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Wihelm, J - 1981 - O Que e Psicologia Pre-Natal

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1/ 50
JOANNA WILHEIM
O QUE É PSICOLOGIA PRÉ-NATAL
3ª edição atualizada
Casa do Psicólogo
1992, 1ª edição - by Joanna Wilheim
1997, 2ª edição - Casa do Psicólogo Livraria e Editora Ltda.
É proibida a reprodução total ou parcial desta publicação, para qualquer finalidade, sem autorização por escrito 
dos editores.
3ª Edição 2002
Editor Anna Elisa de Villernor Amaral Güntert
Editor de texto Dirceu Scali Jr.
Produção Gráfica & Editoração Eletrônica Renata Vieira Nunes
Revisão Solange Scattolini
Capa Tela de Gustav Klint, "Hope I", 1903
Dados internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) 
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Wilheim, Joana
O que é psicologia pré-natal / Joanna Wilheim. - São Paulo:
Casa do Psicólogo, 1997.
Bibliografia.
ISBN: 85-8514-188-3
1. Comportamento fetal 2. Influência pré-natais 3. Psicologia infantil I. Título.
97-0908 CDD-155.4
Índices para catálogo sistemático: 
1. Psicologia pré-natal 155.4
Impresso no Brasil 
Printed in Brazil
Reservados todos os direitos de publicação em língua portuguesa à
Casa do Psicólogo Livraria e Editora Ltda.
Rua Mourato Coelho, 1059 - Pinheiros - CEP 05417-011 - São Paulo/SP- Brasil
Tel.: (11) 3034-3600 - e-mail: casapsi@uol.com.br.
PREFACIO À NOVA EDIÇÃO DE 2002
Transcorridos dez anos de sua primeira publicação, este texto merece uma
atualização: muitos novos conhecimentos vieram se soma aos até então existentes. A fim de
mantê-lo na sua forma original optei por acrescentar uma Parte II onde você, leitor, encontrará novas
e recentes contribuições, tais como: "Um novo olhar sobre o bebê"; "Psicanálise de bebês e de recém-
nascidos”; O prematuro na UTI neonatal; ‘O bebê: um ser de comunicação”; “A linguagem dos bebês”;
“Memória Celular”; “Vínculos afetivos e o bebê adotado”; “Haptonomia” e “O que de novo está existindo
no Brasil: ReHuNa, Doulas e Método Canguru”.
2/ 50
 A Parte I foi mantida de acordo com a versão original (1992).
Deixo aqui registrados os meus agradecimentos a Daniela Siltzer pela sua prestimosa ajuda na 
revisão deste texto.
SUMÁRIO
I PARTE → INTRODUÇÃO ................................................…...................................................04
O QUE é PSICOLOGIA PRÉ-NATAL .............................…....................................................05
A FOTOGRAFIA INTRA-UTERINA: DE CÉLULA A BEBÊ...............................................08
DESENVOLVIMENTO DAS FUNÇÕES SENSO, PERCEPTIVAS DO FETO.................14
A PERSONALIDADE DO FETO.......................................….....................................................17
MEMÓRIAS PRÉ-NATAIS e do NASCIMENTO.........….....................................................20
COMUNICAÇÃO INTRA-UTERINA ENTRE MÃE e BEBÊ...............................................24
ORGANIZAÇÕES que se DEDICAM ao ESTUDO dos PERÍODOS PRÉ e
PERINATAL ...................................................................................................................................26
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................................................28
INDICAÇÕES PARA LEITURA............................................................................................29
II PARTE.......................................................................................................................................30
CAPÍTULO 1 - UM NOVO OLHAR SOBRE O BEBÊ............................................................30
CAPÍTULO 2 - PSICANÁLISE DE BEBÊS............................................................................32
CAPÍTULO 3- O PREMATURO na UTI NEONATAL..........................................................35
CAPÍTULO 4- O BEBÊ: UM SER de COMUNICAÇÃO.......................................................37
CAPÍTULO 5- A LINGUAGEM DOS BEBÊS.........................................................................39
CAPÍTULO 6- MEMÓRIA CELULAR........................................................................................41
CAPÍTULO 7- VÍNCULOS AFETIVOS e BEBÊ ADOTADO.............................................43
CAPÍTULO 8- HAPTONOMIA.................................................................................................45
CAPÍTULO 9- E no BRASIL, O QUE de NOVO SURGIU, NESTA ÚLTIMA
DÉCADA?.......................................................................................................................................47
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................................................48
SOBRE A AUTORA......................................................................................................................50
3/ 50
PARTE I -> INTRODUÇÃO
"Há muito mais continuidade entre
a vida intra-uterina e a primeira infância do
que a impressionante caesura do ato do
nascimento nos permite saber".
Freud, 1926.
Será que você teve, alguma vez, a oportunidade de observar um bebê que acabou de
nascer? Não?
Então procure fazê-lo tão logo lhe seja possível. Sabe o que você pode observar
assistindo aos primeiros momentos de vida de um bebê?
Se as condições ambientais em que este bebê veio ao mundo tiverem sido favoráveis -
logo mais direi algo a respeito dessas condições favoráveis -, uma das suas primeiras reações
será a de entrar em um estado de consciência conhecido em neonatologia moderna pelo nome
de "estado de alerta tranqüilo". Nele o bebê manter-se-á quieto, procurará moldar o seu
corpinho ao da pessoa que o estiver segurando, com suas mãozinhas procurará trocar na sua
pele e arregalará os olhinhos: com um olhar agudo e brilhante ele olhará diretamente para
você! De maneira penetrante, com um olhar cheio de significados este pequeno ser que acaba
de nascer estará procurando estabelecer uma comunicação com você.
Preste atenção neste olhar: ele já denota sabedoria.
Enquanto ele estiver neste estado tranqüilo de alerta, em de se manter por vários
minutos seguidos, o recém-nascido estará prestando atenção em tudo o que estiver
acontecendo à sua volta: ao ouvir a voz de sua mãe, irá mover a cabeça procurando por ela,
pois a terá reconhecido em meio às tantas outras vozes estranhas ao seu redor; se o seu pai
se aproximar e falar com ele, também esta voz ser-lhe-á familiar, e a ela responderá
significativamente; se o pai lhe estender o dedo agarrá-lo-á com uma força e uma
intencionalidade surpreendentes.
No estado de alerta tranqüilo, o recém-nascido estará sempre receptivo, explorando e
aprendendo, procurando se comunicar, manifestando curiosidade, introjetando as
experiências e os objetos com os quais entra em contato, reagindo e se adaptando ao novo
meio ambiente. Ao sentir dor, desconforto ou fome, pôr-se-á chorar, com o que comunicará
que está necessitando de ajuda.
A capacidade de enxergar dos recém-nascidos foi identificada pela primeira vez na
década de 1960, por um psicólogo norte-americano de nome Robert Fantz. Graças aos
estudos, pesquisas e técnicas que desenvolveu para testar os recém-nascidos, nós hoje
sabemos que nos minutos que se seguem ao nascimento o bebê enxerga, sendo capaz de
identificar o rosto de sua mãe.
E o que mais é capaz de fazer este bebê que acaba de nascer?
Se for colocado sobre o corpo de sua mãe imediatamente após ter emergido dela,
será capaz de, com movimentos espontâneos embora lentos, ir-se arrastando em direção ao
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peito, buscando-o instintivamente, e, quando o tiver encontrado, sem a menor hesitação pôr-
se-á a mamar!
E mais: se o pai pegá-lo no colo, olhar fixamente para seus olhinhos abertos e colocar
a língua para fora, após breves instantes será imitado pelo bebê: este fará exatamente o
mesmo movimento que observa no pai - seja, colocar a língua para fora, abrir a boca, fazer
uma careta ou uma cara de espanto, de alegria ou de tristezas; qualquer uma destas
expressões faciais poderá ser imitada nos primeiros instantesda vida pós-natal do bebê.
Quando começaram a se organizar todos esses sentidos tão aprimorados que podem
ser observados e apreciados no recém-nascido no momento do seu nascimento?
Teriam surgido de repente, ao mesmo tempo que o bebê? Ou têm uma gênese mais
remota e distante, tendo se originado, organizado e aprimorado muito antes deste
nascimento, amadurecendo paulatinamente junto com o amadurecimento fisiológico deste ser,
durante todo o tempo de sua permanência dentro do ventre de sua mãe?
É desse assunto que tratarei neste pequeno livro, começando por definir o que vem a
ser a psicologia pré-natal.
Mas antes explicarei em que consistem as condições ambientais favoráveis no
momento co nascimento às quais me referi no início desta introdução.
Contribuem para elas as seguintes circunstâncias: uma sintonia entre: a mãe e o bebê
durante todo o período do trabalho de parto --o parto natural -, o que por sua vez implica
uma postura participante, não dopada, da mãe, desenvolvida por ela durante a gravidez por
meio de um preparo adequado; uma sala de parto sem luz excessiva ou ruídos; o cordão
umbilical ser cortado somente depois de ter cessado o seu pulsar, quando o bebê já estiver
deitado sobre o corpo de sua mãe, num contato com ela de pele-a-pele.
Foi basicamente para essas condições que Frédérick Leboyer chamou atenção no início
da década de 1970, quando se deu conta dos sentimentos presentes no recém-nascido no
momento do nascimento e da importância de se lidar com ele com delicadeza, tendo
observado que a maioria dos bebês nascia em bombardeados por luz e ruídos excessivos,
submetidos a picadas de agulha para coleta de sangue, esticados para serem medidos,
esfregados asperamente passando de mão em mão de pessoas estranhas, e sendo-lhes
pingadas nos olhos ardidas gotas de remédio, para finalmente serem levados para berçários
distantes, longe de suas mães.
O QUE É PSICOLOGIA PRÉ-NATAL
Psicologia é uma palavra que vem do grego, composta de duas outras: logos, que
significa ciência, e psukhê, que significa, alma ou mente. Portanto, psicologia é a ciência que
estuda os fenômenos da psique, alma, ou mente.
A palavra psicologia vem sendo empregada desde o século XVI, quando foi introduzida
por um teólogo alemão de nome Melanchton. Empregada com o sentido de "ciência da vida
psíquica ou mental" por alguns séculos, teve o seu conceito estendido para "ciência da
conduta ou do comportamento" em tempos mais recentes. O conceito de psicologia foi assim
estendido para o estudo dos fenômenos psíquicos e do comportamento, isto é, do
comportamento objetivamente observável.
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Em fins do século passado, essa psicologia do comportamento ganhou uma nova
dimensão. Viu-se acrescida pela descoberta feita por Freud, por volta de 1890, da existência
de um outro estado de mente, além daquele único até então conhecido e considerado pelos
psicólogos e psiquiatras da época, isto é, o estado de mente consciente. A descoberta feita
por Freud, que iria revolucionar toda a psicologia, foi a da existência de um estado
inconsciente da mente.
Tendo sido feita a descoberta da existência de um "inconsciente dinâmico", ou seja,
da existência de fatos e fenômenos metais inconscientes que influenciam e são capazes até
mesmo moldar o comportamento do indivíduo, a psicologia do comportamento ganhou outra
dimensão - profunda -, passando a ser considerada também uma psicologia "profunda".
Inaugurada assim a psicanálise, que é a ciência que estuda os fenômenos psíquicos levando em
conta o inconsciente, deparamo-nos agora com dois vértices a partir dos quais pode ser
abordada a psicologia: o evolutivo, que leva em conta o funcionamento funcional do indivíduo,
procurando compreender o significado de cada novo estágio por ele alcançado configurando a
psicologia do desenvolvimento - e o profundo ou psicanalítico, que leva em conta os
fenômenos mentais inconscientes, configurando a psicanálise ou psicologia profunda
propriamente dita.
Chegamos agora ao ponto em que posso definir o que vem a ser a psicologia pré-natal.
A psicologia pré-natal é o estudo do comportamento e desenvolvimento, tanto
evolutivo como psico-afetivo-emocional do indivíduo, no período anterior ao seu nascimento.
O conhecimento da psicologia pré-natal é importante tanto para a psicologia evolutiva
como para a psicanálise, cujo objeto primordial de estudo é o inconsciente. Com efeito, se
considerarmos que todos os fatos ocorridos com o ser antes de ele nascer a) recebem
registro mnêmonico, b) que este registro fica guardado apenas no plano do inconsciente, c)
que todas as vivencias pelas quais passa o ser no período pré-natal irão fazer parte de sua
bagagem inconsciente, exercendo influencia tanto sobre a sua personalidade pós-natal como
sobre a sua conduta e o seu comportamento, e d) que o estudo do inconsciente é o objeto por
excelência da psicanálise, conclui-se que o estudo da psicologia pré-natal é de importância
fundamental para ela.
Como surgiu a psicologia pré-natal?
Os últimos trinta anos trouxeram uma verdadeira explosão de novos conhecimentos
referentes ao período Pré-natal Devemos isto, por um lado, ao aprimoramento de modernas
tecnologias: a introdução do emprego do ultra-som nos exames pré-natais, o aprimoramento
do microscópio eletrônico, as técnicas de fecundação in vitro e o desenvolvimento da
fotografia intra-uterina, iluminaram para nós um mundo antes cheio de mistérios no qual não
podíamos penetrar. Por outro lado, devese assinalar as importantes contribuições trazidas
em anos recentes pelas descobertas feitas no campo da psiconeuroendocrino-imunologia,
contribuições estas que lançaram uma nova luz sobre o entendimento da formação e do
funcionamento do psiquismo humano.
Pesquisas sobre a vida pré-natal vêm sendo feitas hoje em várias partes do mundo,
desde a Austrália e Nova Zelândia, passando pelas Américas - sobretudo a América do Norte
até o continente europeu. Estas pesquisas vem sendo feitas nas áreas tanto da biologia como
da psicologia do desenvolvimento e da psicanálise.
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A embriologia forneceu-nos um mapa completo do organismo em desenvolvimento.
Psicoterapeutas de correntes várias, trabalhando com crianças e adultos, têm-se deparado
com freqüência cada vez maior com evidências que levam à constatação da existência de
traumas pré e perinatais. A psicologia tem se debruçado sobre o fascinante campo da
memória e, auxiliada por descobertas feitas em áreas afins, propõe hipóteses para explicar o
modo pelo qual se dariam os registros mnêmicos das experiências vivenciais no início da
existência biológica. Ela tem-se preocupado também em identificar como surgem as emoções
que, sabe-se hoje, são provocadas pela interação fisiológica entre o organismo da mãe e o do
feto.
Sabemos hoje que os talentos, as capacidades e as habilidades apresentadas pelo
recém-nascido começam a se desenvolver muito tempo antes de ele nascer.
Os investigadores que acompanham o desenvolvimento das do feto concordam em
dizer que o bebê já antes um ser inteligente, sensível, apresentando traços de personalidade
próprios e bem-definidos, e que tem uma vida afetiva e emocional estreitamente vinculada à
sua experiência relacional com a sua mãe, estando em perfeita comunicação fisiológica com
ela, captando os seus estados emocionais e a sua disposição afetiva para com ele.
A apreensão de sua experiência vivencial intra-uterina se faz por meios que nem
sempre podemos conhecer ou precisar. O importante, no entanto, é o fato de estarmos
constatando a de registros de tais experiências.
A enxurrada de novas informações torna rapidamente obsoletas velhas teorias. Temos
que rever hoje a maior parte daquilo que trinta anos atrás pensávamos saber a respeito do
feto. Com efeito, considerava-se então que o feto viviaisolado num mundo impenetrável, num
estado nirvânico de plena e felicidade, completamente indiferente ao ambiente fora do útero
de sua mãe, protegido deste pelas espessas paredes abdominais do mesmo. O Útero, por sua
vez, era considerado um lugar absolutamente silencioso, recluso e sem movimentos.
Essa visão mudou radicalmente a partir das pesquisas e da visão do feto em seu
ambiente natural. Estes estudos têm nos revelado, por um lado, a sofisticação do aparelho
perceptivo do feto, a crescente complexidade do seu aparelho a sua participação ativa na
manutenção da gravidez e na determinação de seu desfecho final. Por outro lado, os
conhecimentos como sobre o estresse pré-natal propriamente dito, puseram um fim à falsa
idéia que se fazia do Útero como um lugar tão ideal: hoje sabemos que drogas e substâncias
neuro-hormonais da mãe que acompanham alterações de seu humor; estados emocionais
atravessam a placenta e atingem o feto, podendo configurar condições ambientais mais
próximas das de um inferno do que das de um paraíso.
Hoje sabemos que, muito antes de nascer, o feto pode perceber luz e sim, é capaz de
engolir, ter paladar, escolher uma posição predileta, registrar sensações e mensagens
sensoriais; que ele dorme, sonha, acorda, boceja, esfrega os olhos, espreguiça-se, faz
caretas, pisca, dá "passos", reconhece a voz de sua mãe, brinca com o seu cordão umbilical e
com a sua placenta, chupa o dedo e o dedão do pé, reage com irritação quando se sente
molestado e apresenta rudimentos de aprendizado. Sabemos também que o feto tem uma
vida emocional: é um ser que sente, tem emoções, experimenta prazer e desprazer, dor,
tristeza, angústia ou bem-estar; que é capaz de relacionar-se com sua mãe, captando seus
estados emocionais e sua relação afetiva com ele. O Útero também deixou de ser
considerado um lugar seguro, silencioso e totalmente recluso. Pesquisas revelaram que o
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conjunto de sons constituídos pelos ruídos intestinais da mãe, dos seus batimentos cardíacos
e do fluxo de seu sangue nos grandes vasos que abastecem o Útero e a placenta alcança um
volume próximo daquele produzido pelo tráfego urbano.
A FOTOGRAFIA INTRA-UTERINA: DE CÉLULA A BEBÊ
Você já ouviu falar em Lennart Nilsson?
Pode até ser que você já tenha visto reproduções de fotografias suas ou imagens do
filme que produziu, que as televisões do mundo inteiro vêm exibindo desde o início da década
de 1980, e não tenha prestado atenção ao seu nome.
Mas é graças ao gênio fotográfico deste sueco de 70 anos que nós hoje podemos
visualizar como fomos concebidos. Com uma microcâmera acoplada a uma sonda intra-uterina
filmou durante sete anos todo o processo da fecundação humana para realizar o filme O
Milagre da Vida, que marcou época e nos permite ter acesso ás imagens que retratam a nossa
pré-história.
Revistas do mundo inteiro têm publicado em cores a extraordinária reportagem
fotográfica do processo da nossa concepção, desde a emissão de cada uma das nossas duas
células básicas componentes, óvulo e espermatozóide, as suas respectivas trajetórias até o
lugar do encontro, o grande flagrante em que este se dá, a extraordinária fotografia do
momento em que o espermatozóide penetra o óvulo, a fusão dos núcleos, o amálgama celular,
a explosão de vida, o início da multiplicação celular, a descida do óvulo fecundado pela trompa
em direção ao útero, a grande queda no vazio, a busca do lugar apropriado para se nidar, o
deitar de raízes, o início da diferenciação celular, a formação da placenta - que é órgão do
embrião --, o processo de seu crescimento, sua passagem a feto até o momento do
nascimento, quando surge o bebê.
É desse assunto que tratarei neste capítulo: do processo evolutivo, de célula a bebê.
Mas primeiro, caro leitor, vou lhe pedir algo: lembre-se, para efeito de me
acompanhar no desenvolvimento das idéias que lhe apresentarei, de que é premissa básica
deste livro a de que todos os acontecimentos biológicos pelos quais passa o ser nesta
trajetória de célula a bebê, todos, sem exceção, ficam registrados numa memória.
De célula a feto
O livro de Lennart Nilsson que traz os impressionantes registro fotográficos de cada
estágio do processo da criação do ser humano intitula-se A Child is Born. Mas a história do
nascimento desta criança não começa com a experiência intra-uterina; começa com o
nascimento de cada uma das duas células reprodutoras que a ela deram origem:
espermatozóides e óvulo.
Este pequeno livro refere-se ao período pré-natal. E o pré-natal abrange tudo o que se
passa da concepção ao nascimento. Mas eu, assim como Nilsson, vou recuar para o período
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anterior à concepção. E é para este período que solicito sua especial atenção, uma vez que é
minha convicção de que tudo que ocorre com o ser, desde os primórdios de sua existência
biológica - portanto, desde que foi óvulo por um lado e espermatozóide por outro lado -, tem
registro, e que este registro, feito por meio de memória celular, está guardado nos nossos
arquivos de memória, uma espécie de banco de dados inconsciente.
Muito bem: vamos então inicialmente nos deter no "nascimento" e trajetória do
espermatozóide na direção ao lugar de seu encontro com o óvulo.
Considerarei como seu "nascimento" o momento em que, depois de ter permanecido
armazenado no saco escrotal de seu pai por um período de aproximadamente dois meses, é
ejaculado dentro da vagina daquela que virá a ser sua mãe, em companhia de mais algumas
centenas de milhões a ele iguais.
O meio ambiente com que se deparam estes pequenos viajantes pode ser bastante
hostil a eles, pois o meio vaginal pode apresentar, ocasionalmente, condições desfavoráveis:
um teor de acidez acima do que a natureza do espermatozóide pode suportar, agindo sobre
suas caudas e paralisando-as. De seu lado, no entanto, os espermatozóides secretam uma
enzima que tem o poder de neutralizar esta condição desfavorável, permitindo lhes avançar.
Alguns sucumbem, porque são mais fracos; outros perdem-se no meio do caminho. Os
melhores nadam, agitando suas caudas, que são o seu meio de locomoção. Atravessam o útero,
depois de terem penetrado pela cérvix; alguns desorientam-se; outros, no entanto, são
"chamados" pelo óvulo. Explico: sabe-se hoje que o óvulo "escolhe" os espermatozóides
dentre os quais irá selecionar aquele pelo qual irá se deixar penetrar para tanto, as células
que envolvem o óvulo secretam uma substância química que atrai a uns mas não a outros.
Finalmente, o pequeno punhado de sobreviventes que restou daquela multidão inicial
aproxima-se das cercanias do óvulo, depois de ter nadado contra a corrente e de ter
enfrentado outro inimigo mortal: as células assassinas do sistema irnunológico da mãe, cuja
missão é detectar todo e qualquer corpo estranho e atacá-lo para matar.
Espertos, os diminutos espermatozóides "vestem" uma capa protetora para esconder
os seus antígenos, com o que conseguem burlar a vigilância da sentinela postada para não
deixá-los passar. Após atravessar as linhas inimigas, um pequeno grupo de sobreviventes
chega às portas do óvulo, que para eles se configura imenso: o óvulo é 85 mil vezes maior do
que o espermatozóide! Cercam-no, nadando em volta. 
Um punhado começa a operação "penetração": trabalham em equipe, secretando a
enzima cujo efeito é dissolver a membrana protetora que envolve o óvulo e permitir a
passagem de um. Finalmente um consegue! Pula para dentro, literalmente mergulhando de
cabeça. Neste momento, uma contra-ordem elétrica se produz na membrana do óvulo, que se
fecha, impedindo qualquer outro de entrar. 
A cabeça do espermatozóide mergulha dentro do óvulo. Mas a cauda, aquele seu
precioso instrumento de locomoção que lhe dava liberdade, fica de fora, é amputada no
momento da penetração.
 E agora que a cabeça do espermatozóideestá dentro do óvulo, o que acontece com
ela? Pois bem, ela estufa, aumenta quatro vezes de tamanho em relação à dimensão original e
abre-se, dando passagem ao núcleo contido dentro dela, núcleo este que traz toda a bagagem
genética do pai. 
9/ 50
Uma vez liberado, ele se encaminha em direção ao núcleo que o óvulo liberou. É um
indo em direção ao outro, em movimento de mútua atração, até que se encontram abrindo-se
um para o outro num grande amálgama fusional. 
Antes de prosseguir, volto-me para a odisséia do óvulo, que também navegou - embora
bem menos do que o espermatozóide e em águas bem menos perigosas e turbulentas. 
Ele é um só, enquanto o espermatozóide era um entre centenas de milhões. É grande,
forte, com uma reserva protéica muito maior do que a do espermatozóide. 
E, sobretudo, ele está dentro de sua própria "casa". Ou melhor, dentro da casa de sua
própria mãe. O ambiente que o cerca é um ambiente familiar. O óvulo não é, nem se sente,
atacado. Sua composição genética é a mesma das demais células daquele corpo de mãe. Não
há antígenos seus mobilizando ataque de anticorpos. Não há nenhuma guerra a declarar. Não
há sentinelas inimigas a burlar. Nem soldado inimigo postado para atacá-lo e exterminá-lo.
É verdade que sofre uma queda, uma experiência deveras desagradável: ao ser
expelido pelo ovário, cai na cavidade abdominal, sem direção; lá os extensores da trompa o
apanham para conduzi-lo ao duto no qual irá se encontrar com o seu par.
Não possui mobilidade própria; é carregado pelos cílios da trompa, que o vão levando
devagarzinho em direção àquele lugar onde deverá se "casar" com o seu par.
Voltemos ao encontro e casamento. Um dentro do outro. O pequenino contido pelo
grande, o grande contendo o pequenino. Podemos considerar que neste momento dá-se o
primeiro nascimento do novo ser. Tão logo fundem-se os núcleos e é produzido o amálgama
cromossômico, o óvulo deixa de ser o que era antes, o espermatozóide deixa de existir na sua
identidade original, e nasce o novo ser, ao qual vou chamar de concepto.
E o que acontece com o concepto tão logo ele passa a existir? Ocorrem duas coisas ao
mesmo tempo, uma positiva e outra negativa.
A positiva é que dentro dele se dá uma explosão de vida: há uma fantástica expansão
em relação ao estado anterior de compressão dos gens existentes antes da liberação,
expansão esta que, ao se dar, libera muita energia.
A negativa é que, tão logo ele passa a existir, é identificado como corpo estranho pelo
sistema imunológico da mãe. Explico: a bagagem genética do óvulo que era da mãe foi
acrescida da bagagem genética do espermatozóide que era do pai. A nova composição
genética contém a mistura dos dois, constituindo, portanto, uma bagagem genética diferente
da ovular original, que chama contra si os anticorpos defensores do organismo materno.
Por que assinalo isso com tanta ênfase? Porque, como você deve se lembrar, já
mencionei que tudo o que se passa com o novo ser, desde a emissão de cada uma das duas
células básicas componentes, tem um registro que fica guardado em nossos arquivos de
memória.
Por conseguinte, o movimento de ataque ao novo ser por parte do organismo materno
recebe um importante registro: o primeiro registro do sentimento de rejeição. Constitui-se
neste momento a primeira matriz deste sentimento, que é um sentimento dramático,
possante, tão conhecido da grande maioria dos seres humanos que a ele costumam reagir com
muito sofrimento.
10/ 50
Este ataque por parte do sistema imunológico da mãe ao concepto, além de resultar no
imprint da matriz do sentimento de rejeição, também irá cunhar o imprint da matriz de um
outro sentimento - ou afeto - muito básico e fundamental: o da angústia, angústia de
aniquilamento, de vida colocada em uma situação de risco extremo, vida ameaçada de ser
destruída.
Retomando a descrição: o óvulo acaba de ser fecundado, há fusão dos núcleos, um novo
amálgama celular. Vinte horas depois da fusão, dar-se-á a primeira divisão celular, a partir do
que a cada doze ou quinze horas, dar-se-á nova divisão. As divisões continuam: serão quatro,
depois oito, dezesseis, trinta e duas células e assim por diante. Este estágio é conhecido pelo
nome de mórula, porque sua aparência lembra a de uma amora. A mórula continua sua descida
pela trompa, levada pelos cílios. Este tempo de percurso dentro da trompa é muito crítico: o
concepto está exposto aos ataques fisiológicos provenientes do organismo materno, que
ameaçam a sua sobrevivência. As estatísticas informam que cerca de 75% dos óvulos
fecundados são destruídos na trompa antes de alcançarem o útero. Portanto, aqueles que o
alcançam - e isso se referem a todos nós que estamos no mundo - podem ser considerados
sobreviventes. 
Nos dez dias que se seguem à concepção, este pequeno aglomerado de células em
constante multiplicação faz a sua descida até o útero. O blastócito, composto agora de cerca
de cem células, atravessa uma abertura estreita existente na passagem entre a trompa e o
útero e, num formidável salto, despenca como uma bola no vazio.
Abro parênteses para o seguinte comentário: não será o registro mnêmonico desta
experiência celular o responsável pelo prazer que certas pessoas têm em darem saltos no
vazio, como os pára-quedista por exemplo? Ou pelo temor de alturas que outros manifestam?
Ou ainda, como no caso do cineasta Spielberg, pelo gosto em reproduzir situações
dramáticas, em que este perigo é encenado mediante pontes que se rompem por cima de
precipícios, deixando os personagens pendendo em situações de extremo perigo entre a vida
e a morte, sem saber qual será o desfecho final?
Fecho parênteses. O blastócito, após ter aterrisado no útero, vai procurar um lugar
para se nidar. Movimenta-se sobre a mucosa, procurando um lugar seguro - o "seu" lugar -
para se implantar. Mas antes precisa romper a bainha contensora, uma espécie de invólucro
protetor que o envolve. Quebra-a, livra-se dela: a massa celular está agora liberada para se
ligar à membrana acolhedora do útero. Há novamente registro de um movimento de grande
expansão-é a massa celular saindo do estado de compressão. Neste momento, inicia-se a
nidação: da massa celular saem raízes que vão se fixar na parede uterina.
Este momento marca novo e importante registro de contenção adotiva: agora é o
útero adotando o concepto.
Contam-nos os imuno-embriologistas que neste instante se produz uma espécie de
pacto de não-agressão no nível celular: o blastócito produz um muco cujas propriedades
químicas visam neutralizar o efeito provocado pelos antígenos sobre a mucosa do útero, que
de outra forma responde com irritação agressiva, visando a sua destruição e conseqüente
eliminação. Com freqüência, porém, tal pacto não se realiza. Instala-se então uma guerra: o
concepto, movido pelo seu instinto de vida, trava verdadeira batalha para sobreviver,
enquanto, do outro lado, o organismo materno - movido por sua vez pelo seu instinto de vida -
defende-se do "invasor-agressor". Também desta experiência, de nidação ou implante,
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ficarão registros significativos na nossa matriz básica, seja do sentimento de adoção, de
aceitação e acolhida, seja do sentimento de rechaço ou rejeição.
No blastócito, começa a diferenciação celular: uma parte se destina à formação do
embrião e outra parte se destina à formação da placenta, que é um órgão do embrião
formado a partir de células suas.
Com quatro semanas o embrião mede seis milímetros, tem um corpo com uma cabeça,
um tronco e uma cauda. Apresenta rudimentos de cérebro, espinha, tubo digestivo. O sistema
nervoso começa a se formar no 18º dia, quando também se formam rudimentos dos olhos. A
boca abre-se pela primeira vez em torno do 28º dia e o coraçãozinho rudimentar começa a
bater, bombeando sangue para o fígado e a aorta.
Com cinco semanas, mede um centímetro. Começam a despontarpernas e braços.
Surgem pela primeira vez movimentos bruscos, espontâneos.
Com seis semanas, o embrião mede um centímetro e meio. O seu coraçãozinho
apresenta de 140 a 150 batimentos por minuto, duas vezes mais que o de sua mãe. Suas
mãozinhas estão desenvolvendo dedos.
A partir deste momento, o embrião responde ao toque com movimentos amplos e
generalizados. Começam a aparecer os primeiros reflexos: se sua mãozinha ou pezinho tocar
a parede do útero, os dedos ou artelhos se contrairão.
Se for feito um eletroencefalograma, seu traçado será semelhante ao do adulto.
Com sete ou oito semanas, o embrião é capaz de realizar movimentos muito simples de
flexão de um braço ou de uma perna, pulso, cotovelo ou joelho. Um ligeiro toque em sua face
fá-lo-á desviar a cabeça. 
O movimento é vital para o bom desenvolvimento dos ossos, das juntas e das
experiências sensoriais do feto - ou embrião --, incluindo aquelas que derivam do movimento,
e que são essenciais para o desenvolvimento de seu cérebro. 
O sangue do embrião absorve proteínas, gorduras e açúcar da placenta para o
constante processo de construção de suas células, e oxigênio para alimentar o processo. 
Com oito semanas, ele mede quatro centímetros; neste ponto do desenvolvimento, os
biólogos e embriologistas passam a se referir ao ser-em-desenvolvimento como feto. 
De feto a bebê
O feto vive dentro de um saco amniótico contendo um líquido que o acolchoa e
protege. Este líquido tem um teor de salinidade semelhante ao do mar primitivo. Nesse meio
ambiente flutuante e sem peso, os membros e o corpo têm amplo espaço para se movimentar,
mantendo suas articulações flexíveis.
Dentro do seu corpinho, todos os órgãos já estão no devido lugar: tudo o que se
encontra em um ser humano a termo já está formado. 
Ele agora é capaz de movimentar a cabeça, os braços e o tronco com facilidade. Se a
palma de sua mão for tocada, ele reage, fechando-a. Responde às mudanças de posição de
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Sua mãe. Se Os seus lábios ou o seu nariz forem roçados, responde com um movimento de
curvatura do pescoço para se afastar do estímulo. Se um fio de cabelo esbarrar em sua face,
afasta a cabeça e estica os bracinhos para afastar o cabelo. Fetos de oito semanas foram
vistos fazendo um movimento para afastar ou apanhar com a mão a agulha introduzida por
ocasião do exame de amniocentese.
Sua placenta produz os hormônios necessários para manutenção da gravidez.
Entre a 10º e a 12º semana após a concepção, o feto começa um vigoroso programa de
exercitação física, rolando de um lado para o outro estendendo e flexionando as costas e o
pescoço, agitando os bracinhos, dando chutes e flexionando os pés. Esta movimentação se
mantém, sem muita alteração, por todo tempo da gestação. É uma movimentação graciosa e
espontânea, uma coordenação que revela um tipo de inteligência direcional.
Com doze semanas, mede sete centímetros e meio, pesa quatorze gramas. É capaz
agora de movimentar todas as articulações de um braço ou de uma perna. Além de chutar e
virar os pés, dobra os dedos, franze a fronte, aperta os lábios, abre a boca, coça a cabeça,
faz caretas, esfrega os olhos e engole o liquido amniótico. 
Os seus pulmõezinhos primitivos e vazios expandem-se e contraem-se como se
estivessem ensaiando para quando precisar deles no momento do nascimento.
Se seus lábios forem tocados, ele responde com um movimento de sucção. Se suas
pálpebras forem tocadas, responde contraindo-as em vez de jogar o corpinho todo para trás,
como fazia antes.
Começa a chupar o dedo.
Fetos da mesma idade começam a revelar variações individuais, suas feições começam
a se diferenciar; também começam a ficar evidentes diferenças nas expressões faciais.
Com quatorze semanas, engole, chupa e respira. É capaz de movimentar os braços
juntamente com as pernas e, às vezes, pode-se ver o feto com as mãozinhas levantadas.
Começa a apresentar expressões faciais de agrado ou desagrado.
Com quinze semanas o feto apresenta todos os movimentos presentes em fetos a
termo.
Com dezesseis semanas, além de levantar as sobrancelhas, fazer caretas, coçar a
cabeça e esfregar os olhos, começa a desenvolver o sentido do paladar. Nesta idade, as
papilas gustativas já estão desenvolvidas, e surgem as preferências de gosto: o feto faz
caretas e pára de engolir quando uma gota de substância amarga é colocada no líquido
amniótico, enquanto uma gota de substância doce provoca a aceleração da ingestão do líquido.
Reage da mesma maneira à nicotina e ao álcool ingeridos pela mãe, com o que evidencia o
desagrado que lhe causam.
Na 19º semana, os seus movimentos começam a ficar mais coordenados, contrastando
com os movimentos iniciais, que eram reflexos mais primitivos. Começa a dar "passos"; é
capaz de ficar ereto e impulsionar o corpinho para a frente, sustentando-se sobre uma das
mãos.
Na 26ºsemana da gestação, o feto abre os olhos pela primeira vez e, a partir deste
momento, comportar-se-á como um recém-nascido; fecha os olhos quando dorme e abre-os
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quando está acordado.
Com 28 semanas todos os fetos sadios piscam os olhos.
Até o sétimo mês o feto pode movimentar-se livremente, até mesmo virar
cambalhotas.
Mas a partir do oitavo mês, o ambiente torna-se mais apertado e quase todo o espaço
disponível está por ele ocupado. Começará então a fazer os movimentos preparatórios
necessários para o seu nascimento. Ao sentir-se pronto e maduro, organiza-se para
prosseguir o seu desenvolvimento fora do corpo de sua mãe e separado dela.
DESENVOLVIMENTO das FUNÇÕES SENSO - PERCEPTIVAS do FETO
O nome deste capítulo também poderia ser "capacidades cognitivas do feto", ou ainda
"inteligência do feto".
Como todos os tipos de aprendizado são constatados nas primeiras horas e dias após o
nascimento, conclui, se que o aprendizado deve começar antes.
Estudos sobre o recém-nascido apontam -- como já disse anteriormente - para o
período pré-natal como origem da capacidade de aprendizado.
O período de nove meses que vai da concepção ao nascimento, antes oculto e
misterioso, agora cada vez mais iluminado pela ciência tem nos revelado a presença de sinais
de comportamento inteligente a partir do início do período gestacional.
Se conceituarmos inteligência como a capacidade para (a) autogerir-se mentalmente;
(b) adaptar, se e adequar, se a situações novas; (c) selecionar condições; e (d) aproveitar
experiências - o que implica aprendizado e memória -, podemos concluir que de fato elas
estão presentes no feto desde o período inicial da gestação.
Para ilustrar o que acabei de afirmar, vou comentar algumas pesquisas realizadas
visando à aferição da presença e do desenvolvimento de diversas funções senso-perspectivas
no feto.
Começarei pelo relato de uma experiência realizada em 1982 pelo pesquisador norte-
americano Anthony DeCasper, que desenvolvimento da função auditiva no feto.
DeCasper instruiu um grupo de mulheres grávidas para que, duas vezes por dia, lessem
em voz alta, cinco semanas antes do parto, determinada história infantil. Três dias após o
nascimento, duas historinhas diferentes foram lidas para os recém-nascidos: aquela que suas
mães haviam lido para eles durante a gravidez e uma outra, desconhecida. As reações dos
recém-nascidos foram registradas num dispositivo ligado a um aparelho medidor de sucção.
Observou-se que os bebês revelaram preferência pela história conhecida, sugando com maior
freqüência quando esta lhes era lida.
Reações observadas em embriões e fetos a determinadas situações apontam para a
existência de respostas emocionais de medo pânico e choque em determinadas
circunstâncias, de mulheres grávidas em estado de estresse permanente apresentaram
batidas cardíacas mais aceleradas, e embriões submetidos ao exame de amniocentese
revelaram sensível alteração em sua atividade respiratória, a qual baixou consideravelmente,
14/ 50mantendo a alteração de 24 a 48 horas após a o exame. Pesquisa realizada na Suécia revelou
que _ observados reagiram à amniocentese, perdendo o ritmo dos batimentos cardíacos: o
coraçãozinho começou a ratear quatro minutos depois de iniciada a experiência, mantendo-se
com batimentos baixos pelo espaço de dois minutos. Evidências de presença de emoção no
feto foram observadas por meio do fenômeno do vagitus uterinus, que é um tipo de choro no
feto.
A filmagem do feto evidenciou que ele ingere o líquido pela boca aberta com nove e
meia semanas gestacionais. Papilas gustativas aparecem com sete semanas de gravidez e
amadurecem aos cem dias. Acredita-se que elas começam a funcionar 26 semanas antes do
nascimento, colocando o feto em contato gustativo com as várias substâncias químicas pre-
sentes no líquido amniótico.
A atividade de engolir notada primeiramente às doze semanas passa a ser uma
atividade constante. No terceiro trimestre, o feto bebe e digere entre quinze e quarenta
mililitros por hora, pelo que recebe quarenta calorias de alimento por dia. O obstetra
neozelandês Albert Liley - a quem podemos considerar pioneiro en "fetologia", desde a
apresentação em um congresso de psiquiatria, vinte anos atrás, do trabalho intitulado "O
feto como personalidade" - constatou que uma desnutrição intra-uterina acentuada é uma
realidade para certos fetos; conjecturou que apatia e anorexia podiam acompanhar este
estado inanição intra-uterina.
O sugar é uma atividade primeiro observada às nove semanas. Como passatempo
parece ser uma atividade inata e é tão freqüente que certos bebês nascem com um calo em
seu polegar. Os dedos e os artelhos também costumam ser chupados, donde se conclui que a
coordenação mão-boca apresentada pelo recém.-nascido começa muito tempo antes do
nascimento. Sua interação táctil com o cordão umbilical também é uma atividade que começa
cedo no útero.
Quanto a audição, fetos observados entre as 16 e 32 semanas de gestação foram
vistos reagindo com um piscar de olhos, ou com um estremecimento do corpo ou dos
membros, a ruídos aplicados ao abdômen da mãe. Os ultra-sonografistas observam que o feto
reage com sobressaltos a qualquer ruído repentino.
Experiência realizada em maternidade inglesa revelou que fetos de quatro a cinco
meses acalmavam-se quando escutavam música de Vivaldi e Mozart, e ficavam agitados ao
som de Brahms, Beethoven e rock, com o que pareciam revelar desagrado.
A existência de condicionamento pré-natal para música foi constatada em recém-
nascidos cujas mães cantarolavam determinada cantiga popular durante todo o período
gestacional submetidos a testes após o nascimento, estes bebes evidenciaram preferência
pela melodia conhecida, enquanto e bebês de controle não evidenciou tal preferência. Outra
pesquisa, realizada com um grupo de bebês expostos regularmente durante o período
gestacional a determinado tema musical tocado pela televisão, revelou que estes bebês
paravam entravam no "estado de alerta tranqüilo" ao ouvir o musical conhecido, o mesmo não
acontecendo com os bebês do grupo de controle.
Gestantes observam que seus fetos reagem com pulos a toques de buzina, fogos de
artifício, toque de tambor ou aplausos em concertos, e com hiperatividade a filmes violentos.
Pesquisas realizadas com uso de tecnologia avançada na Escandinávia revelaram que os
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fetos recebiam e armazenavam padrões de fala que lhes eram transmitidos pelas suas mães.
Fotografias e filmes mostraram que os fetos exercitavam dentro do líquido amniótico
movimentos neuromusculares que leva ao contato com o ar - ao choro e à vocalização.
Estudando gravações de choro de prematuros extremos de novecentos gramas, verificou-se,
em alguns casos, uma correspondência específica do choro com as entonações, ritmos e
outros fala de suas mães. Estes espectogramas coincidentes de mãe e feto por volta dos
cinco meses são evidencia não apenas da presença da audição como também da linguagem no
útero. A equipe de pesquisadores encontrou outra evidência de linguagem no feto: recém-
nascidos, de mães mudas, que não choram ao nascer, ou que, tendo chorado, apresentam
choro estranho como se lhes tivessem faltado aulas no útero.
Segundo estudiosos do assunto, o feto ouve a voz de sua mãe já no quarto mês de
gestação, e a qualidade desta comunicação pode influenciar, no futuro, seu desejo de
comunicar-se: caso a voz da mãe seja cronicamente áspera e zangada, poderá ficar associada
a uma experiência desagradável e afetar a sua futura disposição para a escuta e a
comunicação.
O acima mencionado Anthony DeCasper descobriu que os recém-nascidos discriminam
e preferem a voz de sua mãe a outras vozes, conhecimento que devem adquirir durante sua
experiência intra-uterina. São capazes de variar a freqüência de sua sucção para obter o som
da voz de sua mãe, em vez do som de outra voz feminina.
O aprendizado por imitação envolve processamento visual. Constatou-se capacidade
imitativa em prematuros de 35 semanas: são capazes de discriminar e imitar expressões
faciais do adulto, expressando alegria, felicidade, tristeza ou surpresa.
A observação por ultra-som revelou gestos cheios de intenção e sentido desde muito
cedo. Observou-se que o feto desloca-se no útero para fugir de um bombardeamento ultra-
sonográfico de um feixe de luz.
Os fetos expressam estados emocionais de agrado e desagrado por meio de seu
comportamento, movimentando-se. Os pontapés e a hiperatividade são reações pelas quais
comunicam desagrado pelo som de uma música mais violenta, ao bater de tambores, a filmes
de guerra ou de violência, a desastres naturais ou situações traumáticas vividas pela mãe que
nela produzam uma perturbação emocional.
E o choro expressa dor, angústia ou sofrimento.
Reações de susto são evidenciadas por alterações somáticas no feto: constatou-se
aumento excessivo e descontrolado de seus batimentos cardíacos, de sua movimentação e
atividade intra-uterina após o orgasmo masculino ou feminino.
Quanto à. experiência onírica do feto, sabe-se hoje que começa a sonhar a partir da
23ª semana gestacional. Sonhar é importante, é um meio de elaborar experiências internas.
Supõe-se que os fetos sonhem com qualquer experiência que tenham tido até então.
Durante o sono com sonhos, observam-se alterações nas expressões faciais, que
revelam perplexidade, desprezo, ceticismo ou divertimento por meio de caretas,
choramingos, soluços, sorrisos, estremecimentos do rosto e das extremidades, alteração no
ritmo dos batimentos cardíacos e respiratórios, mudanças bruscas de posição de membros e
corpo.
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Sorrisos no feto: os primeiros sorrisos ocorrem durante o sono com sonhos.
Expressam um estado emocional prazeroso. Antigamente, costumava-se negar o significado
dos primeiros sorrisos observados em recém-nascidos; dizia-se que eram gases ou espamos
musculares. No entanto, os sorrisos são expressões preciosas de sentimentos; representam
comunicações significativas e positivas a serem consideradas e valorizadas. Alguns Recém-
nascidos chegam a dar risadas enquanto estão dormindo. Tanto os sorrisos quanto as risadas
representam experiências cognitivas: são pensamentos acompanhados de uma emoção de
alegria. 
A PERSONALIDADE do FETO
Soa estranha a você a afirmação de que o feto tem uma personalidade?
Vamos por partes. Se você tem filhos ou irmãos, você acha que eles são iguais? Desde
criança, desde que eram pequenininhos, você teve oportunidade de observá-los: cada um
deles tinha um modo próprio de ser, um jeito seu, bem diferente dos outros filhos ou irmãos,
não é mesmo?
No entanto, todos eles são filhos dos mesmos pais, criados dentro da mesma casa, no
mesmo ambiente familiar sujeitos à mesma educação, aos mesmos modelos de pai e mãe.
Quantas vezes você teve oportunidade de observar e de fazero comentário: "Como é
possível que irmãos possam ser tão diferentes?" ou: "Nem parecem irmãos".
Pois bem, já tivemos oportunidade de mencionar que todas aquelas capacidades e
habilidades apresentadas pelo recém-nascido não surgiram de repente. No capítulo anterior,
assinalamos em que momento evolutivo do pequeno ser elas foram surgindo.
Somos a primeira geração - note bem, este é um privilégio considerável-a ter acesso a
todo o imenso cabedal de informações obtidas por meio do ultra-som. Podemos observar e o
feto, o embrião, o concepto e, ainda antes deste, as duas células reprodutoras que a ele
deram origem, quer por meio do ultra-som, da filmagem direta de imagens dentro do corpo.
Antes porém de lhe falar a respeito do que a moderna tecnologia tem-nos permitido
saber a respeito da personalidade do feto, vou-me deter na consideração de o que vem a ser
temperamento, caráter e personalidade.
O temperamento é o conjunto de disposições biológicas e psicológicas do indivíduo que
determina o seu caráter. O caráter por sua vez, é o modo próprio de que é dotado
determinado para reagir. E a personalidade é o conjunto dos modos de ser, de se comportar,
de reagir e de sentir que do indivíduo tem e que o diferenciam de outros indivíduos.
Portanto, é a sua personalidade - que inclui o seu temperamento e o seu caráter - que
define a sua identidade e o de outros indivíduos. Podemos nos voltar agora para realidade do
feto.
Acabamos de ver que a personalidade seria então o conjunto de modos próprios de
ser, reagir, sentir, comportar-se enfim. Decorre então que entram como fatores
componentes e determinantes da personalidade, o que o indivíduo adquire por registro das
suas próprias experiências vivenciais, a sua herança genética que ele recebe de seus pais -
lembra-se da carga genética que o espermatozóide traz no núcleo contido em sua cabeça e
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que entrega ao óvulo quando se encontra, dando-se então a mistura das bagagens suas e da
mãe naquilo a que me referi como amálgama?
De importância fundamental para o conhecimento do surgimento das características
individuais de personalidades no ser humano é uma pesquisa que está sendo desenvolvida em
anos recentes por uma psicanalista italiana residente em Milão, de nome Alessandra Piontelli.
É até mesmo minha opinião a de que a pesquisa desenvolvida pela doutora Piontelli nestes
últimos quinze anos irá revolucionar o enfoque e o entendimento psicanalítico da mente
humana.
Vou lhe contar em que consiste o trabalho de pesquisa a que a doutora Piontelli vem se
dedicando. Tendo feito o seu treinamento psicanalítico na Inglaterra, dedicou-se durante
largos anos à técnica de observação de bebês desenvolvida pela psicanalista kleiniana inglesa
Ester Bick, na década de 1960.
De volta à Itália, ocorreu à doutora Piontelli estender a técnica de observação de
bebês ao período pré-natal. O desejo de aprofundar seus conhecimentos sobre este período
teve relação com a sua experiência enquanto analista: trabalhando com crianças pequenas,
algumas muito perturbadas, e também com pacientes adultos com comprometimentos
emocionais graves, começou a esbarrar com freqüência em material obviamente pertencente
ao período intra-uterino. Como também continuasse o seu trabalho de observação de bebês,
sua atenção foi despertada para as evidentes diferenças caracteriológicas individuais nos
recém-nascidos a cujos partos assistia.
Começou a se colocar perguntas quanto à origem do caráter definido, já tão
evidentemente manifesto no momento do nascimento: alguns bebês nascem com uma
disposição evidente para a vida, enquanto outros surpreendem pela apatia. Também a
intrigava a questão referente às diferenças individuais entre os bebês: por que certas
crianças não conseguem esquecer o seu passado pré-natal? Por que outras a ele retomam
sempre que as circunstâncias externas se lhes configuram adversas? Trata-se de um fator
genético ou ambiental formativo ou constitucional? Para realizar a pesquisa, adotou o
seguinte procedimento: escolhidas as mães cujas gestações iria acompanhar, estabeleceu
com elas que compareceriam regularmente, uma vez por mês, ao hospital em que trabalhava, e
pelo período de uma hora submeter-se-iam a uma observação por meio de ultrasom. Combinou
também com as mães que assistiria ao nascimento e acompanharia os bebês com observações
semanais durante todo o primeiro ano de vida.
Vamos agora ao observado por ela nesta experiência com fetos de aproximadamente
a 14ª semana de gestação.
Em primeiro lugar surpreendeu-se com a riqueza, variedade e complexidade de
movimentos que pôde observar nos fetos nos estágios mais iniciais da gravidez: ela os via
chupando, sendo, se coçando, esfregando os pezinhos e as mãozinha. Supreendeu-a também a
liberdade de movimentos que desfrutava dentro do líquido amniótico.
Sua atenção foi chamada para as diferenças individuais de cada feto: cada um adotava
posturas próprias diferentes das dos demais e relacionava-se de maneira muito peculiar com
o intra-uterino e com os seus objetos de relação, a placenta - cordão umbilical. Cada feto
apresentava um determinado comportamento muito próprio e marcante, provocando naqueles
que assistiam ao exame exclamações do tipo: “Que bebê calmo!", "Este vai ser um
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nervosinho", "Como este é pensativo", "Esta vai ser uma bailarina", "Olha este usando a
placenta de travesseiro!", "Como trata mal o seu cordão umbilical!”
Nas observações realizadas nos meses subseqüentes ao nascimento a doutora Piontelli
constatou que as crianças continuavam a apresentar as mesmas características por ela
observadas durante o período pré-natal e por ocasião de seu nascimento.
Estendeu também a sua pesquisa a pares de gêmeos. Suas observações, após ter
acompanhado algumas gestações gemelares - gêmeos não univitelinos -, são valiosíssimos
subsídios para este novo ramo da ciência constituído pela psicologia pré-natal. Destacarei
alguns aspectos de suas conclusões finais:
 Em cada par de gêmeos havia uma notável diferença no temperamento de cada um. Por
exemplo, enquanto um se revelava dotado de evidente vitalidade, procurando contato
físico com o seu par, o outro apresentava-se retraído, pouco ativo, pouco afetivo,
fugindo e evitando o contato, recorrendo a gestos agressivos e por vezes violentos,
para repelir os avanços do irmão.
 Os padrões de conduta observados tanto nos fetos das gestações singulares como
naqueles de gestações gemelares mantiveram-se com as mesmas características no
período pós-natal, tendo sido também observados no decorrer de todo o primeiro ano
de vida.
 Nos pares de gêmeos, observou-se também um padrão de conduta inter-relacional,
que apareceu desde muito cedo no período gestacional, mantendo-se com as mesmas
característic1s durante todo o tempo da experiência intra-uterina, continuando no
período pós-natal.
 Conclui-se, portanto que:
a) Os padrões de conduta e de temperamento aparecem desde muito cedo no período
gestacional, tanto em fetos de concepções singulares como naqueles de concepções
gemelares não univitelinas;
b) As características individuais que puderam ser observadas, desde muito cedo
mantiveram-se e continuaram as do pré-natal;
c) As diferenças de personalidade, evidentes e marcantes já em fetos de quatro meses,
serão características individuais das suas respectivas personalidades pós-natais;
d) As características individuais estão presentes desde o tempo mais inicial; as
peculiaridades básicas apareceram desde as primeiras observações, mantendo-se por
todo o tempo da vida intra-uterina e manifestando-se com as mesmas peculiaridades na
vida pós-natal.
Concluindo este capítulo podemos afirmar que os fetos diferem em suas identidades
individuais assim como diferem as pessoas umas das outras. Portanto, o feto tem, sim, uma
personalidade marcante e bem-definidaque se manifesta desde o começo de sua existência
intra-uterina, e será aquela mesmas características que os pais irão conhecer logo depois que
nascerem, como no decorrer do seu primeiro ano de vida.
É no período pré-natal que o indivíduo revela o seu caráter individual que mais tarde
continuará a desenvolver com as mesmas características observadas desde o início.
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Para finalizar este capitulo chamo a sua atenção, caro leitor, para a citação de Freud
que figura no início deste livro, e cuja procedência pode agora ser aferida por estudos como
este realizado pela doutora Piontelli, confirmando, setenta e tantos anos depois, a sua
extraordinária intuição e genialidade: “Há muito mais continuidade entre a vida intra-uterina
e a primeira infância do que a impressionante caesura do ato do nascimento nos permite
saber.”
MEMÓRIAS PRÉ-NATAIS e do NASCIMENTO
Você se lembra quando, em capítulo anterior, mencionei que, com freqüência
crescente, psicoterapeutas das mais diversas correntes têm-se deparado com evidências de
memórias pré-natais na experiência clínica com seus pacientes?
Deter-me-ei agora sobre este fato.
Desde o final do século XIX, vários profissionais da saúde começaram a recorrer à
hipnose para alcançar melhores resultados terapêuticos. Em tempos mais recentes,
juntaram-se a eles também psicólogos e psicoterapeutas de orientações várias. No exercício
de seu trabalho, alguns desses profissionais começaram a observar fatos surpreendentes:
algumas pessoas, sob o efeito do transe hipnótico, regrediam espontaneamente a memórias
do seu nascimento e de sua vida pré-natal. Mas, apesar do aparecimento reiterado destas
memórias, elas em geral eram negadas por falta de uma explicação plausível.
Contudo, a constatação da existência de memórias pré-natais e do nascimento em
crianças e adultos expandiu-se. As capacidades cognitivas do recém-nascidos como tive
oportunidade de comentar, viveram a ser conhecidas e ficou evidente que não poderiam ter
sido adquiridas na vida intra-uterina sem existência de uma memória. Por outro lado,
especialistas nos alertam de que não é certo referir-se ao sistema nervoso do recém-nascido
como "imaturo"; a mielinização insuficiente, à qual outrora se atribuía a falta de condições do
feto ter competências, é hoje declarada irrelevante. Por outro lado, sabemos hoje que sete
semanas depois da concepção há endorfinas circulando no organismo do embrião. Isso indica
que os sistemas endócrino e imunológico - que constituem partes vitais de um sistema de
intercomunicação - estão se desenvolvendo e funcionando mais rapidamente do que o
cérebro.
A crescente prática de terapias regressivas por meio de hipnose, drogas ou técnicas
respiratórias tem fornecido evidência cada vez maior, da existência de registros de
experiências traumáticas ocorridas tanto no nascimento como no período pré-natal, na
concepção, e até mesmo antes dela.
Também a psicanálise tem flagrado no aqui-agora do encontro analíticas evidências de
registros traumáticos pertencentes a um período muito inicial da existência. Tais registros
acabam por figurar determinados padrões mentais que, uma vez decifrados, permitem que se
estabeleça a sua conexão com lógicas iniciais que lhes teriam dado origem: constata-se que
suas raízes encontram-se em situações pertencentes aos primórdios biológicos da
existência, entre a pré-concepção e o nascimento, quando ocorrem, e ficam registradas, que
representam risco real para a existência daquele ser.
Contar-lhe-ei agora algo mais a respeito dos conhecimentos mais recentes adquiridos
sobre memória, considerada modernamente como a faculdade que acumula informações.
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Por algum tempo, na década de 1960, alguns pesquisadores consideraram que a
memória se encontrava nas moléculas do RNA. Mas com as revelações recentes de que as
células nervosas estão em constante e freqüente processo de renovação por substituição, a
hipótese referente ao RNA deixou de ser considerada, uma vez que há memórias que
permanecem intactas por muito tempo, em certos casos por até quase um século.
A verdadeira complexidade da memória é uma descoberta muito recente. Pesquisas em
neurociência têm revelado a existência de novos processos e novas cronologias cerebrais
relevantes para o funcionamento da memória. Enquanto no passado os psicólogos e
neurologistas relacionavam memória com córtex cerebral e presença de linguagem verbal, os
pesquisadores modernos propõem que a memória não fica restrita ao cérebro e que o seu
armazenamento dá-se fora dele. Testes realizados por meio de tecnologia altamente
sofisticada - a tomografia por emissão de prótons - revelam a ocorrência de alterações
químicas e elétricas em um único neurônio como resultado de aprendizado; observou-se
também que uma única molécula de substância é capaz de, instantaneamente, alterar a sua
conformação dentro da membrana para assumir identidades diferentes.
Enquanto em um passado relativamente próximo, delimitações claras separavam os
sistemas nervoso, endócrino e imunológico, demarcando os respectivos territórios dos
especialistas, os estudiosos do assunto atualmente concordam em que a memória não
constitui apenas um, mas vários sistemas, nem sempre unificados e que funcionam
independente, automática e deliberadamente.
Existem tipos diferentes de memória regidos por sistemas diversos. Por exemplo,
existe memória recente e memória antiga, memória semântica, auto-biográfica, afetiva
perceptiva, motora, de reconhecimento, de recordação; existem registros ou imprints
embrionários e existe o que eu denomino”memória celular”. Por “memória celular” refiro-me
aos registros mnêmicos (imprints) das experiências pelas quais passam as duas células
reprodutoras básicas - espermatozóide e óvulo - e o concepto até depois da nidação, quando
surge o embrião. Vários destes tipos de memória vão além do que o substrato neurológico
atribuía a contenção da memória e a possibilidade do seu funcionamento.
 Até o advento destes novos conhecimentos éramos ensinados que o cérebro do
recém-nascido não estava devidamente formado, era incompleto, subdesenvolvido, pesando
apenas uma parte de seu peso definitivo, e estava longe de estar completamente mielinizado
("mielinização" é o processo de maturação da célula nervosa).
Sabemos hoje que o funcionamento da memória independe e do peso do cérebro, e que
a mielinização não era a condução do estímulo nervoso e que esta também não representa o
único meio de comunicação dentro do sistema nervoso.
Essas novas aquisições de conhecimentos permitem que se dê agora credibilidade às
numerosas evidências de memórias e traumas de nascimento que se têm apresentado nos
últimos cem anos. Por outro lado, o emprego cada vez maior de técnicas regressivas, bem
como os avanços da psicanálise têm apontado para a presença de imprints de vivências
traumáticas, tanto pré-natais como ao nível da concepção e até mesmo anteriores a ela.
A manifestação de memórias pré-natais tem sido rica, variada e indubitável, clamando
pela necessidade de formulação de novas teorias a respeito do funcionamento da memória.
Ela hoje tende a ser considerada mais como um processo do que e em um lugar determinado.
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Nesse sentido duas descobertas complementares feitas em 1985, fruto de pesquisas
em neurocondutores, resultaram em importantes propostas que vêm revolucionar o
conhecimento na área: a do neurocirurgião australiano Richard Bergland e a da pesquisadora
Candace Pert.
Bergland propõe que se considere o cérebro como uma glândula gigante, uma vez que
hoje se sabe que: (a) ele é produtor de hormônios; (b) contém receptores para hormônios
produzidos em outras partes do corpo; (c) é banhado por hormônios que percorrem as fibras
de nervos individuais. Segundo sua ótica, os sistemasnervoso e endócrino devem ser
considerados como integrados, uma vez que os hormônios produzidos pelo cérebro percorrem
as fibras dos nervos individuais, e toda atividade em que o cérebro se engaja envolve
hormônios. Bergland dá destaque ao fato de se localizarem em todo o corpo os hormônios que
impulsionam o cérebro, donde a "substância" do pensamento se encontra espalhada pelo corpo
todo. Por sua vez, Candace Pert, pesquisando neuropeptídeos – moléculas fabricadas pelas
células nervosas -, constatou que cerca de sessenta deles, cada um destinando-se a
receptores específicos, constituem o principal meio de veiculação de informações dentro do
cérebro e do corpo. Tendo sido feito o seu mapeamento por meio de moléculas radioativas,
verificou-se serem os neuropeptídeos os que conectam os três sistemas: o nervoso, o
endócrino e o imunológico.
Há lugares fixos de receptores para neuropeptídeos espalhados por todo o corpo e
pelo cérebro, transformando o corpo-cérebro em um único sistema de comunicação
interacional. Assim, o corpo-cérebro representaria o substrato físico da memória - ou mente
- que, além deste substrato físico, conta ainda com um outro substrato, imaterial: a
informação que circula dentro ele.
Veja, caro leitor, estou considerando mente algo diferente de cérebro. Não se
localiza apenas na cabeça, mas sim em todo o corpo, e pode expressar-se por meio de outras
vias que não as estritamente intelectuais.
Direi agora algo a respeito das memórias pré-natais propriamente como e quando
começou-se a observar a sua existência.
Já mencionei que memórias pré-natais e referentes ao nascimento começaram a
aparecer espontaneamente durante sessões de pacientes hipnotizados para outros fins e que
os terapeutas não sabiam como interpretar, uma vez que ainda não existiam os
conhecimentos que permitissem lhes dar validade.
Freud, já em 1900, em A interpretação dos sonhos, referia-se de fantasias
relacionadas com a vida intra-uterina em crescimento. Ilustra com alguns sonhos de
pacientes, que faz acompanhar do comentário: "Sonhos como este são sonhos pré-
nascimento". E diz: "O ato do nascimento é a primeira experiência de angústia do indivíduo,
vindo a se constituir na fonte e no protótipo do afeto de angústia". E, em 1909 acrescenta:
“Aprendi a levar em conta as fantasias relacionadas com a vida intra-uterina. Elas explicam o
terror manifestado por sentirem serem enterradas vivas e justificam a crença na uma vida
após a morte que nada é senão a projeção no futuro da misteriosa experiência do período
anterior ao nascimento". Menciona também sonhos em que o sonhador se via flutuando, ou
igual a uma bola ou uma pequena esfera, sem que ele, Freud, possuísse ainda elementos que
lhe permitissem atribuir os significados que somos hoje capazes de lhes dar, em função do
que agora sabemos: trata-se de imagens relacionadas com vivências extremamente precoces,
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pertencentes ao período celular.
Será na Inglaterra e América do Norte que, no decorrer da década de 1970, fora do
âmbito da psicanálise propriamente dita, dar-se-á um verdadeiro boom na exploração dos
níveis mais profundos da mente por meio de terapias regressivas.
Nos Estados Unidos e Canadá atualmente há grande número de terapeutas que,
mediante o emprego de técnicas regressivas variadas, trabalham com resgate de memórias
tanto pré-natais como de nascimento, traumáticas e não-traumáticas, assim como daquelas
relacionadas com a experiência da concepção e aqueles momentos que se seguem a ela - a
experiência na trompa, a nidação - e todas; as experiências celulares anteriores à concepção
- do óvulo e do espermatozóide. Estas situações têm sido trabalhadas visando à investigação
e também a um efeito terapêutico - segundo crêem estes terapeutas - mediante a promoção
de catarses dos pontos de trauma.
O norte.-americano David Chamberlain trabalha explorando, sobretudo as memórias
do nascimento, mediante emprego da técnica ele hipnose. Em um livro publicado em 1988
relata suas experiências clínicas, fornecendo evidência da veracidade das informações
referentes a detalhes de nascimentos obtidas em sessões de hipnose com pacientes, e
confirmadas por suas mães, igualmente submetidas à hipnose.
Grof, pioneiro no emprego do LSD para efeito de regressões profundas desde a
década de 1960, acumulou e publicou vastíssimo material recolhido em sessões de regressões
com pacientes sobre registros inconscientes existentes na mente, dos traumas
experimentados durante o processo do nascimento. Relata em seus livros as formas em que
se encontram representadas na mente as várias etapas - sentidas e registradas como
traumáticas e ameaçadoras - do nascimento.
Josephine Van Husen, empregando outras técnicas regressivas, recolheu vasto
material sobre registros mentais traumáticos de pacientes que sobreviveram a tentativas de
aborto e de sobreviventes de abortos praticados em que um gêmeo teria sido abortado.
Tanto o material recolhido por ela como aquele recolhido por Grof evidenciam as
profundas marcas deixadas na mente por estas experiências traumáticas pré-natais, cujas
repercussões psicológicas se manifestam na vida pós-natal.
O californiano William Emerson e o australiano Graham Farrat, promovendo
regressões mediante o emprego de técnicas respiratórias, buscam criar situações que
permitam a descarga catártica da experiência traumática original, relacionada com o
nascimento e com todo o período pré-natal, considerando os imprints, mais iniciais, desde a
emissão do espermatozóide, do óvulo, o encontro dos dois, a concepção, a multiplicação
celular, a descida pela trompa, a queda no útero, o implante e demais registros traumáticos
ocorridos durante a experiência intra-uterina.
Emerson desenvolveu uma técnica pioneira por meio da qual diagnostica e trata recém-
nascidos marcados por traumas pré e perinatais, obtendo - segundo suas observações e
depoimentos - uma completa remissão dos sintomas.
O trabalho clínico destes terapeutas tem fornecido subsídios para o conhecimento da
existência e operância dos traumas pré-natais. Porque este quer sejam natais, pré-natais, do
momento da concepção ou anteriores a ela, têm o poder de reger a conduta pós-natal,
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determinando padrões psicopatológicos, psicossomáticos e de comportamento, num
movimento regido por repetição compulsiva que somente pode ser desfeita mediante a
identificação verbalizada - interpretação portanto - ou ab-reação catártica (descarga
emocional terapêutica) seguida de uma verbalização que conceitua.
É neste ponto que o caminho da psicologia pré-natal cruza com o da psicanálise. É
minha opinião que precisamente nos pontos de registros traumáticos pré-natais é que se
encontram estabelecidas as raízes mais profundas de determinadas psicopatologias, bem
como de afecções psicossomáticas, objeto por excelência da psicanálise. Considero que todas
as experiências biológicas pelas quais passa o ser desde a sua pré-concepção até o seu
nascimento, ficam registradas em uma matriz básica inconsciente.
E, como já dizia Freud em 1900: “No inconsciente nada se esgota, nada é passado nem
esquecido (...) e o que costumamos descrever como sendo o nosso caráter baseia-se nos
traços mnêmicos de impressões, sendo que aquelas que maior efeito têm sobre nós são
precisamente as que raramente virão a ser conscientes”.
COMUNICAÇÃO INTRA-UTERINA ENTRE MÃE e BEBÊ
Existe uma comunicação entre mãe e feto durante todo o período gestacional. Esta
comunicação se dá por meio de três vias: a do comportamento, a da fisiologia e a via
empática.
Vamos examinar inicialmente como se dá a comunicação pela via fisiológica, uma vez
que é por seu intermédio que as emoções da mãe são veiculadasao bebê.
Até há relativamente pouco tempo achava-se que a placenta funcionava como uma
barreira protetora, deixando passar apenas os nutrientes e impedindo que substâncias
nocivas chegassem ao feto.
Hoje esta noção mudou radicalmente: sabe-se que a placenta não funciona como
barreira protetora, tampouco filtra substâncias tóxicas ou nocivas ao bebê dentro do útero
de sua mãe.
Sabe-se hoje que quaisquer substâncias ingeridas pela mãe são passadas ao feto.
Assim, o fumo, o álcool e as drogas atravessam a placenta e afetam nocivamente o bebê. Por
outro lado, as perturbações emocionais maternas que nela provocam alterações neuro-
hormonais, ou em sua pressão arterial, também irão repercutir sobre o estado
neurofisiológico do feto. Ou seja, seu estado emocional.
Como ocorre isso?
Todo e qualquer estado de perturbação emocional da mãe de qualquer pessoa - é
acompanhado por alterações bioquímicas: as suas células nervosas passam a secretar
quantidades maiores de determinadas substâncias do que aquelas que são normalmente
secretadas quando está tranqüila. Os neuro-hormônios que o organismo passa a produzir
quando ela está emocionalmente perturbada são lançados na sua corrente sangüínea e,
através das veias ao feto pelo cordão umbilical.
Dá-se o nome genérico de catecolaminas às substâncias neuro-hormonais secretadas
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em níveis aumentados pelo organismo da mãe quando ela está em um estado emocional de
maior tensão, ao qual hoje em dia se denomina estresse. As catecolaminas podem atravessar
a placenta, provocando no feto um estado de perturbação semelhante àquele sentido pela
mãe.
Uma catecolamina da qual você certamente já ouviu falar é a adrenalina. A adrenalina
é aquela substância que nossa glândula supra-renal secreta quando levamos um susto, fazendo
disparar nosso coração, suar frio, deixando-nos trêmulos.
Outras catecolaminas menos conhecidas por pessoas leigas são a noradrenalina, a
serotonina, a oxitocina, a epinefina, a norepinefrina e a dopamina. Todas elas, uma vez
lançadas na corrente sangüínea, produzem sensações psicológicas associadas ao temor e à
angústia. Quando presentes na corrente sanguínea da mãe, atravessam a barreira placentária
entrando na corrente sangüínea que abastece o feto por meio do cordão umbilical. O feto irá
então sentir a mesma perturbação emocional pela mãe: temor e angústia. Portanto, o temor e
a angustia transmitidos ao feto pela mãe têm, na sua origem, um caráter eminentemente
fisiológico.
Outros estados emocionais da mãe, além daqueles relacionados com temor e angústia,
também causam nela alterações neuro-hormonais que irão afetar o bebê: são os seus estados
de tristeza profunda, depressão ou melancolia. Nestes estados ocorrem alterações neuro-
hormonais (bioquímicas) com uma série de substâncias, dentre as quais, principalmente, a
elevação do nível de cortisol, que, lançado na corrente circulatória, pode afetar
fisiologicamente o feto ou provocar nele uma reação do "fechar-se" em uma espécie de
"escudo protetor" para ficar ao abrigo do efeito doloroso causado por tais substâncias.
Nos estados de depressão e de melancolia da mãe, além de o feto ser afetado
fisiologicamente - leia- se, emocionalmente -, pode ocorrer outra agravante: a mãe, solicitada
pela sua tristeza profunda ou entregue à sua depressão, deixa de estar afetivamente
disponível para ele, deixando-o só.
No entanto, a disponibilidade afetiva - que faz parte da via de comunicação empática -
parece ser de fundamental importância para o feto. Tudo leva a crer que ele necessita de
ajuda da mãe para processar as impurezas e toxinas por ela produzidas e por ela a ele
passadas, das quais ele sente necessidade de se livrar mediante uma desintoxicação realizada
pela sua mãe para ele. Mas, se o estado emocional da mãe não favorece tal disponibilidade, se
ela retira sua libido do contato com este hóspede passageiro que ela se dispôs a albergar, ela
o deixa abandonado a uma situação de injusta sobrecarga e desamparo, com a qual ele
sozinho não tem condições de lidar.
A disponibilidade afetiva da mãe é fundamental para que ocorra o desenvolvimento
psico-afetivo do indivíduo, de célula a feto, de feto a bebê, de bebê a criança.
As lesões provocadas na estrutura emocional do ser por acidentes graves ocorridos na
comunicação entre a mãe e o bebê durante o período pré-natal vão constituir imprints
traumáticos, cujos efeitos propagar-se-ão, seguindo o modelo de propagação das ondas
acústicas, vida afora.
De que recursos dispõe uma mulher grávida para efetuar um contato deliberado com
seu bebê pré-natal?
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Ela pode, em vários momentos do dia, dedicar a ele uma ida: com ele conversando
baixinho contando da suas atividades e ocupações, dos preparativos feitos para recebe-los
cantarolando cantigas de ninar, acariciando-o com ternura através do seu ventre, dedicando-
lhe muito carinho. Nestas conversas intimas, dentre outras, ela poderá também lhe explicar o
que teria transtornando emocionalmente poucos momentos antes.
Certas perturbações emocionais são inevitáveis e fazem parte do cotidiano de
qualquer grávida. Mas é importante lembrar da existência de recursos como o acima
mencionado, mediante o qual é possível abrandar e até mesmo neutralizar o seu efeito
negativo: quando a mãe vive momentos de estresse agudo ou alguma situação de perturbação
emocional, o feto é inundado como já vimos por uma descarga neuro-hormonal de substancias
fisiológicas que lhe causam sensações de pânico ou angustia profunda.. Em tais momentos, o
pequeno ser, que não conta ainda com recursos próprios para discernimento ou discriminação,
experimenta uma sensação muito radical de aniquilamento ou de ameaça de extermínio total.
As marcas deixadas por tais situações vão se constituir em imprints negativos,
núcleos geradores de pessimismo e desperança. As conversas tranqüilizadoras que a mãe
pode ter com o seu bebê visam restituir a ele a sensação de segurança, otimismo e
esperança, reforçando e reassegurando a permanência do vínculo de vida entre ambos.
Os sentimentos negativos de abandono, desamparo, pessimismo, desesperança,
desconfiança têm suas raízes fincadas na experiência pré-natal. Lembre-se de que, desde as
primeiras situações da vida biológica, houve experiências de rechaço fisiológico e rejeição
imunológica, que também receberam imprints, deixando marcas negativas. A partir destas, no
decorrer da vida, são emitidos sinais negativos do tipo: “não sou desejado”, “não sou
querido”, “não sou aceito”, “não sou acolhido”, “não pertenço”, reproduzindo, em outro nível, a
angústia sentida pelo ser por ocasião do primeiro registro pré-natal.
Como você está vendo, a experiência intra-uterina não tem aquela conotação de
segurança absoluta que antigamente lhe era atribuí-la.
Para concluir, desejo fazer um último assinalamento: neste período absolutamente
inicial da existência, a todo trauma biológico corresponde um correlato psíquico.
ORGANIZAÇÕES que se DEDICAM ao ESTUDO dos PERÍODOS PRÉ e PERINATAL
 Com freqüência, nas páginas deste livro, você tem lido a frase: "nestes últimos
vinte e cinco anos...", E isso mesmo, e vou usá-la outra vez agora, para dizer que nestes
últimos vinte e cinco anos adquirimos mais informações sobre os bebês, nos mais variados
estágios de sua gestação, do que durante todo o tempo precedente. Como já mencionei antes,
somos a primeira geração a possuir pleno e factual conhecimento a respeito do que se passa
com os bebês durante os nove meses em que habitam o ventre de suas mães e de tudo o que
são capazes de fazer durante este período.
A aquisição deste saber resulta de uma nova forma de colaboração entre profissionais
de todos os ramos da ciência, ultrapassando os limites das diferentes disciplinas,

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