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CONCEITO O art. 122 do Código Penal sofreu profundas alterações p ela Lei no 13.968, de 26 de dezembro de 2019. Aqui inclui-se não somente o suicídio, mas também a automutilação. O suicídio é a deliberada destruição da própria vida. Suicida é somente aquele que busca direta e voluntariamente a própria morte. Para Rogério Greco (2020) a automutilação é qualquer comportamento intencional envolvendo agressão direta ao próprio corpo sem intenção consciente de suicídio. Apesar da automutilação e do suicídio não serem ilícitos penais, a lei pune o comportamento de quem induz, instiga ou auxilia outrem ao suicídio ou a automutilação. OBJETO JURÍDICO Protege-se com tal dispositivo o direito à vida e sua preservação, bem indispensável, bem como a integridade física. ELEMENTOS DO TIPO AÇÃO NUCLEAR Trata-se de um tipo misto alternativo (crime de ação múltipla ou de conteúdo variado). Importante registrar que o agente, ainda que realize todas as condutas, responde por um só crime. São as opções previstas: Art. 122. Induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou a praticar automutilação ou prestar-lhe auxílio material para que o faça. ➔ INDUZIR: é dar ideia, sugerir o suicídio ou a automutilação. Ocorre o induzimento quando a ideia é inserida na mente do agente, que não havia desenvolvido o pensamento por si só. ➔ INSTIGAR: é reforçar, estimular, encorajar um desejo já existente. Na instigação, o sujeito ativo potencializa a ideia do suicídio ou da automutilação que já havia na mente da vítima. ➔ PRESTAR AUXÍLIO: é a prestação de ajuda material, que tem caráter meramente secundário. Eutanásia: consiste em provocar a morte de uma pessoa antes do previsto pela evolução natural da doença, um ato misericordioso devido ao sofrimento advindo de uma doença incurável. homicídio privilegiado por causa de relevante valor moral SUJEITO ATIVO Trata-se de crime comum. Qualquer pessoa que tenha capacidade de induzir, instigar ou auxiliar alguém, de modo eficaz e consciente, a suicidar-se ou a automutilar-se. SUJEITO PASSIVO Qualquer pessoa, desde que possua capacidade de resistência e discernimento. Já nos casos de resistência nula (inimputáveis) há crime de homicídio. A vítima há de ser determinada, ainda que haja mais de uma. A instigação, a indução ou o auxílio de caráter geral, que atinja pessoa(s) incerta(s), por meio de livros, discos, espetáculos, não tipifica a conduta aqui estudada. TIPO OBJETIVO As condutas previstas no art. 122 são induzir, instigar ou prestar auxílio ao suicídio ou a automutilação. Chama-se ao induzimento e à instigação de participação ou concurso moral, e ao auxílio de participação ou concurso físico. Há auxílio a suicídio quando o ato consumativo da morte for praticado pela própria vítima; há homicídio típico quando o agente pratica ou colabora diretamente no próprio ato executivo do suicídio. Discutida é a possibilidade da prática do crime por omissão. Tradicionalmente, na doutrina se tem admitido a ocorrência de instigação e induzimento na forma omissiva imprópria. Já quanto à possibilidade de auxílio por omissão, entende a maioria da doutrina que não há auxílio por omissão. Antes da alteração promovida pela Lei no 13.968/2019, o tipo penal exigia o resultado morte ou lesão corporal grave. A partir da referida alteração, a figura do caput dispensa tal resultado. TIPO SUBJETIVO O dolo dos crimes de participação em suicídio ou automutilação é a vontade de induzir, instigar ou auxiliar a vítima na prática do suicídio ou da automutilação. Necessário é a prova de que realmente houve uma relação de causalidade entre a conduta do agente e o suicídio ou a automutilação, o que não ocorre, por exemplo, quando a instigação em nada acresceu a vontade do suicida, ou quando alguém, por exemplo, fornece revólver e a vítima se elimina com o uso do veneno. Nada impede a prática do crime com dolo eventual. INDUZIMENTO, INSTIGAÇÃO .OU AUXÍLIO A SUICÍDIO OU . A AUTOMUTILAÇÃO RESULTADO Com o surgimento da Lei n° 13.968/19, basta que o sujeito realize as condutas de indução, instigação ou preste efetivamente algum auxílio material para que outrem se suicide ou se automutile, independentemente da existência de qualquer resultado naturalístico. O mesmo não acontecia antes da referida lei, pois era necessário o resultado morte ou lesão corporal de natureza grave para a consumação do delito. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA Com o advento da Lei n°13.968/19, na modalidade simples prevista no caput da do artigo 122, do Código Penal, o crime se consuma simplesmente com a mera realização das condutas típicas constantes no artigo, independentemente, se a vítima venha ou não a realizar o ato tendente ao autoextermínio ou à automutilação. Nesse caso, cuida-se de crime formal, ou seja, a consumação é antecipada, uma vez que a consumação ocorre de maneira instantânea com a realização das condutas descritas no tipo penal. Aqui não é necessário um resultado naturalístico. É possível falar em tentativa diante de um comportamento plurissubsistente, mas não em uma hipótese de uma conduta unissubsistente (ex.: por meio da palavra falada). Já as modalidades qualificadas previstas nos §§ 1° e 2° são hipóteses de crime material, ou seja, para sua consumação deve ocorrer obrigatoriamente os resultados naturalísticos (lesão corporal grave/gravíssima ou morte). FORMAS ❖ SIMPLES: É a figura descrita no caput do art. 122 do CP. ❖ QUALIFICADAS: Figuras previstas nos §§ 1º (lesão corporal grave/gravíssima ) e 2º (morte). Não há previsão para modalidade culposa. Artigo 129: fala sobre lesões grave ou gravíssima CAUSAS DE AUMENTO DE PENA Estão previstas nos § 3 ao 5 do art. 122 do CP. A) A pena é duplicada nas seguintes hipóteses: ▪ Se o crime é praticado por motivo egoístico, torpe ou fútil; Entende-se por motivo egoístico como aquele que se traduz em vantagem pessoal. O sujeito visa tirar proveito, de qualquer modo, do suicídio ou da automutilação (ex.: recebimento de herança). Motivo torpe é aquele desprezível. Já o motivo fútil é o desproporcional. ▪ Se a vítima é menor ou tem diminuída, por qualquer causa, a capacidade de resistência. Vítima menor compreende o maior de 14 anos e o menor de 18 anos. Se a vítima tiver mais de 18 anos, aplica-se o caput. Se a vítima não for maior de 14 anos, como o seu consentimento é irrelevante, o crime cometido será de homicídio. Na hipótese de a vítima ter diminuída por qualquer causa a sua capacidade de resistência, temos qualquer tipo de diminuição de resistência, como embriaguez, idade avançada, enfermidade física ou mental etc. Se qualquer desses fatores anular completamente a capacidade de resistência pratica-se homicídio (hipótese de vítima portadora de insanidade menta completa e criança menor de 14 anos). B) A pena é aumentada até o dobro: na hipótese da conduta ser realizada por meio da rede de computadores, de rede social ou transmitida em tempo real, o que facilita a divulgação da conduta. C) A pena será aumentada em metade: se o agente é líder ou coordenador de grupo ou de rede virtual, demonstrando maior periculosidade no atuar do agente. Já os §§ 6º e 7º estabelecem o seguinte: Responde o agente pelo crime descrito no § 2º do art. 129 do CP (lesão corporal gravíssima): se na hipótese do § 1o deste artigo resulta em lesão corporal de natureza gravíssima e é cometido contra menor de 14 (quatorze) anos ou contra quem, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato, ou que, por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência. Responde o agente pelo crime de homicídio, nos termos do art. 121 do CP: se o crime de que trata o § 2º deste artigo é cometido contra menor de 14 (quatorze) anos ou contra quem não tem o necessário discernimento para a prática do ato,ou que, por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência. Novatio legis in pejus: É a nova lei que, de qualquer modo, prejudica o réu, sendo irretroativa, devendo ser aplicada a lei vigente quando do tempo do crime. Trata-se de observância da lei ao princípio da anterioridade, corolário do princípio da legalidade Novatio in melios: É a nova lei que de qualquer modo beneficia o réu. Esta lei retroagirá, atendendo à regra, prevista no artigo 2°, parágrafo único, do Código Penal. A lei penal nova que beneficia o réu não respeita a coisa julgada, sendo aplicada mesmo quando o agente já tenha sido condenado definitivamente.
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