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MONOGRAFIA - CAPOEIRA ANGOLA - Cândido Kamayurá (1)

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Prévia do material em texto

UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MINAS GERAIS 
Campus de Belo Horizonte 
Faculdade de Educação 
 
 
 
 
 
 
 
Cândido Kamayurá Quintino Alves 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A CAPOEIRA ANGOLA COMO PRÁTICA EDUCATIVA, POLÍTICA E CULTURAL 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
BELO HORIZONTE 
Março/2019 
 
UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MINAS GERAIS 
Campus de Belo Horizonte 
Faculdade de Educação 
 
 
 
 
 
 
 
Cândido Kamayurá Quintino Alves 
 
 
 
 
 
 
 
A CAPOEIRA ANGOLA COMO PRÁTICA EDUCATIVA, POLÍTICA E CULTURAL 
 
 
Monografia apresentada à 
Faculdade de Educação da 
Universidade do Estado de 
Minas Gerais, como 
requisito parcial para 
conclusão da graduação em 
Pedagogia. 
Orientadora: Profa. Cláudia 
Ocelli Costa 
 
 
 
 
BELO HORIZONTE 
Março/2019 
 
 
Cândido Kamayurá Quintino Alves 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A CAPOEIRA ANGOLA COMO PRÁTICA EDUCATIVA, POLÍTICA E CULTURAL 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Monografia apresentada à 
Faculdade de Educação da 
Universidade do Estado de 
Minas Gerais, como requisito 
parcial para conclusão da 
graduação em Pedagogia. 
 
 
 
____________________________________________ 
Prof.ª M.ª Claudia Ocelli Costa (Orientadora) – UEMG 
 
____________________________________________ 
Prof. Dr. Francisco André Silva Martins (Interlocutor) - UEMG 
 
 
Belo Horizonte 
Março/2019 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
DEDICATÓRIA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dedico este trabalho aos meus ancestrais que conheci em vida, 
à memória de meus avós paternos: Dona Totinha e Seu Índio, 
à memória de meu avô materno: Seu Magalhães, 
à presença viva de minha avó materna: Dona Isabel. 
 
Vocês são fontes de água viva e sabedoria das quais me nutro todos os dias. 
 
 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
Agradeço primeiramente a Deus e a todo o universo divino pela oportunidade de existir e me 
fazer ser parte dessa essência chamada vida. 
Agradeço aos meus pais, Lúcio e Marilda, pela educação exemplar. 
Agradeço à minha madrinha e segunda mãe, Claudia Joaquina, por nunca ter deixado de 
acreditar em mim. 
Agradeço aos meus avós, aos quais dedico este trabalho. 
Agradeço aos meus irmãos: Ju, Lira, Iberê e Ciça, por serem meus amigos de sangue e 
companheiros na jornada da vida. 
Agradeço ao meu melhor amigo Raphael Vidal, a quem pude confidenciar os meus 
pensamentos íntimos, pelas alegrias compartilhadas. 
Agradeço à querida Natália Carin, pela amizade, pelo apoio e pela disposição em ajudar a 
qualquer momento. 
Agradeço ao meu Mestre João e a todos os meus amigos da Capoeira. Esta linda família que 
me desenvolveu como ser humano melhor. 
Agradeço a todos meus familiares pela comunhão fraterna, em especial: Isabel, Izabella, 
Maria Alice, Marina, Rosane, Cássio, Toninho, Márcio, Adriana, Tolé, Henrique, Lucas, 
Rafael, Tico, Billy, Acauã, Ana Clara, Vitor, Bernardo e Terezinha. 
Agradeço especialmente à minha orientadora Claudia e ao meu interlocutor Francisco por 
serem professores exemplares. Este agradecimento se estende a todos(as) os(as) 
professores(as) que durante minha jornada acadêmica me engrandeceram enquanto pessoa. Se 
hoje posso dizer que sou Pedagogo, devo a vocês. 
Agradeço a todos os meus amigos, colegas e conhecidos que fiz durante a minha trajetória de 
vida. 
 
Sem vocês todos, eu nada seria. Meu muito obrigado. 
 
 
 
 
 
RESUMO 
 
Este estudo destaca as relações existentes entre os diversos processos educacionais 
envolvendo a Capoeira Angola e as dimensões pedagógicas vinculadas à sua prática. 
Como referências, utilizam-se questões abordadas por Paulo Freire, em seu livro 
Pedagogia da Autonomia (1996), e aquelas relativas às diversas concepções de Capoeira 
evidenciadas na Tese de Dimas Antônio de Souza (2016). Tais concepções consideram o 
papel dessa prática de cultura e lazer como instrumento de mudanças na nossa sociedade 
quando se trata de aspectos como consciência educacional, política, e cultural, além de 
ser uma forma de resistência contra o sistema social no qual estamos submetidos. Por 
meio de valores como a disciplina, o respeito, a humildade, e a alegria, a Capoeira 
Angola se constitui através de seus diversos rituais, entre eles a roda, os treinos e os 
eventos, essa manifestação cultural tem o poder de formar cidadãos críticos e reflexivos. 
Os estudos desenvolvidos neste trabalho dissertam sobre a Pedagogia libertadora, ou seja, 
a Pedagogia da Capoeira, reconhecida como uma forma de valorizar os nossos ancestrais, 
pois está ligada às raízes formativas do povo brasileiro, como bem explica Darcy Ribeiro. 
Em suma, este trabalho é uma forma de explorar e analisar as modificações que a prática 
da Capoeira Angola impacta nos aspectos individuais e coletivos. Como diz o grande 
guardião da Capoeira Angola Mestre Pastinha: “Capoeira é tudo que a boca come”. 
 
 
 
 
Palavras-chave: Capoeira Angola; educação; cultura; resistência. 
 
 
 
 
 
 
ABSTRACT 
 
 Throughout this monograph, it will be discussed the relationship between the different 
educational processes involving the Capoeira Angola, and also pedagogical concepts related 
to its practice. As a reference, it will be discussed concepts addressed by Paulo Freire in his 
“Pedagogia da Autonomia” (1996). Moreover, it will be presented an overall analysis of 
different concepts of the Capoeira Angola based on the thesis of Dimas Antonio de Souza 
(2016). These concepts take into consideration the role of Capoeira in Brazilian culture and 
leisure. In other words, how Capoeira serves as a means to create social changes related to 
education, politics, and culture.The Capoeira Angola is constituted of several rituals; among 
them the “Roda,” training and events which are founded on values such as discipline, respect, 
humility, and joy. These physical and ritualistic aspects of the Capoeira Angola can 
potentially create thoughtful and reflective citizens; which support the idea that the pedagogy 
of Capoeira is liberating. Further, as stated Darcy Ribeiro, the Capoeira Angola is known for 
being associated with the formation of the Brazilian people; therefore, it is a form of 
appreciation of our ancestries. In essence, this work has an objective to explore and analyze 
the impact of the changes influenced by the practice of the Capoeira Angola in the individual 
and collective level. “Capoeira is everything that the mouth eats.” Master Pastinha. 
 
Keywords: Capoeira Angola, education, culture, resistance 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
RESUMO 7 
INTRODUÇÃO 10 
JUSTIFICATIVA 12 
OBJETIVOS 14 
METODOLOGIA 15 
DIMENSÕES SOCIOHISTÓRICAS DA CAPOEIRA ANGOLA 17 
A PRÁTICA EDUCATIVA DA CAPOEIRA ANGOLA 22 
DIMENSÕES EDUCATIVAS E CULTURAIS DA CAPOEIRA ANGOLA 25 
CAPOEIRA ANGOLA: LIÇÕES DE AUTONOMIA 28 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 32 
REFERÊNCIAS 34 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
A Capoeira é uma manifestação cultural constituída a partirda representação de um jogo, no 
qual é atribuído um estilo de dança e luta, acompanhadas de uma bateria composta por 
instrumentos como berimbau, pandeiro e atabaques, e que também se energiza através dos 
cantos realizados por um puxador e o coral. O ritual descrito acima é chamado de roda de 
capoeira, e principalmente numa modalidade dessa cultura chamada Capoeira Angola, se 
desenvolve uma formação humana, educativa, política e sociológica, onde também são 
atribuídos a essa prática valores como respeito, humildade, disciplina, alegria, e 
ancestralidade. 
Seus praticantes ampliam a percepção da própria capoeira através do tempo em que praticam 
e em sua dedicação para ter mais conhecimento dos seus fundamentos, ou seja, bases práticas 
e teóricas de tudo em que se embasa a Capoeira Angola em todos os seus contextos. Por haver 
a necessidade do amadurecimento no tempo de cada integrante, a hierarquia é muito 
respeitada dentro dos grupos de Capoeira Angola, nos quais a figura do mestre é de suma 
importância e tem um papel fundamental na condução dos ritos que se constituem entre as 
rodas, os treinos, os eventos proporcionados por diversas casas e o processo educativo que é 
desenvolvido nessa manifestação cultural. 
Tendo em vista que este trabalho procura analisar a relação entre os métodos de ensino-
aprendizagem da Capoeira Angola e as teorias pedagógicas embasadas em uma reflexão 
crítica do mundo e da sociedade em que vivemos num prisma cultural, político e de formação 
humana, a Capoeira Angola também pode ser uma vivência escolar. Entretanto, vamos nos 
ater aos seus moldes de funcionamento, como a didática educativa utilizada em espaços 
alternativos, como casas de Capoeira Angola, centros de cultura e associações. Desse modo, 
procurei demonstrar que a educação em geral tem aportes para transformar cidadãos em 
outras instâncias, que não sejam as escolares, e que essas diferenciações têm uma capacidade 
de formação tão importante que seus integrantes podem testemunhar o quão intensas são as 
vivências dos diversos aspectos que constituem o movimento de Capoeira Angola nos meios 
sociais. Pode-se dizer, então, que educação, cultura, formação política e humana, estarão 
formando aqui um trabalho de análise da Capoeira Angola e seus processos diversos nos 
aspectos mencionados nesta pesquisa. 
 
 
Para desenvolver este estudo, optamos pela realização de uma pesquisa exploratória amparada 
numa revisão bibliográfica de autores com produções relacionadas à temática da Capoeira 
Angola e da educação. Inicialmente, procuramos reconhecer as dimensões sócio-históricas da 
capoeira Angola no Brasil, explorando os processos e as aprendizagens vivenciadas por seus 
praticantes. A partir de uma breve investida no pensamento educacional de Paulo Freire e 
Carlos Brandão, a busca é aproximar as dimensões sociais e culturais que permeiam as 
práticas educativas para, finalmente, produzir uma analogia entre os princípios da Pedagogia 
da Autonomia e uma possível pedagogia da Capoeira Angola. 
 
 
 
JUSTIFICATIVA 
 
A Capoeira surgiu em minha vida antes mesmo de eu nascer, tendo em vista que meu pai era 
praticante antes dos anos 90, e meu tio atualmente é um dos principais Mestres de Capoeira 
Angola de Belo Horizonte. Se hoje tenho este trabalho em mãos, devo a ele, Mestre João 
Angoleiro, pois foi com ele que, desde os meus quatorze anos de vida, agosto de 2004 até o 
presente momento, venho interiorizando a Capoeira Angola em minha vida. Digo com muita 
segurança que não há outra prática do meu cotidiano que me traga mais felicidade e alegria, e 
ao mesmo tempo, um senso de responsabilidade por ter uma trajetória estável dentro do grupo 
ACESA, e pelo poder da Capoeira me fazer ser um ser humano melhor, dia após dia. Através 
de um jogo ou treino, pelos diversos amigos que fiz, pelos desafios de cada ritual, pelo 
respeito que tenho aos meus colegas e ao meu mestre, e por saber que a Capoeira Angola é 
um método educativo de alta eficácia, tenho a consciência de que ela me transformou e 
permanece transformando. 
A força da Capoeira Angola em formar cidadão críticos e reflexivos é tão grande como os 
quatro anos passados numa Faculdade de Educação, pois é possível assimilar as práticas e os 
saberes pedagógicos de ambas as esferas. Quem puder extrair destes mananciais de sabedoria 
pode se tornar um ser humano melhor. Ao longo desses quinze anos de prática de Capoeira 
Angola, tornei-me uma pessoa que sabe olhar o outro como próximo, como alguém querido, 
que às vezes precisa de outro alguém. Um saber lidar com a solidariedade, com a humildade, 
saber lidar com nosso egoísmo e orgulho típicos do estado humano atual, e ultrapassar 
barreiras, formando opiniões políticas, sociológicas, tendo bases culturais, ancestrais, e uma 
sabedoria, que quando sabendo-a utilizar pode ser usada como uma bandeira para um mundo 
mais justo e igual para todos. 
Na Capoeira Angola, aprendi que, no jogo, o importante não é bater e se mostrar mais forte, 
ou deixar-se apanhar para aparecer mais fraco, mas sim levar um jogo de amigos, onde há 
uma brincadeira, uma brincadeira séria, diga-se de passagem, pois ali no rito da roda, do 
treino, existe uma força, uma energia que é impossível explicar em quaisquer emaranhados 
de palavras aglutinadas. Não é necessário ser o mais exímio jogador, nem mesmo o mais 
completo tocador e cantador, mas fazer dessas práticas formas de aprender e trocar de 
experiências com todos envolvidos no ritual. Se sou que hoje sou, devo muito a Capoeira, e ei 
de crescer cada vez mais, e se precisar sempre estenderei as mãos para quem quer que seja, 
estarei dentro dos meus fundamentos, apto a ser o mais solidário possível. 
 
 
É este contexto de ação educativa que a Capoeira trouxe à minha vida, que se faz pertinente 
também dar o devido valor ao curso de Pedagogia para a minha formação humana. Nestes 
quatro anos de formação na Fae-UEMG, pude, desde o início da minha trajetória, reconhecer 
a importância da educação como a principal ferramenta de transformação do mundo. Através 
de diversos referenciais como Paulo Freire, Carlos Brandão, Vygotsky, Piaget, Freud, Emíla 
Ferreiro, Magda Soares, Maria Montessori, Pestalozzi, Darcy Ribeiro, Paulo Pacheco, 
Marilene Chauí, entre outros, pude conceber a prática educativa como fundamental para a 
formação do ser humano. O curso capacitou-me não só para formar pessoas, mas também foi 
importante para o meu crescimento pessoal, para alcançar uma visão mais crítica perante os 
grandes conflitos que existem na sociedade, como: as desigualdades, as diferenças, as 
injustiças, os privilégios e os preconceitos diversos. Diante desses aspectos, cabe a todos que 
se formam em uma faculdade de educação, postura e ação para fazer o mundo melhor. E hoje 
posso fazer isso com o complemento da prática da Capoeira Angola, que aprimora minhas 
capacidades de me posicionar diante a nossa sociedade e dos problemas que ela enfrenta. 
É importante também, considerar o contexto brasileiro de desigualdades sociais e econômicas, 
de situações de violência físicas e morais contra as minorias, como o negro, as mulheres, a 
população periférica e pobre, os marginalizados pela sociedade, diante também de uma 
situação política de retrocesso dos direitos sociais e humanos. Entendo que nesta conjuntura, 
faz-se necessário a identificação de valores educacionais e culturais presentes na Capoeira 
Angola e a verificação de sua pertinência como prática social que contribui para a 
transformação da sociedade. 
Vale destacar que a Capoeira, parte da cultura popular brasileira, foi reconhecida pela 
UNESCO, em novembro de 2014, como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade. Seus 
fundamentos são considerados como forma de resistência das populações excluídas, uma vez 
que, por meio da integração coletiva entre os participantes do seu ritual tem o poder desociabilidade e de formação da cidadania, na qual os diversos sujeitos exercem seus direitos 
de se expressarem através do jogar, cantar, tocar e entender o processo pelo qual a Capoeira 
Angola desenvolveu-se ao longo da sua história. 
Nesta aproximação entre a minha vivência pessoal capoeirista e os conhecimentos adquiridos 
neste curso observei que tanto a Capoeira Angola e quanto a Pedagogia podem se constituir 
como instrumentos de poder e força para uma transformação e assimilação do aprender, agir e 
o ser, dentro de nossa sociedade, contribuindo para uma formação humana de valorização da 
 
 
nossa cultura e as interfaces desta para uma educação carregada de fundamentos e bases da 
constituição ideológicas tanto de indivíduos quanto das coletividades que se fazem presentes. 
Desta compreensão afloraram algumas inquietações: como a Capoeira Angola pode servir de 
instrumento de fortalecimento da cidadania e do aspecto social? De que modo a capoeira 
utiliza-se como uma fonte educacional e de conscientização política e cultural? Qual a 
contribuição que os mestres da cultura popular tem para um fortalecimento da identidade do 
povo brasileiro? Qual a identificação individual que se atribui aos valores que a Capoeira 
Angola agrega aos seus praticantes? Quais os processos formativos são desenvolvidos a partir 
da pratica da Capoeira Angola? Esses processos impactam na formação educativa dos 
praticantes? 
Estas indagações nortearam a escolha desta investigação que, inicialmente, pretendia realizar 
um estudo de caso com diferentes participantes da prática da Capoeira Angola. Entretanto, em 
virtude do próprio percurso investigativo e das implicações temporais desta pesquisa optou-se 
pelo adensamento da revisão bibliográfica sobre a temática. 
Deste modo, este trabalho acadêmico pretende unir conhecimentos e saberes educativos 
formais, articulados a importância que essa manifestação de cultura de matriz africana tem 
para a Educação. Ao mesmo tempo, pretende-se reconhecer como a Capoeira efetiva-se como 
um conjunto de formas e expressões que tem a finalidade de promover a integração entre a 
sociedade dando valor aos nossos ancestrais e a nossa história. 
 
OBJETIVOS 
 
Analisar a relação entre a aprendizagem da Capoeira Angola e os processos formativos 
construídos a partir desta prática educativa. 
Estabelecer ligações entre os fundamentos da Capoeira Angola e as teorias da Pedagogia. 
 
 
 
 
 
 
METODOLOGIA 
 
A fim de reconhecer as dimensões educativas, políticas e culturais da Capoeira Angola a 
pesquisa realizada possui cunho exploratório, desenvolvida a partir de uma revisão 
bibliográfica, referenciada pelas indicações metodológicas de Antônio Carlos Gil em sua obra 
“Modos e Técnicas de Pesquisa Social”(2008). Para este autor, 
“As pesquisas exploratórias têm como principal finalidade desenvolver, esclarecer e 
modificar conceitos e ideias, tendo em vista a formulação de problemas mais precisos 
ou hipóteses pesquisáveis para estudos posteriores, (...) São desenvolvidas com o 
objetivo de proporcionar visão geral, de tipo aproximativo, acerca de determinado 
fato. Este tipo de pesquisa é realizado especialmente quando o tema escolhido é 
pouco explorado e torna-se difícil sobre ele formular hipóteses precisas e 
operacionalizáveis”. GIL (2008, p.27) 
Constituída a partir de material previamente elaborado, principalmente de livros e artigos 
científicos, a pesquisa bibliográfica tem como principal vantagem “permitir ao investigador a 
cobertura de uma gama de fenômenos muito mais ampla do que aquela que poderia pesquisar 
diretamente” (p. 50), o que, contribuirá para um alargamento das diferentes dimensões da 
temática aqui abordada. 
Para tanto, as seguintes etapas foram realizadas, conforme o direcionamento de GIL (2008): 
1º - Formulação do problema 
a. Identificou-se primeiramente o tema a ser abordado, e em seguida qual seria a 
problemática envolvendo esta pesquisa, no caso e muito resumidamente: “Qual o 
papel e as ligações que existem entre a prática da Capoeira Angola e a educação como 
instrumento de formação humana?” 
b. Foram determinados os objetivos descritos nesta pesquisa, se delineou a natureza de 
cunho exploratório deste trabalho com uma pesquisa bibliográfica baseada no tema 
proposto. Em seguida, de acordo com as fontes e a metodologia descritas, o percurso 
seguinte foi percorrido: 
2°- Escolha das Fontes: 
Materiais de referência foram utilizados, os quais estão segmentados entre: teses, dissertações, 
artigos, e livros que abordam o tema proposto pela pesquisa. A seleção foi feita a partir de 
indicações, orientações, e reconhecimentos de obras que abordam o tema. 
 
 
As fontes bases deste trabalho foram: Pedagogia da Autonomia (FREIRE, 1996); CAMPO 
DE MANDINGA: presentificação estética, ética e política na Capoeira Angola(SOUZA, 
2016); O que é educação? (BRANDÃO, 1981); O povo brasileiro (RIBEIRO, 1995). Os 
temas abordados em tais referências são direcionados principalmente sobre a educação, a 
Capoeira Angola, ciências sociais, antropologia e esporte e lazer. 
 
As outras referências, tais como dissertações e teses foram utilizadas como fontes de apoio 
para a construção deste trabalho e estão descritas no tópico referências. 
 
3° Coleta de dados 
Leitura exploratória de todo o material de apoio, dividida em três aspectos: 
3.1-Leitura rápida, que possibilitou o reconhecimento de possíveis fontes para a pesquisa; 
3.2-Leitura seletiva, o aprofundamento nos temas escolhidos; 
3.3-Fichamentos e registros de informações para a construção desta pesquisa. 
4°Análise e reconhecimento dos resultados 
Por meio do registro das informações, foi realizada uma análise criteriosa a respeito dos 
aspectos que poderiam ser interessantes para a pesquisa e a importância destes para a 
construção da investigação. 
5°Escrita e discussão embasada nas análises 
Mediante orientações e conhecimentos adquiridos na pesquisa, a escrita desenvolvida seguiu 
criteriosamente o tema analisado. 
 
 
 
 
 
DIMENSÕES SOCIO-HISTÓRICAS DA CAPOEIRA ANGOLA 
 
A Capoeira Angola nos remete a uma ligação profunda com nossas raízes africanas por meio 
de todo seu processo, o que é reforçado pelo seu ritual, que é a roda onde acontecem os jogos, 
acompanhado pelo toque dos instrumentos e pelas canções que regem o rito. A capoeira é 
composta por técnicas e fundamentos, também pela sua presença ética e étnica, e pela sua 
manifestação de resistência. Pode-se dizer então, que a capoeira, de acordo com SOUZA 
(2016, p.8) “é uma forma ancestral de resistir”. 
A capoeira, também concebida como uma prática de lazer e diversão, de acordo com Gomes e 
Elizalde (2012, p.15), faz uma “conexão do sujeito consigo mesmo, com sua essência e com 
suas identidades”. Entre os praticantes da capoeira, há em comum a posição de enfrentamento 
ao processo de colonização, que deixou fortes vestígios na sociedade, e se faz dominante. 
Como afirma SOUZA (2016, p.195), “A Capoeira de Angola é uma forma de resistência 
política e cultural, associada às formas de resistência política e cultural, à liberdade do afro-
brasileiro no contexto da escravidão.” Desse modo, a prática de Capoeira Angola remonta à 
África pré-colonial e ao Brasil Colônia, os quais se diferenciam da “referência estética de 
políticas liberais e socialistas do mundo ocidental moderno” SOUZA(2016).Portanto, a 
prática da Capoeira Angola, de acordo com SOUZA (2016, p. 142), foge até mesmo do 
conceito político Marxista, uma vez que este se trata também de um modelo ocidental e não 
possui ligações próximas à cultura Africana, e que formula uma parte do sistema do qual está 
inserida as sociedades contemporâneas. São “diferenças étnico-culturais dentro do contexto de 
exploração econômica e de subjugação étnico-cultural.” SOUZA (2016, p.17). 
A prática da Capoeira Angola possui “Valores dissonantes com a modernidade,e que 
contribuem para a construção da cidadania e de uma ordem social democrática” SOUZA 
(2016, p.193), o que é percebido nas formas organizativas dos treinos e da roda de capoeira, 
onde o Mestre, principalmente, compartilha de sua bagagem de conhecimentos para haver 
essa assimilação dos fundamentos da Capoeira Angola. Tais fundamentos como, respeito, 
empatia, disciplina, solidariedade, humildade, resistência, voluntariedade, entre outros, 
formam um conjunto de harmonia entre os praticantes de determinadas organizações ou 
grupos de Capoeira Angola. 
O exercício da Capoeira Angola contribui para a ocorrência da “descolonização do próprio 
pensamento” SOUZA (2016, p.18), na qual “implica pensar a partir de línguas e categorias de 
 
 
pensamento não incluídos nos fundamentos dos pensamentos ocidentais” APPIAH (1997, 
p.18). A partir disso, pode-se dizer que a Capoeira Angola objetiva também superar as 
desigualdades e o processo de exclusão social, nas diversas categorias de trabalho, de modelos 
econômicos, de formas de violentar os menos privilegiados, de forma em que se possa 
compreender o “lazer fora dos padrões estabelecido pelas chamadas metrópoles” SOUZA 
(2016, p.20). 
Segundo FERNADEZ, BODOYA (2012, p.19), as “reivindicações de formas de viver, de ser, 
de pensar, de entender a vida [...] provenientes das metrópoles atingem supostos estados de 
progresso e desenvolvimento”, ou seja, para o modelo capitalista ocidental, quanto mais 
corresponder a padrões de comportamentos, condizentes com o sistema opressor, o controle 
sobre as sociedades será obtido com mais facilidade. A Capoeira Angola vai à contramão do 
sistema opressor, mediante o seu processo educativo, ela possui em sua prática o afeto, ou 
melhor, “tem muito sentimento” (Mestre João Angoleiro, APUD : SOUZA, p.21). 
 O processo de resistência no qual a Capoeira Angola enfrenta a conformação social da qual 
somos expostos esta prática estabelece-se como uma forma de integração social dos negros na 
sociedade brasileira, desde o processo histórico de escravização, colonização, abolição da 
escravatura, e formação do nosso sistema atual, no qual o desenvolvimento social se deu de 
forma violenta e excludente. É então pela capacidade que a Capoeira Angola tem de difundir 
seus valores, suas influências comportamentais, e a preservação dos valores culturais que 
agem como formas de resistência e de luta por direitos necessários para uma sociedade livre 
de paradigmas excludentes atuais, estes que vêm sendo carregados desde o processo de 
escravização e colonização do Brasil. 
Em consonância, IANNI (1978, p.47), afirma que “as relações sociais, as estruturas político-
econômicas, também os elementos culturais são recriados e reproduzidos, segundo as 
condições e exigências das forças que dominam a sociedade”. Desta forma, de acordo com a 
tese de SOUZA (2016, p 49), a capoeira é capaz de “presentificar no cotidiano uma 
cosmovisão de origem africana pré-colonial” dando “acesso a padrões estéticos diferentes do 
estabelecido pelo modelo ocidental". 
Através dessas diversas concepções políticas e sociais nas quais a Capoeira Angola está 
inserida, é possível observar que os comportamentos dos jogos na roda de capoeira, as 
canções, e os toques instrumentais seguem um sistema de colaboração entre seus praticantes. 
O que nos remete à união de pessoas com o objetivo em comum de praticar o ritual da 
 
 
capoeira como forma de manifestação de seus diversos sentimentos e formas de se posicionar 
no mundo. Dessa forma, (MELO, 2013; REIS, 1993; SODRÉ, 2005), afirmam que: 
“(...) o jogo ritual marcado por ambiguidades e simulações denota uma percepção de 
mundo negro, que integra o lúdico, a luta, a dança, o sagrado e a coletividade de um 
modo bem particular, que a faz deferir profundamente dos modelos eurocêntricos 
que enfatizam apenas as dimensões esportivas (rendimento) e competitivas em suas 
práticas desportivas”. (MELO, 2013; REIS, 1993; SODRÉ, 2005, p.87) 
Assim sendo, a Capoeira Angola se compõe por diferentes processos, destaca-se o jogo, o 
tocar e o cantar. As duas últimas ações citadas caracterizam-se por carregarem uma herança 
ancestral viva, que nos liga aos nossos antepassados, por meio das diversas modalidades e 
conteúdos presentes nas letras, na intensidade das manifestações e na emoção que se encontra 
ali. 
O jogo, por sua vez, caracteriza-se por possuir elementos como a destreza, a “mandinga”, que 
são as verdadeiras brincadeiras entre os participantes da roda, as habilidades e os diversos 
diálogos corporais ali existentes que também se referem aos nossos antepassados e toda a 
tradição ali carregada. 
Portanto, além de a Capoeira Angola ser uma manifestação cultural, política e de resistência, 
ela também é concebida como uma essência artística negro-africana, de um significado 
íntimo, que pode ser apreciada e utilizada como veículo de expressão e manifestação 
comunicativa em todo o seu ritual. A capoeira pode ser considerada dança, luta, jogo, canção, 
instrumentalização, aula didática, cosmovisão do mundo, em suma, uma manifestação 
artística que integra diferentes ramos sociais como meio de difundir os valores de uma África 
pré-colonial, carregada de todos esses atributos. 
Forma-se assim uma ideia de sociedade afro-brasileira que busca em suas mais profundas 
raízes os significados da essência humana e de um mundo interligado, dando valor a todas as 
etnias e expressões culturais, políticas e históricas. 
Através da ação coletiva que a Capoeira se integra entre diversos praticantes, de forma que as 
individualidades sejam confrontadas com o conjunto de aprendizagem e difusão da cultura 
afro-brasileira. Isso faz da Capoeira Angola uma prática inclusiva, em que todas as diferenças 
sejam respeitadas, dando oportunidades ao acolhimento de todos que queiram ali estar para se 
 
 
alimentarem de tudo o que a capoeira pode nos oferecer. Como diz Mestre Pastinha, 
“Capoeira é tudo que a boca come”. 
Dessa forma, de acordo com SOUZA (2016), a capoeira e seus praticantes; 
“(...) demonstram a existência de um sentimento e de uma expressão de revolta em 
função do racismo, da falta de reconhecimento, das desigualdades sociais, etc.[...] 
mas é uma revolta que vem acompanhada de um clamor por justiça, por direitos 
sociais e por cidadania.” (SOUZA, 2016 p.130 ) 
Quanto à corporeidade presente na Capoeira Angola, Mestre João Angoleiro (APUD: 
SOUZA, p.132) declara que “os movimentos bem executados partem de uma base, uma 
posição que por si só já é uma atitude diante o mundo.” Por isso, o conjunto de técnicas 
compostas por atenção aos movimentos e aos ensinamentos dos Mestres e mais velhos dentro 
da Capoeira tem um valor subjetivo muito importante, pois é através dessas técnicas que o 
Capoeirista se forma como cidadão que pode atuar em qualquer meio social, e defender sua 
bandeira de resistência e luta por valores afro-brasileiros e em defesa da igualdade no seu 
meio social. “Estando mais focado em sua própria realidade e em seu próprio presente, o 
capoeirista aprende com a Capoeira a agir de acordo com o que a situação exige” SOUZA 
(2016, p.140). 
 É importante, diante do conjunto de atribuições pelas quais o Capoeirista se entroniza, a 
capacidade de africanizar-se, ou seja, reconhecer sua ancestralidade, e reconhecer que a 
África, em seus diversos territórios contribuiu massivamente para a formação do povo 
brasileiro. Durante essa formação, houve processos violentos de escravização de pessoas e 
colonização do nosso país. E mais que isso, a cultura dos povos Africanos deve perdurar na 
nossa sociedade atual, na qual todos nós devemos valorizar e assumir o nosso papel de 
descendentes africanos e defender a bandeira de resistência contra o sistema opressor e 
colonizador. 
Ao “africanizar-se”, torna-se mais claro ao capoeirista perceber e reconstruir uma perspectiva 
histórica do Brasil, nãosob a ótica do branco europeu, mas sim perante o olhar das diversas 
etnias Africanas que sofreram por meio de uma violência truculenta, com derramamento de 
sangue e mortes cruéis. Sabe-se, portanto, que a história de formação do povo Brasileiro e da 
nossa sociedade é bem diferente da que é contada na grande maioria de livros didáticos de 
nossa infância e juventude. É preciso quebrar paradigmas inseridos nas mentes inocentes de 
crianças e jovens, que aprendem um processo diferente do que realmente aconteceu. A partir 
 
 
daí, então formular aprendizagens em que se valorize a cultura afro-indígena-brasileira, uma 
vez que também os Povos Indígenas sofreram um processo massacrante por parte dos 
Portugueses que colonizaram nosso país de forma tão violenta. 
Pelos motivos organizados anteriormente, pode-se dizer que por meio “de uma perspectiva 
africana e afro-brasileira, o marxismo também é uma ideologia ocidental, portanto, também 
provém do dominador” SOUZA (2016, p. 164). Mais uma vez se faz importante o africanizar-
se do ser capoeirista, uma vez que é a partir dessa visão que se percebe a verdadeira realidade 
dos povos excluídos do nosso passado e da nossa história, e novamente, dando importância a 
sua cultura e seu processo de formação coletiva do povo brasileiro. 
Em suma, SOUZA (2016) afirma que: 
“(...) a Capoeira Angola desenvolve entre os seus praticantes as qualidades 
necessárias para uma vida em democracia, à medida em que valoriza a comunidade, 
que incita ao respeito ao outro, considerando a igualdade na diferença, que estimula 
a escuta crítica e a fala no momento certo, uma vez que ela própria é um diálogo 
corporal. Todas essas características são propícias ao convívio democrático. 
(SOUZA 2016 p.195 ). 
Desse modo, a prática da Capoeira Angola tem um poder de formação política para o cidadão 
que a executa, de forma que no modelo social democrático que vivemos, o Capoeirista pode 
se assumir como defensor de uma bandeira educativa de igualdades e de criticidade diante os 
conflitos existentes em nossa sociedade contemporânea. Reforça-se a percepção da capoeira 
como instrumento educativo, que pode articular verdadeiras transformações referentes à 
postura do cidadão perante o mundo 
 
 
 
 
 
 
 
 
A PRÁTICA EDUCATIVA DA CAPOEIRA ANGOLA: 
 
A Capoeira é um ritual no qual são manifestadas relações culturais, históricas, ancestrais, e 
sociológicas entre seus praticantes e até entre seus admiradores. As manifestações ocorrem 
através do contato com todos os seus instrumentos percussivos (berimbaus, pandeiros, 
atabaque, agogô e reco-reco), de cantar canções carregadas de fundamentos e conhecimentos 
dos praticantes antigos, e também de se jogar a capoeira numa roda, onde se encontram esses 
três pilares do rito. 
A roda sempre deve ser comandada pelo Capoeirista mais antigo, geralmente o Mestre (a 
entidade máxima dessa tradição), que mediante seus comandos decide quem vai jogar com 
quem, quando começar, interromper e finalizar uma roda, quais canções devem ser cantadas, e 
os demais processos implícitos e explícitos que muitas vezes só podem ser percebidos com 
anos de experiência. 
O Mestre, apesar de ser o responsável por todo o processo que ocorre na roda e nos demais 
eventos, como treinos e seminários, pode também encarregar seus discípulos mais 
experientes, como os Contramestres, os Treineis, seus discípulos e demais alunos, que sempre 
estão sendo orientados e observados. Como a capoeira é um ritual, deve haver uma sincronia 
entre os seus participantes, tendo uma comunicação com olhares, jogos mais lentos ou 
rápidos, demorados ou efêmeros. Existe “uma energia” que circunda o local e a mente dos 
participantes, que, em sua maioria, acreditam na existência de uma força ancestral e espiritual 
manifestada ao se jogar, cantar, tocar, participar de todo o processo que envolve esses 
elementos da capoeira. 
Numa roda de Capoeira Angola, o principal instrumento que rege o ritual é o berimbau, que é 
dividido em três categorias, O Gunga (principal berimbau), o Médio (intermediário), e o 
Violinha (responsável pelas variações e improvisações). O capoeirista sempre deve estar 
atento ao toque do berimbau, e ao canto executado pelo coral para que haja harmonia no seu 
jogo, e os dois jogadores inseridos na “roda” entendam os códigos proferidos pela bateria. 
No jogo de Capoeira não há vencedor, por isso, é considerado além de um esporte e dança, 
um processo de conhecimento e pertencimento do grupo no qual se está inserido, do seu 
companheiro de jogo, do seu mestre, e demais participante do ritual. Entre golpes como rabo-
de-arraia, aú, meia-lua, armada, chapas de frente e de costa, chapéu de couro, martelo entre 
outros, também existem outras variações dentro do jogo, como as fintas, chamadas, passadas, 
entre outros. Ou seja, quando há dois capoeiristas inseridos no círculo de jogo, o importante é 
 
 
respeitar o seu companheiro, sabendo que ali não haverá vencedor, mas sim um 
compartilhamento de emoções no qual serão aplicados todos os conhecimentos que os 
praticantes vêm adquirindo desde o início de suas jornadas, quando decidiram praticar 
capoeira. 
Dentre os tipos de Capoeira existentes atualmente, há duas que se destacam: a Capoeira 
Regional, que foi difundida pelo Mestre Bimba, e a Capoeira Angola, que teve o Mestre 
Pastinha como guardião e difusor deste estilo. Este trabalho focalizará o estudo da Capoeira 
Angola e os fundamentos de Mestre Pastinha, ressalvando a grande importância do Mestre 
Bimba e da capoeira regional, principalmente por levarem o nome da capoeira para o Brasil e 
para o mundo, além de terem seus próprios fundamentos que também são muito importantes. 
Mestre Pastinha, Vicente Ferreira Pastinha, diante dos conhecimentos adquiridos com 
praticantes antigos de Capoeira no estado da Bahia, durante o início ao meio do século XX, 
teve o papel de repassar aos interessados a prática que remetia aos negros que foram 
escravizados ainda na África e trazidos para o Brasil, que utilizavam o jogo de pernas e o 
gingado no corpo para se defenderem dos colonizadores e escravistas. Por isso, o nome de 
Capoeira Angola, que remete não só ao País Angolano, mas também porque os Africanos que 
foram trazidos ao Brasil de diversas partes daquele continente, comumente eram chamados de 
Angolanos. 
Estabelece-se então como a Capoeira Angola o conjunto de atributos praticados pelos povos 
africanos a fim de se protegerem das mazelas dos colonizadores. Por isso, é considerada uma 
cultura Afro-Brasileira, sendo que no Brasil essa prática foi tomando forma, e inicialmente, 
também foi considerada uma prática criminosa, que não era bem vista pelos Políticos e 
Militares do País no fim do século XIX e no decorrer do século XX. A luta de Mestre Bimba, 
e principalmente de Mestre Pastinha para que a Capoeira Angola e a Regional fossem 
legalizadas foi árdua e dificultada por uma esfera social brasileira conservadora. Mestre 
Pastinha então, formou vários outros mestres, como Mestre João Pequeno, Mestre João 
Grande, Mestre Morais, Mestre Pelé da Bomba, dentre outros. 
Hoje, em Belo Horizonte, existem várias academias de Capoeira Angola, posto isto, as 
principais são: ACESA (Associação Cultural Eu Sou Angoleiro), Grupo Iúna, FICA-BH 
(Federação Internacional de Capoeira Angola), Angola Dobrada, Camujerê, e Candeia. Há 
mestres reconhecidos pela importância deles no cenário de Belo Horionte, como: Mestre João 
Angoleiro, Mestre Rogério, Mestre Primo, Mestre Jurandir, Mestre Renê, Mestra Alcione, 
 
 
Mestre Edson, Mestre Índio, entre outros. Cada mestre, diante dos fundamentos carregados na 
tradição da Capoeira Angola, desenvolve suas metodologias de ensino e conduta nos seus 
respectivos grupos, dando competências diversas aos seus discípulos, disseminando, com o 
máximo de disciplina, tudo o que sabem para que a Capoeira Angola possaperpetuar durante 
gerações. 
A Capoeira Angola tem um aspecto cultural muito importante, pois se diferencia da capoeira 
regional, uma vez que está ligada profundamente às raízes, à ancestralidade, aos costumes dos 
seus primeiros jogadores e também uma prática de resistência. A Capoeira Angola agrega 
também valores políticos e de formação humana no âmbito social, em que pelo seu ritual, 
esses elementos se fazem presentes nos ensinamentos dos mais velhos, no aprender e trocar de 
experiência com os mais novos também, e por isso também a Capoeira Angola não poderia 
deixar de ser um ato educativo de suma importância e de alta eficácia. Seus praticantes 
costumam ter uma leitura crítica do mundo, da sociedade, dos valores humanos, de uma vida 
consciente sem ser voltada ao consumismo, ou seja, a sua prática é considerada um verdadeiro 
ato político revolucionário que acontece pelos meios educativos próprios do exercício da 
Capoeira Angola. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
DIMENSÕES EDUCATIVAS E CULTURAIS DA CAPOEIRA ANGOLA 
 
Algumas concepções educacionais voltadas para uma visão crítica do mundo e da sociedade 
foram usadas para a compreensão das dimensões educativas da prática da Capoeira Angola. 
Os pensadores Paulo Freire e Carlos Brandão são as principais referências principais deste 
trabalho, que se relaciona também com os aspectos culturais da formação da sociedade 
brasileira, apontados por Darcy Ribeiro, especialmente no que diz respeito à formulação de 
um pensamento que induz a uma valorização e reconhecimento das origens da população 
brasileiro. Povo que foi constituído através de derramamento de sangue dos habitantes 
naturais do território brasileiro e da escravização dos povos de diversas etnias africanas, o 
que gera a reflexão sobre o período de colonização do Brasil. 
Educação, cultura e sociedade andam juntas nesse contexto, de forma que, as relações s entre 
elas estão associadas aos princípios que regem o sistema capitalista moderno. Para essa 
ligação é necessário um aporte teórico que se evidencia na prática de diversas maneiras no 
comportamento humano, no desenvolvimento do sistema capitalista, e na valorização ou 
desvalorização da cultura do país. Sob essa perspectiva parece se tratarem de maneiras 
antagônicas ao situar tais elementos, mas mesmo contrários a concepções de lógica, as 
estruturas que regem a nossa sociedade em diversas instâncias é injusta, desigual, e 
contraditória. Por isso mesmo faz-se necessário o reconhecimento de teorias educativas para 
se repensarem os modelos do processo de ensino-aprendizagem. Também de uma perspectiva 
de entendimento dos estados sociais e modelos econômicos aos quais estamos submetidos, da 
mesma forma que é preciso dar devida importância à cultura de diversas matrizes que tem em 
suas raízes profundas. Essas são ligações diretas com os conceitos de visão humanitária que 
devemos nos apropriar e valorizar. 
Paulo Freire, um dos principais educadores brasileiro do século XX, concebia a educação 
como uma práxis reflexiva-crítica, que define a educação como um sistema de trocas entre 
docência e discência, no que tange o aprender-ensinar, de modo que haja uma relação 
horizontal entre os envolvidos no processo educativo. Segundo Paulo Freire, a pedagogia 
deve ser autônoma, solidária e justa, de modo que não haja o processo denominado de 
“educação bancária”, na qual se afaste de conceitos em que o professor deve transferir 
conhecimento para o aluno, e que nunca deve ser substituída a autoridade pelo autoritarismo 
dos agentes educacionais. Com um ensino onde se valorize os saberes-prévios dos educandos, 
com toda sua bagagem de conhecimento carregada desde o dia de seus nascimentos, assim 
 
 
como a história de vida que carregam em si, os meios familiares que estão envolvidos, 
situações cotidianas diversas, entre outros aspectos. É necessário então que haja fundamentos 
básicos para lidar com o processo educativo, diante todos esses aspectos é importante acima 
de tudo valorizar o sujeito como ser único e que se diferencia de todos. Cada ser educado e 
cada ser que educa é um universo que necessita de atenção para que as trocas sejam feitas de 
maneira mais uniforme possível, dando voz aos que não tinham, dando visão aos que não 
enxergavam e principalmente, libertando mentes para um pensar crítico-reflexivo de tudo que 
envolve cada ser em suas especificidades. 
Outra dimensão a ser destacada é o alargamento da compreensão sobre os espaços educativos. 
Carlos Rodrigues Brandão, em seu livro: “O que é educação” (1981), afirma que “não há uma 
forma única nem um único modelo de educação; a escola não é o único lugar onde ela 
acontece e talvez nem seja o melhor; o ensino escolar não é a sua única prática e o professor 
profissional não é seu único praticante” (BRANDÃO 1981 p. 4). A seu ver, “a educação do 
homem existe por toda parte [...] é o resultado da ação de que o meio sociocultural sobre seus 
participantes. É o exercício de viver e conviver que educa.” (BRANDÃO 1981 p.21) 
Em analogia à prática da Capoeira Angola, pode-se inferir que não cabe somente ao mestre a 
missão de propagar seu conhecimento, mas a todo o conjunto envolvido nos movimentos de 
educação da Capoeira Angola. Como uma manifestação cultural, em termos pedagógicos, a 
capoeira se comporta como um instrumento universal educativo, uma vez que sua prática 
sociocultural envolve diversos tipos de sujeitos, que utilizam da sua prática para se 
fortalecerem e se assumirem como cidadãos atuantes no mundo. 
Para que possamos atuar no mundo atual, é fundamental compreendermos os processos 
formativos da civilização brasileira, especialmente os relativos à colonização, e à 
escravização, passando pelos diversos modelos governamentais e de lutas coletivas pela 
democratização das relações sociais e econômicas. Quanto à formação do povo brasileiro, 
Darcy Ribeiro (1995, p.20), afirma que a “sociedade e a cultura brasileiras são conformadas 
como variantes da versão lusitana da tradição civilizatória europeia ocidental, diferenciadas 
pelos coloridos herdados dos índios americanos e dos negros africanos.”, Desse modo, sabe-se 
que a formação de qualquer cidadão brasileiro nos dias atuais, tem nessas três matrizes suas 
origens e ancestralidades, de forma que se faz necessário a valorização dessas três heranças: a 
indígena, a africana, e a portuguesa. As duas primeiras heranças (índios e negros), são as 
principais influências sobre a cultura do nosso país e, por isso, deveriam ter um grande valor 
de representatividade histórico-cultural, o que infelizmente é desprezado por boa parte da 
 
 
nossa sociedade atual. Nesta linha de pensamento, RIBEIRO (1995), afirma que para a 
formação da nossa sociedade; 
 
“Exacerba‐se o distanciamento social entre as classes dominantes e as subordinadas, 
e entre estas e as oprimidas, agravando as oposições para acumular, debaixo da 
uniformidade etnico‐cultural e da unidade nacional, tensões dissociativas de caráter 
traumático. Em conseqüência, as elites dirigentes, primeiro lusitanas, depois luso-
brasileiras e, afinal, brasileiras, viveram sempre e vivem ainda sob o pavor pânico 
do alçamento das classes oprimidas.” (RIBEIRO 1995 p. 23) 
 
O processo de formação do povo brasileiro deu-se a partir de uma miscigenação racial, o que 
poderia trazer a ideia de que não existe racismo do Brasil, mas Darcy Ribeiro (1995), rebate 
essa hipótese ao dizer que “os brasileiros, orgulhosos de sua tão proclamada, como falsa, 
"democracia racial", raramente percebem os profundos abismos que aqui separam os estratos 
sociais.”(p. 24 ) 
As postulações antropológicas de Darcy Ribeiro trazem a ideia de que, para a formação da 
nossa sociedade, houve um processo massacrante dos povos indígenas e africanos, e nos 
ajudam a entender como a Capoeira Angola é uma manifestação cultural que nos remete a 
todo o tempoàs nossas raízes, aos nossos ancestrais, e à importância da representatividade 
dessas minorias. Assim, a Pedagogia da Capoeira Angola se encontra como um instrumento 
educativo, na qual a prática e o reconhecimento dessa manifestação cultural dão aportes para 
uma formação crítica e reflexiva, de uma postura de resistência perante a fragilidade do 
sistema político brasileiro, e de uma valorização dos povos formadores deste país. 
 
 
 
 
 
 
 
CAPOEIRA ANGOLA: LIÇÕES DE AUTONOMIA 
 
Paulo Freire, em seu livro “Pedagogia da Autonomia” (1996) traz noções em sua escrita que 
se encaixam perfeitamente às percepções do processo de ensino-aprendizagem da Capoeira 
Angola. Isso se faz notável quando percebemos em cada um de seus subtítulos que na 
concepção de Paulo Freire, a educação deve ser libertadora, do mesmo modo que muitos 
concebem a Capoeira Angola. Serão feitas menções desses subtítulos, que são considerados 
mais relevantes para a análise que se faz aqui, de modo que existe uma analogia entre a 
educação de Paulo Freire e a prática educativa da Capoeira Angola. São eles: 
“Ensinar inexiste sem aprender e vice-versa” (FREIRE, 1996, p.45). Na citação, Freire 
enfatiza que não existe ou não deveria existir o que se chama de “educação bancária”,, ou 
seja, o processo de ensino-aprendizagem deve ser horizontal e de trocas entre docentes e 
discentes, sob a mesma ótica da Capoeira Angola, pois não existe Mestre sem alunos, e nem 
alunos sem Mestre. Há uma relação dialogada que estabelece um vínculo de proximidade 
entre seus praticantes. 
“Ensinar exige reflexão crítica sobre a prática” (FREIRE, 1996, p.17). O conceito de ensino 
definido por Paulo Freire tem grande relevância na Capoeira Angola, já que a disciplina de se 
executar bem os movimentos, tocar os instrumentos com segurança e cantar com boa 
entonação, faz o praticante da capoeira se perceber como participante do processo, e 
possibilita a reflexão sobre o que e como está praticando e se faz sentido para ele. Deve haver 
espaço para o questionamento da prática. “Ensinar exige o reconhecimento e a assunção da 
identidade cultural” (FREIRE, 1996). Assim; 
“Uma das tarefas mais importantes da prática educativo-crítica é proporcionar as 
condições em que os educandos em suas relações uns com os outros e todos com o 
professor ou a professora ensaiam a experiência profunda de assumir-se. [...] A 
assunção de nós mesmos não significa a exclusão dos outros. (FREIRE 1996 p.18) 
Na Capoeira Angola, a importância de se assumir enquanto sujeito de identidade cultural é 
muito importante, o que corrobora com a posição de FREIRE acima. 
 
 “Ensinar exige rigorosidade metódica” (FREIRE, 1996, p. 13). Esse rigor metódico para 
Freire se conecta com a Capoeira Angola de uma forma em que há de se saber que existem 
 
 
diversos sujeitos ali no processo do ensino-aprendizagem, e que é necessário e cabível ao 
educador da capoeira compreender essas singularidades, e aos discípulos cabe a humildade, 
sabendo-se que cada educando tem uma enorme capacidade, não só na capoeira, mas em 
qualquer instância. Dessa forma, FREIRE (1996) corrobora dizendo que a educação 
“(...) se alonga à produção das condições em que aprender criticamente é possível. E 
essas condições implicam ou exigem a presença de educadores e de educandos 
criadores, instigadores, inquietos, rigorosamente curiosos, humildes e persistentes. 
Faz parte das condições em que aprender criticamente é possível a pressuposição por 
parte dos educandos de que o educador já teve ou continua tendo experiência da 
produção de certos saberes e que estes não podem a eles, os educandos, ser 
simplesmente transferidos. (FREIRE 1996, p. 13 ) 
 
 “Ensinar exige consciência do inacabamento” (FREIRE, 1996, p.21). A Capoeira Angola é a 
própria manifestação do inacabamento, pois nem mesmo os mais antigos mestres puderam 
conceber toda suas atmosferas, e é necessário ter consciência disso para saber que do mais 
novo ao mais experiente praticante, sempre haverá novos saberes a se descobrir. Pode-se citar 
dois dizeres antigos da Capoeira que representa bem essa referência de Paulo Freire. Entende-
se como saberes tradicionais da capoeira: “Carta de ABC”, e “ Estamos na escola”, ou seja, 
sempre é tempo de aprender e reaprender. 
“Ensinar exige respeito à autonomia do educando” (FREIRE, 1996, p.24). Nessa perspectiva, 
a visão de Paulo Freire e os métodos educativos da Capoeira Angola se completam, de forma 
que, quanto mais se dá valor aos sujeitos de qualquer esfera, mais se respeita a sua autonomia 
como ser que pode se tornar independente e ter questionamentos. O respeito às diferenças e à 
semelhança entre indivíduos é necessário de tal forma que FREIRE (1996, p.25) afirma que 
“qualquer discriminação é imoral e lutar contra ela é um dever por mais que se reconheça a 
força dos condicionamentos a enfrentar”. 
 
“Ensinar exige humildade, tolerância e luta em defesa dos direitos dos educandos” (FREIRE, 
1996, p.27). A humildade e a tolerância são sentimentos carregados de fundamentos dentro da 
Capoeira Angola, e são complementos da luta conjunta pelos direitos dos discípulos, assim 
como dos professores. Deve-se haver uma comunhão que diz respeito às individualidade de 
cada um. Neste ponto, Freire dialoga perfeitamente com a didática da Capoeira Angola. 
 
“Ensinar exige alegria e esperança” (FREIRE, 1996, p.29). No jogo de Capoeira Angola, nas 
cantigas, no ritmo dos instrumentos percebe-se que a prática desse ritual não existe sem 
 
 
alegria. É a alegria da manifestação que faz o diálogo entre todos que estão ali situados na 
roda. E isso de se alegrar com o processo é uma forma bonita de aprender e ensinar de forma 
que a esperança é complemento deste estado de ânimo, uma coisa leva à outra. 
 “Ensinar exige a convicção de que a mudança é possível”. FREIRE (1996, p.30) nesse 
subtítulo faz as seguintes indagações: “Em favor de que estudo? Em favor de quem? Contra 
que estudo? Contra quem estudo?” (FREIRE, 1996, p.31). Dentre as aprendizagens no meu 
percurso acadêmico, descobri que as indagações na verdade são mais valiosas do que 
respostas prontas e os questionamento são realizados exatamente porque existe a necessidade 
de se mudar constantemente, e mudar nada mais é que evoluir gradativamente. A Capoeira de 
Angola é um campo de indagações voltadas à educação de si mesmo para que mudanças 
ocorram de modo que a evolução sempre aconteça. 
“Ensinar exige compreender que a educação é uma forma de intervenção no mundo” 
(FREIRE, 1996, p.38). Esse subtítulo já fala por si só, uma vez que qualquer processo 
educativo, dentre eles, a Capoeira Angola, existe para que seus integrantes sejam capazes de 
contribuir para a melhoria das diversas instâncias nas quais estão incluídos. No caso da 
Capoeira Angola, ao ensinar e também aprender sobre os fundamentos ali inseridos, a 
capacidade de intervir no mundo se dá em quantas esferas forem necessárias, seja no campo 
cultural, político, ideológico, de formação humana, histórico, ancestral, dentre tantos outros. 
“Ensinar exige liberdade e autoridade” (FREIRE, 1996, p.40). Nesse subtítulo, Freire resume 
uma reflexão eminente no processo educativo da capoeira, na ótica da liberdade, da 
autoridade, e, sobretudo, da autonomia, pois essas se completam dentro do campo de prática 
da Capoeira Angola. FREIRE (1996) atesta que; 
 
“(...) A autonomia vai se constituindo na experiência de várias, inúmeras decisões, 
que vão sendo tomadas. Uma pedagogia da autonomia tem de estar centrada em 
experiências estimuladoras da decisão e da responsabilidade, vale dizer, em 
experiências respeitosas da liberdade”. (FREIRE 1996. p, 41) 
 
 “Ensinar exige saber escutar” (FREIRE, 1996, p.43). De certo, o saber escutar é a prática 
mais relativa para obter sucesso no processo de ensino-aprendizagem. O professor que escuta, 
aprende, e oaluno que ouve, ensina. Isso é uma constante na Capoeira Angola, de forma em 
que pode-se fazer um inferência no que diz e relaciona-se com a afirmação de FREIRE (1996, 
p. 45), ao atestar que “ensinar não é transferir inteligência do objeto ao educando mas instigá-
 
 
lo no sentido de que, como sujeito cognoscente, se torne capaz de inteligir e comunicar o 
inteligido.” 
 
 “Ensinar exige reconhecer que a educação é ideológica” (FREIRE, 1996, p.47). Paulo Freire 
e o processo da Capoeira Angola dialogam no sentido que ambos trabalham a lógica da 
formação do sujeito crítico e reflexivo, e ao mesmo tempo, se constituem de uma formação 
ideológica capaz de conceber uma educação libertadora e autônoma para seus sujeitos. 
 “Ensinar exige querer bem aos educandos” (FREIRE, 1996, p.52). Conforme Mestre João, 
em (APUD: SOUZA, p.21), “a Capoeira tem muito sentimento”, ou seja, tanto na concepção 
educativa de Paulo Freire, como na didática da Capoeira Angola, faz-se necessário haver 
afeto, de forma que tanto o educador quanto os educandos se sentam confortáveis e queridos, 
proporcionando um ambiente de ensino-aprendizagem agradável, onde a educação aconteça 
em sua forma mais plena. 
Diante das considerações relatadas acima sobre o livro: Pedagogia da Autonomia, de Paulo 
Freire, e sobre a “Pedagogia da Capoeira Angola”, conclui-se que a educação como 
instrumento de formação autônoma do sujeito-cidadão se estabelece nessas duas fontes. O que 
contribui para que o processo de ensino-aprendizagem se dê de maneira que exista a 
necessidade de reconhecer e colocar em ação as ferramentas e capacidades para a construção 
interior de quem educa e de quem é educado. 
Essas duas ações acontecem ao mesmo tempo e reciprocamente, ou seja, o mestre ou 
professor que ensina seu aluno ou discípulo também aprende da mesma forma que o aluno ou 
discípulo também ensina seu professor ou mestre. Para haver essa troca, deve-se constituir 
relações horizontais de afetividade, respeito, comprometimento com a educação e 
consciência de que o ato de educar é uma ação que gradativamente molda o sujeito, e é 
preciso que este molde não se limite aos padrões fechados, excludentes e limitantes do nosso 
meio. Pelo contrário, devem-se formar mulheres e homens, crianças e adultos, de todas as 
etnias e escolhas individuais para terem a ciência da possibilidade de serem cada vez mais, 
pessoas abertas para um mundo que inclui e abrange possibilidades de crescimento para 
todos. Paulo Freire e a “Pedagogia da Capoeira Angola” deixam esse legado para a força da 
educação, onde quer que aconteça. 
 
 
 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
Diante do trabalho exposto aqui, estabeleceu-se uma ligação entre os dois segmentos 
principais deste trabalho: educação e Capoeira Angola. A relação tênue e firme entre estas 
vertentes possibilita a percepção da prática da Capoeira Angola em suas diversas 
característica e como ela funciona como um instrumento de transformação social e cultural. 
Além disso, contribui para a formação da identidade política dos seus praticantes, sendo 
considerada também como uma manifestação de resistência contra o sistema e o modelo 
econômico no qual estamos submetidos, mas não entregues. Dessa forma, a Capoeira Angola 
tem um potencial de formar pessoas que assimilam valores como a humildade, a disciplina e o 
respeito, dando vazão para que os integrantes do processo do qual ela decorre, se fortifiquem 
e possam ser agentes de transformação no mundo em que vivemos. A pedagogia, com suas 
postulações didáticas, metodológicas e de conteúdo, trabalha pela potencialização formadora 
de educadores que irão contribuir para um processo de ensino-aprendizagem justo e 
democrático. 
Retomando as questões que justificam este estudo, depreende-se que a Capoeira Angola 
funciona como um instrumento de transformação do sujeito social e que sua Pedagogia 
libertadora é norteada pelos valores transmitidos em todos seus rituais e formas do processo 
de ensino-aprendizagem. 
 A Capoeira Angola é fonte de conteúdo cultural na qual a imagem do Mestre é valorizada, 
pois é a figura central na constituição da tradição da prática da Capoeira e, assim sendo, 
contribui também para a identificação dos diversos atributos que os povos de origem africana 
e indígena deixaram de legado para a formação do “Povo Brasileiro”, como destacado nas 
referências a Darcy Ribeiro. A Capoeira Angola relaciona-se com as manifestações da nossa 
ancestralidade, com a cultura popular e possui ampla capacidade educativa, pois tem o poder 
de formar cidadão críticos perante os conflitos do mundo. 
Assim, a prática da Capoeira Angola é uma ação política, uma vez que, com os seus 
aprendizados todos que estão incluídos nos seus processos têm capacidades de se posicionar, 
de se empoderar e agir conscientemente diante situações de desigualdades, privilégios, 
exclusões e preconceitos. 
 
 
Como bem relacionado à “Pedagogia da Autonomia”, de Paulo Freire, a ação educativa da 
Capoeira Angola, funciona como uma ação que promove a independência da consciência 
entre seus praticantes e admiradores, ou seja, a pedagogia da Capoeira Angola é libertadora, o 
que corrobora com todas as inferências feitas a este grande educador brasileiro. 
 Após estabelecer a ligação entre as ideias pedagógicas formais e a tradição cultural da 
Capoeira Angola, A pesquisa realizada será disponibilizada aos grupos de Capoeira Angola de 
Belo Horizonte, a fim de que haja consultas e seja fonte referencial para trabalhos posteriores. 
Ao encerrar este trabalho, vale destacar a grande lição transmitida pelo guardião da Capoeira 
Angola, Mestre Pastinha: 
 “O capoeirista é um curioso, tem mentalidade para muita coisa, sabendo aproveitar 
de tudo o que o ambiente pode-lhe proporcionar. E a Capoeira Angola só pode ser 
ensinada sem forçar a naturalidade da pessoa. O negócio é aproveitar os gestos livre 
e próprios de cada um”. 
 
Que a educação encontrada na Capoeira Angola possa libertar todos os sujeitos e nos 
transformar em pessoas mais conscientes para a formação de um mundo melhor para todos. 
 
 
 
 
REFERÊNCIAS 
 
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Brasiliense, 1989. 
FERNÁNDEZ, José Fernando Tavares; BEDOYA, Vitor Alonso Molina. Prefácio: 
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FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: 
Paz e Terra, 1996. (coleção Leitura) 
GIL, Antonio Carlos Métodos. e técnicas de pesquisa social / Antonio Carlos Gil. - 6. ed. - 
São Paulo : Atlas, 2008. 
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Belo Horizonte: Editora UFMG, 2012. 
 
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MELO, Vinícius Thiago de. História da capoeira de rua de Belo Horizonte (1970-1990): 
manifestação cultural, lazer e política na sociedade moderna. 162. 2013. Dissertação 
(Mestrado)- Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional da Universidade 
Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2013. 
REIS, Letícia Vidor de Souza. Negros e brancos no jogo da capoeira: a reinvenção da 
tradição. 1993. Dissertação (Mestrado)- Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, 
Universidade de São Paulo, São Paulo, 1993b 
RIBEIRO, Darcy (1995). O Povo Brasileiro: A formação e o sentido do Brasil . São Paulo: 
Companhia das Letras. 
SODRÉ, Muniz. A verdade seduzida: por um conceito de cultura no Brasil. Rio de Janeiro: 
DP & A, 2005. 
SOUZA, Dimas Antônio de. Campo de mandinga: presentificação estética, ética e política na 
Capoeira Angola. 2016. 
 
 
http://formacaodocentefest.forumeiros.com/t3-freire-paulo-pedagogia-da-autonomia-saberes-necessarios-a-pratica-educativa-sao-paulo-paz-e-terra-1996-colecao-leitura#3
http://formacaodocentefest.forumeiros.com/t3-freire-paulo-pedagogia-da-autonomia-saberes-necessarios-a-pratica-educativa-sao-paulo-paz-e-terra-1996-colecao-leitura#3https://pt.wikipedia.org/wiki/Darcy_Ribeiro
http://www.iphi.org.br/sites/filosofia_brasil/Darcy_Ribeiro_-_O_povo_Brasileiro-_a_forma%C3%A7%C3%A3o_e_o_sentido_do_Brasil.pdf

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