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MANDEVILLE, B A fábula das abelhas (Hucitec, 1988) (2)

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&EP
A Pre-Histbria
daEconomia
EDITORA HUCITEC
Sflo Paulo, 1988
RECKTENWALD, Horst C. "An Adam Smith RenaisSlIlIl"l'AIIII" 1'1/1,1 11t~ III
centenary output - "A reappraisal of his scholarship", '/,1/11 II'" ,.//, ,'/I,f/III,
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RIBEIRO, Renato J. Ao leitor sem medo - Hobbes escrcw'"do .III"'" " ,." /0 '/'1'"
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----. A etica protestante e 0 espirito do capitalismo. Sao Paulo: Pioneira,
1967.
WILBER, Charles K. e Jameson J. An inquiry into the poverty of economics. Notre
Dame, Indiana: Notre Dame Press, 1983.
As paginas que se seguem apresentam u:na tradu~a~ d~ original
ingles do poema de Bernard Mandeville, extraJ.do da edi~ao mgles~ da
Wishart & Co., de 1934. Em 1970, a Editora Kaye, de Londres, reun-
primiu a obra original, em sua versao completa, mas a edi~ao esgo-
tou-se rapidamente. Assim, nao existe qualquer exemplar da mesma nas
bibliotecas publicas de Sao Paulo. Em 1982, a Fondo de Cultura Eco-
nomica do Mexico traduziu a edi~ao completa para 0 espanhol.
A Fabula das abelhas e uma das obras-primas da literatura mun-
dial. E tambem um documento de suma importancia na rev?lu~~~, ~e
valores focalizada neste livro, como se depreende de seu subtttuio. Vl-
cios privados, beneficios publicos". Bestseller durante ~ seculo XVIII e
boa parte do seculo XIX - a despeito de ter sido ~ublicame~te cond~-
nada _, ja foi defmida como uma mesc1ade anarqUlsmo fllosofico e utt-
litarismo cetico.o poema original foi publicado pela primeira vez em 1705, so~ 0
titulo de The Grumbling Hive or Knaves turn'd Honest (em portugues,
A colmeia murmurante ou Os velhacos que se tornaram honestos). Para
responder as criticas, que espocaram com extrema virulencia, Mande-
ville sentiu-se obrigado a redigir vinte e quatro ensaios em prosa, agrc-
gados ao poema a titulo de esdarecimento ou justificativa. Assim, como
se vera a seguir, 0 poema e entrecortado por letras, dispostas 'em ordclll
alfabetica, de A a Y, pelas quais 0 autor assinala os trechos para os
quais apresenta urn ensaio, na segunda parte do livro.
Na introdu~ao de seus comentanos, Mandeville argumenta que
uma das razoes que leva as pessoas a mal compreenderem a si mesmas 6
o fato de a maioria dos escritores estarem sempre a dizer-lhes como
devem ser, e nao como de fato sao. "De minha parte", acrescenta, "a--
credito que 0 homem (alem de pele, carne, ossos e tudo 0 que e evidentl:
aos olhos) e urn compos to de varias paix6es; que todas elas, provocadas
e detonadas, governam 0 homem uma a uma, queira ele ou nao" (Man-
deville 1934: 42). Tem-se aqui uma reitera~ao de dois elementos im-
portantes na pre-historia da Economia: 1) a distin~ao entre normativo e
positivo, 0 que deve ser e 0 que e, com enfase sobre 0 Ultimo; 2) 0 rc-
conhecimento explicito de que 0 ser humano esta sujeito a influencia
das paix6es.
A terceira parte do livro e dedicada a uma "Investiga~ao sobre a
natureza da sociedade", onde Mandeville polemiza com Shaftesbury e
outros fJlosofos moralistas cristaos quanta a possibilidade de existir
virtude sem auto-nega~ao. 0 amor natural que 0 homem nutre pelo
ocio, pela vagabundagem e pelos prazeres sensuais, diz ele, nao deve ser
tolhido pela prega~ao. Ao contrano, tais inclina~oes so podem ser do-
madas por intermedio de paixoes mais violentas. Nao sao as virtudes
que 0 ser humano possa adquirir por intermedio da auto-nega~ao 0
fundamento da sociedade, ... "mas 0 que neste mundo chamamos mal, ...
e 0 grande principio que nos torna criaturas sociais, a base solida, avid ••
e 0 suporte de todos os comercios e empregos sem exce~ao" (ihi-
dem 230). Mandeville condui que gra~as a uma boa administra~ao,
exercida por um politico habil, os vicios privados podem converter-se
em beneficios publicos.
Finalmente, a Ultima parte do livro contem um dialogo entre tres
personagens: Horacio, Cleomenes e FUlvia. Honkio, defensor da moral
tradicional, disc ute com Cleomenes. Este faz 0 papel de advogado da
Fdbula das abelhas e representa uma especie de alter ego do proprio
autor. Fulvia tern 1Jm papel secundano. Segundo Mandeville, foi colo-
cada apenas "com a inten~ao de dizer algumas coisas sobre a pintura
e sobre as operas" ...
A COLMEIA MURMURANTE
OU
OS VELHACOS QUE SE TORNARAM HONESTOS
Uma grande colmeia, repleta de abelhas,
Que viviam com luxo e comodidade,
Porem eram tao famosas por leis e armas
Quanto por copiosos e precoces enxames,
Era tida como 0 grande ber~o
Das ciencias e da industria.
Nao havia abelhas que possuissem governo melhor,
Maior volubilidade ou menos contentamento;
Nao eram escravas da tirania,
Nem governadas pela desenfreada Democracia,
E sim por reis, que nao podiam errar,
Pois seu poder era restrito por leis.
Esses insetos viviam como os homens,
E todas as nossas a~6es executavam em miniatura;
Fazi~ tudo 0 que se faz na cidade,
Eo que e da al~ada da espada ou toga,
Embora os trabalhos engenhosos dos membros minusculos
De tao ligeiros escapassem a vista humana.
Entretanto, nao temos maquinas, trabalhadores,
Navios, castelos, armas, artifices,
Oficio, ciencia, loja ou instrumento
Para os quais nao possuissem equivalente;
Estes, sendo sua lingua desconhecida,
Devem ser chamados com os nomes que damos aos nossos.
Como concessao, entre outras coisas,
Queriam dados, mas tinham reis,
E estes tinham guardas, do que se pode, acertadamente,
Conduir que algum jogo havia,
A menos que exista urn regimento
De soldados que nao pratique nenhum.
Grandes numeros abarrotavam a fertil colrneia,
Porem essa multidao fazia com que prosperassem;
Milh6es empenhavam-se em satisfazer
Mutuamente sua cupidez e vaidade,
(A.) Enquanto outros milh6es labutavam <
Para ver destruidas suas obras.
Abasteciam metade do universo,
Porem tinham mais trabalho que trabalhadores.
Alguns, com grande capital e pouco esfon;o,
Lan~avam-se a negocios de fabulosos lucros;
Outros estavam condenados a foice e a espada,
E a todos esses arduos e cansativos oficios
Nos quais, voluntariamente, desgra~ados suam dia apos dia,
Esgotando as for~as e os membros para poderem comer,
Enquanto outros dedicavam-se a misterios
Aos quais poucos encaminhavam aprendizes,
Que nao requeriam outro cabedal seniio 0 descaramento,
E podiam estabelecer-se sem urn centavo sequer,
Como trapaceiros, parasitas, gigolos, jogadores,
Punguistas, falsarios, charlatiies, adivinhos
E todos os que, inimigos
Do trabalho honesto, astuciosamenteConvertiam em seu proprio beneficio
o trabalho do afavel e incauto proximo.
(B.) A esses chamavam velhacos, mas exceto pelo nome,
Os austeros industriosos eram iguais;
Todos os negocios e cargos tinham algo de desonesto,
Nenhuma profissao era isenta de embustes.
Os advogados, cuja arte tinha por base
Suscitar contendas e dividir causas,
Opunham-se a todos os registros, pois as trapa~as
Poderiam dar mais trabalho com propriedades hipotecadas,
Como se fosse ilegal que 0 patrimonio de alguem
Fosse conhecido sem uma a~ao judicial.
Postergavam deliberadamente as audiencias,
Para embolsar polpudos honorarios,
E, para defender uma causa iniqua,
Examinavam e observavam as leis,
Como ladr6es que espreitam lojas e casas
Para descobrir qual 0 seu ponto fraco.
Medicos valorizavam fama e riqueza
Acima da saude dos depauperados pacientes
Ou de sua propria habilidade; a maior parte estudava,
Em vez de as regras da arte,
Olhares graves e pensativos e atitudes apaticas,
Para ganhar a simpatia do boticario
E elogios das parteiras, sacerdotes
E todos os que lidavam com nascimentos e funerais,
Suportar a incessante tagarelice da tribo,
E ouvir a tia da dona da casa prescrever,
Com urn sorriso afetado e urn cortes ''Como vai?"
Para bajular toda a familia
E, 0 que e 0 pior de todos os tormentos,
Aguentar a impertinencia das enfermeiras.
Entre os muitos sacerdotes de Jupiter,
Contratados para invocar as ben~aos do ceu,
Alguns havia sabios e eloqiientes,
Mas milhares lascivos e ignorantes;
Contudo, todos preenchiam os requisitos que podiam ocultar
Sua pregui~a, luxuria, avareza e orgulho,
Pelos quais eram tao famosos quanta alfaiates
Por sonegar retalhos e marinheiros por rum.
Alguns; magros e pobremente vestidos,
Rezavam misticamente por pao,
Com isso querendo dizer uma farta despensa,
Contudo, literalmente, nao recebiam nada alem.
E, enquanto esses santos labutadores passavam fome,
Alguns pregui~osos a quem serviam
Abandonavam-se ao ocio, com todas as gra~as
Da saude e da fartura nas faces.
(C.) Os soldados, que eram for~ados a lutar,
Se sobtevivessem, auferiam honrarias,
Embora alguns, que se esquivavam de brigas sangrentas,
Houvessem sido feridos na fuga.
Alguns generais valentes combatiam os inimigos,
Outros aceitavam suborno para deixa-Ios escapar;
Alguns aventuravam-se sempre onde a luta era mais renhida,
Perdiam ora uma perna, ora urn brac;o,
Ate que, totalmente invaIidos, eram postos de lado,
E viviam com a metade do soldo,
Enquanto outros nunca apareciam no campo de batalha,
E ficavam em casa recebendo em dobro.
Seus reis eram servidos, porem astutamente
Logrados pelo seu proprio ministerio;
Muitos, que pelo seu bem-estar arduamente trabalhavam,
Roubavam a propria coroa a quem salvavam;
As pens6es eram pequenas, e eles viviam a larga,
Poremjactavam-se de sua honestidade,
Chamando, sempre que extrapolavam seus direitos,
Gratificac;ao a seu logro matreiro;
E, quando entendiam seu jargao,
Mudavam 0 nome para emolumento,
Relutantes em ser concisos ou explicitos
Com tudo 0 que se referisse a ganhos;
(D.) Pois nao havia abelha que mIo quisesse
Ganhar mais, nao direi, do que merecia,
Porem do que ousava permitir que soubessem
(E.) Aqueles que lhes pagavam, como jogadores
Que, embora jogando limpo, nunca revelam
Aos perdedores 0 quanta ganharam.
Mas quem pode enumerar todas as suas fraudes?
o proprio material que na rua
Vendiam como esterco para enriquecer 0 solo,
Freqiientemente, como descobria 0 comprador,
Era sofisticado com urn quarto
De pedras e argamassa imprestaveis,
Embora pouca razao tivesse para queixar-se
Aquele que tambem vendia gato por lebre.
A propria Justic;a, celebre pela equanimidade
Embora cega nao perdera 0 tato;
Sua mao esquerda, que deveria sustentar a balanc;a,
Deixara-a muitas vezes pender, subornada com ouro;
E, conquanto parecesse imparcial, .
Quando se tratava de punic;ao corporal,
Alardeava seguir curso regular
Em assassinatos e todos os crimes violentos,
Porem alguns, primeiro mandados ao pelourinho por desonestidade,
Eram enforcados na propria corda com que haviam sido ac;oitados.
Contudo, pensava-se, a espada que ela empunhava
Reprimia apenas os pobres e desesperados
Que, impelidos por mera necessidade,
Eram amarrados a arvore dos desgrac;ados
Por crimes que nao mereciam tal destino,
Senao para proteger os ricos e poderosos.
Assim, 0 vicio imperava em cada parte,
Embora 0 todo fosse urn parafso;
Incensados na paz, temidos na guerra,
Tinham 0 respeito dos estrangeiros,
E, na abundancia de riqueza e vidas,
Eram a forc;a preponderante entre todas as colmeias.
Tais eram as Mnc;aos daquele estado
Que seus crimes conspiravam para torna-Io grandioso;
(F.) E a virtude, que com a politica
Aprendera milhares de artiffcios sutis,
Tornara-se, pela feliz influencia,
Amiga do vido, e desde entao
(G.) 0 pior elemento em toda a multidao
Fazia algo para 0 bem comum.
Era essa a estadistica que regia
o todo, do qual cada parte reclamava;
Isso, como na harmonia musical,
Conciliava as dissonancias no geral.
(R.) Grupos diretamente opostos
Ajudavam-se mutuamente, como por perversidade,
E a temperanc;a e a sobriedade
Serviam a embriaguez e a gula.
(1.)A avareza, raiz do mal,
Esse maldito, perverso, pernicioso vlcio,
Era escrava da prodigalidade,
(K.) 0 pecado nobre; (L.) enquanto oluxo
Empregava urn milhiio de pobres,
(M.) E 0 orgulho odioso, mais urn milhiio.
A propria inveja e a vaidade
Eram ministros da industria;
Sua extravagancia predileta, a volubilidade
No comer, vestir-se e mobiliar,
Tornara-se, vfcio estranho e ridfculo,
A propria roda que movia os neg6cios.
Suas leis e seus trajes eram, igualmente,
Coisas mudaveis,
Pois, 0 que em certo momento era bem visto,
Meio ano depois tornava-se crime.
Entretanto, enquanto assim alteravam suas leis,
Sempre encontrando e corrigindo imperfei<;:6es,
Atraves da inconstiincia reparavam falhas
Que a prudencia nao poderia prever.
Apesar de conscio dos proprios defeitos,
Dos demais, barbaramente, nao tolerava nenhum.
Urn, que conseguira patrimonio principesco
Enganando 0 patriio, 0 rei e os pobres,
Atrevia-se a bradar "Que a terra pere<;:a
Por todas as suas fraudes!"; e quem pensais
Que 0 patife pregador de sermiio censurava?
A urn luveiro, que vendera couro grosseiro por pelica!
A menor coisa feita incorretamente,
Ou que obstasse aos negocios publicos,
E ja todos os velhacos gritavam desfa<;:adamente:
"Oh, Deus! Se ao menos houvesse honestidade!"
Mercurio sorria ante a impudencia,
E outros chamavam-na falta de senso,
Sempre a protestar contra 0 que amavam.
Porem, Jupiter, cheio de indigna<;:iio,
Finalmente, irritado, jurou livrar
Da fraude a vociferallte colmeia. E assim 0 fez.
No mesmo momento, ela se foi
E a honestidade encheu seus cora<;:6es;
Revelaram-se-lhes, como na arvore do conhecimento,
Os crimes dos quais se envergonharam,
E que entiio, em silencio, confessaram,
Enrubescendo ante sua torpeza,
Como crian<;:asque, desejando esconder suas faltas,
Pela cor denunciam os pensamentos,
Imaginando, ao serem olhados,
Que os outros veem 0 que fIzeram.
Assim, 0 vfcio fomentava a engenhosidade
Que, unida ao tempo e ao trabalho,
Propiciava as comodidades da vida,
(0.) Seus verdadeiros prazeres, confortos e facilidades,
(P.) A tal ponto que mesmo os pobres
Viviam melhor que os ricos de outrora,
E nada mais havia a acrescentar-se.
Como e vii a feticidade dos mortais!
Tivessem eles no<;:iiodos limites da bem-aventuran<;:a,
E de que a perfei<;:iio,ca embaixo,
Esta acima do que os deuses podem conceder,
E os queixosos animais ter-se-iam contentado
Com ministros e governo.
Porem eles, a cada sobrevento,
Como criaturas irremediavelmente perdidas,
Maldiziam os politicos, 0 exercito, as frotas,
Enquanto cada urn gritava "Abaixo os desonestos!",
Porem, oh deuses! Que consterna<;:iio!
Quiio grande e subita foi a altera<;:ao!
Em meia hora, no pafs inteiro,
A carne caiu urn peni por tibra;
A mascara da hipocrisia despencou,
Do grande estadista ao palha<;:o;
E alguns, tiio conhecidos pela aparencia afetada,
Pareceram estranhos com a sua natural.
o tribunal ficousilencioso a partir de entao,
Pois agora os devedores, voluntariarnente, pagavarn
Mesmo 0 que os credores haviarn esquecido,
E estes desobrigavarn os que nao podiarn saldar as dividas.
Os que estavarn sem razao calararn-se
E desistirarn dos esfarrapados e vexatorios processos,
Com 0 que, ja que ninguem prospera menos
Do que advogados em uma colmeia honesta,
Todos, exceto os que tinharn grandes posses,
Partirarn, levando consigo seus tinteiros.
o clero despertou da pregui<;a; ..
Nao mais delegararn suas incumbencias as abelhas auxiliares;
Isentos de vicio, servirarn pessoalmente
Aos deuses, com ora<;ao e sacrificios.
Todos os que erarn inaptos, ou sabiarn
Serem dispensaveis seus servi<;os, retirararn-se;
Nem havia trabalho para tantos
(Se e que os honestos precisarn de algum).
Somente uns poucos permanecerarn com 0 sumo-sacerdote,
A quem os demais jurararn obediencia;
Ele proprio ocupou-se de assuntos divinos,
Cedendo a outro os neg6cios de estado.
Nao escorra<;ou de sua porta nenhum faminto;
Nem roubou aos pobres seu salario;
Em sua casa os esfomeados forarn alimentados,
Os subordinados tiverarn pao sem restri<;6es,
E os viajantes necessitados, carna e comida.
A justi<;a enforcou alguns, outros libertou,
E, apos esvaziarem-se as pris6es,
Nao mais sendo necessaria sua presen<;a,
Retirou-se com todo 0 seu cortejo e pompa.
Na vanguarda marchararn ferreiros, com cadeados e grades,
Grilh6es e portas com chapas de ferro;
Aseguir, carcereiros, guardas e ajudantes;
A frente da deusa, a alguma distfulcia,
Seu fiel ministro principal,
Dom Algoz, 0 grande executor da Lei,
Empunhando nao a espada imaginaria,
Mas seus proprios instrumentos, 0 machado e a corda;
Entao, em uma nuvem, a bela de olhos vendados:
A justi<;a em pessoa, impelida pelo ar;
Em volta de sua carruagem, e na retaguarda,
Seguirarn sargentos, esbirros de toda a especie,
Beleguins e todos aqueles funcionarios
Que das lagrimas arrancarn seu sustento.
Entre os grandes ministros do rei
E todos os administradores subalternos
A mudan<;a foi grande pois, (Q.) frugalmente,
Passararn a viver de seu salario.
Que uma abelha pobre viesse dez vezes
Pedir 0 que the era devido, uma quantia irrisoria,
E por urn escrivao bem pago fosse obrigada
A dar algo por fora ou nunca receber,
Seria agora considerado absoluta desonestidade,
Embora antes fosse prerrogativa.
Todos os lugares, antes administrados por tres,
Que vigiavarn mutuarnente suas velhacarias,
E muitas vezes, por carnaradagem,
Promoviarn os roubos uns dos outros,
Felizmente passararn a ser geridos por urn so;
Com isso, forarn-se outros milhares.
Embora vivesse a medicina enquanto houvesse doentes,
Ninguem prescrevia senao abelhas habilitadas,
As quais dispersararn-se tanto pela colmeia
Que nenhuma precisava de condu<;ao;
Deixararn de lado controversias inuteis e esfor<;ararn-se
Por livrar os pacientes do sofrimento;
Abandonaram as drogas produzidas em paises desonestos
E usararn os produtos da sua propria terra,
Sabendo que os deuses nao mandarn docn<;as
A na<;6es sem remedios.
(R.) Nenhuma honra agora poderia satisfazer-se
Em viver devendo pelo que gastava;
Libres ficararn expostas em lojas de penhores,
Desfizerarn-se de carruagens pOI uma pechincha,
Venderam cavalos magnificos as parelhas,
E casas de campo para saldar dividas.
Pode, entao, usar tecidos de ouro e prosperar,
Nem perduhirios adiantar tao grandes quantias
Para borgonhas e verdascos.
Foi-se 0 cortesao que, com sua querida,
Diariamente alijantava urn banquete de Natal,
Gastando, em duas horas de estada,
o que sustentaria 0 dia todo uma tropa de cavalaria.
Evitou-se 0 gasto imltil tanto quanto a fraude;
Nao mais mantiveram exercitos no exterior;
Riram-se da estima dos estrangeiros
E das glorias vas conseguidas com guerras;
Lutaram, mas pelo bem da patria,
Quando 0 direito e a liberdade estavam emjogo. o arrogante Cloe, que para viver a grande,
Fizeraseu (T.) marido roubar ao Estado,
Agora, contudo, vendeu sua mobilia,
Que fora saqueada nas Indias,
Reduziu 0 dispendioso cardapio,
E usou urn ano inteiro os mesmo trajes dun'iveis:
A era da futilidade e do capricho passou,
E as roupas, bem como as modas, permaneceram.
Teceloes que produziam ricos brocados
E todos os offcios subordinados
Extinguiram-se. Ainda reinava a paz e a abundancia,
Etudo era barato, porem simples.
A bondosa Natureza, livre do jugo dos jardineiros,
Concedia t~dos os frutos no seu proprio tempo;
Contudo, raridades mio se podia mais obter
Quando os esforc;os para consegui-Ias nao eram pagos.
Olhai agora a gloriosa colmeia e vede
Como se conciliam honestidade e neg6cios:
o espemculo terminou; esvaiu-se rapidamente,
E apresentou-se com face bastante diversa,
Pois nao so foram-se aqueles
Que somas vultosas gastavam anualmente,
Mas multidoes, que neles tinham seu ganha-pao,
Foram diariamente forc;adas a fazer 0 mesmo;
Inutilmente buscaram outros oficios,
Pois estavam todos superlotados.
Caiu 0 prec;o da terra e das casas;
Palacios maravilhosos, cujos muros,
Como os de Tebas, foram feitos para 0 espemculo.
Puseram-se para alugar, enquanto os outrora garridos,
Bern estabelecidos deuses domesticos ficariam
Mais satisfeitos em morrer no fogo do que ver
A modesta inscric;aona porta
Sorrir das soberbas que eles exibiam.
A construc;ao civil foi aniquilada,
Nao se empregaram mais artifices,
(S.) Nenhum pintor ganhou fama por sua arte,
Canteiros e entalhadores nao se tornaram conhecidos.
A medida que minguaram orgulho e luxo,
Gradativamente deixaram os mares,
Agora nao os mercadores, mas companhias.
Fecharam fabricas inteiras.
Todas as artes e offcios foram abandonados.
(V.) 0 contentamento, rufna da industria,
Fe-Ios apreciar seu estoque caseiro
E nao buscar nem cobic;armais.
Os que permaneceram tornaram-se moderados,
Esforc;aram-se nao para gastar, mas para viver,
E, tendo pago a conta da taverna,
Resolveram la nao mais entrar.
Nenhuma ex-noiva de taverneiro em toda a colmeia
Assim, poucos permaneceram na vasta colmeia;
Nao puderam manter nem a centesima parte
Contra as afrontas dos numerosos inimigos,
A quem, valentemente, enfrentavam,
Ate encontrar algum refUgio bastante fortificado,
Onde morriam ou defendiam seu territorio.
Nao houve mercenarios em seu exercito;
Bravamente, lutaram eles proprios.
Sua coragem e integridade
Foram finalmente coroadas com a vitoria.
Triunfaram, porem nao sem custo,
Pois milhares de abelhas pereceram.
Calejadas dos acduos trabalhos e exercfcios,
Consideraram vfcio a propria comodidade,
o que aperfei<;oou de tal modo sua modera<;ao.
Que, para evitar extravagancias,
Voaram para uma arvore oca,
Aben<;oadas com satisfa<;ao e honestidade.
Portanto, nao reclamai: somente tolos esfor<;am-se
(X.) Por criar uma colmeia grandiosa e honesta.
(Y.) Desfrutar os confortos da vida,
Ser famoso na guerra e, ainda, viver comodamente,
Sem grandes vfcios, e uma va
Utopia radicada no cerebro.
A fraude, 0 luxo e 0 orglilho devem existir,
Enquanto recebemos seus beneffcios.
A fome e uma praga atroz, sem duvida,
Mas quem, sem ela, alimenta-se ou prospera?
Nao devemos nos a produ<;ao do vinho
A mirrada, pobre e encurvada parreira
Que, enquanto seus brotos eram negligenciados,
Sufocava as outras plantas e tornava-se mato,
Mas nos abe<;oou com seus nobres frutos
Tao logo foi amarrada e podada?
Assim e 0 vicio tornado benefico
Quando pela Justi<;a desbastado e restrito.
E mais ainda: onde 0 povo quiser ser grande,
Tao necessario ao Estado
Quanto a fome para comer.
A virtude, sozinha, nao pode fazer na<;6es viverem
Em esplendor; as que desejam revivescer
A Idade do Ouro devem ser tao livres
De glandes quanta de honestidade.

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