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Caderno de Direito do Comércio Internacional

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GUILHERME PERUCHI 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
DIREITO DO COMÉRCIO INTERNACIONAL 
 
Professor Associado José Augusto Fontoura Costa 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO 
FACULDADE DE DIREITO 
SÃO PAULO, 2013 
 
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[INFORMAÇÕES INTRODUTÓRIAS] 
APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA 
 
 
I. OBJETO DA DISCIPLINA 
 Entendem-se duas coisas completamente diferentes quanto ao objeto da 
disciplina Direito do Comércio Internacional: 
a. Direito Internacional Econômico (International Trade Law). É dizer, a 
parte do Direito Internacional Público que trata da troca de bens entre 
Estados: regras sobre a entrada e saída de bens de espaços aduaneiros. 
Essa regulação tem abrangência no direito internacional 
público, o que envolve os acordos entre Estados a respeito das 
mercadorias e comerciantes de outros Estados. Exemplos: GATT 
(OMC), acordos de integração regional, tratados de livre comércio, etc. 
Assim, pode-se entender tal disciplina como regulamentação 
do direito internacional público das relações de troca entre Estados. 
Incidem sobre os Estados, ainda que os agentes econômicos sejam 
privados. 
b. Direito internacional dos negócios (International Business/Commercial 
Law): Esse ramo jurídico teria a função de aumentar a segurança 
jurídica dos negócios entre agentes econômicos situados em 
ordenamentos jurídicos nacionais diferentes. 
Ou seja, incidiria sobre as relações entre tais agentes 
econômicos, o direito dos contratos, os meios de solução das 
controvérsias derivadas, etc. 
 
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II. MÉTODO DE AVALIAÇÃO 
 Ademais de duas avaliações ao longo do semestre, o professor propõe a 
realização de dois trabalhos que podem elevar a nota de cada prova em dois pontos. A 
prova parcial está agendada para 10 de abril de 2013. 
O primeiro desses trabalhos, que deverá ser entregue até a data da prova 
parcial, deverá tratar de uma decisão de um caso da Organização Mundial do Comércio 
(OMC), preferencialmente do qual o Brasil não faça parte. O conteúdo terá que abordar a 
questão material enfrentada pela OMC, não interessando os aspectos procedimentais, a 
não ser que se mostrem essenciais. Ademais, não é indicado que o grupo se concentre em 
opiniões doutrinárias. 
 
 
[TEMA 1] 
ASPECTOS ECONÔMICOS DO COMÉRCIO INTERNACIONAL 
 
 
 O porquê do comércio internacional? Alguns produtos são 
caracteristicamente produzidos em algumas regiões (por motivos socioculturais, naturais, 
etc.). Fora isso, muitos bens podem ser produzidos em diferentes lugares, mas tais 
escolhas são realizadas em razão da produtividade. 
 No sistema econômico mercantilista, a noção de riqueza estava associada à 
acumulação de metais. Daí ser essencial uma balança comercial favorável. 
 Tanto o modelo de Adam Smith quanto o de David Ricardo (Vantagens 
comparativas) demonstram que o comércio internacional gera vantagens que se 
distribuem desigualmente entre os Estados. É dizer, aumenta-se a riqueza com o 
comércio internacional, ainda que desproporcionalmente. 
 Esse ganho de riqueza gera a especialização – a divisão internacional do 
trabalho. 
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Todavia, como contraponto crítico de H. SINGER E R. PREBISH, o comércio 
geraria também subdesenvolvimento estrutural. É dizer, os ganhos do comércio 
internacional são mais distribuídos para os Estados mais desenvolvidos, aumentando a 
lacuna do desenvolvimento e a deterioração dos termos de intercâmbio que sempre 
favorecem os Estados mais industrializados. 
 Segundo tais autores cepalistas, o sistema internacional se organiza em um 
modelo centro-periferia que sempre favorece o centro. Destarte, o subdesenvolvimento 
não é uma condição incremental, mas estrutural, de modo que não existiria uma evolução 
natural do subdesenvolvimento para o desenvolvimento. Tal teoria, portanto, apresenta 
um modelo cético em relação aos benefícios do comércio internacional, vez que, de 
acordo com seu pensamento, a longo prazo, aumentar-se-ia cada vez mais o 
subdesenvolvimento. 
 Em outra perspectiva, HECKSCHER e OHLIN explicam outro efeito do 
comércio internacional. Além do aumento da riqueza e da especialização, o comércio 
gera o igualamento do valor dos fatores de produção. 
 Por fim, deve-se ressaltar que a instituição de tributos sobre o comércio 
internacional gera dupla ineficiência: a perda da satisfação dos consumidores e o 
desperdício do favor de produção. Todavia, tal política tem um efeito distributivo e o 
fulcro de proteger o mercado. 
 
 
[TEMA 2] 
HISTÓRICO DO SISTEMA DE COMÉRCIO INTERNACIONAL 
 
A. Do século XIX à Genebra 1947 
 Durante o século XIX, o sistema econômico mundial era controlado pelo 
Império Inglês. 
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Em oposição ao predomínio britânico, a I Guerra Mundial gerou a 
desorganização do sistema mundial. Uma situação de guerra comercial, guerra cambial e 
crise econômica (estagnação e inflação) denotaram uma situação que gerou instabilidade 
política interna nos Estados, com o surgimento de regimes totalitaristas, em especial o 
comunismo. 
No período pós-II Guerra Mundial, estabeleceu-se a paz como objetivo de 
uma ordem internacional, o qual seria alcançado a partir do binômio estabilidade 
econômica/estabilidade política interna. Nesse sentido, buscou-se criar um sistema 
internacional elaborado e estruturado mediante o consenso e a cooperação entre vários 
Estados. 
Esse espírito orientou as Conferências de Bretton Woods (1944), das quais 
resultaram: 
 A criação do Fundo Monetário Internacional (FMI): objetivo de 
garantir a estabilidade monetária e cambial; 
 A criação do Banco Internacional para Reconstrução e 
Desenvolvimento (BIRD), que integra a estrutura do Banco 
Mundial e tem a função de financiar a reconstrução e o 
desenvolvimento; 
 Discussões junto à Assembleia Geral das Nações Unidas sobre a 
criação de uma organização internacional de comércio. 
 Tais discussões centraram-se, portanto, em pensar o livre comércio como 
pilar essencial para a concretização da estabilidade econômica e política e a geração de 
paz, consagrando-lhe clara função instrumental. O primeiro acordo resultante de tais 
rodadas de negociações foi o de Genebra (1947), que tratava essencialmente de reduções 
tarifárias e contou com 23 Estados contratantes. 
 Ou seja, o livre mercado é bom se funcional, o que importa limites, vez 
que tem de atuar como instrumento para a estabilização econômico-política e a paz. 
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 Com o acirramento das tensões entre Estados Unidos e a União Soviética, 
o sistema internacional de comércio passou a ser utilizado como forma de cooperação e 
integração dos países ocidentais. 
 Além disso, o fracasso do acordo da Organização Internacional do 
Comércio1, cuja negociação iniciou-se em Genebra em 1947, fez com que somente 
permanecesse vigente o Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio (GATT, 1947), que se 
previa somente como apenso ao estatuto da OIC. 
 
B. De Genebra 1947 à criação da OMC (1994) 
Na rodada de negociação de Dillon (1960-1962), altera-se a metodologia 
de redução tarifária para redução linear, passando os acordos a atingir todos os produtos 
de um determinado setor, não havendo mais a negociação sobre cada produto. 
Iniciou-se a discussão se os países em desenvolvimento deveriam integrar-
se ao GATT ou formar outro acordo, utilizando-se da estrutura secretarial da UNCTAD. 
Todavia, a rodada Kennedy (1962-1967), da qual participaram 66 Estados, demonstrou o 
claro interesse em trazer os novos países para o sistema comercial ocidental, integrando-
os sob domínio estadunidense. 
O aumento do número de participantes, como consequência, exigiu a 
adoção de regras mais formais sobre o procedimento das negociações, restando 
formalizados alguns aspectos que eram regulados mais abertamente no texto original de 
Genebra (1947). 
Nesse sentido, os Códigos de Tóquio, resultantes da rodada de mesmo 
nome (1973-1979),estabeleceram acordos mais firmes sobre alguns aspectos: (i) acesso a 
mercados; (ii) valoração aduaneira; (iii) anti-dumping; (iv) subsídios; (v) salvaguardas. 
Ademais de tratarem dessas barreiras não tarifárias2, consagraram a chamada cláusula de 
 
1 Em 1951, o governo republicado do presidente D. D. Eisenhower retirou do Congresso Norte-Americano 
o tratado, impedindo sua apreciação para futura ratificação pelos Estados Unidos. Desta forma, haja vista a 
importância econômica deste país, o tratado foi fadado ao fracasso. 
2 Os Estados podem evitar a importação de produtos estrangeiros através de duas estratégias principais: (a) 
barreiras tarifárias; (b) barreiras quantitativas. O GATT proibiu a implantação de barreiras quantitativas, 
que limitam a quantidade de produtos a serem importados, continuando algumas a existir em caráter 
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habilitação – favorecendo os países em desenvolvimento – e um Entendimento sobre 
Solução de Controvérsias (ESC). 
A rodada do Uruguai (1986-1994) é outro marco. Com o fim da Guerra 
Fria, findaram-se igualmente as alavancas políticas próprias desse período, por meio das 
quais os países em desenvolvimento negociavam em um mundo bipolar em conflito. Ou 
seja, o mundo em desenvolvimento perde poder de barganha no cumprimento de sua 
agenda própria. 
Por outro lado, o consenso ideológico neoliberal reforçou a Aliança 
Atlântica (Estados Unidos e Comunidade Europeia) na formação do próximo acordo 
comercial: O acordo de Marrakech (1994), por meio do qual se criou a OMC. 
 
C. O Acordo de Marrakech (1994) e a criação da Organização Mundial do 
Comércio (OMC) 
No contexto em que os países em desenvolvimento perdem sua alavanca 
política de negociação e o mundo é abrangido por um consenso ideológico neoliberal, 
negocia-se e aprova-se o acordo para constituição da OMC. Favoreceu-se a agenda dos 
Estados Unidos, da Comunidade Europeia, do Canadá e do Japão, em detrimento daquela 
defendida pelos países do chamado Terceiro Mundo. 
Ao Acordo de Marrakech (1994) foram incorporados quatro anexos, 
claramente inspirados em agenda ditada pela aliança atlântica: 
i. ANEXO 1 
a. GATT 1994 e acordos sobre subsídios, anti-dumping, 
salvaguardas, valoração aduaneira e agricultura; 
b. Acordo Geral sobre Serviços (GATS); 
c. Acordo sobre propriedade intelectual (TRIPS). 
 
excepcional (barreiras quantitativas entre Brasil e Argentina no que concerne à importação de automóveis e 
linha branca). Todavia, os Estados podem se utilizar de uma série de barreiras não tarifárias para manipular 
o Comércio Internacional. É exatamente nesse sentido que atuam os Códigos de Tóquio, de maneira a 
controlar tais medidas que se agravaram com as reduções tarifárias promovidas pelo GATT. 
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ii. ANEXO 2: Entendimento sobre Solução de Controvérsias (ESC). 
iii. ANEXO 3: Mecanismo de Exame das Políticas Comerciais. 
iv. ANEXO 4: acordos plurilaterais3: laticínios e carne bovina 
(vigente até 1997, dada sua transitoriedade), aeronaves civis, 
compras governamentais. 
Insta ressaltar que a Organização Mundial do Comércio não é uma 
continuidade do GATT 1947, inclusive porque há um novo GATT, criado em 1994. Há 
uma descontinuidade formal, servindo de instrumento a levar adiante as preferências 
políticas dos Estados da aliança atlântica. 
 
 
[TEMA 3] 
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DO COMÉRCIO (OMC) 
 
 
I. ESTRUTURA ORGÂNICA 
 Na estrutura orgânica da Organização Mundial do Comércio não há órgãos 
que não sejam plenários. É dizer, em regra, todos os 159 Estados-membros são 
representados, inexistindo materialmente conselhos, parlamento, etc. 
 A Conferência Ministerial é um órgão periódico. Por essa razão, muitas de 
suas competências são delegadas ao Conselho Geral, que tem característica permanente. 
 Ainda que formalmente diferentes, o Conselho de Revisão de Políticas 
Comerciais e o Órgão de Solução de Controvérsias são em que o Conselho Geral atua 
com presidências distintas. 
 
3 Ao contrário dos demais anexos do acordo, que tratam de acordos multilaterais, dos quais fazem partes 
todos os Estados-membros da OMC, o anexo 4 é composto de acordos plurilaterais. Essa é a nomenclatura 
própria do sistema da OMC. 
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 O Órgão de Solução de Controvérsias apresenta, por sua vez, dois órgãos 
auxiliares: os grupos especiais (panels) e o órgão de apelação, únicas exceções à regra 
dos órgãos plenários ressaltada supra. 
 Por fim, o OMC também é composta pelos Comitês e pelos Conselhos 
Setoriais, todos submetidos ao Conselho Geral. Estes tratam sobre comércio de 
mercadorias, comércio de serviços, propriedade intelectual, etc. 
 
II. PROCESSO DE TOMADA DE DECISÕES 
 Na sistemática do GATT 1947, a reunião das chamadas partes contratantes 
conduziam as rodadas de negociação e adotavam decisões por consenso. O consenso se 
dá quando não há resistência de nenhum dos Estados à proposta, quando esta passa 
incólume. 
 No sistema da Organização Mundial do Comércio, quando inexiste 
consenso em determinado órgão, a proposta é conduzida ao órgão hierarquicamente 
superior para nova discussão e votação. Assim, temas delicados são sempre levados ao 
Conselho Geral. 
 Na prática, decide-se somente por consenso, haja vista o alto custo de 
decidir-se por maioria, ainda que isso fosse tecnicamente possível. 
 No sistema anterior, formulado em Genebra (1947), o diretor-geral tinha a 
clara função de facilitar o consenso. Entretanto, na nova sistemática da OMC, ele perdeu 
muita importância, vez que se concentrou o poder decisório no Conselho Geral, dada as 
maiores dificuldades para a tomada de decisões4, restando, por outro lado, reforçados os 
princípios da transparência e democracia. 
 No processo de adoção decisória no Órgão de Solução de Conflito, o 
sistema anterior do GATT 1947 previa a nomeação de grupos especiais para a elaboração 
de um relatório sobre determinada controvérsia, o qual deveria ser aprovado pelas partes 
contratantes através do consenso. 
 
4 A integração de China (2001) e Rússia (2012) à Organização Mundial do Comércio gerou maior 
dificuldade na obtenção do consenso. Assim, houve um expressivo crescimento de acordos bilaterais e 
plurilaterais no marco da OMC. 
9 
 
 
 Todavia, em virtude da dificuldade em atingir-se o consenso, o modelo da 
OMC adotou a fórmula do denominado consenso invertido, segundo o qual é necessário o 
consenso para rejeitar o relatório confeccionado pelo grupo especial ou pelo órgão de 
apelação, caso haja recurso (80% dos casos o há). 
É dizer, nem o grupo especial tampouco o órgão de apelação decidem. 
Quem o faz é o Órgão de Solução de Conflitos, composto pelos 159 Estados-membros. 
Assim, ainda que tal estrutura tenha se judicializado, a última decisão sempre tem 
natureza política. 
 
III. PRINCÍPIOS 
 a. Não-discriminação 
 De um membro em relação às mercadorias dos demais (serviços, direitos 
de propriedade industrial, etc.). 
 Isso não está em conflito com o princípio de tratamento preferencial de 
países de menor desenvolvimento relativo. É dizer, haveria tal exceção do tratamento não 
discriminatório. 
 
 b. Negociação 
 Diz respeito ao fato de que todas as regras são resultado de uma longa, 
aprofundada e democrática discussão dos Estados no exercício de sua soberania. 
 
 c. Transparência 
 Todas as reuniões são públicas. De igual forma, todas as normas são 
editadas para conhecimento geral. Tal transparência garante a legitimidade dos processos. 
 As reuniões privadas - famosas reuniões da Sala Verde - deixaram de 
ocorrer no marco da organização e se limitamao marco diplomático. 
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 d. Progressividade 
 O sistema deve se tornar cada vez mais abrangente e efetivo: a 
consolidação do maior número de tarifas - estabelecimento de tetos tarifários para os 
países de acordo com as negociações havidas na OMC/GATT - reduzindo-se o direito de 
tributar dos Estados (Cláusula de "Cremalheira", Ratchet). 
 
 e. Tratamento preferencial de países em desenvolvimento 
 
IV. PADRÕES DE NÃO-DISCRIMINAÇÃO 
 A. CLÁUSULA DE TRATAMENTO DE NAÇÃO MAIS FAVORECIDA 
 Tal cláusula está relacionada à discriminação de um produto estrangeiro 
em relação a outro produto estrangeiro. 
 Esse tipo de cláusula foi muito difundido ao longo do século XIX, mas 
apareciam antes já nos Tratados de Navegação, Comércio e Amizade, que tinham 
natureza tipicamente bilateral e estabeleciam benefícios, franquias, facilidades na entrada 
e saída de bens, etc. 
 Esses acordos estabeleciam o compromisso de os Estados não oferecerem 
maiores vantagem a países terceiros. Todavia, por tais cláusulas estarem inseridas em 
tratados bilaterais, eram cláusulas condicionais e não possuíam aplicação imediata, de 
modo que o equilíbrio era alcançado mediante a concessão mútua de vantagens através de 
nova negociação. 
 No sistema do GATT, a cláusula de nação mais favorecida é (i) 
multilateral, abrangendo todos os países contratantes, e (ii) automática. A ideia de 
equilíbrio e das concessões nas relações bilaterais - para a manutenção do sinalagma - é 
substituída por vantagens garantidas para todos (artigo 1º, GATT). 
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 Assim sendo, concedendo-se vantagem maior a qualquer Estado, membro 
ou não da OMC, tal vantagem se estenderá automática e incondicionalmente a todas as 
partes-contratantes. 
 Quando se concretiza o conceito de "nação mais favorecida"? Quando 
presentes os elementos descritos abaixo: 
 Vantagem discriminatória: a discriminação de direito se 
configura quando uma regra identifica um país ou um grupo de 
países para a concessão de vantagens. Por outro lado, 
identifica-se uma discriminação de fato na situação em que se 
cria uma regra discriminatória a favor de um Estado, mas 
implicitamente, diferenciando tarifas para um produto 
produzido somente naquela localidade, por exemplo (caso da 
Espanha com o café colombiano). 
 Vantagem concedida a produtos similares: a similaridade dos 
critérios está fundamentada em alguns critérios alternativos, a 
saber: (a) sua classificação aduaneira; (b) suas características 
comuns; (c) a relação de substitubilidade entre eles5. 
 Vantagem imediata e incondicional. 
 
 B. CLÁUSULA DE TRATAMENTO NACIONAL 
 Nestes casos, há a discriminação de produto estrangeiro em relação a 
produto nacional. 
 Aos bens que já ingressaram no território aduaneiro de um Estado, 
aplicam-se-lhes os impostos internos (exemplo: IPI, Cofins, etc.). 
 De acordo com tal cláusula, a única discriminação que pode existir está 
relacionada aos tributos de importação e nunca no que toca à incidência tributária interna 
(artigo 3º, GATT). 
 
5 A relação de substitubilidade se identifica pelo impacto real do mercado de um produto sobre o outro. É 
dizer, o fato de a oferta maior de um dado produto influenciar a menor procura de outro. 
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 Para analisar tal cláusula, insta realizar o duplo teste, verificando: (a) se 
houve vantagem discriminatória (de fato ou de direito); (b) se tratam-se de produtos 
similares. Tal medida que tem o escopo de favorecer a produção nacional não tem 
validade ante o GATT. 
 
V. EXCEÇÕES 
 a. Exceções em matéria de segurança (artigo XXI, GATT): matéria estratégico-
militar não está sob cobertura da OMC, estando instituída exceção absoluta nesse sentido. 
 
 b. Exceções gerais (artigo XX, GATT): são diversas exceções que estão fora do 
alcance da desgravação comercial. 
 Exemplo: exceções da alínea b: medidas necessárias à proteção da vida e 
saúde das pessoas e animais e à proteção de vegetais. Esta não é uma exceção ambiental. 
 Para identificar se a medida do Estado pode ser excepcionada, tem-se de 
realizar o duplo teste: 
 Observa-se a disposição da alínea: No caso, tem-se de analisar 
se o desenho e a implementação da medida estatal são 
compatíveis com a previsão normativa. 
 Por outro lado, impende ressaltar que: coexistem 
meios alternativos razoáveis - mais ou menos restritivos - a 
disposição do Estado. Todavia, o grau de proteção é um 
critério nacional. Destarte, uma medida que restringe 
totalmente a importação de carnes do Brasil em razão da febre 
aftosa deve ser aceita como válida, ainda que bastante 
restritiva. 
 
 Observa-se a regra do caput: a discriminação não pode ser 
arbitrária ou injustificada. Ademais, não deve apresentar uma 
restrição disfarçada ao comércio. 
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 c. Exceções relativas às zonas de livre troca e uniões aduaneiras (artigo XXIV, 
GATT): as zonas de livre troca ou livre comércio são aquelas em que, entre dois ou mais 
territórios aduaneiros, as tarifas de importação e exportação são "zero", instituindo-se 
uma liberdade de circulação de bens e mercadorias. Por outro lado, as uniões aduaneiras 
são zonas de livre troca com tarifas externas unificadas, comuns. 
 Tais formas de integração econômica se harmonizam com o sistema 
multilateral do GATT, no qual impera a cláusula de nação mais favorecida. 
 Na origem do GATT, pensava-se em harmonizá-lo com o sistema de 
preferências coloniais, principalmente pelo papel desempenhado pela Inglaterra e pela 
França nesse sistema de exploração econômica. 
 Deve-se ressaltar que tal dispositivo cria exceção à cláusula de nação mais 
favorecida. Sem embargo, não implica exceção à cláusula de tratamento nacional, de 
maneira que o produto estrangeiro que ingressa no espaço aduaneiro - vindo tanto da 
zona como da extrazona - deve ter igual tratamento que o nacional. 
 E o fenômeno da triangulação, por meio do qual um Estado terceiro se 
utiliza de menores tributos de importação de um país A para adentrar na zona de livre 
comércio e depois exportá-lo ao país B, também integrante do bloco? 
 A solução está nos regimes de origem: o bem importado continua a ter 
origem fora da zona, não transitando livremente no bloco, exceto se sofre uma 
transformação relevante, alterando-se sua classificação aduaneira. A criação de uma 
união aduaneira também resolve tal questão, inexistindo, mesmo assim, um único 
mercado, eis que a tributação interna é diferente. 
 
 d. Exceção relativa a balança de pagamento (artigo XII): quando se verifica que 
o Estado sofre um desequilíbrio da balança de pagamento, que culmina por incentivar a 
evasão de divisas (saída das reservas em moeda estrangeira), o país pode estabelecer 
medidas quantitativas e aumentos das tarifas em números superiores ao GATT, de modo 
a buscar seu reequilíbrio macroeconômico. 
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 São medidas que excepcionam as tarifas consolidadas e a proibição de 
medidas não tarifárias, em razão de um contexto de emergência macroeconômica ampla, 
mas não excepcionam a cláusula de nação mais favorecida ou do tratamento nacional. 
 Nesses casos, o Comitê de Balanço de Pagamento deve fazer uma consulta 
ao Fundo Monetário Internacional (FMI), que detém todos os dados das balanças de 
pagamentos, dada sua função de controle do equilíbrio monetário e cambial. O parecer do 
FMI não é vinculante, nem quanto ao efetivo problema nem tampouco no que toca às 
medidas sugeridas, mas é dotado de clara força política. 
 A adoção de tal medida unilateral em caráter emergencial é rara e sua 
eficácia, transitória. Sua continuidade depende de aprovação da OMC. 
 
 e. Exceção fundamentada em medida de segurança econômica (artigo XIX): em 
certos casos, autoriza-se a imposição de salvaguardas. Verifica-se que, em dado setor 
econômico, em virtude do forte incremento da importação, há um risco àsua existência e 
continuidade. 
 Nessas situações, seria possível adotar medidas setoriais emergenciais - 
que não excepcionam a cláusula de nação mais favorecida ou do tratamento nacional - 
mas permitem aumentar a tarifa acima daquela consolidada na OMI ou estabelecer 
medidas quantitativas. 
 Tanto a medida fundamentada na balança de pagamento quanto esta, 
motivada por riscos a setores econômicos, são gerais e não se dirigem a um país em 
específico. 
 
 f. Exceções em matéria de desenvolvimento: em cada aspecto do GATT/OMC, há 
um tratamento diferenciado para países em desenvolvimento. 
 É importante observar: 
 A mudança profunda na percepção do desenvolvimento. Na 
década de 1960, instituíram-se exceções temporárias a favor da 
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industrialização nascente, eis que se pensava o desenvolvimento 
como o grau de industrialização de uma país. Todavia, 
identificou-se que um grupo de países sensíveis ou frágeis 
precisava de auxílio permanente, passando-se a pensar o 
desenvolvimento como desenvolvimento social, maior proteção 
social à população. 
 Que as questões de desenvolvimento atingem todos os aspectos 
da OMC. Quem define se um Estado é ou não desenvolvido é 
ele próprio (autodeclararão). 
 
VI. DEFESA COMERCIAL 
 A defesa comercial é distinta da exceção. É um mecanismo que visa a 
evitar que os países atuem contra o livre comércio. Assim, faz-se uma defesa comercial 
contra um ataque. São, portanto, instrumentos conferidos ao Estado para correção do 
mercado ante medidas de dumping e subsídios irregulares de outros Estados. 
 Na defesa comercial há um Estado que atua contra as regras co comercio 
internacional e, portanto, o outro Estado - que faz a defesa comercial - propõe medidas 
corretivas: (i) subsídios e (ii) anti-dumping. 
 O país atacado institucionaliza as medidas conforme sua avaliação e 
procedimento, mas de acordo com os padrões da OMC. No Brasil, o DECOM6 
(vinculado ao SEDEX7, órgão do Ministério do Desenvolvimento e Comércio Exterior) 
avalia a situação de acordo com os padrões da OMC. Há manifestação do outro Estado e 
de possíveis interessados, efetivando-se o contraditório para a adoção de uma medida 
orientada. É possível a efetivação de medidas provisionais, caso a situação for 
particularmente grave, sem a manifestação de todos. Após essa investigação nacional, tais 
medidas podem se tornar definitivas ou pode haver acordo de preços com o Estado 
"infrator". 
 
6 O DECOM também avalia a imposição de salvaguardas, mantendo-se estas como mecanismos de exceção 
e não de defesa comercial. 
7 Secretaria de Comércio Exterior. 
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 Impende ressaltar, nesse sentido, que não é a OMC que impõe medidas 
anti-dumping. No entanto, ela pode ser incitada a manifestar seu parecer sobre a 
proporcionalidade e razoabilidade de tal medida. 
 
 a. DUMPING: em situações de superprodução, é normal a venda do produto a 
qualquer preço, inclusive abaixo de seu valor de custo. O dumping não é necessariamente 
uma prática predatória visando à destruição da concorrência. Basta a prática, neste caso, 
não sendo essencial a vontade de prejudicar os concorrentes no mercado. 
 Elementos do tipo dumping: 
 Preço baixo. Na terminologia da OMC, é um preço inferior 
ao praticado no mercado interno, já deduzidos todos os 
impostos; 
 Prejuízo setorial no país exportador; 
 Existência de nexo causal entre tais fatos, sendo irrelevante a 
prática predatória. 
 Deve-se pensar que nem sempre há mercado interno de um bem que se 
exporta8, restando impossibilitada a aplicação dessa regra, ou que no mercado interno 
pode o preço do bem seja fixado pelo Estado (preço público), não se sujeitando às 
condições do mercado. Nestes casos, há outros critérios: 
 Preço do bem em outros mercados internos (sobretudo em 
países que apresentem processos produtivos similares); 
 Análise da estrutura de custos (de modo que se saiba a 
produção é muito eficiente, por exemplo, ou há dumping de 
fato). 
 As medidas anti-dumping objetivam corrigir os preços. 
 
8 Exemplo: carne de cavalo no Brasil. É exportada, mas seu consumo nacional é proibido. 
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 Devem ser estritamente proporcionais: devem se limitar à 
correção do valor dos preços. Senão, caracteriza-se proteção 
ao mercado nacional. Exemplo: ferro elétrico chinês (Se o 
preço interno é de 10 USD e o preço de exportação é de 9 
USD, pode-se aplicar uma sobretaxa unitária de 1 USD ou 
tarifa de importação de aproximadamente 10%, mas não 
mais). 
 Não devem ter caráter indenizatório: Não podem gerar 
compensação de um preço já praticado em períodos 
anteriores à adoção da medida. 
 O Brasil apresenta, atualmente, 88 medidas de defesa comercial. 87 delas 
são de anti-dumping, sendo a maioria relacionada ao mercado de insumos (produtos 
químicos, tecidos, tintas, etc.). A adoção de tais medidas compromete a própria 
competitividade dos bens nacionais, eis que, o maior preço dos insumos, gera o maior 
custo dos produtos brasileiros exportados. 
 Os países que mais sofrem com tais medidas: a China (600/2600 medidas 
anti-dumping), o Japão, a Coreia do Sul e Taiwan. Os países que mais as aplicam? Índia, 
Estados Unidos e a União Europeia. 
 
 b. SUBSÍDIOS: A ideia geral é que o Estado pode utilizar-se de subsídios no 
desenvolvimento de suas políticas econômicas, o que não se considera um mal em si à 
sistemática da OMC. Pelo contrário, os subsídios são parte da vida econômica de 
qualquer país. 
 Em regra, portanto, é visto como algo razoável. Entretanto, identificam-se 
subsídios proibidos, sempre vedados, e subsídios "acionáveis", podendo ser proibidos a 
depender de seus efeitos. 
 O núcleo da instituto do subsídio: 
(i) incentivo ou auxílio; 
18 
 
 
(ii) econômico-financeiro: auxílio que pode ser descrito em termos 
pecuniários (oferecimento de uma linha de crédito preferencial, 
redução da carga tributária, tarifa especial de energia elétrica; 
concessão de propriedade pública). Não é auxílio, nesse sentido, 
melhorias de infraestrutura. 
 Por ter natureza regulatória (redução de tributos, 
e.g.) ou ser concedido diretamente (redução dos juros, e. g.). 
(iii) conferido pelo Estado: pode ser governamental - concedido 
pela administração direta - ou ser conferido por sociedades de 
economia mista, empresas públicas, etc., no exercício de suas 
atividades (Petrobras, Banco do Brasil,...). 
(iv) Específico: a especificidade se identifica pelo direcionamento a 
um setor da economia. Na sistemática da OMC, um incentivo 
econômico geral não se considera subsídio, sendo essencial seu 
caráter setorial. 
 Conhecendo tais conceitos, tem-se os subsídios proibidos a partir de dois 
requisitos de quota mínima: 
a) Exportação: vinculação da oferta do benefício financeiro a 
um requisito de quantidade ou parcela da produção que é 
exportada => Não é um subsídio relacionado ao 
desenvolvimento do setor, mas voltado a incentivar a 
redução dos preços dos produtos nacionais no mercado 
internacional. 
b) Conteúdo nacional: auxílio vinculado ao favorecimento de 
produtos que se utilizem de insumos nacionais em sua 
produção => Apresenta, indiretamente, uma barreira à 
importação de insumos estrangeiros. 
 Por outro lado, os subsídios "acionáveis" são aqueles que causam 
prejuízo a um determinado setor da economia nacional. É dizer, não é desde logo 
19 
 
 
proibido, depende da comprovação do nexo causal entre ele e os efeitos prejudiciais ao 
setor econômico. 
 Do exposto, vê-se que é mais difícil identificar os elementos que 
caracterizam o dumping, de modo a aplicar medidas anti-dumping, do que subsídios 
proibidos ou acionáveis, que autorizem a adoção de medidas compensatórias por parte do 
Estado lesado. 
 
 
[TEMA 4] 
FUNDO MONETÁRIO INTERNACIONAL E BANCO MUNDIALI. HISTÓRICO INSTITUCIONAL: AS CONFERÊNCIAS DE BRETTON WOODS (1944) 
 Nas Instituições de Bretton Woods (1944), os Estados reunidos 
expressaram sua preocupação no que tocava à relação entre crises econômicas e guerras, 
mediadas por instabilidades políticas. Mais especificamente, trataram da questão da 
guerra cambial, fenômeno em que um Estado depreciava a relação de cambio para que, 
reduzindo o valor de seus produtos no comércio internacional, pudesse ocupar mais 
nichos de mercado. 
 Ao mesmo tempo, no período entreguerras, rompe-se com o sistema 
comercial britânico como regulador da economia mundial e com a libra esterlina 
lastreada em ouro. Ou seja, não havia mais um sistema nacional a fundamentar o sistema 
econômico internacional. 
 Dado tal quadro, decide-se pela criação de um sistema econômico 
internacional. Nesse sistema, o Fundo Monetário Internacional (FMI) teria como função a 
manutenção da estabilidade cambial, admitindo-se esta como base necessária pra o 
comércio e a prosperidade dos Estados. 
20 
 
 
 Nas Conferências de Bretton Woods (1944), no que toca à criação desse 
sistema, houve o embate teórico de dois grandes economistas: 
 Lord John M. Keynes (ING): o sistema internacional 
deveria criar a possibilidade de intervenção 
macroeconômica, que fosse capaz de promover políticas 
anti-cíclicas para reverter situações depressivas. 
 Harry D. White (EUA): o sistema internacional ter como 
foco a estabilidade cambial, inclusive com adoção do 
padrão-ouro e relação cambial fixa entre as principais 
moedas. 
 De tal embate, saiu vitoriosa a posição de Harry White. Nesse sistema, 
estabeleceram-se duas instituições: o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional. 
 
II. FUNDO MONETÁRIO INTERNACIONAL (FMI) 
 A. HISTÓRICO 
 O FMI pode ter sua atuação divida em suas fases: 
 1944-1976: (i) Institui-se a relação fixa de câmbio 
conjugada com o lastreamento em ouro das moedas. Esta 
sistemática limita a flutuação cambial mas gera problemas 
nas balanças de pagamento; (ii) Disponibilidade de crédito 
para corrigir as balanças de pagamento. Assim, não é mais 
necessário utilizar-se de mecanismos cambiais para corrigir 
desequilíbrios de balanças de pagamentos. 
 Em 1969, a França tira o franco da cesta de 
paridade fixa. Em 1971, os Estados Unidos faz o mesmo, o 
que desestrutura e inviabiliza a continuidade desta 
sistemática. 
21 
 
 
 1976 - Atualidade (Reforma): (i) Supervisão 
macroeconômica9, inclusive com sugestão em matéria 
cambial. Aumenta-se a transparência e a previsibilidade 
de crises; (ii) assistência técnica aos Estados; (iii) 
Disponibilidade de crédito para correção de 
desequilíbrios na balança de pagamento. 
 B. FUNCIONAMENTO 
 O Fundo Monetário Internacional é uma organização internacional 
composta por 188 Estados-membros, sendo presidida atualmente pela francesa Christine 
Lagarde. Sua sede está em Washington D.C. 
 É composto por um Conselho de Governadores - integrado por todos os 
188 membros e que se reúne anualmente - e por um Conselho de Diretores - formado por 
24 diretores. 
 Tanto no Conselho de Governadores quanto no de Diretores, o voto é 
proporcional às quotas de que o Estado é titular no Fundo. 
 De acordo com seu estatuto, 5,5% das quotas são divididas entre todos os 
Estados-membros e os outros 94,5% são distribuídas de acordo com o quantum aportado 
pelos Estados ao Fundo10. 
 No Conselho de Diretores, seis dos diretores são indicados pelos principais 
países em participação (EUA, JPN, ALE, UK, FRA; ITA). Os demais 18 diretores 
representam de 2 a 22 Estados cada e votam de acordo com as quotas que esses países 
representam. 
 
 C. CRÍTICA 
 O FMI condiciona empréstimos a possibilidade de solvência dos Estados. 
Assim, ao exigir solvência, acaba por influenciar a política macroeconômica destes. É 
 
9 Instituiu-se um sistema de informação muito eficiente, com a adoção de normas e padrões para que os 
Estados analisem seus dados econômicos. Aumenta-se, assim, a transparência e a previsibilidade de crises. 
10 Segundo o professor, os Estados Unidos detém aproximadamente 17% das quotas do FMI. O Brasil, por 
sua vez, é titular de 1,7%. Os últimos 160 países detém aproximadamente 32%. 
22 
 
 
dizer, para receber recursos, o país se submete a seguir determinadas regras e 
instrumentos econômicos ortodoxos e recessivos, de contenção econômica. 
 Desta maneira, diz a crítica, aumenta-se o poder dos países desenvolvidos 
sobre aqueles mais pobres e dependentes. 
 Sem embargo, atualmente, os principais devedores do Fundo são europeus 
e os países em desenvolvimento ocupam posições intermediárias nas tomadas de decisão. 
 
III. BANCO MUNDIAL 
 O Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD), 
junto à Associação Internacional do Desenvolvimento, forma o Banco Mundial. 
 O Banco Mundial é formado de 188 Estados-membros e tem sede em 
Washington D.C. Sua estrutura orgânica é similar ao do FMI, também sendo composto 
por um Conselho de Governadores e um Conselho de Diretores. Seu presidente é o 
coreano Jim Yong Kim. 
 Sua principal função é o financiamento de projetos de reconstrução e 
desenvolvimento. 
 De 1944 a 1970, verificou-se uma atuação tímida do Banco Mundial. Na 
década de 1970, os empréstimos se verteram para países em desenvolvimento, 
direcionados principalmente a projetos de infraestrutura. 
 Na década de 1980, com a crise e a estagnação dos países desenvolvidos, 
houve redução do fluxo de empréstimos e o aumento das exigências e condicionamentos 
para sua concessão. Ademais, o Banco aumentou sua preocupação com o escalonamento 
do projeto (liberação escalonada dos recursos de acordo com o cumprimento das fases do 
projeto). 
 Na década de 1990, o Banco instituiu a exigência de que os projetos 
financiados se vinculassem ao cumprimento das Metas do Milênio (ONU). 
 A visão do desenvolvimento como crescimento econômico (aumento do 
PIB e do PIB per capita) (décadas de 1950 e 1960), como industrialização (década de 
23 
 
 
1970) e como desenvolvimento social e ambiental (IDH e sustentabilidade) adentraram as 
condicionalidades que se integravam nos acordos de financiamento. 
 Assim, atualmente, os projetos financiáveis se vincular e atender a metas 
sociais e ambientais, tais como: a redução da pobreza e da descriminação de gênero; 
melhorias na saúde (redução das epidemias, programas de prevenção ao HIV, aumento da 
expectativa de vida) e na educação; sustentabilidade ambiental, etc. 
 Os financiamentos podem se destinar aos Estados - inclusive a pessoas 
jurídicas de direito público interno (estados, municípios, autarquias, etc.) - e também a 
agentes privados.

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