
  afastadas	
  e	
  as	
  furtava	
  durante	
  a	
  noite.	
  -­‐	
   com	
   emprego	
   de	
   violência	
   ou	
   de	
   arma,	
   ou	
   cometido	
   por	
   duas	
   ou	
   mais	
   pessoa:	
   maior	
   dificuldade	
   de	
  resistência	
  
7.	
  DEFINIÇÃO	
  DE	
  “CASA”	
  (§§4°	
  E	
  5°):	
  
6 
 
-­‐	
  qualquer	
  ambiente	
  reservado	
  ou	
  separado	
  do	
  mundo	
  exterior,	
  incluindo	
  local	
  onde	
  se	
  exerce	
  atividade	
  ou	
  profissão.	
  É	
  qualquer	
  ambiente	
  onde	
  exista	
  liberdade	
  doméstica,	
  com	
  um	
  mínimo	
  de	
  privacidade.	
  -­‐	
  escritório	
  de	
  advocacia	
  possui	
  uma	
  proteção	
  diferenciada.	
  Estatuto	
  da	
  OAB,	
  art.7º,	
  II.	
  -­‐	
  a	
  princípio,	
  é	
  absolutamente	
  inviolável.	
  -­‐é	
  uma	
  garantia	
  do	
  cliente	
  do	
  escritório.	
  -­‐	
  discute-­‐se	
  se	
  a	
  pasta	
  do	
  advogado	
  também	
  é	
  inviolável,	
  pois	
  esta	
  seria	
  uma	
  extensão	
  do	
  escritório.	
  -­‐	
   só	
   se	
  pode	
   fazer	
  uma	
  busca	
  e	
  apreensão	
  no	
  escritório	
   se	
  este	
   for	
  o	
  alvo	
  da	
   investigação,	
  devendo	
  ser	
  limitado	
  o	
  objeto	
  da	
  busca.	
  -­‐	
  exceções:	
  I	
  –	
  hospedaria,	
  estalagem	
  ou	
  outra	
  habitação	
  coletiva	
  enquanto	
  não	
  separada	
  do	
  mundo	
  exterior.	
  II	
  –	
  não	
  há	
  separação	
  do	
  mundo	
  exterior	
  -­‐	
  hotel	
  ou	
  motel.	
  -­‐	
  para	
  ser	
  considerado	
  “casa”,	
  deve	
  haver	
  perenidade	
  de	
  domicílio.	
  Se	
  for	
  uso	
  esporádico,	
  não	
  é	
  tutelado.	
  
8.	
  AÇÃO	
  PENAL:	
  pública	
  incondicionada.	
  	
  
AULA	
  08/06/2010	
  –	
  ANÁLISE	
  DOS	
  CRIMES	
  DE	
  PERIGO	
  
	
  1. PERIGO:	
  juízo	
  prognóstico	
  onde	
  se	
  analisa	
  a	
  probabilidade	
  de	
  danos	
  baseado	
  em	
  critérios	
  ontológicos	
  (o	
  fato	
  concreto)	
  e	
  nomológicos	
  (análise	
  do	
  que	
  costuma	
  acontecer).	
  2. CRIMES	
  DE	
  PERIGO	
  CONCRETO	
  E	
  CRIMES	
  DE	
  PERIGO	
  ABSTRATOS.	
  	
   Os	
   crimes	
   de	
   perigo	
   concreto	
   possuem	
   o	
   perigo	
   como	
   um	
   elemento	
   do	
   tipo.	
   O	
   desvalor	
   penal	
   está	
   no	
  resultado	
   (o	
   perigo).	
   Exemplo:	
   art.250	
   (Causar	
   incêndio,	
   expondo	
   a	
   perigo	
   a	
   vida,	
   a	
   integridade	
   física	
   ou	
   o	
  patrimônio	
  de	
  outrem).	
  Obs:	
  art.173,	
  CPC:	
   “No	
  caso	
  de	
   incêndio,	
  os	
  peritos	
  verificarão	
  a	
  causa	
  e	
  o	
   lugar	
  em	
  que	
  houver	
  começado,	
  o	
  perigo	
  que	
  dele	
  tiver	
  resultado	
  para	
  a	
  vida	
  ou	
  para	
  o	
  patrimônio	
  alheio,	
  a	
  extensão	
  do	
  dano	
  e	
  o	
  seu	
  valor	
  e	
  as	
  demais	
  circunstâncias	
  que	
  interessarem	
  à	
  elucidação	
  do	
  fato”.	
  	
  	
   Os	
   crimes	
   de	
   perigo	
   abstrato	
   têm	
   o	
   desvalor	
   feito	
   pelo	
   legislador	
   na	
   construção	
   do	
   tipo	
   ao	
   fazer	
   uma	
  antecipação	
  da	
  tutela	
  penal.	
  O	
  perigo	
  é	
  uma	
  presunção	
  absoluta	
  e	
  o	
  desvalor	
  está	
  na	
  conduta.	
  Exemplo:	
  dirigir	
  embriagado.	
  	
   -­‐	
  o	
  problema	
  das	
  condutas	
  inidôneas	
  e	
  o	
  Estado	
  Democrático	
  de	
  Direito:	
  quebra	
  ao	
  princípio	
  da	
  lesividade.	
  Aplicação	
  do	
  Direito	
  Penal	
  do	
  Fato	
  no	
  Estado	
  Democrático	
  de	
  Direito.	
  	
  Ao	
   analisar	
   um	
   fato	
   concreto	
   (em	
   contraposição	
   ao	
   tipo	
   abstrato),	
   pode	
   ser	
   considerada	
   uma	
   conduta	
  inidônea,	
   que	
   seria	
   mesmo	
   assim	
   punida.	
   Seria	
   isso	
   legítimo	
   no	
   Estado	
   Democrático	
   de	
   Direito?	
   O	
   Estado	
  Democrático	
   de	
   Direito	
   precisa	
   proteger	
   o	
   bem	
   jurídico	
   como	
   forma	
   da	
   manutenção	
   das	
   condições	
   de	
   livre	
  determinação.	
  Dessa	
  forma,	
  deve-­‐se	
  punir	
  ações,	
  condutas,	
  e	
  não	
  pessoas	
  (algo	
  que	
  consistiria	
  em	
  autoritarismo).	
  As	
  condutas	
  inidôneas,	
  assim,	
  quebrariam	
  o	
  princípio	
  básico	
  da	
  lesividade,	
  tanto	
  é	
  que,	
  o	
  que	
  se	
  observa,	
  é	
  que	
  os	
  juízes	
  não	
  estão	
  aplicando	
  tais	
  normas.	
  	
  	
  
3.	
  SOLUÇÕES:	
  	
  -­‐	
  DOUTRINA:	
  crimes	
  de	
  perigo	
  abstrato	
  concreto	
  	
  -­‐	
  JURISPRUDÊNCIA:	
  1. TJ/RJ	
   -­‐	
   HC:	
   2009.059.8115	
   –	
   trancaram	
   a	
   ação	
   penal,	
   apesar	
   da	
   ré	
   estar	
   dirigindo	
   bêbada.	
   Isso	
   foi	
  justificado	
  porque	
  a	
   identificação	
  do	
  fato	
  só	
  se	
  deu	
  pelo	
  bafômetro,	
  ela	
  não	
  apresentava	
  nenhum	
  sinal	
  de	
  anormalidade	
   em	
   sua	
   conduta	
   –	
   alegaram	
  a	
   inexistência	
  de	
   tipicidade	
  material	
   (ou	
   seja,	
   efetiva	
   lesão	
  ou	
  exposição	
  ao	
  perigo	
  do	
  bem	
  jurídico	
  –	
  em	
  contraposição	
  com	
  a	
  tipicidade	
  formal,	
  que	
  é	
  a	
  mera	
  descrição	
  típica).	
  Parece	
  que	
  a	
  norma	
  de	
  perigo	
  abstrato	
  foi	
  aplicada	
  como	
  norma	
  de	
  perigo	
  concreto.	
  	
   OBSERVAÇÃO:	
   “injustiça	
   da	
   punição”	
   =	
   tendência	
   doutrinária	
   dos	
   alemães	
   Schröder	
   e	
   Gallas,	
   utilizando	
   a	
  interpretação	
  jurisdicional	
  para	
  garantir	
  um	
  juízo	
  mais	
  justo.	
  	
  
7 
 
	
   2. STF	
  ROC	
  em	
  HC	
  nº	
  81057-­‐8/SP:	
  acusado	
  de	
  andar	
  com	
  arma	
  desmuniciada	
  sem	
  autorização.	
  Crítica	
  ao	
  voto	
  da	
   Ministra	
   Ellen	
   Gracie	
   pelo	
   seu	
   caráter	
   autoritário:	
   ela	
   afirmou	
   que	
   o	
   antecedente	
   de	
   roubo	
   do	
   réu	
  configuraria	
   o	
   porte	
   da	
   arma	
   como	
   crime	
  de	
   intenção	
   de	
   intimidar,	
   presumindo	
   novo	
   roubo	
   nesse	
   caso.	
  Configuraria	
  aplicação	
  do	
  direito	
  penal	
  de	
  autor.

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