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OBRAS MUSICAIS PAS 2 CHECKLIST @ESTUDEPARAOPAS Conhecer Estudar Fazer Questões Revisar Flor Amorosa - Joaquim Callado Cavalgada das Valquírias - Richard Wagner Sal da terra - Beto Guedes Crab Canon - Bach Inclassificáveis - Ney Matogrosso Reisado do Pastoreio/ Batuque/ Dança de Negro - Lorenzo Fernandez Cota não é esmola - Bia Ferreira Capoeira e Carimbó - Manifestações de Cultura Popular Eu estou apoixonada por você - Gina Lobrista Maria da Vila Matilde - Elza Soares Cabaça d’água - Alberto Salgado Mar e Brasília - Engels Spiritus Tribunal do Feicebuqui Tom Zé PROGRESSO DO MÓDULO 0% completo Análise da Obra Flor Amorosa Flor Amorosa – Joaquim Callado (Versão Instrumental) Autoria Joaquim Antônio da Silva Callado Júnior nasceu em 11 de julho de 1848 no Rio de Janeiro. Callado nasceu em berço musical, já que seu pai era professor de música, regente da Banda Sociedade União de Artistas, tocador de cornetim e trompete. Estudou música e piano com o seu pai e seus amigos músicos que frequentavam sua casa. No final da sua adolescência começou a estudar flauta transversal com Henrique Alves de Mesquita, conhecido como “professor dos chorões”. Casou-se com Feliciana Adelaide Callado, com quem teve cinco filhos. Compôs sua primeira melodia conhecida aos 19 anos. Para sustentar sua família, Callado começou a tocar flauta em concertos e bandas. Durante sua vida viveu em uma casa modesta. Acredita- se que sua primeira apresentação como flautista em salas de concertos tenha acontecido em julho de 1866, quando se apresentou para a família imperial no Teatro Ginásio Dramático. Na década de 70, teve muitas de suas composições publicadas, e em 1879 foi condecorado com a Ordem da Rosa, no grau de Comendador. Se tornou também professor de música no Liceu de Artes e Ofícios do Rio de Janeiro. Foi amigo e parceiro de composição da maestrina Chiquinha Gonzaga. Faleceu em 1880, vítima da epidemia de meningite que atingiu a população do Rio de Janeiro no mesmo ano. Na época da sua morte, Callado já era conhecido como um representante do Choro. Hoje é considerado “Pai do Choro”. Um mês após sua morte, sua última música, “Flor Amorosa”, foi publicada e se tornou um clássico da música popular brasileira, tendo recebido, posteriormente, letra de Catulo da Paixão Cearense. Apesar do pouco tempo de vida, Callado se tornou o instrumentista mais popular do Rio de Janeiro no final do século XIX. De todas as suas obras somente sessenta e seis peças restaram. O restante se perdeu por não ter sido editado. Segundo Weffort (2002), Callado é considerado o criador do choro e foi o responsável por incorporar a flauta aos violões e cavaquinhos, que era a composição instrumental comum dos grupos da época. Seu grupo, “O choro de Callado”, era constituído por um instrumento solista, dois violões e um cavaquinho, formação que se tornou tradicional para os grupos de choro posteriores. Choro O choro foi desenvolvido no Rio de Janeiro a partir de 1870. Segundo Adriano Brandão, “[…] um instrumento dialoga incessantemente com os demais, tecendo um emaranhado tão completo quanto fascinante”. Não há um consenso sobre a origem da palavra “choro”. A palavra pode derivar da forma de executar a música de forma chorada, e que com o passar do tempo se tornou um gênero específico, com características próprias. No choro, o solista busca demonstrar seu virtuosismo utilizando variações melódicas, rítmicas, dinâmicas, timbrísticas e harmônicas nos seus improvisos, que é uma de suas características principais. Esse gênero musical incorporou alguns ritmos da época como a polca, lundu e dança de salão. Quanto à estrutura do choro tradicional, essa é organizada em forma de rondó e possui três seções (A, B e C), e quase sempre segue o padrão de repetições AABACCA. As primeiras formações de grupos de choro adotavam a flauta (como solista), violão (na “baixaria”, que significa a base do conjunto) e o cavaquinho (como centralizador de ritmo). Antônio Callado foi o primeiro compositor a utilizar a palavra choro no local da partitura destinado ao gênero. A partitura em questão é da polca Flor Amorosa, a primeira composição do gênero choro. Obra A canção Flor Amorosa foi a última música de Joaquim Callado, e só foi publicada após a morte do compositor. Em sua dissertação de mestrado, Frazão (2014, p. 109) cita Severiano (2013) ao afirmar que essa foi a única peça de Callado que se tornou um clássico do choro. Essa canção possui um andamento rápido e, segundo Frazão (2014, p. 109), “a graciosidade típica da maioria das polcas de Callado”. Essa obra apresentava um caráter mais brasileiro. Apesar de ter sido publicada pela primeira vez em 1880, foi somente em 1902 que a canção foi gravada. Posteriormente, Catullo da Paixão Cearense incluiu uma letra na canção. Segundo Matos (2012, p.62), além de Flor Amorosa ter sido a primeira polca composta por um brasileiro a ser gravada, a canção possui muitos “elementos musicais semelhantes aos das polcas europeias”. Matos cita Cazes (1999), que afirma que as composições de Callado demonstram sua preocupação com o virtuosismo e com a exploração de recursos da flauta, “porém os acompanhamentos originais demonstram pouco interesse pela harmonia e uma falta quase total de preocupação com o arranjo”. A versão indicada pelo Cebraspe faz parte do álbum Chorada, Chorões, Chorinhos, e foi gravada em 1976. A execução da peça é feita por Altamiro Carrilho na flauta, Voltaire no Violão Sete Cordas e Valmar no Cavaquinho. A estrutura desse choro é a tradicional, que possui três seções organizadas em forma de rondó. Na primeira vez que a seção A é executada ,o flautista segue a partitura tal como Callado escreveu. Em seguida temos a repetição da seção A, mas dessa vez com variações sobre o que já havia sido apresentado. Isso acontece com todas as seções: na primeira vez que é executada não há variações, e o instrumentista segue tal como foi escrito, mas na segunda repetição, há variações para que não fique repetitivo. Podemos ver isso também nas seções B e C. A seção A está na tonalidade tônica, que é Dó maior. A parte B está em Lá menor, e a parte C em Fá maior. A sequência em que as seções são executadas é: AA’BB’A’A’CC’A’A’. Para facilitar o entendimento, utilizamos nessa análise a aspa (‘) para informar onde há variação. Importante ressaltar que as variações, no caso dessa versão, são improvisos que o instrumentista faz, sempre tendo como base a melodia e harmonia escritas pelo compositor. Uma variação da mesma seção não será igual à outra. Essa estrutura na forma rondó com três partes era a estrutura formal comum do choro até a década de 1930. PROGRESSO DO MÓDULO 0% completo Análise da Obra Cavalgada das Valquírias Cavalgada das Valquírias – R. Wagner Autoria Wilhelm Richard Wagner nasceu em Leipzig, Alemanha, em 22 de maio de 1813. Wagner nasceu em uma família de artistas, então sempre mostrou apreço pelas artes, que o acompanharam por toda a vida. Iniciou como autodidata na música e na literatura. Em 1822, ingressou na Escola Kreuzschuke. Apesar de estudar piano, Wagner preferia se dedicar ao teatro e à literatura. Somente aos 15 anos de idade começou a se interessar mais por música. Estudou também violino, contraponto e harmonia. Ingressou no curso de música da Universidade de Leipzig, mas largou a faculdade antes de se formar. Começou a compor nessa época. Em 1833 se tornou o ensaiador de ópera em Würzburg e, logo em seguida, diretor musical da companhia teatral de Magdeburg. Em 1834 casou-se com Minna Planer, no entanto o casamento não durou muito, já que a situação financeira do casal não estava muito boa e entre eles haviam muitos atritos. Entre 1839 a 1842, Wagner morou em Paris. Ao retornar para a Alemanha, foi nomeado diretor da ópera de Dresden em 1842. No mesmo ano, apresentou sua primeira produção operística, Rienzi. Assumiu o cargo de regente da Ópera Real, permanecendo até 1849. Em 1848, Wagner começou o processo de composiçãodo ciclo “O Anel dos Nibelungos”, obra que tem 18 horas de música e é constituída por 4 óperas: “O ouro do Reno”, “A valquíria”, “Siegfried” e “O crepúsculo dos deuses”. No mesmo ano escreveu alguns artigos defendendo a revolução Alemã. Esse seu envolvimento com a política o deixou em uma situação delicada, obrigando o compositor a fugir do país. Entre 1849 a 1852, escreveu diversos livros de ensaios, esboçando um novo estilo de teatro musical. Em 1855, regeu concertos da Filarmônica de Londres. Residiu em Zurique até 1859. Se apaixonou por Mathilde Wesendonck, a mulher de um mecena muito rico. Já que seu amor era impossível, deixou Zurique e compôs a ópera Tristão e Isolda. Voltou para Paris e em 1861 voltou para a Alemanha. Em 1862, ao retornar para a Alemanha, fugiu para Stuttgart por motivos financeiros, todavia foi salvo por Luís II, um grande admirador de Wagner. Casou com Cosima, filha de Liszt. Mudou-se para Triebschen, Suíça, e depois em Bayreuth, na Baviera. Em 1871 viajou para a cidade de Bayreuth para construir um grande teatro e realizar um festival anual dedicado às suas obras. Três anos depois conseguiu concluir o teatro, e em 1876 realizou o primeiro festival, apresentando o ciclo completo de “O Anel dos Nibelungos”. Em 1882 viajou para a Itália para se recuperar dos ataques cardíacos que havia sofrido. No mesmo ano assiste a estreia de sua última criação “Parsifal”. Em 1883, de volta a Veneza, teve uma sincope que o paralisou enquanto tocava piano. Faleceu em Veneza, no dia 13 de fevereiro do mesmo ano. Importante compositor do romantismo, as composições de Richard Wagner possuem texturas complexas e harmonia e orquestração ricas. Inclusive, Wagner expandiu as possibilidades de combinação de instrumentação para orquestras sinfônicas. Foi um dos pioneiros no uso do cromatismo extremo e rápidas mudanças dos centros tonais. Baseou muitas de suas músicas em mitos nacionalistas, pois tinha a crença que a música nacional era capaz de formar um novo homem e uma nova sociedade. O próprio compositor escrevia os textos de suas obras. Alguns de seus textos eram de caráter antissemita, o que contribuiu para que a imagem do compositor fosse comprometida. Wagner denunciava uma pretensa “judaização” da arte moderna. Possui uma obra extensa. Compôs peças para piano, coral, orquestra, óperas, música de câmara e canções, entretanto segundo Laterza Filho (2013), grande parte de sua obra se destina quase integralmente ao teatro musical. A importância de Wagner é tripla: representou a consumação da ópera romântica alemã, do mesmo modo que Verdi representa a consumação da ópera italiana; criou uma nova forma, o drama musical; o vocabulário harmónico das últimas obras levou ao limite mais extremo a tendência para a dissolução da estrutura tonal clássica, tornando-se o ponto de partida de desenvolvimento que se prolonga até à actualidade. (GROUT & PALISCA, 2011, p. 644) Wagner acreditava que a música e o drama eram igualmente importantes. Grout & Palisca (2011) afirmam que para Wagner, a música tinha função de servir os objetivos da expressão dramática. Os escritores afirmam ainda que as únicas composições importantes de Wagner foram as que ele escreveu para o teatro. A obra de Wagner afectou todo o panorama da ópera. Ninguém conseguiu imitar com êxito a forma muito pessoal como Wagner utilizou a mitologia e o simbolismo, mas o seu ideal da ópera como um drama de conteúdo significativo, com o texto, o cenário, a acção visível e a música a colaborar, na mais estreita harmonia, tendo em vista o propósito central — o ideal, em suma, da Gesamtkunswerk —, exerceu uma profunda influência (GROUT & PALISCA, 2011, p. 650). Obra A ópera “A Valquíria”, a segunda ópera da tetralogia “O Anel do Nibelungo”, é constituída também por “O Ouro do Reino”, “Siegfried” e “O Crepúsculo dos Deuses”. As quatro óperas foram escritas entre 1848 e 1874 e são adaptações de personagens mitológicos das sagas nórdicas e do poema medieval “A Canção dos Nibelungos”. Na ópera, o drama gira em torno do desentendimento de valquíria Brunhilde com o seu pai e chefe dos deuses, Wotan. As valquírias são virgens guerreiras cruéis que têm o papel de eleger quem vai morrer no campo de batalha e levar as almas dos guerreiros mortos para o Valhala. Os personagens são: Siegmund, filho de Wotan; Siglinde, filha de Wotan; Hunding, marido de Sieglinde; Wotan; Frick; e Brunhilde, filha de Wotan. Há também as oito Valquírias, que são as irmãs mais novas de Brunhilde: Gerhilde. Ortlinde, Waltraute, Schwertleite, Helmwige, Siegrune, Grimgerde e Rossweise. No primeiro ato acontece o encontro dos irmãos gêmeos Siegmund e Sieglinde. Siegmund conta que estava fugindo de uma guerra e que sua vida era regada de miséria e morte, já que sua mãe havia morrido pelas mãos dos neidings e que, no mesmo dia que isso aconteceu, seu pai e sua irmã desapareceram. Ou seja, ambos não sabiam que eram irmãos, mas logo descobriram e se apaixonaram perdidamente. No segundo ato, os amantes fogem do marido de Sieglinde, Hunding. Siegmund era o responsável por proteger o anel do perigoso anão, mas morre pelas mãos do marido traído. No terceiro ato, entram cavalgando as valquírias. Brunhilde, a guerreira que detém o título de Valquíria, é escolhida para recolher Siegfried e levá-lo para o salão dos mortos, mas desobedece a ordem do pai e intercede em favor de Siegfried. Por esse motivo, Brunhilde é castigada, exilada e privada de sua essência divina (PALMEIRIN, 2009; PEREIRA, 2018). A “Cavalgada das Valquírias” é a abertura do Ato III da ópera “A Valquíria”, e provavelmente um dos trechos mais famosos de toda a obra de Wagner, sendo o primeiro a “Marcha Nupcial”, muito tocada em casamentos. A ópera “A Valquíria” foi estreada em Munique, no dia 26 de junho de 1870. Após sua estreia, Wagner recebeu inúmeros pedidos para executar somente a “Cavalgada”. Para ele, a ideia de separar a música dentro dos atos das óperas era inconcebível. Grout & Palisca (2011, p.646) afirmam que para o compositor, a música dentro de cada ato “é contínua, rejeitando a divisão formal em recitativos, árias e outros tipos de seções”. Inicialmente o compositor ficou furioso e disse que proibiria tal coisa, mas em 1876 mudou de ideia, sendo ele mesmo o regente da execução do trecho em 12 de maio de 1877, em Londres. Esse pedaço da ópera foi muitas vezes executado isoladamente em salas de concerto, jogos e filmes, como “Apocalypse Now” e “O Nascimento de uma Nação”. Em “Cavalgada das Valquírias” os elementos evocam a imagem de donzelas guerreiras cumprindo o seu papel como valquírias. O trecho descreve o voo dos cavalos através das nuvens: O galope é executado pela trompa e violoncelo; os relinchos são representados pelos instrumentos de sopro; a canção da batalha das virgens é executada pelas trombetas e trombones; e os gritos de guerra ficam por conta dos instrumentos de cordas. (ADORNO, 1994 apud PEREIRA, 2015). Em suas óperas, Wagner usava grandes orquestrações. Em Cavalgada das Valquírias, o compositor usou trompetes, trombones, trompas, flautas, oboés, clarinetas, clarones, piccolos, fagotes, inúmeros instrumentos de percussão e instrumentos de cordas. PROGRESSO DO MÓDULO 0% completo Análise da Obra Sal da Terra Sal da Terra – Beto Guedes – Vídeo Original Autoria O cantor e compositor Alberto de Castro Guedes nasceu no dia 13 de agosto de 1951, em Montes Claros, Minas Gerais. Seu pai, Godofredo Guedes, era um músico respeitado na cidade. Aos 9 anos, Beto mudou-se com sua família para Belo Horizonte, onde se tornou vizinho de Lô Borges, com quem criou um grupo de violão e quatro vozes que tinha um repertório exclusivamente dedicado aos Beatles. A amizade com Lô Borges influenciou Beto a decidir seguir de vez a carreira musical. Em 1970, Beto participou do V Festival Internacional da Canção (FIC) com a música “Feira Moderna”, que no mesmo ano seria gravada pelo grupo Som Imaginário. Participou de forma ativa do Clube da Esquina, cantando, tocando baixo, bateria e percussão.O grupo Clube da Esquina objetivava dar visibilidade para a música mineira, contribuindo para que compositores mineiros fossem conhecidos. Fica clara a influência que a música mineira exerceu em sua carreira. De volta para Minas, Beto reorganiza o “Bloco B”, uma espécie de Clube de Esquina. Desse bloco é formado o grupo Fio da Navalha em 1972, e no ano seguinte surge o primeiro disco de Beto. Em 1975 gravou uma música com Milton Nascimento, e a parceria deu tão certo que no mesmo ano gravaram um compacto juntos. Em 1976, assinou contrato com a Odeon, lançando seu primeiro disco individual no ano seguinte. O álbum “Amor de índio” foi lançado em 1978. Em 1979, volta a gravar com Milton Nascimento. Na sequência lançou os discos “Sol de Primavera”, “Contos de Lua Vaga”, “Viagem das mãos” e a coletânea “Lumiar”. O seu primeiro disco de ouro foi conquistado com o LP “Alma de Borracha”, o qual rapidamente ultrapassou a marca de 200 mil cópias vendidas. Na década de 90 lança os discos “Andaluz” e “Dias de paz”. Em 2004, Beto participou da gravação do CD “Hino do Fome Zero”. Beto é considerado um grande representante da música popular brasileira. Continua fazendo vários shows pelo Brasil. Sua música mais conhecida é “Sol de Primavera”, música de abertura da novela da rede globo “Marina”. Outras de suas canções também se tornaram trilha sonora de novelas. Suas composições foram gravadas por artistas importantes da MPB como Elis Regina e Milton Nascimento. Obra O Sal da Terra Anda! Quero te dizer nenhum segredo Falo desse chão, da nossa casa Vem que tá na hora de arrumar Tempo! Quero viver mais duzentos anos Quero não ferir meu semelhante Nem por isso quero me ferir Vamos precisar de todo mundo Pra banir do mundo a opressão Para construir a vida nova Vamos precisar de muito amor A felicidade mora ao lado E quem não é tolo pode ver A paz na Terra, amor O pé na terra A paz na Terra, amor O sal da Terra! És o mais bonito dos planetas Tão te maltratando por dinheiro Tu que és a nave nossa irmã Canta! Leva tua vida em harmonia E nos alimenta com seus frutos Tu que és do homem, a maçã Vamos precisar de todo mundo Um mais um é sempre mais que dois Pra melhor juntar as nossas forças É só repartir melhor o pão Recriar o paraíso agora Para merecer quem vem depois Deixa nascer, o amor Deixa fluir, o amor Deixa crescer, o amor Deixa viver, o amor O sal da terra A canção Sal da Terra faz parte do álbum “Contos da lua vaga”, lançado em 1981. Composição de Beto Guedes em parceria com o jornalista Ronaldo Bastos, a canção mostra que o sal da terra somos nós. Ou seja, somos os responsáveis por cuidar do planeta. A canção convida o ouvinte a se unir em prol das necessidades do planeta, buscando desenvolver ações coletivas que protejam e preservem a vida. Fala também sobre respeito e cuidado para com o próximo a fim de que seja banida a opressão e haja o resgate do amor. Trechos como “Vamos precisar de todo mundo/Um mais um é sempre mais que dois” reforçam a necessidade de conscientizarmos as pessoas sobre a preservação do meio ambiente. “Tão te maltratando por dinheiro” fala sobre a ganância do homem e seu amor ao lucro que tem destruído o planeta. Vemos constantemente acontecimentos que exemplificam o trecho da canção, como o rompimento da barragem em Mariana (MG) em 2015, tragédia abordada também na canção Cabaça d’água, e da barragem em Brumadinho, em 2019. Poluição dos rios, devastação de áreas que deveriam ser preservadas e derrubadas de florestas são só alguns exemplos que mostram como a ação insensata do homem tem devastado o planeta, que sofre em agonia. Muitas atitudes tomadas em nome da ganância e do desenvolvimento econômico têm interferido no equilíbrio ambiental. As consequências desse desequilíbrio vão desde enchentes e secas e inundação de áreas ribeirinhas até o aquecimento global e o aumento do nível da água do mar. Quando respeitamos e cuidamos do meio ambiente, colhemos os benefícios que um planeta saudável pode oferecer, afinal, a natureza nos oferece os recursos necessários para a nossa sobrevivência. Os compositores fizeram questão de ressaltar a importância da terra para a nossa subsistência: “Leva tua vida em harmonia/E nos alimenta com seus frutos”. O mundo pede socorro, e para que haja futuro para as gerações que virão, precisamos cuidar do meio ambiente agora. Como canta Beto Guedes: “Recriar o paraíso agora/Para merecer quem vem depois”. É preciso remediar para que o mundo não seja destruído. Os instrumentos utilizados são teclados, voz, guitarra, baixo elétrico, bateria e percussão. PROGRESSO DO MÓDULO 0% completo Análise da Obra Crab Canon Crab Canon – Bach Autoria Johann Sebastian Bach nasceu no dia 21 de março de 1685, na pequena cidade de Eisenach, localizada na Alemanha. Bach nasceu em uma família de músicos. Seu pai, que era violinista, educou musicalmente seus 8 filhos para que se tornassem bons músicos, seguindo assim a tradição da família Bach. Sendo assim, J. Sebastian Bach aprendeu violino, viola e a escrita musical com seu pai. Seguindo a árvore genealógica da família Bach, dos 33 Bach, 27 foram músicos, entretanto, J. S. Bach foi o maior compositor dentre os músicos de sua família. Desde pequeno Bach teve contato com a Igreja Protestante de Martinho Lutero, da qual toda sua família fazia parte. Após se tornar órfão de pai e mãe, o jovem ficou aos cuidados do seu irmão mais velho, o violinista Johann Christoph, que lhe ensinou a tocar órgão. Apenas aos 15 anos começou a ter um ensino formal de música, ingressando na escola de São Miguel de Lünenburg, onde cantaria no coro da igreja. Para aperfeiçoar seu domínio técnico, Bach estudava várias horas por dia. Há quem diga que, enquanto criança, Bach transcrevia obras em alemão, latim, francês e italiano. Teve vários empregos em igrejas e nas cortes da Alemanha. No ano de 1703, conseguiu seu primeiro trabalho, ocupando o cargo de organista da igreja de Arnstadt. Em suas viagens de férias familiarizou-se com a obra e aprendeu com outros compositores, mudando então sua forma de tocar órgão. Pouco tempo depois, Bach ocupou o cargo de organista na igreja de São Blásio de Muhlhausen, e foi nesses dois locais que compôs suas primeiras músicas religiosas. Entre os anos de 1707 e 1717, trabalhou como organista, violinista e compositor na corte de Weimar. Teve muitos conflitos com o duque que o empregara, já que ambos tinham personalidades difíceis. Depois de 1717, Bach foi para Kothen, e lá trabalhou para o príncipe Leopold d’Anhalt-Kothen, onde teve 5 anos muito frutíferos. Ganhava um alto salário e pôde dedicar-se à composição de músicas instrumentais. Algumas de suas principais obras, tais como concertos de Brandenburgo e o cravo bem temperado, foram escritas nesse período. Bach morreu completamente cego no dia 28 de julho de 1750. Seu corpo foi enterrado na igreja de São Tomas. A obra de Bach abrange quase todos os gêneros musicais do período barroco, excetuando os gêneros dramáticos da ópera e oratório. Grande parte de suas obras são sacras: mais de duzentas cantatas, vários motetos, quatro paixões (sendo a mais famosa a “Paixão Segundo São Mateus”), três oratórios e cinco missas. Deixou também inúmeros concertos e peças de música de câmara. Embora sua obra tenha sido muito negligenciada após a sua morte, hoje Bach é considerado um dos maiores compositores de todos os tempos. Contexto Bach, em toda sua vida foi simples, mas de personalidade muito forte, e por causa do seu temperamento entrou em conflito com os eclesiásticos muitas vezes. A maior parte das suas composições são religiosas e evidenciam o período em que Bach estava inserido: Barroco. Ocasionadas pelas fortes divergências religiosas, imposições do catolicismo e pelas dificuldades econômicas decorrentes do declínio do comércio com o Oriente, o período barroco reflete os conflitos dos dualistas entre o homem (antropocentrismo) e Deus (teocentrismo), o terreno e o celestial, o pecado e o perdão. Na música, o barroco, quevai de aproximadamente 1600 até 1750, é caracterizado pelo uso do baixo contínuo, do contraponto e da harmonia tonal. Foi durante esse período que a música instrumental passa a ter, pela primeira vez, a mesma importância que a música vocal. As formas populares na Renascença como a canzona, o ricercar, a tocata, a fantasia e as variações somariam em outras formas e concepções novas como a fuga, o prelúdio coral, a suíte, a sonata e o concerto. Durante o período barroco foram desenvolvidas novas técnicas instrumentais, assim como novos instrumentos. O ano de 1750 é marcado por muitos estudiosos como o final do período barroco em decorrência da morte de Bach. Cânone O cânone é uma forma de composição cujo tema é iniciado por uma voz, sendo continuamente imitado pelas outras vozes que a sucedem, normalmente com uma pequena distância entre as vozes. Essa imitação pode ser a duas, três ou mais vozes, que podem ser executadas em uníssono (repetição exata das mesmas notas que foram executadas anteriormente) ou em intervalos diferentes (quando as imitações são realizadas em outros tons). A polifonia aqui existente é derivada de uma linha seguida de imitação. O método mais corrente de escrever cânones consistia em fazer derivar uma ou mais adicionais de uma única voz inicial. As vozes adicionais tanto podiam ser escritas pelo compositor como cantadas a partir das notas da voz inicial, modificadas de acordo com certas instruções. A regra segundo a qual se obtinham estas vozes suplementares chamava-se canône, termo que significa precisamente «regra» ou «lei». (Aquilo a que hoje damos o nome de cânone chamava-se então fuga.) Por exemplo, as indicações do compositor podiam determinar que a segunda voz começasse um certo número de tempos ou compassos depois da voz original; a segunda voz podia ser uma inversão da primeira, ou seja, mover-se sempre com os mesmos intervalos, mas na direcção oposta, ou então a voz derivada podia ser a voz original lida do fim para o princípio — dava- se a isto o nome de cânone retrógrado ou cânone cancrizans («caranguejo») (GROUT & PALISCA, 2011, p. 196). Obra O Crab Canon, traduzido como Cânone do Caranguejo, pertence à coleção A Oferenda Musical, que reúne dez cânones, duas fugas e uma sonata. Essa coleção de obras é baseada em um tema musical escrito por Frederico II da Prússia, que ao encontrar Bach em 7 de maio de 1747, propôs a ele que improvisasse uma fuga sobre o Thema Regium. Bach disse que para isso precisaria se preparar. Ao voltar a Leipzig, Bach criou uma obra inteira cheia de variações sobre o tema sugerido. Essa obra ficou conhecida como A Oferenda Musical. O Cânone do Caranguejo, o primeiro dos dez cânones da coleção, consiste em um arranjo de uma linha musical que, ao ser executada como cânone, aparenta ter duas linhas musicais complementares de frente para trás, assim como um palíndromo. É um cânone a dois caranguejos, ou seja, duas vozes. Palíndromo significa algo que corre em sentido inverso. Em outra definição, é uma sequência de unidades que pode ser lida, indiferentemente, da direita para a esquerda e da esquerda para a direita. Por exemplo: A palavra “sopapos” pode ser lida do início ao fim ou de trás para frente que continuará sendo a mesma palavra. É essa lógica que Bach utiliza no Cânone do Caranguejo: Enquanto uma voz executa a linha melódica de cima do início ao final, a linha melódica debaixo é executada de trás para frente (do final da partitura para o início). Ou seja, é tocada para frente e para trás simultaneamente. O nome “Cânone do Caranguejo” é póstumo e se dá pelo fato do caranguejo andar para trás. São necessários dois músicos para tocarem a peça partindo de direções opostas. Mesmo sem conseguir ler as notas que são indicadas na partitura, é possível perceber que enquanto uma voz começa do início, a outra começa do final. Ao se encontrarem no meio, ambas repetem o que já havia sido tocado antes, mas de trás para frente, como se fosse um espelho. Os pentagramas (cinco linhas) debaixo que estão mais claros são apenas para ajudar a ilustrar a ideia de Bach e mostrar como soa a execução da peça. Citações da Obra na Matriz de Referências O ser humano como um ser que pergunta e quer saber Obras musicais como Crab Canon (Bach), Cavalgada das Valquírias (Wagner) e Reisado do pastoreio / batuque – dança de negros (Lorenzo Fernandez) exemplificam formas expressivas distintas de musicalidades, contrastadas com as das músicas Cabaça d’água, (Alberto Salgado), Flor amorosa (Joaquim Callado), ou Mar de Brasília (Engels Espíritos). Esses contrastes entre as formas musicais apresentam-se também em músicas populares, como O Sal da Terra (Beto Guedes) e Estou apaixonada por você, 6 na versão de Gina Lobrista, ou nas de tradições populares, como Capoeira e Carimbó. (Página 5, quinto parágrafo) Indivíduo, cultura e mudança social Ao ampliar esse contexto, estão postas questões relativas à figura do artista como agente de mudanças sociais e as suas produções culturais. Obras como Cavalgada das Valquírias (Wagner), Crab Canon (Bach), Reisado do Pastoreio/ Batuque – Dança de Negros (Lorenzo Fernandez), O Sal da Terra (Beto Guedes), Eu estou apaixonada por você (na versão de Gina Lobrista), Cabaça D’água (Alberto Salgado), Flor amorosa (Joaquim Callado) e Mar de Brasília (Engels Espiritos) ampliam o reconhecimento dessas questões. Cabe indagar como o artista participa dessas mudanças sociais e como a sociedade vê a criação artística, pensando ações e reações da sociedade. Tom Zé exemplifica na canção Tribunal do Feicebuqui questionamentos como esses. (Página 7, quinto parágrafo) A formação do mundo ocidental contemporâneo Na Cavalgada das Valquírias (Wagner, 1856) que é executada na abertura do terceiro ato da ópera A Valquíria, pode-se perceber elementos advindos da formação do mundo ocidental contemporâneo, sendo uma das obras eruditas mais conhecidas e representativas da música ocidental. Na obra Canon Crab (Bach, 1747), pode-se observar a presença de tradições musicais europeias, especialmente a influência contrapontística germânica de compositores que antecederam o autor e construíram grande parte da história da música ocidental. (Página 21, quarto parágrafo) Número, grandeza e forma Em Tribunal do Feicebuqui, há a distribuição de seções bem distintas umas das outras, cada uma faz alusão a diferentes gêneros musicais populares, por sua instrumentação, organização das vozes e caráter expressivo, assim como na composição Canon Crab (Bach) verificamos a técnica do cânone, que é uma técnica contrapontista polifônica, e especificamente nesta obra, um palíndromo musical, que permite que a obra seja reproduzida em duas linhas melódicas, tocando-se desde o início da pauta e conjuntamente em sentido inverso, caracterizando uma polifonia. (Página 25, quinto parágrafo) Materiais No campo da criação musical, os materiais são elementos importantes para gerar distintas sonoridades e efeitos. A diversidade de timbres provém das variadas fontes sonoras. Ao longo do tempo, materiais e o seu emprego nas fontes sonoras têm definido diferentes tipos de criação e interpretação musical, como podemos observar nas músicas Canon Crab (J.S.Bach), A Cavalgada das Valquírias (Richard Wagner), Flor Amorosa (Joaquim Callado) e Tribunal do Feicebuqui (Tom Zé). Na Suíte Reisado de Pastoreio / Batuque / Dança dos Negros (Lorenzo Fernandez), verifica-se a escolha de instrumentos não convencionais. (Página 31, quinto parágrafo). PROGRESSO DO MÓDULO 0% completo Análise da Obra Inclassificáveis Inclassificáveis – Ney Matogrosso Autoria Ney de Souza Pereira, conhecido como Ney Matogrosso, nasceu no dia 1º de agosto de 1941 em Bela Vista, Minas Gerais. O cantor, ator, diretor e iluminador demonstrou vocação artística desde cedo. Durante sua infância passou boa parte do tempo sozinho. Filho de militar, sua família tinha o costume de mudar de cidade várias vezes, e por isso, até os 17 anos de idade, Ney já tinha morado em Bela Vista, Salvador, Recife, Rio de Janeiroe Campo Grande. Antes de decidir qual carreira seguir, Ney passou pela Aeronáutica, pelo laboratório de anatomia patológica do Hospital de Base de Brasília, trabalhou com recreação de crianças, foi convidado para participar de um festival universitário e integrou um quarteto. Decidiu então ser ator, o que o levou para o Rio de Janeiro, onde passou a viver da confecção e venda de peças de artesanato em couro e, em raras ocasiões, se apresentava. Conheceu João Ricardo, um produtor musical que buscava uma voz aguda para integrar o grupo Secos & Molhados. O sucesso com o grupo foi estrondoso e o primeiro disco que Ney participou como vocalista vendeu mais de 1 milhão de cópias. Ney se destacou dentro do grupo com sua maquiagem marcante, performances sensuais e roupas chamativas. Logo após o lançamento do segundo LP, o grupo Secos & Molhados se desfez e Ney deu início à sua carreira solo. Seu primeiro disco, intitulado “Água do Céu – Pássaro”, lançado em 1975, não foi o sucesso de vendas que era esperado, mas lhe rendeu convites para se apresentar em vários palcos. No mesmo ano estreou, no Hotel Nacional no Rio de Janeiro, a superprodução “Homem de Neanderthal”, espetáculo em que atuava, cantava e dançava, transformando-se em meio bicho, meio homem, coberto de pelos, penas e chifres. Seu segundo disco foi lançado logo em seguida, em 1976. Foi com esse disco que Ney Matogrosso alcançou o seu primeiro grande sucesso nacional como artista solo com a música “Bandido Corazón”. À medida que o tempo passava, sua performance foi se tornando cada vez mais ousada, e o artista começou a ser reconhecido como um dos maiores intérpretes do Brasil, já que incluiu em seu repertório grandes releituras de clássico de compositores importantes. Dez anos após a estreia da sua carreira artística de sucesso, já contando com 8 LP’s solo, 2 discos de platina e 2 discos de ouro, Ney Matogrosso fez a sua primeira turnê pela Europa, onde se apresentou ao lado de artistas renomados como Alceu Valença, Milton Nascimento e Wagner Tiso. Participou de renomados festivais internacionais. Nos anos 90 e 2000 se envolveu em diversos projetos sociais e se redescobriu como escritor. Atuou no filme “Gosto de Fel” e apresentou o documentário “Olho Nu”. Ao longo de sua carreira, apresentou-se diversas vezes em solo internacional, realizando turnês na Europa, Israel, Uruguai, Estados Unidos e Argentina. Obra Inclassificáveis Que preto, que branco, que índio o quê? Que branco, que índio, que preto o quê? Que índio, que preto, que branco o quê? Que preto branco índio o quê? Branco índio preto o quê? Índio preto branco o quê? Aqui somos mestiços mulatos Cafuzos pardos mamelucos sararás Crilouros guaranisseis e judárabes Orientupis orientupis Ameriquítalos luso nipo caboclos Orientupis orientupis Iberibárbaros indo ciganagôs Somos o que somos Inclassificáveis Não tem um, tem dois Não tem dois, tem três Não tem lei, tem leis Não tem vez, tem vezes Não tem Deus, tem Deuses Não há sol a sós Aqui somos mestiços mulatos Cafuzos pardos tapuias tupinamboclos Americarataís yorubárbaros Somos o que somos Inclassificáveis Que preto, que branco, que índio o quê? Que branco, que índio, que preto o quê? Que índio, que preto, que branco o quê? Não tem um, tem dois Não tem dois, tem três Não tem lei, tem leis Não tem vez, tem vezes Não tem deus, tem deuses Não tem cor, tem cores Não há sol a sós Egipciganos tupinamboclos Yorubárbaros carataís Caribocarijós orientapuias Mamemulatos tropicaburés Chibarrosados mesticigenados Oxigenados debaixo do sol De autoria de Arnaldo Antunes, a canção Inclassificáveis foi composta e gravada em 1996. Doze anos depois, a canção foi regravada por Ney Matogrosso. O sucesso da canção na voz de Ney foi tão grande que acabou gerando um show que recebeu o nome da canção e finalizou uma turnê do artista por diversas cidades brasileiras. Seria a primeira vez (segundo declaração do cantor no material extra do DVD) que ele se colocava política e criticamente diante do sistema, que montaria um roteiro com repertório preparado para mostrar sua visão sobre o país (VARGAS & SILVA, 2012, p. 152). Logo no início da música o compositor questiona a matriz clássica da formação do povo brasileiro: “Que preto, que branco, que índio o quê?/ Que branco, que índio, que preto o quê?/ Que índio, que preto, que branco o quê?/ Que preto branco índio o quê?/ Branco índio preto o quê?/ Índio preto branco o quê?” Surgem então “novas raças” a partir de três povos principais: o mulato (mistura de branco com negro); o mameluco (mistura de índio com branco); e o cafuzo (mistura de negro com índio). A letra apresenta trocadilhos com raças, cores, religiões e etnias. Arnaldo Antunes apresenta neologismos ao juntar palavras como uma estratégia poética para a miscigenação de raças e etnias do povo brasileiro (Vargas & Silva, 2012). Podemos encontrar exemplos disso com as palavras crilouros (crioulos e loiros), guaranisseis (guaranis e nisseis) e jurárabes (judeus e árabes). Com isso, o compositor objetivou ressaltar a diversidade humana e mostrar que somos uma pluralidade de etnias, frutos da miscigenação de milhares de anos e portanto, inclassificáveis. Segundo Marques (2010), a miscigenação das três raças formadoras do país aporta um sistema reducionista que não dá conta da complexidade das relações sócio-político-culturais dos dias atuais. Por isso, a palavra “misticigenados” surge da mistura das palavras “miscigenação” e “mestiçagem” como uma tentativa de ampliar o conceito. Sobre a análise musical, o acompanhamento musical é feito quase que inteiramente sob um acorde, que sustenta a melodia com poucas variações de notas. As variações que enriquecem a música ficam por conta da guitarra, com seu timbre distorcido, a percussão e o acompanhamento vocal. No início da música Ney começa cantando em uma região grave, mas à medida que a música é cantada, a voz caminha para o agudo até chegar ao grito entoado na palavra “inclassificáveis”. A mesma coisa acontece com os instrumentos, que aumentam o volume ao passo que a letra é construída. Em diversos momentos, Ney faz um jogo de pergunta e resposta com os vocais, que cantam a primeira parte da frase e são respondidos pelo cantor. Esse jogo se inverte e Ney passa a cantar primeiro e os vocais respondem. A dinâmica musical ajuda a reforçar o discurso político da canção. Quanto mais próximo do fim da música, mais volume e agressividade as vozes ganham. Ao analisar o vídeo é possível perceber que Ney permanece no centro do palco durante toda a performance. Com isso, o artista objetiva transferir a atenção do espectador para a letra e o recado a ser passado. Ao cantar “somos oque somos/somos o que somos/inclassificáveis/inclassificáveis”, Ney encara a plateia. PROGRESSO DO MÓDULO 0% completo Análise da Obra Reisado do Pastoreio/Batuque Reisado do Pastoreio/Batuque – Dança De Negros – Lorenzo Fernandez Autoria Oscar Lorenzo Fernandez nasceu 4 de novembro de 1897 no Rio de Janeiro. Filho de espanhóis, Lorenzo aprendeu a tocar piano de ouvido quando tinha 15 anos. Pouco tempo depois, teve aulas com a sua irmã. Começou a estudar medicina, mas acabou deixando de lado para estudar música. Em 1917, ingressou no Instituto Nacional de Música (INM), onde teve aulas com Henrique Oswald, entre outros professores. Foi orientado também por Alberto Nepomuceno. Recebeu em 1922 os três primeiros lugares no Concurso de Composição da Sociedade de Cultura Musical com as obras “Noturno”, “Arabesque para piano” e “Cisne”. Seu Trio Brasileiro para piano, violino e violoncelo garantiu a ele o primeiro lugar no Concurso Internacional de Música de Câmara da Sociedade de Cultura Musical. Com esse trio já era possível ver o rumo nacionalista que suas obras tomavam. Segundo Pinto (2004), nessa época foi fortemente influenciado pelo nacionalismo de Alberto Nepomuceno, “que consistia, de forma moderada, em adequar elementos musicais a uma forma estruturada europeia” (2004, p. 19). Em 1925 estreoua Suíte Sinfônica op. 33. Após 1928 novas obras sinfônicas foram criadas por Oscar Lorenzo, como o bailado Imbapára (1928) e a Suíte Reisado do Pastoreio (1929). No início da década de 30, Lorenzo Fernandez fundou o periódico Ilustração Musical, onde passou a publicar vários artigos sobre educação musical e canto coral. Trabalhou na Superintendência de Educação Musical e Artística do Distrito Federal. Foi um dos fundadores do Conservatório Brasileiro de Música e da Academia Brasileira de Música. Faleceu em 1948, após ter regido um concerto. Apesar de sua obra não ser tão extensa, compôs diferentes gêneros e formações. Compôs canções, suítes sinfônicas, balés, música de câmara, concertos e sinfonias. As composições de Lorenzo Fernandez podem ser divididas em três fases: Na primeira fase, de 1923 a 1938, há influência do impressionismo francês, emprego da bitonalidade, ausência de brasilidade e harmonia complexa. A segunda fase, de 1923 a 1938, é caracterizada pela busca da brasilidade musical, e há um aproveitamento sistemático do folclore, elementos negros e caboclos. Na terceira fase, de 1939 até 1948, há exclusão de ornamentos e maior utilização da polirritmia e politonalidade . É considerado, ao lado de Francisco Mignone, o principal representante da segunda geração nacionalista da música brasileira. A utilização do material folclórico era um dos princípios defendidos por Mário de Andrade para o desenvolvimento da música brasileira. Segundo Igayara (1997, p. 68), “a influência do pensamento de Mário de Andrade pode ser notada na trajetória de Lorenzo Fernandez”. IGAYARA, Susana Cecília. Oscar Lorenzo Fernandez. Rev. Int. Est. Bras., SP, 42: 59-73, 1997 Obra A suíte orquestral Reisado do Pastoreio, escrita em 1930, é dividida em três partes: reisado, toada e batuque. A suíte foi composta na segunda fase das obras de Lorenzo Fernandez, quando o compositor aproveita mais os elementos folclóricos, negros e caboclos. Segundo Igayara (1997, p. 70), a suíte “faz referência às celebrações pastoris do Natal”, o objeto da análise é a última parte da suíte: Batuque. Batuque era o nome que os brancos davam a toda reunião de negros que colocava em prática uma cantoria acompanhada por tambores, atabaques e palmas no período colonial. É também o nome de uma dança considerada proveniente de Angola ou Congo. Os batuques persistiram durante todo o período colonial, apesar de sofrer alterações culturais durante os deslocamentos de negros das minas para a lavoura cafeeira. (PINTO, 2004) Muito antes de compor essa obra, Lorenzo Fernandez frequentou alguns terreiros para conhecer a riqueza rítmica das manifestações afro-brasileiras. Como um dos resultados de suas pesquisas nasceu o Batuque da Suíte Pastoreio, que chama atenção pela orquestração exuberante e vitalidade rítmica. O Batuque foi a peça de Lorenzo Fernandez que mais obteve reconhecimento internacional, além de divulgar o nome do compositor e a música brasileira no exterior. Sua estreia mundial aconteceu pela Orquestra do Instituto Nacional de Música sob a regência de Francisco Braga. Seu sucesso é tanto que já foi gravada e interpretada por muitos regentes importantes, como Arturo Toscanini e a NBC de Nova Iorque, Leonard Bernstein com a Filarmônica de Nova Iorque, Eleazar de Carvalho com a Orquestra Sinfônica Brasileira, Claudio Santoro com a Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional de Brasília, entre outros. Foi escrita para flautins, flauta transversal, corne-inglês, oboés, clarinetas, clarone, fagotes, contra-fagote, trompas, trompetes, tuba, tímpanos, pratos, caixa clara, triângulo, bombo, tamtam, piano, violinos, violas, violoncelos e contrabaixos. De compasso binário, a obra possui andamento allegro pesante, que significa que o andamento deve ser ligeiro e alegre, mas forte e pesado. A peça tem início com os instrumentos de percussão em tom misterioso, incluindo o piano, que também é um instrumento percussivo. Em seguida entram os contrabaixos, logo sendo acompanhados pelos violoncelos, que [1] [1] https://www.sofista.com.br/courses/trilha-de-obras-pas-2/lessons/obras-de-musicas/topic/reisado-do-pastoreio-batuque-danca-de-negros-lorenzo-fernandez/#_ftn1 https://www.sofista.com.br/courses/trilha-de-obras-pas-2/lessons/obras-de-musicas/topic/reisado-do-pastoreio-batuque-danca-de-negros-lorenzo-fernandez/#_ftnref1 tocam a mesma coisa que os contrabaixos em uma oitava acima. Depois entra a trompa, que começa a tocar bem forte, logo sendo seguida pelo trombone e os demais instrumentos. Segundo Pinto (2004, p.26), a obra é estruturada pela forma A-B-A’: A seção A é dividida em exposição, desenvolvimento e reexposição com variação; a seção B apresenta a exposição de dois temas diferentes; de volta à seção A’ é apresentada a reexposição e desenvolvimento, finalizando com a volta a um dos temas apresentados na seção B. Pinto resumiu da seguinte forma: A (a – b – a’) – B (c – d) – A1(a’’- b’- d’). PROGRESSO DO MÓDULO 0% completo Análise da Obra Cota Não é Esmola Cota Não é Esmola – Bia Ferreira Autoria Bia Ferreira nasceu no interior de Minas Gerais. De família evangélica, Bia sempre conviveu com a música, já que sua mãe era cantora, regente de coral e pianista. Mudou-se com sua família para Aracaju, Sergipe. Aos 3 anos começou a estudar piano, e aos 15 anos de idade percebeu que a música poderia virar sua profissão. Entrou no Conservatório Brasileiro de Música. Multi-instrumentista, Bia toca, além do piano, mais de 25 instrumentos, como violão, baixo, guitarra, cavaquinho, instrumentos de sopro e de percussão. Além disso, é cantora de jazz, blues e soul. Bia começou a compor aos 10 anos, mas se aproximou ainda mais do universo da composição ao entrar na faculdade, em 2009. Em 2011 compôs as músicas “Cota não é esmola” e “Não precisa ser Amélia”. Em suas letras, Bia abordava temas como o corpo negro na sociedade, questões de gênero e raça. Começou a tocar em festas da faculdade e na rua. Viajou pelo Brasil fazendo um projeto de música e mais tarde trabalhou em bares e casas de shows cantando cover. Bia afirma, em entrevista ao site Epílogo, que até então não tinha coragem de cantar as próprias músicas. Foi em Aracaju que a cantora decidiu mostrar suas composições, e o resultado foi positivo, pois segundo ela: “foi uma descoberta massa de saber que a galera gostava do meu som” . Bia Ferreira define sua música como MMP: Música da Mulher Preta. Por intermédio das suas músicas, a cantora e compositora busca conscientizar os ouvintes sobre as demandas de luta do movimento antirracista no Brasil. Atualmente, Bia já fez várias parcerias com grandes influências do rap feminino nacional e chegou a dividir palco com o Rapper Criolo. Lançou vários singles desde a música “Cota não é esmola”. Foi indicada ao prêmio de revelação no Women Music Award 2018. Obra Segundo o Estadão, no dia em que Bia compôs a obra “Cota não é esmola”, estava em um almoço com os seus pais na casa de uma família de alemães. Naquele dia, Bia escutou o seguinte comentário: “Eu só não entrei em uma faculdade no Brasil quando cheguei da Alemanha porque algum negro cotista pegou a minha vaga”. Segundo a reportagem, Bia se levantou indignada, saiu da mesa e se trancou no quarto até a hora de ir embora. Foi naquele momento que começou a escrever vários versos raivosos que mais tarde se tornariam a letra da canção. A performance de “Cota não é esmola” que viralizou aconteceu no projeto Sofar Curitiba, em 19 de novembro de 2017. Em pouco tempo, o vídeo já tinha atingido mais de 5 milhões de visualizações. A narrativa da história contada por Bia impressiona, e o uso das dinâmicas e expressões mostram o tamanho da entrega da artista. Sobre a viralização de seu single em pouco tempo, Bia disse ter sido assustador. Segundo ela: “De repente, todo mundo ouvia uma música que eu fiz e postei, assim sem muito alarde”. A artista acrescentou ainda que foi muito gratificante ver pessoas se identificando com sua música, mas que a velocidade com que as coisas acontecerama assustou. Cota não é esmola Existe muita coisa que não te disseram na escola Cota não é esmola! Experimenta nascer preto na favela pra você ver! O que rola com preto e pobre não aparece na TV Opressão, humilhação, preconceito A gente sabe como termina, quando começa desse jeito 1 Desde pequena fazendo o corre pra ajudar os pais Cuida de criança, limpa casa, outras coisas mais Deu meio dia, toma banho vai pra escola a pé Não tem dinheiro pro busão Sua mãe usou mais cedo pra poder comprar o pão E já que tá cansada quer carona no busão Mas como é preta e pobre, o motorista grita: não! E essa é só a primeira porta que se fecha Não tem busão, já tá cansada, mas se apressa Chega na escola, outro portão se fecha Você demorou, não vai entrar na aula de história Espera, senta aí, já já dá 1 hora Espera mais um pouco e entra na segunda aula E vê se não atrasa de novo! A diretora fala Chega na sala, agora o sono vai batendo E ela não vai dormir, devagarinho vai aprendendo que Se a passagem é 3,80 e você tem 3 na mão Ela interrompe a professora e diz, ‘então não vai ter pão’ E os amigos que riem dela todo dia Riem mais e a humilham mais, o que você faria? Ela cansou da humilhação e não quer mais escola E no natal ela chorou, porque não ganhou uma bola O tempo foi passando e ela foi crescendo Agora la na rua ela é a preta do suvaco fedorento Que alisa o cabelo pra se sentir aceita Mas não adianta nada, todo mundo a rejeita Agora ela cresceu, quer muito estudar Termina a escola, a apostila, ainda tem vestibular E a boca seca, seca, nem um cuspe Vai pagar a faculdade, porque preto e pobre não vai pra USP Foi o que disse a professora que ensinava lá na escola Que todos são iguais e que cota é esmola Cansada de esmolas e sem o dim da faculdade Ela ainda acorda cedo e limpa três apê no centro da cidade Experimenta nascer preto, pobre na comunidade Cê vai ver como são diferentes as oportunidades E nem venha me dizer que isso é vitimismo Não bota a culpa em mim pra encobrir o seu racismo! E nem venha me dizer que isso é vitimismo São nações escravizadas E culturas assassinadas É a voz que ecoa do tambor Chega junto, venha cá Você também pode lutar, ei! E aprender a respeitar Porque o povo preto veio para revolucionar Não deixe calar a nossa voz não! Não deixe calar a nossa voz não! Não deixe calar a nossa voz não! Revolução Nascem milhares dos nossos cada vez que um nosso cai Nascem milhares dos nossos cada vez que um nosso cai, ei Nascem milhares dos nossos cada vez que um nosso cai Nascem milhares dos nossos cada vez que um nosso cai E é peito aberto, espadachim do gueto, nigga samurai! É peito aberto, espadachim do gueto, nigga É peito aberto, espadachim do gueto, nigga É peito aberto, espadachim do gueto, nigga É peito aberto, espadachim do gueto, nigga samurai! Vamo pro canto onde o relógio para E no silêncio o coração dispara Vamos reinar igual Zumbi, Dandara Odara, Odara Vamo pro canto onde o relógio para No silêncio o coração dispara Odara, Odara, ei! Experimenta nascer preto e pobre na comunidade Você vai ver como são diferentes as oportunidades E nem venha me dizer que isso é vitimismo Não bota a culpa em mim pra encobrir o seu ra-cis-mo! Existe muita coisa que não te disseram na escola! Cota não é esmola! (3x) Eu disse:Cota não é esmola! Cota não é esmola! (3x) São nações escravizadas E culturas assassinadas É a voz que ecoa do tambor! Chega junto, venha cá Você também pode lutar E aprender a respeitar Porque o povo preto veio revolucionar Cota não é esmola! A execução da obra se dá por voz e violão, e grande parte da letra é declamada. Em uma conversa com o jornal PÚBLICO, Bia fala que a música “Cota não é esmola” é uma explicação didática para as pessoas brancas que são contra as cotas, e é uma música em que as pessoas pobres, pretas e indígenas podem ver sua história sendo contada. A artista conta que ao final da sua apresentação via muitos ouvintes chorando. Ela então dizia: “[…] pessoal, obrigado pelas lágrimas, mas mudem seus pensamentos para que eu não precise mais cantar essas coisas, por favor”. As cotas são uma medida de ação contra a desigualdade. O sistema de cotas foi criado inicialmente nos Estados Unidos, no ano de 1960, com o objetivo de amenizar as desigualdades sociais e econômicas entre negros e brancos. Em 2000 o sistema se tornou conhecido no Brasil, sendo inicialmente adotado pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) que, por meio de uma lei estadual, estabeleceu que 50% das vagas do processo seletivo deveriam ser destinadas para a escola pública. Em 2004 a Universidade de Brasília implantou o sistema de cotas raciais. Desde então as demais universidades aderiram às cotas, destinando vagas não somente para negros, mas para indígenas, pardos, quilombolas, estudantes de baixa renda oriundos de escolas públicas e alunos com deficiência. Em agosto de 2012 foi aprovada a lei nº 12.711, também conhecida como “Lei de cotas”. Essa lei propôs que as instituições de ensino superior federais teriam até agosto de 2016 para destinar metade das vagas dos processos seletivos para estudantes das escolas públicas, levando também em consideração critérios raciais e sociais. Há quem explica as cotas raciais com o conceito da equidade aristotélica. Segundo Aristóteles, é necessário tratar desigualmente os desiguais para promover a efetiva igualdade. Ou seja, se duas pessoas que vivem em condições desiguais concorrerem nas mesmas condições, certamente haverá desigualdade. Seguindo a ideia, o correto a se fazer seria igualar as oportunidades para ambos. PROGRESSO DO MÓDULO 0% completo Análise da Obra Capoeira Capoeira Histórico A capoeira é uma manifestação cultural que pode ser considerada um esporte, luta e/ou dança. Essa expressão cultural foi desenvolvida no Brasil no século XVI por descendentes de escravos africanos, e surgiu como forma de resistência. Nesse período, muitos africanos foram trazidos ao Brasil como escravos para trabalharem nos engenhos de cana-de-açúcar, nas fazendas e na casa dos senhores. Aos poucos perceberam a necessidade de criar uma forma de se defenderem da violência dos colonizadores, já que eram constantemente maltratados e violentados. Viu-se a necessidade de criar uma técnica de defesa e ataque para que os negros pudessem utilizar seu próprio corpo para confrontar seus adversários. Para que ninguém suspeitasse, tendo em vista que os escravos eram proibidos de praticar qualquer tipo de luta, decidiram adaptar o ritmo e movimentos das danças africanas para um novo tipo de luta. Surgiu então a capoeira, que é, na realidade, uma arte marcial disfarçada de dança. Os confrontos costumavam acontecer nas fugas, geralmente em matas grandes e capoeiras, e é desse último que se originou o nome da luta. Fontoura e Guimarães (2002) citam Santos (1990, p. 19) que comenta que, “para assegurar a sobrevivência da capoeira naquela época, os capoeiristas, quando na presença dos senhores de engenho, praticavam-na em forma de brincadeira, quando, na verdade, estavam treinando”. As autoras acrescentam ainda que o berimbau, instrumento característico da capoeira, servia para dar ritmo e também para anunciar a chegada dos senhores, a fim de transformar a luta em dança. Importante ressaltar que apesar de ser uma luta, a capoeira não foi criada apenas com esse propósito, já que é também um movimento de resistência cultural. Com o passar do tempo, os senhores de engenhos perceberam o poder fatal que a capoeira possuía e a proibiram, rotulando-a de “arte negra”. Em 1888, com a abolição da escravidão, não houveram políticas públicas para a inclusão de ex-escravizados no mercado de trabalho, com isso a capoeira se tornou um dos principais meios utilizados para a sobrevivência. Mesmo após a abolição, os praticantes da capoeira continuaram sofrendo perseguições, pois a luta era vista como uma prática extremamente violenta. Em 1890, a capoeira foi considerada “fora da lei” pelo antigo Código Penal, que estabelecia apena de dois a seis meses de reclusão a quem praticasse a capoeira nas ruas ou em praça pública. Em 1937, um grupo de capoeira fez uma apresentação ao então presidente Getúlio Vargas, que transformou a luta em esporte nacional. No mesmo ano capoeira é extinguida do rol de crimes do Código Penal Brasileiro. A capoeira é rica de elementos, como a musicalidade, religiosidade e movimentos acrobáticos, o que a torna única. Estilo da Capoeira A capoeira é caracterizada por movimentos ágeis que utilizam mais os pés e a cabeça, como chutes, rasteiras, cabeçadas, joelhadas e outros. Existem vários estilos, sendo os principais a Capoeira Angola e a Capoeira Regional: Capoeira Angola – é o estilo mais próximo da capoeira que os escravos jogavam. É mais lenta, quase sempre está acompanhada por uma bateria completa de instrumentos e os movimentos são furtivos e executados perto do solo. Leva esse nome por terem sido os escravos angolanos que mais se destacaram nessa prática. Apesar de ser baseada na calma e na velocidade, a Capoeira Angola é uma luta. Capoeira Regional – foi criada em 1930 pelo Mestre Bimba. Inicialmente foi chamada de ‘luta regional baiana”. Como um habilidoso lutador e exímio praticante da capoeira Angola, Mestre Bimba buscou promover a capoeira com intuito de ter mais força como luta, e por isso incorporou novos golpes, inclusive do Batuque, uma luta já extinta muito rica em golpes traumáticos. Foi ele também o responsável por criar o primeiro método de ensino da capoeira. Um dos fundamentos da capoeira regional é manter no mínimo uma base (pé ou mão) no solo. Na capoeira regional são utilizadas muitas cabeçadas, rasteiras e quedas, e ao contrário da capoeira Angola, que é mais lenta e calma, a capoeira regional é mais rápida. Instrumentos da Capoeira Segundo Fontoura e Guimarães (2002), até onde se sabe, a capoeira é a única luta brasileira que utiliza instrumentos musicais. Além dos instrumentos, as palmas dos capoeiristas também ajudam a ritmar a luta. Os instrumentos utilizados são: Berimbau: Instrumento de corda percutida constituído por uma única corda esticada em haste de madeira. Sua caixa de ressonância é feita de cabaça; O berimbau deve ser segurado na mão esquerda junto com uma moeda, que quando utilizada, permite a obtenção de uma segunda nota musical. Importante ressaltar que o toque do berimbau é parte importante na condução da capoeira. Existem três tipos de berimbaus, sendo o principal o berimbau gunga, que é o que possui som mais grave e cabaça maior, por isso comanda a capoeira. O berimbau médio possui um som médio (entre o grave e o agudo) e uma cabaça média, enquanto o berimbau viola (ou violinha) possui uma cabaça ainda menor e um som mais agudo. O berimbau gunga marca o ritmo, o médio ajuda o gunga a manter o ritmo, e o berimbau viola faz o repique da roda de capoeira. Pandeiro: Instrumento de percussão composto por um aro de madeira com uma pele esticada sobre ele e algumas soalhas (rodelas de metal) no aro. Do pandeiro são extraídos apenas dois sons, sendo um grave e um agudo; Caxixi: Instrumento de percussão de origem africana, o caxixi é um chocalho de cestinha fechado com sementes secas dentro. É usado principalmente como complemento do berimbau. A mesma mão que segura a vareta do berimbau segura também o caxixi. Dessa forma, toda vez que a vareta toca a corda do berimbau, o som seco do caxixi também aparece; Atabaque: Instrumento de percussão também de origem afro-brasileira. Existem três tipos de atabaques: o mais baixo (Le) produz um som alto; o médio alto (Rum Pi-e) produz um som médio; e o mais alto (Rum) produz um som baixo. Os tambores são fabricados com madeira de jacaranda e por cima da tampa do tambor é colocada uma pele. Podem ser tocadas com a mão ou com baquetas; Agogô: Instrumento de percussão de origem africana. O agogô brasileiro, que é utilizado na capoeira, é um pouco diferente do instrumento africano. O instrumento de ferro possui um formato de U e liga dois sinos. Na capoeira, o agogô tem a função de fazer a marcação. Reco-reco: Instrumento de percussão feito de bambu com gomos. Quando a tala ou varinha é passada sobre a superfície do instrumento, este produz um ruído rascante. Na capoeira regional, também conhecida como capoeira do mestre Bimba, são utilizados 1 berimbau e 2 pandeiros. Na capoeira angola, entretanto, são utilizados 3 berimbaus, 2 pandeiros, agogô, atabaque e reco-reco. Vale ressaltar que o caxixi é utilizado como complemento do berimbau, então está presente nos dois estilos da capoeira. No ano de 2008, a roda de capoeira foi reconhecida e registrada como um bem cultural pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico (IPHAN). Em novembro de 2014, recebeu o status de Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO). PROGRESSO DO MÓDULO 0% completo Análise da Obra Carimbó Carimbó Histórico O carimbó é uma manifestação cultural tradicional do estado do Pará que reúne elementos da cultura indígena, africana e portuguesa. Objetiva expressar, por meio dos instrumentos, letras e dança, o cotidiano das populações ribeirinhas, dos agricultores e pescadores da região, bem como a relação que eles mantêm com o meio ambiente. O carimbó está presente na Ilha de Marajó, na região do Baixo Amazonas e principalmente na faixa litorânea do Pará, região conhecida como Zona do Salgado, onde o oceano atlântico e a floresta amazônica se encontram (FUSCADO, 2014). Os elementos dessa manifestação (canto, música, dança, e a formação instrumental) foram tradicionalmente transmitidos pela oralidade. Não se sabe ao certo onde e quando o carimbó surgiu, embora alguns municípios se auto intitularem como “berço” dessa manifestação. O nome carimbó é derivado do instrumento de percussão indígena chamado curimbó, que significa “pau oco”. Esse instrumento é feito de um tronco de árvore escavada e em uma das suas extremidades é coberto por couro de animal. O tocador senta-se sobre o curimbó e bate o tambor com as mãos fazendo a marcação rítmica tradicional do carimbó. A instrumentação varia de acordo com cada região, mas junto ao curimbó podem ser utilizados instrumentos como pandeiros, maracas, matracas, caxixis, violão, cavaquinhos, flauta, clarinete, rabeca e saxofone. Entretanto, apesar dessa riqueza de combinações sonoras, também é possível fazer um carimbó apenas com o curimbó e maracas. Dança e Música À medida em que o ritmo é marcado, o cantador de carimbó, que puxa os versos e refrãos, canta os versos principais, que logo depois serão repetidos por todos que estão presentes. A dança do carimbó é feita em pares ou em roda. Essa dança, cheia de rodopios, quando apresentada por grupos de dança, possui coreografias e vestimentas específicas. Nas rodas improvisadas, quando quem dança é o público, não há coreografias ou roupas específicas. As saias das mulheres costumam ser coloridas e volumosas, garantindo um efeito visual ao movimento. Os dançarinos se vestem como trabalhadores, com calças curtas ou dobradas. Homens e mulheres dançam descalços. O rapaz convida a moça para a dança batendo palmas, e as moças, com suas saias, executam movimentos na tentativa de cobrir a cabeça de seus pares. As moças usam muitos acessórios coloridos e flores na cabeça. A letra e dança costumam conversar ao expressar o trabalho dos pescadores, agricultores e ribeirinhos. Por exemplo: quando a pesca e o mar são constantemente citados, as dançarinas fazem movimentos com a saia que remetem ao balançar da rede. É importante ressaltar que o termo “carimbó” era inicialmente utilizado apenas para designar o instrumento utilizado, mas com o passar do tempo se estendeu também para a dança, poesia e cantos oriundos dessa manifestação cultural. O carimbó foi também responsável por influenciar gêneros como o tecnobrega e a lambada. Ganhou legitimidade nas rádios e mídias da capital do Pará através de compositores como Mestre Verequete, Mestre Lucindoe Pinduca. Os compositores do carimbó costumam ser pescadores e agricultores que moram no interior do Pará. Carimbó Tradicional X Urbano Segundo Fuscado (2014), é necessária a utilização da expressão carimbó tradicional para se referir ao carimbó de raiz, tendo em vista que existe também no Pará um outro estilo de carimbó chamado de “moderno” ou “urbano”. Enquanto o primeiro, o carimbó tradicional, é produzido pelas populações das cidades do interior, bem distante da lógica comercial, o segundo, o carimbó urbano, segundo Fuscado (2014, p.85) “resultou do processo de popularização do carimbó na capital paraense […], dentro de um contexto de modernização estética e difusão de seu ritmo através dos meios de comunicação de massa regionais”. A principal diferença musical entre eles é a incorporação de guitarras, baixos elétricos e baterias no carimbó urbano. Foi o carimbó urbano que popularizou o estilo entre os moradores do Pará e, consequentemente, do Brasil, contribuindo para que se tornasse um dos maiores representantes da identidade paraense, sendo inclusive reconhecido como patrimônio cultural imaterial pelo Iphan em 2014. Existem alguns festivais tradicionais que reúnem grupos de carimbó de todo o estado do Pará. PROGRESSO DO MÓDULO 0% completo Análise da Obra Eu Estou Apaixonada por Você Eu Estou Apaixonada por Você – Gina Lobrista Intérprete Gina Severina da Silva, conhecida como Gina Lobrista, nasceu em Recife, Pernambuco. Aos 4 anos de idade foi morar no Pará com sua família e desde então nunca mais retornou à sua cidade natal. Participou, com a sua irmã, da banda Geração Eletrizante. Em 2013 decidiu seguir carreira solo. Tentando o sucesso, Gina saía às ruas da cidade de Belém, no Pará, com um microfone e uma caixa de som para divulgar suas músicas e vender seu cd, que custava apenas cinco reais. Se tornou muito conhecida nas redondezas do mercado de ferro Ver-o-Peso e na Praça da República. A artista chamou a atenção de um grupo de universitários que estavam começando uma produtora local (Platô Produções). O grupo a abordou e propôs gravar um videoclipe. Gina topou, e em pouco tempo o clipe “Eu estou apaixonada por você” viralizou na internet, permitindo que a cantora se apresentasse em diversos programas de TV, como Legendários e Hora do Faro. Desse último programa citado, recebeu a oportunidade de ter um cd produzido e lançado pelo produtor musical Rick Bonadio. A inspiração da artista, que se tornou uma grande referência no meio musical paraense, vem de cantores bregas, como Reginaldo Rossi, mas seu ídolo é o cantor Roberto Carlos. Gina se considera uma artista de rua: “Eu tenho certeza de que serei muito famosa, mas quero fazer diferente de certos artistas que dizem que são do Pará, mas não pisam mais aqui. Quero continuar cantando no mercado. Sou artista de rua”. Ficou conhecida como a cantora que levou o ritmo acoxadinho para fora do Pará. Para ela a diferença entre o acoxadinho e o arrocha está nos instrumentos, já que o acoxadinho tem mais gingada da guitarra paraense, enquanto no arrocha o teclado aparece mais. Obra Eu estou apaixonada por você Nessa minha vida agitada Já não tenho mais tempo pra nada Já nem posso mais pensar no amor Mas veja só que mesmo assim Eu estou apaixonada por você. E nem mesmo tenho jeito de falar do meu amor Que é grande sim Que é tudo enfim Que existe em mim Eu estou apaixonada Eu estou apaixonada por você E não posso mais ficar Distante assim do seu carinho E sei porque tudo que eu faço penso em você É que eu estou apaixonada Fico esperando um minutinho Mesmo que seja só pra ganhar um beijinho Rapidamente e depressa dizer Que eu estou apaixonada Eu estou apaixonada por você Para gravar seu primeiro videoclipe, Gina Lobrista escolheu a música “Eu estou apaixonada por você”. O vídeo da composição de Erasmo Carlos e Roberto Carlos foi produzido em 2014 no mercado de ferro Ver-o-peso, local onde Gina se apresentava e vendia seu cd diariamente. No videoclipe a “índia da Amazônia” ou “índia apaixonada”, como gosta de ser chamada, aparece andando pelo mercadão, vendendo ervas, cortando mandioca, servindo refeições e cantando na rua. Em entrevista ao site UOL, Gina comenta que tudo que fez no clipe, ela já viveu. O videoclipe já teve mais de 467 mil visualizações no Youtube. A partir desse contexto, o início do clipe mostra Gina chegando ao mercado Ver-o-peso e se instalando no local onde sempre canta. A música começa com a guitarra e voz. O teclado só entra no refrão e segue até o final da música. As viradas da bateria e o solo no meio da música são todos feitos no teclado. Enquanto isso, a guitarra passa a fazer pequenas participações, sempre executando a mesma sequência de cinco notas. A canção tem três seções: A seção “A” começa com “Nessa minha vida agitada”; “B” começa com “Eu estou apaixonada”; “C” começa com “Fico esperando um minutinho “. A seção B, apesar de ter duas letras diferentes, é uma só, pois a melodia, ritmo e harmonia da seção não mudam. Sendo assim, a música tem a seguinte sequência de seções: ABBC – instrumental – BC. PROGRESSO DO MÓDULO 0% completo Análise da Obra Maria da Vila Matilde Maria da Vila Matilde – Elza Soares Autoria Elza Soares nasceu no Rio de Janeiro em 1937. Gostava de cantar desde criança. Aos 12 anos foi obrigada pelo pai a se casar com Lourdes Antônio Soares. Teve seu primeiro filho aos 13 anos de idade. A artista sonhava em um dia se tornar cantora e, escondida do marido, fez seu primeiro teste em 1953, no programa “Calouros em Desfile” da Rádio Tupi, conquistando o primeiro lugar. Aos 21 anos de idade já tinha velado dois filhos, que morreram em decorrência da fome, e o seu primeiro marido. Viúva com 5 filhos para cuidar, Elza trabalhou como faxineira, empacotadora e conferente em uma fábrica de sabão. Apesar das dificuldades, nunca abandonou o sonho de ser tornar artista. Em 1958 viajou para a Argentina com a Companhia de Dança de Mercedes Baptista. Ao retornar ao Brasil, foi contratada para trabalhar na Rádio Vera Cruz. Começou a cantar no Texas Bar, em Copacabana, e logo teve a oportunidade de gravar na rádio Odeon. Nos anos 60, Elza fez sucesso ao lançar as músicas “Se acaso você chegasse”, “Boato” e “Edmundo”. Casou-se com Garrincha, famoso jogador de futebol, em 1962. Seu primeiro livro “Minha vida com Mané” foi publicado em 1969. Em 1997 teve sua biografia publicada pelo escritor José Louzeiro, e em 2000, a emissora BBC lhe deu o título de “A melhor cantora do milênio”. Gravou mais de 34 álbuns e recebeu inúmeros títulos por seu trabalho. Em 2018, sua biografia “oficial e definitiva” foi publicada pelo jornalista Zeca Camargo. Obra Maria da Vila Matilde Cadê meu celular? Eu vou ligar pro 180 Vou entregar teu nome E explicar meu endereço Aqui você não entra mais Eu digo que não te conheço E jogo água fervendo Se você se aventurar Eu solto o cachorro E, apontando pra você Eu grito: péguix guix guix guix Eu quero ver Você pular, você correr Na frente dos vizim Cê vai se arrepender de levantar a mão pra mim E quando o samango chegar Eu mostro o roxo no meu braço Entrego teu baralho Teu bloco de pule Teu dado chumbado Ponho água no bule Passo e ainda ofereço um cafezim Cê vai se arrepender de levantar a mão pra mim E quando tua mãe ligar Eu capricho no esculacho Digo que é mimado Que é cheio de dengo Mal acostumado Tem nada no quengo Deita, vira e dorme rapidinho Você vai se arrepender de levantar a mão pra mim Cê vai se arrepender de levantar a mão pra mim Cê vai se arrepender de levantar a mão pra mim Cê vai se arrepender de levantar a mão pra mim Cê vai se arrepender de levantar a mão pra mim Mão, cheia de dedo Dedo, cheio de unha suja E pra cima de mim? Pra cima de moi? Jamé, mané! Cê vai se arrepender de levantar a mão pra mim A canção “Maria da Vila Matilde (Porque se a da Penha é brava, imagine a da Vila Matilde)” foi lançada em 3 de outubro de 2015 e faz parte do álbum “A mulher do fim do mundo”, que é inteiramentevoltado à temática da violência contra a mulher. Além disso, esse foi o primeiro álbum da cantora somente com músicas inéditas. Conta a história de uma mulher que toma consciência da violência que sofria e decide denunciar o agressor. Em 2016 recebeu o Prêmio Multishow de Música Brasileira na categoria Canção do Ano. A canção rapidamente se tornou um hino do movimento feminista e carrega um pouco do que Elza viveu em seu segundo casamento. No início dos anos 60, Elza teve um relacionamento com o famoso jogador de futebol Mané Garrincha, que ainda estava casado. Na época a cantora chegou a ser ameaçada de morte e foi hostilizada por amigos do parceiro. Elza e Garrincha se casaram em 1962, e a união durou 15 anos. Durante muito tempo a cantora foi rotulada como “a amante” e bastante criticada. Ao se afastar dos gramados, Garrincha se tornou alcoólatra e violento com Elza, que apanhou por diversas vezes e até teve os dentes quebrados em uma dessas ocasiões. Essa foi uma das razões do término do relacionamento. Apesar de tudo, a artista sofreu calada, já que seu parceiro era muito conhecido no mundo esportivo. Mediante essa música, Elza expõe a realidade sobre a violência masculina contra a mulher e convoca as vítimas para denunciarem seus agressores. Maria da Vila Matilde apresenta uma mulher destemida, como é possível observar nos trechos: “Cadê meu celular?/ Eu vou ligar pro 180/ Vou entregar teu nome/ E explicar meu endereço/ Aqui você não entra mais/ Eu digo que não te conheço/ E jogo água fervendo/ Se você se aventurar/ Cê vai se arrepender de levantar a mão pra mim”. Nesses trechos a personagem da canção deixa claro que tomará as devidas providências para que o agressor seja punido e ressalta que, se for necessário, vai se defender de todas as formas que puder. Lyra (2017) aponta outro fato que chama a atenção na letra da música, que é a ênfase que o compositor deu ao número à Central de Atendimento à Mulher (180), conscientizando o ouvinte de como recorrer em casos de violência doméstica. O compositor da música, Douglas Germanos, disse, em entrevista à Revista Rolling Stone Brasil: “Sou filho de uma Maria. Eu vi essa Maria, minha mãe, apanhar em casa. Era garoto e podia fazer muito pouco além de sentir medo de meu pai e dó de minha mãe. No dia seguinte, não se falava nada. Minha mãe soluçava pela casa com hematomas e meu pai saía para trabalhar. Aquilo era como se fosse um segredo nosso. Segredo de família. Achava ruim”. Lei Maria da Penha Com o objetivo de coibir qualquer tipo de violência doméstica contra a mulher, foi criada a Lei Maria da Penha. A lei nº 11.340, que entrou em vigor no dia 22 de setembro de 2006, alterou o código penal brasileiro, permitindo que, caso tenham cometido qualquer ato de violência doméstica estabelecido em lei, os agressores sejam presos em flagrante ou tenham a prisão preventiva decretada. Essa medida possibilitou que os agressores não fossem mais punidos com penas alternativas, como pagamento de cestas básicas, além de aumentar o tempo máximo de detenção de um para três anos, estabelecendo ainda que o agressor saia do domicílio da vítima e a proibição de sua proximidade com a mulher agredida e os filhos. O nome da lei é uma homenagem a Maria da Penha Maia, que durante seis anos foi agredida pelo marido até que em 1983 foi atingida por ele com uma arma de fogo e ficou paraplégica. Após o ocorrido, o marido de Maria ainda tentou matá-la afogada e eletrocutada, sendo punido somente após 19 anos de julgamento, ficando apenas dois anos em regime fechado. Muitas mulheres ainda sofrem violência doméstica, e apesar de poderem denunciar, muitas preferem não o fazer, seja por acreditar que o agressor um dia poderá mudar, por medo de retaliações e repressões sociais ou ainda por não acreditarem na efetividade do sistema judiciário. Esses agressores são, na maioria dos casos, parentes, ex-parceiros ou parceiros das vítimas. Estrutura Com letra de Douglas Germano, a música é, segundo Kastrup, na sua essência “um samba-de-breque à la Kid Morengueira, com arranjo distorcido da banda, que dialoga com a tradição do samba e do rock”. Esse samba com mistura de música eletrônica e de tom fortemente irônico e contestador, contou na sua gravação com Kiko Dinucci na guitarra, Rodrigo Campos na guitarra, Marcelo Cabral no baixo, Guilherme Kastrup na bateria, Felipe Roseno nas percussões e Edy Trombone no trombone. Chama atenção o solo que Elza faz com o trombone, como quem imita o instrumento de sopro. PROGRESSO DO MÓDULO 0% completo Análise da Obra Cabaça d’Água Cabaça d’Água – Alberto Salgado Autoria O compositor, cantor, arranjador, professor e multi-instrumentista Alberto Salgado nasceu em Brasília. Seu primeiro contato com a música veio da capoeira, que acabou se tornando uma de suas influências. Tem formação em violão clássico, instrumento que utilizou para compor suas primeiras músicas. Autodidata, começou a estudar violão sozinho. Tempos depois, estudou violão erudito com o professor Maurízio Martins. Participou de festivais estudantis e obteve boas colocações. Em entrevista ao Entrecultura, Alberto Salgado disse que os resultados positivos nesses festivais reforçaram a crença dele no seu dom de compor. Passou a participar de festivais profissionais e em 1999 começou a carreira artística. Suas músicas têm influências da sua formação erudita, sua vivência em rodas de capoeira, bossa-nova, músicas tradicionais africanas, samba, afro-samba, entre outros. Seu primeiro álbum, “Além do Quintal”, foi gravado em 2014 e em seis meses todas as unidades já haviam sido vendidas. Em 2017, com o patrocínio do Fundo de Apoio à Cultura da Secretaria de Cultura do Governo de Brasília, lança o segundo álbum, chamado “Cabaça d’Água”. Esse disco recebeu elogios da crítica e de artistas importantes da MPB, como Chico Buarque. Obra Cabaça d’água Se agora no mundo acabasse água de beber E no fundo de um copo restasse sede de viver Que que cê ia fazer, camarada? Que que cê ia fazer? A vaidade do homem consome Sede de viver Tanto pingo que pinga que some Água de beber Água de março do Rio de Janeiro Verão em fevereiro Se não restasse nenhuma cabaça d’água Se não restasse nenhuma cabaça (Que que cê ia fazer camarada?) (Que que cê ia fazer?) A canção Cabaça d’água pertence ao álbum que leva o mesmo nome. O álbum gravado em 2017 conta com dez canções, sendo algumas de autoria somente do cantor, e outras realizadas em parcerias. Entre as canções do disco, Salgado apresenta diversos ritmos brasileiros. Recebeu o 28º Prêmio de Música Brasileira como melhor álbum na categoria Música Regional. A canção que dá nome ao disco foi composta em parceria com Werner Scheller, e chama atenção para a conservação e uso consciente da água, que se torna cada vez mais escassa. O título da canção faz referência ao fruto de casca dura denominado “Cabaça” ou ainda “Porango”, que pode ser utilizado para servir de recipiente para armazenar água ou para fazer instrumentos musicais. A música começa ao som do berimbau e em seguida é acompanhada pela bateria. O baixo elétrico e a voz entram juntos. Salgado canta as seções A e B, até que entra o cavaco de 5 cordas e ao fundo surge o áudio do que parece ser o trecho de uma reportagem. A mulher declama: “Um relatório feito pelo Ibama calcula que vão ser necessários pelo menos 10 anos para reparar a bacia do rio doce que sofreu fortes danos causados pelo rompimento de uma barragem em Mariana, Minas Gerais. A tragédia foi a quase um mês, e nesse período a lama com rejeitos de minério percorreu mais de 660 quilômetros pelo rio ”. Salgado volta a cantar a seção A, seguindo a sequência B, A’ e B’. Para exemplificar a variação na letra da canção foi utilizado o símbolo (‘). O cavaco de 5 cordas faz outro solo, e Salgado novamente retoma à sequência A, B, A’, B’. Após isso, Salgado canta “Água de março do Rio de Janeiro/ Verão em fevereiro”. Em “Se não restasse nenhuma cabaça d’água/ Se não restasse nenhuma cabaça”, o vocal canta simultaneamente
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