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Políticas ambientais dos entes federativos e seus instrumentos - -2 Introdução Você está na unidade Políticas ambientais dos entes . Nela, você conheceráfederativos e seus instrumentos conceitos, características e princípios do direito ambiental, bem como as potencialidades das questões ambientais na Constituição Federal. Compreenderá as políticas ambientais nacionais e as licenças ambientais, avaliação de impacto ambiental e fiscalização e questões de danos ambientais, como também os reparos e indenizações. Você também aprenderá sobre o entendimento do EIA /RIMA sobre o zoneamento ambiental e o Sistema Nacional de Meio Ambiente (Sisnama) Bons estudos! 2.1 Direito ambiental: conceito e características O direito ambiental surgiu no século XX, quando o esgotamento dos recursos naturais tomaram rumos alarmantes e as consequências da poluição e da degradação ambiental foram expostas brutalmente, fazendo com que surgisse a necessidade da proteção ambiental e a limitação da atuação nociva do ser humano. Ressalta-se que outro fator relevante para a imposição do direito ambiental é que, de fato, o Brasil é destaque em termos culturais populacionais e também em biodiversidade, isso porque é rico em biomas e conhecido pela diversidade de fauna e flora, além disso abriga a maior floresta tropical do mundo: a Amazônia. Desse modo, o direito ambiental é um ramo do direito que visa regular as relações entre a sociedade-estado e o meio ambiente e coordenar o equilíbrio dos aspectos econômicos, sociais, pessoais e jurídicos com o meio ambiente e o bem-estar da população (FARIAS, 2020). - -3 Figura 1 - Direito ambiental Fonte: Lightspring, Shutterstock, 2021. De acordo com o conceito legal, disposto pelo art. 3º, inciso I, da Lei nº 6.938/81, meio ambiente é "[...] o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas". (BRASIL, 1981). Deve-se considerar que o escopo de "[...] ‘todas as formas de vida’ refere-se a elementos vivos - como a flora e a fauna - e a elementos não vivos - como a água e o solo” (LIMA, 1999, on-line). Nesse sentido, proteger o meio ambiente significa proteger todos os espaços que acomodam e permitem estilos de vida existentes. Ante o exposto, é necessário enfatizar que o conceito jurídico de meio ambiente se refere apenas ao meio ambiente natural, enquanto os ambientalistas estudam outros ambientes, como ambientes artificiais, ambientes culturais e ambientes de trabalho. De acordo com Rodrigues (2019, on-line), Ademais, é importante mencionar que ter um ambiente equilibrado e sustentável é direito de terceira dimensão garantido a todos, compreendido pela sua magnitude. “ „ O meio ambiente é a interação de tudo que, situado nesse espaço, é essencial para a vida humana com qualidade em todas as suas formas. Logo, a proteção do meio ambiente compreende a tutela de um meio biótico (todos os seres vivos) e outro abiótico (não vivo), porque é dessa interação, entre as diversas formas de cada meio, que resultam a proteção, o abrigo e a regência de todas as formas de vida. - -4 Sendo assim, a Carta Magna de 1988 reconheceu a necessidade de proteger todas as formas de vida existentes e introduziu no ordenamento jurídico inovações em questões ambientais, o que foi um marco na efetivação de direitos nessa área (MURTA, 2019, on-line). Para proteger o meio ambiente, o art. 225 da Constituição dispõe que todos têm o direito de desfrutar de um meio ambiente ecologicamente equilibrado, sendo ele interesse comum das pessoas e de uma qualidade de vida saudável (MURTA, 2019, on-line). Paralelamente, ao direito ambiental compete definir os conceitos contidos no ambiente e criar métodos que garantam o equilíbrio dos benefícios ecológicos, econômicos e sociais com base no desenvolvimento sustentável, de forma a minimizar os impactos do comportamento Humanos irresponsável. 2.2 Princípios do direito ambiental Em primeiro lugar, cumpre destacar que é direito fundamental o meio ambiente ecologicamente equilibrado, garantindo a todos um ecossistema limpo, rico e que seja condizente com a saúde e segurança do ser humano. É nesse sentido que o direito ambiental estabelece princípios básicos para a eficácia da proteção, dentre os quais se pode destacar: o desenvolvimento sustentável; a cooperação; o poluidor e usuário-pagador; a informação; a prevenção/precaução; e a responsabilidade ambiental. O princípio do desenvolvimento sustentável visa eliminar as ameaças que prejudicam o equilíbrio ambiental, evitam a degradação ambiental e promovem o crescimento econômico (ÂMBITO JURÍDICO, 2019). Nesse entendimento, a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento definiu Desenvolvimento Sustentável, como aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem às suas próprias necessidades. Em vista disso, o princípio da cooperação estipulado no art. 225 da Constituição Federal impõe “[...] a obrigação da comunidade de defender e manter o poder público para as gerações presentes e futuras” (BRASIL 1988). Segundo Rodrigues (2005, p. 173): Fique de olho O conceito e a proteção ao meio ambiente são demasiadamente amplos, especialmente quando insere na penalização da poluição uma proteção específica ao ser humano, preocupando-se com sua saúde, segurança, bem- estar, além das atividades sociais e econômicas que ligam o ser humano ao meio ambiente. Assim, a amplitude a qual se insere o meio ambiente, também contempla a sua relação direta com o ser humano e os seus direitos fundamentais. - -5 Na sequência, é válido desmistificar os princípios do poluidor-pagador e do usuário-pagador. Assim, princípio do poluidor-pagador pune o agente por todos os danos causados ao meio ambiente, tendo caráter punitivo e reparatório. Para a doutrina: Já o usuário-pagador, tem caráter remuneratório, assim ‘‘[...] há uma relação contratual, sinalagmática, em que o usuário paga para ter uma contraprestação, correspondente ao direito de exploração de um determinado recurso natural, conforme o instrumento de outorga do Poder Público competente” (BELTRÃO, 2008, p. 50). O direito à informação decorre do direito fundamental ao ambiente ecologicamente equilibrado, assim: O princípio do comportamento preventivo é que o impacto ambiental seja conhecido e medidas devem ser tomadas para prevenir ou reduzir os danos. Por outro lado, o princípio da precaução visa prevenir o risco de perigos abstratos que são desconhecidos ou não podem ser minimizados. Por fim, de acordo com a Constituição Federal de 1988, a responsabilidade ambiental estipula no art. 225, § 3º, “[...] as condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas a sanções penais e administrativas, independentemente de remediação. obrigação de danos”. Desta feita, os princípios ambientais são um conjunto de normas obrigatórias que regulam as atividades humanas que podem afetar direta ou indiretamente a saúde ambiental em escala global e a sustentabilidade para as gerações presentes e futuras (MILARÉ, 2011, p. 109). Logo, nota-se que esses princípios são “ „ “ „ “ „ O princípio da participação constitui um dos postulados fundamentais do Direito Ambiental. [...] Embora ainda pouco difundido no nosso país, a verdade é que tal postulado se apresenta na atualidade como sendo uma das principais armas, senão a mais eficiente e promissora, na luta por um ambiente ecologicamente equilibrado. [...] o pagamento pecuniário e a indenização não legitimam a atividade lesiva ao ambiente. O enfoque, pois, há de ser sempre a prevenção; entretanto, uma vez constatado o dano ao ambiente, o poluidor deverá repará-lo. Sofismático, pois, o raciocínio de que ‘poluo, mas pago’ (BELTRÃO, 2008, p. 48). O princípio da informação pode ser definido como o direito de todo cidadão ter as informaçõesque julgar necessárias sobre o ambiente em que vive e a ninguém é dado o direito de sonegar informações que possam gerar danos irreparáveis à sociedade, prejudicando o meio ambiente, que além de ser um bem de todos, deve ser sadio e protegido pela coletividade, inclusive pelo Poder Público (GUIMARÃES, 2002, on-line). - -6 essenciais para a aplicação da meta constitucional do meio ambiente ecologicamente equilibrado, que permite ao ecossistema viver em harmonia com a vida humana sem qualquer risco ou dano iminente. 2.3 O meio ambiente na Constituição Federal Sabe-se que a cultura da degradação ambiental e da exploração intensa de recursos naturais ficou enraizada no Brasil desde a chegada dos portugueses. Nesse contexto, para a exploração, usou-se até de mão de obra escravizada de indígenas e negros. Como consequência, houve a diminuição das riquezas naturais, das florestas e do ecossistema, dando lugar à extinção de espécies e ao desequilíbrio ambiental. Historicamente, Milaré (2005, p. 183) registra: “ A Constituição do Império, de 1824, não fez qualquer referência à matéria, apenascuidando da proibição de indústrias contrárias à saúde do cidadão (art. 179, n. 24). Sem embargo, a medida já traduzia certo avanço no contexto da época. O Texto Republicano de 1891 atribuía competência legislativa à União para legislar sobre as suas minas e terras (art. 34, n. 29). A Constituição de 1934 dispensou proteção às belezas naturais, ao patrimônio histórico, artístico e cultural (arts. 10, III, e 148); conferiu à União competência em matéria de riquezas do subsolo, mineração, águas, florestas, caça, pesca e sua exploração (art. 5º, XIX, j). A Carta de 1937 também se preocupou com a proteção dos monumentos históricos, artísticos e naturais, bem como das paisagens e locais especialmente dotados pela natureza (art. 134); incluiu entre as matérias de competência da União legislar sobre minas, águas, florestas, caça, pesca e sua exploração (art. 16, XIV); cuidou ainda da competência legislativa sobre subsolo, águas e florestas no art. 18, ‘a’ e ‘e’, onde igualmente tratou da proteção das plantas e rebanhos contra moléstias e agentes nocivos. A Constituição de 1967 insistiu na necessidade de proteção do patrimônio histórico, cultural e paisagístico (art. 172, parágrafo único); disse ser atribuição da União legislar sobre normas gerais de defesa da saúde, sobre jazidas, florestas, caça, pesca e águas (art. 8º, XVII, ‘h’). A Carta de 1969, emenda outorgada pela Junta Militar à Constituição de 1967, cuidou também da defesa do patrimônio histórico, cultural e paisagístico (art. 180, parágrafo único). No tocante à divisão de competência, manteve as disposições da Constituição emendada. Em seu art. 172, disse que ‘a lei regulará, mediante prévio levantamento ecológico, o aproveitamento agrícola de terras sujeitas a intempéries e calamidades’ e que o ‘mau uso da terra impedirá o proprietário de receber incentivos e auxílio do Governo’. Cabe observar a introdução, aqui, do vocábulo ecológico em textos legais. - -7 Para minimizar os impactos já causados, a Constituição Federal de 1988 seguiu a Política Ambiental Nacional e inovou na proteção geral do meio ambiente. Para Silva (2004), a Constituição Federal tratou conscientemente as questões ambientais, uma vez que trouxe mecanismos de proteção e controle, sendo conhecida como “Constituição Verde” por alguns. Assim, o fundamento da Lei Ambiental está concentrado no art. 225, que estipula que Trata-se, portanto, de um direito de terceira dimensão que exige a solidariedade para a efetiva aplicação, a fim de proteger os povos presentes e futuros para garantir a harmonia da vida na Terra. Para assegurar a efetividade desses direitos, o mesmo artigo dispõe que deve o Poder Público: „ “ „ “ „ [...] toda pessoa tem direito a usufruir de um meio ambiente ecologicamente equilibrado, que é de interesse comum das pessoas, o que é essencial para uma qualidade de vida saudável, e se impõe ao público. As autoridades e as comunidades têm a responsabilidade de defendê-lo e protegê-lo para as gerações presentes e futuras (SANTOS, 2014, on-line). I– preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas; II– preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material genético; III– definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção; IV– exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade; V– controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente; VI– promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente; VII– proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais à crueldade. (BRASIL, 1988, on-line) - -8 Nota-se a obrigatoriedade da intervenção estatal para a proteção do meio ambiente. Em consonância, o artigo também disciplina sobre o princípio da reparação e precaução do meio ambiente, assim ‘‘[...] aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar o meio ambiente degradado, de acordo com solução técnica exigida pelo órgão público competente, na forma da lei’’ (BRASIL, 1988, on-line) e ‘‘[...]as condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados’’ (BRASIL, 1988, on-line). Não obstante, preza-se pela importância das normas ambientais uma vez que a degradação ambiental coloca em risco o direto à vida e a saúde das pessoas, individual e coletivamente consideradas, bem como a própria perpetuação da espécie humana (TEIXEIRA, 2000, p. 15). 2.4 Competência em matéria ambiental Quando se trata de matéria em direito ambiental, é importante frisar que a Constituição Federal de 1988 apresenta os entes federados que possuem a competência quanto ao tema. Porém, antes de ingressar no mérito das competências, é importante definir essa palavra. Na concepção de Bastos (2001, p. 107): “[...] competência são os poderes que a lei confere para que cada órgão público possa desempenhar suas atribuições específicas”. Logo, no que tange à matéria aqui disposta, será apresentado sobre a competência legislativa, material e processual. A matéria legislativa, definida na Constituição Federal em seu art. 24, apresenta-se como uma competência concorrente, delegando essa função à União, aos estados e ao Distrito Federal, como nota-se nos incisos VI, VII e VIII : Nesse caso, o município foi excluído de legislar concorrentemente pela Carta Política, porém, ressalta-se que esse ente pode legislar de forma suplementar e de modo a atender os interesses locais, como definido no art. “ „ Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre: [...] VI- florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza, defesa do solo e dos recursos naturais, proteção do meio ambiente e controle da poluição; VII- proteção ao patrimônio histórico, cultural, artístico, turístico e paisagístico; VIII- responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico (BRASIL, 1988, online) - -9 30, incisos I e II (BRASIL, 1988, on-line): “Art. 30. Competeaos Municípios: I - legislar sobre assuntos de interesse local; II - suplementar a legislação federal e a estadual no que couber”. No que concerne a essa competência, é importante frisar a crítica que Antunes (2021, p. 76) faz: Superada a competência legislativa, necessita-se de uma análise da competência material, que, por sua vez, divide-se em exclusiva, comum e residual. A exclusiva, será exercida pela União, como definido pela Constituição em seu art. 21, destacando-se os incisos XIX e XX, que afirmam que à União compete “[...]: XIX - instituir sistema nacional de gerenciamento de recursos hídricos e definir critérios de outorga de direitos de seu uso; XX - instituir diretrizes para o desenvolvimento urbano, inclusive habitação, saneamento básico e transportes urbanos” (BRASIL, 1988, on-line). Ademais, também será exercida pelos municípios, como apresentado no art. 30 da Lei Máxima, em seus inciso VIII, que determina sobre o controle e o uso do solo urbano, e IX, o qual atribui ao município a proteção ao patrimônio histórico-cultural local. Figura 2 - Engrenagem ambiental Fonte: ImageFlow, Shutterstock, 2021. Já a competência material comum, exercida por todos os entes federativos, está prevista no art. 23 da Carta Política, determinando que os entes devem proteger, resguardar, preservar, fomentar, dentre outras ações, o meio ambiente, seja ele em qualquer de suas nuances, visando a uma utilização adequada. A competência residual, definida no artigo 25, §1°, determina que ficam reservados aos estados as competências que não lhe forem excluídas pela Constituição. “ „ A repartição de competências legislativas, feita com espírito que, à primeira vista, se passa por descentralizador, muito embora não o seja, implica a existência de um sistema legislativo complexo e que, nem sempre, funciona de modo integrado, como seria de se esperar e que tende a operar como uma força centrípeta. - -10 Por fim, sobre a competência processual, deve ser analisada a matéria ambiental a ser discutida para que assim se note qual será o tribunal a julgar a ação, e, nesse sentido, entende o Supremo Tribunal Federal: Assim, preliminarmente, antes de ingressar com uma ação, é imprescindível uma análise minuciosa de todos os aspectos e peculiaridades envolvidos no conflito de maneira a determinar com precisão a competência do juízo para julgá-la. 3.5 Política Nacional de Meio Ambiente Sobretudo, a Lei n. 6.938 de 31 de agosto de 1981 regulamenta a Política Nacional do Meio Ambiente, estabelecendo a proteção e prevenção ao meio ambiente em todas as suas formas, protegendo a fauna, a flora e os seres humanos. Fique de olho Julgamento de ações civis públicas: no âmbito da justiça dos estados, pela Lei n. 9.099 de 1995, consta no art. 63 que ‘‘[...] a competência do Juizado será determinada pelo lugar em que foi praticada a infração penal’’ (BRASIL, 1995). Importante mencionar que se a infração for verificada em mais de uma comarca concorrentemente, haverá a aplicação das normas do CPC, a saber, se verificará a possibilidade de aplicação por conexão ou prevenção, por exemplo. “ „ 3. A competência de Justiça Estadual é residual, em confronto com a Justiça Federal, à luz da Constituição Federal e da jurisprudência do Supremo Tribunal Federal. 4. A competência da Justiça Federal aplica-se aos crimes ambientais que também se enquadrem nas hipóteses previstas na Constituição, a saber: (a) a conduta atentar contra bens, serviços ou interesses diretos e específicos da União ou de suas entidades autárquicas; (b) os delitos, previstos tanto no direito interno quanto em tratado ou convenção internacional, tiverem iniciada a execução no país, mas o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro - ou na hipótese inversa; (c) tiverem sido cometidos a bordo de navios ou aeronaves; (d) houver grave violação de direitos humanos; ou ainda (e) guardarem conexão ou continência com outro crime de competência federal; ressalvada a competência da Justiça Militar e da Justiça Eleitoral, conforme previsão expressa da Constituição (BRASIL, 2017) - -11 Figura 3 - Ministério do Meio Ambiente (MMA) Fonte: Arthur Matsuo, Shutterstock, 2021. Consonante Antunes (2021, p. 100), a Política Nacional do Meio Ambiente, “[...] resulta da combinação de um contexto internacional complexo, no qual a proteção ao meio ambiente se tornou cada vez mais relevante com a existência de reflexos internos que, igualmente, contribuíram decisivamente para a sua elaboração”. Assim, nota-se que o intuito da PNMA é a preservação, bem como a “[...] melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida” (BRASIL, 1981, on-line). Esses objetivos visam promover o equilíbrio do meio ambiente e a qualidade de vida dos impactados pelo meio. Assim, para a fiel aplicação da lei, observará os princípios abordados no art. 2º (BRASIL, 1981, on-line): “ „ I - ação governamental na manutenção do equilíbrio ecológico, considerando o meio ambiente como um patrimônio público a ser necessariamente assegurado e protegido, tendo em vista o uso coletivo; II - racionalização do uso do solo, do subsolo, da água e do ar; III - planejamento e fiscalização do uso dos recursos ambientais; IV - proteção dos ecossistemas, com a preservação de áreas representativas; V - controle e zoneamento das atividades potencial ou efetivamente poluidoras; VI - incentivos ao estudo e à pesquisa de tecnologias orientadas para o uso racional e a proteção dos recursos ambientais; VII - acompanhamento do estado da qualidade ambiental; VIII - recuperação de áreas degradadas; IX - proteção de áreas ameaçadas de degradação; X - educação ambiental a todos os níveis de ensino, inclusive a educação da comunidade, objetivando capacitá-la para participação ativa na defesa do meio ambiente. - -12 Desse modo, extrai-se que o meio ambiente é um patrimônio público e deve ser protegido de modo efetivo e amplo pelo Poder Público, visando à fiscalização, prevenção, reparação, repreensão e preservação ambiental. Não obstante, a coletividade também tem o dever de garantir o desenvolvimento sustentável do meio. Antunes (2010) ensina que o art. 2º ainda aborda sobre o incentivo de pesquisas sobre educação ambiental com o intuito de mobilizar a sociedade a ser a favor da preservação ambiental na tentativa de minimizar o impacto do homem no meio ambiente natural. É importante frisar que a lei ainda aborda alguns conceitos em seu art. 3º, por exemplo, o que se entende por meio ambiente, definindo-o como: “o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas” (BRASIL, 1981, on-line). Além disso, é determinada a conceituação para fins jurídicos sobre a degradação da qualidade ambiental, ou seja, ‘‘[...] a alteração adversa das características do meio ambiente” (BRASIL, 1981, on-line), e o conceito de poluição, caracterizando-os como: Assim, nota-se que o conceito de poluidor abrange tanto pessoa física quanto jurídica, responsável direta ou indiretamente pelo dano que causou ao meio ambiente, desequilibrando e degradando o sistema ecológico. Fique de olho “ „ Art. 3º - Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por: I - meio ambiente, o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas; II - degradação da qualidade ambiental, a alteração adversa das características do meio ambiente; III - poluição, a degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que direta ou indiretamente: a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população; b) criem condições adversas às atividades sociais e econômicas; c) afetem desfavoravelmente a biota; d) afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente; e) lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões ambientais estabelecidos; IV - poluidor,a pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, responsável, direta ou indiretamente, por atividade causadora de degradação ambiental; V - recursos ambientais: a atmosfera, as águas interiores, superficiais e subterrâneas, os estuários, o mar territorial, o solo, o subsolo, os elementos da biosfera, a fauna e a flora. - -13 Na sequência de estudos, relevante é salientar também os objetivos determinados no artigo 4º para a Política Nacional do Meio Ambiente, quais sejam: Importante mencionar que a conservação do meio ambiente é necessária haja vista que, conforme a doutrina, a sua “[...] não conservação pode trazer prejuízos econômicos incalculáveis. Veja-se a crise hídrica que o Brasil passa no momento. Não é de hoje que o Governo Federal reconhece que a “[...] devastação desordenada das matas está produzindo em todo o país efeitos sensíveis e desastrosos, salientando-se entre eles alterações na constituição climática de várias zonas e no regime das águas pluviais e das correntes que delas dependem”, como transcrito do Decreto nº 8.843/1911, que criou a reserva florestal do Acre, e que há necessidade de proteger e assegurar a navegação fluvial e, consequentemente, de obstar que o regime hidrográfico sofra modificação” (PAZ, 2021, on-line). “ Art 4º - A Política Nacional do Meio Ambiente visará:I - à compatibilização do desenvolvimento econômico-social com a preservação da qualidade do meio ambiente e do equilíbrio ecológico; II - à definição de áreas prioritárias de ação governamental relativa à qualidade e ao equilíbrio ecológico, atendendo aos interesses da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios; III - ao estabelecimento de critérios e padrões de qualidade ambiental e de normas relativas ao uso e manejo de recursos ambientais; IV - ao desenvolvimento de pesquisas e de tecnologias nacionais orientadas para o uso racional de recursos ambientais; V - à difusão de tecnologias de manejo do meio ambiente, à divulgação de dados e informações ambientais e à formação de uma consciência pública sobre a necessidade de preservação da qualidade ambiental e do equilíbrio ecológico; VI - à preservação e restauração dos recursos ambientais com vistas à sua utilização racional e disponibilidade permanente, concorrendo para a manutenção do equilíbrio ecológico propício à vida; VII - à imposição, ao poluidor e ao predador, da obrigação de recuperar e/ou indenizar os danos causados e, ao usuário, da contribuição pela utilização de recursos ambientais com fins econômicos. Art 5º - As diretrizes da Política Nacional do Meio Ambiente serão formuladas em normas e planos, destinados a orientar a ação dos Governos da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios no que se relaciona com a preservação da qualidade ambiental e manutenção do equilíbrio ecológico, observados os princípios estabelecidos no art. 2º desta Lei. - -14 Assim, nota-se a importância da Política do Meio Ambiente, que apresentou importante avanço no que tange à preservação ambiental, definindo meios de preservação, prevenção e punição àqueles que causarem danos. 2.6 Licenciamento ambiental e avaliação do Impacto ambiental Sobretudo, a doutrina ensina que Nesse contexto, a palavra “licença” também é aplicada no estudo do direito ambiental, Dessa forma, para fins de proteção ambiental, os institutos de impacto ambiental e o licenciamento de atividades efetiva ou potencialmente poluidoras estão previstos pela Lei nº 6.938, sendo os instrumentos para a execução da Política Nacional de Meio Ambiente. Ante o exposto, foi aduzido o termo pela Resolução Conama n. 237/97: „ “ „ “ „ “ Parágrafo único - As atividades empresariais públicas ou privadas serão exercidas em consonância com as diretrizes da Política Nacional do Meio Ambiente (BRASIL, 1981, on-line). [...] a palavra ‘licenciar’ significa dizer, dar ‘permissão’, ‘anuência’, ‘consentimento’, ‘autorização’, que na vida cotidiana em sociedade, é pedido ao indivíduo para fazer ou deixar de fazer alguma coisa, como por exemplo, ao sentar num banco de ônibus até pedir passagem numa fila, ‘licença’ é sinônimo de boa educação e respeito ao próximo’ (RODRIGUES, 2019, p. 557). [...] posto que devemos considerarmos que o meio ambiente equilibrado é um bem de uso comum do povo e que compete ao poder público o seu controle e gestão, é certo que não se poderá admitir o uso incomum ou atípico do bem ambiental (uso econômico, por exemplo) sem um “pedido de licença” (RODRIGUES, 2019, p. 557). Art. 1º Para efeito desta Resolução são adotadas as seguintes definições: - -15 Em consonância, pode-se observar que a licença ambiental é um ato administrativo que envolve peculiaridades complexas, haja vista ter resultado de um procedimento administrativo com amplo contraditório. Dessa forma, os estudos realizados pelo instituto de licenciamento podem ser utilizados em outros procedimentos em sede administrativa, por exemplo, em avaliações de impacto, monitoramento ambiental, zoneamento ambiental entre outros. Para tanto, a Resolução n. 237/97 dispõe que estudos ambientais são: Fique de olho A doutrina ensina que, ‘‘[...] a licença ambiental é o ato resultante do processo de licenciamento. Só se obtém uma licença ambiental após o desenvolvimento válido e regular de uma sequência de atos administrativos em contraditório que culminam num ato final, que é a concessão ou denegação do pedido de licença ambiental’’ (RODRIGUES, 2018, p. 558). „ “ „ I - Licenciamento Ambiental: procedimento administrativo pelo qual o órgão ambiental competente licencia a localização, instalação, ampliação e a operação de empreendimentos e atividades utilizadoras de recursos ambientais, consideradas efetiva ou potencialmente poluidoras ou daquelas que, sob qualquer forma, possam causar degradação ambiental, considerando as disposições legais e regulamentares e as normas técnicas aplicáveis ao caso. II - Licença Ambiental: ato administrativo pelo qual o órgão ambiental competente estabelece as condições, restrições e medidas de controle ambiental que deverão ser obedecidas pelo empreendedor, pessoa física ou jurídica, para localizar, instalar, ampliar e operar empreendimentos ou atividades utilizadoras dos recursos ambientais consideradas efetiva ou potencialmente poluidoras ou aquelas que, sob qualquer forma, possam causar degradação ambiental. (BRASIL, 1997) Resolução n. 237/97 Art. 1º III — são todos e quaisquer estudos relativos aos aspectos ambientais relacionados à localização, instalação, operação e ampliação de uma atividade ou empreendimento, apresentado como subsídio para a análise da licença requerida, tais como: relatório ambiental, plano e projeto de controle ambiental, relatório ambiental preliminar, diagnóstico ambiental, plano de manejo, plano de recuperação de área degradada e análise preliminar de risco. (BRASIL, 1997, on-line) - -16 Diante disso, para todas as atividades que causem significativo impacto ao meio ambiente será exigido o estudo prévio de impacto (EIA/RIMA). Ainda, em situações em que não houver riscos de impactos ambientais, será exigida a licença ambiental, sendo necessários também outros estudos de menor porte que o EIA, conforme as disposições do artigo 3º: Quanto à competência para licenciar, nota-se um conflito de competência na que envolve a União, os estados e municípios. Há de se ressaltar que esse conflito gera insegurança jurídica. Logo, a regra que estabelece a competência de licenciar pode ser interpretada pelo art. 23, VI, da CF/88 (RODRIGUES, 2019). Com objetivo de incorporar o federalismo cooperativo em matéria ambiental, foi implementada a Lei nº 140 /2011, estabelecendo que: Assim, Rodrigues (2019, p. 562) explana que: “ „ “ „ “ Art. 3º - A licença ambiental para empreendimentos e atividades consideradas efetiva ou potencialmente causadoras de significativa degradação do meio dependerá deprévio estudo de impacto ambiental e respectivo relatório de impacto sobre o meio ambiente (EIA/RIMA), ao qual dar-se-á publicidade, garantida a realização de audiências públicas, quando couber, de acordo com a regulamentação. Parágrafo único. O órgão ambiental competente, verificando que a atividade ou empreendimento não é potencialmente causador de significativa degradação do meio ambiente, definirá os estudos ambientais pertinentes ao respectivo processo de licenciamento (BRASIL, 1997). Art. 1 Esta Lei Complementar fixa normas, nos termos dos , eo incisos III VI VII do e do , para a cooperaçãocaput parágrafo único do art. 23 da Constituição Federal entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios nas ações administrativas decorrentes do exercício da competência comum relativas à proteção das paisagens naturais notáveis, à proteção do meio ambiente, ao combate à poluição em qualquer de suas formas e à preservação das florestas, da fauna e da flora. (BRASIL, 2011) Como estudado, o critério que primeiramente deve ser utilizado para identificar o ente político competente para licenciar uma obra ou atividade é o da predominância http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm - -17 Ademais, a tripartição da licença ambiental em etapas (prévia, instalação e operação) permite um maior controle do cumprimento das condicionantes e exigências fixadas ao longo do desenvolvimento do projeto (RODRIGUES, 2019, p. 659). Desse modo, o legislador estabelece prazos de validade distintos para as licenças: A Lei Complementar n. 140/2011 utilizou de consequências jurídicas para o caso de o Poder Público descumprir os prazos previstos em lei para a análise e o pronunciamento sobre o pedido de licença que é formulado pelo empreendedor. (Vide Lei nº 140/2011), sendo que os prazos para a concessão das licenças foram fixados pelo CONAMA, observada a natureza técnica da atividade (vide art. 19, § 1, do Decreto n. 99.274 /90). 2.6.1 Avaliação do Impacto ambiental No que tange à reflexão sobre os impactos ambientais, a avaliação é um instrumento de suma importância para a gestão e política ambiental, que possui como finalidade cessar os danos ambientais ilícitos, em consonância com os princípios da preservação e precauções (vide art. 9º, inciso III, da Lei n. 6.938/81) Nesae sentido, aparecem as AIA, que se referem a uma técnica de gestão administrativa do meio ambiente que permite consultar a qualidade/quantidade de impactos ambientais causados por uma obra ou „ “ „ do interesse. Ou seja, estabelecer se o empreendimento é de interesse nacional, regional ou local, para, então, determinar a competência da União, Estado ou Município. Art. 18. O órgão ambiental competente estabelecerá os prazos de validade de cada tipo de licença, especificando-os no respectivo documento, levando em consideração os seguintes aspectos: I - O prazo de validade da Licença Prévia (LP) deverá ser, no mínimo, o estabelecido pelo cronograma de elaboração dos planos, programas e projetos relativos ao empreendimento ou atividade, não podendo ser superior a 5 (cinco) anos. II - O prazo de validade da Licença de Instalação (LI) deverá ser, no mínimo, o estabelecido pelo cronograma de instalação do empreendimento ou atividade, não podendo ser superior a 6 (seis) anos. III - O prazo de validade da Licença de Operação (LO) deverá considerar os planos de controle ambiental e será de, no mínimo, 4 (quatro) anos e, no máximo, 10 (dez) anos. (BRASIL, 1997) - -18 empreendimento, por uma série de procedimentos, como diagnóstico, análises de risco, propostas de mitigação, de forma que se possam antever as consequências de uma dada atividade (RODRIGUES, 2018). Destaca-se que a avaliação não deve ser confundida com os estudos ambientais, haja vista que essa técnica é utilizada para possibilitar a avaliação. Destarte, nota-se que é por meio dos estudos que se pode chegar a uma conclusão sobre a magnitude do impacto ambiental causado por um empreendimento. Dessa maneira, observa-se que os estudos ambientais são as fundamentações técnico-científicas necessárias às avaliações de impacto ambiental. Assim, a avaliação de impacto ambiental foi disposta pela Lei n. 6.803/80, conforme seus arts. 9º e 10º: Em vista disso, o art. 7º, IV e § 1º, declarou a possibilidade de se exigir, antes ou depois do licenciamento do empreendimento, a realização de estudos ambientais, vinculando-o ao procedimento de licenciamento, que também foi estabelecido no art. 18 do Conama. “ „ Art. 9° O licenciamento para implantação, operação e ampliação de estabelecimentos industriais, nas áreas críticas de poluição, dependerá da observância do disposto nesta Lei, bem como do atendimento das normas e padrões ambientais definidos pela SEMA, pelos organismos estaduais e municipais competentes, notadamente quanto às seguintes características dos processos de produção: I - emissão de gases, vapores, ruídos, vibrações e radiações; II - riscos de explosão, incêndios, vazamentos danosos e outras situações de emergência; III - volume e qualidade de insumos básicos, de pessoal e de tráfego gerados; IV - padrões de uso e ocupação do solo; V - disponibilidade nas redes de energia elétrica, água, esgoto, comunicações e outros; VI - horários de atividade. Parágrafo único. O licenciamento previsto no caput deste artigo é da competência dos órgãos estaduais de controle da poluição e não exclui a exigência de licenças para outros fins.” Art. 10. [...] § 3º Além dos estudos normalmente exigíveis para o estabelecimento de zoneamento urbano, a aprovação das zonas a que se refere o parágrafo anterior será precedida de estudos especiais de alternativas e de avaliações de impacto, que permitam estabelecer a confiabilidade da solução a ser adotada. - -19 Dessa forma, a construção, instalação, ampliação ou operação de atividades que utilizem recursos ambientais considerados eficazes ou potencialmente poluidores, e que possam causar qualquer forma de degradação ambiental, estará sujeita à aprovação prévia do órgão nacional integrante do Sisnama e não afetam outras licenças exigidas por lei. 2.7 Fiscalização ambiental de danos ambientais e os institutos de reparação e compensação O conceito que engloba a fiscalização advém do texto constitucional que atribui o poder de polícia para o Estado garantir o fiel cumprimento da lei no que tange à preservação e proteção do meio ambiente ecologicamente equilibrado. Assim, a redação da Lei n. 7.735 de 1989 cria mecanismos de fiscalização e gestão para aplicação de políticas públicas ambientais que promovam proteção, preservação e reparação ambiental. Nesses termos: “ „ “ Art. 7º Compete ao CONAMA: [...] IV - determinar, quando julgar necessário, antes ou após o respectivo licenciamento, a realização de estudo das alternativas e das possíveis consequências ambientais de projetos públicos ou privados de grande porte, requisitando aos órgãos e entidades da Administração Pública, bem como às entidades privadas, as informações indispensáveis ao exame da matéria; (...) § 1º As normas e critérios para o licenciamento de atividades potencial ou efetivamente poluidoras deverão estabelecer os requisitos indispensáveis à proteção ambiental. Art. 2 É criado o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturaiso Renováveis – Ibama, autarquia federal dotada de personalidade jurídica de direito público, autonomia administrativa e financeira, vinculada ao Ministério do Meio Ambiente, com a finalidade de: I - exercer o poder de polícia ambiental; II - executar ações das políticas nacionais de meio ambiente, referentes às atribuições federais, relativas ao licenciamentoambiental, ao controle da qualidade ambiental, à autorização de uso dos recursos naturais e à fiscalização, monitoramento e controle ambiental, observadas as diretrizes emanadas do Ministério do Meio Ambiente; e - -20 Dessa forma, exige-se do poder público e da sociedade uma postura ativa em relação ao controle para minimizar os impactos ambientais e qualquer ato que possa causar danos ao meio ambiente será penalizado com a tríplice responsabilidade ambiental. Há de se ressaltar que a tríplice responsabilidade frente a um dano ambiental envolve a aplicação das penalidades: I. civis, que protegem o bem jurídico tutelado pela vida civil, como bens, oferecendo limitação patrimonial; II. penais, que têm por sanção restrição da liberdade, prestação social alternativa ou suspensão /interdição de direitos diante do bem jurídico tutelado penalmente, como a vida; e administrativas, tendo como objeto principal os interesses da coletividade - às condutas que causem desequilíbrio ambiental. Diante disso, para configurar a responsabilidade que advém do dano, o elemento identificador do dano é o objeto principal da tutela (FIORILLO, 2006). Nesse sentido, convém destacar que dano ambiental, para Leite (2003), constitui uma expressão ambivalente que designa, em certas vezes, alterações nocivas ao meio ambiente e outras, ainda, os efeitos que tal alteração provoca na saúde das pessoas e em seus interesses. Dois fortes institutos criados para proteção ambiental são a reparação e a compensação. O primeiro, a reparação, está disciplinada pelo Código Civil, que dispõe o seguinte: Já o segundo, objetiva a minimização dos impactos gerados ao meio ambiente. Esse instituto está regulamentado pelo art. 36 da :Lei n. 9.985, de 18 de julho de 2000 „ “ „ “ III - executar as ações supletivas de competência da União, de conformidade com a legislação ambiental vigente. (BRASIL, 1989) Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo. Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem. (BRASIL, 2002) Art. 36. Nos casos de licenciamento ambiental de empreendimentos de significativo impacto ambiental, assim considerado pelo órgão ambiental competente, com fundamento em estudo de impacto ambiental e respectivo relatório - EIA/RIMA, o empreendedor é obrigado a apoiar a implantação e manutenção de unidade de conservação do Grupo de Proteção Integral, de acordo com o disposto neste artigo e no regulamento desta Lei. § 1 O montante de recursos a ser destinado pelo empreendedor para estao finalidade não pode ser inferior a meio por cento dos custos totais previstos para a http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9985.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9985.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9985.htm - -21 Nesse sentido, o Ministério do Meio Ambiente aduz que esse instituto objetiva ‘‘[...] compensar a sociedade e o meio ambiente como um todo, pelo uso autorizado de recursos naturais por empreendimento de significativo impacto ambiental’’ (BRASIL, 2021, on-line) 2.8 Zoneamento ambiental Cada vez mais, as sociedades tendem a se tornar populosas, sendo que a escassez de recursos naturais é uma realidade do dia a dia. Dessa forma, a racional ocupação e uso do solo é um vetor importante para preservar a qualidade de vida das pessoas que integram o ambiente. Assim, é de competência da União elaborar e executar planos nacionais e regionais de ordenação do território e de desenvolvimento econômico e social, como prevê o art. 21, IX. Destaca-se ainda que a Constituição Federal dispõe que compete ao Poder Público municipal estabelecer a Política Urbana mediante ordenamento do seu território, garantindo o pleno desenvolvimento e o bem-estar aos seus habitantes. Conforme o art. 182, § 2º, “[...] a propriedade urbana cumpre sua função social quando atende às exigências fundamentais de ordenação da cidade expressas no plano diretor”. No entanto, essa regulamentação não é efetiva apenas para a população e a vida urbanas, pois os métodos de ocupação do solo urbano e rural têm grande impacto no meio ambiente, o que mostra a importância do zoneamento ambiental, o qual foi disposto no art. 9º, II, da Lei n. 6.938/81, como um dos instrumentos de proteção ambiental, regulamentado posteriormente pelo Decreto n. 4.297/2002, que em seu art. 2º definiu que: „ implantação do empreendimento, sendo o percentual fixado pelo órgão ambiental licenciador, de acordo com o grau de impacto ambiental causado pelo empreendimento. § 2 Ao órgão ambiental licenciador compete definir as unidades de conservação ao serem beneficiadas, considerando as propostas apresentadas no EIA/RIMA e ouvido o empreendedor, podendo inclusive ser contemplada a criação de novas unidades de conservação. § 3 Quando o empreendimento afetar unidade de conservação específica ou suao zona de amortecimento, o licenciamento a que se refere o deste artigo sócaput poderá ser concedido mediante autorização do órgão responsável por sua administração, e a unidade afetada, mesmo que não pertencente ao Grupo de Proteção Integral, deverá ser uma das beneficiárias da compensação definida neste artigo. § 4º A obrigação de que trata o deste artigo poderá, em virtude do interessecaput público, ser cumprida em unidades de conservação de posse e domínio públicos do grupo de Uso Sustentável, especialmente as localizadas na Amazônia Legal. - -22 Ademais, conforme o art. 5º, o ZEE obedecerá aos princípios da função socioambiental da propriedade, da prevenção, da precaução, do poluidor-pagador, do usuário-pagador, da participação informada, do acesso equitativo e da integração. Desse modo, o zoneamento não substitui nem se superpõe ao Plano Diretor Urbano ou às leis de ordenamento de território, de competência do município, mas apenas estabelece as diretrizes gerais, objetivos e aspectos que devem ser levados em consideração para a fixação de zonas de proteção do ambiente (BRASIL,1998). 2.9 O Sistema Nacional do Meio Ambiente (Sisnama) A proteção ambiental no Brasil é realizada por meio dos órgãos públicos que compõem o Sistema Nacional do Meio Ambiente (Sisnama), quais sejam: Ministério do Meio Ambiente e Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). O Ministério do Meio Ambiente é responsável pelo monitoramento e planejamento de questões ambientais, e o Ibama responsabiliza-se por fazer cumprir as regulamentações ambientais, federais, estaduais, distritais, órgãos e entidades territoriais e regionais. As fundações estabelecidas por municípios e autoridades públicas são responsáveis por proteger e melhorar a qualidade do meio ambiente. Figura 4 - Árvore sendo projetada de um livro Fonte: Chinnapong, Shutterstock, 2021. “ „ Art. 2º O ZEE, instrumento de organização do território a ser obrigatoriamente seguido na implantação de planos, obras e atividades públicas e privadas, estabelece medidas e padrões de proteção ambiental destinados a assegurar a qualidade ambiental, dos recursos hídricos e do solo e a conservação da biodiversidade, garantindo o desenvolvimento sustentável e a melhoria das condições de vida da população. - -23 O Sisnama é um sistema no qual suas instituições constituintes seguem os princípios e diretrizes especificados pela Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA). A política é formulada de acordo com a Lei n. 6.938/81 para proteger o meio ambiente ecologicamente equilibrado, a qual está incluída na Constituição Federal, conforme o “direito ambiental”, é a garantia de que a humanidade tem um meio ambiente protegido, equilibrado e benéfico. O sistema protege o meio ambiente de qualquer dano possível, como disposto no art. 225 da Constituição Federal. A criação desse sistema é umfator muito importante e decisivo, pois foi criado em 1981 com a formulação da Lei nº 6.938, com a ideia de se tornar um único sistema nacional de proteção ambiental. Antes da implantação desse sistema, a Lei Florestal de 1965 regulamentava essa questão. Com a entrada em vigor dessas regulamentações, estados e municípios passaram a ter mais autonomia legislativa em questões ambientais, mas essa legislação é muito escassa. Vários estados e municípios têm preenchido suas lacunas, não há preocupação nacional com o meio ambiente nem leis e regulamentações adequadas à situação, e sequer esforços claros, por isso os estados e municípios têm suas próprias legislações ambientais com a adoção do Sisnama. A estrutura do Sisnama é fundamentada também pela Lei n. 6.938/81, constituída pelos seguintes órgãos: Órgão Superior: composto por todos os ministros do poder executivo federal, e tem como função assessorar o Presidente da República na formulação de políticas públicas nacionais e na formulação de outras diretrizes relacionadas ao meio ambiente. Órgão Consultivo e Deliberativo: composto pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), que é responsável por propor normas e diretrizes aos órgãos de nível superior, porém, como os órgãos de nível superior não cumpriam suas funções, o Conama assumiu essa função e expediu normas, padrões e orientações ee regulamentações gerais sobre o meio ambiente nacional. Segundo a Lei n. 6.938/81 a finalidade do Conama é assessorar, estudar e propor ao Conselho de Governo diretrizes de políticas governamentais para o meio ambiente e os recursos naturais e deliberar, no âmbito de sua competência, sobre normas e padrões compatíveis com o meio ambiente ecologicamente equilibrado e essencial à sadia qualidade de vida. As normas elaboradas pelo Conama são publicadas em forma de resoluções. O órgão é presidido pelo Secretário do Meio Ambiente e seu colegiado é composto por representantes de órgãos federais, estaduais e municipais do setor empresarial e civil. Fique de olho Em 2010, no entanto, houve uma nova polêmica envolvendo a política ambiental com a elaboração de um Novo Código Florestal, que é considerado pelos grupos ambientalistas um retrocesso na legislação brasileira em relação ao meio ambiente. Entre os pontos polêmicos está a redução das áreas das APPs e a anistia a crimes ambientais praticados por latifundiários. - -24 Órgão Central: é constituído pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA) e, como disposto no artigo 6º, III da Lei n. 6.938/81, a finalidade do órgão central é: “[...] planejar, coordenar, supervisionar e controlar, como órgão federal, a política nacional e as diretrizes governamentais fixadas para o meio ambiente”. Cada estado tem suas próprias entidades públicas de proteção ambiental, mas esses órgãos devem respeitar as decisões do MMA. Órgãos Executores: formados pelo Ibama e pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), responsáveis pela implementação das normas ambientais e vinculados ao Ministério do Meio Ambiente. Órgãos Seccionais e Locais: os órgãos seccionais são entidades estaduais responsáveis por executar programas, projetos, controlar e fiscalizar atividades que causam a depredação ambiental; já os órgãos locais são entidades municipais que somente controlam e fiscalizam essas atividades. 2.10 EIA/RIMA Inicialmente, vale destacar que a pesquisa de impacto Meio Ambiente (EIA)/Relatório de Impacto Ambiental (Rima) é uma ferramenta que tem por objetivo auxiliar no planejamento ambiental e na avaliação de impactos regionais. O estudo de impacto ambiental define medidas a serem tomadas contra atividades/empreendimentos com fatores predatórios extremamente elevados e poluição ambiental, e sua regulamentação é formulada pelo artigo 2º do Conama 01/86. Nesse sentido, os documentos produzidos por pesquisas de impacto ambiental trazem também questões positivas e negativas sobre o meio ambiente natural, biológico e socioeconômico. O Ibama também usa o arquivo para criar projetos de melhoria na área e fiscalizar as empresas produtoras para verificar se mantêm o equilíbrio e protegem o meio ambiente. As informações contidas no estudo de impacto ambiental são apresentadas no relatório de impacto ambiental em linguagem clara e objetiva, e todo o estudo é explicado de forma intuitiva, mostrando o impacto inferido no meio ambiente, como as consequências devem ser implementadas e como as ações devem ser levadas para implementar restauração e proteção, medidas para controlar e minimizar esses efeitos. A gestão ambiental dos estudos estaduais de impacto ambiental/relatórios de impacto ambiental é regulamentada pela Lei n. 1356/88, na qual alterações podem ser feitas no meio ambiente, mas requerem licenças ambientais a serem analisadas por estudos de impacto ambiental. Portanto, conclui-se que o estudo de impacto ambiental/relatório de impacto ambiental utiliza a análise socioeconômica e ambiental de uma área delimitada e algumas alterações ocorrerão nessa área para calcular as consequências que o projeto trará, de modo a fazer recomendações e tomar as medidas possíveis para reduzir o impacto negativo que sofrerá a região e maximizar o impacto positivo. É importante destacar também que os estudos de impacto ambiental/relatórios de impacto ambiental têm finalidades distintas, mas são sempre mencionados em conjunto porque se complementam. Figura 5 - Coleta de amostra de água - -25 Fonte: kosmos111, Shutterstock, 2021. De acordo com o art. 2º da Resolução 01/86, sua lista detalhada inclui algumas das atividades necessárias à elaboração de estudos de impacto ambiental, a saber: rodovias com duas ou mais faixas; ferrovias; portos e terminais de minério, petróleo e produtos químicos; oleodutos , gasodutos de gás natural, minerodutos; linhas- tronco de coletor e saídas de descarga de esgoto; linhas de transmissão de energia acima de 230 quilowatts e extração de combustível fóssil (petróleo, xisto, carvão). A elaboração da análise de impacto ambiental pode ser realizada pelas próprias empresas que são obrigadas a prepará-la, desde que elas tenham profissionais capacitados. Caso não tenham, elas podem contratar uma empresa qualificada em assessoria técnica ecossistêmica para a elaboração dessa análise, em que o ônus será do empreendedor, que é o interessado em conseguir a licença. Fique de olho De acordo com o art. 225, §1º, inciso IV da Constituição Federal de 1988, são necessárias pesquisas de impacto ambiental para instalação de obra ou atividade que possa causar grave degradação ambiental com antecedência e os dados serão divulgados. - -26 Encerramento Nesta unidade, você teve a oportunidade de: • Conhecer o que é Estudo de Impacto Ambiental (EIA)/Relatório de Impacto Ambiental (Rima). • Entender sobre os princípios do direito ambiental. • Compreender alguns conceitos de impacto ambiental e questões de proteção ambiental. • • • - -27 ÂMBITO JURÍDICO. ago. 2008. Disponível em: Os princípios gerais de direito ambiental. . Acesso em:https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direito-ambiental/os-principios-gerais-de-direito-ambiental/ 24 nov. 2021. ÂMBITO JURÍDICO. dez. 2009. Disponível em: Direito ambiental e o princípio do desenvolvimento. https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direito-ambiental/direito-ambiental-e-o-principio-do-desenvolvimento- . 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