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CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO 1° SEMESTRE DE 2020 INSTRUTOR: Everton Luiz Zanella E-mail: everton.zanella@mackenzie.br FURTO - Lei 13.654 de 2018 3 1.1. Furto simples 3 1.2. Furto de coisa comum (art. 156, CP) 5 1.3. Peculato (art. 312, CP) 5 1.4. Teorias sobre a consumação do furto 6 1.5. “Furto de uso” 7 1.6. Furto noturno (art. 155, § 1º, CP) 7 1.7. Furto privilegiado (art. 155, § 2º, CP) 8 1.8. Furto de energia (art. 155, §. 3°, CP) 9 1.9. Furto qualificado (art. 155, §. 4°, §4°-A, §5°, §6° e §7°) 10 PARÁGRAFO 4º 11 PARÁGRAFO 4º- A 13 PARÁGRAFO 5º 14 PARÁGRAFO 6° 15 PARÁGRAFO 7° 15 Generalidades do furto (art. 155 , CP) 16 Escusas absolutórias e relativas (art. 181 a 183, CP) 16 Inaplicabilidade das escusas (art. 183, CP) 17 1.9.10. Furto de coisa comum (art. 156, CP) 18 ROUBO (art. 157, CP) 19 2.1. Roubo próprio (art. 157, caput) 20 2.2. Roubo impróprio (art. 157, parágrafo 1º) 21 2.3. Causas de aumento (majorantes) 22 Parágrafo 2º 23 Parágrafo 2-A 25 Parágrafo 2-B 26 2.4. Qualificadoras 26 Parágrafo 3º 26 1 EXTORSÃO (art. 158, 159 e 160, CP) 28 3.1. Extorsão simples (art. 158, CP) 30 3.1.1. Causas de aumento 31 3.1.1.1. Parágrafo 1º 31 3.1.2. Qualificadora 31 3.1.2.1. Parágrafo 2º 31 3.1.2.2. Parágrafo 3º 32 3.2. Extorsão mediante sequestro (art. 159, CP) 33 3.2.1. Qualificadoras 34 3.2.1.1. Parágrafo 1º 34 3.2.1.2. Parágrafo 2º 35 3.2.1.3. Parágrafo 3º 35 3.2.2. Redução de pena 35 3.2.1.4. Parágrafo 4º 35 DANO (art. 163, CP) 36 4.1. Dano simples (caput) 36 4.2. Qualificadoras (parágrafo único) 39 5. APROPRIAÇÃO INDÉBITA (art. 168 a 170, CP) 41 5.1. Apropriação indébita simples (art. 168, CP) 41 5.1.1. Causas de aumento ou Majorante (3ª fase da dosimetria de pena) 44 5.2. Apropriação indébita previdenciária (art. 168 - A, CP) 45 5.3. Apropriação de coisa havida por erro, caso fortuito ou força da natureza (art. 169, CP) 46 5.3.1. Apropriação de tesouro (art. 169, parágrafo único, inciso I, CP) 47 5.3.2. Apropriação de coisa achada (art. 169, parágrafo único, inciso II, CP) 48 5.4. Apropriação indébita contra idoso 48 5.5. Apropriação indébita privilegiada 49 6. Estelionato (art. 171 a 179, CP) 49 6.1. Estelionato simples (art. 171, caput) 49 6.2. Duplicata simulada (art. 172) 50 6.3. Abuso de incapazes (art. 173, CP) 50 6.4. Fraude 51 6.4.1. Erro 52 6.4.2. Vantagem ilícita e prejuízo alheio 52 6.4.3. Falsificação de documento público e estelionato 53 6.5. Privilégio (art. 171, §1º, CP) 53 6.6. Modalidades do estelionato (art. 171, §2º) 54 1. FURTO - Lei 13.654 de 2018 1.1. Furto simples Art. 155. Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel: Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. § 1º - A pena aumenta-se de um terço, se o crime é praticado durante o repouso noturno. § 2º - Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor a coisa furtada, o juiz pode substituir a pena de reclusão pela de detenção, diminuí-la de um a dois terços, ou aplicar somente a pena de multa. § 3º - Equipara-se à coisa móvel a energia elétrica ou qualquer outra que tenha valor econômico. Furto qualificado § 4º - A pena é de reclusão de dois a oito anos, e multa, se o crime é cometido: I - com destruição ou rompimento de obstáculo à subtração da coisa; II - com abuso de confiança, ou mediante fraude, escalada ou destreza; III - com emprego de chave falsa; IV - mediante concurso de duas ou mais pessoas. § 4º- A A pena é de reclusão de 4 (quatro) a 10 (dez) anos e multa, se houver emprego de explosivo ou de artefato análogo que cause perigo comum. § 5º - A pena é de reclusão de três a oito anos, se a subtração for de veículo automotor que venha a ser transportado para outro Estado ou para o exterior. § 6o A pena é de reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos se a subtração for de semovente domesticável de produção, ainda que abatido ou dividido em partes no local da subtração. § 7º A pena é de reclusão de 4 (quatro) a 10 (dez) anos e multa, se a subtração for de substâncias explosivas ou de acessórios que, conjunta ou isoladamente, possibilitem sua fabricação, montagem ou emprego. Subtrair para si ou para outrem coisa alheia móvel. Esse é o furto simples presente no caput, mas também se aplica à modalidade privilegiada e qualificadora, estas apenas adicionam mais um motivo junto ao caput. Subtrair é tomar ou apoderar-se, tirar algo de alguém e trazer para si ou para outrem dolosamente (erro de tipo é desconsiderado, por exemplo pegar um guarda-chuva de outrem achando ser seu). Não importa se há conhecimento da vítima ou não com relação ao ato, desde que não haja violência. Pode ser por via eletrônica. Deve ser necessariamente coisa alheia móvel. Não pode ser da pessoa que furta, obviamente, e deve ser móvel (não sendo possível subtrair coisa imóvel), incluem-se os animais e bens semoventes domesticados de produção, como galinhas e bois quando destinados para a venda (art. 155, p. 6°, Lei 13.330 de 2018). A coisa alheia é aquela que é de outro, não o sendo o que for coisa abandonada. A coisa perdida é objeto do art. 169, II do CP, não sendo considerado furto e, sim, apropriação de coisa alheia cuja pena é menor que furto. Se a pessoa viu de quem é a coisa perdida e mesmo assim se apropriou, então não é de coisa perdida e, sim, furto. Coisa abandonada passa a ser coisa de ninguém, logo, se apropriar de coisa abandonada não é furto. ● Pena do furto simples (caput), aquele que não tem qualificadora e nem privilégio: reclusão de 1 a 4 anos e multa Quase todos os crimes patrimoniais tem pena de reclusão seguida de multa, esta sendo cumulativa. O furto híbrido é aquele que é qualificado e privilegiado ao mesmo tempo. Neste caso, como o privilégio diminui a pena, incide essa diminuição na pena da qualificadora. 1.2. Furto de coisa comum (art. 156, CP) Art. 156. Subtrair o condômino, co-herdeiro ou sócio, para si ou para outrem, a quem legitimamente a detém, a coisa comum: Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa. § 1º - Somente se procede mediante representação. § 2º - Não é punível a subtração de coisa comum fungível, cujo valor não excede a quota a que tem direito o agente. No art. 156 do CP existe o furto de coisa comum, algo que é de outrem, mas que também é da pessoa que furtou. Por exemplo em casos de herança ou de divisão de valores para compra. 1.3. Peculato (art. 312, CP) Art. 312. Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, público ou particular, de que tem a posse em razão do cargo, ou desviá-lo, em proveito próprio ou alheio: Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa. § 1º - Aplica-se a mesma pena, se o funcionário público, embora não tendo a posse do dinheiro, valor ou bem, o subtrai, ou concorre para que seja subtraído, em proveito próprio ou alheio, valendo-se de facilidade que lhe proporciona a qualidade de funcionário. No art. 312, §1°, do CP há o crime de "peculato-furto". Cometido por servidor público que se apropria de bem da Administração ou aquele que não é exatamente servidor público, mas que se aproveita de sua posição, das vantagens de sua posição, para subtrair bens públicos. Por exemplo o caso do segurança do Bancodo Brasil que se aproveita para subtrair dinheiro. Esse é um caso específico de furto praticado por pessoa específica, em situação específica e de coisa específica. 1.4. Teorias sobre a consumação do furto A consumação do furto, o momento em que o crime se consuma, é efetivado, é uma questão de grande polêmica dentre os doutrinadores. Existem quatro teorias: 1. Teoria da concretatio: a consumação ocorre quando houver um simples contato entre o agente e a coisa alheia móvel, sendo irrelevante seu deslocamento. Exemplo: o indivíduo pula o muro de uma casa e começa a colocar objetos na sacola, mas o alarme toca e o dono da casa aparece. Não é a teoria que prevalece, sendo entendida como mera tentativa pelas outras posições. 2. Teoria da amotio (ou apprehensio): o furto consuma-se quando a coisa subtraída sai da disponibilidade da vítima e passa para o poder do agente (inversão da posse). Ainda que por um breve e curto momento, independentemente do deslocamento ou da posse tranquila da coisa. Exemplo: o indivíduo entra na casa, coloca objetos na sacola, sai da casa e, logo na rua de trás, é pego pelo segurança. Essa teoria é a predominante na doutrina, adotada pelo STJ e STF. 3. Teoria da ablatio: a consumação dá-se quando o agente, depois de apoderar-se do bem, consegue deslocá-lo de lugar, sendo prescindível (independente) a posse tranquila. Exemplo: o sujeito invade a casa, coloca bens no saco, sai da casa e consegue completar o caminho até a casa dele ou até o objetivo inicial. 4. Teoria da ilatio: exige-se, para a consumação, que a posse do furtador, após o deslocamento da coisa, seja absolutamente tranquila. Exemplo: o sujeito invade a casa, coloca os bens no saco, sai da casa e consegue chegar até o seu objetivo sem nenhuma perseguição ou flagrante. Essa teoria é bastante adotada por autores clássicos como Hungria e Fragoso. Pela Súmula 567 do STJ, a existência de sistema de vigilância em estabelecimento não torna o furto crime impossível do art. 17 do CP. Muito comum em supermercados. É o caso de dificultar a possibilidade de o sujeito tomar posse, mas não deixa de ser furto. 1.5. “Furto de uso” Ainda existe a figura do "furto de uso" em que o indivíduo pega o bem, sem autorização, para usar e devolver ao proprietário. O indivíduo não se apropria do bem para ficar com ele para sempre, é uma apropriação momentânea do bem de outra pessoa sem a sua autorização com a pronta restituição (no máximo, até dia seguinte) do bem, intacto. É um fato atípico por falta de dolo do apropriação definitiva. É uma situação puramente jurisprudencial, de construção doutrinária. É, portanto, exigido: a) devolução rápida; b) restituição integral do bem, no mesmo estado, de forma a não causar prejuízo financeiro à vítima; c) a espontaneidade do agente, o indivíduo deve devolver por vontade própria. Lembrando que apropriação indébita, como é o caso do manobrista ou de um mecânico que se apropria de um carro de sua oficina e usa como seu durante um período de tempo, é um caso diferente de "furto de uso". 1.6. Furto noturno (art. 155, § 1º, CP) Art. 155. Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel: § 1º - A pena aumenta-se de um terço, se o crime é praticado durante o repouso noturno. Furto praticado durante o repouso noturno, a lei não especifica o que é "repouso" e "noturno", alguns utilizarem um critério mais objetivo de horário e outros consideram "noturno" período em que há falta de luz, pois é um fator que favorece o ladrão. É uma causa de aumento da pena de ⅓, aplicada na 3ª fase de dosimetria da pena. Portanto, esse crime possui o elemento de período de descanso somado ao elemento temporal (noite ou madrugada). O conceito de repouso dependerá da análise do local e do caso concreto. Importante lembrar que a lei não fala em nenhum momento que deva acontecer em residência, por mais que a incidência seja maior. No caso de uma família viajar, deixando a casa vazia nesse período, e o ladrão souber disso e planejar um furto de madrugada, esse crime também incide uma vez que a palavra "repouso" não se refere ao repouso da vítima e, sim, da comunidade. Em casos de furto qualificado, há uma polêmica se a causa de aumento incidiria juntamente da primeira ou não. A doutrina majoritária defende que o aumento de ⅓ só incide sobre o caput e, se houver qualificadora, aplica-se a pena desta somente. Seus argumentos consistem em justificar a partir da disposição dos parágrafos, o qualificado vem depois do repouso noturno na estrutura do tipo, esse argumento é problemático, pois se fosse assim, o furto privilegiado também não incidiria sobre a qualificadora uma vez que o primeiro vem antes do último. Também argumenta-se que, pelo furto qualificado ter pena maior, o legislador já previu os dois tipos de crimes e, por isso, seria um exagero aumentá-la ainda mais. A corrente minoritária concorda que se aplica também ao furto qualificado, posicionamento do STJ. Entendemos que é a melhor posição, pois não há incompatibilidade da causa de aumento com as qualificadoras, uma não exclui a outra, e o tipo deve ser harmônico, independentemente da posição dos parágrafos. 1.7. Furto privilegiado (art. 155, § 2º, CP) Art. 155. Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel: § 2º - Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor a coisa furtada, o juiz pode substituir a pena de reclusão pela de detenção, diminuí-la de um a dois terços, ou aplicar somente a pena de multa. Privilégio também está presente no homicídio e na lesão corporal. No caso de furto, além da diminuição de ⅓ até ⅔ da pena, o juiz pode aplicar multa somente ou pode substituir a pena de reclusão por detenção. Este último é irrelevante porque 4 anos é a pena máxima do furto e, em geral, essa se torna a pena oficial. O que significa que o agente terá regime aberto independentemente desse benefício. O mais aplicado é a redução de pena, que ocorre na 3ª fase. No caso da multa, é geralmente aplicada seguindo o princípio de bagatela (da insignificância) em que o valor é muito pequeno e irrelevante para a vítima, de forma que não haveria afronta ao bem jurídico e o direito penal não precisaria ser aplicado (ultima ratio). Só pode ser aplicado se o réu for primário, aquele que ou nunca praticou um crime ou aquele que não é reincidente (aquele que praticou um crime no passado e, a partir do cumprimenro de pena, passou-se 5 anos), e se a coisa for de pequeno valor (até 1 salário mínimo a depender do entendimento do juiz) segundo a jurisprudência. A Súmula 511 do STJ define que o privilégio pode incidir sobre o furto qualificado, desde que o réu seja primário, a coisa seja de pequeno valor e as qualificadoras sejam de natureza objetiva. Não confundir furto privilegiado com o "furto de bagatela" (furtos insignificantes), em que há atipicidade material (em outras palavras, não há crime) uma vez que não ofende ao bem jurídico por mais que existisseuma tipicidade formal, e com "furto famélico" (aquele que furta para saciar a fome), em que há exclusão da ilicitude por estado de necessidade. 1.8. Furto de energia (art. 155, §. 3°, CP) Art. 155. § 3º - Equipara-se à coisa móvel a energia elétrica ou qualquer outra que tenha valor econômico. Equipara-se a coisa móvel a energia elétrica ou qualquer outra que tenha valor econômico. Qualquer outra pode ser energia térmica, sonora, mecânica, etc. Esse parágrafo entrou com o crescente desenvolvimento tecnológico da atualidade. Hoje em dia há coisas que não são móveis ou palpáveis e que pertencem a alguém, até os bitcoins ou o dinheiro virtual dos bancos são considerados objetos móveis. A questão é se TV à cabo e wi-fi são consideradas "energias" que podem ser furtadas. Nesse caso, a doutrina diverge entre o STF e STJ. Greco e Bittencourt, do STF, acordam que esse caso não é considerado energia. Primeiro porque não é algo que se esgota, ninguém paga por tempo ou quantidade para utilizar a TV. Além disso, não há redução patrimonial de outrem. Mirabete e Nucci, do STJ e TJ/SP, consideram ser, sim, energia. Utilizam-se do conceito técnico de energia, o de que energia é uma propagação de ondas eletromagnéticas. Também, traz um prejuízo econômico à empresa de TV à cabo, uma vez que ela vai deixar de vender. Esse crime também cabe qualificadora. 1.9. Furto qualificado (art. 155, §. 4°, §4°-A, §5°, §6° e §7°) Furto qualificado § 4º - A pena é de reclusão de dois a oito anos, e multa, se o crime é cometido: I - com destruição ou rompimento de obstáculo à subtração da coisa; II - com abuso de confiança, ou mediante fraude, escalada ou destreza; III - com emprego de chave falsa; IV - mediante concurso de duas ou mais pessoas. § 4º- A A pena é de reclusão de 4 (quatro) a 10 (dez) anos e multa, se houver emprego de explosivo ou de artefato análogo que cause perigo comum. § 5º - A pena é de reclusão de três a oito anos, se a subtração for de veículo automotor que venha a ser transportado para outro Estado ou para o exterior. § 6o A pena é de reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos se a subtração for de semovente domesticável de produção, ainda que abatido ou dividido em partes no local da subtração. § 7º A pena é de reclusão de 4 (quatro) a 10 (dez) anos e multa, se a subtração for de substâncias explosivas ou de acessórios que, conjunta ou isoladamente, possibilitem sua fabricação, montagem ou emprego. O furto qualificado tem outra pena e vai depender da qualificadora. 1. PARÁGRAFO 4º PENA: 2 a 8 anos de reclusão e multa § 4º - A pena é de reclusão de dois a oito anos, e multa, se o crime é cometido: I - com destruição ou rompimento de obstáculo à subtração da coisa; II - com abuso de confiança, ou mediante fraude, escalada ou destreza; III - com emprego de chave falsa; IV - mediante concurso de duas ou mais pessoas. São hipóteses qualificadoras desse parágrafo: I. Com a destruição ou rompimento de obstáculo Obstáculo é considerado aquilo que impede ou dificulta a subtração da coisa. Por exemplo, janelas, portas, grades, cadeados, cofres, etc. Há alguns julgados (um pouco equivocados) que afastam a qualificadora se o dano for do próprio objeto (como quebrar o vidro do carro para furtá-lo). Mas essa posição não é muito popular. Cachorros e animais que são treinados para ficar de guarda, quando mortos por ladrões, também é considerado destruição de obstáculo. II. Por abuso de confiança, fraude, escalada, destreza Abuso de confiança é quando se quebra o vínculo de lealdade (por exemplo quando se tem uma relação empregatícia). Essa é uma qualificadora subjetiva, não poderia aplicar o privilégio. Fraude é qualquer meio enganoso para iludir a vigilância e conseguir subtrair (diferente da fraude do estelionato, neste não há subtração, a fraude é praticada para que a vítima faça algo a favor do agente. Por exemplo: exigir a transferência de determinada quantia com a promessa de entregar um objeto ou um serviço que nunca será realizada). Escalada é o uso de qualquer acesso anormal, como subir na parede, cavar túnel, pular portão. Demanda um certo esforço, se for uma cerca minúscula nem pode ser considerado escalada. Destreza é o uso de uma habilidade específica para subtrair e a vítima não percebe. III. Com emprego de chave falsa Com ou sem forma de chave. Pode ser a chave "micha" (também chamada de 'gazua' ou 'chave mestra', que é uma ferramenta que imita uma chave e é hábil a abrir fechaduras), chave clonada, grampo, arame, etc. IV. Mediante concurso de duas ou mais pessoas Concurso cabe coautoria ou participação pelo art. 29 do CP. Deve haver ajuste prévio, no sentido de que há um acordo anterior, entre as pessoas (liame subjetivo). Nesse caso, conta-se inimputáveis ou pessoas não identificadas. Ser partícipe não muda a pena, se uma furtar enquanto a outra ficar de vigia, ambas têm a mesma pena A Súmula 442 do STJ veda a aplicação, ao furto, da majorante do roubo (de concurso de pessoas), devendo-se aplicar a qualificadora própria. O que significa que esse caso deve ser aplicado na qualificadora do furto (em que dobra a pena) e não do roubo (que aumenta de ⅓ até a ½), o que é óbvio. Essa Súmula veio para corrigir distorções da Lei aplicadas por alguns tribunais. Em outras palavras, a qualificadora do furto em caso de concurso de pessoas dobra a pena. Já no roubo, a qualificadora para o mesmo crime é, no máximo, o dobro. Assim, o aumento era maior no furto do que no roubo, não sendo proporcional, por isso, aplicava-se o aumento do furto pelo dispositivo referente ao crime de roubo, para manter uma proporcionalidade. A Súmula, portanto, mudou isso. Qualificadoras são computadas desde a 1ª fase, causas de aumento somente na 3ª. FURTO no CP Furto simples: Art. 155, caput - pena de 1 a 4 anos Furto qualificado mediante concurso de pessoas: Art. 155, § 4º, IV - pena de 2 a 8 anos ROUBO no CP Roubo simples: Art. 157, caput - pena de 4 a 10 anos Roubo qualificado mediante concurso de pessoas: Art. 157, § 2°, + ⅓ a ½ 2. PARÁGRAFO 4º- A PENA: de 4 a 10 anos e multa § 4º- A A pena é de reclusão de 4 (quatro) a 10 (dez) anos e multa, se houver emprego de explosivo ou de artefato análogo que cause perigo comum. Traz uma forma mais gravosa de se praticar o furto, que é mediante o uso de explosivos, e, por isso, merece maior reprovabilidade. Tal como o §4°, há qualificadora pela forma de execução do furto. O emprego de explosivo sempre foi considerado como um meio para se romper ou destruir obstáculo (§4°, I). Continua sendo como tal, mas com o aumento do uso de explosivos para, principalmente, furtar caixas de banco, criou-se uma qualificadora específica em abril de 2018. Entre os arts. 250 a 259, CP, existem as hipóteses do perigo comum, crime que ameaça a coletividade . No art. 251 existe o tipo penal de acionar explosivo causando perigo comum. 1 2 Antes da Lei 13.654/18, se alguém acionasse uma bombapara furtar um banco, o agente respondia pelo furto com a aplicação da qualificadora do inciso I e também a pena do art. 251, o 1 Algumas delas são: causar incêndio, explosão, uso de gás tóxico ou asfixiante, causar inundação, fabricar, transportar, fornecer, portar explosivos ou gases tóxicos, causar desabamento, ocultação de material de salvamento, difusão de doença ou praga. 2 Art. 251, CP. Expor a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem, mediante explosão, arremesso ou simples colocação de engenho de dinamite ou de substância de efeitos análogos: Pena - reclusão, de três a seis anos, e multa. que, fazendo os cálculos, seria uma pena total de 4 a 10 anos. Agora, com o §4°-A, o furto qualificado absorverá o crime de explosão. Se dois indivíduos estiverem praticando o crime de furto com uso de explosivos, usa-se esse parágrafo também e também o art. 59, CP. Pois a conduta mais grave absorve a pena mais leve. 3. PARÁGRAFO 5º PENA: de 3 a 8 anos (sem previsão de multa porque o legislador imbecil esqueceu) § 5º - A pena é de reclusão de três a oito anos, se a subtração for de veículo automotor que venha a ser transportado para outro Estado ou para o exterior. Parágrafo acrescido pela Lei 9.426/96. O objeto do furto aqui é o veículo automotor que venha a ser levado a outro Estado ou para o exterior. A polêmica que se cria é: se o agente tentar atravessar a divisa ou fronteira e não conseguir por circunstâncias alheias à sua vontade, seria considerado furto simples ou tentativa de furto qualificado? Entende-se que há furto simples, pois já consumada a subtração (o agente já está com a posse do bem). A tentativa se refere ao núcleo do tipo (subtrair) e não à concretização da qualificadora. Nesse sentido, se um sujeito furta um carro com o objetivo de ir até o Paraguai para realizar o desmanche, mas é pego no meio do caminho, ele será punido com a pena de furto simples porque ele realizou a subtração (o núcleo do tipo), ou seja o crime se consumou. Agora, o agente que pula o muro de uma casa e, quando está lá dentro, é pego em flagrante, é punido como tentativa de furto qualificado porque ele não chegou a subtrair, mas escalou o muro. Existe, de fato, a tentativa de furto qualificado, mas se refere apenas aos §’s 4°, 6° e 7°. 4. PARÁGRAFO 6° PENA: reclusão de 2 a 5 anos (sem previsão de multa) § 6o A pena é de reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos se a subtração for de semovente domesticável de produção, ainda que abatido ou dividido em partes no local da subtração. Se a subtração for de semovente domesticável de produção, ainda que abatido ou dividido em partes no local da subtração. Ou seja, mesmo que o animal esteja morto e dilacerado, como são os casos de gado bovino. É um parágrafo adicionado pela Lei n° 13.330 de 2016, que também acrescentou a recepção do semovente domesticável de produção (art. 180-A do Código Penal ). 3 Semovente domesticável de produção é, como regra, o gado bovino, chamado de "abigeato". A última parte do dispositivo que fala "ainda que abatido ou dividido em partes no local da subtração" não exclui o crime de maus tratos (art. 32 da Lei n° 9.605). Se o agente matar ou cortar o animal no local para furtar, serão dois crimes. 5. PARÁGRAFO 7° PENA: reclusão de 4 a 10 anos e multa § 7º A pena é de reclusão de 4 (quatro) a 10 (dez) anos e multa, se a subtração for de substâncias explosivas ou de acessórios que, conjunta ou isoladamente, possibilitem sua fabricação, montagem ou emprego. Quando há subtração de substâncias explosivas ou de acessórios que, conjunta ou isoladamente, possibilitem sua fabricação, montagem ou emprego. Tal com os parágrafos 5° e 6°, trata-se de qualificadora pelo objeto material do furto (ou seja, sobre aquilo que é subtraído) Parágrafo acrescentado pela Lei n° 13.654/2018. A ideia do legislador foi a de punir com maior rigor a subtração de artefatos explosivos ou destinados a montar explosivos (pólvora, por exemplo), evitando-se, assim, futuros crimes de perigo comum. 3 Receptação de animal Art. 180-A. Adquirir, receber, transportar, conduzir, ocultar, ter em depósito ou vender, com a finalidade de produção ou de comercialização, semovente domesticável de produção, ainda que abatido ou dividido em partes, que deve saber ser produto de crime: Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa. Generalidades do furto (art. 155 , CP) O furto é um crime de ação penal pública incondicionada, a vítima querendo ou não o Ministério Público pode entrar com a ação (regra geral do art. 100 do CP). Salvos na hipóteses de furto qualificado (cujas penas mínimas são de 4 anos), no crime de furto cabe o acordo de não persecução penal (ANPP) entre o MP e o agente representado por advogado. Para isso, o réu deve confessar o crime e, nesse acordo, poderia ela substituir a pena de reclusão dele para prestação de serviços à comunidade. Esse acordo já era previsto na Resolução 181/17 - CNMP, mas agora se tornou lei pelo art. 28-A do CPP. São requisitos para realizar esse acordo: a) não ser caso de arquivamento; b) o réu deve confessar; c) o crime deve ser sem violência ou grave ameaça; d) a pena mínima deve ser inferior a 4 anos; e) e o fato deve ser suficientemente reprovável. O agente deverá reparar o dano, renunciando e devolvendo o objeto do crime (e reparando os demais danos) e prestando serviço comunitário ou pagar prestação pecuniário. O réu deve ser primário e esse acordo não poderá ser refeito em um prazo de 5 anos depois. Escusas absolutórias e relativas (art. 181 a 183, CP) Art. 181 - É isento de pena quem comete qualquer dos crimes previstos neste título, em prejuízo: I - do cônjuge, na constância da sociedade conjugal; II - de ascendente ou descendente, seja o parentesco legítimo ou ilegítimo, seja civil ou natural. O art. 181 fala sobre escusas absolutórias. É uma causa de isenção de pena, haverá uma opção legal em não se aplicar a pena em razão da qualidade especial da vítima sendo cônjuge, ascendente ou descendente. Art. 182 - Somente se procede mediante representação, se o crime previsto neste título é cometido em prejuízo: I - do cônjuge desquitado ou judicialmente separado; II - de irmão, legítimo ou ilegítimo; III - de tio ou sobrinho, com quem o agente coabita. O art. 182 fala sobre escusas ou imunidade relativas (quando for crime contra ex-cônjuge, irmão, tio ou sobrinho com quem o agente coabita). e o art. 183 coloca limitações e requisitos. O art. 183 do CP, por sua vez, coloca limitações aos requisitos do art. 182. Segundo o dispositivo, não se aplica a isenção de pena se for com violência ou grave ameaça ou se for cometido contra idosos. O objetivo desse dispositivo é manter a harmonia familiar. Art. 183 - Não se aplica o disposto nos dois artigos anteriores: I - se o crime é de roubo ou de extorsão, ou, em geral, quando haja emprego de grave ameaça ou violência à pessoa; II - ao estranho que participa do crime. III – se o crime é praticado contra pessoa com idadeigual ou superior a 60 (sessenta) anos. Por exemplo, no caso em que o crime de furto for praticado entre casal divorciado e o ex-marido furta ex-mulher, a ação penal se torna condicionada à vítima. Não há isenção de pena, mas condição de procedibilidade e também ocorre quando é contra irmão, tio ou sobrinho. Também se aplicam os requisitos do art. 183 neste caso. a) Inaplicabilidade das escusas (art. 183, CP) Art. 183 - Não se aplica o disposto nos dois artigos anteriores: I - se o crime é de roubo ou de extorsão, ou, em geral, quando haja emprego de grave ameaça ou violência à pessoa; II - ao estranho que participa do crime. III – se o crime é praticado contra pessoa com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos. Pelo art. 183, os arts. 181 e 182 não se aplicam aos crimes que tenham emprego de violência ou grave ameaça ou se a vítima tem 60 anos ou mais. Com relação à Lei Maria da Penha (Lei n° 11.340/06), em seu art. 7°, IV, traz cinco formas de violência contra mulher uma delas é violência patrimonial. Ou seja, se a vítima for mulher, cometido por marido ou ex-marido, deveria ser aplicada a referida lei e não as escusas do CP. Outra posição, no entanto, prevalece, a de que os artigos do Código Penal prevalecem frente à Lei Maria da Penha no caso de furto porque esta não mudou àquela. 1.9.10. Furto de coisa comum (art. 156, CP) Pena: detenção de 6 meses a 2 anos ou multa Art. 156 - Subtrair o condômino, co-herdeiro ou sócio, para si ou para outrem, a quem legitimamente a detém, a coisa comum: Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa. § 1º - Somente se procede mediante representação. § 2º - Não é punível a subtração de coisa comum fungível, cujo valor não excede a quota a que tem direito o agente. Se o furto for cometido por condômino, coerdeiro ou sócio. O objeto do furto é coisa comum, quando o bem é de mais de uma pessoa além do próprio agente. É um crime de menor potencial ofensivo (Lei n° 9.099/95). É um crime de ação penal pública condicionada, que exige representação da vítima (p. 1°). Só caberá isenção de pena quando for coisa fungível cujo valor não exceder a quota parte do agente. Por exemplo, se agente A e B compram uma TV de dois mil reais, em que cada um pagou mil do valor, e o agente A furta 800 reais do agente B e some, ele não ultrapassou o valor de mil (parágrafo 2°). 2. ROUBO (art. 157, CP) PENA: reclusão de 4 a 10 anos e multa (roubo simples ou próprio) Art. 157 - Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça ou violência a pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de resistência: Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa. § 1º - Na mesma pena incorre quem, logo depois de subtraída a coisa, emprega violência contra pessoa ou grave ameaça, a fim de assegurar a impunidade do crime ou a detenção da coisa para si ou para terceiro. § 2º A pena aumenta-se de 1/3 (um terço) até metade: I – REVOGADO II - se há o concurso de duas ou mais pessoas; III - se a vítima está em serviço de transporte de valores e o agente conhece tal circunstância. IV - se a subtração for de veículo automotor que venha a ser transportado para outro Estado ou para o exterior; V - se o agente mantém a vítima em seu poder, restringindo sua liberdade. VI – se a subtração for de substâncias explosivas ou de acessórios que, conjunta ou isoladamente, possibilitem sua fabricação, montagem ou emprego. VII - se a violência ou grave ameaça é exercida com emprego de arma branca; § 2º-A A pena aumenta-se de 2/3 (dois terços): I – se a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma de fogo; II – se há destruição ou rompimento de obstáculo mediante o emprego de explosivo ou de artefato análogo que cause perigo comum. § 2º-B. Se a violência ou grave ameaça é exercida com emprego de arma de fogo de uso restrito ou proibido, aplica-se em dobro a pena prevista no caput deste artigo. § 3º Se da violência resulta: I – lesão corporal grave, a pena é de reclusão de 7 (sete) a 18 (dezoito) anos, e multa; II – morte, a pena é de reclusão de 20 (vinte) a 30 (trinta) anos, e multa. O crime de roubo e furto são bem parecidos: são de subtrair para si ou para outrem coisa móvel. Mas a diferença é que existe violência física no roubo (não necessariamente causando lesão), ou grave ameaça (violência psicológica ou moral, como o uso de arma), ou redução da possibilidade de resistência da vítima, violência imprópria (como o uso de sonífero, sedação, etc). Quanto à consumação do roubo próprio (as mesmas teorias utilizadas para o furto), é adotada a teoria da amotio, quando o agente se apodera da coisa (simples retirada da esfera de disponibilidade da vítima) mediante uso de violência ou grave ameaça, não havendo necessidade de posse tranquila. Pela Súmula 582, do STJ, "consuma-se o crime com a inversão da posse do bem mediante emprego de violência ou grave ameaça, ainda que for por um breve tempo e em seguida à perseguição imediata ao agente e recuperação da coisa roubada, sendo prescindível a posse mansa e pacífica ou desvigiada." Há possibilidade de tentativa de roubo, quando o agente usa de violência ou grave ameaça, mas não consegue se apoderar da coisa. 2.1. Roubo próprio (art. 157, caput) PENA: reclusão de 4 a 10 anos e multa Art. 157 - Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça ou violência a pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de resistência: Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa. Como já dito, o crime de roubo tem os mesmos elementos do crime de furto: subtrair para si ou para outrem, coisa alheia móvel, mas tem outros elementos também. A forma de execução do roubo será mediante violência, grave ameaça ou a redução da possibilidade de resistência da vítima. Há a possibilidade e violência física (soco, pontapé, rasteira, gravata, tapa, ou com emprego de algum instrumento). Grave ameaça é o que se chama de violência moral, que é ameaçar alguém de um mal injusto e grave para que a vítima possa ceder à subtração, muitas vezes ocorrendo com o emprego de arma, o que vai fazer com que o roubo tenha uma causa de aumento, mas existem outros meios de ameaça. Há também a redução da possibilidade da vítima resistir (chamada de violência imprópria), podendo se utilizar de entorpecentes, álcool, sonífero, entre outros. Esse crime se consuma, de acordo com a Súmula 582 do STJ, quando houver o emprego da violência ou da grave ameaça seguida da inversão da posse pelo agente, ainda que por um curto espaço de tempo. Não é necessária a posse mansa e tranquila do bem, ou seja, é adotada a teoria da amotio. Primeiro há o emprego da violência ou da grave ameaça e depois há a subtração. 2.2. Roubo impróprio (art. 157, parágrafo 1º) PENA: reclusão de 4 a 10 anos e multa § 1º - Na mesma pena incorre quem, logo depois de subtraída acoisa, emprega violência contra pessoa ou grave ameaça, a fim de assegurar a impunidade do crime ou a detenção da coisa para si ou para terceiro. Na mesma pena do caput, incide aquele que empregar: violência ou grave ameaça logo depois da subtração, com o intuito de garantir a impunidade ou a detenção da coisa. Ou seja, há uma inversão do roubo próprio, primeiro vem a subtração e, depois, a violência ou grave ameaça. É aquele fato que poderia ser um furto, mas acaba utilizando da violência para garantir a detenção ou a impunidade da coisa. Por exemplo, um homem entra na casa para subtrair as joias e o dinheiro, coloca em uma mala e está saindo da casa quando aparece o dono da casa, então, o agente agride ou ameaça o dono e, com isso, consegue levar embora os itens já subtraídos. A subtração já deve ter ocorrido antes da violência ou grave ameaça. Seria um furto se não aparecesse alguém, mas como alguém apareceu, o agente se utilizou da violência. 2.3. Causas de aumento (majorantes) PENA: reclusão de 4 a 10 anos e multa § 2º A pena aumenta-se de 1/3 (um terço) até metade: I – REVOGADO II - se há o concurso de duas ou mais pessoas; III - se a vítima está em serviço de transporte de valores e o agente conhece tal circunstância. IV - se a subtração for de veículo automotor que venha a ser transportado para outro Estado ou para o exterior; V - se o agente mantém a vítima em seu poder, restringindo sua liberdade. VI – se a subtração for de substâncias explosivas ou de acessórios que, conjunta ou isoladamente, possibilitem sua fabricação, montagem ou emprego. VII - se a violência ou grave ameaça é exercida com emprego de arma branca; § 2º-A A pena aumenta-se de 2/3 (dois terços): I – se a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma de fogo; II – se há destruição ou rompimento de obstáculo mediante o emprego de explosivo ou de artefato análogo que cause perigo comum. § 2º-B. Se a violência ou grave ameaça é exercida com emprego de arma de fogo de uso restrito ou proibido, aplica-se em dobro a pena prevista no caput deste artigo. O parágrafo 2-A foi acrescentado pela Lei nº 13.654 de abril de 2018, e o parágrafo 2-B foi acrescentado pelo Pacote Anti-Crime (Lei nº 13.964 de 2019). Esses parágrafos dispostos acima trazem as chamadas majorantes, causas de aumento de pena, não são qualificadoras, pois não trazem uma pena nova. São aplicadas na 3ª fase de dosimetria da pena. A redação atual do parágrafo 2º, traz os incisos II ao VII, uma vez que o I está revogado pela Lei nº 13.654 de 2018. Este dizia respeito à violência exercida com o emprego de arma, essa causa de aumento foi suprimida para ser incluída no 2-A roubo praticado com arma de fogo. Em 2019 vem uma nova alteração, pelo pacote Anti-Crime, e prevê no inciso VII do parágrafo 2º o roubo praticado com arma branca. Antes, o termo “arma” utilizado no inciso I do mesmo parágrafo, referia-se tanto à arma branca quando à de fogo. Até 2018, portanto, tanto a arma branca quanto a arma de fogo eram incluídos no conceito de “arma” disposto no inciso I do parágrafo 2º. A partir desse ano, o legislador revoga o inciso I e só passa a ter causa de aumento de pena pelo 2-A quando houver emprego de arma de fogo, com aumento de ⅔ da pena. Assim, para quem executa o roubo com arma de fogo a pena que era, até 2018, aumentada de ⅓ até a metade, passou a ser aumentada em ⅔ . Por outro lado, quando o roubo era por arma branca, que até 2018 tinha causa de aumento de pena, deixou de ter a partir desse ano, ao ser revogado o inciso I. Porém, em 2019, isso mudou novamente, e quem utiliza arma branca para o roubo, pelo inciso VII do parágrafo 2º, tem um aumento de pena de ⅓ até a metade. Ou seja, de 2018 (quando foi revogado o inciso I) até o início de 2020 (quando entrou em vigor o pacote Anti-Crime), só tem aumento de pena quando o crime é praticado com emprego de arma e fogo. Mas depois de 2020, repetindo, quem usa arma branca tem aumento de ⅓ até a metade e, quem usa arma de fogo, tem aumento de pena de ⅔. Parágrafo 2º Aumento de pena: de ⅓ até metade § 2º A pena aumenta-se de 1/3 (um terço) até metade: I – REVOGADO II - se há o concurso de duas ou mais pessoas; III - se a vítima está em serviço de transporte de valores e o agente conhece tal circunstância. IV - se a subtração for de veículo automotor que venha a ser transportado para outro Estado ou para o exterior; V - se o agente mantém a vítima em seu poder, restringindo sua liberdade. VI – se a subtração for de substâncias explosivas ou de acessórios que, conjunta ou isoladamente, possibilitem sua fabricação, montagem ou emprego. VII - se a violência ou grave ameaça é exercida com emprego de arma branca; Aumenta-se de ⅓ até a metade se II. o crime for cometido no concurso de duas ou mais pessoas (podem ser dois autores ou pode ser a mera participação); III. se a vítima estiver em 4 serviço de transporte de valores, envolvendo aqueles casos de carro forte, transporte de carga, entre outros, não importando se for dinheiro ou não; IV. quando a subtração for de veículo automotor que venha a ser levado para outro estado ou país, valendo tudo o que se diz para o furto, mas com o emprego de violência ou grave ameaça, desde o momento em que o veículo é transportado e chega a outro país; V. se o agente mantém a vítima em seu poder, restringindo a sua liberdade, mantendo-a como refém durante a subtração. Por exemplo, quando o indivíduo entra no banco e faz como refém um funcionário para conseguir abrir o cofre, ou quando o agente entra em uma casa e amarra o dono em uma cadeira para conseguir pegar os objetos. É uma privação de liberdade da vítima para facilitar a subtração. O inciso VI fala sobre subtração de substâncias explosivas ou acessório que possibilite a fabricação ou montagem do explosivo, deve ser o objeto material do crime utilizando-se de violência ou grave ameaça. Por último, o inciso VII, se a violência ou grave ameaça for exercida com emprego de arma branc, aquela que não é feita para ser arma, mas pode ser usada como tal no caso concreto. O exemplo mais comum é a faca, mas pode ser gillette, etc. Parágrafo 2-A Aumento de pena: de ⅔ § 2º-A A pena aumenta-se de 2/3 (dois terços): I – se a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma de fogo; II – se há destruição ou rompimento de obstáculo mediante o emprego de explosivo ou de artefato análogo que cause perigo comum. 4 Lembrando que quando o furto envolvia duas ou mais pessoas, era furto qualificado. Aqui, no roubo, é uma causa de aumento. A pena aumenta de ⅔ quando houverem duas possibilidades: a) quando a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma de fogo; b) quando houver destruição ou rompimento de obstáculo mediante emprego de explosivo ou artefato análogo que cause perigo comum. Assim, se a subtração for de explosivo (objeto do roubo), aplicamos o inciso VI do parágrafo2º. Porém se a subtração ocorrer mediante uso de explosivo, então a pena aumenta de ⅔ e se usa o referido parágrafo. No furto, o emprego de explosivo para furtar ou o furto de explosivos como objeto do crime são duas qualificadoras e contém a mesma pena, mas aqui, no roubo, são aumentos de pena e aumentos diferentes para cada situação. A arma de fogo é o artefato que é apto a efetuar disparos de munições em alta velocidade, como revólver, espingarda, metralhadora, etc. A discussão é acerca do uso de arma de brinquedo, se aplica, mesmo assim, o aumento de pena de ⅔ nessas situações? Alguns acreditam que deve ter sim o mesmo aumento de pena, uma vez que causa o mesmo temor na vítima do que se fosse verdadeira, porém essa posição não é mais majoritária e a Súmula 174 do STJ que tratava dela foi cancelada. Hoje, a posição que prevalece no STJ, é que se a arma for de brinquedo não há aumento de pena pelo parágrafo 2-A, sob o argumento de que não se deve considerar a situação da vítima e, sim, a periculosidade do agente no caso concreto. A mesma discussão prevalece quando se trata de arma descarregada ou quebrada, se se levar em conta a potencialidade da periculosidade, não se aumenta a pena nesses casos também. Mas o STJ chegou a conclusão que independentemente da arma estar carregada ou não, não deixa de ser uma arma de fogo, utilizando o conceito técnico. Assim, se aumenta a pena mesmo nesses casos. Parágrafo 2-B PENA: reclusão de 8 a 20 anos § 2º-B. Se a violência ou grave ameaça é exercida com emprego de arma de fogo de uso restrito ou proibido, aplica-se em dobro a pena prevista no caput deste artigo. Esse parágrafo, trazido pelo pacote Anti-Crime, aplica uma pena de 8 a 20 anos (uma vez dobra a pena do caput que é de 4 a 10 anos) para os casos em que a violência ou grave ameaça é exercida com emprego de arma de fogo de uso restrito ou proibido. É o caso de armas de fogo do tipo fuzil, metralhadora, rifle, etc. Só as forças armadas e as polícias podem usar. Também se arma for de uso proibido, vedado no ordenamento para qualquer um, por exemplo a arma dissimulada, aquele que, por fora, tem característica comum, mas que pode efetuar disparo. 2.4. Qualificadoras Parágrafo 3º PENA: reclusão de 7 a 18 anos e multa (lesão corporal grave) reclusão de 20 a 30 anos e multa (morte) § 3º Se da violência resulta: I – lesão corporal grave, a pena é de reclusão de 7 (sete) a 18 (dezoito) anos, e multa; II – morte, a pena é de reclusão de 20 (vinte) a 30 (trinta) anos, e multa. O parágrafo 3º do art. 157 do Código Penal traz as qualificadoras do crime de roubo. Redação dada pela Lei nº 13.654 de 2018. Assim, se do roubo resultar lesão corporal grave, a pena será de 7 a 18 anos de reclusão e multa; e se do roubo resultar morte (latrocínio), a pena é de reclusão de 20 a 30 anos e multa também. Em relação ao inciso I, sobre lesão corporal grave, esse conceito está no art. 129, parágrafo 1º do Código Penal, mas também inclui a lesão corporal gravíssima do parágrafo 2º . 5 5 Art. 129. Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem: § 1º Se resulta: I - Incapacidade para as ocupações habituais, por mais de trinta dias; II - perigo de vida; III - debilidade permanente de membro, sentido ou função; IV - aceleração de parto: Pena - reclusão, de um a cinco anos. § 2° Se resulta: I - Incapacidade permanente para o trabalho; II - enfermidade incuravel; III perda ou inutilização do membro, sentido ou função; IV - deformidade permanente; V - aborto: Pena - reclusão, de dois a oito anos. Se a lesão for grave ou gravíssima, a pena será de 7 a 18 anos. Pelo inciso II, se ocorrer morte da vítima ou de terceiro, a pena será de reclusão de 20 a 30 anos. É importante ressaltar que este parágrafo leva em consideração a vítima patrimonial ou de terceiro. Abrangendo o bem jurídico do patrimônio e da integridade física de alguém, afinal, é evidente que a vítima de agressão nem sempre é a dona do objeto do roubo. Por exemplo, o roubo de uma carga em que esta é de uma empresa X, mas quem sofre a violência é o caminhoneiro que está fazendo a entrega. É um crime pluriofensivo, quando afronta mais de um bem jurídico. No crime de roubo seguido de lesão grave ou morte não importa se estas são culposas (preterdolosas, no sentido de que a pessoa, ao tentar subtrair o objeto, acaba, sem querer, matando ou machucando alguém) ou se são dolosas. Tanto faz se o agente, no momento de roubar, por culpa, lesiona gravemente ou mata a vítima; ainda será roubo qualificado e a pena ainda será aumentada. Entende-se, portanto, que a pena dos dois incisos comportam tanto a atitude preterdolosa quanto a dolosa, uma vez que são ambas muito altas. Existem duas Súmulas importantes com relação ao latrocínio, a de nº 603 do STF e a 610 do STF. A primeira fala que o latrocínio não é de competência do Tribunal do Júri, uma vez que o crime de latrocínio está no rol de crimes contra o patrimônio, ainda que haja o resultado morte, e não é um crime contra a vida. A Súmula 610, pois, fala que o latrocínio se consuma com a morte, independentemente da subtração. É importante para diferenciar o roubo sem o resultado morte, porque em um roubo comum o crime se consuma quando houver emprego de violência ou grave ameaça e a subtração da coisa, ainda que por alguns instantes, mas é necessário que o agente tenha posse da coisa. Para o latrocínio isso não é necessário, se, por exemplo, o agente vai roubar um carro no farol de trânsito com o emprego de arma de fogo, mas a vítima acelera e o agente atira, não levando nenhum objeto dela. Nesse caso, o latrocínio é consumado. A duplicidade de mortes, quando, durante o roubo, o agente mata duas pessoas, pode-se dizer que, pela doutrina majoritária, é um crime único de latrocínio porque foi um só contexto de roubo. Porém, o STJ tem entendido que são dois latrocínios, pelo motivo de que o requisito para consumação do latrocínio é a morte, então se houve mais de uma morte, houve mais de um latrocínio. É uma conduta única do agente, mas que geram dois resultados. O crime de latrocínio sempre foi considerado um crime hediondo porque ele sempre esteve no rol de crimes hediondos da Lei nº 8.072 de 1990. Porém ela foi alterada pelo Pacote Anti-Crime (Lei nº 13.964 de 2019), mantendo o latrocínio como crime hediondo, mas previu também outras modalidades de roubo como hediondos: como o roubo circunstanciado pela restrição da liberdade da vítima (art. 157, parágrafo 2º, inciso V), o roubo circunstanciado pelo emprego de arma de fogo e também pelo emprego de arma de fogo de uso proibido ou restrito (art. 157, parágrafo 2º-A e 2º-B), e também o roubo qualificado com o resultado de lesão corporal grave ou morte (art. 157, parágrafo 3º). Lembrando que crime hediondo tem algumas consequências diferentes, como: regime inicial fechado, uma progressão do fechado para o semiaberto com um maior tempodo que um crime não hediondo (art. 112 da Lei de Execução Penal, também alterada pelo pacote Anti-Crime), livramento condicional apenas com ⅔ da pena e se o indivíduo por primário ou reincidente não cabe esse livramento, se houver morte também não cabe livramento condicional. Também é um crime inafiançável e a prisão temporária tem um prazo maior (30 dias prorrogáveis por mais 30). 3. EXTORSÃO (art. 158, 159 e 160, CP) Extorsão Art. 158 - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, e com o intuito de obter para si ou para outrem indevida vantagem econômica, a fazer, tolerar que se faça ou deixar de fazer alguma coisa: Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa. § 1º - Se o crime é cometido por duas ou mais pessoas, ou com emprego de arma, aumenta-se a pena de um terço até metade. § 2º - Aplica-se à extorsão praticada mediante violência o disposto no § 3º do artigo anterior. § 3o Se o crime é cometido mediante a restrição da liberdade da vítima, e essa condição é necessária para a obtenção da vantagem econômica, a pena é de reclusão, de 6 (seis) a 12 (doze) anos, além da multa; se resulta lesão corporal grave ou morte, aplicam-se as penas previstas no art. 159, §§ 2o e 3o, respectivamente. Extorsão mediante seqüestro Art. 159 - Seqüestrar pessoa com o fim de obter, para si ou para outrem, qualquer vantagem, como condição ou preço do resgate: Pena - reclusão, de oito a quinze anos.. § 1o Se o seqüestro dura mais de 24 (vinte e quatro) horas, se o seqüestrado é menor de 18 (dezoito) ou maior de 60 (sessenta) anos, ou se o crime é cometido por bando ou quadrilha. Pena - reclusão, de doze a vinte anos. § 2º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave: Pena - reclusão, de dezesseis a vinte e quatro anos. § 3º - Se resulta a morte: Pena - reclusão, de vinte e quatro a trinta anos. § 4º - Se o crime é cometido em concurso, o concorrente que o denunciar à autoridade, facilitando a libertação do seqüestrado, terá sua pena reduzida de um a dois terços. Extorsão indireta Art. 160 - Exigir ou receber, como garantia de dívida, abusando da situação de alguém, documento que pode dar causa a procedimento criminal contra a vítima ou contra terceiro: Pena - reclusão, de um a três anos, e multa. 3.1. Extorsão simples (art. 158, CP) PENA: reclusão de 4 a 10 anos e multa Extorsão Art. 158 - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, e com o intuito de obter para si ou para outrem indevida vantagem econômica, a fazer, tolerar que se faça ou deixar de fazer alguma coisa: Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa. § 1º - Se o crime é cometido por duas ou mais pessoas, ou com emprego de arma, aumenta-se a pena de um terço até metade. § 2º - Aplica-se à extorsão praticada mediante violência o disposto no § 3º do artigo anterior. § 3o Se o crime é cometido mediante a restrição da liberdade da vítima, e essa condição é necessária para a obtenção da vantagem econômica, a pena é de reclusão, de 6 (seis) a 12 (doze) anos, além da multa; se resulta lesão corporal grave ou morte, aplicam-se as penas previstas no art. 159, §§ 2o e 3o, respectivamente. Previsto no art. 158 do Código Penal, o crime de extorsão tem a seguinte redação: constranger alguém mediante violência ou grave ameaça, fazer, tolerar que se faça ou deixar de fazer alguma coisa com o intuito de obter vantagem econômica para si ou para outrem. O núcleo do tipo, portanto, é “constranger”, com a ideia de forçar, coagir ou obrigar alguém, tudo isso mediante violência ou grave ameaça (os mesmos elementos do crime de roubo). Um exemplo de extorsão seria o caso de um homem, em posse uma foto da vítima nua, ameaçá-la de divulgar para outras pessoas caso a vítima não pagasse 5 mil reais. Lembrando que estupro também era constranger mediante violência ou grave ameaça para uma finalidade sexual. Aqui, existe o mesmo núcleo e a mesma forma de execução, mas a finalidade é patrimonial: a busca de vantagem econômica. O constrangimento ilegal também é outro crime com o núcleo e forma semelhantes, do art. 146 do Código Penal, que não tem uma finalidade específica, portanto, é subsidiário. Por exemplo, quando um veterano constrange um calouro mediante violência ou grave ameaça a participar de um trote violento. O crime é a mesma de crime de roubo, de reclusão de 4 a 10 anos e mais a multa. É um crime formal, basta o constrangimento para que o crime seja consumado independentemente do agente buscar ou obter a vantagem. Este é um entendimento pacífico do STJ, disposto na Súmula 96. Diferente da extorsão, no roubo o agente usa de violência ou grave ameaça para subtrair. Na extorsão, o agente usa de violência ou grave ameaça para constranger a vítima e tome alguma atitude, necessitando da colaboração da vítima. A vítima deve ter um comportamento ativo, portanto, para que o agente consiga atingir o seu objetivo. 3.1.1. Causas de aumento 3.1.1.1. Parágrafo 1º § 1º - Se o crime é cometido por duas ou mais pessoas, ou com emprego de arma, aumenta-se a pena de um terço até metade. Há duas causas de aumento, de ⅓ até metade, a primeira é o crime cometido com emprego de arma e a outra é o crime cometido em concurso de duas ou mais pessoas. Com relação ao emprego de arma, pode ser arma de fogo ou arma branca, diferentemente do roubo, o crime de extorsão não passou por mudanças legislativas em 2018 e 2019. 3.1.2. Qualificadora 3.1.2.1. Parágrafo 2º PENA: reclusão de 7 a 18 anos e multa (lesão corporal grave ou gravíssima) reclusão de 20 a 30 anos e multa (morte) § 2º - Aplica-se à extorsão praticada mediante violência o disposto no § 3º do artigo anterior. Esse parágrafo leva em conta o parágrafo 3º do artigo anterior que fala: “Se da violência resulta: lesão corporal grave (ou gravíssima), a pena é de reclusão de 7 (sete) a 18 (dezoito) anos, e multa; ou morte, a pena é de reclusão de 20 (vinte) a 30 (trinta) anos, e multa.” O art. 158 tem as mesmas qualificadoras do roubo, art. 157, parágrafo 3º. Tanto que este é mencionado por aquele em seu texto. 3.1.2.2. Parágrafo 3º PENA: reclusão de 6 a 12 anos e multa § 3o Se o crime é cometido mediante a restrição da liberdade da vítima, e essa condição é necessária para a obtenção da vantagem econômica, a pena é de reclusão, de 6 (seis) a 12 (doze) anos, além da multa; se resulta lesão corporal grave ou morte, aplicam-se as penas previstas no art. 159, §§ 2o e 3o, respectivamente. O parágrafo 3º foi acrescentado pela Lei nº 11.923 de 2009, quando ocorre restrição da liberdade da vítima, sendo esta uma condição necessária para a obtenção da vantagem. Assim, haverá uma pena de reclusão de 6 a 12 anos. É chamado de “sequestro relâmpago” porque é uma restrição de liberdade da vítima, por um momento curto, para, com isso, obter sucesso no roubo. Para o roubo, a restrição da liberdade da vítima é uma causa de aumento de pena, aqui, é uma qualificadora, pois sua pena é maior que apena do caput. É o exemplo do agente que sequestra a vítima, geralmente com um carro e outro colega junto, e leva a vítima até o banco para fazer o saque. Nesse sentido, é importante a participação da vítima para realizar o saque, pois só ela tem a senha, o simples roubo do cartão não é de muito uso e obrigar a vítima a passar a senha e depois deixá-la livre também não faz sentido, pois a senha pode estar errada. Logo, é necessário que se mantenha a vítima por perto até realizar o saque. Esse parágrafo tem qualificadoras dentro da qualificadora, isso porque ela é uma qualificadora uma vez que tem uma pena nova para esse tipo, mas o próprio parágrafo fala sobre outra qualificadora, que se soma à primeira e “se resulta lesão corporal grave ou morte, aplicam-se as penas previstas no art. 159, §§ 2o e 3o, respectivamente”. Fazendo uma remissão às penas do artigo seguinte, que são, respectivamente, 16 a 24 anos de reclusão (com lesão corporal grave) e de 24 a 30 anos de reclusão (com morte). Esse tipo penal, como já foi dito, foi acrescentado ao Código Penal em 2009 e que não mudou a Lei dos Crimes Hediondos de 1990. Pois nessa própria lei já havia crime de extorsão que resulta em morte classificado como crime hediondo, mas o parágrafo 3º não foi incluso no rol, sendo uma omissão do legislador corrigida agora com o Pacote Anti-Crime que o considerou somente a restrição da liberdade da vítima como crime hediondo, também incluindo o resultado da lesão corporal grave e morte. 3.2. Extorsão mediante sequestro (art. 159, CP) Extorsão mediante sequestro Art. 159 - Seqüestrar pessoa com o fim de obter, para si ou para outrem, qualquer vantagem, como condição ou preço do resgate: Pena - reclusão, de oito a quinze anos. § 1o Se o seqüestro dura mais de 24 (vinte e quatro) horas, se o seqüestrado é menor de 18 (dezoito) ou maior de 60 (sessenta) anos, ou se o crime é cometido por bando ou quadrilha. Pena - reclusão, de doze a vinte anos. § 2º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave: Pena - reclusão, de dezesseis a vinte e quatro anos. § 3º - Se resulta a morte: Pena - reclusão, de vinte e quatro a trinta anos. § 4º - Se o crime é cometido em concurso, o concorrente que o denunciar à autoridade, facilitando a libertação do seqüestrado, terá sua pena reduzida de um a dois terços. O tipo é “sequestrar pessoa com a finalidade de obter para si ou para outrem, vantagem econômica”. O núcleo é “sequestrar pessoa”, por isso, estamos diante de um crime formal tal como o art. 158, porque a lei não exige que a vantagem econômica aconteça, ou seja, que o resgate seja efetivado, basta o sequestro da pessoa com essa finalidade para o crime se consumar. Deixando claro que é necessária que haja essa finalidade de obter vantagem econômica, mas o que não se exige é a consumação dela. O crime é dividido em três etapas: 1) sequestro da pessoa, privação de sua liberdade; 2) constrangimento (extorsão) dirigido a uma outra pessoa que não a vítima, aquele a que se dirige o resgate; 3) pagamento do resgate, que se configura no exaurimento do crime. Diferente do art. 158, parágrafo 3º, que se refere ao sequestro relâmpago, a extorsão mediante sequestro tem uma duração de tempo muito maior, a vítima será levada a um cativeiro durante todo esse período, e também a vítima da extorsão será diferente da vítima sequestrada. No sequestro relâmpago, a vítima que é sequestrada é a mesma que terá de ceder a vantagem econômica, já na extorsão mediante sequestro, o agente sequestra alguém com o objetivo de pedir resgate a uma outra pessoa. Assim, tem-se duas vítimas diferentes: uma que tem a liberdade restringida e outra que é constrangida a pagar. É o chamado crime permanente, que se prolonga no tempo, enquanto a vítima está com a liberdade restringida o crime está se consumando várias vezes. O crime está sendo praticado durante esse tempo e o flagrante próprio pode acontecer enquanto a vítima estiver com a liberdade restringida. O início da prescrição, portanto, só começa com o término da permanência (art. 111, III, CP), quando a vítima é libertada. Pela Súmula 711 do STF, se a lei se alterar durante a permanência, a lei mais grave é aplicada ao agente. O crime como um todo é considerado hediondo. 3.2.1. Qualificadoras 3.2.1.1. Parágrafo 1º § 1o Se o seqüestro dura mais de 24 (vinte e quatro) horas, se o seqüestrado é menor de 18 (dezoito) ou maior de 60 (sessenta) anos, ou se o crime é cometido por bando ou quadrilha. Pena - reclusão, de doze a vinte anos. A reclusão será de 12 a 20 anos se o crime ocorrer em três hipóteses: 1) se durar mais de 24h; 2) se a vítima sequestrada ter menos de 18 anos ou mais de 60; 3) ou se o crime for cometido por associação criminosa (quadrilha ou bando), quando três ou mais pessoas previamente combinadas a praticar vários crimes formam uma associação criminosa. Neste último caso, aplica-se tanto a conduta deste parágrafo quanto a do art. 288 do Código Penal? A doutrina majoritária concorda que o art. 288 fica absorvido (uma vez que sua pena é de 1 a 3 anos), pois a qualificadora deste parágrafo é maior do que o somatório do caput com o próprio art. 288. Porém, existe parte da doutrina, com algumas decisões do STJ, dizendo que como os bens jurídicos são diferentes, o art. 288 sendo um crime contra a paz pública, as penas devem ser somadas e aplicadas em concurso material. 3.2.1.2. Parágrafo 2º § 2º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave: Pena - reclusão, de dezesseis a vinte e quatro anos. A pena será de reclusão de 16 a 24 anos quando o fato resultar em lesão corporal de natureza grave. Não importando se a conduta foi dolosa ou culposa. Se a vítima, ao tentar fugir, acaba se machucando de maneira grave, será usada esta qualificadora também. 3.2.1.3. Parágrafo 3º § 3º - Se resulta a morte: Pena - reclusão, de vinte e quatro a trinta anos. A pena será de 20 a 30 anos se do sequestro resultar morte. Podendo ser a morte do sequestrado, mas também podendo ser da vítima patrimonial na hora de ir pagar o resgate, ou até mesmo de um policial ao tentar resgatar a vítima. Basta que o fato resulte, não importando se foi uma conduta dolosa ou culposa. 3.2.2. Redução de pena 3.2.1.4. Parágrafo 4º § 4º - Se o crime é cometido em concurso, o concorrente que o denunciar à autoridade, facilitando a libertação do seqüestrado, terá sua pena reduzida de um a dois terços. Este parágrafo traz uma redução de pena de ⅓ a ⅔ quando houver a chamada colaboração premiada, que surgiu com a Lei dos Crimes Hediondos que altera esse dispositivo. É o caso de o crime ser praticado em concurso de agentes e um deles resolver colaborar delatando os demais participantes e facilitando a libertação da vítima, essa pessoa vai ter uma redução de pena. Existem outras leis que prevêem a colaboração premiada, inclusive algumas com maiores benefícios, como o perdão judicial. Este é previsto pela Lei nº 9.807, que protegeréus colaboradores, se o indivíduo for primário e se tiver uma colaboração mais forte e significativa, com alguns requisitos. A Lei de Organização Criminosa também prevê esse perdão judicial ainda que o réu não seja primário, mas teria de ter a presença da organização criminosa e a sua colaboração for enfática no sentido de que a própria organização seja enfraquecida ou desmantelada. 4. DANO (art. 163, CP) Dano Art. 163 - Destruir, inutilizar ou deteriorar coisa alheia: Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa. Dano qualificado Parágrafo único - Se o crime é cometido: I - com violência à pessoa ou grave ameaça; II - com emprego de substância inflamável ou explosiva, se o fato não constitui crime mais grave III - contra o patrimônio da União, de Estado, do Distrito Federal, de Município ou de autarquia, fundação pública, empresa pública, sociedade de economia mista ou empresa concessionária de serviços públicos; IV - por motivo egoístico ou com prejuízo considerável para a vítima: Pena - detenção, de seis meses a três anos, e multa, além da pena correspondente à violência. 4.1. Dano simples (caput) Dano Art. 163 - Destruir, inutilizar ou deteriorar coisa alheia: Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa. A figura do caput é chamada de dano simples e o parágrafo único traz quatro hipóteses de dano qualificado, o mais grave sendo o dano ao patrimônio público. A pena do dano simples comporta um crime de menor potencial ofensivo (ou seja, vai para o JECRIM), em que existe uma etapa de conciliação com a vítima antes do julgamento, em uma Audiência Preliminar, como será explicado mais adiante. Lembrando que o crime é de menor potencial ofensivo porque a pena é menor de 2 anos. Existem três verbos “destruir”, “inutilizar” e “deteriorar” e um objeto material que é a coisa alheia (móvel ou imóvel) para se configurar o crime de dano. O que se difere do roubo e do furto, em que o objeto deve ser móvel pela sua natureza, não se pode pegar uma casa e levá-la nas costas, mas se pode destruí-la, inutilizá-la ou deteriorá-la. “Destruir” é extinguir, a coisa deixa de existir, sendo a modalidade mais grave das três, em tese. Com “inutilizar” a coisa continua existindo, mas perde a sua utilidade, sendo, assim, uma modalidade mais moderada das três. E “deteriorar” é a modalidade mais leve, que significa estragar parcialmente, fazer uma pequena modificação na coisa e na sua qualidade, mesmo que a coisa continue existindo e ainda tenha a sua utilidade, por exemplo, rasgar um sofá. Independentemente de cada uma delas, se configurará um crime de dano, mas o juiz pode aplicar uma pena mais grave quando a coisa for destruída e uma mais leve quando for deteriorada. O crime de dano é sempre doloso. Para ter previsão de modalidade culposa, precisa-se ter previsão expressa uma vez que a regra é a modalidade dolosa. Assim, o dano de maneira culposa gera apenas ação de indenização no juízo cível, não se configurando um crime. A pena é detenção de 1 a 6 meses ou multa. Significa que não cabe regime fechado, seria aberto ou semiaberto, e a multa é a alternativa. A ação penal é privada (art. 167, CP), a vítima quem tem que ajuizar a queixa-crime, tendo 6 meses a partir do momento em que ela sabe quem é o autor do dano. Antes mesmo do oferecimento da Queixa, marca-se a Audiência Preliminar no JECRIM, em que é possível tanto a composição civil dos danos (feita entre a vítima e o autor dos fatos) como é possível a chamada transação penal (art. 76, Lei nº 9.099/95) , um acordo feito com o Ministério Público para evitar 6 o trâmite. O Pacote Anti-Crime, de 2019, prevê acordo de não persecução penal. Acordo que o Ministério Público pode fazer quando a pena mínima é de 4 anos, assim, elevando a 6 A transação penal ocorre em situação de crime de menor potencial ofensivo, não cabendo quando existe violência ou grave ameaça, e acontece durante a Audiência Preliminar no JECRIM, uma audiência prévia antes da ação penal. Nessa audiência, existe a possibilidade de haver uma composição civil dos danos, entre vítima e autor dos fatos, tanto para ação penal privada quanto para pública condicionada. Agora, pode haver, em caso de ação penal pública incondicionada, uma transação penal que ocorre entre Ministério Público e autor dos fatos. Assim, o Ministério Pública propõe a aplicação de uma multa ou de uma pena alternativa para que o agente aceite ou não. Se aceitar e cumprir a sanção, a ação acaba ali e é extinta a sua punibilidade; se ele aceitar e não cumprir ou se não aceitar, então se dá prosseguimento com a ação penal. É uma forma de acordo para evitar o processo. possibilidade de acordo do MP com o indivíduo . Logo, abrange bastante o número de casos, 7 mas ainda não permite esse tipo de acordo para crimes mais graves, como quando existe violência ou grave ameaça contra a pessoa. Quanto à transação, existe uma polêmica se o Ministério Público pode ou não realizá-la, porque esta é uma ação penal privada e não pública e o próprio artigo referido acima refere-se a um instrumento que pode ser utilizado em ações penais públicas. Uma parte de doutrina diz que não se pode fazer uma transação penal quando a ação for privada, pois diz a própria lei que é apenas em casos de ação penal pública. E outra parte da doutrina diz que pode, desde que seja um acordo entre autor e réu, o que não faz muito sentido porque seria o mesmo caso de composição civil dos danos. Entende-se, então, que o Ministério Público participa da ação penal privada como fiscal da lei na transação penal e dando pareceres. É um crime de ação livre, pode ser praticado de diversas formas desde que se chegue ao resultado de dano. Também se pode ser processado por um dano na modalidade omissiva, mas apenas se o agente tiver o dever jurídico de impedir o resultado, como os pais em relação aos filhos, a polícia em relação àqueles que necessitam de sua ajuda, o bombeiro em relação ao incêndio e etc. A pichação é uma modalidade de dano quanto ao verbo “deteriorar”, pois está modificando para pior o muro ou a parede. Porém, em 1988, entrou em vigor a lei dos crimes contra o meio ambiente (Lei nº 9.605/98) e existe um capítulo sobre meio ambiente visual, no qual está prevista a pichação, sendo um crime próprio (art. 65, Lei dos Crimes Ambientais). Cuja pena é maior do que a pena de dano simples, mas não deixando de ser um crime de menor potencial ofensivo. Qualquer pessoa pode ser sujeito ativo e passivo do dano, sendo um crime comum nesse ponto. O sujeito ativo é quem destruiu, inutilizou ou deteriorou a coisa alheia e a vítima é o dono da coisa. 7 Difere-se da não persecução penal, o acordo de não persecução tem muito mais requisitos e pressupostos para ser feito (art. 28-A, CPP). O indivíduo tem que confessar o crime, reparar o dano, não pode ter realizado outro acordo nos últimos 5 anos e outras
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