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DOCÊNCIA EM SAÚDE ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM A PACIENTES COM HIV 1 Copyright © Portal Educação 2012 – Portal Educação Todos os direitos reservados R: Sete de setembro, 1686 – Centro – CEP: 79002-130 Telematrículas e Teleatendimento: 0800 707 4520 Internacional: +55 (67) 3303-4520 atendimento@portaleducacao.com.br – Campo Grande-MS Endereço Internet: http://www.portaleducacao.com.br Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - Brasil Triagem Organização LTDA ME Bibliotecário responsável: Rodrigo Pereira CRB 1/2167 Portal Educação P842a Assistência de enfermagem a pacientes com HIV / Portal Educação. - Campo Grande: Portal Educação, 2012. 164p. : il. Inclui bibliografia ISBN 978-85-8241-127-8 1. HIV. 2. AIDS. 3. Enfermagem – Doença específica. I. Portal Educação. II. Título. CDD 610.7369 2 SUMÁRIO 1 HISTÓRICO DA AIDS E HIV ...................................................................................................... 4 2 EPIDEMIOLOGIA DA AIDS E DO HIV ...................................................................................... 8 3 CONCEITO DA AIDS ................................................................................................................ 17 4 FISIOPATOLOGIA DO HIV ....................................................................................................... 19 5 PERÍODO DE INCUBAÇÃO DO VÍRUS HIV E DA AIDS ......................................................... 27 6 TRANSMISSÃO DO HIV ........................................................................................................... 28 7 SINAIS E SINTOMAS ............................................................................................................... 38 8 DIAGNÓSTICO DO HIV ............................................................................................................ 42 9 IMPLICAÇÕES DOS TESTES ANTI-HIV PARA A ENFERMAGEM ........................................ 53 10 ACOMPANHAMENTO E TRATAMENTO DO PACIENTE HIV POSITIVO ............................... 55 11 IMUNIZAÇÃO DOS PACIENTES HIV POSITIVOS .................................................................. 59 12 TERAPIA ANTIRRETROVIRAL (TARV) ................................................................................... 67 13 A ADESÃO DO PACIENTE FRENTE À TARV ......................................................................... 72 14 ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM NA ADESÃO DO PACIENTE FRENTE À TARV............. 76 15 MEDICAMENTOS ANTIRRETROVIRAIS (ARV) ...................................................................... 79 16 INTERAÇÕES COM ARVS ....................................................................................................... 97 17 SÍNDROME LIPODISTRÓFICA ............................................................................................... 100 18 TERAPIAS COMPLEMENTARES ........................................................................................... 104 19 PROGNÓSTICO DO HIV ......................................................................................................... 106 20 BIOSSEGURANÇA NO HIV .................................................................................................... 108 21 PREVENÇÃO E O HIV ............................................................................................................. 114 22 ACONSELHAMENTO EM HIV ................................................................................................. 122 23 TRANSMISSÃO VERTICAL DO HIV ....................................................................................... 128 24 ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM AO PACIENTE COM HIV/AIDS ...................................... 137 25 DIREITO DOS PORTADORES DO HIV ................................................................................... 140 ANEXO I - PORTARIA Nº 59 DE 28 DE JANEIRO DE 2003 ............................................................. 142 ANEXO II - PORTARIA Nº 34 DE 28 DE JULHO DE 2005 ................................................................ 147 ANEXO III - PROCEDIMENTOS SEQUENCIADOS PARA REALIZAÇÃO DO DIAGNÓSTICO 3 DA INFECÇÃO PELO HIV UTILIZANDO-SE TESTES RÁPIDOS EM INDIVÍDUOS COM IDADE ACIMA DE 18 (DEZOITO) MESES .................................................................................................... 150 ANEXO IV – LEI Nº 9.313, DE 13 DE NOVEMBRO DE 1996 ........................................................... 152 ANEXO V – INDICAÇÃO DE IMUNIZAÇÃO PARA GESTANTES PORTADORAS DO HIV ADULTAS E ADOLESCENTES ......................................................................................................... 153 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................. 156 4 1 HISTÓRICO DA AIDS E HIV De 1978 a 1980, nos Estados Unidos, nas cidades de Los Angeles e Nova Iorque, em um grupo de pacientes foi diagnosticada uma forma de pneumonia diferenciada e rara, assim como um tipo de câncer que até então era considerado como incidente apenas em pessoas com idade mais avançada. Ocorreu que esta doença começou a se disseminar e aparecer também na África e no Haiti; caracterizando-se por atingir o sistema imune dos pacientes, enfraquecendo o organismo e os deixando extremamente debilitados, ocasionando infecções oportunistas. Os grupos mais atingidos de pacientes nesta época eram os homens homossexuais ou bissexuais. Em 1980 foi diagnosticado o primeiro caso da doença no Brasil na cidade de São Paulo, sendo apenas classificado como tal após a descoberta da moléstia no mundo. O Sistema de Vigilância Epidemiológica do Ministério da Saúde considera que a doença foi diagnosticada pela primeira vez no Brasil no ano de 1982, por ter sido conceituada neste período. Diante do conhecimento atual sobre o vírus e formas de transmissão da AIDS, considerando o período de incubação do HIV, estima-se que o vírus tenha entrado no Brasil na década de 70. Com a propagação no mundo as autoridades de saúde americana começaram a dar atenção especial para esta nova doença até então misteriosa para todos. Em 1980 não havia o conhecimento sobre os meios de transmissão nem mesmo que se tratava de um vírus. Em 1982, a partir dos grupos de riscos mais acometidos pela doença a mesma foi temporariamente denominada de Doença dos 5H, ou seja, Homossexuais, Hemofílicos, Haitianos, Heroinômanos (denominação das pessoas usuárias de heroína injetável) e Hookers (palavra que em inglês significa profissional do sexo). Delimitando os grupos de risco identificou- se que a transmissão da doença era feita por meio de contato sexual, exposição ou transfusão de sangue e derivados e pelo uso de drogas injetáveis com compartilhamento de seringas. Diante desta situação os cientistas americanos conceituaram a doença até então desconhecida como Acquired Imnunodeficiency Syndrome (SIDA). A partir daí começou a ser mundialmente conhecida como AIDS, que na língua portuguesa quer dizer: Síndrome da Imunodeficiência Adquirida – SIDA. Em 1982 o Center for Diseases Control and Prevention 5 (CDC), dos EUA, realizou a primeira definição de caso da AIDS a partir de achados clínicos, epidemiológicos e imunológicos nas primeiras pessoas possivelmente acometidas pela doença. Nesta época não existia o teste anti-HIV, desta forma a definição e diagnóstico da AIDS no paciente era feita por meio da ocorrência de pelo menos uma de 13 doenças que indicavam a existência da imunodeficiência celular subjacente. Em 1983, no Brasil, foi diagnosticado o primeiro caso de AIDS em uma criança e em pessoas do sexo feminino. Os homossexuais usuários de drogas injetáveis eram considerados como difusores da doença para os grupos heterossexuais. Nesta mesma época houve o acometimento de profissionais da saúde diagnosticados com AIDS e iniciou a atenção para a origem viral da doença. Em 1984 a equipe do Instituto Pasteur, na França, isola e caracteriza um retrovírus, considerado um vírus mutante que vive conforme o meio, como causador da AIDS. Perante esta descoberta foi possível validar a transmissão viral da AIDS; a Secretaria de Saúde do estado de São Paulo propôs o primeiro Programa de Controle da AIDS no Brasil. Em 1985 foi criada e fundada a primeira Organização não Governamental de luta contra a AIDS, a pioneira no Brasil e América Latina, definida como Grupo de Apoio à Prevenção à AIDS (GAPA). Foi concluído que a AIDS é a forma da doença após a transmissão do vírus descrito como Human Immunodeficiency Virus (HIV) ou, em português, Vírus da Imunodeficiência Adquirida. Ainda em 1985 foi diagnosticado o primeiro caso de transmissão vertical da mãe portadora do vírus para o bebê. Inicia-se a disponibilização do teste anti-HIV para diagnóstico e diante da considerável expansão da doença caracterizaram-se – ao invés de grupos de riscos – comportamentos de riscos para a transmissão do HIV. Em 1986 o Ministério da Saúde do Brasil cria o primeiro Programa Nacional de DST e AIDS. Em 1987 foi lançado o primeiro Centro de Orientação Sorológica (COAS), em Porto Alegre (RS). Neste mesmo ano houve o início da utilização do AZT como medicamento de escolha para os portadores de HIV, pois foi considerado o medicamento que diminuía a carga viral dos portadores. A Organização das Nações Unidas (ONU) institui o dia primeiro de dezembro como dia Mundial de Luta contra a AIDS. Em 1988 há a notificação do primeiro caso do Brasil de HIV na população indígena. 6 Neste ano também foi criado o Sistema Único de Saúde (SUS) e o Ministério da Saúde começa a distribuição de medicamentos para tratamento de infecções oportunistas. No ano de 1991, praticamente 10 anos após o descobrimento da AIDS, a ONU anuncia que existem no mundo 10 milhões de pessoas infectadas pelo vírus HIV. Houve a iniciação da distribuição gratuita aos pacientes de medicações antirretrovirais, medicamentos que dificultam a multiplicação do vírus HIV no organismo. Em 1992 inicia-se o estudo do tratamento medicamentoso de várias drogas combinadas contra o HIV e a presença das doenças sexualmente transmissíveis como cofator para a transmissão do HIV, podendo aumentar em até 18 vezes o risco de transmissão e aquisição do HIV. O Ministério da Saúde inclui os procedimentos para tratamento da AIDS na tabela do SUS e inicia o cadastramento dos hospitais para tratamento dos pacientes com SIDA. A notificação da AIDS no Sistema Nacional de Notificação de Doenças (SINAN) passa a ser obrigatório. O medicamento AZT começa a ser produzido no Brasil no ano de 1993 e em 1994 alguns estudos demonstraram a eficiência do uso do AZT na prevenção da contaminação vertical. Em 1995 um estudo demonstra que o tratamento precoce das doenças sexualmente transmissíveis com a redução no tempo de evolução e complicações faz com que o risco de transmissão e aquisição de HIV diminua. Com a adoção destas medidas a incidência do HIV é reduzida em 42%. Em 1996 fatos marcantes desmistificam o HIV apenas em um grupo determinado, pois ocorre a feminização (aumento de casos em mulheres), interiorização (aumento da incidência de portadores do HIV em municípios do interior dos estados brasileiros) e a pauperização (aumento da incidência de portadores do HIV na população de baixa escolaridade e baixa renda). Em 1998 havia 11 tipos de medicamentos para AIDS sendo distribuídos gratuitamente pela rede de saúde pública. Houve a promulgação da lei que tornou obrigatória a cobertura do tratamento do paciente com AIDS em caráter de internação hospitalar e ambulatorial pelos seguros privados de saúde, sem assegurar a distribuição dos medicamentos antirretrovirais. O ano de 1999 foi marcado pela queda da mortalidade dos pacientes com AIDS em 50%; o Ministério da Saúde disponibiliza neste ano 15 tipos de medicamentos antirretrovirais; alguns pacientes começam a apresentar efeitos colaterais relacionados aos fármacos. Um 7 estudo concluído em 1999 demonstrou que o Simian Immunodeficiency Virus (SIV) ou Vírus da Imunodeficiência dos Símios foi transmitido para seres humanos e sofreu mutações, transformando-se no HIV. Testes genéticos mostraram que o HIV é bastante similar ao SIV, que infecta os chimpanzés, mas não os deixa doentes. No ano de 2000 é divulgado o número alarmante de casos de pacientes com AIDS na África e consequente mortandade; morte de 17 milhões de africanos, destes 3,7 milhões eram crianças e 8,8% dos adultos contaminados. No Brasil aumentam os casos de mulheres com AIDS; neste ano a proporção nacional de casos de AIDS é de uma mulher para cada dois homens. A partir do ano de 2000 até os dias atuais houve uma preocupação de todas as autoridades de saúde pública do Brasil e do mundo em busca de proporcionar uma melhor qualidade de vida aos pacientes portadores do HIV, como também agir no sentido de evitar a contaminação e disseminação do vírus. A realização de várias campanhas preventivas no Brasil defendendo o uso da camisinha, seringas descartáveis nos usuários de drogas e a biossegurança em saúde proporcionaram maior controle da disseminação do vírus. Uns dos problemas vivenciados nesta década foram as patentes e consequentes valores instituídos pelos laboratórios nas vendas dos medicamentos antirretrovirais. Em 2007, as empresas fabricantes dos medicamentos mediante o apelo de vários países diminuíram os valores de venda dos medicamentos em até 50%. O Programa Nacional de DST e AIDS do Brasil foi considerado por várias agências de cooperação internacional como referência mundial, desde 2003. 8 2 EPIDEMIOLOGIA DA AIDS E DO HIV A AIDS é considerada pela Organização Mundial de Saúde como uma pandemia mundial. Uma pandemia conceitua-se pela OMS como uma doença infecciosa que atinge proporções enormes, podendo se espalhar por um ou mais continentes ou por todo o mundo, causando inúmeras mortes. O índice de óbitos por AIDS segue a média de 11 mil anuais desde 1998, sendo que, com a introdução da política de acesso universal ao tratamento antirretroviral a mortalidade caiu e a sobrevida aumentou. A Lei 6.259, de 30/10/1975, e a Portaria nº 5, de 21/02/06 (Publicada no Diário Oficial da União de 22/02/06, Seção 1, página 34) tornam obrigatória a notificação dos casos de AIDS por médicos e outros profissionais da saúde no exercício da profissão, bem como aos responsáveis por organizações e estabelecimentos públicos e particulares de saúde; a mesma torna indispensável a notificação de casos de gestantes HIV positivas e crianças expostas, desde 2000. A notificação dos casos de AIDS e gestantes HIV positivas (e demais agravos preconizados para notificação obrigatória, conforme Lei 6.252, de 30/10/75) é realizada por intermédio do preenchimento de formulários específicos para cada doença, formulário este que está presente nos serviços de saúde. O Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde divulgou entre os períodos de 1980 a 1999 155.590 casos de AIDS notificados no Brasil, sendo que deste total 13% eram pessoas entre 15 e 24 anos de idade. Entretanto, a faixa etária que mais acometia pacientes situava-se entre as idades de 25 a 34 anos, com 43,23% do total de casos. Segundo o Boletim Epidemiológico DST/AIDS de 2008, o número total de casos de AIDS já notificados no Brasil desde 1980 até junho de 2008 é de 506.499. De 1980 a junho de 2008 já foram registrados 205.409 mortes em decorrência da AIDS. A disseminação da doença no Brasil é considerada estável e a média anual de casos entre o período de 2000 a 2006 é de 35.384. Estima-se que existam 630 mil pessoas infectadas pelo HVI no Brasil (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2008). Outros dados importantes divulgados pelo Boletim Epidemiológico DST/AIDS de 2008 são: 1. Percentual de Notificação de Casos Acumulados por Região - 1980 a junho de 9 2008: Região Centro-Oeste = 5,7% (28.719) Região Nordeste = 11,5 % (58.348) Região Norte = 3,6% (18.155) Região Sudeste = 60% (305.725) Região Sul = 18,9% (95.552) Conforme este item é importante salientar que diante dos valores acumulados a Região Sudeste prevalece como a de maior incidência da AIDS no Brasil, abrangendo 60% dos casos totais acumulados no país; seguida desta está a região Sul do Brasil, com 18,9% dos casos, região Nordeste, com 11,5% dos casos, Região Centro-Oeste, com 5,7% dos casos e por último neste percentual aparece a Região Norte com 3,6%. Para analisar melhor estes indicadores que se tornam de suma importância no conhecimento frente a AIDS e a incidência da mesma em todo território nacional, segue abaixo o mapa com as regiões do Brasil para que se possam identificar quais os principais estados que integram os locais e consequentemente os percentuais acima mencionados. FIGURA 1 – MAPA DAS NOTIFICAÇÕES NOS ESTADOS FONTE: Disponível em:<http://www.mercuri.com.br/mapa_brasil_regioes.gif>. Acesso em: 22 jun. 2009. 10 2. Número de Casos Notificados de Transmissão Vertical no período de 1980 a junho de 2008: A transmissão Vertical refere-se à contaminação do vírus HIV de mãe para filho. No período de 1980 a junho de 2008 foram notificados 11.796 casos de AIDS por transmissão vertical. Com o aperfeiçoamento e o aumento do conhecimento das ações dos medicamentos antirretrovirais houve uma queda considerável da transmissão do HIV de mãe para filho, principalmente com atuação preventiva no período pré-natal. Na comparação de indicadores de casos notificados no período de 1996 a 2006 de AIDS por transmissão vertical percebe-se uma redução de até 57,5%, ou seja, de 892 para 379 casos notificados respectivamente. 3. Sobre a Escolaridade: No Boletim Epidemiológico DST/AIDS de 2008 os números mostram uma redução dos casos de AIDS entre os que têm mais de doze anos de estudo, no comparativo é possível identificar que em 1990 este valor atingia 14% e em 2006 passou a ser 8,7%. Entretanto, na população que possui entre oito e onze anos de estudo os valores aumentaram consideravelmente de 13,9% para 24,5%. 4. Sobre a Mortalidade: No período de 1980 a 2007 foram declarados 205.409 óbitos por AIDS no Brasil, segundo dados do Boletim Epidemiológico DST/AIDS 2008. Deste total de óbitos acumulados no Brasil 73,4% são homens e 26,6% são mulheres. Na identificação dos casos de pacientes com AIDS é importante ter conhecimento frente às faixas etárias atingidas pela doença para se propor assim uma atuação preventiva mais eficiente. Nas tabelas abaixo é possível verificar a frequência dos casos de AIDS conforme as faixas etárias propostas; para comparação de estudo serão citados os números referentes ao ano de 1990, 2000, 2006 e 2007. 11 TABELA 1 - CASOS DE AIDS IDENTIFICADOS NO BRASIL Segundo Faixa Etária (13) Período de 1990 Faixa Etária Frequência < 1 ano 124 1 – 4 anos 92 5 – 9 anos 47 10 – 14 anos 32 15 – 19 anos 358 20 – 29 anos 3.305 30 – 39 anos 3.179 40 – 49 anos 1.337 50 – 59 anos 406 60 – 69 anos 124 70 – 79 anos 26 80 e mais 05 Ignorado 37 Total 9.072 FONTE: Disponível em:< http://www.aids.gov.br/cgi/tabcgi.exe?tabnet/aids.def>. Acesso em: 28 jun. 2009. Nesta primeira tabela do ano de 1990 é possível identificar que as três faixas etárias que mais possuem frequência de AIDS são as que iniciam nos 20 anos até 49 anos. Atenção também para o valor referido à faixa com menos de um ano de idade, que alcança uma 12 frequência de 124 casos, estando diretamente relacionada à transmissão vertical. TABELA 2 - CASOS DE AIDS IDENTIFICADOS NO BRASIL Segundo Faixa Etária (13) Período de 2000 Faixa Etária Frequência < 1 ano 344 1 – 4 anos 499 5 – 9 anos 215 10 – 14 anos 74 15 – 19 anos 599 20 – 29 anos 8073 30 – 39 anos 11721 40 – 49 anos 5863 50 – 59 anos 1957 60 – 69 anos 570 70 – 79 anos 100 80 e mais 15 Ignorado 02 Total 30.032 FONTE: Disponível em:<http://www.aids.gov.br/cgi/tabcgi.exe?tabnet/aids.def>. Acesso em: 28 jun. 2009. 13 A segunda tabela descrita acima se refere ao período de 2000, na qual se identifica que as faixas etárias mais acometidas continuam sendo àquelas compreendidas entre os 20 aos 49 anos de idade; com um aumento significativo na transmissão vertical e consequente acometimento de crianças menores de um ano de idade, de 124 em 1990 para 324 em 2000. Outro fator importante na comparação entre as tabelas é a observação dos números da faixa etária que compreende a idade de 50 – 59 anos e 60 – 69 anos, onde os valores são praticamente cinco vezes maiores na segunda tabela. No caso da faixa etária de 70-79 anos também se verifica um aumento em 10 anos de praticamente quatro vezes no número de casos, se comparados com a tabela 1. TABELA 3 - CASOS DE AIDS IDENTIFICADOS NO BRASIL Segundo Faixa Etária (13) Período de 2006 Faixa Etária Frequência < 1 ano 211 1 – 4 anos 350 5 – 9 anos 290 10 – 14 anos 180 15 – 19 anos 601 20 – 29 anos 7848 30 – 39 anos 12547 40 – 49 anos 8813 50 – 59 anos 3407 60 – 69 anos 990 70 – 79 anos 192 14 80 e mais 28 Ignorado 02 Total 35459 FONTE: Disponível em:<http://www.aids.gov.br/cgi/tabcgi.exe?tabnet/aids.def>. Acesso em: 28 jun. 2009. A terceira tabela acima descreve o período de 2006 e a frequência da AIDS conforme as faixas etárias. Percebe-se que ainda na mesma perspectiva das tabelas anteriores é possível identificar que a maior constância inicia na idade de 20 anos e termina na idade dos 49 anos. Entretanto, mais uma vez, e seis anos após (comparando com a tabela do ano de 2000) verifica- se um crescimento no acometimento da AIDS nas faixas etárias de 50-59 anos e 60-69 anos; também é possível identificar que na faixa etária dos 70-79 anos praticamente dobrou o número de casos, de 2000 para 2006. Todavia, a faixa de menores de um ano de idade diminui os números de 344 em 2000 para 211 em 2006. TABELA 4 - CASOS DE AIDS IDENTIFICADOS NO BRASIL Segundo Faixa Etária (13) Período de 2007 Faixa Etária Frequência < 1 ano 181 1 – 4 anos 253 5 – 9 anos 235 10 – 14 anos 181 15 – 19 anos 523 20 – 29 anos 7292 15 30 – 39 anos 11736 40 – 49 anos 8571 50 – 59 anos 3472 60 – 69 anos 977 70 – 79 anos 236 80 e mais 30 Ignorado 0 Total 33.689 FONTE: Disponível em:<http://www.aids.gov.br/cgi/tabcgi.exe?tabnet/aids.def>. Acesso em: 28 jun. 2009. A quarta tabela mostra a frequência de casos de AIDS na população conforme a faixa etária no ano de 2007; verifica-se que o total de casos identificados diminui, assim como a faixa etária de menores de um ano de idade, que cai de 211 em 2006 para 181 em 2007. A faixa etária predominante continua sendo a que abrange os 20 aos 49 anos de idade. As faixas 50-59, 60-69 e 70-79 continuam ainda com valores elevados e sobem em relação ao ano de 2006. Os dados consolidados no TABNET do Ministério da Saúde de onde são extraídas as informações acima das tabelas possuem como último período consolidado o ano de 2008 até o dia 30/06, sendo assim, a tabela do ano de 2008 refere-se apenas aos primeiros seis meses do ano, não podendo servir de comparação com anos anteriores, uma vez que não possui os dados do último semestre cadastrados. O Relatório sobre a Epidemia Global da AIDS 2008 da UNAIDS traz dados relevantes sobre a AIDS no mundo todo, dentre eles citam-se os seguintes: Cerca de 33 milhões de pessoas viviam com HIV em 2007; sendo que houve 2,7 milhões de novas infecções e dois milhões de mortes relacionadas à AIDS no ano de 2007. A África Subsaariana tem 2/3 do total de pessoas vivendo com HIV no mundo. No mundo todo, as mulheres representam metade de todas as infecções pelo 16 HIV. Cerca de 370.000 crianças se infectaram pelo HIV em 2007, sendo que o número total aumentou de 1,6 milhões em 2001 para dois milhões em 2007; destas quase 90% vivem na África Subsaariana. A porcentagem de adultos vivendo com HIV no mundo todo é considerada estabilizada desde o ano de 2000. Exceto na África Subsaariana, o HIV afeta desproporcionalmente usuários de drogas injetáveis, homens que fazem sexo com outros homens e trabalhadores sexuais. O tratamento de mulheres com HIV grávidas em uso de antirretrovirais aumentou de 14% em 2005 para 33% em 2007, neste mesmo período o número de novas infecções entre crianças caiu de 410.000 para 370.000. Os programas de prevenção do HIV aumentaram no mundo todo. Para cada duas pessoas que começam a terapia antirretroviral, outras cinco se tornam infectadas. O tratamento com antirretrovirais de pessoas infectadas apresentou uma melhora global de 45% em relação ao ano de 2006. O número global de mortes por AIDS diminuiu nos últimos dois anos, em parte como resultado do maior acesso ao tratamento. O custo de provisão do tratamento para o HIV continua aumentar no mundo todo. No Brasil o custo da provisão de medicamentos para 2008 está estimado em US$ 525 milhões, mais que o dobro gasto em 2004. O uso do preservativo está aumentando em diversos países, principalmente entre os jovens com múltiplos parceiros. O Brasil integra a lista dos países com cobertura na distribuição de medicamentos maior que 75% das pessoas que precisam antirretrovirais. A UNAIDS é um programa das Nações Unidas criado em 1996 que realiza o acompanhamento e tem a função de cooperar com as nações no combate a AIDS. 17 3 CONCEITO DA AIDS A AIDS conceitua-se como o conjunto de doenças decorrentes da infecção do Vírus HIV no paciente. A Sigla AIDS, que em português chama-se SIDA ou Síndrome da Imunodeficiência Adquirida, possui ampla conceituação, referindo-se às três principais palavras que compõem a expressão, ou seja: Síndrome: caracteriza-se por uma série de sinais e sintomas que se desenvolvem conjuntamente e indicam uma alteração ou anormalidade orgânica, sendo que esta anormalidade é consequência da manifestação de várias doenças, sucessivas e simultâneas, que ocultam a verdadeira causa. Imunodeficiência: Deficiência do Sistema Imunológico que se constitui no responsável pela defesa natural do organismo humano. Estando imunodeficiente o sistema perde a capacidade de defesa. Adquirida: especificamente por ser transmitida de pessoa para pessoa e não por cargas hereditárias e/ou genéticas. Segundo Brunner & Suddarth (1998), a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS) é definida como a forma grave de um contínuo de doenças associadas com a infecção pelo Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV). O Ministério da Saúde conceitua a AIDS como uma doença que se manifesta após a infecção do organismo humano pelo Vírus da Imunodeficiência Humana, o HIV. Outro fator importante a ser considerado na conceituação da AIDS é a sua origem e classificação epidemiológica, ou seja, a Vigilância Epidemiológica do Brasil considera a AIDS uma doença emergente; que são doenças novas, desconhecidas da população, causadas por vírus ou bactéria nunca antes descritos ou por mutação de um vírus já existente. Dentro desse conceito, a AIDS aparece como uma das doenças emergentes mais importantes, pois até o início da década de 80 era completamente desconhecida no mundo. O termo emergente também pode ser utilizado em caráter epidemiológico, quando uma doença atinge uma região territorial onde nunca havia atingido antes, ou seja, atinge uma região até então indene. Já o termo reemergente descreve aquelas doenças que já são conhecidas e 18 que foram controladas, mas voltaram a apresentar ameaça à saúde humana, como exemplo a Dengue. 19 4 FISIOPATOLOGIA DO HIV Imunidade é definida como a capacidade do corpo em se proteger contra agentes estranhos específicos, tais como determinadas bactérias, vírus, toxinas ou células de tecidos estranhos. Existem dois tipos de sistemas imunes, cada um deles dependendo da função dos linfócitos, ou seja, o sistema dos linfócitos ou células “B” e o sistema dos linfócitos ou células “T” (TCD4++, TCD8+). As células TCD4 + e TCD8+ são chamadas assim por serem produzidas pelo Timo e também por possuírem em sua constituição proteína CD4 e CD8 respectivamente. Já as células B são assim denominadas por serem produzidas na medula óssea, que em inglês significa Bone marrow. Os agentes invasores ou estranhos que entram no organismo humano e as substâncias produzidas por eles são denominados de antígenos (Ag), as células que compõem o sistema imune humano têm a responsabilidade de defender o organismo por meio da destruição dos antígenos. Ao ingressar no organismo humano o antígeno mantém contato com diferentes tipos de células, algumas destas células chamadas células apresentadoras de antígenos (APC) possuem a capacidade de prender partes dos fragmentos do antígeno à sua membrana. Quando as células APC entram em contato com a TCD4 o sistema imune inicia sua ação a partir da ativação das células TCD4 (sinal de alerta que possui antígeno no organismo). Após a ativação, as células TCD4 começam a produzir e liberar uma substância chamada citosina. O Sistema das células “B” são os responsáveis pela formação de anticorpos para a destruição dos agentes invasores. Na exposição à citosina liberada pelas células TCD4, linfócitos B reagem nos gânglios linfáticos; nessas condições formam os plasmócitos que se multiplicam e produzem os anticorpos. Os anticorpos têm capacidade específica de reagir com o tipo exato de antígeno que originou sua formação, sem que, em situações usuais reajam com outras substâncias dos tecidos corporais, como resultado o anticorpo destrói somente o invasor. Essa destruição é realizada a partir das seguintes fases: Aglutinação (que significa ajuntamento, formar grumos); 20 Lise (ruptura da membrana celular do agente); Neutralização (bloqueio dos efeitos tóxicos); Opsonização (fazer com que o agente invasor fique susceptível à fagocitose por neutrófilos ou macrófagos). No sistema dos Linfócitos “T” as células T reagem com o antígeno do mesmo modo como as células do sistema B, porém ao invés de formar anticorpos esse sistema produz as células T sensibilizadas. Quando a citosina entra em contato com as células TCD8, esta é ativada e então passa a atacar e destruir as células já infectadas pelo antígeno. Desta forma, é possível identificar duas respostas imunológicas contra os antígenos: Resposta Imunecelular: ativação das células TCD8 a partir das citosinas Resposta Humoral: ativação das células B a partir das citosinas e consequente produção de anticorpos. Ambas as respostas imunológicas estão ligadas à atuação da TCD4, que possui um papel fundamental no acionamento do sistema imunológico, uma vez que, é a partir da ativação destas células e consequente produção de citosina que se inicia a defesa do organismo ao antígeno. Normalmente, embora todos os tecidos do corpo humano possuam proteínas, nosso sistema de imunidade está adaptado para não formar anticorpos ou linfócitos sensibilizados que possam atacar os tecidos do corpo. Isto é chamado de tolerância imune. Contudo, em certas circunstâncias, de modo mais frequente na idade avançada do que na juventude, o sistema imune fica anormal e alguns anticorpos ou linfócitos sensibilizados são formados, tendo a capacidade de atacar os tecidos do próprio corpo. Isto é causa de diversas formas de doenças autoimunes. O HIV é considerado um vírus pertencente ao grupo dos Retrovírus. Os retrovírus ou RNAvírus são grupos de vírus assim denominados por carrear seu material genético no ácido ribonucleico (RNA). São compostos por proteína, RNA e lipídios da membrana. Os retrovírus fazem parte da família dos Retroviridae e sua principal característica é possuir no genoma (informação hereditária de um organismo) RNA simples. Como não possuem DNA os retrovírus realizam uma etapa na invasão celular descrita como retrotranscrição por meio da enzima transcriptase reversa. O processo de invasão celular e vida dos Retrovírus seguem as seguintes etapas: 21 1. O vírus é levado para o meio até uma célula compatível com seus sítios de ligação; 2. O vírus adere à célula hospedeira; 3. Ocorre a injeção do material genético e enzimas do vírus na célula hospedeira; 4. A enzima transcriptase reversa sintetiza o DNA a partir do RNA viral, ligando o DNA sintetizado ao DNA da célula hospedeira, que começa a comandar a produção de novos RNAs virais; 5. Ocorre a liberação dos novos retrovírus da célula hospedeira. O vírus HIV é membro da família Retroviridae e classificado na subfamília Lentiviridae (lentivírus). Hahn et al. (2000) caracterizam os lentivírus amplamente evidenciados como objeto de indícios de doença com propriedades de indução, persistência, latência, variação, recombinação e fuga do sistema imunológico. Uma partícula completa do Vírus HIV possui forma esférica e um envelope externo do qual se elevam as espículas. Internamente o Vírus HIV possui o capsídeo, o material genético (RNA) e as enzimas essenciais para sua reprodução que são: a transcriptase reversa, a integrase e a protease. É cercada por um revestimento protetor que contém RNA em um truncado centro na forma de bala, do qual p24 é o componente estrutural principal. Botões que se projetam pela parede viral consistem em proteína gp120 ancorada à proteína gp41. É a porção gp120 do HIV que se liga seletivamente às células TCD4+. 22 FIGURA 2 - ESTRUTURA DA PARTÍCULA DO VÍRUS HIV FONTE: Disponível em:< http://hivmedicine.aidsportugal.com>. Acesso em: 29 jun. 2009. O HIV se liga à membrana das células TCD4+ e injeta duas tiras idênticas de RNA na célula TCD4+ bem como todas as enzimas que o compõem. Por meio do uso da enzima transcriptase reversa o HIV reprograma os materiais genéticos da célula TCD4+ infectada para marcar a tira DNA duplicada; este DNA é incorporado no núcleo da célula TCD4+ infectada e com o auxílio da integrase se liga ao DNA celular formando o chamado pró-vírus. Este pró-vírus passa a produzir o RNA viral, o qual vai para o citoplasma é lá sintetiza todas as proteínas que irão compor o novo vírus. Por meio da ação da enzima protease ocorre a síntese das proteínas que irão compor a cápsula externa do novo vírus, inclusive a gp-120. Após o término do processo de formação do novo vírus ele brota e é liberado pela superfície da célula. Um único vírus HIV é capaz de produzir várias cópias de si mesmo a partir de uma célula TCD4+. Conforme Abbas (2005) a saída das partículas virais tornam as membranas da célula TCD4 mais permeável, ocorrendo a saída e entrada de grandes quantidades de água e cálcio que tem como consequência a morte celular. O ciclo de replicação do HIV está restrito à ativação da célula infectada; enquanto a célula TCD4 infectada é ativada, a replicação e crescimento do HIV ocorrem e a célula TCD4 é destruída, o HIV formado é liberado no plasma sanguíneo e infecta outras células TCD4+. 23 O vírus HIV é capaz de atacar as células TCD4 fazendo com que o vírus entre e destrua suas células. Mesmo na ausência de sinais e sintomas um paciente infectado pelo HIV tem bilhões de células TCD4+ destruídas diariamente e produzidas novamente para compensação. As infecções dos monócitos e dos macrófagos são mais persistentes e não resultam em morte celular significativa, entretanto, estas células servem de reservatório para o HIV permitindo ao vírus sair do sistema imune e ser transportado pelo sistema para infectar uma variedade de tecidos corporais. FIGURA 3 - REPLICAÇÃO DO VÍRUS HIV NO ORGANISMO FONTE: Disponível em: <http:www.concursowebmaster.com/.../images/hiv/virus.png>. Acesso em: 29 jun. 2009. Segundo Brunner & Suddarth (1998) acredita-se que a taxa de produção do HIV esteja associada com o estado de saúde da pessoa infectada. Se a pessoa não está lutando contra outra infecção, a reprodução do HIV pode proceder lentamente. A reprodução do HIV parece acelerar, contudo, quando a pessoa está combatendo outra infecção ou quando o sistema imune é estimulado. Quando a função das células TCD4 está comprometida, micro-organismos que comumente não causam doenças têm a oportunidade de invadir e causar doenças sérias. Infecções e malignidades que se desenvolvem com resultante comprometimento do sistema imune são referidas como infecções oportunistas. 24 Canini et al. (2004) afirmam que o HIV é um retrovírus que causa no organismo disfunção imunológica crônica e progressiva devido ao declínio dos níveis de linfócitos CD4, sendo que quanto mais baixo for o índice desses, maior o risco do indivíduo desenvolver AIDS. O período entre a aquisição do HIV e a manifestação da AIDS pode durar alguns anos, porém, apesar de o indivíduo portador do vírus estar muitas vezes assintomático, pode apresentar importantes transtornos na esfera psicossocial, a partir do momento em que fica sabendo de seu diagnóstico. Há dois tipos de HIV: HIV-1 e HIV-2; estes dois tipos são diferenciados por intermédio da organização de seus genomas e filogenética relacionada a outros lentivírus. Esses dois tipos estão divididos em subtipos ou classes: o HIV-1 possui A, B, C, D, E, F, G, H e O. Segundo Sabino et al. 1996, o HIV-2 possui sete (A-F), sendo o subtipo A o mais prevalecente em todo o mundo. Em decorrência da focalização na pandemia da AIDS o HIV-1 é o mais estudado por diversos pesquisadores, pois na superioridade dos casos ele é o causador da maioria das síndromes da imunodeficiência adquirida, a AIDS (Hahn et al., 2000). O vírus HIV é altamente mutante, podendo ter diversas variações em seu código genético conforme sua replicação no indivíduo. Esta condição relaciona-se com o fato de não haver ainda uma vacina contra o HIV, devido à sua alta taxa de mutação no organismo humano. A mutação do HIV preocupa também pelo fato da resistência medicamentosa. Ou seja, um vírus HIV pode tornar-se resistente a um fármaco antirretroviral prejudicando, com isso, o controle e progressão da doença. Nem todos os vírus HIV mutantes são resistentes, entretanto os resistentes vêm de uma mutação. As taxas de vírus resistentes no Brasil são consideradas baixas enquanto nos EUA os valores chegam por volta de 10 a 20%. A infecção do HIV no organismo humano pode ser dividida em quatro fases clínicas, podendo ser acompanhada pelo número de células TCD4+ e de vírus presente no sangue. São elas: 1. Infecção Aguda, Infecção Primária ou Síndrome da Infecção Retroviral: o tempo entre a exposição ao vírus e o início da sintomatologia compreende o período de 25 cinco a trinta dias. Ocorre em aproximadamente 50 a 90% dos pacientes infectados, seu diagnóstico é pouco realizado devido ao baixo índice de suspeitação e as principais características desta fase são: Viremia Elevada: diminuição dos linfócitos TCD4+, com picos de aumento, mas que não alcançam os valores anteriores à infecção. À medida que a infecção avança, o sistema imunológico reage ao HIV controlando a produção do vírus. Nos exames laboratoriais há um retorno do número de células TCD4+ próximo ao normal e queda na quantidade de vírus a níveis baixos em um período de aproximadamente 10 semanas após a infecção. Resposta Imune Intensa: aumento do número de linfócitos TCD8+; Sintomatologia expressa no paciente durante o período de pico da viremia e atividade imunológica; As principais manifestações clínicas são: quadro gripal, mononucleose, febre, adenopatia, faringite, mialgia, artralgia, rash cutâneo maculopapular eritematoso, ulcerações mucocutâneas na mucosa oral, esôfago e genitália, hiporexia, adinamia, cefaleia, fotofobia, hepatoesplenomegalia, perda de peso, náuseas e vômitos. 2. Fase Assintomática ou Infecção Precoce pelo HIV: esta fase caracteriza-se por um estado clínico mínimo ou inexistente. Alguns dos sinais e sintomas que o paciente pode apresentar nesta fase são: linfadenopatia generalizada persistente, flutuante e indolor. A clínica nestes casos está condicionada à anamnese clínica, familiar e social do paciente buscando situações que possam agravar o caso. Nesta fase o sistema imunológico permanece competente frente à defesa contra o HIV, entretanto evidencia-se uma progressiva redução no número das células TCD4. Esta fase pode durar cerca de 10 anos. 3. Fase Sintomática Inicial: nesta fase o portador do HIV apresenta sinais e sintomas principalmente na pele e mucosas, entre outros. Alguns dos principais são: sudorese noturna, fadiga, emagrecimento, trombocitopenia, candidíase oral e vaginal, leucoplasia pilosa oral, gengivite, úlceras aftosas, diarreia, sinusopatias, herpes simples recorrente e herpes zoster. 26 4. AIDS: esta é a fase de infecção do HIV onde ocorrem as doenças oportunistas ou infecções oportunistas. O fato é que os agentes causadores destas infecções não atingem pacientes com sistema imune normal, apenas paciente com imunidade prejudicada ou deficitária, como é o caso daqueles infectados pelo HIV. Algumas das infecções oportunistas associadas à AIDS são: Por Vírus (Citomegalovírus, Herpes Simples, Leucoencefalopatia Multifocal Progressiva), por Bactérias (Micobacterioses, Pneumonias, Salmonelose), por Fungos (Pneumocitose, Candidíase, Criptococose, Histoplasmose), por Protozoários (Toxoplasmose, Criptosporidiose, Isosporíase) ou as Neoplasias. Todas as infecções oportunistas que acometem o paciente com AIDS podem ser de extrema gravidade, dependendo dos agentes causadores, podendo inclusive ser fatal. A fase final do HIV é a AIDS e ocorre quando as células TCD4+ atingem níveis abaixo de 200 células/mm³ de sangue, sendo que a normalidade desta contagem é de 800 a 1200 células/mm³ de sangue. 27 5 PERÍODO DE INCUBAÇÃO DO VÍRUS HIV E DA AIDS O período de incubação é definido como o tempo médio entre o contato com o agente etiológico (infecção) e o aparecimento das sintomatologias no organismo humano. No caso específico do HIV, o período de incubação médio estimado e citado pelo Ministério da Saúde por meio do Departamento de DST/AIDS é de 3 a 6 semanas. Isso quer dizer que após a exposição ao vírus o paciente infectado começa a apresentar alguns sintomas como febre e mal-estar entre três a seis semanas, sendo que estes sintomas fazem parte da fase inicial da doença. Conforme é citado acima, onde são descritas as fases clínicas da doença, alguns pacientes podem apresentar sintomatologia a partir de cinco dias, neste período, entretanto, é difícil o diagnóstico já que tais sintomas nem sempre são aparentes e constituem-se de difícil suspeita. A produção de anticorpos é iniciada a partir de oito a doze semanas após a infecção pelo vírus HIV. Durante a fase assintomática, quando o paciente não apresenta sintomas, ocorre o que é definido como latência do vírus, que é a interação entre o sistema imune e as constantes e rápidas mutações do vírus. Neste período os vírus HIV amadurecem e morrem de forma equilibrada, por este motivo esta fase geralmente é prolongada e pode durar até dez anos no organismo do paciente HIV positivo. O período de incubação definido para a AIDS (a doença após a infecção do HIV) varia entre oito a dez anos, com histórico de pacientes com 15 anos infectados pelo HIV que diagnosticaram infecções oportunistas (características da AIDS) somente após este período. 28 6 TRANSMISSÃO DO HIV O vírus HIV é transmitido de pessoa para pessoa por meio de alguns mecanismos de entrada no organismo. Segundo o Departamento de DST/AIDS do Ministério da Saúde (2008), a transmissão do vírus HIV de uma pessoa para outra ocorre pelo sangue, sêmen, secreção vaginal e leite materno. Desta forma, é necessário que uma dessas substâncias que possuem o vírus HIV da pessoa infectada entre em contato com a pessoa até então não infectada para que se estabeleça a transmissão viral e consequentemente a pessoa considerada sadia passa a ser um paciente HIV positivo. Segundo o Boletim Epidemiológico de 2005 do Ministério da Saúde a infecção pelo HIV ocorre principalmente por meio da exposição sexual, que corresponde a 79% dos infectados, seguidos por 13% citados como ignorados (não havendo registro de categoria de exposição), após 8% por Usuários de Drogas Injetáveis e nenhum percentual apresentado por transfusão de sangue. As vias de transmissão do HIV são as seguintes: Transmissão por via sexual: ocorre por meio do ato sexual não protegido, ou seja, sem o uso do preservativo; ato sexual anal, oral ou vaginal no qual há o contato com sangue, sêmen ou secreções vaginais da pessoa infectada com a pessoa sadia. O surgimento da AIDS caracterizou-se pela propagação rápida entre os homens, homossexuais e bissexuais. Já nas próximas décadas após o surgimento a infecção pelo HIV sofreu a feminização, ou seja, aumento do número de mulheres infectadas, o que acarretou maior número de casos de transmissão vertical (mãe para filho). Atualmente é possível identificar que todas as formas de relações onde há o sexo desprotegido o índice de transmissibilidade do HIV é alto. Segundo Cohen (2002) in Vergara & Barroso (2006), a via sexual constitui-se na maior 29 responsável pela proliferação do Vírus da Imunodeficiência Adquirida Tipo I (HIV-1). Dentre os principais fatores que influenciam a probabilidade de transmissão sexual pelo HIV, segundo Vergara & Barroso (2006) estão: - Fatores que modificam a infectividade do indivíduo transmissor; - Fatores que modificam a susceptibilidade dos indivíduos expostos; Neste contexto, os autores afirmam que as presenças de úlceras nos órgãos genitais podem relacionar-se como um fator de aumento da infectividade do indivíduo transmissor e também aumento da susceptibilidade do indivíduo exposto. Assim, é possível reforçar que diante da presença de Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST) que provocam ulcerações e/ou fissuras nos órgãos genitais a probabilidade de contaminação do vírus HIV aumenta consideravelmente, não se constituindo esta questão como fator isolado. A presença de ferida nos órgãos genitais aumenta a probabilidade de contágio do HIV, pois facilitam o contato do sangue com as secreções genitais que têm risco muito alto de infecções, sendo que estas feridas geralmente estão presentes devido a uma DST. - Fatores relacionados ao agente infeccioso: as características do agente etiológico (HIV) determinam uma maior ou menor probabilidade de transmissão, não apenas as concentrações do vírus no trato genital feminino e masculino, mas também o genótipo e fenótipo do vírus que podem estar associados a uma maior transmissibilidade. - Fatores ambientais: como por exemplo, o uso da camisinha e todas as questões culturais, religiosas, de custos e aceitabilidade que permeiam a utilização ou não do preservativo. Gupta & Mellors in Vergara & Barroso 2006, descrevem que o vírus HIV pode ser detectado em sêmen de pacientes em todos os estágios da doença, sendo que a carga viral nesta substancia parece elevar-se conforme existe a progressão da doença. Popularmente ainda existe a falsa compreensão de que o sexo oral não é considerado como meio de transmissão do HIV, entretanto é importante salientar que a realização do sexo oral sem a devida proteção (uso de preservativos de barreiras) é considerado como meio de contaminação do HIV, isso porque em quaisquer secreções genitais e mesmo anal (fissuras = sangue) existe a presença do vírus HIV, sendo, portanto uma forma de contágio ativa. 30 Segundo Vergara & Barroso (2006), todas as formas de sexo oral como: felação (oropeniano), cunilíngua (orovaginal) e anilíngua (oroanal) são formas de contato sexual. Diante disso é imperiosa a orientação para todos os indivíduos sexualmente ativos que o sexo oral não é considerado sexo seguro e o risco de transmissão do HIV nestas circunstâncias é reduzido pelo uso de preservativos. Segundo o Departamento de DST/AIDS do Ministério da Saúde, o risco de transmissão do HIV no sexo oral desprotegido é maior para quem pratica (parceiro ativo) e está relacionado diretamente com a quantidade da carga viral do indivíduo contaminado e também a presença de ferimentos na boca de quem pratica o ato; na ausência de ferimentos o risco de contaminação diminui podendo estar relacionado com a inativação do vírus por intermédio da ação do suco gástrico após a deglutição. O sexo oral desprotegido é porta de entrada, além do vírus HIV, para outras doenças sexualmente transmissíveis, como por exemplo, herpes, uretrites, hepatite B e HPV independente da sorologia positiva ou não do parceiro frente ao HIV. Desta forma, os profissionais da saúde devem orientar toda a população para o fato de que o sexo oral sem proteção é considerado meio de transmissão do HIV e outras DSTs. Outro método utilizado por alguns indivíduos no ato sexual é a não ejaculação dentro do parceiro. Nos casos de heterossexuais este método, também denominado como coito interrompido, é utilizado por alguns como meio para evitar uma gravidez indesejada. Entretanto, com o objetivo de evitar uma gravidez, assim como de não causar transmissão ou contágio de doenças sexualmente transmissíveis, este método não deve ser indicado como eficaz. Mesmo diante da ausência da ejaculação no ato sexual é possível a transmissão do HIV de uma pessoa infectada para outra, já que o vírus está presente nas secreções vaginais e também nas secreções pré-ejaculatórias, sendo que nestas situações o risco de transmissão do HIV aumenta na presença de imunodeficiências avançadas, relações anais receptivas, relações sexuais durante o período de menstruação e diante da presença de outras doenças sexualmente transmissíveis como cancro mole, sífilis e herpes genital. Outro fator importante a ser considerado em se tratando da transmissão sexual do HIV é a relação sexual entre dois soropositivos, o que se torna comum, principalmente diante da pandemia considerada e do expressivo número de pessoas que possuem o HIV. A vida sexual 31 ativa destas pessoas deve ser orientada. Na relação entre dois soropositivos torna-se igualmente necessário o uso do preservativo uma vez que com o passar dos anos os anticorpos do paciente infectado perdem a capacidade de neutralizar o vírus; também na reinfecção do vírus HIV há a possibilidade de receber cepas diferentes, aumentando com isso a infectividade, que tem como consequência o aumento de danos e dificuldade no controle das doenças. Na última década é possível identificar no Brasil um aumento da população de portadores de HIV com 50 anos ou mais que se infectaram por meio da via sexual. Essa proporção aumentada, segundo alguns estudos, está relacionada nos casos dos homens a múltiplas parceiras, como busca de manter ativa a vida sexual e também a autoafirmação frente ao desempenho sexual. Nas mulheres um dos fatores que está associado à elevação do número de contaminadas nesta idade é o fato da mulher não estar mais preocupada com a gravidez, dispensando assim o uso do preservativo. Em uma relação sexual heterossexual a probabilidade de contágio é maior para a mulher quando mantém relação com um homem infectado pelo HIV se comparado com o homem que realiza sexo com uma mulher HIV positivo. Isto é demonstrado em alguns estudos e relaciona-se com o fato do esperma possuir maior carga viral do que a secreção vaginal e permanecer mais tempo em contato com o organismo da mulher após a ejaculação. Entretanto, mesmo possuindo um risco menor de contágio para o homem, é impossível realizar uma previsão, já que as feridas nos genitais femininos, assim como fissuras, são de difícil visualização e aumentam consideravelmente o risco do homem contrair o vírus da mulher infectada. O sexo anal desprotegido entre homossexuais ou heterossexuais aumenta os riscos de contágio, uma vez que a prática provoca fissuras no canal anal e prováveis sangramentos muitas vezes não visualizáveis, o que aumenta a probabilidade da infecção pelo vírus HIV. Segundo Brunner & Suddarth (1998), o intercurso anal ou a manipulação aumentam as chances de trauma à mucosa retal e, subsequentemente, aumentam as chances de exposição ao vírus HIV por meio das secreções corporais. O aumento da frequência destas práticas e o sexo com múltiplos parceiros contribuem 32 para a disseminação da doença. O contato de objetos sexuais contaminados pode favorecer a contaminação do vírus HIV de uma pessoa para outra, se o objeto for compartilhado no mesmo momento ou logo após o contato e não estiver protegido com camisinha. Diante destas informações é possível afirmar que a principal ação preventiva relacionada à transmissão sexual do HIV é a utilização de preservativos (camisinhas) ou a abstinência sexual. A orientação do profissional de saúde deve sempre ser mantida em todos os casos de relações sexuais heterossexuais, bissexuais ou homossexuais, na utilização dos preservativos como forma de evitar a disseminação do vírus. Transmissão por sangue contaminado: o contato com sangue contaminado pelo HIV é via de transmissão entre uma pessoa e outra. O principal contato com sangue e derivados (como plasma e plaquetas) é realizado por meio das transfusões de sangue. A principal via de transmissão do HIV é a sexual, entretanto, a transfusão sanguínea é motivo de monitoramento contínuo no controle da pandemia. Logo que foi descoberta a forma de contágio da AIDS um dos grupos acometidos por esta doença eram os hemofílicos, que se caracterizam pela necessidade de receber continuamente transfusões de sangue. Somente após a introdução de controles dos doadores de sangue nos hemocentros e a inserção de testes de sorologia para várias doenças – incluindo o HIV – foi possível reduzir a probabilidade de transmissão nas condições de transfusões sanguíneas. Todavia, é importante que todos aqueles submetidos a transfusões sanguíneas o façam em locais que mantenham adequadamente tais controles. Amorim (1992) in Eustáquio et al. (2009) descreve a importância dos doadores serem selecionados primeiramente a partir de uma triagem clínica e epidemiológica, afastando-se desta forma pessoas que se encontram em grupos de risco mais elevados ou que possuam comportamentos de risco, como por exemplo, indivíduos confinados em regime carcerário, usuários de drogas e promíscuos sexualmente. No entanto, mesmo diante deste tipo de avaliação, como o autor revela, torna-se uma 33 primeira triagem, já que a não inserção nos grupos de riscos ou comportamentos de riscos não é considerada como exclusão para soropositividade do doador. Mas como saber então nesta primeira triagem que as respostas do possível doador estão de acordo com a realidade? Segundo Carrazzone et al. (2006), é necessário informar ao doador de sangue a importância da veracidade de suas respostas e que o mesmo é responsável por elas. Depois que foi realizada esta primeira triagem clínica-epidemiológica no paciente, quando aprovado para doação, o mesmo é encaminhado para doação e testes sorológicos. A Agência Nacional de Vigilância Epidemiológica do Brasil torna obrigatória desde 1998 a realização de dois testes para a pesquisa dos anticorpos anti-HIV: o ELISA (teste imunoenzimático) e o teste confirmatório Western Blot. Fernandes (2001) in Eustáquio et al. (2009) afirmam que diante das triagens clínicas e sorológicas a probabilidade de transmissão do HIV por transfusão sanguínea diminui consideravelmente. Entretanto, considera que os testes sorológicos não apresentam 100% de sensibilidade, principalmente na fase da janela imunológica (período que varia de 2 a 3 semanas, podendo chegar a 6 meses) permanecendo com isso um risco residual de transmissão que está relacionado com a prevalência da infecção na comunidade. Transmissão por meio de agulhas ou seringas contaminadas, perfuração com agulhas ou objetos perfurocortantes e por intermédio do contato com material biológico infectado: nesta via de transmissão é possível identificar os pacientes, trabalhadores de saúde e usuários de drogas injetáveis como sujeitos com maior possibilidade de acometimento. Os pacientes hospitalizados, ou mesmo em tratamento domiciliar que necessitam administração de medicações parenterais, podem ser contaminados na ocasião das agulhas e seringas não serem descartadas após a utilização e compartilhadas entre um paciente e outro. Sendo estas agulhas ou seringas contaminadas pelo vírus HIV ocorre a transmissão. Outro mecanismo de contágio que utiliza como via as seringas e agulhas contaminadas é o uso e compartilhamento de agulhas e seringas por usuários de drogas injetáveis. 34 Segundo Brunner & Suddarth (1998), a transmissão por meio da exposição direta do sangue com agulhas e seringas contaminadas ocorre por intermédio do uso de drogas injetáveis, embora a quantidade de sangue na seringa seja relativamente pequena, o efeito cumulativo de partilhar repetidamente equipamento contaminado causa um aumento do risco de transmissão. Neste aspecto, a maior transmissão ainda é referente aos usuários de drogas injetáveis (UDI) que se constituem no Brasil, segundo dados do boletim epidemiológico de 2005 como 8% da categoria de exposição dos infectados pelo HIV. A exposição de pacientes que fazem uso de medicação que se contaminam é praticamente inexistente devido às normas de descarte de seringas e agulhas nas instituições de saúde, onde se preconiza o uso desses materiais individualmente e por uma vez apenas. Barbosa (2009), médico integrante do Programa de DST/AIDS do Ministério da Saúde, afirma que o número de infectados por HIV por uso de drogas injetáveis (seringas compartilhadas) reduziu no Brasil, estando relacionado com um menor número de indivíduos usuários de drogas injetáveis e aumento do número de usuários de crack. A transmissão do vírus por meio da perfuração com agulhas ou objetos cortantes é um risco adicional, principalmente a todos os profissionais de saúde que trabalham direta ou indiretamente com o paciente e que realizam alguma atividade em ambientes hospitalares e/ou demais instituições de saúde. A Occupational Safety and Health Administration (OSHA) informa que cerca de 600 a 800 mil trabalhadores sofrem algum tipo de acidente com objetos perfurocortantes nos Estados Unidos. O CDC (1998) estima que ocorram cerca de 384 mil acidentes desse tipo nos hospitais dos Estados Unidos, sem considerar nestes valores outros tipos de clínicas e instituições de atendimento à saúde. Acosta (2004) descreve que as principais causas desses acidentes com os profissionais da área da saúde provêm da própria atividade que eles desenvolvem, incluindo o contato com secreções corporais de pessoas doentes e principalmente a manipulação de materiais perfurocortantes, como agulhas e bisturis na realização dos procedimentos nos pacientes. O autor citado afirma que a contaminação por perfuração depende de alguns fatores que podem aumentar os riscos da infecção após a exposição. São eles: 35 - O tipo de patógeno envolvido: a possibilidade de contrair a Hepatite B é bem maior do que contrair o vírus HIV; - O sistema imunológico do trabalhador acidentado e a severidade da lesão: relaciona- se à profundidade da perfuração ou da penetração do objeto na veia ou artéria; - O risco da transmissão do HIV aumenta quando o trabalhador é exposto a uma grande quantidade de sangue infectado. Segundo CDC 1998 in Canini et al. (2002), os estudos demonstram que o risco de transmissão do HIV envolvendo material biológico e mais especificamente material perfurocortante com paciente fonte HIV positivo é de 0,3 a 0,5% e exposição de mucosa é de 0,09%. Segundo Brunner & Suddarth (1998), embora o HIV tenha sido isolado em todos os tipos de secreções corporais, o risco de transmissão para os prestadores de cuidados é menos provável devido ao contato com fezes, secreções nasais, escarro, suor, leite humano, lágrima, urina e vômitos, a não ser que contenham sangue visivelmente. A exposição aos materiais perfurocortantes pode ser aumentada se o descarte de tais objetos não for realizado de maneira adequada. Desta forma, é imprescindível que todas as normas de descarte de perfurocortantes sejam seguidas. Diante de todos os riscos que os profissionais da saúde estão expostos na prestação do cuidado ao paciente e transmissão do HIV, o Ministério da Saúde lançou em 1998 o Manual de Condutas em Exposição Ocupacional a Material Biológico, que descreve as ações necessárias para evitar o contágio do HIV e demais doenças infectocontagiosas. O Ministério da Saúde (1995) divulga também algumas medidas de prevenção intituladas como Precauções Universais ou Precauções Básicas, estas devem ser seguidas pelo pessoal da área da saúde quando realizar procedimentos que envolvam a manipulação de sangue, secreções e excreções de pacientes; como também o uso de equipamentos de proteção individual e cuidados específicos relacionados à manipulação dos objetos perfurocortantes e descartes. Essas precauções serão estudadas durante o curso nas questões que abordam a prevenção da transmissão do HIV. 36 Transmissão in útero de mãe para filho, parto e leite materno: O Ministério da Saúde conceitua como Transmissão Vertical do HIV a situação em que a criança é infectada pelo vírus HIV durante a gestação, no parto ou durante a amamentação, por uma mãe HIV positiva. A feminização da AIDS conforme foi visto anteriormente trouxe consigo um aumento no número de crianças infectadas pelo vírus por meio da transmissão vertical. Com o passar dos anos foram adotadas medidas que levaram a uma diminuição desta ocorrência principalmente quando a gestante é diagnosticada precocemente. Os testes anti-HIV devem ser oferecidos e estimulados a todas as gestantes, independente de pertencerem ou não a grupos e/ou comportamentos de risco para o HIV. Alguns dos mecanismos de prevenção que estão associados a não infecção da criança nascida de uma mãe soropositiva relaciona-se ao uso de antirretrovirais, à gestante/parturiente e ao recém-nascido, cesarianas programadas e substituição de aleitamento materno. A estimativa é de que a taxa de transmissão vertical possa chegar a 20%, o que significa que em um universo de 1000 gestantes infectadas pelo HIV 200 crianças podem se tornar igualmente infectadas, entretanto o uso das medidas preventivas pode reduzir a transmissão para 1%. Segundo Barbosa (2009), a taxa média de transmissão vertical no Brasil ainda é preocupante, sendo de 7% e um dos motivos que levam a crer que a infecção está sendo passada de mãe para filho é a inacessibilidade das mulheres ao teste anti-HIV durante o pré-natal. Por se tratar de um tema amplo, a transmissão vertical e todos os procedimentos que envolvem a assistência à gestante e parturiente HIV positivas, bem como ao recém-nascido, serão abordados nos cuidados específicos e preventivos na transmissão vertical neste curso. Outros métodos de transmissão: alguns estudos mostram que raramente o HIV pode vir a ser transmitido por meio de órgãos transplantados, inseminação artificial ou por equipamentos cirúrgicos ou odontológicos não esterilizados. 37 É importante que o profissional de saúde tenha clareza diante de todas as formas de transmissão do HIV entre os indivíduos para que com isso possa contribuir com a diminuição da disseminação da doença. Alguns ditos populares ainda confundem a população frente às formas de contágio. 38 7 SINAIS E SINTOMAS Popularmente atribui-se o nome de AIDS para o paciente infectado pelo HIV ou soropositivo. Tecnicamente este termo é incorreto, uma vez que é importante diferenciar que a infecção pelo HIV não indica necessariamente a presença da AIDS, sendo a AIDS a consequência posterior da infecção. Na maioria da bibliografia estudada os autores diferenciam duas fases de sintomatologias distintas, que são: a infecção aguda pelo HIV e a AIDS. Como foi citada anteriormente, cada fase clínica após a infecção pelo HIV é compreendida por diferentes sintomas e períodos de duração. A manifestação dos sinais e sintomas após a infecção pelo vírus HIV é diferente de pessoa para pessoa, entretanto, após a exposição ao vírus a maioria dos infectados pelo HIV apresentam: Febre Persistente: 38 a 40° C (ocorre em 80% dos casos); Calafrios; Faringite: sem aumento das amígdalas e sem presença de pus; Lesões de pele: também denominado como rash cutâneo, que ocorre geralmente 48 a 72 horas após o início da febre e dura cerca de cinco a oito dias. Caracteriza-se por apresentar lesões de forma arredondada menores que um centímetro, com coloração avermelhada e discreto relevo, localizadas principalmente no tórax, pescoço e face, solas dos pés e palmas das mãos; Dores musculares, dores articulares e cefaleia; Linfadenopatia: aumento dos linfonodos, principalmente nas axilas e pescoço, podendo ocorrer na virilha, que levam muito tempo para desaparecer; Hepatoesplenomegalia: aumento do baço e do fígado que pode ocorrer em 10% dos casos; Úlceras anais, orais e genitais: ocorre em cerca de 10% dos casos e pode estar relacionada ao meio de infecção do vírus HIV, ou seja, porta de entrada. Úlceras Orais indicam contaminação por sexo oral ativo, enquanto as úlceras anais indicam contaminação por sexo anal passivo; 39 Diarreia e Vômito: alguns casos aferidos em torno de 10%, podendo levar ao emagrecimento de cerca de 5 Kg; Hepatite, Pneumonia e Pancreatite: alguns raros relatos na infecção aguda pelo HIV; Candidíase Oral ou Vaginal: alguns raros relatos na infecção aguda pelo HIV. Segundo o Ministério da Saúde – Departamento DST/AIDS, os sintomas na infecção aguda pelo HIV podem aparecer após um período de cinco a 30 dias após a infecção pelo vírus, tendo duração média de sete a 14 dias após este período ocorre a estabilização do quadro. Como pode ser visto na sintomatologia inicial, além de durar apenas cerca de duas semanas pode ser caracterizada para diversas doenças, sendo difícil nesta fase o diagnóstico clínico do paciente. O diagnóstico final deve ser realizado por meio do Teste anti-HIV, como será tratado posteriormente. A sintomatologia da AIDS é caracterizada principalmente pelo aparecimento das chamadas infecções oportunistas, que devido à queda nas defesas do organismo do paciente soropositivo são de gravidade maior e constituem-se como risco de morte. As infecções oportunistas estão presentes não somente nos pacientes acometidos por AIDS, mas em todos aqueles que possuem doenças que alterem a condição de imunossupressão. Como foi visto anteriormente, o paciente com AIDS está em um estágio avançado de infecção pelo HIV, desta forma, para se obter um diagnóstico de AIDS são necessários, além da sorologia positiva para o HIV, alguns dos seguintes achados, segundo Pinheiro (2009): Contagem de linfócitos CD4 menor que 200 células/mm³ ou apresentar uma das patologias citadas abaixo (definidoras da AIDS); Candidíase Pulmonar ou Traqueal; Candidíase de esôfago; Câncer de colo uterino invasivo; Coccidioidomicose disseminada (uma infecção fúngica); Criptococose extrapulmonar (também infecção fúngica); Criptosporíase intestinal (doença parasitária); Citomegalovírus (doença viral); 40 Encefalopatia do HIV; Herpes simples crônica (mais de um mês de duração) ou disseminada; Isosporíase intestinal crônica (doença parasitária); Sarcoma de Kaposi (neoplasia típica da AIDS); Linfoma de Burkitt; Linfoma do sistema nervoso central; Infecção disseminada por Mycobacterium avium complex (infecção bacteriana); Tuberculose disseminada; Pneumonia pelo fungo Pneumocystis carinii (também chamado Pneumocystis jirovecii); Pneumonia recorrente; Leucoencefalopatia multifocal recorrente (doença viral); Sepse por salmonella; Toxoplasmose cerebral; Síndrome consuptiva (emagrecimento) do HIV. As patologias citadas acima não são exclusivamente encontradas em pacientes com AIDS, mas sim em todos aqueles acometidos por patologias que alteram o sistema imunológico, prejudicando consideravelmente as defesas do organismo. Entretanto, o diagnóstico de uma das patologias acima citadas pressupõe a investigação para o HIV e no caso de positividade a doença da AIDS já caracterizada. O paciente diagnosticado com AIDS é mais susceptível ao aparecimento e desenvolvimento de diferentes tipos de cânceres, em especial aqueles causados por vírus, citam-se como de maior prevalência os cânceres de colo de útero e os Sarcomas de Kaposi, além dos cânceres do sistema imunológico conhecidos como Linfomas. Os principais sinais de Sarcoma de Kaposi visíveis aparecem na pele do pacientes, caracterizando-se em pele clara por manchas arredondadas marrons ou avermelhadas que podem estar na extensão da pele no corpo como também na boca, já nas pessoas de pela escura as manchas não possuem maior pigmentação. Segundo o Ministério da Saúde – Departamento de DST/AIDS, a manifestação da 41 AIDS nas crianças também se dá por meio das infecções oportunistas, a partir principalmente de infecções severas bacterianas que são comuns em todo o tipo de criança, como as conjuntivites, infecções de ouvido e as amigdalites. 42 8 DIAGNÓSTICO DO HIV A detecção do vírus HIV no organismo humano e consequentemente o diagnóstico da soropositividade (presença de anticorpos anti-HIV) é efetivado por meio de testes sorológicos. Os testes são realizados através da coleta de uma amostra de sangue do indivíduo. Os testes de sorologia para o HIV podem ser realizados nos seguintes locais: Laboratórios de Saúde Pública: através do atendimento nas unidades e redes básicas de saúde pública; Centros de Testagem e Aconselhamento (CTA): onde além do exame o usuário recebe aconselhamento antes e depois dos testes anti-HIV para preparação do paciente frente aos resultados, nos CTA’s o exame pode ser feito de forma anônima e é gratuito. Adiante neste curso o termo aconselhamento ao paciente HIV será discutido mais detalhadamente; Laboratórios Particulares. É importante que na escolha pelo local de realização o usuário tenha em mente que é imprescindível que todos os laboratórios sigam as normas preconizadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) e tenham registros dos testes na referida agência. Segundo o Ministério da Saúde – Departamento de DST/AIDS, a confirmação do diagnóstico do HIV é baseado na presença de anticorpos (Ac) contra o vírus no soro sanguíneo humano; realizando primeiramente o teste ELISA para HIV 1 e HIV 2. Sobre isso é importante enfatizar que tecnicamente o diagnóstico de HIV não se faz pela detecção do vírus HIV no organismo, mas sim pela presença dos anticorpos (Ac) que são formados pelo sistema imunológico após a infecção do vírus, como foi descrito no item da fisiopatologia do HIV. Existe a possibilidade da realização do teste ELISA de quarta geração, que além de detectar os anticorpos contra o vírus HIV também detecta a presença da proteína P-24, o que determina a presença do vírus HIV no organismo humano. Isto possibilita a diminuição do tempo de detecção entre a exposição do vírus e um resultado positivo. A Portaria nº 59 (GM/MS), de 28 de janeiro de 2003, descreve que o diagnóstico da 43 infecção pelo HIV no Brasil em indivíduos com idade acima de dois anos é baseado na detecção de anticorpos (Ac) contra o vírus. Essa portaria é reeditada e apresenta a idade, ao invés de dois anos, de 18 meses. Em crianças recém-nascidas e até 18 meses de idade nascidas de mães soropositivas utilizam-se os testes de quantificação da carga viral do HIV-1, isso porque ocorre a transferência passiva de anticorpos da mãe para o bebê, o que pode ocasionar um resultado falso-positivo nos testes para detecção de anticorpos. A realização dos testes sorológicos e a detecção do HIV estão intimamente relacionadas ao período entre a exposição e possível infecção pelo vírus e a coleta do sangue para a realização do exame. Isto porque o exame detecta a produção de anticorpos contra o HIV no organismo humano e essa produção tem um período para ser identificada pelos testes após a entrada do vírus no paciente. Sendo assim, denomina-se como Janela Imunológica o tempo entre a infecção pelo HIV e a detecção dos anticorpos no organismo humano por meio de testes sorológicos. No período que compreende a Janela Imunológica o paciente possui uma carga viral alta e uma quantidade de anticorpos insuficiente para ser detectada pelos testes, isto quer dizer que ao realizar um teste anti-HIV dentro do período que abrange a janela imunológica pode-se encontrar um resultado falso-negativo. É importante que o aluno tenha conhecimento da chamada Janela Biológica, também denominada como Soroconversão, que é a positivação da sorologia para o HIV e caracteriza-se por uma queda na carga viral e recuperação dos linfócitos TCD4+, devido à resposta imune celular e humoral. Desta forma, a Janela Imunológica é citada também como o período entre a aquisição da infecção e a Soroconversão (Janela Biológica). Segundo o Ministério da Saúde – Departamento de DST/AIDS, o tempo necessário para que o teste anti-HIV detecte o anticorpo do vírus HIV no organismo humano vai de três a doze semanas após adquirir o vírus, tendo como período médio aproximadamente dois meses. A instrução do Ministério da Saúde é que o exame seja realizado 60 dias após a possível exposição ao vírus. A informação do Ministério da Saúde é de que seja realizado aconselhamento antes e 44 após a realização dos testes anti-HIV, ou seja, pré e pós-teste, fornecendo elementos acessíveis sobre alguns aspectos como: formas de transmissão, significado dos resultados dos exames, período da janela imunológica, sendo sempre necessário obter o consentimento do usuário ou de seu responsável para a realização do exame. Os testes sorológicos utilizados para a detecção do HIV podem ser divididos em quatro grupos: Testes de Detecção de Anticorpos, Testes de Detecção de Antígenos, Técnica de Cultura Viral e Testes de Amplificação do Genoma do Vírus, sendo que os mais utilizados compreendem os testes de detecção de anticorpos que avaliam a resposta do hospedeiro (homem) ao agente etiológico (vírus HIV). Os testes sorológicos mais utilizados são: Ensaio Imonoenzimático (ELISA): do inglês Enzyme-linked-immunosorbent assay (ELISA) que significa Ensaio do Imunoabsorvente ligado à enzima. Caracteriza-se por ser um dos principais testes sorológicos para o diagnóstico do HIV, principalmente por possuir alta sensibilidade. Entende-se por sensibilidade a capacidade que um teste possui em identificar os indivíduos positivos ou sua capacidade em detectar antígenos ou anticorpos na amostra mesmo quando presentes em pouca quantidade. O teste ELISA indica que a pessoa possui os anticorpos HIV e não realiza o diagnóstico
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