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UVA – Curso de Engenharia Civil - Materiais de Construção Civil I – Madeiras. 1/20 Prof. Caio Sander A. Portella MADEIRA E SEUS DERIVADOS NA CONSTRUÇÃO CIVIL A madeira é um material orgânico, de origem vegetal, extraído do caule (tronco) de árvores, encontrada tanto em florestas naturais quanto em florestas artificiais resultantes de reflorestamentos industrializados. Sua fonte é abundante e renovável. O emprego da madeira como material de construção civil remonta desde os primórdios da civilização. Atualmente, a madeira vem sendo explorada racionalmente nas florestas nativas, através de manejo sustentável a fim de manter a sua preservação. O cultivo intensivo de espécies de plantas destinadas à produção comercial de madeira se expande em todo o mundo, principalmente em países onde já não existem florestas a serem exploradas. A madeira se apresenta como excepcional material de construção e como matéria-prima industrial de múltiplo aproveitamento. FINALIDADES E USOS DA MADEIRA E SEUS DERIVADOS - Elementos estruturais de edificações como pilares, vigas, pavimentos e paredes em madeira; - Estruturas de coberturas de edificações (trama, tesouras e treliça); - Paredes e painéis divisórios; - Esquadrias: portas, janelas, portões e claraboias; - Forros de teto e pisos de edificações; - Armários e móveis; - Cimbramentos e formas para concreto; - Estrado para deck de piscina; - Revestimento de paredes. VANTAGENS CARACTERÍSTICAS DA MADEIRA - Apresenta boa resistência mecânica à tração e à compressão, com reduzido peso próprio; - Resistência a altos impactos; - Absorção acústica; - Isolante dielétrico e baixa condutibilidade térmica; - Não apresenta deformações significativas quando submetida a altas temperaturas; - Em seu estado natural apresenta diversos padrões estéticos e de qualidade; - Facilidade de beneficiamento: cortes, entalhamento, sambladuras, polimento e ligações, com utilização desde ferramentas simples a mecanizadas, podendo ser reutilizada. - Custo relativamente reduzido; - Material renovável com baixo consumo de energia na sua obtenção e reciclável. CARACTERÍSTICAS DESFAVORÁVEIS À MADEIRA - Material anisotrópico, pois apresenta heterogeneidade na sua estrutura e variações nas propriedades mecânicas nos sentidos transversal e longitudinal; - Resistência unidirecional; - Susceptível à decomposição biológica (ao apodrecimento); - Sujeita ao ataque de pragas (cupins e brocas); - Ser um material de combustível, apesar de ser péssimo condutor de calor; - Apresenta elevada higroscopicidade na maioria das espécies; - Apresenta-se sob formas limitadas: alongadas e de seção reta transversal reduzida; - É um material de produção demorada. UVA – Curso de Engenharia Civil - Materiais de Construção Civil I – Madeiras. 2/20 Prof. Caio Sander A. Portella FISIOLOGIA BÁSICA DA MADEIRA O crescimento das árvores ocorre em dois sentidos: - Em Altura: crescimento primário ou crescimento apical. - Em diâmetro: crescimento secundário, onde a árvore aumenta em diâmetro “de fora para dentro” (processo exogênico), isto é, o crescimento ocorre com a adição de camadas externas, na região do câmbio. A madeira apresenta três componentes orgânicos principais, que são: celulose, hemicelulose e lignina. A participação de cada um desses elementos varia de acordo com a classificação botânica da árvore. A estrutura interna do tronco de uma árvore é composta, do exterior para o centro, pelas seguintes camadas: Casca: A casca é a região mais externa do tronco que protege a árvore de fatores e agentes externos e retém a umidade durante períodos secos. A parte mais externa da casca é denominada de cortiça e a mais interna de Líber ou Floema. Tem a função fisiológica de servir de veículo de condução da seiva elaborada do tronco para as folhas. Câmbio: O câmbio é constituído por uma fina camada, quase invisível, constituída por células em permanente transformação, onde ocorre a transformação da seiva elaborada (açúcares e amidos) em lignina e celulose, principais constituintes do tecido lenhoso, e responsável pelo crescimento transversal da árvore pela adição de novas camadas concêntricas e periféricas denominadas de anéis de crescimento. Lenho ou Xilema: Constitui-se na porção maior da árvore, responsável pala sua sustentação e resistência, é a parte útil do tronco de uma árvore. É formado por duas camadas: o alburno e o cerne. Alburno – camada mais externa do lenho de cor mais clara, formada por células vivas. Apresenta menor dureza, menor resistência mecânica e menor durabilidade, sendo mais susceptível ao ataque de insetos. Portanto quase sem uso como material de construção. Cerne – camada mais interna do lenho formado por células mortas, resultante da alteração do alburno que tiveram suas células impregnadas de taninos, ligninas e materiais corantes. Apresentando-se com elevada dureza, resistência e compacidade, constituindo-se na parte mais nobre do tronco da árvore para utilização comercial e industrial. Raios medulares: Os raios medulares são vasos de células lenhosas (vasos medulares) que se desenvolvem no sentido radial ligando as diversas camadas do tronco fazendo, além de uma amarração natural dessas camadas, o transporte da seiva para elas. Medula: A Medula consiste no miolo central da seção transversal, formado por tecido mole, esponjoso e algumas vezes apodrecido, sem muita resistência mecânica nem durabilidade UVA – Curso de Engenharia Civil - Materiais de Construção Civil I – Madeiras. 3/20 Prof. Caio Sander A. Portella CARACTERÍSTICAS E PROPRIEDADES DA MADEIRA Uma das principais características da madeira é de ser um material anisotrópico, ou seja, possui diferentes propriedades em relação aos diversos planos ou direções perpendiculares entre si, não guardando simetria de propriedades em torno de qualquer eixo. Esta característica é responsável pelos diferentes comportamentos da madeira de acordo com a direção de aplicação da carga em relação às fibras. Outra característica importante é a sua heterogeneidade devido à grande variabilidade de suas propriedades nas diferentes espécies disponíveis no mercado. Portanto, devido à heterogeneidade e anisotropia das madeiras, suas propriedades físicas e mecânicas variam, tanto de espécie para espécie como dentro da própria espécie. Essa variação das propriedades se verifica em função de vários fatores que influenciam as propriedades da madeira: - A Classificação botânica: espécie e a variedade vegetal; - As condições climáticas locais: temperatura, chuvas, umidade do ar, insolação, etc. - A composição e umidade do solo; - A densidade do povoamento da flora; - Posição da árvore em relação à floresta; - Peculiaridades do manejo aplicado à floresta; - Idade da árvore: espessura das camadas de crescimento, geometria dos anéis, quantidade de nós e de fibras reversas; - Da parte em que as peças foram extraídas do lenho; - Posição da peça em relação à altura e ao diâmetro da árvore; - Presença de defeitos na peça; - Processo de beneficiamento da madeira; - Amostragem adotada para a caracterização; PROPRIEDADES FÍSICAS DA MADEIRA O conhecimento das propriedades físicas e mecânicas das madeiras é fundamental para definir as aplicações e emprego da madeira de forma mais convenientes, com segurança, economia e durabilidade. 1. Teor de Umidade Enquanto a árvore estiver viva, a seiva bruta, constituída de água e sais minerais, sobe das raízes até as folhas através do xilema (lenho). Já a seiva elaborada desce pelo floema da folha até o caule e raízes. A seiva elaborada penetra radialmente na madeira pelos raios medulares. A seiva contida nas cavidades das células e vasos é considerada como água livre, isto é, que pode circular livremente sem afetar a forma e dimensões da madeira. Além da água livre, há na madeira água impregnada contida nasparedes celulares. Quando a árvore é cortada, ela tende a perder rapidamente a água livre existente em seu interior para, a seguir, perder a água de impregnação mais lentamente. A umidade na madeira tende a um equilíbrio com a umidade do ambiente em que se encontra. O Teor de Umidade é a quantidade de água existente em uma porção da madeira expressa percentualmente em função do peso seco dessa porção. A determinação do teor de umidade da madeira é regida pela norma brasileira ABNT NBR 7190:1997 – Projeto de estruturas de madeira. Onde: mi = massa inicial da amostra ms = massa da madeira seca UVA – Curso de Engenharia Civil - Materiais de Construção Civil I – Madeiras. 4/20 Prof. Caio Sander A. Portella O Teor de umidade da madeira pode também ser avaliado de forma rápida e com boa aproximação através de medidores elétricos específicos. A madeira das árvores recém-cortadas apresenta elevado teor de umidade relacionado diretamente com a sua fisiologia (água presente nas seivas bruta e elaborada), denominada de madeira “verde” ou saturada, com teor de umidade superior a 30%, podendo conter até 70%, dependendo da espécie. Quando exposta ao meio ambiente perde água continuamente, inicialmente a água livre (de capilaridade). A norma brasileira ABNT NBR 7190:1997 – Projeto de estruturas de madeira, estabelece que a madeira alcança o seu Ponto de Saturação (PS) quando atinge cerca de 25% de umidade. O Ponto de Saturação correspondente ao mínimo de água livre e ao máximo de água de impregnação. A perda de água na madeira até o ponto de saturação das fibras se dá sem a ocorrência de problemas para a estrutura da madeira. A partir deste ponto a perda de umidade é acompanhada pela retração (redução das dimensões) e aumento da resistência, por isso a secagem deve ser executada com cuidado para se evitarem problemas na madeira. A partir do Ponto de Saturação (PS), a perda de água ocorre mais lentamente até alcançar a Umidade de Equilíbrio (UE) quando chega a 12% na temperatura de 20°C e umidade relativa do ar de 65%. Para fins de aplicação estrutural da madeira e para classificação de espécies, utiliza-se a UE de 12% como referência para a realização de ensaios e valores de resistência nos cálculos. A perda de água na madeira até o ponto de saturação (PS) das fibras se dá sem a ocorrência de problemas para a estrutura da madeira. A partir deste ponto a perda de umidade é acompanhada pela retração (redução das dimensões) e aumento da resistência, por isso a secagem deve ser executada com cuidado para se evitarem problemas na madeira. A madeira é comercializada como seca ao ar quando o teor de umidade se situa entre 12% e 18%, a depender da espécie. Utilizando-se de estufa, esta umidade pode ainda ser reduzida de modo a atender a alguma destinação específica. Com o tempo, a madeira tende a reduzir a sua umidade desde que protegida de umidade externa. O projeto das estruturas de madeira deve ser feito admitindo-se uma das classes de umidade, de acordo com a ABNT NBR 7190:1997. As classes de umidade têm por finalidade ajustar as propriedades de resistência e de rigidez da madeira em função das condições ambientais onde permanecerão as estruturas. Estas classes também podem ser utilizadas para a escolha de métodos de tratamentos preservativos das madeiras. Razões da secagem da madeira antes do seu beneficiamento: - Redução da sua densidade, reduzindo custo no transporte – menor peso por volume; - Redução da movimentação dimensional – Retração/inchamento, com desempenho mais adequado na obtenção e confecção de peças de madeira e seus derivados; UVA – Curso de Engenharia Civil - Materiais de Construção Civil I – Madeiras. 5/20 Prof. Caio Sander A. Portella - Possibilidade de melhor desempenho de acabamentos com tintas, vernizes e produtos de proteção; - Redução da probabilidade de ataques de fungos; - Aumento da eficácia da impregnação da madeira contra a demanda biológica; - Aumento dos valores correspondentes às propriedades mecânicas. A madeira, portanto, é constituída por fibras de paredes celulósicas hidrófilas, ou seja, possui a tendência de absorver água em ambientes de elevado teor de umidade e de perder água em ambientes mais secos, podendo acarretar mudanças no seu comportamento físico e nas suas propriedades mecânicas, na durabilidade e trabalhabilidade. Assim sendo, a madeira, após secagem, deve ser protegida por sistema de selagem ou impermeabilização. 2. Retratilidade e dilatação Define-se retratibilidade como sendo a redução das dimensões em uma peça da madeira pela saída da água de impregnação. Portanto, a retratilidade consiste na contração (retração) da madeira, enquanto que a dilatação consiste no seu inchamento. Esta variação dimensional da madeira (alteração das dimensões e volume) é provocada pela diminuição ou aumento da quantidade de água de impregnação que provoca a aproximação ou afastamento das cadeias de celulose e das microfibrilas. A diminuição ou aumento da quantidade de água de impregnação provoca aproximação ou afastamento das cadeias de celulose e ou das microfibrilas e a variação correspondente nas dimensões da madeira, usualmente designada como retração ou inchamento (dilatação). A retratibilidade e a dilatação (inchamento) são um fenômeno ligado à variação dimensional da madeira, devido a troca de umidade do material com o meio que o envolve, até que o equilíbrio higroscópio seja atingido. A resposta da madeira em relação à retratibilidade e ao inchamento tem grande diferença entre as espécies e o volume da madeira pode variar de 0% a 28%. Dadas às condições de formação da madeira, sua estrutura molecular e anatômica resultante, a madeira é um material anisotrópico, isto é, apresenta heterogeneidade na sua estrutura e variações nas propriedades mecânicas nos sentidos transversal e longitudinal (ortotropia). Este fenômeno refere-se às três direções principais: axial (ou longitudinal), radial e tangencial. A seção transversal pode ser vista ao observar a extremidade de uma tora de madeira. Neste plano, os anéis de crescimento aparecem aproximadamente como circunferências (ou arcos de circunferências) concêntricas, e os raios são vistos como linhas normais aos anéis. O plano radial é gerado ao cortar uma tora segundo a orientação de um raio (ou seja, de maneira perpendicular aos anéis de crescimento). Nesta superfície, os anéis aparecem como um conjunto de linhas paralelas. Os raios podem igualmente ser observados como pequenas manchas. Por último, como o próprio nome sugere, a seção tangencial refere-se à superfície que tangencia os anéis de crescimento, com orientação normal aos raios. UVA – Curso de Engenharia Civil - Materiais de Construção Civil I – Madeiras. 6/20 Prof. Caio Sander A. Portella Por esta razão, as retrações ocorrem em diferentes proporções: 1) Retração tangencial: ocorre com valores da ordem de até 10% de variação dimensional, podendo causar também problemas de torção nas peças de madeira; 2) Retração radial: ocorre com valores de até 6% de variação dimensional, podendo causar problemas de rachaduras nas peças de madeira; 3) Retração longitudinal: com valores da ordem de 0,5% de variação dimensional; Um processo inverso também pode ocorrer, o inchamento, que se dá quando a madeira fica exposta a condições de alta umidade onde ao invés de perder água ela absorve, provocando um aumento nas dimensões das peças. Esta propriedade verifica-se no inchamento das esquadrias de madeira com deficiência de impermeabilização (selamento), emperrando a sua movimentação, ocorrendo nas estações úmidas. A norma ABNT NBR 7190:1997 disciplina os ensaios para estudo da estabilidade dimensional da madeira. Direção Retração total (%) Longitudinal 0,1 a 0,9 Radial 2,4 a 11,0 Tangencial 3,5 a 15,0 Volumétrico 6,0 a 27,0 As espécies com baixa relação T/R (retraçãotangencial/retração radial) e baixos valores absolutos de T e R são as de melhor estabilidade dimensional. 2. Densidade de massa da madeira Densidade Real: é determinada pela razão entre a massa da madeira contida na amostra e o volume efetivamente ocupado por ela, descontados os vazios internos da madeira ocupados pela água e pelo ar. A norma brasileira apresenta duas definições de densidade a serem utilizadas em estruturas de madeira: Densidade básica: massa especifica convencional obtida pelo quociente da massa seca pelo volume saturado e pode ser usada para fins de comparação com valores apresentados na literatura internacional. A massa seca é determinada mantendo-se os corpos-de-prova em estufa a 103°C até que a massa do corpo-de-prova permaneça constante. O volume saturado é determinado em corpos-de-prova submersos em água até atingirem peso constante. Onde: ms é a massa seca da madeira, em quilogramas; Vsat é o volume da madeira saturada, em metros cúbicos. UVA – Curso de Engenharia Civil - Materiais de Construção Civil I – Madeiras. 7/20 Prof. Caio Sander A. Portella Densidade aparente: definida pela razão entre a massa específica convencional e o volume de amostra com teor de umidade padrão de referência de 12%. As madeiras, quanto à sua densidade aparente, podem ser genericamente classificadas como: Classificação Densidade aparente Espécies Muito leves < 500 kg/m³ Virola, Mulungú, Assacú, Paineira, Pau-de-Jangada. Leves 500 a 800 kg/m³ Cedro, Mogno, Pinho, Louro, Jequitibá, Cerejeira. Pesadas 800 a 1000 kg/m³ Angelim, Sucupira, Eucalipto, Canela, Jatobá, Jacarandá. Muito Pesadas 1000 kg/m³ Aroeira, Gonçalo Alves, Ipê, Massaranduba, Pau-Ferro. 3. Condutibilidade térmica A madeira é um mau condutor térmico, a sua condutiblilidade térmica varia segundo a espécie, a idade, o seu teor de umidade e a direção. 4. Condutibilidade Elétrica A madeira seca constitui um bom isolante elétrico, sendo crescente com a massa especifica. 5. Propriedades mecânicas As propriedades mecânicas são as responsáveis pela resposta da madeira quando solicitada por esforços e forças externas. Estas propriedades são analisadas segundo duas direções: paralela e normal às fibras. 1) Resistência à compressão Compressão paralela: as forças agem paralelamente às fibras, àdireção longitudinal (axial), ou seja,à direção dos elementos anatômicos responsáveis pela resistência. Desta forma, as células, em conjunto, conferem uma grande resistência à madeira na compressão (Caso A). Compressão normal: comprime as células da madeira perpendicularmente ao eixo longitudinal, apresentando valores de resistência menores que os de compressão paralela, pois a força é aplicada na direção perpendicular ao comprimento das fibras, provocando esmagamento. Os valores de resistência à compressão normal às fibras são da ordem de 1/4 dos valores apresentados pela madeira na compressão paralela (caso B). Para as solicitações inclinadas, adota-se valores intermediários entre a compressão pararela e a normal. Na prática, não é possível fazer distinção entre as direções radial e tangencial. 2) Resistência à tração Nas peças de madeira podem ocorrer: tração paralela ou tração perpendicular às fibras. A ruptura por tração paralela às fibras pode ocorrer por deslizamento entre as fibras ou ruptura de suas paredes (A). Nos dois casos, a deformação é baixa e a resistência é elevada. Na tração normal, a madeira apresenta baixa resistência, pois os esforços atuam na direção perpendicular às fibras, tendendo a separá-las, com pequenas deformações (B). Assim, os projetos devem ser evitar situações que conduzam a tal solicitação. A B UVA – Curso de Engenharia Civil - Materiais de Construção Civil I – Madeiras. 8/20 Prof. Caio Sander A. Portella 3) Cisalhamento A direção do plano de atuação das tensões de cisalhamento tem influência direta na resistência da madeira para esse tipo de solicitação. ‒ Quando o plano das tensões de cisalhamento é perpendicular às fibras (A), a madeira apresenta alta resistência pelo fato de a ruptura implicar cisalhamento desses elementos. ‒ Quando o plano das tensões de cisalhamento é paralelo às fibras: a) Quando a direção das tensões coincide com a direção das fibras (tangencial), o cisalhamento é horizontal (B). b) Se a direção é perpendicular (Radial), os elementos tendem a rolar uns sobre os outros (C). A B C 4) Flexão Simples Quando a madeira é solicitada à flexão simples, ocorrem quatro tipos de esforços: compressão paralela às fibras, tração paralela às fibras, cisalhamento horizontal e, nas regiões dos apoios, compressão normal às fibras. A ruptura em peças de madeira solicitadas à flexão ocorre pela formação de minúsculas falhas de compressão seguidas pelo desenvolvimento de enrugamentos de compressão macroscópicos. Esse fenômeno gera o aumento da área comprimida na seção e a redução da área tracionada, o que pode levar à ruptura por tração. 5) Resistência ao impacto Capacidade do material de absorver rapidamente energia pela deformação, sendo a madeira um excelente material. Importante na aplicação da madeira em corrimão e guarda-corpo, equipamentos esportivos, carrocerias de veículo, etc. 6) Resistência à torção Propriedades muito pouco conhecidas. A norma brasileira recomenda evitar a torção em peças de madeira, devido ao risco de ruptura por tração normal às fibras. FATORES QUE INFLUENCIAM AS PROPRIEDADES DA MADEIRA 1. Fatores anatômicos Densidade: Quanto maior a densidade, maior é a quantidade de madeira por volume e como conseqüência a resistência também aumenta, ou seja, a resistência mecânica aumenta com o aumento da densidade. Inclinação das fibras: afeta a resistência da madeira a partir de certos valores. Esta inclinação descreve o desvio da orientação das fibras da madeira em relação a uma linha paralela à borda da peça, UVA – Curso de Engenharia Civil - Materiais de Construção Civil I – Madeiras. 9/20 Prof. Caio Sander A. Portella relacionada com o encurvamento do tronco e dos galhos durante o crescimento da árvore, alterando o alinhamento das fibras e podendo influenciar na resistência. Nós: reduzem a resistência da madeira pelo fato de interromperem a continuidade e direção das fibras e podem causar efeitos localizados de tensão concentrada. Os nós são originários dos galhos existentes nos troncos da madeira após a queda ou desbaste dos mesmos. A influência de um nó depende do seu tamanho, localização, forma, firmeza e do tipo de tensão considerada. No geral os nós têm maior influência na tração do que na compressão. Presença de alburno ou da medula: O alburno, conhecido “branco” que por suas próprias características físicas apresenta maior porosidade e menor densidade e resistência mecânica em comparação com o cerne do tronco (parte mais interna), mais susceptível ao ataque biológico e à degradação pelo meio ambiente (umidade e insolação). Peças com presença de alburno não pode ser utilizado estruturas de madeira. A presença da medula pode acarretar o surgimento de fissuras na peça. 2. Fatores ambientais Umidade: provocam deformações, manchas, apodrecimento e redução da resistência da madeira. Cria condições propícias à proliferação de fungos (mofo), liquens e cogumelos. Ataques biológicos: ataques por insetos e proliferação de fungos, musgos, liquens e cogumelos. 3. Fatores de utilização Processo de secagem e armazenagem das peças: São originados pela deficiência dos sistemas de secagem e armazenamento das peças. Podem ser: encanoamento, arqueamento, encurvamento e torcimento. UVA – Curso de Engenharia Civil - Materiais de Construção Civil I – Madeiras.10/20 Prof. Caio Sander A. Portella Encanoamento Arqueamento Encurvamento Torcimento Processamento da madeira: São defeitos originados na manipulação, transporte, armazenamento e desdobro da madeira, tais como arestas quebradas e variação da seção transversal. CLASSIFICAÇÕES DAS PEÇAS DE MADEIRA DE ACORDO COM A NORMA NBR 7190:1997 Primeira categoria: são peças cujas características mecânicas são iguais a, pelo menos, 85% das obtida sem pequenos corpos de prova isentos de defeitos. A madeira é de qualidade excepcional, sem nós e retilínea. Segunda categoria: apresenta características mecânicas iguais a, pelo menos, 60% dos valores correspondentes aos obtidos em ensaios com pequenos corpos de prova isentos de defeitos. A madeira é de qualidade estrutural corrente, com pequenas incidências de nós firmes e outros defeitos. Terceira categoria: madeira de qualidade estrutural inferior, com nós em ambas as faces. DURABILIDADE E DETERIORAÇÃO DA MADEIRA Devido à sua natureza biológica, a madeira está submetida a diversos mecanismos de deterioração existentes na natureza, além da sua susceptibilidade ao fogo. A durabilidade da madeira, com relação à biodeterioração, depende da espécie e das características anatômicas. Certas espécies apresentam alta resistência natural ao ataque biológico enquanto outras são bem menos resistentes. A região da tora da qual a peça de madeira foi extraída, apresentam características diferentes, pois o alburno é a parte menos resistente e mais vulnerável ao ataque biológico que o cerne. A baixa durabilidade natural de algumas espécies pode ser compensada por um tratamento preservativo adequado às peças, alcançando-se assim melhores níveis de durabilidade, próximos dos apresentados pelas espécies naturalmente resistentes. A deterioração da madeira pode ocorrer devido à ação de agentes biológicos, físicos e químicos. As peças de madeira exigem proteção contra estes agentes e a ação do meio ambiente. Deterioração fotoquímica: promovida pela radiação ultravioleta que atua principalmente sobre a lignina, causando alterações significativas na coloração da madeira e na estrutura celulósica que vai sendo destruída em camadas que são levadas pela água da chuva. Ação de poluentes: Apesar de ser inerte a muitos produtos químicos, a madeira pode sofrer a ação destruidora ao longo do tempo por ações diretas de produtos agressivos poluentes. Ação de agentes biológicos: são merecedores de maior atenção, uma vez que têm sido os causadores dos maiores prejuízos à utilização da madeira. Os principais organismos que atacam a madeira são: Fungos, Musgos, pequenos cogumelos, insetos xilófagos (usam a madeira como alimento e habitação. Ação da umidade e insolação: A variação da umidade e insolação sobre a madeira exposta ao meio ambiente provocam a degradação da madeira devido às constantes variações dimensionais. DESDOBRO DA TORA DE MADEIRA Madeira roliça A árvore após derrubada é cortada em toras a fim de serem transportadas para as serrarias. A madeira roliça é o produto com menor grau de processamento da madeira, consistindo de segmento do fuste UVA – Curso de Engenharia Civil - Materiais de Construção Civil I – Madeiras. 11/20 Prof. Caio Sander A. Portella da árvore, obtido por cortes transversais, e utilizadas após a retirada da casca e de protuberâncias causadas por remanescência de galhos, nós e defeitos. A madeira roliça é empregada na construção civil de forma temporária, em escoramentos, andaimes, postes, estacas e instalações provisórias. No meio rural, é frequentemente usada na construção de currais, estábulos, mourões, porteiras, pequenas pontes e outras edificações rurais. Madeira serrada A madeira serrada é produzida em unidades industriais (serrarias), onde as toras são processadas mecanicamente, transformando a peça originalmente cilíndrica em peças retangulares, de menor dimensão. Esta operação é denominada de desdobro da madeira e consiste no corte da madeira para diversos fins. Nesse processo a tora de madeira é descascada e serrada em peças de seção retangular com dimensões calculadas em função da sua aplicação desejada, buscando sempre o melhor aproveitamento o possível (redução máxima de perdas). As toras são serradas geralmente no sentido longitudinal, nos formatos paralelo, tangencial e radial, conforme figura a seguir, ou por combinações. Conforme as dimensões da secção transversal as peças de madeira serrada recebem algumas denominações para facilitar a sua comercialização e emprego. A madeira serrada recebe um tratamento de caráter profilático com o objetivo de protegê-la de ataques de agentes biológicos (fungos, insetos xilófagos e outros), antes de ser destinada à comercialização ou a processo subsequente de industrialização. A madeira serrada recebe denominações em função das suas dimensões, podendo variar conforme a região. DIMENSÕES DE MADEIRA SERRADA Denominação Espessura (cm) Largura (cm) Pranchão ≥ 7,5 ≥ 20 Prancha 4 a 7 ≥ 20 Viga (linha) ≥ 4 11 a 20 Vigota (barrote) 4 a 8 8 a 11 Tábua 1 a 4 ≥ 10 Sarrafo 2 a 4 2 a 10 Caibro 4 a 8 5 a 8 “Caibrinho” 2,5 a 3,5 5 Ripa 1 a 2 2 a 5 UVA – Curso de Engenharia Civil - Materiais de Construção Civil I – Madeiras. 12/20 Prof. Caio Sander A. Portella Madeira beneficiada A madeira beneficiada é obtida pela usinagem das peças de madeira serrada, agregando valor às mesmas. As operações são realizadas por equipamentos específicos (serras, plainas, tupias, fresas, tornos, respigadeira, furadeiras) que usinam a madeira dando-lhe espessura, largura e comprimento definitivos, forma e acabamento superficial. A madeira beneficiada torna-se pronta para utilização direta nas construções, tais como: forras, alizar, tacos, rodapés, assoalhos, lambris, molduras, dormentes ferroviários, colunas, etc., ou para serem usadas na fabricação de esquadrias, móveis, divisórias, escadas e outros artefatos. Madeira laminada A madeira laminada é obtida por dois processos de corte: 1) Corte contínuo: Laminação pelo processo de torneamento da tora roliça que é colocada entre as ponteiras de uma máquina semelhante um torno, onde a lâmina contínua é retirada à semelhança do desenrolar de uma bobina de papel. São destinadas à produção de chapas compensadas. 2) Corte tangencial: Laminação pelo processo de faqueamento, onde a peça roliça é cortada por uma faca afiada em movimento, produzindo fatias laminadas dividida em setores especiais para obtenção dos desenhos decorativos de melhor aparência e qualidade, destinadas a acabamentos e/ou revestimentos de móveis, armários, divisórias e artefatos de madeira. SECAGEM DA MADEIRA O processo de secagem da madeira pode ser entendido como um fenômeno natural ou inevitável, porém deve ser conduzida conforme as normas técnicas recomendadas, a fim de evitar problemas decorrentes da variação dimensional. UVA – Curso de Engenharia Civil - Materiais de Construção Civil I – Madeiras. 13/20 Prof. Caio Sander A. Portella O processo de secagem natural da madeira se dar quando a umidade tende a reduzir-se, lenta e espontaneamente até que a tora ou a madeira já desdobrada alcancem o equilíbrio higroscópico com o ar. Quando a secagem é realizada de forma controlada, efetuada em secadores e estufas, confere-se benefícios adicionais consideráveis, dentre eles: a) o período de tempo na secagem é reduzido, proporcionando um giro mais rápido do capital investido em madeira estocada; b) permite ajustar o teor de umidade da madeira de acordo com as condições climáticas do local de uso, em qualquer época do ano; c) possibilita obter teores de umidade mais baixos do que aqueles alcançados pelasecagem ao ar; d) minimiza os defeitos de secagem como rachaduras, empenamentos e encanoamentos, quando é conduzida de acordo com técnicas adequadas; e) destrói fungos e/ou insetos presentes na madeira. CLASSIFICAÇÃO COMERCIAL DAS MADEIRA Madeiras de Pinho Denominação atribuída às madeiras obtidas das diversas espécies de pinheiros do gênero Pinus. São madeiras menos nobre utilizadas na construção civil e na fabricação de móveis de menor valor monetário. Estas madeiras são, em sua grande maioria, provenientes de reflorestamentos. Madeiras de Lei Esta denominação decorre das leis que reservavam certas espécies à fabricação de embarcações e usos especiais na época do Brasil Colônia. A exploração destas madeiras necessitava de autorização da Coroa Portuguesa. Atualmente, esta denominação é atribuída às madeiras de excelente resistência mecânica e, principalmente ao ataque de insetos e umidade, duram mais que as outras espécies, geralmente utilizadas em estruturas de madeira, tais como: Ipê (Pau-d’arco), Maçaranduba, Jatobá, Aroeira (colunas/pilares), Cumaru, Angico, Gonçalo Alves (Colunas, dormentes). Madeiras nobres utilizadas em móveis e peças especiais: Mogno, Cedro, Sucupira, Jacarandá, Angelim, Cerejeira, Pau-Brasil, Imbuia, Freijó, etc. Madeira dura utilizada em esquadrias, pisos e móveis: Muiracatiara (Rajada e Vermelha), Ipê, Angelim, Jacarandá, Pau Marfim, Canela, Jatobá, Peroba, Pau Pereira, Piquiá, Louro, Gonçalo Alves, etc. Madeiras de uso comum e de baixo custo: Pinho, Eucalipto, Cedrinho, Cumaru, Andiroba, Faveiro, Eucaliptos, Angico, Tatajuba, Cupiúba, Pau-Branco, etc. Madeira “mole”: São madeiras de baixa densidade (kg/m³): Pinho, Faveiro, Mulungu, virola, Açacu, etc. As madeiras, de forma geral, podem ser classificadas quanto ao uso final em dois grupos: (1) Para uso em estruturas, onde as propriedades mecânicas são decisivas e (2) Para usos específicos, onde as peças são fornecidas em dimensões exatas para usos bem definidos. PRESERVAÇÃO DA MADEIRA Preservação de madeiras é realizada através de procedimentos ou conjunto de medidas de modo a conferir à madeira maior resistência e/ou proteção contra os agentes de degradação e deterioração, proporcionando maior durabilidade. A parte mais vulnerável a ataques de qualquer natureza é o alburno, pois é mais porosa e menos resistente. O cerne da madeira muito raramente é atacado por organismos xilófagos, mas está também sujeito à degradação pela ação do meio ambiente (raios solares, umidade e poluição), embora bem mais resistente que o alburno. https://pt.wikipedia.org/wiki/Ip%C3%AA https://pt.wikipedia.org/wiki/Andiroba UVA – Curso de Engenharia Civil - Materiais de Construção Civil I – Madeiras. 14/20 Prof. Caio Sander A. Portella Os produtos de proteção e preservação da madeira são específicos a combater ou evitar a ação de cada tipo de agente agressivo, conforme as condições de uso (finalidades) e condições de exposição. Dentre esses produtos destacam-se: - Contra a umidade: impermeabilizantes, filmes, revestimentos, pinturas, etc.; - Contra organismos vivos: venenos (fungicidas, cupinicidas, creosoto, etc.) e repelentes; - Contra Ação dos raios solares e poluentes: pinturas, filmes, vernizes, etc. Os produtos de preservação da madeira não devem oferecer risco de qualquer natureza às pessoas, à natureza e ao meio ambiente, e serem adequados a cada finalidade dada às peças de madeira. PAINÉIS INDUSTRIALIZADOS DE MADEIRA Os painéis de madeira otimizam o uso da aplicação da madeira quanto às variações e limitações dimensionais das peças maciças, ampliando a sua superfície útil, com melhor e mais eficiente aproveitamento da tora de madeira, com redução de custos, possibilitando e facilitando a fabricação de produtos de madeira. Quanto ao formato da madeira, os painéis podem ser classificados em: 1. Madeira em lâminas (sólidos): compensados multilaminados (plywood) e sarrafeados (blockboard). 2. Madeira em partículas: painéis reconstituídos – OSB e Aglomerados, 3. Madeira em Fibras: painéis compósitos de fibra de madeira e resina adesiva. PAINÉIS DE MADEIRA COMPENSADA (PMC) 1. Painéis multilaminados (plywood) O compensado multilaminados (plywood) é um painel de madeira composto de várias camadas de lâminas de madeira de pequena espessura coladas entre si por um adesivo em prensas. As camadas ou lâminas são ligadas entre si, uma sobre a outra, com resinas adesivas (colas) fortes, sob calor e pressão, formando com a direção das suas fibras das camada adjacentes ângulo de 90°. As chapas geralmente são compostas por número ímpar de lâminas (3, 5, 7 e 9) coladas entre si, possibilitando a obtenção de chapas de espessuras variadas. A disposição ortogonal alternada da direção das fibras restringe a movimentação tangencial das camadas, resultando na redução da retratibilidade e em valores similares nas duas direções do plano da chapa, assegurando boa estabilidade dimensional, além de proporcionar aumento e uniformidade das propriedades mecânica da madeira em todas as direções do plano das chapas. O tipo de resina adesiva (cola) determina o grau de resistência à umidade e aos esforços mecânicos. As chapas finas de compensado apresentam a vantagem de serem maleáveis, podendo ser encurvadas e moldadas na fabricação de móveis e diversos tipos de artefatos. https://pt.wikipedia.org/wiki/Calor https://pt.wikipedia.org/wiki/Press%C3%A3o UVA – Curso de Engenharia Civil - Materiais de Construção Civil I – Madeiras. 15/20 Prof. Caio Sander A. Portella Geralmente são utilizados três tipos de adesivos: 1) Resina de Ureia-Formaldeído (UF): resina mais barata e de baixa resistência à umidade, aplicada em chapas para uso comum na indústria moveleira e locais protegidos da umidade. 2) Resina de Melanina-Ureia-formaldeído (MUF): é uma resina intermédia quanto a resistência à umidade, podendo eventualmente receber umidade. 3) Resina Fenólica-Formaldeído (FF): Resina aplicada em chapas que necessitam mais resistência à ação da umidade, apresentando boa resistência mecânica. Comparado ao adesivo fenólico, o adesivo uréico possui um custo mais baixo; entretanto, quando exposto à umidade não garante uma resistência satisfatória. Dessa maneira, recomenda-se a utilização do adesivo fenólico para situações em que se necessite de garantia de resistência à umidade e maior durabilidade. Além de outros tipos de resinas existentes no mercado, há ainda as resinas naturais que não emitem vapores tóxicos também são utilizadas, a exemplo da Resina Poliuretano extraída do óleo de mamona. O interior do compensado (miolo) é constituído formado por camadas de lâminas coladas de madeira de inferior qualidade, sem qualquer preocupação com a aparência. As lâminas internas são, geralmente, de madeiras de inferior qualidade e aparência. Quanto ao tipo de acabamento das faces exteriores do compensado, apresentam-se três formas: 1) Ambas as faces serão receberão lâminas normal de qualquer madeira sem aparência específica, dando acabamento ao compensado de uso comum, pois serão posteriormente revestidas com pintura, verniz pigmentado ou revestimento específico (capeados e laminados de diversos materiais – “Fórmicas”, PVC, resinas, etc.) ou simplesmente utilizados com aparência natural. 2) As duas faces serão visíveis e de acabamento, recebendo lâminas de uma determinada espécie madeira com sua aparência natural. 3) Apenas uma das faces receberá aparência da madeira natural desejada, a outra face receberá lâmina normal de aparência qualquer. Padrão de identidade do compensado Conjunto de informações que identificam um compensado, contendo no mínimo os seguintes dados: a) Espécies de madeira utilizada (miolo e faces); b) Classificação pela aparência superficial (Faces); c) Tipo de uso (estrutural ou não estrutural); d) Condições deuso (externo, externo abrigado ou interno); e) Dimensões do painel de madeira compensada (comprimento, largura e espessura); f) Quantidade das lâminas que compõem o painel de madeira compensada; g) Tipo de resina adesiva de colagem (Uréica ou Fenólica). Classificação genérica dos painéis compensados multilaminados Compensado de uso geral: são de uso interno, não resistentes à umidade, com colagem em resina UF, sem qualquer aspecto decorativo, aplicado na indústria moveleira e similares. Compensado para construção civil e similares Compensado resinado: São chapas de baixa qualidade com dimensões de 1,10 m x 2,20 m e em várias espessuras. Possui amplo uso nos canteiros de obras nas diversas etapas da construção civil. Compensado para forma de concreto: São chapas boa qualidade que utilizam resina fenólico na colagem a fim de oferecer resistência à água e umidade. Com dimensões de 1,10 m x 2,20 m e em várias espessuras. UVA – Curso de Engenharia Civil - Materiais de Construção Civil I – Madeiras. 16/20 Prof. Caio Sander A. Portella Compensado plastificado para forma de concreto: Estas chapas recebem um filme de plástico para que o concreto fique com o acabamento da sua superfície lisa, denominada de “concreto aparente”. Estas chapas, por suportarem melhor a umidade, possuem bastante durabilidade, sendo reutilizadas inúmeras vezes. Suas dimensões são 1,10 m e 2,20 m, em várias espessuras. Compensado decorativo São compensados de maior valor, com acabamento em lâmina de madeira de alta qualidade e os mais variados tipos, responsável pela aparência, acabamento e qualidade do compensado. Utilizado na indústria moveleira, divisórias e revestimentos de paredes. Sobre a superfície são utilizados verniz, cera ou impermeabilizantes incolores, destinados à proteção ou realçar a aparência. Compensado industrial São chapas de superior qualidade que utilizam resina fenólica na colagem a fim de oferecer resistência à água e umidade, mas sem critério de aparência. Compensado naval O Compensado naval é um compensado multilaminado com lâminas coladas com resina fenólica resistentes à ação da água. As suas laterais devem ser totalmente fechadas, admitindo-se o uso de resina epóxi ou similar à prova d’água para fechamento do miolo. 2. Painéis compensados sarrafeados (blockboard) São compensados cujo miolo é constituído por sarrafos de madeira maciça, madeira compensada ou aglomerada, colados lado a lado, geralmente delimitado por uma grade de contorno retangular em madeira maciça, e coberto com uma chapa fina de compensado ou laminado colada sob pressão. As portas “tipo Paraná” são exemplo painel compensado sarrafeados, assim como alguns painéis de divisórias ou paredes. PAINÉIS DE RECONSTITUÍDOS DE PARTÍCULAS DE MADEIRA 1. Aglomerados O aglomerado, denominado também de MDP – (Medium Density Particleboard), é uma chapa composta por camadas de partículas de madeiras de geometria variável e sem nenhum tratamento, geralmente pinus ou eucalipto provenientes de reflorestamento, e aproveitamento de restos de beneficiamento de toras, aglutinadas com resina adesiva tipo uréica (colagem) que se consolidam sob a ação de calor e alta pressão. As chapas aglomeradas se apresentam com aparência natural ou revestidas com aplicação de lâminas de madeira natural em diversos padrões e laminados plásticos, como o laminado melamínico que se funde à madeira aglomerada formando um corpo único e inseparável por efeito da prensagem a quente. O painel aglomerado não apresenta resistência à umidade ou à água, devendo ser utilizado em ambientes internos e secos, para que suas propriedades originais não se alterem. A sua resistência mecânica é bastante inferior à dos compensados. Algumas operações como fresagem, fixações, encabeçamentos, molduras, entre outras, requerem cuidados especiais. Os dispositivos de fixação utilizados devem ser aqueles indicados para este tipo de material, sob pena de serem obtidos resultados finais negativos. Estes painéis são amplamente utilizados na construção civil, em embalagens, pela indústria moveleira (principalmente em móveis populares de baixo custo), entre outros. UVA – Curso de Engenharia Civil - Materiais de Construção Civil I – Madeiras. 17/20 Prof. Caio Sander A. Portella 2. OSB (Oriented Strand Board) – Painéis de partículas orientadas O OSB é um painel reconstituído por camadas de partículas de madeira, com comprimento que varia entre 80 mm e 150 mm e largura de 10mm a 25 mm, que são orientadas em uma mesma direção e aglutinadas com resina fenólica. Cada painel é o composto por três a cinco camadas aglutinadas com orientação alterada de 90° entre si, e então, são prensadas sob calor para sua consolidação, resultando em painéis de alta estabilidade dimensional e resistência mecânica, sendo bastante resistente à ação da água e umidade. Na construção civil, já é possível ver sua aplicação em pisos, divisórias (paredes), coberturas (telhados) e obras temporárias (tapumes e alojamentos), assim como na indústria moveleira, em embalagens, contêineres e vagões. PAINÉIS DE RECONSTITUÍDOS DE FIBRAS DE MADEIRA 1. Chapas duras ou hardboards As Chapas duras ou hardboards, cujas marcas mais conhecidas são Duratex e Eucatex, são chapas obtidas pelo processamento da madeira de eucalipto, de cor natural marrom, apresentando a face superior lisa e a inferior corrugada. As fibras de eucalipto aglutinadas com a própria lignina da madeira são prensadas a quente, por um processo úmido que reativa esse aglutinante, não necessitando a adição de resinas adesivas, formando chapas rígidas de alta densidade de massa, com espessuras que variam de 2,5 mm a 3,0 mm. São de resistência bem inferior aos demais tipos de painéis, de baixa qualidade e valor comercial. 2. MDF (Medium Density Fiberboard) O MDF, sigla formada pelas iniciais do inglês Medium Density Fiberboard, que pode ser traduzido como painel de madeira de média densidade. O MDF é um painel de fibra de madeira de média densidade, ou seja, densidade acima de 600 kg/m³ e até 800 kg/m³. UVA – Curso de Engenharia Civil - Materiais de Construção Civil I – Madeiras. 18/20 Prof. Caio Sander A. Portella O MDF é um compósito fabricado através da aglutinação de fibras finas de madeira com resinas sintéticas e outros aditivos. O material é moldado em painéis lisos sob alta temperatura e pressão. Para a obtenção das fibras, a madeira é cortada em pequenos cavacos que, em seguida, são triturados por equipamentos denominados desfibradores. As chapas de MDF são fabricadas com diferentes características, conforme a sua finalidade. Destacam- se quatro tipos: Chapas de uso comum “standard”, chapas FR (resistentes ao fogo), chapas MR (resistentes à umidade, que são usadas em ambientes externos) e chapas de maior resistência mecânica (HD). O MDF é fabricado basicamente com três acabamentos: - Chapas cruas: são fornecidas ao usuário in natura de forma que possa ser realizado o acabamento das peças através de pintura, revestimento com PVC ou outros; - Chapas com revestimento melamínico de baixa pressão: são produzidas através da sobreposição de uma folha de papel especial, impregnada com resina melamínica, que é fundida através de pressão e temperatura ao painel de MDF, resultando em uma chapa já acabada. - Chapas com revestimento finish foil: são produzidas por adição de uma película de papel colada à chapa, resultando em um produto já acabado. O revestimento finish foil (folha de acabamento) é produzido através da pintura de bobinas de papel com tintas apropriadas, pelo sistema de pintura em rotogravura ou flexogravura, podendo ser impressa em diferentes padrões madeirados ou em várias cores. As chapas de MDF Podem ser revestidas em apenas uma das faces, permitindo ao usuário usinar a face não revestida e acabá-la através de pintura, revestimento PVC ououtro tipo. LDF - Low Density Fiberboard – painel similar ao MDF de baixa densidade até 650 kg/m³. Utilizado em produtos mais simples e de perfil de baixa carga (parede painéis, mobiliário elementos com uma fraca carga. HDF - High Density Fiberboard – painel similar ao MDF de alta densidade acima de 800 kg/m³ e até 1.050 kg/m³. Utilizado em produtos mais complexos e de perfil de alta carga. PRODUTOS DE MADEIRA PARA A CONSTRUÇÃO CIVIL 1. TACO O Taco é uma peça de madeira de lei de pequenas dimensões destinado ao revestimento de piso de edificações, sem encaixes laterais tipo macho/fêmea, geralmente retangulares. A espessura das peças varia de 15 mm a 20 mm, as larguras mais comuns são 5, 7 e 10 cm, com comprimentos variáveis de 21 as 70 cm. Eventualmente são confeccionados em formatos decorativos (losango, quadrado, trapezoidal, etc.). O Taco tradicionalmente comercializado possui formato 7 x 21 cm, com espessura de 20 mm. UVA – Curso de Engenharia Civil - Materiais de Construção Civil I – Madeiras. 19/20 Prof. Caio Sander A. Portella 2. Assoalho tipo “Tábua Corrida” São tábuas em madeira de lei (Ipê, angelim, muiracatiara, sucupira, pau marfim, etc.), com espessura de 20 mm, larguras de 100, 150 e 200 mm e comprimento de 3,0 a 6,0 m, com encaixes laterais tipo macho/fêmea para união lateral das tábuas. A face inferior é dotada de sulcos a fim de acomodar variações dimensionais. 3. Parquet (parquê) São várias peças maciças unidas entre si formando placas, sem encaixes, geralmente quadrados de aproximadamente 40 x 40 cm, pré-fabricadas formadas por uma ou várias madeiras, formando variados. Sua espessura pode variar entre 8 e 18 mm. No momento da instalação, há a possibilidade de formação de diferentes desenhos. A face superior dessas placas é revestida por uma folha de papel colada a fim de manter as peças da placa unidas, mas é retirada após seu assentamento com cola específica sobre o piso, geralmente cimentado, que serve de substrato. 4. Esquadrias e seus acessórios A madeira beneficiada é matéria-prima para confecção de esquadrias: Portas, janelas, portões, claraboia, alçapão, etc., e seus acessórios: forra, alizar, taco, batedor, etc. UVA – Curso de Engenharia Civil - Materiais de Construção Civil I – Madeiras. 20/20 Prof. Caio Sander A. Portella a) Portas: São painéis destinados a fechar aberturas de passagem nas paredes das edificações entre cômodos e compartimentos de uma edificação fabricados com altura padrão de 2,10 m e larguras comerciais de 60, 70, 80, 90 e 100 cm. Os principais tipos são: Ficha externa Ficha embutida Almofada Tipo Paraná (lisa) Veneziana Treliçada b) Janelas: São painéis destinados a fechar aberturas nas paredes não destinada a passagem. RECICLAGEM DA MADEIRA A destinação dos resíduos sólidos de madeira pode ser dada das seguintes maneiras: 1. Compostagem: Fertilizante orgânico preparado a partir de restos vegetais e animais. Este processo é crescentemente utilizado em suinocultura e avicultura. 2. Resíduo Estruturante: É a utilização da serragem fina ao lodo de esgoto proveniente de Estações de Tratamento de Efluentes (ETE’s), utilizando reatores na escala de laboratório. É eficiente para biodegrabilidade do lodo de esgoto antes do processo de compostagem. 3. Uso como lenha: Consumo tradicional e histórico dessa biomassa, incluindo a utilização doméstica (lareira, fogão), fornos de padarias, cerâmicas e olarias. 4. Carvão vegetal: Utilizado quase totalmente em fornos de alvenaria conhecidos como “medas” ou “caieiras”. Não é a alternativa mais recomendável sob a perspectiva de uma visão integrada num contexto de desenvolvimento sustentável. 5. Produção de Papel: Em alguns países, restos de madeira procedentes de clareamento (madeira tratada) são usados na fabricação de pasta de papel. 6. Farinha de madeira: Obtida pelo processo de moagem das diversas aparas de madeira, e usada como matéria-prima para gerar produtos acabados ou semiacabados, para indústrias de plásticos, de fundição, de compensados, de explosivos ou de calçados.
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