Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Luiza Marinho Motta – 2021 Tripanossomíase Tripanossomíase americana – Doença de Chagas ❖ Descoberta por Carlos Ribeiro Justiniano Chagas, que se mudou para Lassance - MG em trabalho de combate à malária. Descobre parasito em mico e em “barbeiros” / ”chupança”, encontra na população local (1909). Descrição do agente etiológico, reservatórios, transmissor e aspectos da patogenia e sintomatologia. REINO Protozoa FILO Sarcomastigophora ORDEM Kinetoplastida FAMÌLIA Trypanosomidae Ordem possui organela específica que apresenta semelhanças e DNA mitocondriais. GÊNEROS: Trypanosoma Crithidia, Leptomas, Herpetomonas, Lastocrithidia, Phytomonas, Leishmania, Endotrypanum, Rhynchoidomonas. ESPÉCIES: Trypanosoma cruzi T. brucei gambiense, T. brucei rhodesiense, T. rangeli. Aspectos epidemiológicos Endêmico na América Latina; prevalência de 8 milhões de infectados. Brasil – mais de 1 milhão, sendo 95% na região Norte (especificamente 83 % no Pará). Maior risco em áreas rurais pelas condições de moradia; casas de pau-a-pique (cafuas) favorecem proliferação dos triatomíneos → vetor se esconde nos buracos (hábitos noturnos); domesticação de animais silvestres (reservatórios). Grave problema médico-social; principal causa de morte súbita segundo OMS → chagásicos não aceitos em muitos empregos, aposentadoria precoce (sobrecarga previdenciária), preconceito. Modo de infecção • Alimentos ou bebidas contaminadas (principal forma atual) • Contato com fezes do barbeiro (triatomíneo) → vetorial • Transfusões (5 a 20%) • Transplante de órgãos • Acidentes laboratoriais • Congênita (média 589 casos BR em 2010) 2008-2017: 72% oral; 9% vetorial e 18% sem identificação. Vetores Hábito silvestre, domiciliar e peridomiciliar (fácil estabelecimento e contato direto com hospedeiro humano é problemático). Reservatório Homem, animais, plantas ou qualquer matéria orgânica onde vive e se multiplica o agente infeccioso; geralmente sem sintomatologia. (OMS) ❖ Chagas – roedores, marsupiais, primatas, tatu, preguiça, morcego. Formas de vida Mastigota = indica presença de flagelo. Luiza Marinho Motta – 2021 Tripomastigota Metacíclica é forma infectante, liberada pelo hospedeiro invertebrado (triatomíneo). Sanguínea é forma presente no hospedeiro vertebrado e infectante para o invertebrado (HI). Não se dividem. - Cinetoplasto bem evidente (ponta inferior da imagem). Epimastigota Desenvolvimento no intestino médio do triatomíneo (HI). Multiplicação por divisão binária simples. - Flagelo na porção basal do parasito, cinetoplasto menor e menos evidente. Amastigota Desenvolvimento dentro de células do sistema mononuclear fagocitário (SMF)* e células cardíacas, esqueléticas e lisas – hospedeiro vertebrado. *Sistema reticuloendotelial -SRE Divisão binária simples, transformando-se em tripomastigota. - Estrutura de axonemas que origina flagelo. Também possui cinetoplasto e formam “ninhos” no tecido. ❖ Nenhuma forma possui reprodução sexuada, não havendo denominação de hospedeiro definitivo e intermediário. Ciclo biológico ❖ Heteroxênico Mais de um hospedeiro, participação de um invertebrado → triatomíneos. - Tripomastigota entra por lesão no tecido epitelial de revestimento e é fagocitado por célula do sistema fagocítico mononucleado. Ocorre fusão com lisossomos (parasito resistente às enzimas), que não conseguem matá-los. - São liberados e transformados em amastigotas, que passam a se multiplicar dentro das células até seu enchimento. - Ocorre então diferenciação em tripomastigotas e rompimento da célula, liberando tripomastigotas sanguíneos na corrente do hospedeiro ou em outras células do tecido invadido. Podem ser novamente ingeridos por outro triatomíneo ou circular no organismo e encontrar outras células, permanecendo no hospedeiro vertebrado. Tropismo por células do SMF e outras. Luiza Marinho Motta – 2021 Em caso de ingestão por HI, transforma-se em esferomastigota, seguido de epimastigota no intestino anterior e médio. Multiplica e coloniza até migrar para o posterior, onde se diferencia em tripomastigota metaciclíco. Fica lá até invasão de outro HV. Formas clínicas Sintomática ou assintomática. Sinais e sintomas na fase aguda – 8 a 12 semanas. - Específicos → não comuns (a tantas outras doenças): sinal de Romanã (edema unilateral, bipalpebral) e Chagoma de inoculação (reação inflamatório no local). Porta de entrada – sinal que parasito conseguiu invadir. - Inespecíficos → febre (37-38°C); mal-estar, inapetência, anorexia; hepatoesplenomegalia. Período de incubação • Oral: 3 a 22 dias • Vetor: 4 a 14 dias • Transfusão/ transplante: 30 a 40 dias. Transmissão oral é a mais importante, pelo menos no BR. Maior morbidade e mortalidade. • Evolução geralmente favorável; doença severa < 1%. • Letalidade em crianças → meningoencefalites até 7%. Fase crônica assintomática: positividade dos exames sorológicos e ausência de sintomatologia (10-30 anos). Forma indeterminada (50%) Fase crônica sintomática: forma cardíaca (20- 40%); digestiva (7-11%) e cardiodigestiva (mista). Após contaminação é iniciada a fase aguda → febre, anorexia, sinais de porta. Tendem a pico e diminuição após 10 dias. Aumento crescente da parasitemia, diminuindo até fase crônica. Luiza Marinho Motta – 2021 Seguido do pico da carga parasitária há o da resposta imune IgM. Cai com a carga de IgG. Patogênese Associada ao estado imunológico e nutricional do indivíduo; grupos de risco, crianças (idade); cepas do T. cruzi e características morfológicas (tropismo por diferentes tipos celulares). Mecanismos de evasão e escape Busca do parasito por modular sistema imune, favorável a ele. - Imunorregulação mediada por receptor de membrana Toll (TLR2); controlado pelo parasito pela ativação de outros dois – TLR7 e 9. Feito por células dendríticas. - Parasito explora espécies reativas de oxigênio, ajudando na carga parasitária de amastigotas dentro dos macrófagos. - Diminuição induzida da ação de células T CD8. - Indução da ativação policlonal, multiplicação de células B, produtoras de anticorpos, sem especificidade. Incapacidade de reconhecer parasito. - Invasão de células não-fagocíticas → sobrevivência dentro do fagolisossomo, escapa e cai no citoplasma. - Não ativação dos sistemas de complemento. Características morfológicas do parasito Relacionadas ao tropismo – macrofagotrópicas e miotrópicas. ❖ Formas: Delgadas: + infectantes, penetração rápida, mas extremamente sensíveis aos anticorpos (eliminação mais fácil). Relacionadas à fase aguda e infecção de células do SMF (fígado, baço e MO). Largas: - infectantes, penetração lenta, maior resistência aos anticorpos. Tropismo por células musculares lisas, cardíacas e esqueléticas. Culminam na forma crônica da doença. Miocardite Chagásica Aguda → células inflamatórias, predominantemente mononucleares, como neutrófilos. Forma crônica Fase cardíaca ❖ Comprometimento do SNA simpático e parassimpático, levando a insuficiência cardíaca (congestiva, não usado mais = bombeamento ineficaz de sangue) por destruição da massa muscular com fibrose. Formação de trombos (76%) e êmbolos→ infartos no coração, pulmão, rins, baço, cérebro. ❖ Miocardite Chagásica Crônica: dilatação global das câmaras com contorno arredondado. Insuficiência cardíaca (D, E ou ambas) por destruição de cardiomiócitos na fase aguda ou reações imunológicas na crônica. Alteração do fluxo favorece trombose ou processo inflamatório (endocárdio). Afinamento da ponta do VE é característico. Lesão tecidual e fibrose em extensas áreas, hipertrofia compensatória, infiltrado inflamatório crônico inespecífico. Poucos ninhos de amastigotas responsáveis pela continuidade do processo. Comprometimento pulmonar → Embolia pulmonar múltipla, infarto triangular é característico, com o ápice correspondendo ao vaso ocluído. Luiza Marinho Motta – 2021 Fase digestiva Comprometimento do sistema nervoso e muscular das fibras musculares lisas (circular interna e longitudinal externa). Megaesôfago (disfagia, dor esternal, regurgitação, soluço e tosse) e Megacólon (obstrução intestinal, perfuração com peritonite → morte). Resolvidos cirurgicamente. Diagnóstico Clínico História do paciente, conversa para saber origem e ocupação, possível causa dos sintomas. Confirmação por métodos laboratoriais; indivíduos em área de risco ou risco de transmissão congênita. Laboratorial Fase aguda – elevada parasitemia, pesquisa direta (visível no sangue) e, se necessário, indireta. Fase crônica – baixa parasitemia, anticorpos específicos → métodos sorológicos ou pesquisa indireta. Exames parasitológicos diretos (90-100% sensibilidade - visível): exame de sangue a fresco ou em gota espessa (lise das hemácias, método de concentração), esfregaço sanguíneo corado pelo Giemsa. Indiretos: xenodiagnóstico (busca do parasito em barbeiro após se alimentar do sangue coletado), hemocultura. Exames sorológicos: RIFI IgM ou Elisa IgM (anticorpo característico de fase aguda). Diagnóstico molecular: DNA do parasito no sangue antes dos sintomas e aparecimento no sangue. Fase crônica → xenodiagnóstico e sorológicos (RIFI, hemaglutinação indireta e Elisa). • RIFI – imunofluorescência: antígeno e soro do paciente com anticorpos. Acréscimo de conjugado (anticorpo anti-anticorpo), ligação dos 3 e brilho do conjugado. • Hemaglutinação – soro do paciente com anticorpos em contato com hemácias sensibilizadas com ag. (superfície de sua membrana). Formação de grumo ao contato. • Elisa – IgG – placa com poço onde há antígeno adsorvido (“colado”), soro do paciente com anticorpo específico liga-se então ao anti-anticorpo. Ligado à enzima, ao colocar substrato há mudança de cor; quando mais escuro mais anticorpo. *Atenção ao falso positivo pela proximidade com Leishmania. Tratamento Drogas que atuam contra formas sanguíneas, eficácia não completa → pouca ação tecidual. Benznidazol e Nifurtimoz (pacientes brasileiros resistentes). Cura parasitológica em 60-85% do tratamento em fase aguda; não garantida em todos os casos. Redução da parasitemia, severidade dos sintomas e curso clínico. Luiza Marinho Motta – 2021 ❖ Não há medicação específica na fase crônica, tratar sintomas (poucos parasitos). Profilaxia • Melhoria das habitações (redução dos casos vetoriais); • Controle dos alimentos (preferência por açaí pasteurizado e caldo de cana); • Ação sobre as fontes de infecção; • Controle vetorial por inseticidas e métodos auxiliares (telar janelas, mosquiteiros); • Controle do doador de sangue → triagem sorológica e adição de substância tripanossomicida (problemas em geral ocorrem fora das áreas endêmicas); • Proteção aos susceptíveis (possíveis vacinas).
Compartilhar