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SOCIOLOGIA 3ª Edição JON WITT Democracia representativa Estamos todos incluídos? Quem são os 1% mais ricos? O abismo entre ricos e pobres pode ser maior do que você imagina Um outro mundo é possível? Sociedades em transformação Novas famílias 10 questões para pensar antes de casar Estude com um livro diferente de tudo que você já viu. Catalogação na publicação: Poliana Sanchez de Araujo – CRB 10/2094 W827s Witt, Jon. Sociologia [recurso eletrônico] / Jon Witt ; tradução: Roberto Cataldo Costa ; revisão técnica: Marli Ferreira de Souza. – 3. ed. – Porto Alegre : AMGH, 2016. Editado como livro impresso em 2016. ISBN 978-85-8055-532-5 1. Sociologia. I. Título. CDU 316 26 • Sociologia À medida que você for LENDO >> • Quais são os passos dos sociólogos quando pretendem responder por que as pessoas pensam e agem de determinada maneira? • Quais técnicas os sociólogos usam para coletar dados? • Quais preocupações éticas os sociólogos devem levar em consideração durante a realização da pesquisa? >> Etapas do processo de pesquisa A sociologia, em sua essência, representa uma conversa en- tre teoria e pesquisa. Os sociólogos procuram descrever e explicar os padrões e as práticas de nossas vidas pela inves- tigação sistemática do que fazemos e por que o fazemos. Se quisermos conhecer as razões dos pensamentos e das ações das pessoas, precisamos saber mais sobre como elas realmente pensam e agem. Precisamos observá-las, fazer perguntas, participar de suas vidas ou, de outras formas, compreender suas experiências a partir da perspectiva de- las. Não podemos nos sentar em uma poltrona e ficar dan- do palpites. A sociologia herda esse compromisso, em parte, das pri- meiras tentativas de alguns sociólogos de emular o método científico usado em investigações sobre o mundo natural. O método científico é uma série sistemática e organizada de passos que garante a máxima objetividade e constância ao se pesquisar um problema. Embora nem todos os soció- logos atuais vinculem a tarefa da sociologia tão fortemente ao modelo das ciências naturais, continua havendo um compromisso de entender o mundo por meio de um envolvimento com esse mundo. A realização de pesquisas sociológicas pelo princípio do método científico exige a adesão a uma série de passos concebidos para garantir a precisão dos resultados. Os so- ciólogos e outros pesquisadores seguem cinco passos bási- cos do método científico: (1) definição do problema, (2) revisão da literatura, (3) formulação da hipótese, (4) esco- lha do projeto de pesquisa e, em seguida, coleta e análise dos dados, e (5) elaboração da conclusão (ver figura à di- reita). Para melhor entender o processo, acompanharemos um exemplo sobre a relação entre educação e renda do iní- cio ao fim. DEFINIÇÃO DO PROBLEMA Fazer faculdade “compensa”? Muitas pessoas fazem grandes sacrifícios e trabalham muito para conseguir um diploma universitário. Os pais fazem empréstimos para pagar os estu- dos de seus filhos. Os estudantes têm empregos de meio ex- pediente ou até trabalham em tempo integral enquanto assis- tem a aulas à noite ou no fim de semana. Será que compensa? Esse diploma dá retorno monetário suficiente? O primeiro passo em qualquer projeto de pesquisa é de- clarar o mais claramente possível o que você espera investi- gar, ou seja, definir o problema. Normalmente, isso significa identificar de modo explícito os conceitos sobre os quais es- tamos interessados em aprender mais e a relação que suspei- tamos existir entre esses conceitos. Isso é necessário para que ocorra a conversa entre teoria e pesquisa. método científico Série sistemática e organizada de passos que garante objetividade e constância máximas ao se pesquisar um problema. O método científico efinirD o problemao p InvInvnvInIn estese igar teorias já já já já áj exexexistentesjá eexxis Revisar a literaturaa literat Formu a umular ummmaaaaa hippótese testávvvelelelele Coletar e nalisar dadosan s Escolher um desenho de pesquisa Survey vv • Observação • Experimento • Fontes existentes EEElaborarEElElaborar a ccococonclusão Ideias para smais pesquisas Pesquisa Sociológica • 27 A teoria cumpre um papel central em nossa definição do problema. As teorias representam nossas explicações mais informadas sobre o que acontece e por quê. Quando nos deparamos com algo que ainda não entendemos, as teorias podem orientar nossa investigação ao sugerirem possíveis caminhos de pesquisa. Por exemplo, como vimos no Capítulo 1, Émile Durkheim teorizou que a integração social influencia a ação individual. Ele foi testar essa teoria realizando pesquisas sobre o suicídio, como um exemplo da escolha individual mais extrema de todas. Por meio da pesquisa, avaliamos e refinamos nossas teorias, de modo que nossas explicações e descrições sociológicas do mun- do sejam mais completas e mais ricas, refletindo de forma mais precisa tanto a simplicidade quanto a complexidade do comportamento humano. Em nosso exemplo atual, estamos interessados em saber como a educação afeta a posição econômica de uma pessoa. Existem várias teorias sociológicas concorrentes sobre essa relação. Uma abordagem, que decorre do paradigma funcio- nalista, pressupõe que, para realizar seu pleno potencial, a sociedade precisa que as pessoas reservem um tempo sufi- ciente para desenvolver suas habilidades. Isso leva à suposi- ção de que as pessoas que fizerem os sacrifícios necessários para desenvolver essas habilidades serão recompensadas por isso (Davis e Moore, 1945). Outra teoria, dentro da tradição do conflito, sugere que, em vez de premiar quem tem habilida- des, a educação reforça o sistema vigente de desigualdade ao pro- porcionar a ilusão da oportuni- dade. Segundo essa teoria, as pessoas mais ou menos acabam na mesma posição econômica em que começaram sua jornada educacional (Bowles e Gin- tis, 1976). A teoria com a qual começamos moldará o tipo de dados que coletaremos. Examinaremos ambas as teorias em um capítulo posterior, mas, para os propósitos do nosso exemplo, vamos nos concentrar na primeira. Muitas vezes, os conceitos em nossas teorias são abstra- tos demais para serem observados. Para avaliar essas teorias, os pesquisadores das ciências sociais desenvolvem uma defi- nição operacional de cada conceito a ser estudado. Uma definição operacional transforma um con- ceito abstrato em indicadores observáveis e men- suráveis. Por exemplo, um sociólogo interessado em estudar o status pode usar a participação em clubes sociais exclusivos como definição operacional de status. Alguém que estude a religiosidade pode considerar a frequência de participação de uma pessoa em cultos religiosos ou a quantidade de oração ou meditação como sua definição operacional do quanto essa pessoa é reli- giosa. Em nosso exemplo, precisamos de definições operacionais para educação e ganhos. Embora o grau de instrução de uma pessoa possa significar mais do que apenas seus anos de escolaridade concluí- dos, convencionou-se operacionalizá-lo as- sim. Da mesma forma, também usaremos a abordagem co- mum de operacionalização de ganhos como o total que uma pessoa recebeu no ano anterior. REVISÃO DA LITERATURA A próxima fase da pesquisa envolve uma revisão da literatura, ou seja, investigar pesquisas anteriores realizadas por soció- logos e outros sobre os concei- tos que desejamos estudar. Analisando como outros au- tores estudaram esses concei- tos, os pesquisadores podem refinar o problema em estudo, esclarecer possíveis técnicas de coleta de dados e eliminar ou reduzir os erros evitáveis. Um excelente material para começar esse tipo de pesquisa são as muitas revistas sociológicas que publicam artigos regular- mente, nos quais os sociólogos documentam cuidadosamen- te suas conclusões. (Consulte a figura “Encontrar informa- ções” na página 28, para mais dicas úteis.) No nosso exemplo, seria preciso buscar pesquisas exis- tentes sobre a relaçãoentre educação e renda. Nessa literatu- ra, encontraríamos evidências significativas de que as duas coisas estão ligadas. Também saberíamos que outros fatores, além dos anos de escolarida- de, influenciam o potencial de ganhos. Por exemplo, a catego- ria profissional de uma pessoa (como encanador, operário de fábrica, secretário ou professor) pode definir sua renda de uma forma diferente do que apenas com base no nível educacio- nal. Também concluiríamos que outros fatores relacionados à origem, como classe, gênero e raça, afetam a renda. Por exemplo, filhos de pais ricos têm maior probabilidade de ir para a faculdade do que os de origem modesta; por isso, po- demos considerar a possibilidade de que esses mesmos pais possam, mais tarde, ajudar seus filhos a garantir empregos mais bem remunerados (Walpole, 2007). Isso pode nos le- var a cogitar a inclusão de outros conceitos em nossa definição do problema. FORMULAÇÃO DA HIPÓTESE Após definir o problema em um diálogo com teorias existentes e o refinar revisando pesquisas anteriores, podemos identificar as variáveis que queremos estudar e indicar nossas expectativas sobre as relações entre elas. Uma variável é um traço ou uma característica mensurável que está sujeita a mudanças em diferentes condições. Renda, religião, ocupação e gênero podem servir como variáveis de um estudo. Uma hipótese é um enunciado testável sobre a relação entre duas ou mais variáveis. Sem teoria, somos cegos – não conseguimos ver o mundo. Michael Burawoy definição operacional Transforma- ção de um conceito abstrato em in- dicadores observáveis e mensuráveis. variável Traço ou característica mensurável sujeita a mudanças em diferentes condições. hipótese Enunciado testável sobre a relação entre duas ou mais variáveis. 28 • Sociologia Uma hipótese é mais do que apenas um palpite in- formado. Ela representa uma tentativa explícita de indicar o que achamos que está acontecendo e por quê. Ela pressupõe que exista ló- gica causal em atuação, ou seja, que haja uma relação en- tre as variá- veis, na qual a mudança em uma traz mu- danças na outra. Durkheim, por exemplo, formulou a hipótese de uma relação de causa e efei- to entre filiação religiosa e ta- xas de suicídio. No nosso exemplo, a hipótese é de que mais educação leva a mais renda. Nas hipóteses, a variável causal que gera mudanças é chamada de variável indepen- dente. A variável que é afeta- da é conhecida como variável dependente, pois a mudança nela depende da influência da variável independente. Em outras palavras, o pes- quisador acredita que a variável independente pre- diga ou provoque alterações na variável dependente. Por exemplo, um pesquisador em sociologia pode prever que a disponibilidade de moradia acessível (a variável independen- te, muitas vezes chamada de x em equações) afeta o nível de falta de moradia em uma comunidade (a variável dependen- te, normalmente representada como y em equações). Poderíamos juntar essas peças para gerar um enunciado genérico sobre a hipótese: o conhecimento da variável inde- pendente (x) nos permite explicar ou prever melhor o valor ou a posição da variável dependente (y). Poderíamos, então, situar as variáveis que estamos inte- ressados em estudar, como aquelas na figura “Lógica Encontrar informações Comece com o material que você já tem, incluindo textos e outros. Consulte fontes na internet como Wikipédia; elas podem ser úteis para se começar, mas sempre confira as afirmações em uma fonte ou organização confiável. Use jornais. Pesquise usando índices eletrônicos de publicações para encontrar artigos relacionados. Use o catálogo da biblioteca. Examine documentos de governos (incluindo o Censo Brasileiro). Contate pessoas, organizações e agências relacionadas a seu tema. Consulte seu professor, monitor ou bibliotecário. lógica causal Há uma relação entre as variáveis, na qual a mudança em uma causa mudanças na outra. variável independente Variável, em uma relação causal, que gera ou influencia mudanças em uma segun- da variável. variável dependente Variável, em uma relação causal, que está sujeita à influência de outra variável. gica causal em atuação, ou seja, que haja uma relação en- tre as variá- em uma traz mu- rkheim, por pótese e efei- e ta- osso e que mais riável nças é epen- afeta- variável dança nela da variável s palavras, o pes- variável independente pre- ções na variável dependente. Por or em sociologia pode prever que a dia acessível (a variável independen- a de x em equações) afeta o nível de ressados em estudar, como aquelas na figura “Lógica m à Você sabia? o ior. S undo o Census Bureau, Fonte: Snyder e Dillow, 2011: Tabela 8; U.S. Census Bureau, 2011f. . . . as agências do. . . as agências do. . . as agências do governo dos Estados Unidosgoverno dos Estados Unidosgoverno dos Estados Unidos publicam regularmente relatórios sobrepublicam regularmente relatórios sobrepublicam regularmente relatórios sobre renda, educa o, obreza e saúde.* S gundo renda, educação, pobreza e saúde. Segundo renda, educação, pobreza e saúde. Segundo renda, educação, pobreza e saúde.* Segundo oooo Departamento de Educação, 87,1% das pessoasDepartamento de Educação, 87,1% das pessoasDepartamento de Educação, 87,1% das pessoas de 25 anos ou mais receberam seu diplomade 25 anos ou mais receberam seu diplomade 25 anos ou mais receberam seu diploma do ensino médio ou equivalente, e 29,9%do ensino médio ou equivalente, e 29,9do ensino médio ou equivalente, e 29,9% têm ptêm pelo menos um curso superior.têm pelo menos um curso superiortêm pelo menos um curso superior. Segundo o Census Bureau,Segundo o Census Bureau,Segundo o Census Bureau, a renda mediana para trabalhadores ema renda mediana para trabalhadores ema renda mediana para trabalhadores em tempo integral, o ano inteiro, detempo integral, o ano inteiro, detempo integral, o ano inteiro, de 25 a 64 anos, foi de 43.990 dólares.25 a 64 anos, foi de 43.990 dólares.25 a 64 anos, foi de 43.990 dólares. * N. de R. T.: No Brasil, o principal provedor de dados e informações é o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Pesquisa Sociológica • 29 Causal”, à direita, neste enunciado, para apresentar claramen- te a natureza das relações que esperamos encontrar entre as variáveis que desejamos estudar. No nosso exemplo, a hipótese sugere que saber quantos anos de escolaridade uma pessoa concluiu nos permitirá pre- dizer melhor quanto dinheiro ela vai ganhar. Nossa variável independente é o nível de educação, e a variável dependente, a renda. Além disso, esperamos que a relação seja positiva, isto é, quanto mais a pessoa estudar, mais dinheiro vai ganhar. Em uma relação negativa, quando a variável independente sobe, a dependente desce, e vice-versa. Devemos observar que, só porque duas variáveis pare- cem covariar, não significa que a mudança em uma faça mu- dar a outra. Essa covariância é conhecida como correlação, que é uma relação entre duas variáveis na qual a mudança em uma coincide com a mudança na outra. A relação aparente pode ser devida ao acaso ou à influência de outros fatores. É tarefa do pesquisador demonstrar – baseando-se em dados, raciocínio lógico e teoria – que a correlação também é causal. Estatísticas não bastam. Tomemos, por exemplo, o efeito que o divórcio tem so- bre o bem-estar das crianças. Estudos mostraram que as duas variáveis estão correlacionadas – filhos de divórcio exibem efeitos nefastos no longo prazo – mas essa relação é causal? Antes de chegar a uma conclusão, devemos considerar outros fatores. Talvez os resultados negativos para os filhos se devam aos níveis de conflito parental, e não ao divórcio em si, nem à natureza da relação entre pais e filhos ou a fatores contex- tuais, como o desemprego ou a mobilidade geográfica (Bhrolcháin, 2001; Sun e Li, 2008). Nas palavras do sociólogo Pierre Bourdieu, “nada se explicou ao se estabelecer a existên-cia de uma correlação entre uma variável ‘independente’ e uma variável ‘dependente’” (1984:18). Correlação não é igual a causação. Até que ponto você acha que cada uma das variáveis independentes listadas na figura “Lógica Causal” contri- buiria para explicar o desempenho acadêmico? Que ou- tras variáveis independentes você acha que ajudariam a explicar esse desempenho? PENSAMENTO SOCIOLÓGICO Correlação Fonte: http://xkcd.com/552/. EU ACHAVA QUE CORRELAÇÃO ACARRETARIA CAUSAÇÃO. AÍ FIZ UMA AULA DE ESTATÍSTICA. AGORA EU NÃO ACHO. PARECE QUE A AULA AJUDOU. BOM, PODE SER. Variável independente x Grau de integração na sociedade Variável dependente y Nível de renda Probabilidade de suicídio Frequência dos pais à igreja Frequência dos filhos à igreja Tempo gasto se prepa- rando para questionário Desempenho em questionário Renda dos pais Probabilidade dos filhos fazerem faculdade Grau de instrução Disponibilidade de moradia acessível Falta de moradia Lógica causal correlação A relação entre duas variáveis na qual a mudança em uma coincide com a mudança na outra. 30 • Sociologia COLETA E ANÁLISE DOS DADOS Para avaliar suas hipóteses, os sociólo- gos, como todos os cientistas, coletam dados. Há várias maneiras, conhecidas como desenhos de pesquisa, usadas para isso, incluindo surveys, ob- servação, experimentos e uso de da- dos existentes. Como o desenho escolhido é muito importante no processo de pesquisa, aprofundaremos a análise sobre cada um desses dese- nhos mais adiante neste ca- pítulo. Por agora, vamos nos concentrar em algu- mas questões centrais que os pesquisadores devem abordar, independente- mente de qual desenho de pesquisa eles escolherem. Seleção da amostra Mui- tas vezes, principalmente no caso de grandes projetos de pesquisa, os sociólogos não podem realizar um censo, ou seja, não podem coletar in- formações de toda a popula- ção que estão interessados em estudar. Nesses casos, eles fa- zem uma amostra – uma se- leção a partir de uma população maior, que é estatisticamen- te representativa dessa população. Para garantir que uma amostra seja representativa, os sociólo- gos costumam usar uma amostra aleató- ria, na qual todos os membros de toda a população que está sendo estudada têm a mesma chance de ser selecionados. Assim, se os pesquisadores quiserem examinar as opiniões de pessoas listadas em um registro municipal (um livro que, ao contrário da lista telefônica, traz todos os domicílios de uma comunidade), tal- vez usem um computador para selecio- nar aleatoriamente os nomes do registro. Fazer isso elimina a possibilidade de que algum viés ou conveniência afete negati- vamente quem é incluído. Quando realizada corretamente, essa amostragem permite aos pesquisadores estimar estatisticamente quais as proba- bilidades de seus resultados serem repre- sentativos. O mesmo não pode ser dito da maioria das pesquisas pela internet, como no Facebook, no Yahoo ou em páginas de notícias, pois esse tipo geralmente não faz controle de quem responde, dependendo apenas de quem entra e decide par- ticipar. Embora essas pesquisas possam ser interessantes, divertidas ou provocativas, não há maneira de saber se são representativas. Para melhor entender a relação entre educação e renda, pode-se recorrer a pesquisas coletadas pelo National Opinion Research Center (NORC) ou pelo U.S. Census Bureau. Essas duas organizações são fontes inestimáveis de dados para so- ciólogos. O NORC já administrou a Pesquisa Social Geral 28 vezes desde 1972. Nesse levantamento nacional, administrado em inglês e espanhol, uma amostra representativa da popu- lação adulta é entrevistada em profundidade sobre diversos tópicos, incluindo renda e educação. Geralmente são feitas as mesmas perguntas ao longo de vários anos, permitindo a análise de como as respostas mudam com o tempo. No Brasil, esse tipo de levantamento é feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Embora o Census Bureau seja mais conhecido pelo censo que realiza a cada dez anos, de toda a população dos Estados Unidos (mais recentemente, em 2010), os pesquisadores tam- bém coletam regularmente dados usando amostras represen- tativas da população do país. Isso lhes dá atualizações mais frequentes e lhes permite coletar informações mais detalha- das sobre um número maior de variáveis do que é possível no censo decenal. Por exemplo, no que diz respeito às nossas variáveis de interesse, eles publicam um relatório anual sobre renda, pobreza e cobertura de saúde nos Estados Unidos to- dos os outonos (DeNavas-Walt, Proctor e Smith, 2011). Garantia de validade e confiabilidade Para ter confian- ça em suas conclusões, e seguindo o método científico, os sociólogos vão em busca de resultados de pesquisa que sejam válidos e confiáveis. A validade é o grau em que uma medida ou escala reflete verdadeiramente o fenômeno em estudo. No nosso exemplo, uma medida válida de renda representaria COLETA E A DOS DADO Para avaliar s gos co m des para is servação, dos exi escol no ap so nn p n m amostra Seleção a partir de uma população maior, que é estatis- ticamente representativa dessa população. amostra aleatória Amostra na qual todos os membros de toda a população que está sendo estudada têm a mesma chance de ser sele- cionados. validade Grau em que uma medi- da ou escala reflete verdadeiramen- te o fenômeno em estudo. Você sabia? . . . Um caso clássico de erro de amostragem ocorreu quando pesquisadores da Literary Digest declararam que Alf Landon derrotaria o presidente Franklin Roosevelt em 1936. Eles previram que Landon teria 55% dos votos, mas ele teve apenas 37%. Embora tenha entrevistado 2 milhões de pessoas, a Digest as selecionou a partir de guias telefônicos e registros de automóveis. Com o país em meio à Grande Depressão, telefones e carros eram luxos que muitas pessoas não podiam pagar. Como resultado, a pesquisa sub-representou as pessoas mais pobres, que estavam mais inclinadas a apoiar Roosevelt (Squirel, 1988). Você sabia? . . . Um caso clássico de erro de amostragem ocorreu quando pesquisadores da Literary Digest declararam que Alf Landon derrotaria o presidente Franklin Roosevelt em 1936. Eles previram que Landon teria 55% dos votos, mas ele teve apenas 37%. Embora tenha entrevistado 2 milhões de pessoas, a Digest as selecionou a partir de guias telefônicos e registros de automóveis. Com o país em meio à Grande Depressão, telefones e carros eram luxos que muitas pessoas não podiam pagar. Como resultado, a pesquisa sub-representou as pessoas mais pobres, que estavam mais inclinadas a apoiar Roosevelt (Squirel, 1988). Pesquisa Sociológica • 31 precisamente a quantidade de dinheiro que uma pessoa ga- nhou em determinado ano. Se a pergunta não for elaborada de forma clara, alguns indivíduos podem interpretá-la como se perguntasse sobre o salário decorrente de um emprego, outros podem acrescentar receitas de outras fontes, como investimentos, e outros, ainda, podem informar a renda fa- miliar, incluindo ganhos de um filho ou um cônjuge. Estudos mostram que, embora a renda possa ser um assunto delicado, as pessoas respondem com precisão quando se faz a pergunta clara e inequívoca sobre o quanto ganharam. A confiabilidade significa até onde uma medida pro- duz resultados constantes. O uso do mesmo instrumento de coleta de dados, das mesmas pessoas, em circunstâncias se- melhantes deve fornecer os mesmos resultados. Por exemplo, se você der às pessoas o mesmo questionário sobre renda e educação em dois momentos diferentes, a menos que alguma coisa significativa tenha mudado entre as duas vezes, as res- postas devem ser aproximadamente iguais. ELABORAÇÃO DA CONCLUSÃO Após terem coletado os dados e analisado os resultados, os sociólogos tiram conclusões sobre o que descobriram. Eles usam as informações que coletaram para melhor explicar as razões de nossas ações e pensamentos. Os resultados da pes- quisainformam nossas teorias, o que ajuda a gerar novas per- guntas, e todo o ciclo começa novamente com uma nova de- finição do problema. Sustentação das hipóteses Como se pode ver no gráfico a seguir, os dados do Censo dos Estados Unidos sustentam nossa hipótese com relação à educação e à renda: as pessoas com mais escolaridade formal ganham mais dinheiro do que aquelas que estudam menos. Observando, inicialmente, as duas categorias superiores de renda, vemos que 47% das que têm diploma universitário, em comparação com 16% das que não têm, ganham 60 mil dólares por ano ou mais. Examinan- do as duas categorias inferiores de renda, observamos que 26% das pessoas com graus de instrução mais elevados, com- paradas com 59% das que só têm um diploma do ensino médio, ganham menos de 40 mil dólares por ano. Quando se trata de renda, a escolarida- de é importante. É claro que isso não se aplica a todos os indivíduos. Como podemos ver no gráfico, ter diploma universitário não garante renda elevada – 15% das pessoas com curso su- perior ganham menos de 20 mil dólares por ano. Exceções à regra podem ser empresários bem-sucedidos que não têm educação formal ou pessoas com doutorado que optam por trabalhar para uma instituição sem fins lucrativos que paga pouco. Sociologicamente, essas duas informações – de que a educação influencia renda e de que a relação não é perfei- ta – são interessantes. Para entender por que essa variação existe, seria preciso considerar os possíveis efeitos que outras variáveis têm sobre a renda. Estudos sociológicos nem sempre geram dados que sus- tentem a hipótese original. Em muitos casos, os resultados re- futam a hipótese, e os pesquisadores devem reformular suas conclusões. Isso costuma levar a mais pesquisas, nas quais os sociólogos reexaminam sua teoria e seus métodos, fazendo as alterações necessárias em seu de- senho de pesquisa. Controle de outros fatores Dada a complexidade do comportamento humano, raramente basta estudar apenas uma variável independente e uma dependen- te. Embora essas análises possam nos dar ideias, tam- bém precisamos considerar outros fatores causais que possam influenciar a variável dependente. Uma ma- neira de fazê-lo é introduzir uma variável de contro- le, que é um fator que o pesquisador mantém cons- tante para testar o impacto relativo de uma variável independente. Por exemplo, se os pesquisadores qui- serem explicar os índices de criminalidade em um bairro como variável dependente, eles podem traba- lhar com a taxa de pobreza do bairro como variável independente. É provável, no entanto, que outros fa- tores influenciem as taxas de criminalidade, de modo que eles poderiam acrescentar a familiaridade – o ní- Impacto de um diploma universitário sobre a renda menos de 20.000 20.000 a 39.999 40.000 a 59.999 60.000 a 79.000 80.000 dólares e mais Ensino médio ou menos Curso universitário ou mais 29% 4% 22% 27% 18% 44% 25% 9% 7% 15% Observação: os dados incluem pessoas de 25 a 64 anos, trabalhando em tempo integral, durante todo o ano. A categoria com ensino médio inclui aqueles com estudo superior incompleto. Fonte: U.S. Census Bureau, 2011f: Tabela PINC-03, parte 28. Embora a educação cumpra um papel importante na explicação da renda, algumas pessoas com escolari- dade mínima têm renda alta e algumas com diplomas avançados ganham relativamente pouco. Que outros fatores sociais você acha que podem ajudar a explicar a renda de uma pessoa? Que efeitos o gênero, a raça, a et- nia, a religião, a idade e a origem social de uma pessoa têm sobre a renda? PENSAMENTO SOCIOLÓGICO confiabilidade Até onde uma me- dida produz resultados constantes. variável de controle Fator que é mantido constante para testar o impacto relativo de uma variável independente. 32 • Sociologia vel em que os vizinhos se conhecem e interagem regular- mente entre si – como variável de controle. Eles constata- riam que os bairros com alto nível de familiaridade têm índices de criminalidade mais baixos do que aqueles com baixo nível de familiari- dade. A introdução da variá- vel de controle nos permite ver que parte da variação das taxas de criminalidade do bairro que inicialmente se supôs ser resultado da pobreza se deve, na verdade, à influência da variável de controle. Observando nossas variáveis, não podemos considerar apenas o efeito que a educação tem sobre a renda, mas tam- bém devemos investigar o papel que outras variáveis podem cumprir. Uma possibilidade é que “quem você conhece” seja tão importante quanto “o que você conhece”. Para estudar essa relação, podemos ver como os antecedentes familiares ou as conexões na rede social de uma pessoa influenciam a renda. Nos próximos capítulos, examinaremos esses outros fatores relacionados à origem que ajudam a explicar diferen- ças de renda, incluindo gênero, raça, etnia e classe social. EM RESUMO: O PROCESSO DE PESQUISA Começamos com uma pergunta geral sobre a relação entre educação e renda. Seguindo os passos do processo de pes- quisa – definição do problema, revisão da literatura, formu- lação da hipótese, coleta e análise dos dados e elaboração da conclusão – conseguimos mostrar que a educação compensa, sim. Uma das maneiras em que podemos verificar a validade de nossas conclusões é compartilhá-las com sociólogos, for- muladores de políticas e outros em um fórum público, na for- ma de uma apresentação em uma conferência profissional ou um artigo em uma revista acadêmica arbitrada. Ao expormos o que fizemos, como o fizemos e o que concluímos, outros podem servir como uma verificação útil para nos certificar- mos de que não deixamos escapar nada e que procedemos de modo adequado. A pesquisa é de natureza cíclica. No final do processo, os pesquisadores quase sempre concluem que têm mais pergun- tas que gostariam de investigar e ideias para novas pesqui- sas, e a maioria dos trabalhos de pesquisa inclui uma seção específica sobre como poderão definir o problema e fazer a pesquisa da próxima vez. Ao longo do caminho, os pesquisa- dores podem ter descoberto novos conceitos que devem levar em consideração, maneiras melhores de fazer as perguntas para obter as informações de que necessitam, indivíduos ou grupos que deveriam incluir no estudo ou uma série de ou- tras possibilidades. No final, os estudos que os pesquisadores produzem passam a fazer parte da revisão da literatura do próximo projeto, seja deles ou de outra pessoa. >> Principais desenhos de pesquisa Como vimos, os sociólogos trabalham na coleta e no enten- dimento das histórias de nossas vidas de várias maneiras. Às vezes, eles querem contar nossa história coletiva maior; ou- tras vezes, querem contar as histórias de indivíduos e grupos que costumam ficar de fora dessas grandes narrações. Há di- ferentes desenhos de pesquisa disponíveis para contar esses diferentes tipos de histórias. Por exemplo, grandes pesquisas nacionais nos permitem ter uma ideia da impressão do país no que diz respeito a questões como política ou religião, e as estatísticas podem dar uma noção sobre onde estamos nessas questões, uns em relação aos outros. Para explorar as histó- rias menores de indivíduos e grupos, os pesquisadores po- dem empregar métodos como a observação, que enfatizam a interação mais direta e pessoal com seus sujeitos. Os sociólogos contam com quatro tipos principais de desenhos de pesquisa quando refletem sobre como coletar os dados. Um desenho de pesquisa é um plano ou método detalhado para a obtenção cientí- fica de dados. Muitas vezes, a escolha de desenhos de pesquisa baseia-se nas teorias e hipóteses com as quais o pesquisador começa (Denzin, 2009; Merton, 1948). A esco- lha requer criatividade e enge- nhosidade, pois influencia di- retamente o custo do projeto e o tempo necessário para cole- tar os dados (Vogt, Gardner e Haeffele, 2012). Como obser- vado anteriormente, os dese- nhos de pesquisa que os soció- logos usam regularmente paragerar dados incluem pesquisas, observação, experimentos e uso de fontes existentes. SURVEYS Quase todos já respondemos a surveys de um tipo ou de outro. Podem ter nos perguntado que tipo de detergente usamos, em que candidato presidencial pretendemos votar ou qual é nosso programa de televisão favorito. Uma survey é um estudo, ge- ralmente na forma de entrevista ou questionário, que dá aos pesquisadores informações sobre como as pessoas pensam e agem. As surveys tornam-se particularmente comuns em épo- ca de eleição, na forma de pesquisas de intenção de voto. Entre as principais organizações de pesquisa norte-americanas estão Gallup, SurveyUSA, ABC/Washington Post e Rasmussen. To- das essas empresas procuram usar técnicas cuidadosas para garantir a precisão de seus resultados. No Brasil, há institutos de pesquisa como Ibope, Datafolha e Vox Populi. Mantendo a educação como nossa variável indepen- dente, que outras variáveis dependentes podemos es- tudar para ver o impacto da educação sobre a socieda- de? O que esperamos obter da educação, individual e coletivamente? PENSAMENTO SOCIOLÓGICO desenho de pesquisa Plano ou método detalhado para a obtenção científica de dados. survey Estudo, geralmente na forma de entrevista ou questionário, que dá aos pesquisadores informações sobre como as pessoas pensam e agem. p q q dados. Um ou método fica de n Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual da Instituição, você encontra a obra na íntegra.
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